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terça-feira, 7 de setembro de 2021

O desafio dos abusos sexuais, o que o Papa fez após o Encontro de fevereiro de 2019

Papa Francisco com o Padre Lombardi | Vatican News

Em fevereiro de 2019, o Papa Francisco convidou os presidentes de todas as Conferências Episcopais ao Vaticano para o Encontro sobre a Proteção de Menores na Igreja para abordar a questão do abuso sexual de menores por membros do clero. Semelhante encontro com foco na região da Europa Central e Oriental terá lugar em Varsóvia de 19 a 22 de setembro. Neste artigo, padre Federico Lombardi insere este encontro regional no contexto da caminhada eclesial realizado até agora.

O desafio dos abusos sexuais. O que o Papa fez após o Encontro de fevereiro de 2019. Em preparação à Conferência de Varsóvia

No mundo de hoje a Igreja tem de enfrentar grandes desafios. O mais fundamental é o da fé e do anúncio de Deus e Jesus Cristo no mundo de hoje, com suas enormes transformações culturais e antropológicas. No entanto, existem também desafios específicos, que influenciam muito profundamente na vida da Igreja e na sua missão evangelizadora. Uma das mais críticas nas últimas décadas, porque feriu a credibilidade da Igreja e, portanto, a sua autoridade e capacidade de anunciar o Evangelho de forma credível, é a dos abusos sexuais contra menores por membros do clero. Isso lançou uma sombra de incoerência e falta de sinceridade sobre a instituição da Igreja, sobre a comunidade da Igreja como um todo. Isso é realmente muito grave.

Com o tempo e a experiência, aprendemos a partir dos abusos sexuais contra menores - que são os mais graves -, a ampliar a perspectiva sob diversos aspectos, de modo que hoje falamos com mais frequência dos abusos em relação às pessoas "vulneráveis" e sabemos que eles são vistos como abusos não sexuais, mas também de poder e de consciência, como o Papa Francisco insistiu muitas vezes. Além disso, é necessário recordar que o problema dos abusos, nas suas várias dimensões, é um problema geral da sociedade humana, nos países em que vivemos e nos vários continentes, e não se trata de problemas exclusivos da Igreja Católica. Pelo contrário: quem estuda de forma objetiva e ampla vê que existem regiões, lugares e instituições muito diferentes onde a questão é dramaticamente difundida.

Ao mesmo tempo, é justo que nos interroguemos especificamente sobre o problema da Igreja, pela razão - como já foi referido - da sua credibilidade e da sua coerência. A Igreja sempre insistiu muito em seus ensinamentos sobre o comportamento sexual e o respeito pela pessoa. Portanto, mesmo se virmos que não é um problema exclusivo da Igreja, devemos levá-lo absolutamente a sério e entender que tem uma gravidade terrível no contexto da vida eclesial e do anúncio do Evangelho do Senhor.

Em particular, é um campo em que está em jogo a profundidade e a verdade da relação com as pessoas, a serem profundamente respeitadas na sua dignidade. Como cristãos e católicos, orgulhamo-nos de reconhecer na dignidade da pessoa um papel fundamental, porque a pessoa é imagem de Deus. Ora, o fato de abusar dela, de faltar com o respeito, de considerar os outros como objetos, de não estar atentos a seus sofrimentos e assim por diante, é um sinal de uma falta justamente em um ponto fundamental de nossa fé e de nossa visão de mundo.

Na recente reforma do direito penal canônico, há um aspecto que pode parecer puramente formal, mas invés disso é muito significativo desse ponto de vista. Os delitos de abuso estão inseridos no campo dos delitos “contra a vida, a dignidade e a liberdade da pessoa”. Não são "coisas vergonhosas" ou "indignas do clero", mas é sublinhado que na perspectiva da Igreja a dignidade da pessoa deve estar no centro e ser respeitada por que e como imagem de Deus. Isso é absolutamente fundamental. O fato de converter-nos para levar muito mais a sério a escuta e o respeito de cada pessoa, mesmo se pequena ou fraca, é um dos pontos importantes do caminho de conversão e purificação da Igreja no nosso tempo para ser credível.

O encontro de 2019: responsabilidade, prestação de contas, transparência

Sem ter que refazer toda a história dos dramáticos acontecimentos e das posições da Igreja sobre os abusos sexuais, podemos, para simplificar, fazer referência à "Cúpula" de fevereiro de 2019. Foi convocada pelo Papa como um momento global, no qual toda a Igreja, por meio dos representantes de todas as Conferências Episcopais, das congregações religiosas masculinas e femininas, se encontrasse para um momento de tomada de consciência e de compromisso, para continuar o caminho de renovação com mais eficácia.

A organização daquele encontro (cujas atas foram publicadas no livro Conscientização e purificação, da LEV) girou em torno de três pontos principais.

Antes de tudo, a consciência e a responsabilidade do problema, das questões relacionadas com os abusos sexuais de menores e não só; a importância de ouvir e entender profundamente, com compaixão e participação, as consequências, o sofrimento, a gravidade do que aconteceu e acontece neste campo. Portanto: a escuta e a compaixão como ponto de partida da atitude a ser assumida. Depois, naturalmente, a necessidade de fazer justiça em relação ao que foi praticado de criminoso e prejudicial em relação aos outros. Portanto, preparar-se para prevenir, de tal modo que esses crimes não voltem a acontecer - ou, pelo menos, aconteçam cada vez mais raramente - e que haja um controle sobre essa realidade tão dramática. Isto implica a formação de todos no âmbito da comunidade eclesial e também especificamente de pessoas competentes, para que possam agir e ser referência no enfrentamento do problema. Resumindo: a consciência e a responsabilidade em enfrentar juntos a questão.

Outro ponto muito importante e crucial é o de "prestar contas" (em inglês falamos muito sobre accountability/responsabilização ética) e superar a cultura do encobrir ou do ocultar. Um dos aspectos dramáticos desta crise é que vieram à tona, ao conhecimento público, realidades gravíssimas que - mesmo se por vezes se soubesse que aconteciam - eram sistematicamente (e muitas vezes com uma atitude quase "natural") mantidas na sombra ou encobertas, por vergonha ou para defender a honra das famílias ou das instituições envolvidas, e assim por diante. Disto a necessidade de superar a atitude de esconder e, em vez disso, responsabilizar pelo que foi feito, mesmo por parte dos responsáveis. Uma vez que esta realidade de ocultação era difundida de certa forma em todos os níveis, mas também mais gravemente ao nível dos responsáveis ​​- superiores de comunidades, bispos e assim por diante - o fato de trazer à luz e fazer com que todos prestem contas ​​por suas ações e, portanto, exista uma segurança de ir em direção a uma situação de clareza, de responsabilidade e de justiça, é mais um dos passos absolutamente necessários.

E depois, e é o terceiro ponto do qual muito se falava no encontro, a “transparência” é uma consequência do que dissemos. Ela não quer dizer somente saber que houve e que existem delitos, falar sobre eles e dar ênfase a eles. Certamente, reconhecer a verdade dos fatos é essencial, mas a transparência também quer dizer saber e dar a conhecer o que se faz para responder, quais são os procedimentos com os quais a Igreja em todas as suas dimensões enfrenta essas situações, quais são as medidas que toma, quais são as conclusões dos julgamentos contra os culpados, e assim por diante. Desse modo, também a comunidade eclesial e civil se torna consciente de que não somente foram vistos os pecados e os crimes, mas que existe todo um caminho no qual a comunidade está conscientemente envolvida e com o qual responde a esses problemas.

Os passos importantes dados após o Encontro de 2019

Mas se o Encontro de 2019 deveria ser um ponto de partida comum, é preciso reconhecer que depois dele efetivamente foram dados muitos passos, que cumpriram todos os principais compromissos assumidos em 2019 pelo Papa e pelo governo central da Igreja. A que estamos nos referindo?

Antes de tudo, já no final de março de 2019 foram promulgadas as novas leis e diretrizes em relação ao Vaticano e à Santa Sé, estendendo a abordagem, além do abuso de menores, às "pessoas vulneráveis". Depois, em 9 de maio de 2019, foi promulgada uma nova lei importantíssima para toda a Igreja, o Motu proprio Vos estis lux mundi - "Vós sois a luz do mundo" -, na qual o Papa ordenou que em todas as dioceses fossem organizados escritórios para receber denúncias e para iniciar os procedimentos para responder aos abusos. E não só: mas estabeleceu para todos os sacerdotes e religiosas a obrigação de denunciar os abusos de que venham a ter conhecimento, e também convidou os membros leigos da Igreja a denunciá-los. Agora, todos os sacerdotes e religiosas têm a obrigação de consciência de denunciar os casos de abuso de menores de que tenham notícia, e não só aqueles contra menores, os mais graves, mas também aqueles contra outras pessoas vulneráveis ​​ou outros abusos cometidos com violência. E os leigos também são convidados a fazê-lo, e devem saber o lugar preciso onde podem apresentar a denúncia. Este é um passo muito decisivo. Naturalmente, é preciso verificar se foi plenamente colocado em prática, mas já é lei para toda a Igreja. É um passo absolutamente fundamental dado pelo Papa, provavelmente o mais importante neste campo ao longo de quase vinte anos. E não só: na mesma lei é estabelecido o procedimento relativo às denúncias dos superiores hierárquicos - superiores gerais religiosos, bispos, cardeais ... - não só por abusos, mas também por casos de "encobrimento". Portanto, os temas da responsabilidade e do prestar contas foram enfrentados radicalmente.

Além disso, em dezembro de 2019 foi abolido o "segredo pontifício" sobre atos relativos a questões de abusos sexuais, o que permite também a colaboração com as autoridades civis, de forma mais clara e livre do que antes. Portanto, mais “transparência”. Depois, em julho de 2020, foi elaborado e publicado o famoso Vademecum, que havia sido muito solicitado e indicado pelo próprio Papa como um dos primeiros objetivos do Encontro de 2019. Ele foi redigido pela Congregação para a Doutrina da Fé: um belo documento, muito rico, que não traz grandes novidades, mas coloca bem em ordem e explica com clareza, para uso de cada bispo e de cada responsável, todos os pontos que deve saber e o que deve fazer nas diferentes situações. Um instrumento que era realmente necessário. Quando saiu não se falou muito, porém era um dos pontos essenciais nos pedidos do Encontro de 2019, e foi realizado.

Mais recentemente, no Pentecostes deste ano de 2021, foi publicado o novo Livro VI do Código de Direito Canônico, que contém um pouco todo o direito penal da Igreja, reformulado e organizado, de modo que as novas normas, que no decorrer do anos haviam sido estabelecidas no campo dos abusos como em outros campos, agora são recolhidas no Código de Direito Canônico de forma ordenada, enquanto antes ficavam "dispersas" em toda uma série de intervenções e documentos.

Agora - insistimos - pode-se afirmar que essas coisas são exatamente as principais que se devia esperar do e da Santa Sé após o encontro de 2019. E foram feitas.

Pode-se acrescentar que neste mesmo período, em novembro de 2020, também foi publicado o volumoso “Relatório McCarrick”, depois que, por desejo do Papa, haviam sido estudados detalhadamente todos os fatos envolvendo o gravíssimo escândalo que abalou a Igreja dos Estados Unidos e toda a Igreja: como foi possível que um culpado de abusos tenha chegado ao topo das responsabilidades eclesiásticas, como arcebispo de Washington e cardeal. Também essa publicação pode ser considerada um passo doloroso, mas muito corajoso em direção à transparência e à vontade de prestar contas dos crimes e das responsabilidades, mesmo nos mais altos escalões da Igreja.

Portanto, estamos diante de um problema enorme, difícil e doloroso, que diz respeito à credibilidade da Igreja. Porém não é verdade que nada foi feito ou que nada ou pouco esteja sendo feito. Pode-se e deve-se tranquilamente dizer, com clareza, que a Igreja universal enfrentou e enfrenta este problema, deu os passos necessários e estabeleceu normas, procedimentos e regras para enfrentá-lo corretamente.

O caminho que temos pela frente: das normas à prática

Isso, claro, não quer dizer que tudo esteja feito, porque, como se sabe, uma coisa é estabelecer as normas, o quadro de referência, outra coisa é mudar a realidade colocando-as em prática. A próxima Conferência das Igrejas da Europa Central e Oriental, em Varsóvia, em setembro, sobre a proteção de menores e pessoas vulneráveis, insere-se exatamente nesta direção. De fato, em cada espaço geográfico e eclesial, que tem aspectos e problemáticas comuns do ponto de vista histórico e cultural, é necessário refletir sobre o ponto em que se encontra e sobre quais são os caminhos concretos para traduzir eficazmente na realidade as orientações da Igreja universal. Em outras regiões já foi feito: por exemplo, houve um grande encontro na América Latina, no México, há cerca de um ano. Depois, a pandemia interrompeu muitos programas e provocou atrasos. Porém, em diversos continentes e regiões se está fazendo – ou já foi feito - aquilo que agora está programado para a Europa Centro-Oriental. Trata-se, portanto, de um passo fundamental de um caminho comum da Igreja universal que diz respeito, com a sua especificidade, a esta área geográfica, cultural e eclesial.

Para concluir. Muito tem sido feito, ao nível dos normativas gerais e também ao nível das experiências concretas. Em algumas partes mais, em outras partes menos. Encontrar-se é necessário para fazer circular o conhecimento e compreender formas concretas e eficazes de enfrentar os problemas. Estamos a caminho e permaneceremos em caminho, mas por uma estrada que em essência é suficientemente clara, na qual é necessário avançar com rapidez e sem incertezas, para curar os sofrimentos, fazer justiça, prevenir os abusos, restaurar a confiança e a credibilidade da comunidade da Igreja, dentro dela e na sua missão para o bem do mundo.

Federico Lombardi S.I.

Fonte: Vatican News

A Força transformadora do Perdão

Editora Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

A Força transformadora do Perdão

A lição maior – e a mais difícil de viver – que Jesus nos ensinou, creio que foi aquela de “amar o inimigo” (cf Mt 5,44). Nada é tão estranho e repugnante para aquele que não age movido pelo Espírito de Deus, e se deixa guiar pela simples natureza.

O nosso mundo ensina, sem cessar, que é preciso revidar, “não levar desaforo para casa”, ir ao revanche, etc. Jesus, por outro lado, ensina a mansidão; isto é, não pagar o mal com o mal, mas com o bem. É o que Ghandi chamou de “não violência”, e que fez dela a sua arma mais poderosa para libertar a Índia da colonização inglesa. Dizia ele que “a força de um homem e de um povo está na não violência”. Ele aprendeu isso no Sermão da Montanha.

Todas as vezes que o mundo agiu pela violência, ficou claro que a violência não leva à paz e à felicidade. Na verdade, a violência, exceto em legítima defesa, é a arma dos fracos de espírito. Buscar o revide, a desforra, a vingança, é colocar-se no mesmo baixo nível do agressor. É reagir como um animal, e não como um homem. Ghandi dizia:

“Procuro amassar completamente a ponta da espada do tirano: não oponho um aço mais afiado, e assim ludibrio sua esperança de ver-me oferecer uma resistência física. Encontrará em mim uma resistência de alma que escapa a seu cerco”.

O segredo cristão para destruir a força do inimigo, não é a vingança, mas a mansidão, o perdão. Jesus nos ensina que aí está um dos pontos da perfeição cristã. Ele quer que sejamos “perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). “Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos” (Mt 5,45).

A pedagogia de Deus, que é Pai amoroso, é esta: ser bom para com aquele que é mal, para que este, experimentando a doçura do bem, queira deixar de ser mal e se converta para o bem. Jesus é o novo legislador, o novo Moisés, que leva a Lei antiga à perfeição: “Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelo que vos maltratam e perseguem” (Mt 5,43-44).

Em seguida Jesus explica a razão desta exigência tão difícil: “Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicamos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?” (Mt 5,46-47).

É impressionante como Jesus exige de maneira radical a vivência do perdão, e não da ira: “Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5,38-39).

Perdoar aquele que o ofendeu é uma “prova de fogo” para verificar se de fato você é cristão. A lição do perdão é fundamental, porque é o caminho para se implantar na terra o Reino de Deus, reino de irmãos que vivem o amor. É isto que Jesus veio fazer; esta é a difícil “Boa-Nova” que trouxe. Para destruir o mal e a violência em todas as formas, Ele trouxe o remédio: o perdão. Isto é tão importante que Ele morreu na cruz dolorosamente, dando o maior exemplo do que é perdoar. Ele, que não fez mal a ninguém, mesmo tão injustiçado, soube dizer: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,31).

Mais do que qualquer um de nós, Jesus tinha o direito de pedir ao Pai “justiça” diante de tamanha injustiça; mas, ao contrário, Ele quis deixar-nos a maior lição do que é perdoar. A partir daí, nenhum cristão (= imitador de Cristo), tem o direito de fazer diferente do que Ele fez.

Por que tudo isto? Porque não se pode exterminar a violência deste mundo usando-se da própria violência. Meios injustos e violentos não podem gerar a justiça e a paz. Não se pode querer apagar o fogo lançando gasolina sobre ele; é preciso jogar água.

Por mais duro que seja é preciso entender a lógica desta questão. Ghandi dizia que na anti-lógica do “olho por olho”, vamos acabar todos cegos. Esta é a loucura do mundo soberbo e arrogante: “bateu, levou!” E assim, o ódio e a violência crescem cada vez mais.

É claro que não é fácil perdoar aquela pessoa que te magoou, aquele “amigo” que te traiu, aquele assassino do teu filho, ou aquela mulher que seduziu o teu marido. Se fosse fácil não teria mérito algum. E é preciso dizer que, por nossas próprias forças, não conseguiremos perdoar. É preciso a força do alto, para vencer a fraqueza da nossa natureza ferida e que clama por vingança. Santo Agostinho ensina-nos que “o que é impossível à natureza, é possível à graça”. Só pela graça, pela força de Deus na alma, podemos viver o que Jesus ordenou.

Diante de uma situação dessas onde é difícil perdoar, só há um caminho, olhar para Jesus crucificado e clamar: Senhor, Tu que perdoaste até o extremo, dá-me da Tua força e do Teu Espírito para que eu possa fazer o mesmo. Nesta hora será preciso clamar pelo Sangue inocente que Jesus deixou ser derramado na cruz para o perdão de cada um de nós.

A única exigência que Deus nos impõe para perdoar os nossos pecados, quaisquer que sejam, é que estejamos dispostos a perdoar a todos os que nos ofenderam. “Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará” (Mt 6,14-15).

Também entre os sete grandes pedidos da maior Oração que Ele nos ensinou, acrescenta: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam” (Mt 6,12). O humilde é manso, e perdoa. Quando Pedro, um tanto afoito, lhe perguntou quantas vezes deveria perdoar a seu irmão, sete vezes?, o Senhor lhe disse: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18,21-22). “Bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7). Exercitemos o perdão neste Ano Santo da Misericórdia.

O perdão é a face mais bela da caridade. Deixemos a “vingança” por conta da justiça de Deus; não queiramos fazê-la com as nossas próprias mãos, pois elas ficarão manchadas. Deus fará cumprir toda a justiça. São Paulo ensinou isto aos cristãos de Roma: “Abençoai os que vos perseguem, abençoai-os e não os praguejeis… Não pagueis a ninguém o mal com o mal… Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35)” (Rom 12,14-19).

A força do perdão é insuperável. Tertuliano de Alexandria († 230) disse algo que atravessou toda a história da Igreja e chegou até nós: “O sangue dos mártires era semente de novos cristãos”. Eles morriam rezando pelos seus carrascos e perdoando-os. Foi assim que o Cristianismo venceu o império romano. O último dos imperadores a perseguir o cristianismo, Juliano, o apóstata, no leito de morte exclamou: “Tu venceste, ó galileu!” Esta é a força do amor e da não violência. Deus torna-se o nosso escudo quando depomos as armas terrenas.

São Paulo ensina que quando somos capazes de perdoar aquela pessoa maldosa que fez algo contra nós, a força do nosso perdão a leva a conversão. É o que ele chamava de “amontoar brasas sobre a sua cabeça”. Isto é, seu coração amolece e ele se converte. “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça” (Prov 25,21) (Rom 12,20). Muitos se converteram porque foram perdoados e receberam o bem em troca do mal que praticaram.

Vou relatar aqui um caso que eu presenciei. O Programa de TV “Fantástico”, da TV Globo, mostrou no dia 13.04.85, uma ação de uma senhora de Lorena-SP, Dª Ana Maria, já falecida. Essa Senhora teve a sua casa invadida por um rapaz, durante a madrugada, e este assassinou, dentro de sua casa, um dos seus filhos, jovem de 18 anos. Ela não quis vingança contra o assassino e, na própria Missa de corpo presente do filho assassinado, declarou o seu perdão ao criminoso. Foi um momento de emoção e lágrimas! O rapaz assassino foi preso, julgado e condenado à prisão na Casa de Detenção em São Paulo. Tão logo Dª Ana Maria soube da prisão do assassino, passou a visitá-lo em São Paulo semanalmente. Pegava o ônibus em Lorena, viajava 200 km para falar de Deus ao assassino do seu próprio filho. Pouco tempo depois esse jovem revelava, sob lágrimas, ante as câmaras da TV Globo, o arrependimento do seu gesto. E lamentava não ter conhecido Jesus Cristo antes de parar na cadeia. É a força libertadora do perdão.

Esse caso mostra o que São Paulo chama de “amontoar carvões em brasa” sobre a cabeça daquele que vive mal, e mostra a forma cristã de vencer o mal. Assim, e só assim, quebra-se a corrente da violência e a atira-se ao chão.

Na vida de São Clemente Hofbauer, há um fato que mostra a força do perdão e da mansidão. Certa vez ele entrou numa taverna para pedir uma esmola para as obras que realizava. Um homem, Kalinski, o odiava, e estava presente. São Clemente entra, se dirige à mesa de Kalinski e pede uma esmola. “Como é Kalinski, você não vai fazer nada?” perguntou o amigo. Kalinski pegou o copo de cerveja que bebia, encheu a boca e despejou no rosto de São Clemente.

Embora de índole colérica, o santo não se perturbou. Puxou o lenço, limpou o rosto e disse ao agressor: “você já deu o que eu mereço. Agora dê uma esmola para meus pobres”. A atitude do santo desconcertou Kalinski e os demais do grupo. Na mesma noite Kalinski mandou a São Clemente um saquinho de moedas de ouro e, arrependido e penitente, tornou-se grande amigo e colaborador do santo. É a força da mansidão e do perdão. Isto é amontoar brasas ardentes sobre a cabeça do pecador.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

PAIS DA IGREJA: São Gregório Magno (Parte 5/7)

S. Gregório Magno | ECCLESIA

São Gregório Magno

«Antologia»

«Quando fores velho,
levar-te-ão para onde não quererias ir»
(Jo 21,18)

Sermão 82/69 para o aniversário dos apóstolos Pedro e Paulo

Tu não receias vir a esta cidade de Roma, ó santo apóstolo Pedro!... Não temes Roma, senhora do mundo, tu que em casa de Caifás tiveste medo diante da criada do sumo-sacerdote. O poder dos imperadores Cláudio e Nero seria então menor do que o julgamento de Pilatos ou o furor dos chefes dos judeus? É que a força do amor triunfava em ti sobre as razões do temor; não pensavas dever recear aqueles que recebeste missão de amar. Essa caridade intrépida, recebeste-a quando o amor que tinhas professado pelo Senhor foi fortalecido pela sua tripla pergunta (Jo 21,15s)... E, para acrescentar a tua confiança, havia ainda os sinais de tantos milagres, o dom de tantos carismas, a experiência de tantas obras maravilhosas!... Assim, sem duvidar da fecundidade da tarefa nem ignorar o tempo que te faltava viver, trazias o troféu da cruz de Criso a Roma onde, por divina predestinação, te esperavam ao mesmo tempo a honra da autoridade e a glória do martírio.

A essa mesma cidade chegava S. Paulo, apóstolo contigo, instrumento de escolha (Act 9,19) e mestre dos pagãos (1Tm 2,7), para estar contigo nesse tempo em que toda a inocência, toda a liberdade, todo o pudor eram já oprimidos sob o poder de Nero. Foi ele que, na sua loucura, decretou em primeiro lugar uma perseguição geral e atroz contra o nome cristão, como se a graça de Deus pudesse ser extinta com o massacre dos santos... Mas "preciosa aos olhos do Senhor é a morte dos seus santos" (Sl 115,15). Nenhuma crueldade pôde destruir a religião fundada pelo mistério da cruz de Cristo. A Igreja não foi diminuida mas acrescentada pelas perseguições; o campo do Senhor reveste-se sem cessar de uma mais rica seara, quando os grãos, caídos sós, renascem multiplicados (Jo 12,24). Que descendência deram, ao desenvolver-se, estas duas plantas divinamente semeadas! Milhares de santos mártires, imitanto o triunfo destes dois apóstolos, coroaram esta cidade com um diadema de pedras preciosas que ninguém pode contar.

«Porque choras?»

Homila 25 sobre o Evangelho

Maria, em lágrimas, inclina-se e olha para dentro do túmulo. Ela já tinha todavia constatado que estava vazio, e tinha anunciado o desaparecimento do Senhor. Porque se inclina então ainda? Porque quer ver de novo? Porque o amor não se contenta com um único olhar; o amor é uma conquista sempre mais ardente. Ela já O procurou, mas em vão; obstina-se e acaba por descobrir...

No Cântico dos Cânticos, a Igreja dizia do mesmo Esposo: «No meu leito, de noite, procurei aquele que o meu coração ama. Procurei-o, mas não o encontrei. Vou levantar-me e percorrer a cidade; pelas ruas e pelas praças, vistes aquele que o meu coração ama?» (Ct 3, 1-2). Duas vezes ela exprime a sua decepção: «Procurei-o, mas não o encontrei!» Mas o sucesso vem, por fim, coroar o esforço: «Os guardas encontraram-me, aqueles que fazem ronda pela cidade. Vistes aquele que o meu coração ama? Mal os ultrapassei, encontrei aquele que o meu coração ama.» (Ct 3,3-4)

E nós, quando é que, nos nossos leitos, procuraremos o Amado? Durante os breves repousos desta vida, quando suspiramos na ausência do nosso Redemptor. Nós procuramo-Lo na noite, pois apesar do nosso espírito já estar desperto para Ele, os nossos olhos só vêem a Sua sombra. Mas, como não encontramos nela o Amado, levantemo-nos; percorramos a cidade, ou seja a assembleia dos eleitos. Procuremos de todo o coração. Procuremos nas ruas e nas praças, ou seja nas passagens escarpadas da vida ou nos caminhos espaçosos; abramos os olhos, procuremos aí os passos do nosso Bem-Amado...

Esse desejo fez dizer a David: «A minha alma tem sede do Deus de vida. Quando irei ver a face de Deus? Sem descanso, procurai a Sua face» (Sl 42,3).

FONTE:

Evangelho Cotidiano

Fonte: https://www.ecclesia.org.br/

Será que vivemos a verdadeira caridade? Vejamos o que São Bernardo nos ensina

© Fred de Noyelle / Godong
Por Vitor Roberto Pugliesi Marques

Viemos a esse mundo simplesmente para a superficialidade do corpo ou viemos para nos santificar e nos configurarmos a Deus?

Quando se fala em santidade, fala-se do estado de alma de pessoas que exerceram neste mundo as virtudes da fé, esperança e caridade, não de modo parco e insosso, mas sim de modo heroico e admirável. 

Para isso, é necessário um esforço continuado, esforço este que vai nos transformando, nos configurando a Cristo, de modo a terminarmos dizendo as mesmas palavras de São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vice em mim” (Gl 2,20). Nesse texto, gostaria de refletir um pouco sobre como São Bernardo, ilustre monge cisterciense, escrevendo aos religiosos Cartuxos de seu tempo, expressa o modo como os santos exercem a caridade. 

Primeiramente, São Bernardo nos explica que se não estamos diante de uma pessoa santa não veremos a verdadeira caridade. A caridade verdadeira e sincera provém daqueles que têm um “coração puro, uma consciência boa e uma fé sincera” (São Bernardo de Claraval. Tratado sobre o Amor de Deus. São Paulo: Paulus, 2015, p. 79). Vejamos que é um tripé mutuamente dependente. Aqueles que não possuem um dos elementos não consegue expressar a verdadeira caridade. E vemos isso expresso cotidianamente em nosso meio. Quantos não são aqueles que vemos exercer uma filantropia com os pobres, mas, por não a fazerem na fé ao Cristo, não conseguem fazer brilhar uma luz maior em seu ato? Quantos ainda não são os que têm dentro de si a luz da fé, mas só conseguem expressá-la por meio de atos pueris por não terem uma boa consciência? 

Desse modo, o amor a Deus exercido por aqueles que não são santos assume modos nada meritórios. Vai nos dizer São Bernardo: “Há homens que glorificam o Senhor porque Ele é poderoso, há os que o glorificam porque é bom para eles; enfim, veem-se os que o louvam simplesmente porque é bom. Os primeiros são escravos que temem por si; os segundos, mercenários que buscam a própria vantagem; e os últimos são os filhos verdadeiros que não pensam senão em seu Pai” (idem, p. 80). Cabe-nos aqui refletir o modo como estamos exercendo a caridade, sendo que esta, em última análise, deve ser uma expressão de amor genuíno a Deus, pois “aquele que não ama senão o que lhe concerne, mostra bem que não tem um amor puro e que não ama o bem pelo bem, mas por si mesmo” (idem, p. 79). 

É certo que, como nos diz São Bernardo, “às vezes uma alma servil faz a obra de Deus, mas como não age espontaneamente, persevera em sua indiferença” (idem, p. 81). São aqueles casos em que vemos a “utilidade pública” da coisa. É o exemplo da cesta básica distribuída aos pobres nas campanhas políticas; tem serventia para aquele estado agudo de fome, mas sabemos que esse ato provavelmente não vai deixar raiz alguma, pois não foi feito em Cristo e por Cristo. Mas daí cabe a pergunta: viemos a esse mundo simplesmente para a superficialidade do corpo ou viemos para nos santificar e nos configurarmos a Deus? Sabemos pela fé que a segunda assertiva é a correta.  

Tenhamos, então, a disposição de exercer a verdadeira caridade. Esta consiste em equiparar a nossa vontade à vontade de Deus. Nisso não há trivialidades, não há superficialidade, não há interesses egoístas, mas sim uma plenitude sem mácula a nos elevar, de fato, a Deus.

Fonte: Aleteia

Cardeal Parolin: a Europa não deve esquecer suas raízes cristãs

Cardeal Perolin | Guadium Press
O Cardeal Pietro Parolin afirmou durante o Fórum Estratégico Bled, na Eslovênia, que “a Europa não deve esquecer suas raízes cristãs e a contribuição necessária das Igrejas”.

Redação (06/09/2021 10:38Gaudium Press) O Fórum Estratégico Bled que é dedicado ao futuro da Europa contou com a participação do secretário do estado do Vaticano, o Cardeal Pietro Parolin. No evento, o eclesiástico italiano abordou temáticas que giram em torno da solidariedade, tais como, a cooperação internacional e a migração.

Segundo Parolin “o atual enfraquecimento da confiança no direito internacional e nas organizações internacionais” é patente e acarreta consequências para o próprio projeto europeu e conclui que isso pode “afetar, em particular, o sentimento de pertencer à Europa, que se baseia na adesão a seus valores fundamentais como o respeito à dignidade da pessoa humana, um profundo senso de justiça, liberdade, diligência, espírito de iniciativa, amor à família, respeito à vida, tolerância, desejo de cooperação e paz”.

Ele salientou ainda que, em um mundo de mudanças rápidas, corre-se o risco de uma “perda de identidade, especialmente quando faltam valores compartilhados”.

Detalhou que para redescobrir a identidade comum europeia e fazer previsões a esse respeito é essencial “encorajar e apoiar um diálogo aberto, transparente e regular” com os representantes das Igrejas e as associações religiosas, que “contribuem para a formação dos valores europeus”.

Entre os valores, o cardeal ressaltou a solidariedade: “a solidariedade europeia está no coração do projeto europeu”. Por isso, os países europeus devem laborar em cooperação, “devem se ver como parceiros, e não como concorrentes, ou como colonizadores” e ainda acrescentou que “a cooperação não deve se limitar às fronteiras europeias”.

Sobre a migração, o Cardeal afirmou a necessidade de um esforço global, pois as “soluções fragmentadas são inadequadas” e as comunidades solidárias devem “ajudar os migrantes para que eles aprendam a respeitar e assimilar a cultura e as tradições das nações que os acolhem”.

Com informações Vatican News e agencia.ecclesia.pt.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Mentalidade mundana e funcionalista penetra até a Igreja, diz dom Orani

Cardeal dom Orani Tempesta.
Foto: Congresso Eucarístico Internacional de Budapeste

BUDAPESTE, 06 set. 21 / 11:41 am (ACI).- O cardeal dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, afirmou que a “mentalidade mundana e funcionalista dos tempos atuais” está penetrando a vida religiosa e alertou para as consequências negativas desse erro, que pode levar a um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja e uma Igreja sem fiéis.

Nesta segunda-feira, 6, dom Orani fez uma catequese online para o Congresso Eucarístico Internacional, que ocorre em Budapeste, capital da Hungria. O cardeal dividiu a sua catequese em três partes. A primeira parte esteve centrada na “correspondência entre o desejo do coração humano por Deus e a gratuidade do desejo de Deus pelo homem que, despojando-se de sua majestade, se fez um de nós”.

A segunda parte “mostra a necessidade que o mundo tem de transformação e a consequente chamada a todos os batizados para que, como resultado da sua pertença a Cristo, sejam fermento”.

Na terceira parte, o cardeal identificou “Maria, a mãe da Igreja, como síntese perfeita do amor eucarístico em ação. Sua perfeita comunhão com Cristo se manifesta no drama da vida cotidiana, sua identificação com a misericórdia divina”.

O cardeal chamou a atenção sobre o fato de que “são muitos os que vivem em situação de necessidade. Carências materiais, morais e espirituais caracterizam a imensa pobreza em que nos encontramos e que somos chamados a enfrentar, respondendo ao chamado do Senhor que nos pede: ´dai-lhes vós mesmos de comer`”.

Também lamentou que “o homem moderno ache que a sede e a fome que levam dentro de si podem ser saciadas com o consumismo”. “Pessoas e coisas são, por isso, consumidas como objetos de um individualismo exagerado que, em vez de saciar, aumentam mais a angústia, provocando desordens e desequilíbrios no mundo”, explicou.

Dom Orani citou duas ocasiões nas quais Jesus expressa “sua sede pelo coração humano”. A primeira, junto ao poço, quando pediu à samaritana que lhe desse de beber; a segunda, na cruz, quando disse: “tenho sede”.

Em contrapartida, ele afirmou que “o Senhor manifesta seu protagonismo na relação com o ser humano. No encontro da sua sede, expressão da misericórdia do seu coração, com a sede do coração humano, feito para Deus, brota uma transformação emanada da correspondência original que transborda em testemunho: muitos samaritanos daquela cidade creram em Jesus pela força do testemunho daquela mulher”.

No entanto, a “mentalidade mundana e funcionalista dos tempos atuais termina penetrando a expressão religiosa”. Como consequência, “busca-se a fé de maneira imediata, com o único interesse de obter resultados pessoais”.

Dom Orani recordou a advertência feita frequentemente pelo papa Francisco contra a tentação do pelagianismo, adaptado aos tempos atuais, que busca adaptar a graça divina às estruturas humanas. O resultado é um gnosticismo “que prefere um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja e uma Igreja sem fiéis”.

Tudo isso, “termina reduzindo a vida da Igreja a uma peça de museu ou a algo próprio de alguns povos, que não é atrativa por não ser capaz de satisfazer os desejos dos corações humanos”.

Fonte: ACI Digital

JMJ: jovens portugueses entregaram símbolos a jovens espanhóis

Símbolos da JMJ 

Depois de Angola e Polónia, a Cruz e o Ícone de Nossa Senhora peregrinam por Espanha até ao dia 29 de outubro.

Rui Saraiva – Portugal

De Portugal para Espanha, os símbolos da JMJ foram da diocese da Guarda para a diocese de Ciudad Rodrigo para continuar a peregrinar. Foi no domingo dia 5 de setembro que teve lugar este belo bonito momento de partilha entre os jovens portugueses e seus vizinhos espanhóis. Uma forma de criar “mais proximidade” segundo informa a Agência Ecclesia. Os símbolos da JMJ “foram entregues por 10 jovens de Portugal a 10 jovens de Espanha”.

Passados 10 anos da JMJ de Madrid, a Cruz peregrina e o Ícone de Nossa Senhora vão agora peregrinar por Espanha “pelas dioceses espanholas de Zamora, Barcelona, Salamanca e Madrid até ao dia 29 de outubro”. Nesse dia conclui-se a peregrinação em Ayamonte, na diocese de Huelva, com uma Eucaristia e uma cerimónia de despedida, seguida de uma “travessia dos símbolos no rio Guadiana, para Portugal”.

Esta peregrinação dos símbolos da JMJ em Espanha vem na sequência do caminho já feito nas dioceses de Angola e da Polónia. “É muito importante para nós sentir que os símbolos são da Igreja, e sentimo-lo em Angola, na Polónia e agora em Espanha” – referiu à reportagem da Agência Ecclesia o padre Filipe Diniz, diretor do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil da Conferência Episcopal Portuguesa.

De referir que em agosto de 2022 terá lugar em Espanha o Encontro Europeu de Jovens em Santiago de Compostela.

Após estes meses de setembro e outubro em Espanha, os símbolos da JMJ vão iniciar em novembro a grande peregrinação em Portugal por todas as dioceses até julho de 2023. 

Fonte: Vatican News

Santa Regina

Santa Regina | ArquiSP
07 de setembro

Santa Regina

Regina ou Reine, seu nome no idioma natal, viveu no século III, em Alise, antiga Gália, França. Seu nascimento foi marcado por uma tragédia familiar, especialmente para ela, porque sua mãe morreu durante o parto. Por essa razão a criança precisou de uma ama de leite, no caso uma cristã. Foi ela que a inspirou nos caminhos da verdadeira fé e da virtude.

Na adolescência, a própria Regina pediu para ser batizada no cristianismo, embora o ambiente em sua casa fosse pagão.

A cada dia, tornava-se mais piedosa e tinha a convicção de que queria ser esposa de Cristo. Nunca aceitava o cortejo dos rapazes que queriam desposá-la, tanto por sua beleza física como por suas virtudes e atitudes, que sempre eram exemplares. Ela simplesmente se afastava de todos, preferindo passar a maior parte do seu tempo reclusa em seu quarto, em oração e penitência.

Entretanto o real martírio de Regina começou muito cedo, e em sua própria casa. O seu pai, um servidor do Império Romano chamado Olíbrio, passou a insistir para que ela aprendesse a reverenciar os deuses. Até que um dia recebeu a denuncia de que Regina era uma cristã. No início não acreditou, mas decidiu que iria averiguar bem o assunto.

Quando Olíbrio percebeu que era verdade, denunciou a própria filha ao imperador Décio, que seduziu-a com promessas vantajosas caso renegasse Cristo. Ao perceber que nada conseguiria com a bela jovem, muito menos demovê-la de sua fé, ele friamente a mandou para o suplício. Regina sofreu todos os tipos de torturas e foi decapitada.

O culto a santa Regina difundiu-se por todo o mundo cristão, sendo que suas relíquias foram várias vezes transladadas para várias igrejas. Até que, no local onde foi encontrada a sua sepultura, foi construída uma capela, que atraiu grande número de fiéis que pediam por sua intercessão na cura e proteção. Logo em seguida surgiu a construção de um mosteiro e, ao longo do tempo, grande número de casas. Foi assim que nasceu a charmosa vila Sainte-Reine, isto é, Santa Rainha, na França.

Esta festa secular ocorre, tradicionalmente, em todo o mundo cristão, no dia 7 de setembro.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

PAIS DA IGREJA: São Gregório Magno (Parte 4/7)

S. Gregório Magno | ECCLESIA

São Gregório Magno

«Antologia»

«Vistes aquele que o meu coração ama?»

Homilias sobre os Evangelhos

É preciso calcular a força com que o amor tinha abrasado a alma desta mulher que não se afastava do túmulo do Senhor, mesmo quando os discípulos o tinham abandonado. Procurava aquele que não encontrava, chorava procurando-o e, abrasada pelo fogo do seu amor, ardia de desejo por aquele que ela julgava que tinham roubado. Por isso, foi a única a vê-lo, ela que tinha ficado para o procurar, porque a eficácia de uma boa obra leva à perseverança e a Verdade diz esta palavra: "Aquele que tiver perseverado até ao fim será salvo" (Mt 10,22)...

Porque a espera faz crescer os santos desejos. Se a espera os faz cair, é porque não eram verdadeiros desejos. Foi com um amor semelhante que arderam todos os que puderam atingir a verdade. É por isso que David diz: "A minha alma tem sede do Deus vivo: quando me encontrarei diante da face de Deus?" (Sl 41,3) E a Igreja diz também no Cântico dos Cânticos: "Estou ferida de amor" e, mais à frente: "A minha alma desfaleceu" (Ct 2,5). "Mulher, porque choras? Quem procuras?" Perguntam-lhe o motivo da sua dor, para que o desejo aumente, para que nomeando aquele que procura, ela torne mais ardente o seu amor por ele.

"Disse-lhe Jesus: Maria". Após a palavra banal de "mulher", ele chama-a pelo nome. Era como se dissesse: "Reconhece aquele que te conhece. Não te conheço de uma maneira geral, como a todas as outras; conheço-te de um modo pessoal". Chamada pelo nome, Maria reconhece então o seu Criador e chama-lhe imediatamente: "Rabunni, isto é, mestre", porque aquele que procurava exteriormente era o mesmo que lhe ensinara interiormente a procurá-lo.

«Recebestes de graça, dai de graça»

Homilias sobre os evangelhos, 6

Vós podeis, também, se o quiserdes, merecer este belo nome de mensageiros de Deus. Com efeito, se cada um de vós, segundo as suas possibilidades, na medida em que tiver recebido a inspiração do céu, desviar o seu próximo do mal, se tomar a seu cuidado trazê-lo para o bem, se recordar ao transviado do Reino o castigo que o espera na eternidade, é evidentemente um mensageiro das santas palavras de Jesus. E que ninguém venha dizer: Eu sou incapaz de instruir os outros, de os exortar. Façam ao menos o que vos é possível, para que um dia não vos peçam contas do talento recebido e mal conservado. Porque aquele que preferiu esconder o seu talento em vez de o fazer render não tinha recebido mais do que um talento (Mt 25, 14s)...

Arrastai os outros convosco; que eles sejam os vossos companheiros na estrada que leva a Deus. Quando, indo à praça ou aos banhos públicos, encontrardes alguém desocupado, convidai-o a acompanhar-vos. Porque as vossas acções quotidianas servem, ela s próprias, para vos unir aos outros. Ides a Deus? Tentai não chegardes lá sozinhos. Que aquele que, no seu coração, já escutou o apelo do amor divino tenha para com o seu próximo uma palavra de encorajamento.

«Começou a enviá-los dois a dois»

Homilias sobre o Evangelho

O nosso Senhor e Salvador, irmãos caríssimos, instrui-nos quer pelas suas palavras, quer pelas suas acções. As suas acções são, elas mesmas, mandamentos porque, quando faz alguma coisa sem nada dizer, ele mostra-nos como devemos nós agir. Eis, pois, que envia os seus discípulos a pregar, dois a dois, porque os mandamentos da caridade são dois: o amor a Deus e ao próximo. O Senhor envia os seus discípulos a pregar dois a dois para nos sugerir, sem o dizer, que quem não tem caridade para com o outro não deve de forma alguma empreender o ministério da pregação.

Fica muito claro que "os envia dois a dois à sua frente a todas as aldeias e localidades em que ele mesmo deveria ir" (Lc 10,1). Com efeito, o Senhor vem após os seus pregadores, porque a pregação é um preâmbulo; o Senhor vem habitar a nossa alma quando as palavras de exortação vieram à frente e prepararam a alma para acolher a verdade. É por isso que Isaías diz aos pregadores: "Preparai o cominho do Senhor, aplanai as veredas para o nosso Deus" (40,3). E o salmista diz-lhes também: "Abri caminho para aquele que se eleva ao pôr-do-sol (Sl 67,5 vulg). O Senhor ergue-se ao pôr-do-sol porque, tendo-se deitado por ocasião da sua Paixão, manifestou-se com maior glória na sua Ressurreição. Ergueu-se ao pôr-do-sol porque, ressuscitando, esmagou aos pés a morte que tinha sofrido. Abrimos, portanto, o caminho àquele que se eleva ao pôr-do-sol quando pregamos a sua glória às vossas almas para que, vindo a seguir, ele as ilumine pela presença do seu amor.

FONTE:

Evangelho Cotidiano


Fonte: https://www.ecclesia.org.br/

Caminhos para um Brasil melhor

Shutterstock | T photography
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Ao longo da história, a Igreja tendeu a olhar com desconfiança a revoluções e golpes justamente por isto.

Um fenômeno paradoxal acontece com as nações, quando começam a melhorar: o povo, frequentemente, tem a impressão de que as coisas estão piorando! É fácil de entender o que acontece. Em situações muito corruptas e iníquas, as pessoas nem se dão conta das injustiças que estão ocorrendo. Saber que as coisas estão erradas já é um sinal de que elas estão melhorando. Nunca melhoram com a velocidade que gostaríamos, é verdade. Mas, estão melhorando – e isso já é muito importante. Mais assustadora é a crença acomodada que tudo vai bem, sinal de que o esforço pela construção do bem comum está adormecido em nós ou foi entregue a algum demagogo que diz resolver tudo sozinho – quando a verdade é que os problemas nunca são resolvidos sem o esforço e a luta de muitos.

Atalhos perigosos

O bem comum nunca é o resultado de um caminho curto. As sociedades humanas se esforçam para consegui-lo desde sempre – muitas vezes avançando, em outras retrocedendo. É natural que desejemos trilhar caminhos mais curtos e rápidos, mas os atalhos frequentemente são enganosos.

Ao longo da história, a Igreja tendeu a olhar com desconfiança a revoluções e golpes justamente por isso. Independentemente da índole e das convicções ideológicas das lideranças – que podiam ser mais honestas ou mais corruptas, mais idealistas ou mais interessadas no próprio poder – as rupturas históricas frequentemente geraram, no curto e médio prazo, violência e opressão. Os vencedores se autoproclamam justos e condenam os vencidos, vitimando multidões de inocentes e retardando, ao invés de acelerar, a construção coletiva do bem comum.

Pode haver rupturas necessárias ou desejáveis? Sim, mas as condições para que sejam úteis são muito exigentes. Têm que ser o resultado de processos construídos ao longo dos anos, que garantam ganhos reais à população e não apenas promessas demagógicas ou falas prepotentes. Não podem ser baseadas em lideranças discutíveis, que denunciam a corrupção quando praticada pelos adversários e a escondem quando praticada por aliados e familiares… E aqui a história recente do Brasil não perdoa a nenhum dos lados – em ambos temos exemplos de supostos defensores da integridade pública que obstruem o combate à corrupção quando eles e seus companheiros são denunciados. Por fim, as rupturas não podem se basear em discursos de ódio e violência, pois esse tipo de postura gera espirais de conflito intermináveis.

Por todos esses aspectos, parece difícil esperar um Brasil melhor a partir de rupturas institucionais…

A ruptura na continuidade propiciada pela democracia

A genialidade da democracia é permitir que rupturas aconteçam mantendo-se a continuidade da ordem. Cada vez que a oposição ganha as eleições, acontece uma ruptura, sem que a ordem institucional e a harmonia da vida social sejam quebradas. Nessas condições, a ruptura permite um verdadeiro aperfeiçoamento, e não o caos ou a supremacia do arbítrio, como costuma acontecer em golpes e revoluções.

Nesse caminho, a chave do sucesso é o aperfeiçoamento das instituições. A alternância de pessoas e partidos no poder é salutar, mas não significa que os vencedores são melhores que os perdedores. Contudo, cada grupo tende a mostrar e tentar corrigir os erros do adversário. Com isso, pouco a pouco as instituições vão se aprimorando.

Um dos maiores obstáculos nesse caminho, é justamente a permanência de políticos fisiológicos e corporativistas que não seguem nenhum programa político, apenas se deixam cooptar pelos vitoriosos, na condição de não perderem seus privilégios. Boa parte dos políticos brasileiros estão nesse grupo. É espantoso como líderes que apoiavam a esquerda se tornam a base política da direita quando mudam os ventos políticos – e vice-versa! O triste é que nossos governantes, estejam de um lado ou do outro no espectro ideológico, acabam se apoiando nesses políticos fisiológicos e repetindo os erros do passado.

A única forma de superar essa situação é com o voto, com uma crescente consciência política e participação do povo. O eleitor tem que ter tanto a informação necessária para escolher seu candidato, quanto as condições sociais e políticas para exercer seu direito de escolha. O mecanismo da urna, eletrônica, manual ou impressa, pode ajudar, mas o diferencial real está na participação cotidiana, na construção de espaços de mudança social e política, onde todos podem exercer sua dignidade. Um trabalho que só é dificultado pelo ressentimento e pela violência.

Aperfeiçoar as instituições

Aos olhos da doutrina social da Igreja, em todos os tempos, o compromisso ético das personalidades públicas e de todos nós é uma das bases para uma política melhor. Contudo, a sabedoria cristã nunca deixou de denunciar as limitações e os pecados de todos os seres humanos. Por isso, sabe que pessoas justas não se propõem a construir o bem comum só com base em seu poder individual. O bom político está sempre procurando construir instituições mais justas, que representam uma limitação ao despotismo de qualquer um – inclusive das tendencias autoritárias que ele mesmo pode ter.

A “fulanização”, supondo que o bem comum será construído com a destituição desse ou daquele “Fulano”, e não com o aperfeiçoamento das instituições, não constrói um país melhor. As polêmicas em torno dos atuais ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) são um bom exemplo dos limites e dos retrocessos que podem acontecer com essa “fulanização”.

Todos temos visto os muitos problemas que cercam a atuação do STF no Brasil. Em certos momentos, os ministros parecem conviventes com os poderosos, em outros momentos parecem perseguir os políticos com os quais não simpatizam. São acusados de ativismo judiciário (interpretarem a Constituição com critérios ideológicos e particulares) ou de garantismo (invocarem direitos reconhecidos constitucionalmente mas que acabam impedindo a condenação dos culpados). Os mecanismos de decisão são frequentemente autocráticos, de modo que a decisão de um ministro pode ser totalmente oposta à de seu colega para uma situação equivalente. Esse conjunto de problemas têm levado a uma desconfiança crescente da população e uma insegurança jurídica trágica para o País.

Existem muitas propostas circulando nos meios jurídicos e políticos para superar ou minimizar esses problemas. Sem entrar no mérito de quais propostas seriam melhores, quais seriam piores, podemos listar algumas. Por exemplo, democratizar a escolha dos ministros, que hoje depende apenas do presidente e do Senado, incluindo a participação de associações de magistrados, Ordem dos Advogados do Brasil e outras instâncias. Hoje, os ministros são praticamente vitalícios, poderiam ter mandatos, mesmo que longos, como os dos senadores. Reduzir as situações em que os políticos têm fórum privilegiado, de modo que o STF não seja a única instância de julgamento dos eleitos. Obrigar os magistrados a tomarem decisões compartilhadas em situações que envolvem a política e o bem comum, reduzindo o risco de decisões autocráticas…

O importante aqui não é dizer o que fazer em relação ao STF, mas sim mostrar que, quando pensamos em rupturas ou decisões personalistas, apoiando ou condenando essa ou aquela personalidade pública, nos afastamos de um caminho de real melhoria da vida institucional e da política brasileira.

Fonte: Aleteia

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF