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domingo, 18 de julho de 2021

A Bíblia indica que devemos aceitar a Tradição Oral

Editora Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

São Paulo recomenda e ordena a manutenção da Tradição Oral. Em 1 Cor 11,2, por exemplo, lemos: “Eu vos felicito por vos lembrar de mim em toda ocasião e conservardes as tradições tais como eu vo-las transmiti” 4. São Paulo está claramente recomendando que mantenham a tradição oral, e deve ser notado em particular que ele congratula os fiéis por fazê-lo (Eu vos felicito…).

Também é explícito no texto o fato de que a integridade desta Tradição oral apostólica era claramente mantida, da mesma forma como Nosso Senhor havia prometido, sob o auxílio do Espírito Santo (cf. Jo 16,13).

Talvez o mais claro apoio bíblico para a Tradição oral seja 2 Ts 2,15, onde os cristãos são enfaticamente advertidos: “Assim, pois, irmãos, ficai inabaláveis e guardai firmemente as tradições que vos ensinamos, de viva voz ou por carta”. Esta passagem é significante porque:

a) mostra uma tradição oral apostólica vivente,

b) diz que os cristãos estarão firmemente fundamentados na fé se aderirem a estas tradições e

c) claramente afirma que estas tradições eram tanto escritas como orais. A Bíblia distintamente mostra aqui que as tradições orais – autênticas e apostólicas em sua origem – deveriam ser seguidas como componente válido do Depósito da Fé, então por quais razões ou desculpas os protestantes a rejeitam? Com que autoridade podem rejeitar uma exortação clara do apóstolo Paulo?

Além do mais, devemos considerar o texto desta passagem. A palavra grega krateite, traduzida aqui como “guardar”, significa “estar firme”, “forte”, “prevalecer” 5. Esta linguagem é enfática, e demonstra a importância da manutenção destas tradições. Obviamente, devemos diferenciar o que seja Tradição (com T maiúsculo), que é parte da revelação divina, das tradições da Igreja (com t minúsculo) que, mesmo que sejam boas, desenvolveram-se tardiamente e não fazem parte do Depósito da Fé.

Um exemplo de algo que seja parte da Tradição seria o batismo infantil; um exemplo de tradições da Igreja seria o calendário das festas dos santos. Tudo que venha da Sagrada Tradição é de origem divina e são imutáveis, enquanto que as tradições da Igreja são cambiáveis pela Igreja. A Sagrada Tradição serve-nos como regra de fé por mostrar no quê a Igreja tem consistentemente crido através dos séculos e como ela sempre entendeu uma determinada parte Bíblica. Uma das principais formas pelo qual a Sagrada Tradição foi transmitida a nós está nas doutrinas dos textos litúrgicos antigos, o serviço divino da Igreja.

Todos já notaram que os protestantes acusam os católicos de promoverem doutrinas novas e anti-bíblicas baseadas na Tradição, por afirmarem que tal Tradição contém doutrinas que são estranhas à Bíblia. Entretanto, esta acusação é profundamente falsa. A Igreja Católica ensina que a Tradição Oral não contém nada que seja contrário à Tradição Escrita. Alguns pensadores católicos afirmam, inclusive, que não há nada na Tradição Oral que não seja encontrado na Bíblia, mesmo que implicitamente ou em formas seminais. Certamente as duas estão em perfeita harmonia e complementam uma à outra. Para algumas doutrinas, a Igreja faz uso da Tradição mais que pelas Escrituras para seu entendimento, mas mesmo estas doutrinas estão incluídas nas Sagradas Escrituras. Por exemplo, as doutrinas seguintes são preferencialmente baseadas na Sagrada Tradição: batismo infantil, o cânon das Escrituras, o domingo como Dia do Senhor, a virgindade perpétua de Maria e a assunção de Maria.

A Sagrada Tradição complementa nossa compreensão da Bíblia ao mesmo tempo que não constitui uma fonte extra-bíblica de revelação, com doutrinas novas ou estranhas a ela. Muito pelo contrário: a Sagrada Tradição age como a memória viva da Igreja, relembrando-a constantemente o que criam os cristãos antigos, como entendiam e interpretavam as passagens bíblicas 6. De certa forma, é a Sagrada Tradição que diz ao leitor da Bíblia: Você está lendo um livro muito importante, que contém a revelação de Deus aos homens. Agora deixe-me explicá-lo como ela sempre foi entendida e praticada pelos cristãos desde o início dos tempos.

Notas

4 A palavra traduzida como ordenança é também traduzida como ensinamento ou tradição, por exemplo, a NIV traz ensinamento com uma nota dizendo: “ou tradição”.

5 Vine, op. cit., p. 564.

6 Um exemplo desta forma interpretativa envolve Ap 12. Os Padres da Igreja entenderam a mulher vestida de sol como referência à Assunção da Virgem Maria. Alguém afirmar que esta doutrina não existia até 1950 (o ano em que o Papa Pio XII definiu-o como dogma de fé) corresponde a uma grande ignorância de história eclesial. Essencialmente, a crença surgiu desde o início, mas não fora formalmente definida até o século 20. Deve-se saber que a Igreja geralmente não costuma definir uma doutrina formalmente a não ser que esta seja questionada por correntes heréticas perigosas. Tais ocasiões requerem uma necessidade oficial de definir parâmetros sobre a doutrina em questão.

Fragmentos da obra “Scripture Alone? 21 Reasons to reject Sola Scriptura” de Joel Peters, traduzido e editado em português pelo Apostolado Veritatis Splendor na forma de ebook com o título “Somente a Escritura?”. Tradução de Rondinelly Ribeiro Rosa. Pgs 15-17.

Joel Peters
Fonte: http://veritatis.com.br

Fonte: https://cleofas.com.br/

Lançar o coração para além do obstáculo

L'Osservatore Romano

Há sempre duas maneiras de celebrar os aniversários.

Uma consiste em lamentar o tempo decorrido. Viver de recordações. Olhar para trás com pesar e nostalgia. E olhar em frente com medo, vivendo o tempo que passa como a condenação a assistir a uma inevitável consumação das coisas.

A outra consiste em olhar para o futuro com a urgência das coisas a fazer, mais do que com a satisfação daquilo que já foi feito, dos caminhos a percorrer mais do que os já percorridos. Não para cancelar o passado, mas eventualmente o contrário, não para lhe tirar o impulso à mudança que sempre o distingue, e que precisamente o faz passar. Para não ficarmos presos nele. Para dele tirar seiva e dinamismo.

Isto é válido também para «L’Osservatore Romano», o mais antigo dos meios de comunicação social da Santa Sé, do qual celebramos 160 anos.

Uma meta importante, como se diz na gíria. Mas até a gíria atraiçoa. Pois meta indica um ponto de chegada, o fim de um percurso. E não é este o caso.

Mas é exatamente este o ponto.

Para celebrar verdadeiramente um aniversário é necessário festejar uma nova partida, um novo início; não uma chegada. Fazer o balanço de uma navegação que continua. Ver os sinais dos tempos. Lançar a âncora, sim, mas para o futuro, não para o passado. Fazer as perguntas certas. E encontrar as respostas certas, respostas abertas, não fechadas.

Para que serve um jornal? Para que serve hoje; e para que servirá amanhã um jornal como «L’Osservatore Romano»? Como se integra e se integrará na era digital, que é a realidade do nosso tempo?

Se estas são as perguntas, quais são as respostas?

No nosso mundo, fragmentado e ao mesmo tempo globalizado, as sociedades fundamentam-se nos meios de comunicação social.

Os meios de comunicação social são um poderoso instrumento de relacionamento, de diálogo e de confronto entre as pessoas.

São um espaço real onde agimos como homens públicos.

Criam identidade. Criam comunidade.

Ligam em rede indivíduos cada vez mais solitários.

Mas podem trair-se também a si próprios, reduzindo tudo ao zero absoluto de uma ligação sem comunicação, de uma palavra que se torna brado e nega a escuta.

Podem tornar-se uma armadilha onde as pessoas, pensando que só existem se se exibirem num jogo onde só se pode perder, acabam por se confundir; presas num labirinto, numa teia e não numa rede.

Os meios de comunicação social têm um poder enorme.

Falam a uma multidão imensa.

Correm o risco de acreditar que são Deus.

Tudo isto nos desafia a ser (ou a não ser) ponto de referência ascendente. A fazer um jornal em sintonia com os tempos, a renovar as nossas linguagens, a aceitar o desafio sem perder a nossa alma.

Um jornal como o nosso nunca poderá ser forma sem conteúdo.

Esta é a razão pela qual existimos. Oferecer um olhar cristão. Iluminar a realidade com este olhar que a transcende.

Não para impor um pensamento. Mas para o estimular. No diálogo. No confronto. Num caminho que continua, ao serviço do sucessor de Pedro.

Numa das suas canções mais bonitas, Leonard Cohen — que antes de ser cantor e compositor foi um poeta; e que, como muitos poetas, conseguia ver e descrever as coisas para além da aparência — escreveu um dístico que poderia ser o ícone da nossa fronteira comunicativa, neste nosso tempo tão dividido e fragmentado.

«Há uma fenda em tudo. É assim que a luz entra».

Eis o nosso modo de ver as fendas, procurando caminhar dentro delas: ver a luz que as atravessa.

Como o Papa afirmou na sua Mensagem para o Dia mundial das comunicações sociais de 2020, «mesmo quando narramos o mal, podemos aprender a deixar espaço à redenção; podemos reconhecer no meio do mal também o dinamismo do bem e dar-lhe espaço».

Sem a capacidade de reconduzir a experiência à unidade, sem uma perspetiva, tudo se nivela; não há sabedoria, nem sequer conhecimento; tudo se reduz a um elenco sem sentido, a uma grande confusão de detalhes, a uma anarquia de migalhas.

É para isto que serve um jornal. É para isto que servem os meios de comunicação social. Para oferecer uma perspetiva.

Em anos em que o futuro da comunicação corre o risco de ir rumo a uma progressiva perda de relação com a realidade, e com o seu Criador; construindo um universo autorreferencial, hipnótico e infantil, temos o dever de seguir um caminho completamente diferente.

Podemos perguntar como? De que modo?

Se olharmos para os meios que a tecnologia coloca à nossa disposição, o futuro de «L’Osservatore Romano» reside na sua verdadeira universalidade, hoje exaltada pela sua integração num universo mais amplo, reside na sua abertura ao mundo. Reside na possibilidade de ser impresso em qualquer lugar, onde quer que seja necessário. Reside na possibilidade de construir uma verdadeira comunidade de leitores e de escritores, unidos pela mesma missão, onde quer que se encontrem no mundo. E de o fazer em comunhão com a Rádio, com Vatican News, com as redes sociais. Muitos carismas, tantas línguas, uma única missão. Hoje, mais do que nunca, é hora que a Igreja saia dos seus muros, que o seu pensamento não seja estático, mas dinâmico.

Só assim, reforçando o nosso ser rede e em rede, podemos ser ponto de referência, sal e fermento, e gerir o conflito potencial entre liberdade e responsabilidade.

Podemos encetar processos, incentivar a construção de uma rede de redes baseadas num modo diferente e cristão de viver a era da comunicação.

Mas se olharmos para a finalidade, a finalidade do nosso trabalho, é complicado precisamente porque não é instrumental. E é bonita, porque é missionária. Não é preestabelecida, está aberta.

Se olharmos para trás, como Igreja cometemos erros, inclusive na comunicação.

Iludimo-nos de que o testemunho pudesse ser separado da verdade e da transparência; que um véu deplorável era melhor do que uma dolorosa tomada de consciência e purificação.

Por preguiça, fizemos nossos paradigmas antitéticos ao Evangelho.

Às vezes cedemos e sucumbimos à lógica do inimigo e do bode expiatório.

Tivemos também a ilusão de que o caminho para sermos ouvidos pudesse ser o mais fácil, o mais superficial.

No entanto — perante a insignificância cada vez maior do pensamento único, do pensamento homologado — experimentamos todos os dias a verdade aberta da mensagem evangélica. E a nossa capacidade potencial de ser verdadeiramente livres, de fazer perguntas, de não nos resignarmos nem de sermos condescendentes.

Eis a resposta do porquê de um jornal, e da nossa comunicação através de todos os meios que o tempo coloca à nossa disposição.

Para reconduzir as pessoas à verdade do encontro.

Eis o sentido de celebrar os aniversários lançando o coração para além do obstáculo, a âncora para outra dimensão do tempo.

«Se perdermos esta perspetiva, disse o Papa Francisco, a vida torna-se estática e aquilo que não se move corrompe-se».

Esperar é como lançar a âncora para a outra margem.

Caso contrário, até a comunicação acaba por ser autorreferencial, incapaz de se abrir à novidade de Deus.

A comunicação é um fluxo dinâmico. Deve fluir, como a água. Deve esperar que as situações mudem. Trabalhar para que as coisas mudem. Abrir, não fechar. É para isto que serve um jornal. Eis em que consiste o olhar cristão sobre a comunicação.

Paolo Ruffini
prefeito do Dicastério para a comunicação

Por que Santo Antônio pregou para os peixes?

Zvonimir Atletic | Shutterstock
Por Philip Kosloski

Às vezes, é necessário pregar para um grupo totalmente diferente para que outros sejam atraídos pela fé e enxerguem o erro de seus caminhos.

Existem muitas lendas e histórias sobre a vida de Santo Antônio. Todas pretendem destacar a sua santidade e união com Deus. Uma dessas histórias é a lenda de Santo Antônio de Pádua pregando aos peixes.

É contada no livro I Fiorettirevela o que aconteceu quando o santo ficou frustrado com as pessoas:

Estando Santo Antônio em Rimini, onde havia um grande número de hereges, e desejando conduzi-los pela luz da fé ao caminho da verdade, pregou-lhes por vários dias e raciocinou com eles sobre a fé em Cristo e nas Sagradas Escrituras. Eles não apenas resistiram às suas palavras, mas ficaram endurecidos e obstinados, recusando-se a ouvi-lo.

Isso mostra que até mesmo a pregação de um santo pode cair em ouvidos surdos quando as pessoas não estão dispostas a receber a mensagem do Evangelho.

Santo Antônio prega para os peixes

Farto dos corações duros das pessoas, Santo Antônio foi para um público mais disposto a ouvi-lo:

Por fim, Santo Antônio, inspirado por Deus, desceu à beira-mar, onde o rio deságua no mar, e tendo-se colocado numa margem entre o rio e o mar, começou a falar aos peixes como se fosse o Senhor que o havia enviado para pregar a eles, e disse:’Ouvi a palavra de Deus, ó peixes do mar e do rio, visto que os hereges infiéis se recusam a fazê-lo‘.

Assim que ele disse essas palavras, de repente um cardume de peixes grandes, pequenos e enormes se aproximou da margem em que ele estava… Todos mantinham a cabeça fora d’água e pareciam olhar atentamente para o rosto de Santo Antônio. Todos estavam dispostos em perfeita ordem e da forma mais pacífica, os menores na frente perto da margem, depois deles vinham aqueles um pouco maiores e, por último, onde a água era mais funda, os ainda maiores.

Uma quantidade enorme de peixes começou a saltar ​​por toda parte, e não demorou muito para que o povo soubesse que havia um milagre acontecendo:

E o povo da cidade, ouvindo o milagre, apressou-se em ir e testemunhá-lo. Com eles também vieram os hereges de quem falamos acima, que, vendo um milagre tão maravilhoso e manifesto, foram tocados em seus corações e se jogaram aos pés de Santo Antônio para ouvir suas palavras. O santo, então, começou a expor a fé católica. Ele pregou tão eloquentemente que todos aqueles hereges foram convertidos e voltaram à verdadeira fé em Cristo. Os fiéis também ficaram cheios de alegria e muito consolados, sendo fortalecidos na fé.

Às vezes, é necessário pregar para um grupo totalmente diferente para que outros sejam atraídos pela fé e vejam o erro de seus caminhos.

Deus certamente trabalha de maneiras misteriosas!

Fonte: Aleteia

Haiti: missão brasileira entra em nova fase. A consolação do Papa

Missão brasileira no Haiti | Vatican News

A ideia é que sejam as congregações do Brasil a organizar a presença das religiosas no Haiti e não mais a CNBB, a CRB e a Cáritas. Em Porto Príncipe, missionária comenta apelo do Papa depois do assassinato do presidente.

Bianca Fraccalvieri - Cidado do Vaticano

Neste sábado (17/07), tem início uma nova fase da presença da Igreja brasileira no Haiti.

Em 2010, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB) e a Caritas Brasileira se uniram para ajudar concretamente o país depois do terremoto que devastou a ilha. Projetado inicialmente para durar três anos, a missão intercongregacional ainda está de pé.

Mas agora, a ideia é que sejam as congregações a organizar a presença das religiosas no Haiti. Por isso, a capela Nossa Senhora Aparecida (sede da CNBB) acolhe este sábado uma missa em Ação de Graças pela Missão realizada durante todos estes anos. A celebração será presidida pelo bispo auxiliar do Rio de Janeiro e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portela Amado.

A consolação do Papa

Contudo, esta fase de transição se realiza num dos períodos mais conturbados politicamente, com o assassinato na semana passada do presidente Jovenel Moise.

Os missionários brasileiros estavam em retiro quando chegou a notícia. O Papa Francisco prontamente se solidarizou num primeiro momento através de um telegrama e, depois, no Angelus do último domingo com este apelo:

“Uno-me ao forte apelo dos bispos do país para ‘depor as armas, escolher a vida, escolher viver juntos fraternalmente no interesse de todos e no interesse do Haiti’. Sinto-me próximo ao querido povo haitiano; faço votos de que cesse a espiral de violência e a nação possa retomar o caminho rumo a um futuro de paz e de concórdia.”

Do Haiti, Irmã Ideneide do Rêgo, da Congregação das Irmãs Carmelitas da Divina Providência, assim comenta estas palavras.

A mensagem do Papa sempre traz uma grande luz. Com isso, a gente se sente automaticamente fortalecido, que o nosso Papa está em sintonia conosco. Essas palavras são iluminadoras aqui no Haiti. Estávamos em retiro e a cada dia, de acordo com a proposta do Evangelho, sempre vinha uma palavra do Papa. Então a gente já estava com as palavras dele encarnadas na nossa vida e na nossa fé. E saindo do retiro, é como se a gente confirmasse de que ele está presente no meio de nós. Quando aconteceu tudo isso eu pensei: 'será que o Papa está sabendo disso tudo?'  e de repente a gente recebe esta palavra de conforto. São essas coisas que nos fortalecem.

Fonte: Vatican News

XVI DOM TEMPO COMUM - Ano "B"

Dom Paulo Cezar Costa | ArqBrasília

Por Dom Paulo Cezar - Arcebispo de Brasília

 Compaixão, sentimento que move as ações de Jesus Cristo

            O Evangelho deste domingo (Mc 6, 30 – 34) apresenta o retorno dos doze discípulos após terem cumprido a missão que Jesus lhes dera. Por primeiro, eles narram para Jesus tudo o que tinham feito e ensinado.  Tinham cumprido a missão. Aquela, talvez, para eles, tenha sido a grande primeira experiência missionária. Serão eles que levarão adiante a missão após a ascensão do Senhor e o envio do Espírito Santo.

Jesus os chama para um lugar deserto, para descansarem um pouco: “Vinde vós, sozinhos, a um lugar deserto e descansai um pouco” (Mc 6, 31). A expressão kat`idian – para um lugar à parte (que foi traduzida para o português simplesmente por um lugar deserto e que no texto aparece duas vezes) quer enfatizar a intimidade que se estabelece entre Jesus e Seus discípulos. Quando ensinava a multidão, em parábolas, depois kat`idian (Mc 4, 34), à parte explicava tudo para os discípulos. Este elemento expressa o motivo central da constituição dos doze: “… para que ficassem com ele, para enviá-los a pregar” (M. Grilli, In Ascolto della Voce, 179). É este o elemento central da vida de todos os discípulos e discípulas de Jesus Cristo: estar com Ele. É no estar com Jesus que se vai formando a personalidade do discípulo, que o discípulo (a) vai sendo plasmado segundo o coração de Cristo. É no estar com Jesus que se formam os pastores do Povo de Deus, pastores que serão presença do Pastor Bom e Belo: Jesus Cristo.

Assim que desembarcou, Jesus viu uma grande multidão e ficou tomado de compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor (Mc 6, 34).  Jesus é o Bom Pastor que não é indiferente à multidão. Ele tem compaixão da multidão. A compaixão é expressa com a palavra grega Splanchna, substantivo usado quase sempre no plural, e denota as partes interiores dos homens e animais (as vísceras); com relação a uma mulher, refere-se ao útero materno. Assim, splanchnizomai, ou ter compaixão, descreve um sentimento que vem do profundo do ser. A compaixão é um sentimento que vem das entranhas de Deus, de Jesus. É este amor, que vem do mais profundo do Seu ser, que fez Jesus agir no decorrer do seu ministério. “A sua pessoa não é senão amor, um amor que se dá gratuitamente. O seu relacionamento com as pessoas, que se abeiram d’Ele, manifesta algo de único e irrepetível. Os sinais que realiza, sobretudo para com os pecadores, as pessoas pobres, marginalizadas, doentes e atribuladas, decorrem sob o signo da misericórdia. Tudo n’Ele fala de misericórdia. N’Ele, nada há que seja desprovido de compaixão.” (Misericordiae Vultus, 8). E é a compaixão que leva Jesus a ensinar a multidão.

Jesus é o pastor segundo o coração de Deus, descrito pelo profeta Jeremias: “suscitarei para elas novos pastores que as apascentem; não sofrerão mais o medo e a angústia, nenhuma delas se perderá…” (Jr 23, 4ss). Que este texto, lido nas nossas celebrações, neste domingo, leve cada um de nós, que temos responsabilidade diante do nosso povo, a nos perguntarmos: que tipo de pastor estou sendo? Estou fazendo como Jesus, não sendo indiferente diante dos sofrimentos da multidão, ou não me importo com as pessoas, com os seus sofrimentos?

Fonte: Arquidiocese de Brasília

Padres e um leigo vão de bicicleta da Polônia a Roma pela vida e as vocações

ACI Digital

Vaticano, 16 jul. 21 / 04:27 pm (ACI).- Três sacerdotes e um leigo peregrinaram de bicicleta da Polônia até Roma, na Itália, para pedir pelo papa, pelas vocações, e pela defesa da vida, e para dar testemunho de que a fé católica não é coisa do passado, mas do presente e do futuro.

Os quatro partiram de Pelplin, no norte da Polônia, numa peregrinação da pátria de São João Paulo II ao Vaticano. Em comunicado, a assessoria de imprensa da Conferência dos Bispos Católicos da Polônia informou que, entre os ciclistas, estavam o reitor do seminário maior de Pelplin e o padre Janusz Chyla, pároco de Chohnice.

Os ciclistas chegaram em Roma no dia 14 de julho, levando no coração suas intenções pessoais, “importantes para a Igreja toda”, afirmou o comunicado. De modo especial, a peregrinação “foi dedicada ao papa Francisco e às vocações ao ministério sacerdotal e religioso”.

A exemplo do São João Paulo II, pontífice polaco que lutou pela causa da defesa da vida desde a concepção até a morte natural, essa foi também uma intenção importante da peregrinação: proteger “a sacralidade da vida humana”.

“É claro que também nos guiava a intenção de defender a vida humana, no contexto dos ensinamentos de João Paulo II”, disse o padre Chyla. “Como membro dos Cavaleiros de Colombo, a intenção de defender a vida me acompanhou de forma especial nesta peregrinação”, acrescentou.

A Ordem dos Cavaleiros de Colombo é a maior organização católica laica de caridade do mundo, com mais de 2 milhões de membros e com presença em mais de 16 mil paróquias. Seu trabalho se concentra na defesa da vida, da misericórdia e das questões familiares.

O padre Chyla disse que todo católico pode cuidar da vida humana ao orar e dar testemunho de vida. “Em primeiro lugar, é importante a oração constante. Há coisas que não podemos fazer por nós mesmos. O segundo é o testemunho: ajudar as pessoas, especialmente as mulheres, que lutam com problemas espirituais, psicológicos e materiais”, afirmou.

“Como Cavaleiros de Colombo, colaboramos com a Fundação ´Pés Pequenos´. Recentemente, tocamos o sino da ´Voz do Não-Nascido´ na nossa paróquia, para despertar a consciência das pessoas”, acrescentou.

O sacerdote polonês disse seus esforços e orações no contexto da pandemia da covid-19 foram oferecidos para apoiar o albergue de Kartuzy e dar testemunho de que a fé em Jesus Cristo está viva e é atual. “No contexto da pandemia, queríamos mostrar que é possível cruzar fronteiras para encontrar as pessoas, claro, com todas as medidas de segurança. A nossa intenção é também dar testemunho de que o Evangelho não é uma coisa do passado, mas também do presente e do futuro”, disse o padre Chyla. Ele contou que os quatro ciclistas se uniram ao projeto católico #RomeaStrata, que busca “reconstruir as rotas de peregrinação” à cidade de Roma.

Fonte: ACI Digital

Santo Arnolfo de Metz

S. Arnolfo | ArquiSP
18 de julho

Santo Arnolfo

Arnolfo nasceu em Metz, na antiga Gália, agora França, no ano 582. A sua família era muito importante, cristã, e fazia parte da nobreza. Ele estudou e se casou com uma aristocrata, com a qual teve dois filhos. A região da Gália era dominada pelos francos e era dividida em diversos reinos que guerreavam entre si. Isso provocava grandes massacres familiares e corrupção.

Um desses reinos era o da Austrásia, do rei Teodeberto II, para o qual Arnolfo passou a trabalhar. Mas quando o rei morreu, todos os seus descendentes e familiares foram assassinados a mando do rei dos francos, Clotário II, que incorporou a região aos seus domínios.

Era nesse clima que vivia Arnolfo, um homem de fé inabalável, correto e justo. O rei Clotário II, agora soberano de um extenso território, conhecendo a fama da conduta cristã de Arnolfo, tornou-o seu conselheiro. Confiou-lhe, também, a educação de seu filho Dagoberto, que se formou dentro dos costumes da piedade e do amor cristão. Tal preparo fez de Dagoberto um dos reis católicos mais justos da história, não tendo cometido nenhuma atrocidade durante o seu governo.

Além disso, o rei Clotário II nomeou Arnolfo bispo de Metz, que acumulou todas as atribuições da Corte. Uma bela passagem ilustra bem o caráter desse homem, que mesmo leigo se tornou um dos grandes bispos do seu tempo. Temendo não ser digno do cargo, por causa dos seus pecados, atirou seu anel no rio Mosela, dizendo: "Senhor, se me perdoas, faze-o retornar". O anel retornou dentro do ventre de um peixe. Essa tradição cristã ilustra bem a realidade de sua época, onde era difícil não pecar, especialmente para quem estava no poder.

Naquele tempo, as questões dos leigos e do celibato não tinham uma disciplina rigorosa e uniforme dentro da Igreja, que ainda seguia evangelizando a Europa. Arnolfo não foi o primeiro pai de família a ocupar tal posto nessa condição. Como chefe daquela diocese, Arnolfo participou dos concílios nacionais de Clichy e de Reims. Mais tarde, seu filho Clodolfo tornou-se bispo e assumiu a diocese de Metz, enquanto o outro, chamado Ansegiso, tornou-se um dos primeiros "mestres de palácio" da chamada era carolíngia.

Depois de algum tempo, Arnolfo abandonou o bispado e o cargo na Corte para ingressar no mosteiro fundado por seu amigo Romarico, outro que havia abandonado a Corte e o rei. Assim, de maneira serena, Arnolfo viveu o resto de seus dias, dedicando-se às orações, à penitência e à caridade.

Arnolfo morreu no dia 18 de julho de 641, naquele mosteiro. Assim que a notícia chegou em Metz, os habitantes reclamaram-lhe o corpo, depositando-o na basílica que adotou, para sempre, o seu nome.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

sábado, 17 de julho de 2021

4 belíssimas igrejas católicas construídas em pontes

Jolyn Chua | Shutterstock
Por V. M. Traverso

As pontes são símbolos poderosos da conexão entre o céu e a terra.

As pontes são mais do que apenas estruturas que permitem a passagem sobre um curso de água. De fato, constituem-se símbolos poderosos da conexão entre o mundo espiritual e o mundo material. Na verdade, o Papa também leva o nome de Pontífice Romano, expressão derivada de pontifex, a palavra em latim para ponte. Ele é o criador de pontes ou caminhos para as almas.

Aqui está uma lista de algumas das igrejas mais interessantes construídas em pontes ao redor do mundo. 

1. Capela de São Nicolau, Avignon, França

Construída no século 12 em um píer da Pont Saint-Bénézet, em Avignon, a cidade francesa que serviu como sede do cristianismo ocidental durante o século 14, a Capela de São Nicolau é um símbolo poderoso da mensagem unificadora do Cristianismo. Por estar localizada em uma ponte que ficava entre os territórios papais e as terras pertencentes ao rei da França, a capela servia tanto aos cidadãos reais quanto aos residentes das terras papais. Hoje, a ponte sobre a qual fica a capela de São Nicolau, junto com o antigo palácio papal e a Catedral de Notre-Dame des Doms, é um Patrimônio Mundial da UNESCO.

fotolisi | Shutterstock

2. Catedral de Nossa Senhora da Ponte, Lanciano, Itália 

Construída no século 14 sobre uma ponte de três arcos. A igreja deve seu nome a uma estátua de Nossa Senhora que foi recuperada na ponte, provavelmente por ter sido escondida em um dos pilares no século 8, quando os fiéis bizantinos recusaram o uso de imagens ou ícones e destruíram os existentes.

Hoje, a “Madonna del Ponte” serve como Catedral de Lanciano, uma cidade no centro da Itália onde aconteceu o primeiro milagre eucarístico católico registrado. Um monge do século VIII que tinha dúvidas sobre a presença real de Cristo na Eucaristia experimentou a transformação do pão e do vinho em carne e sangue durante a missa.

Zitumassin | Public Domain

3. Catedral Las Lajas, Ipiales, Colômbia

Construída em estilo gótico entre 1916 e 1949, a basílica de Ipiales, comumente chamada de Santuário Las Lajas em homenagem à palavra “lajas”, que se refere a uma rocha sedimentar local, é provavelmente a igreja mais impressionante construída sobre uma ponte. Localiza-se no mesmo lugar onde aconteceu uma aparição mariana. De acordo com uma tradição local, a Virgem Maria apareceu diante de duas mulheres que buscavam refúgio de uma tempestade violenta em 1754. Estando a 100 metros do fundo do cânion, o Santuário de Las Lajas é provavelmente uma das igrejas mais espetaculares no mundo. É também um destino popular de turismo e peregrinação, atraindo milhares de pessoas todos os anos.

Jolyn Chua | Shutterstock

4. Madonna del Ponte, Ascoli Piceno, Itália

Construída em 1689 sobre o que então servia como a principal porta de entrada para a cidade de Ascoli Piceno, região central da Itália, é a Igreja Madonna del Ponte, literalmente a Igreja de Nossa Senhora da Ponte. É uma das lembranças mais icônicas da antiga tradição de construir santuários ou pequenas estátuas de santos na entrada das cidades para enviar bons presságios aos visitantes. Por causa de suas formas arredondadas incomuns, muitas vezes referem-se a ela como “La Rotonda”.

Infinitispazi | CC BY-SA 3.0

Fonte: Aleteia

Reginald Pole: o homem que poderia salvar a Inglaterra

Cardeal Pole | Guadium Press

Reginald Pole, último representante da dinastia Plantagenet, foi retirado inexplicavelmente de suas funções eclesiásticas após reconquistar a “Ilha dos Santos” ao Papado. Que terá sucedido?

Redação (15/07/2021 21:05Gaudium Press) O triste reinado de Henrique VIII na Inglaterra (1509-1547) representou uma grande virada de página na história do país, da Europa e do próprio Catolicismo. Após séculos de prosperidade da religião católica na ilha britânica, o monarca desatou uma violenta perseguição aos ingleses fiéis ao Papa, dentre os quais figuram de modo especial o bispo São João Fisher e São Tomás Morus, antigo chanceler do reino, modelos de integridade em meio aos reveses e à perseguição.

Entrementes tanto sangue inocente era derramado sem piedade alguma, homens com verdadeiro ideal tentavam refrear o grande turbilhão provocado pelo cisma anglicano. Reginald Pole (1500-1558) é sem dúvida um dos maiores expoentes desta resistência, o único que pôde dar à nação inglesa alguns anos de anistia das condenações de Roma.

Nobreza de sangue e de alma

No ano de 1500, nasceu, em Straffordshire, Reginald, filho dos condes de Salisbury e pertencente, portanto, à nobre estirpe Plantagenet, o ramo mais próximo da casa real reinante. Desde a juventude deu mostras de grande inteligência e erudição, bem como de virtudes e exemplar religiosidade, enveredando logo pelo caminho da Igreja.

Quando Henrique VIII solicitou-lhe que apoiasse seu divórcio e suas heréticas ideias, retirou-se para a Itália, iniciando uma incansável campanha para salvar a religião em sua pátria, que culminou com a publicação da obra Pro Ecclesiasticae unitatis defensione. Nela instava o rebelde soberano a retratar-se de seus erros e voltar à unidade com Roma. Com efeito, este golpe foi sentido por Henrique que incontinenti mandou prender sua mãe — a bem-aventurada Margaret Pole, martirizada posteriormente — na prisão de Londres e colocou sua cabeça a elevado preço em ouro.[1]

Pole, agora revestido da púrpura eclesiástica e constituído legado papal a latere, não recuou diante das dificuldades que se lhe apresentaram.

Era “um católico zeloso e austero”,[2] que reunia em si “a finura de um prelado à timidez altiva de um grande senhor inglês”,[3] de caráter profundo e sério, coerente em seu pensamento e sua ação, predicados indispensáveis para um bom pastor da Igreja. Entretanto, em meio à emaranhada política europeia, não conseguiu alguém que secundasse seus planos. Foi para ele um período duro, no qual sua voz não fazia eco nem mesmo dentro da Igreja, relegado a esconder-se e esperar tempos melhores… Ainda assim, pôde atuar intensivamente no Concílio de Trento (1545-1563), para o qual fora nomeado presidente pelo Papa.

Deus perdeu, mas voltou a encontrar!”

Por fim, após inúmeras controvérsias nos reinados protestantes de Henrique VIII e de seu filho Eduardo VI, subiu ao trono inglês a princesa Maria Tudor, católica fervorosa, prima do Cardeal Pole e fiel a Roma; era uma porta que se abria ao povo britânico para que abraçasse novamente, por meio da intervenção do Cardeal legado, a religião verdadeira. Uma bula pontifícia concedeu a Pole plenos poderes, e ele logo embarcou para reconquistar sua terra; são memoráveis as palavras dirigidas pelo prelado ao embarcar em Calais rumo à Inglaterra: “Deus perdeu, mas voltou a encontrar!”, manifestando a alegria sobrenatural por finalmente poder cumprir sua grande missão.[4]

Ao desembarcar, foi recebido com toda a pompa e alegria, que só aumentou ao chegar à capital. O rei, a rainha e os nobres reunidos no parlamento após ouvirem a célebre apologia do Catolicismo feita pelo Cardeal, prostrados ante a purpúrea figura, receberam a solene absolvição geral. Levantou-se a excomunhão, o culto voltou às igrejas, e a Inglaterra estava renovada; todos os lordes mostravam-se profundamente contritos, e o regozijo do povo parecia não ter limites, e “rutilaram todas as glórias católicas do passado. No dia seguinte, vinte e cinco mil fiéis, amontoados em Saint Paul e nas imediações, receberam de joelhos a bênção apostólica. Em 3 de janeiro de 1555, foi revogado tudo o que Henrique VIII e Eduardo VI tinham promulgado contra a Igreja”.[5]

O Cardeal Pole, entretanto, estava ciente de que sua missão não estava inteiramente cumprida; era mister difundir entre o povo inglês os sãos costumes da Igreja, tão denegridos nos anos anteriores. Convocou um grande concílio sob o título de Reformatio Angliae, para o qual preparou uma exposição geral da fé católica para prover as necessidades mais prementes da religião.[6] Esta reforma parecia criar uma Igreja rejuvenescida, como antes nunca havia sido a bela Ilha dos Santos.

Perdida a última chance…

Infelizmente, este estado de arrependimento pela volta à unidade eclesial não durou muito tempo, e o anglicanismo voltou à tona com uma sanha ainda mais intensa.

Desde o casamento da rainha Maria Tudor com Felipe II (1527-1598), rei da Espanha, houve um paulatino afastamento da política da Santa Sé em relação ao assunto inglês; e isto se acentuou consideravelmente pela pretensão que os Estados Pontifícios possuíam sobre o reino de Nápoles, então de domínio espanhol.

Foi então que Paulo IV, papa napolitano, julgando que Inglaterra e Espanha representavam uma ameaça aos interesses italianos do Papado, aliou-se aos franceses — que não poucas vezes vemos unirem-se a protestantes ou infiéis — em guerra contra as duas potências e removeu inexplicavelmente o Cardeal Pole de suas funções de jurisdição religiosa na Inglaterra, quando esta justamente mais precisava dele. Sentindo-se impotente e sem meios, Reginald não teve outro remédio senão deixar seu posto e apresentar-se em Roma. “Temos de confessar que era dar um estranho tratamento a um prelado que tinha restituído um reino ao Papado!”[7] Para cúmulo de infortúnio, os franceses acabavam de arrasar os últimos redutos ingleses no continente.

Dentro da psicologia britânica forjou-se então um axioma terrível: “catolicismo e fidelidade a Roma tornaram-se sinônimos de derrota; foi para passar por estas humilhações que a Inglaterra rogou o perdão do Pontífice?”[8]

O resto veio por consequência. Com a ausência do Cardeal, o partido protestante voltou a conquistar as simpatias do povo e, com o falecimento da rainha Maria, o Catolicismo também quase desceu à sepultura nas terras inglesas. Curiosamente, Reginald Pole deixaria esta terra apenas algumas horas após a última rainha católica da Inglaterra; não havia mais motivo para viver sem poder cumprir sua missão. Pela ação dos inimigos da Igreja — e talvez também pela de seus supostos amigos — a atuação do Cardeal Pole passou despercebida na história dos homens, e a Inglaterra imersa nas sombras do cisma.

Por André Luiz Kleina


[1] Cf. BETES, José Luis Repetto. Mil años de santidad seglar: Santos y beatos del segundo milenio. Madrid: BAC, 2002, p. 125-126.

[2] CHURCHILL, Winston. História dos povos de língua inglesa. Trad. Enéas Camargo. São Paulo: IBRASA, 1960, v. 2, p. 82.

[3] MAUROIS, André. Histoire d’Anglaterre. Paris: Fayard & Cie,1937, p. 329.

[4] Cf. MAUROIS, André. Histoire d’Anglaterre. Paris: Fayard & Cie,1937, p. 329.

[5] ROPS, Daniel. A Igreja da Renascença e da Reforma: a Reforma Protestante. Trad. Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 1996, p.494.

[6] Cf. Ibid., p.495.

[7] Ibid., p.496.

[8] Cf. Ibid., p.496.

Eutanásia é sempre moralmente inaceitável, diz bispo da Colômbia

ACI Digital

BOGOTÁ, 16 jul. 21 / 02:08 pm (ACI).- A eutanásia é moralmente inaceitável em qualquer situação, disse dom Francisco Antonio Ceballos Escobar, bispo de Riohacha, na Colômbia. Uma ação ou uma omissão, com a intenção de provocar a morte para suprimir a dor “constitui um homicídio gravemente contrário à dignidade da pessoa humana e ao respeito do Deus vivo, seu criador”, disse Ceballos, que é presidente da Comissão Episcopal de Promoção e Defesa da Vida da Colômbia, em mensagem de vídeo.

 https://youtu.be/9KkS1HcCQEk

As declarações do bispo se devem ao avanço da eutanásia rumo à legalização na Colômbia. Em 2015, a Corte Constitucional da Colômbia emitiu uma sentença pela qual a eutanásia, embora continue sendo crime, não é mais punida. No início deste mês, o Ministério da Saúde da Colômbia emitiu resolução sobre os procedimentos para exercer o direito “a morrer com dignidade”, legitimando a aplicação da eutanásia no país.

Em sua vídeo-mensagem, dom Ceballos disse que “é importante afirmar que para a moral cristã a vida é sagrada e deve ser tutelada desde a concepção até a morte natural”. Ele citou o quinto mandamento de Deus que diz: “não matarás”.

Ele citou também o Catecismo da Igreja Católica, que ensina: “Aqueles que têm uma vida deficiente ou enfraquecida reclamam um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas, para que possam levar uma vida tão normal quanto possível” (n. 2276).

O bispo frisou que, apesar de que o catecismo legitime a interrupção de tratamentos “onerosos, perigosos, extraordinários ou desproporcionais aos resultados”, isso não significa uma pretensão de provocar a morte. Mesmo que a morte seja iminente, “os cuidados habitualmente devidos a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos”, porque “os cuidados paliativos constituem uma forma excepcional da caridade desinteressada”.

“Antes que eutanásia, se deveria encorajar, no mundo da medicina e da jurisprudência, os cuidados paliativos. Isso sim é ajudar a morrer com dignidade, pois a medicina paliativa se propõe humanizar o processo da morte e acompanhar até o final”, afirmou. “Não há enfermos incuidáveis, ainda que sejam incuráveis”.

ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF