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quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O MINISTÉRIO DO CATEQUISTA

Catequese | RBJ

Dom Antonio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

O MINISTÉRIO DO CATEQUISTA

No mês de maio deste ano (2021) o Papa Francisco através da Carta Apostólica “Antiquum Ministerium” instituiu o Ministério de Catequista. A referida Carta Apostólica é composta por onze parágrafos nos quais apresenta sua justificativa, importância desse serviço e define algumas orientações pastorais para os bispos.

Iniciando esta série de artigos, através da qual pretendemos aprofundar a beleza do ministério de catequista e a importância da Catequese, recordemos as principais ideias desse documento. Com essa Carta Apostólica o Papa Francisco convida toda a Igreja a relançar em todos os contextos a importância da Catequese e o cuidado com o perfil dos catequistas.

O ministério antigo na Igreja

Esse ministério faz-se presente na Igreja deste os primórdios das Comunidades Cristãs. Os diversos textos do NT nos convidam a refletir sobre a importância desse serviço. O evangelista Lucas ao escrever o seu Evangelho tinha como objetivo oferecer uma base sólida para a instrução (cf. Lc 1,3-4). Aos Gálatas comenta o apóstolo Paulo: «Mas quem está a ser instruído na Palavra esteja em comunhão com aquele que o instrui, em todos os bens» (Gal 6,6). A solidez da catequese contribui, portanto, para a profundidade da comunhão da Igreja. Onde impera a ignorância teológica, lá reina a confusão.

A diversidade de dons

Na Igreja há diversidade de manifestações do Espírito Santo como afirma o apóstolo Paulo aos Coríntios quando menciona os mestres: «E aqueles que Deus estabeleceu na Igreja são, em primeiro lugar, apóstolos; em segundo, profetas; em terceiro, mestres; em seguida, há o dom dos milagres, depois o das curas, o das obras de assistência, o de governo e o das diversas línguas. Porventura são todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? Fazem todos milagres? Possuem todos o dom das curas? Todos falam línguas? Todos as interpretam? Aspirai, porém, aos melhores dons. Aliás vou mostrar-vos um caminho que ultrapassa todos os outros» (1Cor 12,28-31). Na Igreja há diversidade de dons, mas o Espírito e o Senhor são o mesmo e, cada dom, é dado para a promoção do bem comum (cf. 1Cor 12,4-11).

Ao longo da história a Igreja reconheceu este serviço como expressão concreta do carisma pessoal, que tanto favoreceu o exercício da sua missão evangelizadora desde as primeiras comunidades. Ainda hoje a Igreja estimula esse mesmo ministério como sinal de fidelidade à permanência na Palavra de Deus. Ao longo de dois milênios de história a Igreja reconheceu o delicado e generoso serviço de tantos que se dedicaram à instrução catequética realizando uma missão insubstituível na transmissão e aprofundamento da fé, como bispos, sacerdotes, diáconos, religiosos, leigos e leigas. Dentre tantos, reconhecemos também muitos beatos, santos e mártires catequistas.

A catequese edifica a Igreja

A catequese em sido uma forma de ministerialidade (de experiência de serviço eclesial) concretizada por homens e mulheres que, obedientes à ação do Espírito Santo, dedicaram a sua vida à edificação da Igreja. Com múltiplas expressões esse é um serviço essencial para a vida da Igreja, pois a fé precisa ser a aprofundada.

Renovada consciência catequética

A partir do Concílio Ecumênico Vaticano II, a Igreja assumiu uma renovada consciência sobre a importância do compromisso do laicato na obra de evangelização. O Decreto “Ad Gentes” afirma: «É digno de elogio aquele exército com tantos méritos na obra das missões entre pagãos, o exército dos catequistas, homens e mulheres, que, cheios do espírito apostólico, prestam com grandes trabalhos uma ajuda singular e absolutamente necessária à expansão da fé e da Igreja. Hoje em dia, em razão da escassez de clero para evangelizar tão grandes multidões e exercer o ministério pastoral, o ofício dos catequistas tem muitíssima importância» (AG,17). Diversos outros eventos contribuíram para a renovação da Catequese: o interesse constante dos papas, os Sínodo dos Bispos, as Conferências Episcopais, o magistério dos bispos, a Compilação do Catecismo da Igreja Católica, a Exortação apostólica Catechesi tradendae, o Diretório Geral da Catequese, etc.

A corresponsabilidade

O bispo é o primeiro Catequista na sua diocese, mas isso não dispensa a corresponsabilidade e a colaboração de outros sujeitos eclesiais como, os pais, catequistas leigos e leigas que, em virtude do batismo, são chamados a colaborar no serviço da catequese em cada ambiente. O ministério da Catequese abraça as condições culturais de cada contexto, mas conservando sua fidelidade ao evangelho. A Catequese, frente a tantos desafios culturais, vê-se diante de um grande desafio: “despertar o entusiasmo pessoal de cada batizado e reavivar a consciência de ser chamado a desempenhar a sua missão na comunidade requer a escuta da voz do Espírito que nunca deixa faltar a sua presença fecunda”.

O apostolado dos leigos

O Papa Francisco através do ministério de Catequista nos recorda a importância do apostolado dos leigos na Igreja. Eles «são especialmente chamados a tornarem a Igreja presente e ativa naqueles locais e circunstâncias em que, só por meio deles, ela pode ser o sal da terra» (LG, 33); «os leigos podem ainda ser chamados, por diversos modos, a uma colaboração mais imediata no apostolado da hierarquia, à semelhança daqueles homens e mulheres que ajudavam o apóstolo Paulo no Evangelho, trabalhando muito no Senhor» (LG, 33); o Catequista é chamado, antes de mais nada, a exprimir a sua competência no serviço pastoral da transmissão da fé que se desenvolve nas suas diferentes etapas; o Catequista é simultaneamente testemunha da fé, mestre e mistagogo, acompanhante e pedagogo que instrui em nome da Igreja.

A diversidade de ministérios

o ministério de catequista não está isolado. Ao lado desse ministério há outros que já foram oficialmente reconhecidos pela Igreja, como ministério de leitor e acólito, bem como os serviços de ostiário, exorcista, etc. Tais ministérios são preciosos para a implantação, a vida e o crescimento da Igreja e para a sua capacidade de irradiar a própria mensagem à sua volta e para aqueles que estão distantes (cf. Paulo VI. EN, 73).

O perfil dos catequistas

O papa Francisco também nos apresenta alguns critérios sobre o perfil daqueles que podem ser convocados para serem catequistas. Não é um serviço para qualquer um; por isso o ministério de Catequista requer o devido discernimento por parte do Bispo e se evidencia com o Rito de instituição; é um serviço estável prestado à Igreja local de acordo com as exigências pastorais dadas pelo bispo. “Convém que, ao ministério instituído de Catequista, sejam chamados homens e mulheres de fé profunda e maturidade humana, que tenham uma participação ativa na vida da comunidade cristã, sejam capazes de acolhimento, generosidade e vida de comunhão fraterna, recebam a devida formação bíblica, teológica, pastoral e pedagógica, para serem solícitos comunicadores da verdade da fé, e tenham já maturado uma prévia experiência de catequese. Requer-se que sejam colaboradores fiéis dos presbíteros e diáconos, disponíveis para exercer o ministério onde for necessário e animados por verdadeiro entusiasmo apostólico”.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

  1. Quais sinais da importância dada à catequese encontramos nas comunidades primitivas?
  2. Quem são os responsáveis pela promoção do ministério da Catequese?
  3. Quais são os critérios para a escolha de catequistas?

Fonte: CNBB

A esponsalidade de Cristo com a Igreja na Carta aos Efésios

Santa Missa na Noite de Natal  (Vatican Media)

"O desenvolvimento do pensamento paulino passa continuamente da realidade humana do casal para o modelo ideal da união Cristo-Igreja. Paulo escreve esta epístola considerando fundamentalmente dois pólos que conduzirão sua reflexão e admoestação: Jesus Cristo e a Igreja".

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

“Alegremo-nos e exaltemos, demos glória a Deus, porque estão para realizar-se as núpcias do cordeiro, e sua esposa já está pronta...”. De fato, com base nesta passagem do Livro do Apocalipse (Ap 19, 7), exegetas afirmam ser esta “uma imagem que ressalta a união do Esposo, que é Cristo, com a esposa que Ele escolheu, que é sua Igreja. As núpcias do Cordeiro simbolizam o estabelecimento do Reino celeste. É Cristo o Esposo da Igreja. As núpcias são a realização perfeita da Aliança, que são esperadas para o fim dos tempos”.

Padre Gerson Schmidt* tem nos trazido neste nosso espaço uma sequência de reflexões sobre a esponsalidade de Cristo com a Igreja. Se no programa passado o tema abordado foi “A esponsalidade de Cristo com a Igreja no Apocalipse de São João”, na edição desta quarta-feira, o sacerdote gaúcho nos fala sobre “A esponsalidade de Cristo com a Igreja na Carta aos Efésios”:

"Um dos textos Paulinos que expressam claramente a esponsalidade de Cristo com a Igreja está na carta aos Efésios. Aqui se encontra o principal texto neotestamentário sobre a relação esponsal Cristo e Igreja: “Assim também os maridos devem amar as suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo, pois ninguém jamais quis mal à sua própria carne, antes alimenta-a e dela cuida, como também faz Cristo com a Igreja, porque somos membros do seu Corpo. Por isso deixará o homem o seu pai e sua mãe e se ligará à sua mulher, e serão ambos uma só carne. É grande esse mistério: refiro-me à relação entre Cristo e a sua Igreja” (Ef 5, 22-32). O escrito comporta um longo desenvolvimento, determinante para a eclesiologia, que põe em paralelo a relação Cristo-Igreja e a relação conjugal homem-mulher.

No Antigo Testamento, a Aliança de Deus com seu povo, Israel, é comparada com o matrimônio, supondo naturalmente a ordem social do antigo Oriente, que era patriarcal. Como o homem e a mulher no antigo Oriente, assim Deus e o seu povo não são parceiros com direitos iguais. À fidelidade obediente da mulher corresponde o cuidado amoroso do marido. Era óbvia a aplicação do modelo do matrimônio humano.

São Paulo parece estar mais interessado em apresentar a relação de Cristo e a Igreja do que definir o estilo das relações entre os esposos cristãos. Parece mais um discurso teológico sobre a relação Cristo-Igreja do que um manual de ética para esposos cristãos. A partir de uma comparação da relação amorosa de Cristo com sua Igreja é que os esposos poderão encontrar o modelo ideal para relacionar-se entre si.

Com particular eficácia e densidade, Paulo faz uso da imagem esposo-esposa para tipificar a relação Cristo-Igreja, entrelaçando numa trama original aquilo que representa uma instrução sobre o relacionamento conjugal entre marido e mulher e a reflexão sobre o mistério de Cristo e da Igreja. O comportamento do marido em relação à mulher, e vice-versa, vem sempre ligado à relação de amor de Cristo pela Igreja. Implicitamente, Cristo vem descrito como o Esposo da Igreja. Ele é o “Salvador do Corpo” (cf. v. 23c), que é a Igreja. Percebe-se que nos vv. 23 a 32 se estabelece um paralelo entre o casamento e a relação de Cristo com a Igreja. Ambos vão esclarecendo-se mutuamente.

A Bíblia de Jerusalém, em nota de rodapé, comenta assim: “Pode-se dizer que Cristo é esposo da Igreja, porque é seu chefe e a ama como a seu próprio corpo, assim como acontece entre marido e mulher; essa comparação, uma vez admitida, fornece, por seu lado, um modelo ideal para o casamento humano. O simbolismo dessa imagem tem as suas raízes profundas no AT, que representa muitas vezes Israel como esposa de Iahweh (Os 1, 2s)”. A exortação referente às relações entre Cristo e a Igreja é tão veemente, na passagem de Efésios 5, 22-32, que poderia servir mais como um ensinamento a respeito da eclesiologia do que como uma exortação acerca das relações entre marido e mulher. “A analogia do amor esponsal consente-nos compreender em certo modo o mistério — que há séculos está escondido em Deus, e que no tempo foi realizado por Cristo — como o amor, próprio de um total e irrevogável dom de si por parte de Deus ao homem, em Cristo”¹.

O desenvolvimento do pensamento paulino passa continuamente da realidade humana do casal para o modelo ideal da união Cristo-Igreja. Paulo escreve esta epístola considerando fundamentalmente dois pólos que conduzirão sua reflexão e admoestação: Jesus Cristo e a Igreja. Todavia, não lhe escapa a lembrança de que a salvação realizada através de Cristo e da Igreja é de iniciativa do Pai. Portanto, apesar da centralidade da figura de Cristo para definir a fé e a experiência salvífica cristã, o autor de Efésios não perde de vista a dimensão teocêntrica de todo o processo de revelação e de salvação. “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5, 25b).”

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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¹ JOÃO PAULO II, AUDIÊNCIA GERAL, Quarta-feira, 29 de Setembro de 1982.

Fonte: Vatican News

O que vai acontecer com os cristãos do Afeganistão?

Shutterstock | Trent Inness
Por Francisco Vêneto

A Cáritas Italiana está preocupada com a comunidade: a própria entidade provavelmente terá que suspender suas atividades.

O que vai acontecer com os cristãos do Afeganistão? Esta pergunta passa imediatamente pela cabeça de qualquer um que esteja minimamente ciente do estado crítico de perseguição anticristã em dezenas de países de todo o planeta, seja provocada por regimes ferrenhamente ateus, como no caso dos comunistas chineses ou norte-coreanos, seja promovida por regimes coniventes, passivos ou mesmo cúmplices do terrorismo fundamentalista islâmico, tal como se vê em áreas da Nigéria ou do Paquistão.

É este o caso também do Afeganistão recém-retomado pelos Talibãs: dado o histórico desse grupo de radicais adeptos da mais estrita e brutal interpretação da lei islâmica, o novo-velho regime que se apossou de Cabul no último domingo representam uma grave ameaça não só à liberdade de culto, mas à própria integridade física dos cristãos em territórios sob seu controle.

Os cristãos do Afeganistão

A Cáritas Italiana está particularmente preocupada com a pequena comunidade cristã do Afeganistão. A própria entidade, aliás, provavelmente terá que suspender as suas atividades no país onde atua desde a década de 1990. Outras entidades católicas serão tristemente forçadas a tomar a mesma medida.

A Rede Cáritas, composta por dezenas de unidades nacionais, se dedica à caridade católica e à ação social em mais de uma centena de países, independentemente de terem ou não maioria cristã. No Afeganistão, ela atua por meio da Cáritas Italiana, que já declarou temer pela segurança dos cristãos no território agora sob controle dos Talibãs.

“A instabilidade da situação levará à suspensão de todas as nossas atividades. Aumentam os temores quanto à possibilidade de mantermos uma presença [no Afeganistão], mesmo no futuro, assim como pela segurança dos poucos afegãos de fé cristã”.

De fato, são muito poucos: estima-se que haja somente 200 católicos no país, até porque a conversão ao cristianismo pode ser condenada com a pena de morte. A única igreja católica existente no Afeganistão se localiza dentro da embaixada da Itália em Cabul.

Diante do cenário radicalizado, os poucos sacerdotes e religiosos católicos presentes no país também terão que partir.

A Cáritas Italiana informou também que está avaliando a situação dos refugiados afegãos na fronteira com o vizinho Paquistão – outro país, diga-se de passagem, em que a situação dos cristãos é frequentemente muito difícil. Para a entidade católica, “a retirada das forças armadas dos EUA está deixando o Afeganistão num abismo trágico”, após uma guerra de vinte anos cujos custos humanos são incalculáveis, mas muito mais dramáticos que os bilhões de euros despejados em operações que fracassaram.

Fonte: Aleteia

Os ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio (Parte 5/5)

Presbíteros
Os Ensinamentos de São Josemaría sobre o sacerdócio: uma resposta aos desafios de um mundo secularizado.

4. «Empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser».

Sacerdote cem por cento.

Depois de ter considerado como o sacerdote empresta ao Senhor sua voz e suas mãos, chegamos, como em um in crescendo de identificação com Cristo, a uma formulação abrangente da identidade sacerdotal: “empresto ao Senhor meu corpo e minha alma: todo meu ser”. Esta fórmula, referida à celebração eucarística, na qual o sacerdote atua in persona Christi Capitis, pode estender-se analogamente à inteira vida do sacerdote, constituindo a sua mais íntima aspiração: ser, sempre e em tudo, ipse Christus, o mesmo Cristo.

São Josemaría descrevia com força esse sentido de totalidade próprio do sacerdote. Dirigindo-se a um grupo de sacerdotes recém ordenados, expressava da seguinte maneira: “Receberam o Sacramento da Ordem para ser, nada mais e nada menos, sacerdotes-sacerdotes, sacerdotes cem por cento” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).

Ao mesmo tempo, é evidente que sempre é indispensável à colaboração entre sacerdotes e leigos, cada um segundo a missão que lhes é própria. Como escrevia São Josemaría, “esta colaboração apostólica é hoje importantíssima, vital, urgente” (São Josemaría, Carta 8-VIII-1956, n. 3). Por uma parte, porque os presbíteros, enquanto tais, não têm acesso a muitos ambientes profissionais ou sociais. Por outra parte, porque os leigos, para serem verdadeiramente “outros Cristos” necessitam da vida sacramental e, por tanto, o recurso ao ministério sacerdotal. Sem vida interior, o leigo terminará por mundanizar-se, ao invés de cristianizar o mundo: é necessária uma intensa vida sobrenatural para influenciar cristãmente em ambientes onde parece ter desaparecido a pegada de Deus.

“No exercício do apostolado, os leigos têm absoluta necessidade do sacerdote, no momento em que chegam ao que chamo o muro sacramental, como os sacerdotes – especialmente em meio da indiferença religiosa, quando não se trata ademais de um ataque brutal à Religião, na sociedade desses tempos – tem necessidade dos leigos, para o apostolado” (Ibid.).

Esta colaboração é eficaz na medida em que respeita a natureza mesma da vocação de cada um: o leigo deve ser “Cristo” em meio do mundo, nas circunstâncias normais da sua vida: na convivência com seus familiares, com aqueles que compartilha projetos e afãs. Ao mesmo tempo, o sacerdote deve ser sempre e inteiramente sacerdote, vivendo para sustentar e alentar o afã de santidade de homens e mulheres, com uma entrega abnegada em seu ministério. Dificilmente haverá leigos que perseverem no empenho de buscar a santidade na vida ordinária, sem presbíteros “dedicados integralmente ao seu serviço, que se esqueçam habitualmente de si mesmos, para preocupar-se somente das almas” (Ibid.).

São Josemaría repetia com frequência que tinha uma só panela (un solo puchero) para todos, cujo conteúdo é, em síntese, a busca da santidade no meio das ocupações cotidianas. Dessa panela podem se alimentar o pai e a mãe de família, o engenheiro, o advogado, o médico, o operário, e também o sacerdote. E o sacerdote desempenha um papel insubstituível para ajudar os fiéis a ser santos: há de servir a todos, é sacerdote para os demais. Pela missão que recebeu de Deus tem uma especial obrigação por buscar a santidade. “Muitas coisas grandes dependem do sacerdote: temos a Deus, trazemos a Deus, damos a Deus” (Ibid., n. 17).

Por isso o fundador do Opus Deu falava em ser sacerdote cem por cento, que é a consequência da fazer da própria vida aquilo que acontece na Santa Missa: emprestar ao Senhor o corpo e a alma, dar-lhe tudo. Significa também que o sacerdócio não é um emprego, nem uma tarefa que ocupa parcialmente a jornada, como outros trabalhos. Para São Josemaría não existem âmbitos da existência pessoal que não sejam sacerdotais: até nas situações aparentemente mais intranscendentes, ou nas ocupações profanas, o sacerdote é sempre sacerdote, escolhido entre os homens, constituído em favor dos homens (Cf. Hb 5, 1).

Plenamente congruente com esse “emprestar meu corpo a Senhor” é o dom do celibato sacerdotal. Em meio do mundo, que facilmente tende a banalizar a dignidade do corpo, cobra especial significado entregar totalmente o corpo a Nosso Senhor Jesus Cristo na celebração eucarística. O celibato de Jesus Cristo ilumina com toda sua força e resplendor o celibato do sacerdote. Cristo, nos seus anos de existência terrena e na vida da sua Igreja, demonstrou a que grau extraordinário de paternidade e maternidade, de caridade sem limites, pode-se chegar com esse dom.

Ao longo da sua grande experiência pastoral, São Josemaría experimentou continuamente a necessidade de uma forte identidade sacerdotal: não é verdade que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem a mais; o povo cristão, o que deseja do sacerdote é que seja sacerdote. Na sociedade atual, onde poucos pretendem ofuscar a Deus, os cristãos necessitam perceber com mais razão ainda a presença de Cristo no sacerdote; necessitam e esperam, em palavras de São Josemaría, “que se destaque claramente o caráter sacerdotal: esperam que o sacerdote reze, que não se negue a administrar os Sacramentos, que esteja disposto a acolher a todos sem constituir-se em chefe ou militante de bandeiras humanas, sejam do tipo que sejam; que ponha amor e devoção na celebração da Santa Missa, que se sente no confessionário, que console os enfermos e aos afligidos; que dê doutrina na catequese de crianças e adultos, que pregue a Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana que – embora conhecesse perfeitamente – não seria a ciência que salva e leva à vida eterna; que tenha conselho e caridade com os necessitados. Em uma palavra: se pede ao sacerdote que aprenda a não estorvar a presença de Cristo nele” (São Josemaría, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973).

*.*.*

Esta última frase pode talvez resumir o desafio que o mundo atual lança aos ministros sagrados. Aos homens de todos os tempos, o sacerdote deve fazer presente a Deus, e para isto, deve aprender a emprestar a Cristo sua voz, suas mãos, sua alma e seu corpo: todo seu ser. Assim acontece principalmente quando administra os sacramentos ou na pregação, porém não somente nesses momentos. A dinâmica própria do sacramento da Ordem, cujo centro e cume é a Eucaristia, leva a doar-se inteiramente, ao longo do dia, de corpo e alma, a Cristo.

A vida terrena de Santa Maria, Mãe de Cristo, Sacerdote Eterno, e Mãe dos sacerdotes, foi um “faça-se sincero, entregado, cumprido até as últimas consequências, que não se manifestou em ações espetaculares, mas sim no sacrifício escondido e silencioso de cada dia” (São Josemaría, É Cristo que passa, n. 172). Na Virgem se demonstra a eficácia dessa atitude. Por isso Maria, permanentemente, continua fazendo presente a Deus nas casas, nas ruas. A Mãe de Deus é, muitas vezes, o último reduto de fé, daquele que não poucas vezes brota de novo a conversão e o descobrimento da alegria da vida cristã em meio do mundo.

+ Javier Echevarría
Prelado do Opus Dei

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Tertuliano de Cartago: Tratado sobre a Oração (Parte 5/11)

Tertuliano de Cartago | Veritatis Splendor
Tratado sobre a Oração

VIII

“Não nos submetas à tentação”

1. Completando oração tão concisa, o Senhor acrescentou que supliquemos não só o perdão dos pecados, mas também que de todo, os evitemos: “Não nos submetas à tentação”. Isto quer dizer: Não permitas que o Tentador nos faça cair.

2. Não pensemos que o Senhor nos quer tentar, como se ignorasse a fé de cada um de nós, ou como se ele quisesse nos fazer cair.

3. É o maligno que nos faz cair. Fraco e malvado é o Diabo. Assim, quando Deus ordenou a Abraão o sacrifício do seu filho, não foi para tirar-lhe a fé, mas para prová-la (cf Gn 22, 1-18). Queria, sim, fazer dele um exemplo para o mandamento que iria dar mais tarde: os que vos são caros, não os ameis mais do que a Deus (cf. Mt 10,37).

4. Um dia, o próprio Senhor foi tentado pelo Diabo, mostrando que é este, e não ele, o dono e mestre de toda tentação.

5. Mais tarde, o Senhor confirmou essa passagem, quando disse: “Orai para não cairdes em tentação” (Mt 26,41). Os discípulos caíram na tentação, a ponto de abandonar o Senhor, porque preferiram dormir a orar (cf. Mt 26,40-45).

6. A isto corresponde o final do Pai nosso, que explica o pedido: “Não nos submetas à tentação”. É o que diz a oração: “Mas livra-nos do Maligno” (Mt 6,13).

IX

Esta oração é muito rica

1. Em tão poucas palavras, quantas declarações dos Profetas, dos Evangelhos, dos Apóstolos, quantos discursos do Senhor em parábolas, exemplos e preceitos, são relembrados! E quantos deveres religiosos são aí repassados

2. Falando do Pai, a oração nos lembra a honra devida a Deus. Na revelação do seu nome, testemunhamos a fé. Em face da sua vontade, oferecemos a nossa submissão. Quando se fala do Reino, recordamos a nossa esperança. Pedindo o pão, rogamos a vida. Pedindo perdão, confessamos nossos pecados. Solicitando a proteção divina, mostramo-nos preocupados com as tentações.

3. Mas, por que se admirar disso? Só Deus podia nos ensinar como quer que o invoquemos na oração. Dele mesmo nos vem a regra da oração, que ele animava com o seu Espírito, no instante mesmo em que ela saía da sua boca. Assim, pois, por força de um privilégio especial, ela sobe direto ao céu, recomendando ao Pai o que o Filho ensinou.

X

Outros pedidos legítimos

1. Mas o Senhor, que prevê as necessidades humanas, depois de nos ensinar esta oração, acrescenta, em outro lugar: “Pedi e recebereis” (Mt 7,7Lc 11,9). Com efeito, existem outras coisas a pedir, segundo as circunstâncias. Primeiro, porém, devemos proferir essa oração do Senhor, que representa o fundamento de nossos outros desejos. Temos, pois, o direito de acrescentar além desta oração, outros pedidos, sob a condição de nos lembrarmos dos preceitos evangélicos. Se estivermos distanciados desses preceitos, estaremos outro tanto distantes dos ouvidos de Deus.

Fonte: https://www.veritatis.com.br/

Papa Francisco diz que a Lei deve ser cumprida, mas quem salva é Jesus Cristo

Papa Francisco durante a Audiência Geral.
Foto: Daniel Ibáñez / ACI Prensa

Vaticano, 18 ago. 21 / 09:17 am (ACI).- O papa Francisco falou sobre a importância da Lei para “não cair em equívocos nem dar passos falsos”, e lembrou que “quem nos justifica é Jesus Cristo. Devemos observar os Mandamentos, mas eles não nos dão a justiça; há a gratuidade de Jesus Cristo, o encontro com Jesus Cristo que nos justifica gratuitamente”.

Francisco deu continuidade às suas catequeses com as reflexões sobre a carta de são Paulo aos gálatas durante a Audiência Geral desta quarta-feira, 18 de agosto, no Vaticano. Ele meditou sobre o papel da Lei no cristianismo e afirmou que os cristãos, que ele chamou de “filhos da promessa justificados por Jesus Cristo”, “não estão sob o vínculo da Lei, mas são chamados ao estilo de vida exigente na liberdade do Evangelho”. No entanto, frisou que “a Lei existe”.

Portanto, “qual é, segundo a Carta aos Gálatas, o papel da Lei?”, questionou-se. “Paulo diz que a Lei foi como um pedagogo. É uma bonita imagem, que merece ser compreendida no seu justo significado”, explicou.

O apóstolo divide a história da salvação em dois momentos: “antes de se tornar crentes em Jesus Cristo e depois de ter recebido a fé. No centro está o acontecimento da morte e ressurreição de Jesus”.

Essa divisão feita por são Paulo significa que existe “há um ´antes` e um ´depois` em relação à própria Lei” e que “a história anterior é determinada pelo facto de estar ´sob a Lei`”, enquanto que “a história sucessiva deve ser vivida seguindo o Espírito Santo (cf. Gl 5, 25)”

Francisco explicou que a expressão “estar sob a Lei” usada por são Paulo tem um significado subjacente que “implica a ideia de uma servidão negativa, típica dos escravos: ´estar submetido`”.

“O Apóstolo torna-o explícito, dizendo que quando se está ´sob a Lei` é como ser ´vigiado` e ´preso`, uma espécie de prisão preventiva. Este tempo, diz São Paulo, durou muito e perpetua-se enquanto se vive no pecado”.

“Em síntese”, continuou o papa, “a Lei leva a definir a transgressão e a tornar as pessoas conscientes do próprio pecado. Aliás, como ensina a experiência comum, o preceito acaba por estimular a transgressão”.

Francisco explicou que a visão de são Paulo sobre a Lei de Israel não é negativa, mas limitada no tempo. Ou seja, para são Paulo “a Torá fora um ato de magnanimidade por parte de Deus para com o seu povo. Certamente tinha funções restritivas, mas ao mesmo tempo protegia o povo, educava-o, disciplinava-o e apoiava-o na sua fraqueza”.

Em resumo, “a convicção do Apóstolo é que a Lei tem certamente uma função positiva mas é uma função limitada no tempo. A sua duração não pode ser prolongada além, pois está ligada ao amadurecimento das pessoas e à sua escolha de liberdade. Quando se chega à fé, a Lei esgota o seu valor propedêutico e deve dar lugar a outra autoridade”.

O papa Francisco concluiu sua catequese afirmando que “este ensinamento sobre o valor da lei é muito importante e merece ser considerado cuidadosamente para não cair em equívocos nem dar passos falsos. Far-nos-á bem perguntar-nos se ainda vivemos no período em que precisamos da Lei, ou se estamos bem conscientes de que recebemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus para viver no amor”.

Fonte: ACI Digital

O Papa: vacinar-se é um ato de amor

Papa Francisco | Vatican News

Numa mensagem em vídeo para os povos da América Latina, o Papa Francisco os convida a vacinar-se contra o coronavírus: um gesto simples, mas profundo, para um futuro melhor. Mensagem à qual se somam os apelos conjuntos de prelados do continente americano: é necessário ser responsável pelo bem comum, porque somos uma família.

https://youtu.be/S_R5w2NLmQk

Raimundo de Lima - Vatican News

“Com espírito fraterno, uno-me a esta mensagem de esperança por um futuro mais luminoso. Graças a Deus e ao trabalho de muitos, hoje temos vacinas para nos proteger da Covid-19. Elas dão a esperança de acabar com a pandemia, mas somente se elas estiverem disponíveis para todos e se colaborarmos uns com os outros.”

É o que afirma o Santo Padre numa mensagem em vídeo aos povos latino-americanos, lançando um apelo à consciência de cada um fazendo votos de uma atitude responsável para enfrentar juntos a pandemia.

O amor é também social e político

“Vacinar-se, com vacinas autorizadas pelas autoridades competentes, é um ato de amor. E ajudar a fazer de modo que a maioria das pessoas se vacinem é um ato de amor. Amor por si mesmo, amor pelos familiares e amigos, amor por todos os povos. O amor também é social e político, há amor social e amor político, é universal, sempre transbordante de pequenos gestos de caridade pessoal capazes de transformar e melhorar as sociedades”, prossegue o Papa.

Vacinar-se, um modo simples de promover o bem-comum

Francisco conclui afirmando que vacinar-se é uma forma simples mas profunda de promover o bem comum e de cuidar uns dos outros, especialmente dos mais vulneráveis. “Peço a Deus que cada um possa contribuir com seu pequeno grão de areia, seu pequeno gesto de amor. Por menor que seja, o amor é sempre grande. Contribua com estes pequenos gestos para um futuro melhor.”

Apelo conjunto dos prelados latino-americanos

O apelo do Papa é reforçado por vários cardeais do continente, que foram unânimes em nos lembrar da necessidade de vacinar-se contra o coronavírus. José Horacio Gómez, do México, presidente dos bispos dos EUA, espera que com a ajuda da fé as pessoas possam enfrentar os riscos da pandemia e que todos nós possamos nos vacinar. Carlos Aguiar Retes, arcebispo de Cidade do México, pediu a vacinação do norte ao sul do continente porque - afirma - estamos todos interligados e a esperança deve ser sem exclusão. O cardeal Hummes se faz porta-voz das mesmas palavras do Papa: vacinar-se é um ato de amor por todos e aponta que os esforços heroicos dos profissionais da saúde produziram vacinas seguras e eficazes para toda a família humana. O cardeal salvadorenho Rosa Chávez falou de uma "responsabilidade moral para toda a comunidade": "Nossa escolha de vacinar afeta os outros". O cardeal hondurenho Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga também expressou seu apoio à campanha de conscientização: "Ainda temos mais a aprender sobre o vírus, mas uma coisa é verdade: as vacinas autorizadas funcionam e salvam vidas, são uma chave para a cura pessoal e universal". Do Peru, dom Miguel Cabrejos Vidarte, presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), apelou à unidade e voltou ao aspecto de proteger nossa saúde integral, convidando as pessoas a se vacinarem porque "a vacinação é segura e eficaz".

Fonte: Vatican News

Santa Helena, mãe do primeiro imperador cristão

Sta. Helena | Guadium Press
Deus “levanta do pó o mendigo, do esterco retira o indigente para fazê-los sentar-se entre os nobres e outorgar-lhes um trono de honra” (I Sm 2, 8).

Redação (05/01/2021, 16:17, Gaudium Press) Numa pequena cidade da Bitínia, região da atual Turquia, nasceu no ano de 250 Santa Helena que, embora procedesse de família muito pobre, se tornou imperatriz e exerceu fortalecedora influência sobre seu filho Constantino, o qual deu liberdade à Igreja.

Peregrinação à Terra Santa

Seus pais cuidavam de uma estrebaria e ela precisava ajudar nos trabalhos. Em Santa Helena se cumpriram inteiramente as palavras do cântico de Ana, mãe do Profeta Samuel:
Deus “levanta do pó o mendigo, do esterco retira o indigente para fazê-los sentar-se entre os nobres e outorgar-lhes um trono de honra” (I Sm 2, 8).

Com sua ação de presença e orações, ela ajudou eficazmente seu filho, sobretudo durante a Batalha de Ponte Mílvia, em 312, na qual Constantino, mandando gravar nos estandartes de seu exército a Cruz de Cristo, derrotou o usurpador Maxêncio que se apoderara do poder em Roma.

Sendo já septuagenária, empreendeu uma peregrinação à Terra Santa onde realizou importantes obras. Mandou destruir o templo de Vênus – deusa da impureza –, existente no local onde Jesus tinha sido sepultado, e promoveu a construção da Basílica do Santo Sepulcro; ordenou a edificação da Basílica da Natividade sobre a gruta onde Nosso Senhor nasceu, em Belém.

Por sua ordem realizaram-se escavações no Monte Calvário e encontrou-se a Cruz do Redentor. Outras preciosas relíquias foram descobertas em Jerusalém, como a Scala Santa, escada de 28 degraus do Pretório de Pôncio Pilatos, pela qual Nosso Senhor Jesus Cristo subiu na Sexta-Feira Santa para ser julgado pelo governador romano. Atualmente ela se encontra num santuário próximo à Basílica de São João de Latrão, em Roma.

Pouco tempo depois dessa peregrinação, Santa Helena faleceu em Constantinopla, aos 80 anos de idade, e seu venerável corpo foi enterrado em Roma.

Salutar influência sobre o Imperador Constantino

A respeito dessa alma de escol, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira teceu comentários que a seguir transcrevemos.

“Em vez de considerar este ou aquele aspecto da vida de Santa Helena, gostaria de ressaltar a impressão que o todo de sua personalidade nos comunica. Nesse sentido, eu diria que se trata de uma Santa cuja importância para o panorama da Igreja redunda, não apenas do fato de ter sido imperatriz, mas também porque teve sobre Constantino uma evidente e salutar influência.

“Quer dizer, temos Constantino, o primeiro imperador que faz uma promessa de dar livre curso ao culto católico no Ocidente, caso se visse auxiliado por Nosso Senhor Jesus Cristo na Batalha de Ponte Mílvia. Ele recebe a célebre visão do in hoc signo vinces — com este sinal vencereis —, portanto uma confirmação do socorro divino, conquista a vitória e cumpre sua promessa.

“Com o Edito de Milão ele concede liberdade à Igreja Católica, e a partir daí começaria a ruir o paganismo sobre o qual o Estado se assentava. “Diante desse acontecimento de fundamental importância para a Cristandade, não se pode deixar de reconhecer a materna e católica influência de Santa Helena sobre o filho.

“Quando nos lembramos de Santa Mônica rezando por Santo Agostinho e obtendo do Céu a conversão dele, ou quando recordamos o papel de Santa Clotilde junto a seu esposo, Clóvis, trazendo-o igualmente para o seio da Igreja Católica e, com ele, o povo franco, é difícil não pensar que Santa Helena impressionou a fundo Constantino, e que a atitude dele foi motivada, em
grande medida, pela ascendência da mãe.

Deus “levanta do pó o mendigo, do esterco retira o indigente para fazê-los sentar-se entre os nobres e outorgar-lhes um trono de honra” (I Sm 2, 8).
Guadium Press

Enquanto a mãe rezava, o filho lutava

“Ora, se, católicos que somos, desejamos de toda a alma uma restauração da ordem social e temporal católica como a que vigorou nos dias áureos da Civilização Cristã, não podemos deixar de reconhecer, com muita alegria, o trabalho feito por Santa Helena com esse objetivo: não só fazer cessar as perseguições à Igreja no Império Romano pagão, mas também fazer com que o imperador começasse a edificar uma ordem temporal católica, prólogo da plenitude de catolicidade que alcançaria o Estado medieval. […]

“Portanto, pela sua oração, pelo exemplo de suas virtudes, Santa Helena esteve na raiz de uma série de realizações gloriosas, de ideias grandiosas, de princípios que repercutiriam mesmo após o ocaso do Sacro Império Romano Alemão, até os nossos dias. Razão pela qual nos é particularmente cara a devoção a essa grande santa.

“Chamo a atenção para esse ponto acima mencionado: as orações de Santa Helena. É necessário compreender aqui o equilibrado do papel dessa oração.

“Com efeito, seria equivocado imaginar que, uma vez recitadas as preces, não adianta fazer coisa alguma. Basta rezar e deixar as realizações concretas ao beneplácito da Providência. Às vezes, quando as vicissitudes o impõem, não se pode pretender outra coisa. Porém, é apropriado esperar que a oração nos mova à ação que realiza o fim almejado. E desse teor foram as preces de Santa Helena.

“Enquanto a mãe rezava, o filho lutava e agia. Constantino, protegido pelo socorro do Céu, levando no seu lábaro o emblema de Nosso Senhor Jesus Cristo, combateu e alcançou a vitória. Em seguida, agiu vigorosamente, com a força temporal do Estado, para libertar a Igreja e extinguir os restos do paganismo.

“Creio ver nessa circunstância o equilíbrio perfeito entre oração e ação. Santa Helena reza, e sua oração é acompanhada certamente de atitudes e palavras evangelizadoras junto ao filho, e este cuida dos meios materiais para
concretizar aquilo que, sem dúvida, sua mãe desejava realizar. A oração é a razão mais fecunda do desencadear dos fatos; os fatos produzem os frutos da prece atendida.

 Deus “levanta do pó o mendigo, do esterco retira o indigente para fazê-los sentar-se entre os nobres e outorgar-lhes um trono de honra” (I Sm 2, 8).
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Matrona de espírito elevado e de horizonte largo

“Cumpre considerar, ainda, este outro e não menos belo florão na vida de Santa Helena: foi ela que encontrou a verdadeira Cruz, um acontecimento cercado de milagres e dádivas especiais de Deus. É o Santo Lenho do qual se espalharam relíquias para serem veneradas pelos fiéis do mundo inteiro.

“Que glória para essa mulher ter sido, ao mesmo tempo, a mãe do primeiro imperador cristão e aquela que tirou das entranhas da terra a verdadeira Cruz, com todos os benefícios espirituais oriundos dessa descoberta!

“Então admiramos ainda mais o vulto dessa Santa, conhecemos melhor a estatura dessa alma, um grande tipo de mulher que vive só para Nosso Senhor. Matrona de espírito elevado e de horizonte largo, compreendendo as coisas a partir dos seus aspectos mais sublimes e de maior alcance. E que, por causa dessa envergadura espiritual, transforma um Império e dá ao mundo o presente imensamente grandioso da verdadeira Cruz de Cristo.” 

Por Paulo Francisco Martos
(in “Noções de História da Igreja” – 36)

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF