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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Amoris laetitia: amor fecundo

Vatican News

Cada mês, em 10 episódios, um vídeo com as reflexões do Papa e o testemunho de famílias de todas as partes do mundo – realizado em colaboração entre o Dicastério Leigos Família e Vida e Vatican News – ajuda a reler a Exortação apostólica, com a contribuição de um subsídio que pode ser baixado para o aprofundamento pessoal e comunitário. Porque ser família, recorda Francisco, é sempre “principalmente uma oportunidade”.

Amoris laetitia
(n. 165-198)

O AMOR QUE SE TORNA FECUNDO

165. O amor sempre dá vida. Por isso, o amor conjugal «não se esgota no interior do próprio casal (...). Os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe».[176]

Acolher uma nova vida

166. A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus. Cada nova vida «permite-nos descobrir a dimensão mais gratuita do amor, que nunca cessa de nos surpreender. É a beleza de ser amado primeiro: os filhos são amados antes de chegar».[177] Isto mostra-nos o primado do amor de Deus que sempre toma a iniciativa, porque os filhos «são amados antes de ter feito algo para o merecer».[178] Mas, «desde o início, numerosas crianças são rejeitadas, abandonadas e subtraídas à sua infância e ao seu futuro. Alguns ousam dizer, como que para se justificar, que foi um erro tê-las feito vir ao mundo. Isto é vergonhoso! (...) Que aproveitam as solenes declarações dos direitos do homem e dos direitos da criança, se depois punimos as crianças pelos erros dos adultos?»[179] Se uma criança chega ao mundo em circunstâncias não desejadas, os pais ou os outros membros da família devem fazer todo o possível para aceitá-la como dom de Deus e assumir a responsabilidade de a acolher com magnanimidade e carinho. Com efeito, «quando se trata de crianças que vêm ao mundo, nenhum sacrifício dos adultos será julgado demasiado oneroso ou grande, contanto que se evite que uma criança chegue a pensar que é um erro, que não vale nada e que está abandonada aos infortúnios da vida e à prepotência dos homens».[180] O dom dum novo filho, que o Senhor confia ao pai e à mãe, tem início com o seu acolhimento, continua com a sua guarda ao longo da vida terrena e tem como destino final a alegria da vida eterna. Um olhar sereno voltado para a realização final da pessoa humana tornará os pais ainda mais conscientes do precioso dom que lhes foi confiado; de facto, Deus concede-lhes fazer a escolha do nome com que Ele chamará cada um dos seus filhos por toda a eternidade.[181]

167. As famílias numerosas são uma alegria para a Igreja. Nelas, o amor manifesta a sua fecundidade generosa. Isto não implica esquecer uma sã advertência de São João Paulo II, quando explicava que a paternidade responsável não é «procriação ilimitada ou falta de consciência acerca daquilo que é necessário para o crescimento dos filhos, mas é, antes, a faculdade que os cônjuges têm de usar a sua liberdade inviolável de modo sábio e responsável, tendo em consideração tanto as realidades sociais e demográficas, como a sua própria situação e os seus legítimos desejos».[182]

O amor na expectativa própria da gravidez

168. A gravidez é um período difícil, mas também um tempo maravilhoso. A mãe colabora com Deus, para que se verifique o milagre duma nova vida. A maternidade surge duma «particular potencialidade do organismo feminino, que, com a sua peculiaridade criadora, serve para a concepção e a geração do ser humano».[183] Cada mulher participa do «mistério da criação, que se renova na geração humana».[184] Assim diz o Salmo: Senhor, «formaste-me no seio de minha mãe» (Sl 139/138, 13). Cada criança, que se forma dentro de sua mãe, é um projecto eterno de Deus Pai e do seu amor eterno: «Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio de tua mãe, Eu te consagrei» (Jr 1, 5). Cada criança está no coração de Deus desde sempre e, no momento em que é concebida, realiza-se o sonho eterno do Criador. Pensemos quanto vale o embrião, desde que é concebido! É preciso contemplá-lo com este olhar amoroso do Pai, que vê para além de toda a aparência.

169. A mulher grávida pode participar deste projecto de Deus, sonhando o seu filho: «Toda a mãe e todo o pai sonharam o seu filho durante nove meses. (...) Não é possível uma família sem o sonho. Numa família, quando se perde a capacidade de sonhar, os filhos não crescem, o amor não cresce; a vida debilita-se e apaga-se».[185] Neste sonho, para um casal cristão, aparece necessariamente o baptismo. Os pais preparam-no com a sua oração, confiando o filho a Jesus já antes do seu nascimento.

170. Hoje, com os progressos feitos pela ciência, é possível saber de antemão a cor que terá o cabelo da criança e as doenças que poderá ter no futuro, porque todas as características somáticas daquela pessoa estão inscritas no seu código genético já no estado embrionário. Mas, conhecê-lo em plenitude, só consegue o Pai do Céu que o criou: o mais precioso, o mais importante só Ele conhece, pois é Ele que sabe quem é aquela criança, qual é a sua identidade mais profunda. A mãe, que o traz no ventre, precisa de pedir luz a Deus para poder conhecer em profundidade o seu próprio filho e saber esperá-lo como ele é. Alguns pais sentem que o seu filho não chega no melhor momento; faz-lhes falta pedir ao Senhor que os cure e fortaleça para aceitarem plenamente aquele filho, para o esperarem com todo o coração. É importante que aquela criança se sinta esperada. Não é um complemento ou uma solução para uma aspiração pessoal, mas um ser humano, com um valor imenso, e não pode ser usado para benefício próprio. Por conseguinte, não é importante se esta nova vida te será útil ou não, se possui características que te agradam ou não, se corresponde ou não aos teus projectos e sonhos. Porque «os filhos são uma dádiva! Cada um é único e irrepetível (...). Um filho é amado porque é filho: não, porque é bonito ou porque é deste modo ou daquele, mas porque é filho! Não, porque pensa como eu, nem porque encarna as minhas aspirações. Um filho é um filho».[186] O amor dos pais é instrumento do amor de Deus Pai, que espera com ternura o nascimento de cada criança, aceita-a incondicionalmente e acolhe-a gratuitamente.

171 A cada mulher grávida, quero pedir-lhe afectuosamente: Cuida da tua alegria, que nada te tire a alegria interior da maternidade. Aquela criança merece a tua alegria. Não permitas que os medos, as preocupações, os comentários alheios ou os problemas apaguem esta felicidade de ser instrumento de Deus para trazer uma nova vida ao mundo. Ocupa-te daquilo que é preciso fazer ou preparar, mas sem obsessões, e louva como Maria: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva» (Lc 1, 46-48). Vive, com sereno entusiasmo, no meio dos teus incómodos e pede ao Senhor que guarde a tua alegria para poderes transmiti-la ao teu filho.

Amor de mãe e de pai

172. «Recém-nascidas, as crianças começam a receber em dom, juntamente com o alimento e os cuidados, a confirmação das qualidades espirituais do amor. Os gestos de amor passam através do dom do seu nome pessoal, da partilha da linguagem, das intenções dos olhares, das iluminações dos sorrisos. Assim, aprendem que a beleza do vínculo entre os seres humanos mostra a nossa alma, procura a nossa liberdade, aceita a diversidade do outro, reconhece-o e respeita-o como interlocutor. (...) E isto é amor, que contém uma centelha do amor de Deus».[187] Toda a criança tem direito a receber o amor de uma mãe e de um pai, ambos necessários para o seu amadurecimento íntegro e harmonioso. Como disseram os bispos da Austrália, ambos «contribuem, cada um à sua maneira, para o crescimento duma criança. Respeitar a dignidade duma criança significa afirmar a sua necessidade e o seu direito natural a ter uma mãe e um pai».[188] Não se trata apenas do amor do pai e da mãe separadamente, mas também do amor entre eles, captado como fonte da própria existência, como ninho acolhedor e como fundamento da família. Caso contrário, o filho parece reduzir-se a uma posse caprichosa. Ambos, homem e mulher, pai e mãe, são «cooperadores do amor de Deus criador e como que os seus intérpretes».[189] Mostram aos seus filhos o rosto materno e o rosto paterno do Senhor. Além disso, é juntos que eles ensinam o valor da reciprocidade, do encontro entre seres diferentes, onde cada um contribui com a sua própria identidade e sabe também receber do outro. Se, por alguma razão inevitável, falta um dos dois, é importante procurar alguma maneira de o compensar, para favorecer o adequado amadurecimento do filho.

173. O sentimento de ser órfãos, que hoje experimentam muitas crianças e jovens, é mais profundo do que pensamos. Hoje reconhecemos como plenamente legítimo, e até desejável, que as mulheres queiram estudar, trabalhar, desenvolver as suas capacidades e ter objectivos pessoais. Mas, ao mesmo tempo, não podemos ignorar a necessidade que as crianças têm da presença materna, especialmente nos primeiros meses de vida. A realidade é que «a mulher apresenta-se diante do homem como mãe, sujeito da nova vida humana, que nela é concebida e se desenvolve, e dela nasce para o mundo».[190] O enfraquecimento da presença materna, com as suas qualidades femininas, é um risco grave para a nossa terra. Aprecio o feminismo, quando não pretende a uniformidade nem a negação da maternidade. Com efeito, a grandeza das mulheres implica todos os direitos decorrentes da sua dignidade humana inalienável, mas também do seu génio feminino, indispensável para a sociedade. As suas capacidades especificamente femininas – em particular a maternidade – conferem-lhe também deveres, já que o seu ser mulher implica também uma missão peculiar nesta terra, que a sociedade deve proteger e preservar para bem de todos.[191]

174. De facto, «as mães são o antídoto mais forte contra o propagar-se do individualismo egoísta. (...) São elas que testemunham a beleza da vida».[192] Sem dúvida, «uma sociedade sem mães seria uma sociedade desumana, porque as mães sabem testemunhar sempre, mesmo nos piores momentos, a ternura, a dedicação, a força moral. As mães transmitem, muitas vezes, também o sentido mais profundo da prática religiosa: nas primeiras orações, nos primeiros gestos de devoção que uma criança aprende (...). Sem as mães, não somente não haveria novos fiéis, mas a fé perderia boa parte do seu calor simples e profundo. (...) Queridas mães, obrigado, obrigado por aquilo que sois na família e pelo que dais à Igreja e ao mundo».[193]

175. A mãe, que ampara o filho com a sua ternura e compaixão, ajuda a despertar nele a confiança, a experimentar que o mundo é um lugar bom que o acolhe, e isto permite desenvolver uma auto-estima que favorece a capacidade de intimidade e a empatia. Por sua vez, a figura do pai ajuda a perceber os limites da realidade, caracterizando-se mais pela orientação, pela saída para o mundo mais amplo e rico de desafios, pelo convite a esforçar-se e lutar. Um pai com uma clara e feliz identidade masculina, que por sua vez combine no seu trato com a esposa o carinho e o acolhimento, é tão necessário como os cuidados maternos. Há funções e tarefas flexíveis, que se adaptam às circunstâncias concretas de cada família, mas a presença clara e bem definida das duas figuras, masculina e feminina, cria o âmbito mais adequado para o amadurecimento da criança.

176. Diz-se que a nossa sociedade é uma «sociedade sem pais». Na cultura ocidental, a figura do pai estaria simbolicamente ausente, distorcida, desvanecida. Até a virilidade pareceria posta em questão. Verificou-se uma compreensível confusão, já que, «num primeiro momento, isto foi sentido como uma libertação: libertação do pai-patrão, do pai como representante da lei que se impõe de fora, do pai como censor da felicidade dos filhos e impedimento à emancipação e à autonomia dos jovens. Por vezes, havia casas em que no passado reinava o autoritarismo, em certos casos até a prepotência».[194] Mas, «como acontece muitas vezes, passa-se de um extremo ao outro. O problema nos nossos dias não parece ser tanto a presença invasora do pai, mas sim a sua ausência, o facto de não estar presente. Por vezes o pai está tão concentrado em si mesmo e no próprio trabalho ou então nas próprias realizações individuais que até se esquece da família. E deixa as crianças e os jovens sozinhos».[195] A presença paterna e, consequentemente, a sua autoridade são afectadas também pelo tempo cada vez maior que se dedica aos meios de comunicação e à tecnologia da distracção. Além disso, hoje, a autoridade é olhada com suspeita e os adultos são duramente postos em discussão. Eles próprios abandonam as certezas e, por isso, não dão orientações seguras e bem fundamentadas aos seus filhos. Não é saudável que sejam invertidas as funções entre pais e filhos: prejudica o processo adequado de amadurecimento que as crianças precisam de fazer e nega-lhes um amor capaz de as orientar e que as ajude a maturar.[196]

177. Deus coloca o pai na família, para que, com as características preciosas da sua masculinidade, «esteja próximo da esposa, para compartilhar tudo, alegrias e dores, dificuldades e esperanças. E esteja próximo dos filhos no seu crescimento: quando brincam e quando se aplicam, quando estão descontraídos e quando se sentem angustiados, quando se exprimem e quando permanecem calados, quando ousam e quando têm medo, quando dão um passo errado e quando voltam a encontrar o caminho; pai presente, sempre. Estar presente não significa ser controlador, porque os pais demasiado controladores aniquilam os filhos».[197] Alguns pais sentem-se inúteis ou desnecessários, mas a verdade é que «os filhos têm necessidade de encontrar um pai que os espera quando voltam dos seus fracassos. Farão de tudo para não o admitir, para não o revelar, mas precisam dele».[198] Não é bom que as crianças fiquem sem pais e, assim, deixem de ser crianças antes do tempo.

Fecundidade alargada

178. Àqueles que não podem ter filhos, lembramos que «o matrimónio não foi instituído só em ordem à procriação (...). E por isso, mesmo que faltem os filhos, tantas vezes ardentemente desejados, o matrimónio conserva o seu valor e indissolubilidade, como comunidade e comunhão de toda a vida».[199] Além disso, «a maternidade não é uma realidade exclusivamente biológica, mas expressa-se de diversas maneiras».[200]

179. A adopção é um caminho para realizar a maternidade e a paternidade de uma forma muito generosa, e desejo encorajar aqueles que não podem ter filhos a alargar e abrir o seu amor conjugal para receber quem está privado de um ambiente familiar adequado. Nunca se arrependerão de ter sido generosos. Adoptar é o acto de amor que oferece uma família a quem não a tem. É importante insistir para que a legislação possa facilitar o processo de adopção, sobretudo nos casos de filhos não desejados, evitando assim o aborto ou o abandono. Aqueles que assumem o desafio de adoptar e acolhem uma pessoa de maneira incondicional e gratuita, tornam-se mediação do amor de Deus que diz: «Ainda que a tua mãe chegasse a esquecer-te, Eu nunca te esqueceria» (cf. Is 49, 15).

180. «A opção da adopção e do acolhimento exprime uma fecundidade particular da experiência conjugal, mesmo para além dos casos de esposos com problemas de fertilidade (...). Ao contrário das situações em que o filho é desejado a todo o custo, como um direito ao próprio completamento, a adopção e o acolhimento, rectamente compreendidos, mostram um aspecto importante da paternidade e da filiação ajudando a reconhecer que os filhos, quer naturais quer adoptivos ou acolhidos, são em si mesmos outro sujeito e é preciso recebê-los, amá-los, cuidar deles e não apenas trazê-los ao mundo. O interesse prevalecente da criança deveria sempre inspirar as decisões sobre a adopção e o acolhimento».[201] Por outro lado, «deve-se impedir o tráfico de crianças entre países e continentes, por meio de oportunas medidas legislativas e controle estatal».[202]

181. Convém lembrar-nos também de que a procriação e a adopção não são as únicas maneiras de viver a fecundidade do amor. Mesmo a família com muitos filhos é chamada a deixar a sua marca na sociedade onde está inserida, desenvolvendo outras formas de fecundidade que são uma espécie de extensão do amor que a sustenta. As famílias cristãs não esqueçam que «a fé não nos tira do mundo, mas insere-nos mais profundamente nele. (...) A cada um de nós cabe um papel especial na preparação da vinda do Reino de Deus».[203] A família não deve imaginar-se como um recinto fechado, procurando proteger-se da sociedade. Não fica à espera, mas sai de si mesma à procura de solidariedade. Assim transforma-se num lugar de integração da pessoa com a sociedade e num ponto de união entre o público e o privado. Os cônjuges precisam de adquirir consciência clara e convicta dos seus deveres sociais. Quando isto acontece, não diminui o carinho que os une; antes, enche-se de nova luz, como está expresso nos seguintes versos:

«As tuas mãos são a minha carícia,
o meu despertar diário
amo-te porque tuas mãos
trabalham pela justiça.
Se te amo, é porque és
o meu amor, o meu cúmplice e tudo
e na rua, lado a lado,
somos muito mais que dois».[204]

182. Nenhuma família pode ser fecunda, se se concebe como demasiado diferente ou «separada». Para evitar este risco, lembremo-nos que a família de Jesus, cheia de graça e sabedoria, não era vista como uma família «estranha», como um lar alheado e distante da gente. Por isso mesmo as pessoas sentiram dificuldade em reconhecer a sabedoria de Jesus e diziam: «De onde é que isto lhe vem? (…) Não é Ele o carpinteiro, o filho de Maria?» (Mc 6, 2.3). «Não é Ele o filho do carpinteiro?» (Mt 13, 55). Isto confirma que era uma família simples, próxima de todos, integrada normalmente na povoação. E Jesus também não cresceu numa relação fechada e exclusiva com Maria e José, mas de bom grado movia-se na família alargada, onde encontrava os parentes e os amigos. Isto explica por que, quando regressavam de Jerusalém, os seus pais admitissem a possibilidade de o Menino de doze anos vagar pela caravana um dia inteiro, ouvindo as histórias e partilhando as preocupações de todos: «Pensando que Ele Se encontrava na caravana, fizeram um dia de viagem» (Lc 2, 44). Mas, às vezes, acontece que algumas famílias cristãs, pela linguagem que usam, a maneira de dizer as coisas, o estilo do seu tratamento, a repetição constante de dois ou três assuntos, são vistas como distantes, separadas da sociedade, e até os próprios parentes se sentem desprezados ou julgados por elas.

183. Um casal de esposos, que experimenta a força do amor, sabe que este amor é chamado a sarar as feridas dos abandonados, estabelecer a cultura do encontro, lutar pela justiça. Deus confiou à família o projecto de tornar «doméstico» o mundo,[205] de modo que todos cheguem a sentir cada ser humano como um irmão: «Um olhar atento à vida quotidiana dos homens e das mulheres de hoje demonstra imediatamente a necessidade que há, em toda a parte, duma vigorosa injecção de espírito familiar. (...) Não só a organização da vida comum encalha cada vez mais numa burocracia totalmente alheia aos vínculos humanos fundamentais, mas até o costume social e político mostra frequentemente sinais de degradação».[206] Pelo contrário, as famílias magnânimas e solidárias abrem espaço aos pobres, são capazes de tecer uma amizade com aqueles que estão a viver pior do que elas. Se realmente têm a peito o Evangelho, não podem esquecer o que diz Jesus: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Em última análise, vivem o que nos é pedido, de forma tão eloquente, neste texto: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os teus vizinhos ricos; não vão eles também convidar-te, por sua vez, e assim retribuir-te. Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos. E serás feliz» (Lc 14, 12-14). Serás feliz! Aqui está o segredo duma família feliz.

184. Com o testemunho e também com a palavra, as famílias falam de Jesus aos outros, transmitem a fé, despertam o desejo de Deus e mostram a beleza do Evangelho e do estilo de vida que nos propõe. Assim os esposos cristãos pintam o cinzento do espaço público, colorindo-o de fraternidade, sensibilidade social, defesa das pessoas frágeis, fé luminosa, esperança activa. A sua fecundidade alarga-se, traduzindo-se em mil e uma maneiras de tornar o amor de Deus presente na sociedade.

Distinguir o Corpo

185. Nesta linha, convém tomar muito a sério um texto bíblico que habitualmente é interpretado fora do seu contexto ou duma maneira muito geral, pelo que é possível negligenciar o seu sentido mais imediato e directo, que é marcadamente social. Trata-se da primeira Carta aos Coríntios (11, 17-34), onde São Paulo enfrenta uma situação vergonhosa da comunidade. Nela, algumas pessoas facultosas tendiam a discriminar os pobres, e isto verificava-se mesmo na ágape que acompanhava a celebração da Eucaristia. Enquanto os ricos se deleitavam com seus manjares, os pobres olhavam e passavam fome: «Enquanto um passa fome, outro fica embriagado. Porventura não tendes casas para comer e beber? Ou desprezais a Igreja de Deus e quereis envergonhar aqueles que nada têm?» (vv. 21-22).

186. A Eucaristia exige a integração no único corpo eclesial. Quem se abeira do Corpo e do Sangue de Cristo não pode ao mesmo tempo ofender aquele mesmo Corpo, fazendo divisões e discriminações escandalosas entre os seus membros. Na realidade, trata-se de «distinguir» o Corpo do Senhor, de O reconhecer com fé e caridade, quer nos sinais sacramentais quer na comunidade; caso contrário, come-se e bebe-se a própria condenação (cf. v. 29). Este texto bíblico é um sério aviso para as famílias que se fecham na própria comodidade e se isolam e, de modo especial, para as famílias que ficam indiferentes aos sofrimentos das famílias pobres e mais necessitadas. Assim, a celebração eucarística torna-se um apelo constante a cada um para que «se examine a si mesmo» (v. 28), a fim de abrir as portas da própria família a uma maior comunhão com os descartados da sociedade e depois, sim, receber o sacramento do amor eucarístico que faz de nós um só corpo. Não se deve esquecer que «a “mística” do sacramento tem um carácter social».[207] Quando os comungantes se mostram relutantes em deixar-se impelir a um compromisso a favor dos pobres e atribulados ou consentem diferentes formas de divisão, desprezo e injustiça, recebem indignamente a Eucaristia. Ao contrário, as famílias, que se alimentam da Eucaristia com a disposição adequada, reforçam o seu desejo de fraternidade, o seu sentido social e o seu compromisso para com os necessitados.

A vida na família em sentido amplo

187. O núcleo familiar restrito não deveria isolar-se da família alargada, onde estão os pais, os tios, os primos e até os vizinhos. Nesta família ampla, pode haver pessoas necessitadas de ajuda, ou pelo menos de companhia e gestos de carinho, ou pode haver grandes sofrimentos que precisam de conforto.[208] Às vezes o individualismo destes tempos leva a fechar-se na segurança dum pequeno ninho e a sentir os outros como um incómodo. Todavia este isolamento não proporciona mais paz e felicidade, antes fecha o coração da família e priva-a do horizonte amplo da existência.

Ser filho

188. Em primeiro lugar, falemos dos pais próprios. Jesus lembrava aos fariseus que o abandono dos pais é contrário à Lei de Deus (cf. Mc 7, 8-13). Não faz bem a ninguém perder a consciência de ser filho. Em cada pessoa, «mesmo quando se torna adulta ou idosa, quando passa também a ser progenitora ou desempenha funções de responsabilidade, por baixo de tudo isso permanece a identidade de filho. Todos somos filhos. E isto recorda-nos sempre que a vida não no-la demos sozinhos, mas recebemo-la. O grande dom da vida é o primeiro presente que recebemos».[209]

189. Por isso, «o quarto mandamento pede aos filhos (…) que honrem o pai e a mãe (cf. Ex 20, 12). Este mandamento vem logo após aqueles que dizem respeito ao próprio Deus. Com efeito, contém algo de sagrado, algo de divino, algo que está na raiz de todos os outros tipos de respeito entre os homens. E, na formulação bíblica do quarto mandamento, acrescenta-se: “para que se prolonguem os teus dias sobre a terra que o Senhor, teu Deus, te dá”. O vínculo virtuoso entre as gerações é garantia de futuro e de uma história verdadeiramente humana. Uma sociedade de filhos que não honram os pais é uma sociedade sem honra (...). É uma sociedade destinada a encher-se de jovens áridos e ávidos».[210]

190. Mas há também a outra face da moeda: «O homem deixará o pai e a mãe» (Gn 2, 24), diz a Palavra de Deus. Às vezes, isto não é cumprido, nunca se chegando a assumir o matrimónio, porque falta esta renúncia e esta dedicação. Os pais não devem ser abandonados nem transcurados, mas, para unir-se em matrimónio, é preciso deixá-los, de modo que o novo lar seja a morada, a protecção, a plataforma e o projecto, e seja possível tornar-se verdadeiramente «uma só carne» (Gn 2, 24). Sucede, em alguns casais, ocultar ao próprio cônjuge muitas coisas, que entretanto se dizem aos pais, chegando ao ponto de se importar mais com as opiniões destes do que com os sentimentos e as opiniões do cônjuge. Não é fácil manter esta situação por muito tempo, e só provisoriamente poderia ter lugar, isto é, enquanto se criam as condições para crescer na confiança e no diálogo. O matrimónio desafia a encontrar uma nova maneira de ser filho.

Os idosos

191. «Não me rejeites no tempo da velhice; não me abandones, quando já não tiver forças» (Sl 71/70, 9). É o brado do idoso, que teme o esquecimento e o desprezo. Assim como Deus nos convida a ser seus instrumentos para escutar a súplica dos pobres, assim também espera que ouçamos o brado dos idosos.[211] Isto interpela as famílias e as comunidades, porque «a Igreja não pode nem quer conformar-se com uma mentalidade de impaciência, e muito menos de indiferença e desprezo, em relação à velhice. Devemos despertar o sentido colectivo de gratidão, apreço, hospitalidade, que faça o idoso sentir-se parte viva da sua comunidade. Os idosos são homens e mulheres, pais e mães que, antes de nós, percorreram o nosso próprio caminho, estiveram na nossa mesma casa, combateram a nossa mesma batalha diária por uma vida digna».[212] Por isso, «como gostaria duma Igreja que desafia a cultura do descarte com a alegria transbordante dum novo abraço entre jovens e idosos!»[213]

192. São João Paulo II convidou-nos a prestar atenção ao lugar do idoso na família, porque há culturas que, «especialmente depois dum desenvolvimento industrial e urbanístico desordenado, forçaram, e continuam a forçar, os idosos a situações inaceitáveis de marginalização».[214] Os idosos ajudam a perceber «a continuidade das gerações», com «o carisma de lançar uma ponte»[215] entre elas. Muitas vezes são os avós que asseguram a transmissão dos grandes valores aos seus netos, e «muitas pessoas podem constatar que devem a sua iniciação na vida cristã precisamente aos avós».[216] As suas palavras, as suas carícias ou a simples presença ajudam as crianças a reconhecer que a história não começa com elas, que são herdeiras dum longo caminho e que é necessário respeitar o fundamento que as precede. Quem quebra os laços com a história terá dificuldade em tecer relações estáveis e reconhecer que não é o dono da realidade. Com efeito, «a atenção aos idosos distingue uma civilização. Numa civilização, presta-se atenção ao idoso? Há lugar para o idoso? Esta civilização irá em frente, se souber respeitar a sabedoria dos idosos».[217]

193. A falta de memória histórica é um defeito grave da nossa sociedade. É a mentalidade imatura do «já está ultrapassado». Conhecer e ser capaz de tomar posição perante os acontecimentos passados é a única possibilidade de construir um futuro que tenha sentido. Não se pode educar sem memória: «Recordai os dias passados» (Heb 10, 32). As histórias dos idosos fazem muito bem às crianças e aos jovens, porque os ligam à história vivida tanto pela família como pela vizinhança e o país. Uma família que não respeita nem cuida dos seus avós, que são a sua memória viva, é uma família desintegrada; mas uma família que recorda é uma família com futuro. Por isso, «numa civilização em que não há espaço para os idosos ou onde eles são descartados porque criam problemas, tal sociedade traz em si o vírus da morte»,[218] porque «se separa das próprias raízes».[219] O fenómeno contemporâneo de sentir-se órfão, em termos de descontinuidade, desenraizamento e perda das certezas que dão forma à vida, desafia-nos a fazer das nossas famílias um lugar onde as crianças possam lançar raízes no terreno duma história colectiva.

Ser irmão

194. A relação entre os irmãos aprofunda-se com o passar do tempo, e «o laço de fraternidade que se forma na família entre os filhos, quando se verifica num clima de educação para a abertura aos outros, é uma grande escola de liberdade e de paz. Em família, entre irmãos, aprendemos a convivência humana (…). Talvez nem sempre estejamos conscientes disto, mas é precisamente a família que introduz a fraternidade no mundo. A partir desta primeira experiência de fraternidade, alimentada pelos afectos e pela educação familiar, o estilo da fraternidade irradia-se como uma promessa sobre a sociedade inteira».[220]

195. Crescer entre irmãos proporciona a bela experiência de cuidar uns dos outros, de ajudar e ser ajudado. Por isso, «a fraternidade na família resplandece de modo especial quando vemos a solicitude, a paciência e o carinho com que é circundado o irmãozinho ou a irmãzinha mais frágil, doente ou deficiente».[221] Faz falta reconhecer que «ter um irmão, uma irmã que te ama é uma experiência forte, inestimável, insubstituível»,[222] mas é preciso ensinar, com paciência, os filhos a tratar-se como irmãos. Esta aprendizagem, por vezes fadigosa, é uma verdadeira escola de sociabilidade. Nalguns países, existe uma forte tendência para ter apenas um filho, pelo que a experiência de ser irmão começa a ser rara. Nos casos em que não se pôde ter mais de um filho, é preciso encontrar formas de a criança não crescer sozinha ou isolada.

Um coração grande

196. Com efeito, além do círculo pequeno formado pelos cônjuges e seus filhos, temos a família alargada, que não pode ser ignorada. Com efeito, «o amor entre o homem e a mulher no matrimónio e, de forma derivada e ampla, o amor entre os membros da mesma família – entre pais e filhos, entre irmãos e irmãs, entre parentes e familiares – é animado e impelido por um dinamismo interior e incessante, que leva a família a uma comunhão sempre mais profunda e intensa, fundamento e alma da comunidade conjugal e familiar».[223] Aí se integram também os amigos e as famílias amigas, e mesmo as comunidades de famílias que se apoiam mutuamente nas suas dificuldades, no seu compromisso social e na fé.

197. Esta família alargada deveria acolher, com tanto amor, as mães solteiras, as crianças sem pais, as mulheres abandonadas que devem continuar a educação dos seus filhos, as pessoas deficientes que requerem muito carinho e proximidade, os jovens que lutam contra uma dependência, as pessoas solteiras, separadas ou viúvas que sofrem a solidão, os idosos e os doentes que não recebem o apoio dos seus filhos, até incluir no seio dela «mesmo os mais desastrados nos comportamentos da sua vida».[224] E pode também ajudar a compensar as fragilidades dos pais, ou a descobrir e denunciar a tempo possíveis situações de violência ou mesmo de abuso sofridas pelas crianças, dando-lhes um amor sadio e um sustentáculo familiar, quando os seus pais não o podem assegurar.

198. Por fim, não se pode esquecer que, nesta família alargada, estão também o sogro, a sogra e todos os parentes do cônjuge. Uma delicadeza própria do amor é evitar vê-los como concorrentes, como pessoas perigosas, como invasores. A união conjugal exige que se respeite as suas tradições e costumes, se procure compreender a sua linguagem, evitar maledicências, cuidar deles e integrá-los dalguma forma no próprio coração, embora se deva preservara legítima autonomia e a intimidade do casal. Estas atitudes são também uma excelente maneira de exprimir a generosidade da dedicação amorosa ao próprio cônjuge.

Fonte: Vatican News

Papa sobre aborto e eutanásia: É lícito eliminar uma vida para resolver um problema?

Papa Francisco / Foto: Daniel Ibáñez - ACI Prensa

Vaticano, 01 set. 21 / 10:57 am (ACI).- “Diante de uma vida humana eu me faço duas perguntas: é lícito eliminar uma vida humana para resolver um problema? É justo contratar um matador para resolver um problema? Com essas duas perguntas que se resolvam os casos de eliminação de pessoas, por um lado ou pelo outro, [eutanásia e aborto] porque são um peso para a sociedade”, disse o papa Francisco em entrevista à rádio Cope, da Espanha.

Falando ao jornalista Carlos Herrera, o papa disse que, na cultura atual, centrada no descarte de pessoas, “os velhos são material descartável: incomodam”, assim como “os doentes em estados mais terminais, também; as crianças não desejadas, também; e são enviadas ao remetente antes que nasçam”. Nessa “cultura do descarte”, na qual “o que não serve é descartado”, disse Francisco, há o perigo de que “o que se semeia com o descarte, será recebido depois”.

Em relação ao aborto, o papa descartou as discussões sobre “se até aqui você pode [praticar o aborto], que até lá não se pode”. Para Francisco, “qualquer manual de embriologia que um estudante de medicina recebe na faculdade diz que, na terceira semana da concepção, às vezes até antes de que a mãe perceba [que está grávida], já estão definidos todos os órgãos no embrião, inclusive o DNA. É uma vida. Uma vida humana. Alguns dizem: ´não é pessoa`. É uma vida humana!”.

O papa também afirmou que essa cultura nos “marcou”, tanto aos “jovens como aos velhos” e “influi muito” sobre o inverno demográfico, que qualificou como “um dos dramas da cultura atual europeia”.

“Na Itália, a média de idade é 47 anos. Na Espanha, eu acho que é maior. Ou seja, a pirâmide foi invertida. É o inverno demográfico no nascimento, onde há mais casos de aborto. A cultura demográfica perdendo, porque foca no rendimento”, afirmou.

Em relação à eutanásia, Francisco disse que o pedido da Igreja é que possam “ajudar a morrer com dignidade”. Na Espanha, a lei da eutanásia entrou em vigor no dia 25 de julho.

O papa também lembrou uma anedota na qual, em uma família, também vivia o avô que, ao começar a envelhecer e começava a babar quando estava na mesa. Essa situação envergonhava o pai da família, que não podia receber convidados em casa para almoçar.

“Então ele teve a ideia de colocar uma bela mesa na cozinha e explicou à família que, a partir do dia seguinte, o avô ia comer na cozinha e assim podiam convidar pessoas. E foi assim. Uma semana depois, ele chegou em casa e encontrou seu filho de oito, nove anos, um dos filhos, brincando com madeira, pregos, martelos, e perguntou: ´o que você está fazendo?` ´Estou fazendo uma mesa, papai`. ´Para que?` ´Para você, para quando for velho`”, explicou.

Fonte: ACI Digital

Santa Ingrid

Santa Ingrid | ArquiSP
02 de setembro

Santa Ingrid

Ingrid nasceu perto da metade do século XIII, na nobre família Elovsdotter, na Suécia. Cristãos fervorosos, os pais deram a ela e aos outros filhos uma educação digna dos fidalgos e no rigoroso seguimento de Cristo. A menina, desde os primeiros anos de vida, mostrou-se muito virtuosa, amável, caridosa e pia, surpreendendo a todos com seu cândido ideal religioso.

No início da adolescência, como era costume da época, teve de contrair um riquíssimo casamento. Mesmo contrariando sua vocação, ela aceitou tudo com humilde resignação, mas não deixou que o mundo de luxo, futilidades e poder contaminassem sua alma, apesar de ter de conviver nele. Continuou, serenamente, a cuidar das obras de caridade que fundara para os pobres e doentes abandonados, os quais atendia pessoalmente. Possuindo dons especiais de profecia e cura, gozava, entre a população, da fama de santidade.

Ingrid enviuvou pouco tempo depois. Assim, decidiu fazer uma longa peregrinação para a Terra Santa, acompanhada por sua irmã mais velha e algumas damas da corte. Ali seu amor ao Senhor Jesus aumentou ainda mais, alimentando o seu desejo de consagrar-se à vida religiosa. Da Palestina viajou para Roma, onde visitou os túmulos dos apóstolos e dos primeiros mártires e de lá foi para Santiago de Compostela, na Espanha, rezar junto às relíquias do apóstolo Tiago.

Só então Ingrid retornou para a Suécia. Logo depois, em 1281, seguindo seu confessor e orientador espiritual, padre dominicano Pedro de Dacia, e com a autorização do bispo e do rei, ela fez seus votos perpétuos e fundou um mosteiro, sob as Regras de são Domingos, em Skanninge, Suécia. Nele, junto com um grande número de jovens da corte, dedicou-se, totalmente, às orações contemplativas e à vida de rigorosa austeridade.

Morreu como priora, com fama de santidade, no dia 2 de setembro de 1282, no seu convento em Skanninge. Seu culto se espalhou depressa entre as populações vizinhas e difundiu-se entre os devotos. O papa Alexandre VI confirmou o culto à bem-aventurada Ingrid e o dia de sua morte para sua celebração.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Fonte: Arquidiocese de São Paulo

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

AS REALIDADES ESCATOLÓGICAS

Apologistas da Fé Católica

AS REALIDADES ESCATOLÓGICAS
As realidades últimas (εσχατον) são as realidades posteriores à vida terrena do homem e à história da humanidade. O mundo e o homem são obras de Deus, por Ele livremente criados’, a Ele ordenados numa teleologia sublime que, em última análise, não é outra coisa senão a história da salvação. O homem não termina sua existência metafísica com a morte, que é, ao contrário, o ingresso numa nova vida; e também o mundo, que foi feito espectador da maravilhosa providência de Deus Criador e Redentor, deverá ser transfigurado para transformar-se no cenário do próprio Deus, que irá consumar Seu ato de amor.
Há, portanto, duas escatologias: a humana, que começa com a morte de cada um de nós e com o cumprimento de seu destino na outra vida, e a cósmica, que inicia com o fim da história. Será, então, o fim dos tempos, quando Cristo Ressuscitado, vencedor da morte e do pecado, julgará a humanidade inteira e inaugurará definitivamente o Reino de Deus, onde não haverá nem lágrimas, nem morte, e Deus será tudo em todos: “Já não haverá noite e não terão mais necessidade de luz de lâmpada, nem de luz do sol, porque o Senhor Deus os iluminará e reinarão pelos séculos dos séculos” (Ap 22,5).
A escatologia, última na ordem temporal, é também o objeto último da nossa Esperança, que dá sentido à vida cristã, que vive da Fé: “A Fé é a substância das coisas que  se esperam e prova das que não se veem” [Est autem fides sperandarum substantia rerum, argumentum non apparentium] (Hb 11,1). “Se é só para esta vida que temos posto nossa Esperança em Cristo, somos os mais miseráveis de todos os homens” ( ICor 15,19). As realidades escatológicas não são, portanto, as últimas apenas em sentido histórico e temporal, mas também porque são a consumação definitiva da Obra da salvação e a coroa da vitória do amor de Deus pelos homens. Podemos, pois, distinguir:
1) Escatologia individual: morte, juízo, inferno, purgatório, paraíso. É o que comumente se chamam “os novíssimos”, termo derivado dos livros sapienciais: “Em todas as tuas obras lembra-se do teu fim [novíssima tua] e jamais pecarás” (Eclo 7,40).
2) Escatologia coletiva: ressurreição, juízo universal, fim da história em um novo céu e em uma nova terra (cf. Ap 21, 1.5).
3) Escatologia intermediária: chama-se o tempo que transcorre entre a morte do homem e a ressurreição final. A morte marca o destino definitivo para cada um dos homens: para os justos, a vida eterna; para os réprobos, a morte eterna; para os justos, ainda não inteiramente limpos, uma purificação prévia que os prepare para a vida eterna, isto é, o purgatório.
Como acontece com outras verdades reveladas, o Magistério da Igreja limitou-se a definir os pontos essenciais da Fé contra as heresias que foram surgindo no decorrer do tempo. Deste modo foi sendo explicitado, à luz da Sagrada Escritura e da Tradição, o núcleo mais simples dos primitivos símbolos da Fé: a eternidade da retribuição, inclusive para os ímpios (contra os origenistas); a vida eterna, como visão imediata de Deus, em dois sentidos: como ausência de um meio interposto à contemplação e como inexistência de um tempo transitório antes da visão (contra algumas tendências primitivas que retardavam a bem aventurança eterna); a necessidade de uma purificação para quem morre na graça de Deus, mas não se acha de todo purificado (contra os erros de alguns orientais e dos protestantes); a ressurreição do homem todo, não só a sobrevivência da alma, no fim dos tempos. Num ambiente impregnado de dualismo platônico, que considerava a ressurreição uma volta da alma ao cárcere do corpo, inaceitável diante de uma filosofia que desprezava a matéria, São Paulo reivindica a ressurreição como verdade revelada por Deus (cf. At 17,32). Este dualismo ressurgiu várias vezes na Idade Média, contra o qual a Igreja sempre defendeu a dignidade de toda a Criação material, principalmente do corpo humano. Nos tempos atuais, renascem tendências diametralmente opostas ao sentido da antropologia tradicional, que concebe o homem como um ser composto de corpo (material mortal) e alma (espiritual e imortal). Segundo os autores dessa tendência (C. Stange em 1925, K. Barth em 1940, H. Thielicke em 1946, E. Brunner e O. Cullman em 1953, P. Menoud em 1966, seguidos de alguns teólogos católicos), a antropologia tradicional, por eles chamada dualista, não é bíblica, mas helenística; e em nome do pensamento hebraico sustentam que o homem é uma unidade indivisível, que nasce, vive e morre inteiro, alma e corpo; a alma é, portanto, para eles, mortal e morreria com o corpo; enfim, morreria o homem todo. A ressurreição consistiria, para eles, numa nova criação de Deus: a recriação do homem novo no mesmo instante de sua morte, um homem obviamente espiritualizado.

É impossível conciliar estas teorias com o dogma católico da ressurreição, que supõe uma identidade pessoal e física com o homem terreno. Por isso, certos autores procuraram apoiar suas afirmações na hipótese da sobrevivência de um núcleo pessoal: nisto consistiria, para eles, a ressurreição no momento da morte. Mas esta solução leva necessariamente a suprimir a escatologia intermediária, que supõe a permanência da vida na alma depois da morte do corpo. O Magistério teve ultimamente que intervir também nesta questão.
Quanto à escatologia cósmica, é preciso dizer que a Igreja sempre defendeu a dignidade da matéria contra todo tipo de dualismo (platônico ou não): a matéria, pelo menos quanto ao corpo ressuscitado, tem uma herança eterna e, como parte do Corpo de Cristo unido à divindade, foi instrumento de salvação para toda a humanidade e cumprirá plenamente sua finalidade no homem escatológico’.
I. A RESSURREIÇÃO
São Paulo dá evidente testemunho, mais de uma vez, de que a ressurreição dos mortos é um tema primordial da Fé cristã, especialmente em I Cor 15; explica-se assim como os símbolos mais primitivos, que professam só as verdades essenciais da Fé, jamais deixam de afirmar a ressurreição dos mortos: o chamado símbolo ambrosiano, seja qual for a data de sua composição, já contém esta afirmação, que se acha também nos escritores cristãos do séc. II¹.
1) Carta Propter subitas de Clemente I(97?)

O mais antigo testemunho de Fé na ressurreição dos mortos, dado por um Papa, depois de São Pedro, está no seguinte fragmento da carta de São Clemente de Roma aos coríntios.24, 1-3. Consideremos, caríssimos, como o Senhor nos mostra continuamente a futura ressurreição [αναστασιν], da qual deu as primícias no Senhor Jesus Cristo, ressuscitando-Oεκ dos mortos [εκ νεκρων αvαστησας]. Vejamos, caríssimos, a ressurreição que se dá na sucessão do tempo. O dia e a noite nos oferecem um exemplo claro da ressurreição: adormece a noite, surge o dia; vai-se o dia, vem a noite.

2) Papiro de Dêr-Balyzeh
(séc. III?)
Este fragmento, encontrado em Dêr-Balyzeh e composto em meados do séc. VI, descreve a liturgia vigente em pelo menos dois séculos, mas o símbolo é muito mais primitivo, como se vê pela sua extrema simplicidade e por seu reduzido número das verdades de Fé.
TEXTO: G. ROBERTS-B. CAPELLE, An early Euchologion, Louvain, 1940, 32.
 Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, e em Seu Filho 2 Unigênito, Nosso Senhor Jesus Cristo, e no Espírito Santo, e na ressurreição da carne [εις σαρκος αναστασι], [e na] Santa Igreja Católica.
3) I Concílio de Nicéia (I ecumênico) Símbolo da Fé
(19/06/325)

4) Símbolo de Epifânio
(374)
Deve-se notar neste símbolo a insistência na identidade do Corpo glorioso do Senhor com o Corpo que padeceu na Cruz.

5) I Concílio de Constantinopla (II ecumênico) Símbolo da Fé
(381)

6) Fides Damasi (séc. V?)
De origem obscura, no passado foi atribuído ao Papa São Dâmaso ou a São Jerônimo, mas hoje geralmente se pensa que tenha provindo das Gálias e que foi composto em fins do séc. V. Uma peculiaridade deste símbolo é que, ao falar da ressurreição, afirma tratar-se “do mesmo corpo no qual agora vivemos”; esta precisão será acolhida nos símbolos posteriores, sem, no entanto, jamais se definir o que seja necessário para que o corpo ressuscitado possa ser numericamente o mesmo.
TEXTO: A. E. BURN, An Introduction to the Creeds and to the Te Deum, London, 1899, 245-246.

No fim dos tempos o Filho desceu do Pai para nos salvar e para cumprir as Escrituras, mas sem jamais deixar de estar com o Pai, e foi concebido por obra do Espírito Santo, e nasceu da Virgem [Maria], assumiu a carne, a alma e a inteligência, isto é, uma humanidade completa [perfectum suscepit hominem], e sem deixar de ser o que era começou a ser o que não era [nec amisit, quod erat, sed coepit esse, quod non erat], de tal modo que é perfeito na Sua natureza e verdadeiro na nossa [ut perfectus in suis sit et verus in nostris]. Porque Aquele que era Deus nasceu como homem, e Aquele que nasceu como homem age como Deus, e Aquele que age como Deus morre como homem, e Aquele que morre como homem ressurge como Deus [Nam qui Deus erat, homo natus est, et qui homo natus est, operatur ut Deus; et qui operatur ut Deus, ut homo moritur; et qui ut homo moritur, ut Deus resurgit]. Ele, tendo vencido o império da morte, ressuscitou ao terceiro dia com a Carne na qual nasceu, padeceu e morreu, subiu ao Pai e está sentado à Sua direita na glória que sempre teve e tem. Cremos estarmos purificados na Sua morte e no Seu sangue (cf. I Jo 1,7) e que devemos ser por Ele ressuscitados, no último dia, nesta carne em que agora vivemos [in hac carne, qua nunc vivimus], e temos a Esperança de que por Ele alcançaremos a vida eterna como prêmio por nossas boas obras, ou a pena do suplício eterno pelos pecados. Lê estas coisas, recorda-as e submete a tua alma a esta Fé, e por Cristo Senhor obterás a vida e a recompensa.
7) Símbolo Quicumque
(?)
Este símbolo, chamado Quicumque por sua palavra inicial, ou atanasiano porque até o séc. XVII era atribuído a Santo Atanásio, circulou nas Igrejas do Oriente e do Ocidente como legítima expressão da Fé universal, com uma autoridade comparável só ao Símbolo dos Apóstolos ou ao de Nicéia, e foi inserido também no breviário. É certamente posterior ao I Concílio de Constantinopla (381), mas anterior ao IV de Toledo (633), que o menciona. O verdadeiro autor é desconhecido: além de Santo Atanásio, foram propostos como autores Santo Hilário de Poitiers (+367), Santo Ambrósio de Milão (†397), Nicetas de Remesiana (t c.414), São Vicente de Lérins († antes de 450), São Fulgêncio de Ruspe (+532), São Cesário de Arles (†541) e muitos outros.

8) I Concílio de Braga
(01/05/561)
O Concílio de Braga estava decidido a erradicar os últimos resquícios do priscilianismo, que, entre outras coisas, negava a ressurreição dos corpos, contrária aos seus pressupostos maniqueístas sobre a origem demoníaca da matéria; da ressurreição, portanto, devia o concílio tratar.
9) XI Concílio de Toledo (7.11.675)
Este concílio não foi universal, mas dele recebemos uma profissão de Fé que é considerada ainda hoje um documento dogmático de primeira ordem para a precisão com que é expressa a Fé católica. Depois dos mistérios da Santíssima Trindade e da Encarnação do Verbo, toca no dogma da ressurreição dos mortos, em conexão com a Ressurreição de Cristo. A insistência na identidade entre corpo ressuscitado e corpo terreno mostra que já naquele tempo havia quem imaginasse a ressurreição de modo heterodoxo, como se ressuscitasse só um núcleo espiritual e incorpóreo.
TEXTO: Msi 11, 136-137. J. MADOZ, “Le Symbole du XI concile de Tolède”: Spicilegium sacrum Lovaniense 19(1938) 25-26.

 Por este nosso exemplo [capitis nostri] confessamos, portanto, que há uma verdadeira ressurreição da carne de todos os mortos [confitemur veram fieri (al. vera fide) resurrectionem carnis omnium mortuorum]; e não cremos, como deliram alguns, que ressuscitaremos numa carne incorpórea [aérea] ou numa outra carne qualquer, mas, sim, nesta em que vivemos, subsistimos e nos movemos [sed in ista, qua vivimus, consistimus et movemur]. Consumado o modelo desta santa Ressurreição, o mesmo Senhor e Salvador Nosso voltou em Sua Ascensão ao trono paterno, do qual, em razão da divindade, nunca Se separara. Sentado aí à direita do Pai, é esperado no final dos tempos como Juíz dos vivos e dos mortos. Daí virá com os santos anjos e os homens [santos] para julgar e dar a cada um o devido segundo o próprio mérito, de acordo com o que cada um fez quando ainda estava no corpo, seja o bem, seja o mal (cf. II Cor 5,10).
Cremos que a Santa Igreja Católica, conquistada com o preço do Seu sangue, há de com Ele reinar para sempre. Formados em seu seio, cremos e confessamos que há um só Batismo para a remissão de todos os pecados. Nesta Fé cremos verdadeiramente na ressurreição dos mortos [et resurrectionem mortuorum veraciter credimus] e esperamos as alegrias do mundo futuro. Só uma coisa devemos pedir e nela insistir: que quando o Filho, uma vez feito e concluído o juízo, “entregar o Reino a Deus [e] Pai” (I Cor 15,24), nos faça participantes do Seu Reino, para que, por esta Fé, pela qual a Ele aderimos, com Ele reinemos eternamente. Esta é a confissão e exposição da nossa Fé, pela qual se destrói a doutrina de todos os hereges, pela qual se purificam os corações dos fiéis, pela qual, enfim, se sobe a Deus na glória por todos os séculos dos séculos. Amém.
10) Carta Congratulamur vehementer de Leão IX
(13/04/1053)
A carta que o Papa enviou a Pedro III, quando em Constantinopla foi sagrado bispo da Sé de Antioquia (1052), contém uma profissão de Fé em resposta àquela que o novo bispo havia escrito ao Papa, como de costume, em comunhão com a Sé Apostólica. Foi redigida, sem dúvida, pelo Cardeal Humberto e é muito semelhante à dos Statuta Ecclesiae antiqua, que serviu de base, no Concílio de Lyon de 1274, à profissão de Fé de Miguel Paleólogo.

TEXTO: Msi 19, 622; C. WILL, Acta et scripta quae de controversiis Ecclesiae Graecae et Latinae saec. XI composita exstant, Leipzig, 1861, 170-171.
 Creio que a Santa, Católica e Apostólica é a única Igreja verdadeira, na qual se dá o único Batismo e a verdadeira remissão de todos os pecados. Creio também na verdadeira ressurreição desta carne [veram resurrectionem eiusdem carnis], que agora trago comigo, e na vida eterna.
11) Carta Eius exemplo de Inocêncio III (18/12/1208)
Entre os muitos documentos de Inocêncio III selecionamos um trecho da profissão de Fé enviada ao arcebispo de Tarragona para ser assinada por Durando de Huesca e seus adeptos [os valdenses], profissão que insiste na identidade do corpo glorioso com o corpo mortal, testemunhando também a escatologia intermediária.
TEXTO: PL 215, 15.
 Cremos de coração e professamos com a boca [Corde credimus et ore confitemur] a ressurreição desta carne que trazemos conosco e não de outra [huius carnis, quam gestamus, et non alterius resurrectionem]. Cremos, pois, firmemente e afirmamos que seremos julgados por Jesus Cristo e que cada um receberá ou a pena ou o prêmio pelo que tiver feito neste corpo [in hac carne]. Cremos que as esmolas, o sacrifício e as outras boas obras podem ser proveitosas aos fiéis defuntos.

12) IV Concílio de Latrão (XII ecumênico) (novembro de 1215)
O concílio deu a público uma profissão de Fé que repete as afirmações do documento anterior: foi presidido, de fato, pelo próprio Papa Inocêncio III.

¹Citamos, entre outros, SÃO JUSTINO, De resurrectione: PG 6, 1572-1592 (obra que deve ser considerada autêntica depois do estudo de P. PRIGENT, Justin et l’Ancien Testament, Paris, 1964); SANTO IRINEU, Adversus haereses 5, 3-4: PG 7, 1128-1134; ATENÁGORAS, De resurrectione mortuorum: PG 6, 973-1024 (segundo B. ALTANER, Patrologia, Edições Paulinas, São Paulo, 1972, p. 84, “é sem dúvida a melhor obra escrita dos antigos sobre a ressurreição”).

Fonte: Apologistas da Fé Católica

O Papa após a operação: "Nunca passou pela minha cabeça renunciar"

Papa Francisco entrevistado por Carlos Herrera da Rádio
espanhola Cope (COPE) 

Francisco foi entrevistado por Carlos Herrera da Rádio COPE. Pela primeira vez ele fala sobre a cirurgia em julho e também aborda temas como o Afeganistão, China, eutanásia, reforma da Cúria.

Salvatore Cernuzio - Cidade do Vaticano

Da operação no cólon a que foi submetido no último dia 4 de julho na Policlínica Gemelli - e suas atuais condições de saúde -, à crise no Afeganistão e à preocupação com a população. Depois o diálogo com a China, o ponto de vista sobre a eutanásia e o aborto, ambos símbolos daquela "cultura do descarte" que sempre foi denunciada, o julgamento no Vaticano e, por fim, os desafios do seu pontificado como a reforma do A Cúria e a luta contra a corrupção e a pedofilia. Pontificado que, tendo chegado quase ao nono ano, ao contrário de boatos que circulam na mídia italiana e argentina, não será interrompido antes do previsto: "Nunca me passou pela cabeça renunciar".

A entrevista que o Papa Francisco concedeu no último final de semana à Rádio Cope, emissora da Conferência Episcopal Espanhola, dura uma hora e meia. Esta é a primeira entrevista após a cirirgia de estenose diverticular e também a primeira para uma rádio na Espanha.

A saúde após a operação no Gemelli

Em entrevista ao jornalista Carlos Herrera, sob o olhar da imagem tão cara ao Pontífice de Nossa Senhora Desatadora dos Nós, colocada no hall da Casa Santa Marta, o Papa fala de temas da atualidade e não se esquiva das perguntas mais pessoais. A começar pela pergunta mais simples, mas, neste momento de recuperação pós-operatória, a mais importante: “Como o senhor está?”.

“Ainda estou vivo”, responde Francisco com um sorriso. E conta que a sua vida foi salva por um enfermeiro do serviço de saúde da Santa Sé, “um homem com mais de 30 anos de experiência”, que insistiu na cirurgia: “Ele salvou a minha vida! Disse-me: 'Deve fazer uma operação'”. E isso, apesar do parecer contrário de alguns que sugeriram um tratamento "com antibióticos". A insistência do enfermeiro, em vez disso, mostrou-se providencial, visto que a cirurgia revelou um quadro necrótico: agora, após a operação, revela Francisco, "tenho 33 centímetros a menos de intestino". Fato, entretanto, que não o impede de levar uma vida "totalmente normal". “Posso comer de tudo” e, tomando os “remédios adequados”, manter a agenda lotada: “Hoje, audiência toda a manhã, toda a manhã”. Agenda que inclui também a viagem à Eslováquia e à Hungria de 12 a 15 de setembro próximo, a 34ª de seu pontificado.

"Renúncia? Nunca pensei nisso"

Ainda falando da própria saúde, o Papa desmente categoricamente as especulações de alguns jornais italianos e argentinos sobre uma possível renúncia ao pontificado. Questionado a este respeito, Francisco afirma: "Nunca me passou pela cabeça ... Não sei de onde tiraram a ideia de que eu renunciaria!". Com um toque de ironia, o Papa também explica que veio a saber de tais notícias muito depois: "Disseram-me também que na semana passada estava na moda. Eva (Fernández, correspondente da Cope para a Itália e o Vaticano, ndr ) disse-me ... e eu disse a ela que não fazia ideia, porque aqui só leio um jornal de manhã, o jornal de Roma. Eu o leio porque gosto da forma como é apresentado um título, o leio rapidamente e pronto, não me deixo envolver no jogo. Eu não assisto televisão. E recebo, sim, mais ou menos, um relato das notícias do dia, mas descobri muito mais tarde, alguns dias depois, que havia algo sobre minha renúncia. Sempre que um Papa está doente, há sempre uma brisa ou um furacão de Conclave”.

Papa Francisco com jornalistas da Radio Cope,
Carlos Herrera e Eva Fernández
A crise no Afeganistão

Amplo espaço na entrevista é dedicado à crise no Afeganistão, ferido pelos recentes ataques kamikaze e pela sangria de cidadãos após a tomada do poder pelo Talibã. “Uma situação difícil”, observa o Papa Francisco, que não entra em detalhes sobre os esforços que a Santa Sé vem realizando no plano diplomático para evitar represálias contra a população, mas elogia o trabalho da Secretaria de Estado. “Estou certo de que está ajudando ou pelo menos oferecendo ajuda”, afirma, definindo o cardeal secretário de Estado, Pietro Parolin, como “o melhor diplomata que já conheci”: “Um diplomata que acrescenta, não um daqueles que subtrai, quem está sempre procurando, um homem de acordo”.

O Papa cita a seguir a chanceler alemã Angela Merkel, "uma das grandes figuras da política mundial", em seu pronunciamento de 20 de agosto em Moscou: "É necessário colocar um fim na política irresponsável de intervir do exterior e construir a democracia em outros países, ignorando as tradições do povo”. “Incisivo… mas percebi um senso de sabedoria diante das palavras dessa mulher”, afirma Francisco. E, quando questionado a este respeito, define a retirada dos Estados Unidos do Afeganistão como "lícita", após vinte anos de ocupação, mesmo se "o eco que existe em mim seja outra coisa", nomeadamente o fato de "deixar o povo afegão ao seu destino”. Para o Papa, de fato, o problema a ser resolvido é outro: "Como desistir, como negociar uma saída". “Pelo que vejo - diz ele na entrevista - nem todas as eventualidades foram levadas em consideração aqui, ao que parece, não quero julgar, nem todas as eventualidades. Não sei se haverá uma revisão ou não, mas certamente houve muito engano talvez por parte das novas autoridades. Eu falo em engano ou muita ingenuidade, não entendo”.

Diálogo com a China: este é o caminho a seguir

Do Afeganistão, o olhar permanece na Ásia, mas se desloca para a China e ao acordo sobre nomeação dos bispos renovado por mais dois anos. “Há quem insista para que o senhor não renove o acordo que o Vaticano assinou com aquele país, porque põe em perigo a sua autoridade moral”, observa o jornalista. “A China não é fácil, mas estou convencido de que não devemos renunciar ao diálogo”, responde o Papa. “Pode-se enganar no diálogo, pode-se cometer erros, tudo isso ... mas é o caminho a seguir. Mas é o caminho a seguir. O que foi alcançado até agora na China foi pelo menos o diálogo ... algumas coisas concretas como a nomeação de novos bispos, lentamente ... Mas esses são passos que podem ser discutidos ​​e os resultados de uma parte ou de outra.

A inspiração do Cardeal Casaroli

Para o Papa, o ponto de referência e inspiração é o cardeal Agostino Casaroli, por muito tempo secretário de Estado durante o pontificado de João Paulo II, já com João XXIII "o homem encarregado de construir pontes com a Europa Central". O Pontífice cita "um belíssimo livro", O martírio da paciência, no qual o purpurado narra suas experiências nos países comunistas: "Foi um pequeno passo atrás do outro, para construir pontes ... Lentamente, lentamente, lentamente, foi conseguindo reservas de relações diplomáticas que no final significava nomear novos bispos e cuidar do povo fiel de Deus. Hoje, de alguma forma, devemos seguir passo a passo os caminhos do diálogo nas situações mais conflituosas”. A experiência com o Islã, com o Grande Imame Al-Tayyeb, foi muito positiva em muitos aspectos: “O diálogo, sempre o diálogo ou disponibilidade ao diálogo”.

Papa Francisco na entrevista aos jornalistas da COPE
Os desafios do pontificado

E o diálogo é uma das pedras angulares desses oito anos de pontificado que o Papa Francisco recorda na entrevista. A começar pela eleição de 13 de março de 2013, totalmente inesperada ("vim aqui com uma valise"), passando pelos vários desafios sempre enfrentados com o objetivo de concretizar o que foi acordado pelos cardeais nas reuniões pré-Conclave, tudo resumido na Evangelii Gaudium: “Penso que ainda existam diversas coisas a serem feitas, mas nada foi inventado por mim. Estou obedecendo ao que foi estabelecido no tempo devido”.

"Pequenos ajustes" na Cúria Romana

A reforma da Cúria Romana, novos avanços na transparência das finanças vaticanas e a prevenção de casos de abusos dentro da Igreja são as três questões nas quais Jorge Mario Bergoglio está trabalhando intensamente. Sobre a reforma da Cúria, o Papa assegura que "está andando passo a passo e bem" e revela que neste verão ele estava prestes a terminar de ler e assinar a nova constituição apostólica "Praedicar Evangelium", cuja publicação foi, no entanto, atrasada "por causa da minha doença". O documento, por sua vez, explica o Pontífice, "não conterá nada de novo em relação ao que vemos agora", apenas algumas fusões de Dicastérios, como a Educação Católica com o Pontifício Conselho para a Cultura e o Dicastério da Nova Evangelização que se unirá à Propaganda Fide. "Pequenos ajustes", explica o Papa.

O julgamento no Vaticano

A luta contra a corrupção nas finanças vaticanas continua a ser uma luta importante. "Foram feitos progressos na consolidação da justiça no Estado do Vaticano", diz o Pontífice, e isto permitiu "que a justiça fosse mais independente, com meios técnicos, também com testemunhos registrados, coisas técnicas atuais, a nomeação de novos juízes, novos promotores...". A referência é também para o maxi julgamento que começou em 27 de julho passado no Vaticano pelos atos ilícitos realizados com os fundos da Secretaria de Estado, que vê entre os dez réus o ex-substituto da Secretaria de Estado, o cardeal Angelo Becciu. Francisco, lembrando que todo o caso começou com as queixas de duas pessoas que trabalhavam no Vaticano e que viram irregularidades em seu trabalho, reiterou que ele não tem "medo da transparência ou da verdade". Às vezes dói muito, mas a verdade é o que nos liberta". Quanto a Becciu, cujas prerrogativas e direitos como cardeal ele revogou, explica que o cardeal havia sido julgado porque a lei do Vaticano assim o prevê: "Quero que ele seja inocente de todo o meu coração. Ele foi um colaborador meu e me ajudou muito. Ele é alguém por quem eu tenho uma certa estima como pessoa, então meu desejo é que ele se saia bem. Mas é uma forma afetiva da presunção de inocência... Além da presunção de inocência, eu quero que ele se saia bem. Agora cabe aos tribunais decidirem”.

Luta contra a pedofilia, apelo aos governos contra a pornografia infantil

O Papa também fala de justiça no que diz respeito ao flagelo da pedofilia. Quando perguntado sobre isto, ele primeiro elogia o cardeal Sean O'Malley, presidente da Comissão para a Proteção de Menores, por sua "coragem" e por todo o trabalho feito contra este crime desde quando era arcebispo de Boston, depois lança um forte apelo internacional aos governos para agirem e reagirem contra a pornografia infantil, "um problema global e grave". "Às vezes me pergunto como alguns governos permitem a produção de pornografia infantil. Que não digam que não sabem. Hoje, com os serviços secretos, sabemos tudo. Um governo sabe que em seu país se produz pornografia pedófila. Para mim, esta é uma das coisas mais monstruosas que eu já vi”.

Eutanásia, sinal da "cultura do descartável

Com igual vigor, o Papa também aborda a questão da eutanásia, à luz das recentes leis aprovadas na Espanha. A legalização desta prática é um sinal da "cultura do descartável" que agora permeia as sociedades modernas: "O que é inútil é descartado". Os idosos são descartáveis: eles são um incômodo. Também os doentes terminais; até mesmo as crianças indesejadas, e elas são enviadas ao remetente antes de nascerem", afirma. É aquela "cultura do descarte", denunciada desde o início do pontificado, que tem um grande impacto sobre o "inverno demográfico" do Ocidente e que afeta particularmente países como a Itália, onde a idade média é de 47 anos. "A pirâmide se inverteu... A cultura demográfica está com prejuízo porque olha para o lucro. Olha para o da frente... e às vezes usando a compaixão! O que a Igreja pede é que se ajude as pessoas a morrerem com dignidade. Ela sempre o fez", comenta Francisco. Ele não deixa de estigmatizar o aborto mais uma vez: "Diante de uma vida humana, eu me faço duas perguntas: é lícito eliminar uma vida humana para resolver um problema? É correto contratar um assassino para resolver um problema?".

A esperança de estar em Glasgow para Cop26

O Papa também fala de abusos com relação à criação, uma de suas mais profundas preocupações, amadurecida nestes anos de pontificado. Francisco espera estar presente na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) que será realizada de 1º a 12 de novembro em Glasgow: "Em linha de princípio, o programa é que eu vá. Tudo depende de como eu me sinta naquele momento. Mas, na verdade, meu discurso já está sendo preparado, e o programa é de estar presente lá".

O motu proprio “Tratitionis Custodes”

O foco da entrevista muda então para o motu proprio Traditionis Custodes, que regula as missas em latim e que neste verão despertou algumas controvérsias nos setores eclesiásticos mais conservadores. O Papa responde a uma pergunta sobre o assunto elencando a cronologia que levou à assinatura do documento: "A história de Traditionis Custodes é longa. Quando Bento XVI tornou possível celebrar com o missal de João XXIII (anterior ao de Paulo VI, que é pós-conciliar) para aqueles que não se sentiam à vontade com a liturgia atual, que tinham uma certa nostalgia... pareceu-me uma das mais belas e humanas ações pastorais de Bento XVI, que é um homem de uma extraordinária humanidade. E assim começou. Esta foi a razão". “A preocupação" - reitera o Papa, como no texto que acompanha o motu próprio -, “que mais aparecia era que algo feito para ajudar pastoralmente aqueles que tinham vivido uma experiência anterior, se transformasse em uma ideologia. Em outras palavras, uma coisa pastoral transformada em uma ideologia. Por isso tivemos que reagir com regras claras... Se você ler bem a carta e o decreto, você verá que esta é simplesmente uma reorganização construtiva, com cuidado pastoral e evitando excessos".

Recomendações ao Dicastério para a Comunicação

Na entrevista com a Cope, também é mencionada a visita de 24 de maio último ao Dicastério para a Comunicação do Vaticano e as palavras de encorajamento, mas também de chamada de atenção dirigidas aos funcionários da mídia do Vaticano. "Foi uma reprimenda", pergunta o jornalista. "A reação me divertiu", explica o Papa, "eu disse duas coisas". Primeiro, uma pergunta: quantas pessoas leem o L'Osservatore Romano? Eu não disse se é lido muito ou pouco. Uma pergunta. Eu acho legítimo perguntar isso, não? E a segunda pergunta, que era mais temática, (eu a fiz) quando, depois de ver todo o novo trabalho de união, o novo organograma, a funcionalização, falei da doença dos organogramas, que dá a uma realidade um valor mais funcional do que real. E digo: com toda essa funcionalidade, que é funcionar bem, não devemos cair no funcionalismo. O funcionalismo é o culto dos organogramas sem levar em conta a realidade. Parece que alguém não entendeu estas duas coisas que eu disse, ou talvez alguém não tenha gostado, ou não sei o quê, e interpretou isso como uma reprovação. É uma coisa normal, é uma pergunta e um aviso. Sim... Talvez algumas pessoas tenham ouvido dizer algo, e .... Acho que o Dicastério é muito promissor, é o Dicastério com o maior orçamento da Cúria no momento, é liderado por um leigo - espero que em breve haja outros liderados por um leigo ou uma leiga - e que está decolando com novas reformas. L'Osservatore Romano, que eu chamo de 'o jornal do partido', fez grandes progressos e o esforço cultural que está fazendo é maravilhoso".

A família, o futebol, as lágrimas

Ao final da entrevista, outras questões eclesiais são abordadas, como, por exemplo, o caminho sinodal na Alemanha, para o qual o Papa recorda sua carta de junho de 2019, bem como questões internacionais como a independência da Catalunha e as políticas migratórias, para as quais o Pontífice argentino reitera a fórmula dos quatro verbos: "Acolher, proteger, promover, integrar". O Papa não se esquiva de perguntas mais pessoais sobre temas como sua relação com sua família, em particular com sua avó Rosa, seu apoio ao time de futebol San Lorenzo, seu sentimento de ser "um pecador que tenta fazer o bem". O Papa Francisco revela que não é um homem de lágrimas fáceis, embora seja verdade que algumas situações lhe causam tristeza, e confessa que o que ele mais sente falta dos tempos de Buenos Aires é "andar de uma paróquia a outra" ou os densos dias nebulosos do outono argentino enquanto escuta a música do compositor argentino Astor Piazzolla. "Eu gostaria de andar pela rua, mas tenho que me conter, porque não poderia andar dez metros".

Fonte: Vatican News

O PODER DE JESUS DE NAZARÉ

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Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo Metropolitano de Pelotas (RS)

Talvez possa até ser, que existam pessoas que negam simplesmente o poder de Deus, porque elas não suportam, elas mesmas serem deus e ter o seu poder? Formulando um pouco diferente: Elas mesmas querem ser deuses e senhores, querem ter todo o poder, querem a sua própria lei. Mas, não é isso propriamente que caracteriza viver em um “sistema de ilusão”? Quando Raymond Kurzweil, Director of Enginnering da Google, uma vez foi perguntado, se existia Deus, ele respondeu: “Ainda não!” A resposta esconde a profunda e ardente saudade das pessoas de “brincar de Deus” e de “poder fazer tudo tecnicamente”. Tanto faz, “brincando de deus” e “podendo fazer tudo tecnicamente”, quais são as consequências.

De fato, a humanidade estava caminhando a passos largos para ser dona de todo o poder. A pandemia da COVID19, porém, balanceou a “solidez” desse poder. O coronavírus veio, com uma enxurrada tal, que a sua “solidez” se tornou “líquida”.

Existe um poder que não foi afetado? Na resposta a essa indagação, vou seguir um relativo fácil Procedere: Olho a série das grandes pessoas da história mundial que exerceram o poder – aqueles que o filósofo Karl Jaspers chamou de “pessoas determinantes” (que determinaram a história). Seus poderes ou findaram ou desapareceram. No final das contas sobrou apenas uma pessoa: Jesus de Nazaré, o qual, no último capítulo do Evangelho de Mateus, afirma de si mesmo: “Foi me dado todo o poder no céu e na terra”! (Mt 28,18). De onde vem, este “diferenciado poder”, com o qual Jesus de Nazaré, já agora mais de 2000 anos, inexoravelmente age na história?

Não é o poder de reinos terrenos com capital, com massas, com ideologias, com armas, com doutrinações, com seduções…, em palavras simples, reinos que estão em busca de apenas “ter mais, poder mais e chorar menos”. Reinos que visam tão somente acumular mais, se apoderar mais e se aproveitar mais. Reinos nos quais “é melhor comprar do que rezar”. O poder destes reinos é destruidor.

O poder de Jesus de Nazaré é de outro formato. Ele constitui-se pelo fato de Ele próprio ser “o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6). O “Caminho” para ser mais e não apenas ter mais, a “Verdade” para servir mais e não apenas poder mais e a “Vida” para amar mais e não apenas aproveitar-se mais. Este é o Reino irrompido em Jesus de Nazaré, no qual “é melhor rezar do que comprar”. O poder deste Reino é salvador.

O poder salvador de Jesus de Nazaré esteve, está e sempre estará presente nas comunidades formadas por pessoas que na liberdade se unem e vivem o seu dia-a-dia segundo o Sermão da Montanha (Mt 5-7). Outra salvação para a humanidade não existe! Já foi praticamente tudo experimentado, e só para citar alguns experimentos: o egoísmo, que se coloca a si mesmo no centro do mundo e sempre se pergunta: “o que é bom para mim? o hedonismo, que acha que a felicidade do ser humano está na adrenalina do momento em utilizar e consumir; o individualismo, que diz: “cada um para si mesmo e não confie em ninguém!”; o coletivismo que converte as pessoas em massa e as forçam para a sua felicidade. E a lista continua.

Os séculos 19 e 20 foram, de modo intenso, uma plêiade incessante de experimentos de poder no sentido de oferecer o melhor para a salvação da humanidade. Porém, o que constatamos: todos esses experimentos continuaram e até aumentaram as consequências da miséria e da morte sem igual de milhões. Que poder é este que deixa “caminhos, verdades e vidas” que produzem a miséria e matam milhões de seres humanos? Talvez seja a hora de experimentar o poder de Jesus de Nazaré – “o Caminho, a Verdade e a Vida” que tem como unicamente a proposta viver o seu “Sermão da Montanha” em comunidades livres, fraternas, mansas, pacíficas, justas e misericordiosas.

Jesus de Nazaré trouxe, traz e trará a verdadeira salvação e isso é o seu “poder”!

Fonte: CNBB

Igreja no Brasil celebra 50 anos do Mês da Bíblia

Santuário de Caeté, onde será celebrada missa de abertura do
Mês da Bíblia / Foto: Wikimedia (domínio público)

REDAÇÃO CENTRAL, 31 ago. 21 / 12:27 pm (ACI).- Começa nesta quarta-feira, 1º de setembro, o Mês da Bíblia, que este ano completa 50 anos de sua realização na Igreja no Brasil. Para dar início à comemoração, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) faz uma programação que inclui missa, leitura orante e mesa redonda.

O Mês da Bíblia surgiu em 1971, na arquidiocese de Belo Horizonte (MG), por ocasião da celebração do seu cinquentenário. As Irmãs Paulinas, através do Serviço de Animação Bíblica (SAB) deram o primeiro impulso. Depois, a CNBB transformou o mês da Bíblia em uma proposta nacional. Segundo a CNBB, este mês temático tem o objetivo de contribuir para o “desenvolvimento das diversas formas de presença da Bíblia na ação evangelizadora da Igreja no Brasil, criar subsídios bíblicos nas diferentes formas de comunicação e facilitar o diálogo criativo e transformador entre a Palavra, a pessoa e as comunidades”.

Nesta 50ª edição, o Mês da Bíblia no Brasil tem como tema a Carta de São Paulo aos Gálatas e o lema “todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). “Pedimos a todas as dioceses, paróquias, comunidades que possam se debruçar no livro escolhido que é a Carta de São Paulo aos Gálatas, como estudo e aprofundamento, e ao mesmo tempo celebrar e agradecer a Deus pelos 50 anos do Mês da Bíblia”, disse ao site da CNBB padre Jânison de Sá, assessor da Comissão para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada.

A programação de abertura do mês da Bíblia nesta quarta-feira começará com a missa celebrada pelo presidente da CNBB e arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, no santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté (MG). A celebração será transmitida por emissoras de inspiração católica e pelo Facebook e Youtube da CNBB.

À tarde, às 17h, o arcebispo de Curitiba (PR) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Animação Bíblico Catequética da CNBB, dom José Antônio Peruzzo, conduzirá uma edição especial do programa Leitura Orante, na TV Evangelizar. E, às 20h, será realizada uma mesa redonda com a participação do secretário-geral da CNBB e bispo auxiliar do Rio de Janeiro (RJ), dom Joel Portella Amado, o arcebispo de Curitiba, dom José Peruzzo, e presidente da obra Evangelizar é Preciso, padre Reginaldo Manzotti. O evento será transmitido por emissoras de inspiração católica.

Fonte: ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF