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quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Encontro anual do Terço dos Homens acontece na Canção Nova

Santuário do Pai das Misericórdias, na Canção Nova.
Foto: Wikimedia Commons (CC BY 3.0)

Cachoeira Paulista, 07 set. 21 / 06:00 am (ACI).- A Comunidade Canção Nova acolhe o encontro anual do movimento do Terço dos Homens entre os dias 10 e 12 de setembro em Cachoeira Paulista (SP). O evento terá como tema “Mãe e Rainha da evangelização, homens unidos no terço e na missão”.

Segundo os organizadores, o objetivo é reunir grupos do terço dos homens atuantes em todo o país. A programação contará com missas, pregações, adoração ao Santíssimo Sacramento e momento de devoção mariana. Entre as presenças confirmadas estão o assessor nacional do terço dos homens Mãe Rainha, padre Vandemir Meister, o assessor do terço dos homens na arquidiocese de Olinda e Recife (PE), padre Vitor Hugo Possetti, e o assessor do terço dos homens na diocese de Guarulhos (SP), padre Johnny William Bernardo.

O evento será presencial e, devido às medidas de segurança para evitar o contágio por covid-19, será obrigatório o uso de máscara, a aferição de temperatura corporal, a higienização das mãos com álcool e o distanciamento social. Haverá também transmissão pelo Sistema Canção Nova de Comunicação.

O Terço dos Homens teve início com Frei Peregrino, em 1936, na então Vila da Providência, hoje cidade de Itabi (SE). Dentro do “Movimento de Schoenstatt”, o Terço dos Homens começou da iniciativa de um pequeno grupo de homens, que rezavam o terço na rua, enquanto suas esposas participavam de reuniões. Atualmente, os grupos estão presentes em todo o país, tanto no “Movimento da Mãe Rainha” quanto em outras iniciativas.

A programação do encontro anual pode ser acessada AQUI.

Fonte: ACI Digital

Frederico Ozanam

Frederico Ozanam | ArquiSP
08 de setembro

Frederico Ozanam

Nascido na Itália, em 23 de abril de 1813, Antonio Frederico Ozanam viveu na França. Muito de sua vida de caridade e serviço aos pobres deve-se, particularmente, ao pai, João Antônio, um exemplo de caridade cristã, que era médico oficial do exército napoleônico e cuidava gratuitamente de pessoas humildes que não tinham como pagar pelos cuidados médicos.

Frederico foi estudar direito e letras na Universidade de Sorbonne, em Paris, onde depois foi professor, mas a sua paixão era o estudo de religião comparada, nas horas vagas. Nessa época, havia se hospedado na casa de André-Marie Ampère, o famoso estudioso da eletrodinâmica. Contagiado pela fé do amigo e orientado pelo seu confessor, o abade Noirot, envolveu-se com jovens intelectuais cristãos numa época onde o clericalismo ortodoxo estava sendo duramente combatido em toda a Europa.

Defensor da fé, empolgante orador, excelente escritor e precioso professor, Frederico não estava satisfeito em apenas praticar o cristianismo intelectual. Entendia que era necessário fundamentar essa fé no exercício de uma obra de caridade, pois assim ela se justificaria. Então, voltou-se para os pobres e norteou a sua vida no sentido de servi-los, a exemplo de seu pai e dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Junto de outros jovens cristãos com o mesmo objetivo, fundou a Sociedade de São Vicente de Paulo, em 1833, uma instituição católica, mas de leigos, direcionada para dar abrigo e assistência aos pobres e aos excluídos. Entretanto pensou não apenas no objetivo social, mas também no religioso para os integrantes da Sociedade, que, além de proporcionar o bem-estar aos pobres, trilhariam o caminho da santificação, no seguimento de Cristo. Também colocariam em prática os princípios da verdadeira democracia social e dos direitos humanos dos indivíduos baseados na caridade cristã. Por essa visão humanitária e democrática cristã ele é considerado precursor da doutrina social da Igreja.

Frederico Ozanam casou-se em 1841. Teve uma filha. Mas continuou firme na Obra. Amigo da nobreza e da intelectualidade parisiense, viajou por toda a Europa difundindo as "Conferências de Caridade da Sociedade São Vicente de Paulo". Porém, quando sentiu seu organismo ser tomado pela doença, preferiu ir viver numa das Casas da Sociedade São Vicente de Paulo, optando pela vida simples e humilde. Sua obra expandiu-se e seus integrantes tornaram-se numerosos, espalhando-se por todo o planeta.

Morreu em 8 de setembro de 1853, em Marselha, França. Em 1997, o papa João Paulo II, durante a solenidade de sua beatificação, na catedral de Notre Dame, em Paris, disse: "Frederico Ozanam é verdadeiramente um santo laico do nosso tempo". Sua festa litúrgica ocorre no dia de sua morte.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Arquidiocese de São Paulo

Natividade da Virgem Maria

Opus Dei
08 de setembro

NOSSA SENHORA DA NATIVIDADE

Iniciamos a publicação de uma série de textos sobre a Vida da Virgem. Acrescentamos comentários do Magistério e dos Padres da Igreja, dos santos e dos poetas. Este primeiro é sobre a Imaculada Conceição.

A história do homem sobre a terra é a história da misericórdia de Deus. Desde a eternidade, antes da criação do mundo, escolheu-nos para que fossemos santos e sem mancha em sua presença, pelo amor (Ef 1, 4).

Entretanto, por instigação do demônio, Adão e Eva se rebelaram contra o plano divino: sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal (Gn 3,5), tinha-lhes sussurrado o príncipe da mentira. E lhe deram ouvidos. Não quiseram dar crédito ao amor de Deus. Trataram de conseguir, por suas próprias forças, a felicidade a que haviam sido chamados.

Mas Deus não voltou atrás. Desde a eternidade, em sua Sabedoria e em seu Amor infinitos, prevendo o mau uso da liberdade por parte dos homens, havia decidido fazer-se um de nós, mediante a Encarnação do Verbo, segunda Pessoa da Santíssima Trindade.

Por isso, dirigindo-se a Satanás, que, sob a figura da serpente havia tentado Adão e Eva, o condenou: Porei inimizade entre ti e a mulher, entre tua descendência e a dela (Gn 3, 15). É o primeiro anúncio da Redenção, no qual já se entrevê a figura de uma Mulher, descendente de Eva, que será a Mãe do Redentor e, com Ele e sob Ele, esmagará a cabeça da serpente infernal. Uma luz de esperança se acende para o gênero humano, desde o próprio instante em que pecamos.

“TRATARAM DE CONSEGUIR, SOMENTE POR SUAS FORÇAS, A FELICIDADE A QUE HAVIAM SIDO CHAMADOS".

Começavam assim a cumprir-se as palavras inspiradas – escritas muitos séculos antes do nascimento da Virgem – que a liturgia põe nos lábios de Maria de Nazaré: O Senhor me possuiu no principio de seus caminhos, antes que fizesse coisa alguma... Desde a eternidade fui formada, desde o começo, antes da terra. Quando não existiam os oceanos, fui dada à luz, quando não havia fontes repletas de água. Antes que se assentassem os montes, antes das colinas, fui dada à luz. Ainda não havia feito a terra nem os campos, nem o primeiro pó do mundo (Pr 8, 22-26).

A Redenção do mundo estava em marcha desde o primeiro momento. A seguir, pouco a pouco, inspirados pelo Espírito Santo, os profetas foram descobrindo os traços dessa filha de Adão à que Deus – em previsão dos méritos de Cristo, Redentor universal do gênero humano – preservaria do pecado original e de todos os pecados pessoais, e encheria de graça, para fazer d'Ela a digna mãe do Verbo encarnado.

“ALCANÇOU VITÓRIA SOBRE UM INIMIGO PODEROSO, ATÉ O PONTO QUE A ELA, MAIS DO QUE A NINGUÉM, SE DIRIGEM AQUELES LOUVORES".

Ela é a virgem que conceberá e dará à luz um Filho, que se chamará Emanuel (Is 7, 14); está prefigurada em Judite, a heroína do povo hebreu, que alcançou vitória contra um inimigo poderoso, até o ponto em que a Ela, mais que a ninguém, se dirigem aqueles louvores: Tu és a exaltação de Jerusalém, a grande glória de Israel, a grande honra de nossa gente... Bendita sejas tu da parte do Senhor onipotente para sempre (Jt 15, 9-10).

Extasiados ante a beleza de Maria, os cristãos lhe têm dirigido sempre toda classe de louvores, que a Igreja recolhe na liturgia: horto cerrado, lírio entre espinhos, fonte selada, porta do céu, torre vitoriosa contra o dragão infernal, paraíso de delícias plantado por Deus, estrela guia dos náufragos, Mãe puríssima...

Opus Dei
O Nascimento da Virgem é o tema do segundo conjunto de textos sobre a vida da Mãe de Deus, iniciado por ocasião do Ano Mariano que se vive no Opus Dei.

Muitos séculos tinham passado desde que Deus, às portas do Paraíso, prometera aos nossos primeiros pais a chegada do Messias. Centenas de anos em que a esperança do povo de Israel, depositário da promessa divina, se centrava numa donzela, da linhagem de Davi, que está grávida e vai dar à luz um Filho, que deve se chamar Emanuel (Is 7, 14). Geração após geração, os israelitas piedosos tinham esperado o nascimento da Mãe do Messias, aquela que haveria de dar à luz, como anunciava Miquéias tendo em fundo a profecia de Isaías (cfr. Mq 5, 2).

Depois do regresso do exílio na Babilônia, a expectativa do Messias tinha-se tornado mais intensa por parte de Israel. Uma onda de emoção percorria aquela terra nos anos imediatamente antes da Era Cristã. Muitas antigas profecias pareciam apontar nessa direção. Homens e mulheres esperavam com ânsia a chegada do Desejado das nações. A um deles, o velho Simeão, o Espírito Santo tinha revelado que não morreria sem que os seus olhos tivessem visto a realização da promessa (cfr. Lc 2, 26). Ana, uma viúva de idade avançada, suplicava com jejuns e orações a redenção de Israel. Os dois gozaram do enorme privilégio de ver e tomar nos seus braços o Menino Jesus (cfr. Lc 2, 25-38).

Inclusive no mundo pagão — como afirmam alguns relatos da Roma antiga — não faltavam sinais de que algo muito grande se estava a gerar. A própria pax romana, a paz universal proclamada pelo imperador Otávio Augusto poucos anos antes do nascimento de Nosso Senhor, era um presságio de que o verdadeiro Príncipe da paz estava quase a vir à terra. Os tempos estavam maduros para receber o Salvador.

DEUS ESMERA-SE NA ESCOLHA DA SUA FILHA, ESPOSA E MÃE. E A VIRGEM SANTA, A MAIS EXCELSA SENHORA, A CRIATURA MAIS AMADA POR DEUS, CONCEBIDA SEM PECADO ORIGINAL, VEIO À TERRA.

Mas, quando chegou a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei, para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a adoção de filhos (Gl 4, 4-5). Deus esmera-se na escolha da sua Filha, Esposa e Mãe. E a Virgem santa, a mais excelsa Senhora, a criatura mais amada por Deus, concebida sem pecado original, veio à terra. Nasceu no meio de um profundo silêncio. Dizem que no Outono, quando os campos dormem. Nenhum dos seus contemporâneos se deu conta do que estava a acontecer. Só os anjos do Céu festejaram.

“Pelo teu nascimento anunciaste a alegria a todo o mundo”.

COM O SEU NASCIMENTO SURGIU NO MUNDO A AURORA DA SALVAÇÃO, COMO UM PRESSÁGIO DA PROXIMIDADE DO DIA.

Das duas genealogias de Cristo que aparecem nos evangelhos, a que recolhe São Lucas é muito provavelmente a de Maria. Sabemos que era de estirpe distinta, descendente de Davi, como tinha anunciado o profeta falando do Messias — brotará um rebento do tronco de Jessé, e um renovo brotará das suas raízes (Is 11, 1) — e como confirma São Paulo quando escreve aos Romanos acerca de Jesus Cristo, nascido da linhagem de Davi segundo a carne (Rm 1, 3).

Um escrito apócrifo do século II, conhecido com o nome de Proto-evangelho de Santiago, transmitiu-nos os nomes dos seus pais — Joaquim e Ana — que a Igreja inscreveu no calendário litúrgico. Diversas tradições situam o lugar do nascimento de Maria na Galiléia ou, com maior probabilidade, na cidade santa de Jerusalém, onde se encontraram as ruínas de uma basílica bizantina do século V, edificada sobre a chamada casa de Santa Ana, muito perto da piscina Probática. Com razão a liturgia põe nos lábios de Maria umas frases do Antigo Testamento: estabeleci-me em Sião. Na cidade amada Ele me fez repousar e em Jerusalém está o meu poder (Eclo 24, 10-11).

Até Maria nascer, a terra esteve às escuras, envolta nas trevas do pecado. Com o seu nascimento surgiu no mundo a aurora da salvação, como um presságio da proximidade do dia. Assim o reconhece a Igreja na festa da Natividade de Nossa Senhora: pelo teu nascimento, Virgem Mãe de Deus, anunciaste a alegria a todo o mundo: de ti nasceu o Sol da justiça, Cristo, nosso Deus (Oficio de Laudes).

O mundo não o soube, então. A terra dormia.

J. A. Loarte

Fonte: https://opusdei.org/

terça-feira, 7 de setembro de 2021

O desafio dos abusos sexuais, o que o Papa fez após o Encontro de fevereiro de 2019

Papa Francisco com o Padre Lombardi | Vatican News

Em fevereiro de 2019, o Papa Francisco convidou os presidentes de todas as Conferências Episcopais ao Vaticano para o Encontro sobre a Proteção de Menores na Igreja para abordar a questão do abuso sexual de menores por membros do clero. Semelhante encontro com foco na região da Europa Central e Oriental terá lugar em Varsóvia de 19 a 22 de setembro. Neste artigo, padre Federico Lombardi insere este encontro regional no contexto da caminhada eclesial realizado até agora.

O desafio dos abusos sexuais. O que o Papa fez após o Encontro de fevereiro de 2019. Em preparação à Conferência de Varsóvia

No mundo de hoje a Igreja tem de enfrentar grandes desafios. O mais fundamental é o da fé e do anúncio de Deus e Jesus Cristo no mundo de hoje, com suas enormes transformações culturais e antropológicas. No entanto, existem também desafios específicos, que influenciam muito profundamente na vida da Igreja e na sua missão evangelizadora. Uma das mais críticas nas últimas décadas, porque feriu a credibilidade da Igreja e, portanto, a sua autoridade e capacidade de anunciar o Evangelho de forma credível, é a dos abusos sexuais contra menores por membros do clero. Isso lançou uma sombra de incoerência e falta de sinceridade sobre a instituição da Igreja, sobre a comunidade da Igreja como um todo. Isso é realmente muito grave.

Com o tempo e a experiência, aprendemos a partir dos abusos sexuais contra menores - que são os mais graves -, a ampliar a perspectiva sob diversos aspectos, de modo que hoje falamos com mais frequência dos abusos em relação às pessoas "vulneráveis" e sabemos que eles são vistos como abusos não sexuais, mas também de poder e de consciência, como o Papa Francisco insistiu muitas vezes. Além disso, é necessário recordar que o problema dos abusos, nas suas várias dimensões, é um problema geral da sociedade humana, nos países em que vivemos e nos vários continentes, e não se trata de problemas exclusivos da Igreja Católica. Pelo contrário: quem estuda de forma objetiva e ampla vê que existem regiões, lugares e instituições muito diferentes onde a questão é dramaticamente difundida.

Ao mesmo tempo, é justo que nos interroguemos especificamente sobre o problema da Igreja, pela razão - como já foi referido - da sua credibilidade e da sua coerência. A Igreja sempre insistiu muito em seus ensinamentos sobre o comportamento sexual e o respeito pela pessoa. Portanto, mesmo se virmos que não é um problema exclusivo da Igreja, devemos levá-lo absolutamente a sério e entender que tem uma gravidade terrível no contexto da vida eclesial e do anúncio do Evangelho do Senhor.

Em particular, é um campo em que está em jogo a profundidade e a verdade da relação com as pessoas, a serem profundamente respeitadas na sua dignidade. Como cristãos e católicos, orgulhamo-nos de reconhecer na dignidade da pessoa um papel fundamental, porque a pessoa é imagem de Deus. Ora, o fato de abusar dela, de faltar com o respeito, de considerar os outros como objetos, de não estar atentos a seus sofrimentos e assim por diante, é um sinal de uma falta justamente em um ponto fundamental de nossa fé e de nossa visão de mundo.

Na recente reforma do direito penal canônico, há um aspecto que pode parecer puramente formal, mas invés disso é muito significativo desse ponto de vista. Os delitos de abuso estão inseridos no campo dos delitos “contra a vida, a dignidade e a liberdade da pessoa”. Não são "coisas vergonhosas" ou "indignas do clero", mas é sublinhado que na perspectiva da Igreja a dignidade da pessoa deve estar no centro e ser respeitada por que e como imagem de Deus. Isso é absolutamente fundamental. O fato de converter-nos para levar muito mais a sério a escuta e o respeito de cada pessoa, mesmo se pequena ou fraca, é um dos pontos importantes do caminho de conversão e purificação da Igreja no nosso tempo para ser credível.

O encontro de 2019: responsabilidade, prestação de contas, transparência

Sem ter que refazer toda a história dos dramáticos acontecimentos e das posições da Igreja sobre os abusos sexuais, podemos, para simplificar, fazer referência à "Cúpula" de fevereiro de 2019. Foi convocada pelo Papa como um momento global, no qual toda a Igreja, por meio dos representantes de todas as Conferências Episcopais, das congregações religiosas masculinas e femininas, se encontrasse para um momento de tomada de consciência e de compromisso, para continuar o caminho de renovação com mais eficácia.

A organização daquele encontro (cujas atas foram publicadas no livro Conscientização e purificação, da LEV) girou em torno de três pontos principais.

Antes de tudo, a consciência e a responsabilidade do problema, das questões relacionadas com os abusos sexuais de menores e não só; a importância de ouvir e entender profundamente, com compaixão e participação, as consequências, o sofrimento, a gravidade do que aconteceu e acontece neste campo. Portanto: a escuta e a compaixão como ponto de partida da atitude a ser assumida. Depois, naturalmente, a necessidade de fazer justiça em relação ao que foi praticado de criminoso e prejudicial em relação aos outros. Portanto, preparar-se para prevenir, de tal modo que esses crimes não voltem a acontecer - ou, pelo menos, aconteçam cada vez mais raramente - e que haja um controle sobre essa realidade tão dramática. Isto implica a formação de todos no âmbito da comunidade eclesial e também especificamente de pessoas competentes, para que possam agir e ser referência no enfrentamento do problema. Resumindo: a consciência e a responsabilidade em enfrentar juntos a questão.

Outro ponto muito importante e crucial é o de "prestar contas" (em inglês falamos muito sobre accountability/responsabilização ética) e superar a cultura do encobrir ou do ocultar. Um dos aspectos dramáticos desta crise é que vieram à tona, ao conhecimento público, realidades gravíssimas que - mesmo se por vezes se soubesse que aconteciam - eram sistematicamente (e muitas vezes com uma atitude quase "natural") mantidas na sombra ou encobertas, por vergonha ou para defender a honra das famílias ou das instituições envolvidas, e assim por diante. Disto a necessidade de superar a atitude de esconder e, em vez disso, responsabilizar pelo que foi feito, mesmo por parte dos responsáveis. Uma vez que esta realidade de ocultação era difundida de certa forma em todos os níveis, mas também mais gravemente ao nível dos responsáveis ​​- superiores de comunidades, bispos e assim por diante - o fato de trazer à luz e fazer com que todos prestem contas ​​por suas ações e, portanto, exista uma segurança de ir em direção a uma situação de clareza, de responsabilidade e de justiça, é mais um dos passos absolutamente necessários.

E depois, e é o terceiro ponto do qual muito se falava no encontro, a “transparência” é uma consequência do que dissemos. Ela não quer dizer somente saber que houve e que existem delitos, falar sobre eles e dar ênfase a eles. Certamente, reconhecer a verdade dos fatos é essencial, mas a transparência também quer dizer saber e dar a conhecer o que se faz para responder, quais são os procedimentos com os quais a Igreja em todas as suas dimensões enfrenta essas situações, quais são as medidas que toma, quais são as conclusões dos julgamentos contra os culpados, e assim por diante. Desse modo, também a comunidade eclesial e civil se torna consciente de que não somente foram vistos os pecados e os crimes, mas que existe todo um caminho no qual a comunidade está conscientemente envolvida e com o qual responde a esses problemas.

Os passos importantes dados após o Encontro de 2019

Mas se o Encontro de 2019 deveria ser um ponto de partida comum, é preciso reconhecer que depois dele efetivamente foram dados muitos passos, que cumpriram todos os principais compromissos assumidos em 2019 pelo Papa e pelo governo central da Igreja. A que estamos nos referindo?

Antes de tudo, já no final de março de 2019 foram promulgadas as novas leis e diretrizes em relação ao Vaticano e à Santa Sé, estendendo a abordagem, além do abuso de menores, às "pessoas vulneráveis". Depois, em 9 de maio de 2019, foi promulgada uma nova lei importantíssima para toda a Igreja, o Motu proprio Vos estis lux mundi - "Vós sois a luz do mundo" -, na qual o Papa ordenou que em todas as dioceses fossem organizados escritórios para receber denúncias e para iniciar os procedimentos para responder aos abusos. E não só: mas estabeleceu para todos os sacerdotes e religiosas a obrigação de denunciar os abusos de que venham a ter conhecimento, e também convidou os membros leigos da Igreja a denunciá-los. Agora, todos os sacerdotes e religiosas têm a obrigação de consciência de denunciar os casos de abuso de menores de que tenham notícia, e não só aqueles contra menores, os mais graves, mas também aqueles contra outras pessoas vulneráveis ​​ou outros abusos cometidos com violência. E os leigos também são convidados a fazê-lo, e devem saber o lugar preciso onde podem apresentar a denúncia. Este é um passo muito decisivo. Naturalmente, é preciso verificar se foi plenamente colocado em prática, mas já é lei para toda a Igreja. É um passo absolutamente fundamental dado pelo Papa, provavelmente o mais importante neste campo ao longo de quase vinte anos. E não só: na mesma lei é estabelecido o procedimento relativo às denúncias dos superiores hierárquicos - superiores gerais religiosos, bispos, cardeais ... - não só por abusos, mas também por casos de "encobrimento". Portanto, os temas da responsabilidade e do prestar contas foram enfrentados radicalmente.

Além disso, em dezembro de 2019 foi abolido o "segredo pontifício" sobre atos relativos a questões de abusos sexuais, o que permite também a colaboração com as autoridades civis, de forma mais clara e livre do que antes. Portanto, mais “transparência”. Depois, em julho de 2020, foi elaborado e publicado o famoso Vademecum, que havia sido muito solicitado e indicado pelo próprio Papa como um dos primeiros objetivos do Encontro de 2019. Ele foi redigido pela Congregação para a Doutrina da Fé: um belo documento, muito rico, que não traz grandes novidades, mas coloca bem em ordem e explica com clareza, para uso de cada bispo e de cada responsável, todos os pontos que deve saber e o que deve fazer nas diferentes situações. Um instrumento que era realmente necessário. Quando saiu não se falou muito, porém era um dos pontos essenciais nos pedidos do Encontro de 2019, e foi realizado.

Mais recentemente, no Pentecostes deste ano de 2021, foi publicado o novo Livro VI do Código de Direito Canônico, que contém um pouco todo o direito penal da Igreja, reformulado e organizado, de modo que as novas normas, que no decorrer do anos haviam sido estabelecidas no campo dos abusos como em outros campos, agora são recolhidas no Código de Direito Canônico de forma ordenada, enquanto antes ficavam "dispersas" em toda uma série de intervenções e documentos.

Agora - insistimos - pode-se afirmar que essas coisas são exatamente as principais que se devia esperar do e da Santa Sé após o encontro de 2019. E foram feitas.

Pode-se acrescentar que neste mesmo período, em novembro de 2020, também foi publicado o volumoso “Relatório McCarrick”, depois que, por desejo do Papa, haviam sido estudados detalhadamente todos os fatos envolvendo o gravíssimo escândalo que abalou a Igreja dos Estados Unidos e toda a Igreja: como foi possível que um culpado de abusos tenha chegado ao topo das responsabilidades eclesiásticas, como arcebispo de Washington e cardeal. Também essa publicação pode ser considerada um passo doloroso, mas muito corajoso em direção à transparência e à vontade de prestar contas dos crimes e das responsabilidades, mesmo nos mais altos escalões da Igreja.

Portanto, estamos diante de um problema enorme, difícil e doloroso, que diz respeito à credibilidade da Igreja. Porém não é verdade que nada foi feito ou que nada ou pouco esteja sendo feito. Pode-se e deve-se tranquilamente dizer, com clareza, que a Igreja universal enfrentou e enfrenta este problema, deu os passos necessários e estabeleceu normas, procedimentos e regras para enfrentá-lo corretamente.

O caminho que temos pela frente: das normas à prática

Isso, claro, não quer dizer que tudo esteja feito, porque, como se sabe, uma coisa é estabelecer as normas, o quadro de referência, outra coisa é mudar a realidade colocando-as em prática. A próxima Conferência das Igrejas da Europa Central e Oriental, em Varsóvia, em setembro, sobre a proteção de menores e pessoas vulneráveis, insere-se exatamente nesta direção. De fato, em cada espaço geográfico e eclesial, que tem aspectos e problemáticas comuns do ponto de vista histórico e cultural, é necessário refletir sobre o ponto em que se encontra e sobre quais são os caminhos concretos para traduzir eficazmente na realidade as orientações da Igreja universal. Em outras regiões já foi feito: por exemplo, houve um grande encontro na América Latina, no México, há cerca de um ano. Depois, a pandemia interrompeu muitos programas e provocou atrasos. Porém, em diversos continentes e regiões se está fazendo – ou já foi feito - aquilo que agora está programado para a Europa Centro-Oriental. Trata-se, portanto, de um passo fundamental de um caminho comum da Igreja universal que diz respeito, com a sua especificidade, a esta área geográfica, cultural e eclesial.

Para concluir. Muito tem sido feito, ao nível dos normativas gerais e também ao nível das experiências concretas. Em algumas partes mais, em outras partes menos. Encontrar-se é necessário para fazer circular o conhecimento e compreender formas concretas e eficazes de enfrentar os problemas. Estamos a caminho e permaneceremos em caminho, mas por uma estrada que em essência é suficientemente clara, na qual é necessário avançar com rapidez e sem incertezas, para curar os sofrimentos, fazer justiça, prevenir os abusos, restaurar a confiança e a credibilidade da comunidade da Igreja, dentro dela e na sua missão para o bem do mundo.

Federico Lombardi S.I.

Fonte: Vatican News

A Força transformadora do Perdão

Editora Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

A Força transformadora do Perdão

A lição maior – e a mais difícil de viver – que Jesus nos ensinou, creio que foi aquela de “amar o inimigo” (cf Mt 5,44). Nada é tão estranho e repugnante para aquele que não age movido pelo Espírito de Deus, e se deixa guiar pela simples natureza.

O nosso mundo ensina, sem cessar, que é preciso revidar, “não levar desaforo para casa”, ir ao revanche, etc. Jesus, por outro lado, ensina a mansidão; isto é, não pagar o mal com o mal, mas com o bem. É o que Ghandi chamou de “não violência”, e que fez dela a sua arma mais poderosa para libertar a Índia da colonização inglesa. Dizia ele que “a força de um homem e de um povo está na não violência”. Ele aprendeu isso no Sermão da Montanha.

Todas as vezes que o mundo agiu pela violência, ficou claro que a violência não leva à paz e à felicidade. Na verdade, a violência, exceto em legítima defesa, é a arma dos fracos de espírito. Buscar o revide, a desforra, a vingança, é colocar-se no mesmo baixo nível do agressor. É reagir como um animal, e não como um homem. Ghandi dizia:

“Procuro amassar completamente a ponta da espada do tirano: não oponho um aço mais afiado, e assim ludibrio sua esperança de ver-me oferecer uma resistência física. Encontrará em mim uma resistência de alma que escapa a seu cerco”.

O segredo cristão para destruir a força do inimigo, não é a vingança, mas a mansidão, o perdão. Jesus nos ensina que aí está um dos pontos da perfeição cristã. Ele quer que sejamos “perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). “Deste modo sereis os filhos de vosso Pai do céu, pois Ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos” (Mt 5,45).

A pedagogia de Deus, que é Pai amoroso, é esta: ser bom para com aquele que é mal, para que este, experimentando a doçura do bem, queira deixar de ser mal e se converta para o bem. Jesus é o novo legislador, o novo Moisés, que leva a Lei antiga à perfeição: “Tendes ouvido o que foi dito: Amarás o teu próximo e poderás odiar teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelo que vos maltratam e perseguem” (Mt 5,43-44).

Em seguida Jesus explica a razão desta exigência tão difícil: “Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis? Não fazem assim os próprios publicamos? Se saudais apenas vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não fazem isto também os pagãos?” (Mt 5,46-47).

É impressionante como Jesus exige de maneira radical a vivência do perdão, e não da ira: “Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu, porém, vos digo: Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5,38-39).

Perdoar aquele que o ofendeu é uma “prova de fogo” para verificar se de fato você é cristão. A lição do perdão é fundamental, porque é o caminho para se implantar na terra o Reino de Deus, reino de irmãos que vivem o amor. É isto que Jesus veio fazer; esta é a difícil “Boa-Nova” que trouxe. Para destruir o mal e a violência em todas as formas, Ele trouxe o remédio: o perdão. Isto é tão importante que Ele morreu na cruz dolorosamente, dando o maior exemplo do que é perdoar. Ele, que não fez mal a ninguém, mesmo tão injustiçado, soube dizer: “Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23,31).

Mais do que qualquer um de nós, Jesus tinha o direito de pedir ao Pai “justiça” diante de tamanha injustiça; mas, ao contrário, Ele quis deixar-nos a maior lição do que é perdoar. A partir daí, nenhum cristão (= imitador de Cristo), tem o direito de fazer diferente do que Ele fez.

Por que tudo isto? Porque não se pode exterminar a violência deste mundo usando-se da própria violência. Meios injustos e violentos não podem gerar a justiça e a paz. Não se pode querer apagar o fogo lançando gasolina sobre ele; é preciso jogar água.

Por mais duro que seja é preciso entender a lógica desta questão. Ghandi dizia que na anti-lógica do “olho por olho”, vamos acabar todos cegos. Esta é a loucura do mundo soberbo e arrogante: “bateu, levou!” E assim, o ódio e a violência crescem cada vez mais.

É claro que não é fácil perdoar aquela pessoa que te magoou, aquele “amigo” que te traiu, aquele assassino do teu filho, ou aquela mulher que seduziu o teu marido. Se fosse fácil não teria mérito algum. E é preciso dizer que, por nossas próprias forças, não conseguiremos perdoar. É preciso a força do alto, para vencer a fraqueza da nossa natureza ferida e que clama por vingança. Santo Agostinho ensina-nos que “o que é impossível à natureza, é possível à graça”. Só pela graça, pela força de Deus na alma, podemos viver o que Jesus ordenou.

Diante de uma situação dessas onde é difícil perdoar, só há um caminho, olhar para Jesus crucificado e clamar: Senhor, Tu que perdoaste até o extremo, dá-me da Tua força e do Teu Espírito para que eu possa fazer o mesmo. Nesta hora será preciso clamar pelo Sangue inocente que Jesus deixou ser derramado na cruz para o perdão de cada um de nós.

A única exigência que Deus nos impõe para perdoar os nossos pecados, quaisquer que sejam, é que estejamos dispostos a perdoar a todos os que nos ofenderam. “Porque se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará” (Mt 6,14-15).

Também entre os sete grandes pedidos da maior Oração que Ele nos ensinou, acrescenta: “Perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam” (Mt 6,12). O humilde é manso, e perdoa. Quando Pedro, um tanto afoito, lhe perguntou quantas vezes deveria perdoar a seu irmão, sete vezes?, o Senhor lhe disse: “Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18,21-22). “Bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5, 7). Exercitemos o perdão neste Ano Santo da Misericórdia.

O perdão é a face mais bela da caridade. Deixemos a “vingança” por conta da justiça de Deus; não queiramos fazê-la com as nossas próprias mãos, pois elas ficarão manchadas. Deus fará cumprir toda a justiça. São Paulo ensinou isto aos cristãos de Roma: “Abençoai os que vos perseguem, abençoai-os e não os praguejeis… Não pagueis a ninguém o mal com o mal… Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35)” (Rom 12,14-19).

A força do perdão é insuperável. Tertuliano de Alexandria († 230) disse algo que atravessou toda a história da Igreja e chegou até nós: “O sangue dos mártires era semente de novos cristãos”. Eles morriam rezando pelos seus carrascos e perdoando-os. Foi assim que o Cristianismo venceu o império romano. O último dos imperadores a perseguir o cristianismo, Juliano, o apóstata, no leito de morte exclamou: “Tu venceste, ó galileu!” Esta é a força do amor e da não violência. Deus torna-se o nosso escudo quando depomos as armas terrenas.

São Paulo ensina que quando somos capazes de perdoar aquela pessoa maldosa que fez algo contra nós, a força do nosso perdão a leva a conversão. É o que ele chamava de “amontoar brasas sobre a sua cabeça”. Isto é, seu coração amolece e ele se converte. “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça” (Prov 25,21) (Rom 12,20). Muitos se converteram porque foram perdoados e receberam o bem em troca do mal que praticaram.

Vou relatar aqui um caso que eu presenciei. O Programa de TV “Fantástico”, da TV Globo, mostrou no dia 13.04.85, uma ação de uma senhora de Lorena-SP, Dª Ana Maria, já falecida. Essa Senhora teve a sua casa invadida por um rapaz, durante a madrugada, e este assassinou, dentro de sua casa, um dos seus filhos, jovem de 18 anos. Ela não quis vingança contra o assassino e, na própria Missa de corpo presente do filho assassinado, declarou o seu perdão ao criminoso. Foi um momento de emoção e lágrimas! O rapaz assassino foi preso, julgado e condenado à prisão na Casa de Detenção em São Paulo. Tão logo Dª Ana Maria soube da prisão do assassino, passou a visitá-lo em São Paulo semanalmente. Pegava o ônibus em Lorena, viajava 200 km para falar de Deus ao assassino do seu próprio filho. Pouco tempo depois esse jovem revelava, sob lágrimas, ante as câmaras da TV Globo, o arrependimento do seu gesto. E lamentava não ter conhecido Jesus Cristo antes de parar na cadeia. É a força libertadora do perdão.

Esse caso mostra o que São Paulo chama de “amontoar carvões em brasa” sobre a cabeça daquele que vive mal, e mostra a forma cristã de vencer o mal. Assim, e só assim, quebra-se a corrente da violência e a atira-se ao chão.

Na vida de São Clemente Hofbauer, há um fato que mostra a força do perdão e da mansidão. Certa vez ele entrou numa taverna para pedir uma esmola para as obras que realizava. Um homem, Kalinski, o odiava, e estava presente. São Clemente entra, se dirige à mesa de Kalinski e pede uma esmola. “Como é Kalinski, você não vai fazer nada?” perguntou o amigo. Kalinski pegou o copo de cerveja que bebia, encheu a boca e despejou no rosto de São Clemente.

Embora de índole colérica, o santo não se perturbou. Puxou o lenço, limpou o rosto e disse ao agressor: “você já deu o que eu mereço. Agora dê uma esmola para meus pobres”. A atitude do santo desconcertou Kalinski e os demais do grupo. Na mesma noite Kalinski mandou a São Clemente um saquinho de moedas de ouro e, arrependido e penitente, tornou-se grande amigo e colaborador do santo. É a força da mansidão e do perdão. Isto é amontoar brasas ardentes sobre a cabeça do pecador.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

PAIS DA IGREJA: São Gregório Magno (Parte 5/7)

S. Gregório Magno | ECCLESIA

São Gregório Magno

«Antologia»

«Quando fores velho,
levar-te-ão para onde não quererias ir»
(Jo 21,18)

Sermão 82/69 para o aniversário dos apóstolos Pedro e Paulo

Tu não receias vir a esta cidade de Roma, ó santo apóstolo Pedro!... Não temes Roma, senhora do mundo, tu que em casa de Caifás tiveste medo diante da criada do sumo-sacerdote. O poder dos imperadores Cláudio e Nero seria então menor do que o julgamento de Pilatos ou o furor dos chefes dos judeus? É que a força do amor triunfava em ti sobre as razões do temor; não pensavas dever recear aqueles que recebeste missão de amar. Essa caridade intrépida, recebeste-a quando o amor que tinhas professado pelo Senhor foi fortalecido pela sua tripla pergunta (Jo 21,15s)... E, para acrescentar a tua confiança, havia ainda os sinais de tantos milagres, o dom de tantos carismas, a experiência de tantas obras maravilhosas!... Assim, sem duvidar da fecundidade da tarefa nem ignorar o tempo que te faltava viver, trazias o troféu da cruz de Criso a Roma onde, por divina predestinação, te esperavam ao mesmo tempo a honra da autoridade e a glória do martírio.

A essa mesma cidade chegava S. Paulo, apóstolo contigo, instrumento de escolha (Act 9,19) e mestre dos pagãos (1Tm 2,7), para estar contigo nesse tempo em que toda a inocência, toda a liberdade, todo o pudor eram já oprimidos sob o poder de Nero. Foi ele que, na sua loucura, decretou em primeiro lugar uma perseguição geral e atroz contra o nome cristão, como se a graça de Deus pudesse ser extinta com o massacre dos santos... Mas "preciosa aos olhos do Senhor é a morte dos seus santos" (Sl 115,15). Nenhuma crueldade pôde destruir a religião fundada pelo mistério da cruz de Cristo. A Igreja não foi diminuida mas acrescentada pelas perseguições; o campo do Senhor reveste-se sem cessar de uma mais rica seara, quando os grãos, caídos sós, renascem multiplicados (Jo 12,24). Que descendência deram, ao desenvolver-se, estas duas plantas divinamente semeadas! Milhares de santos mártires, imitanto o triunfo destes dois apóstolos, coroaram esta cidade com um diadema de pedras preciosas que ninguém pode contar.

«Porque choras?»

Homila 25 sobre o Evangelho

Maria, em lágrimas, inclina-se e olha para dentro do túmulo. Ela já tinha todavia constatado que estava vazio, e tinha anunciado o desaparecimento do Senhor. Porque se inclina então ainda? Porque quer ver de novo? Porque o amor não se contenta com um único olhar; o amor é uma conquista sempre mais ardente. Ela já O procurou, mas em vão; obstina-se e acaba por descobrir...

No Cântico dos Cânticos, a Igreja dizia do mesmo Esposo: «No meu leito, de noite, procurei aquele que o meu coração ama. Procurei-o, mas não o encontrei. Vou levantar-me e percorrer a cidade; pelas ruas e pelas praças, vistes aquele que o meu coração ama?» (Ct 3, 1-2). Duas vezes ela exprime a sua decepção: «Procurei-o, mas não o encontrei!» Mas o sucesso vem, por fim, coroar o esforço: «Os guardas encontraram-me, aqueles que fazem ronda pela cidade. Vistes aquele que o meu coração ama? Mal os ultrapassei, encontrei aquele que o meu coração ama.» (Ct 3,3-4)

E nós, quando é que, nos nossos leitos, procuraremos o Amado? Durante os breves repousos desta vida, quando suspiramos na ausência do nosso Redemptor. Nós procuramo-Lo na noite, pois apesar do nosso espírito já estar desperto para Ele, os nossos olhos só vêem a Sua sombra. Mas, como não encontramos nela o Amado, levantemo-nos; percorramos a cidade, ou seja a assembleia dos eleitos. Procuremos de todo o coração. Procuremos nas ruas e nas praças, ou seja nas passagens escarpadas da vida ou nos caminhos espaçosos; abramos os olhos, procuremos aí os passos do nosso Bem-Amado...

Esse desejo fez dizer a David: «A minha alma tem sede do Deus de vida. Quando irei ver a face de Deus? Sem descanso, procurai a Sua face» (Sl 42,3).

FONTE:

Evangelho Cotidiano

Fonte: https://www.ecclesia.org.br/

Será que vivemos a verdadeira caridade? Vejamos o que São Bernardo nos ensina

© Fred de Noyelle / Godong
Por Vitor Roberto Pugliesi Marques

Viemos a esse mundo simplesmente para a superficialidade do corpo ou viemos para nos santificar e nos configurarmos a Deus?

Quando se fala em santidade, fala-se do estado de alma de pessoas que exerceram neste mundo as virtudes da fé, esperança e caridade, não de modo parco e insosso, mas sim de modo heroico e admirável. 

Para isso, é necessário um esforço continuado, esforço este que vai nos transformando, nos configurando a Cristo, de modo a terminarmos dizendo as mesmas palavras de São Paulo: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vice em mim” (Gl 2,20). Nesse texto, gostaria de refletir um pouco sobre como São Bernardo, ilustre monge cisterciense, escrevendo aos religiosos Cartuxos de seu tempo, expressa o modo como os santos exercem a caridade. 

Primeiramente, São Bernardo nos explica que se não estamos diante de uma pessoa santa não veremos a verdadeira caridade. A caridade verdadeira e sincera provém daqueles que têm um “coração puro, uma consciência boa e uma fé sincera” (São Bernardo de Claraval. Tratado sobre o Amor de Deus. São Paulo: Paulus, 2015, p. 79). Vejamos que é um tripé mutuamente dependente. Aqueles que não possuem um dos elementos não consegue expressar a verdadeira caridade. E vemos isso expresso cotidianamente em nosso meio. Quantos não são aqueles que vemos exercer uma filantropia com os pobres, mas, por não a fazerem na fé ao Cristo, não conseguem fazer brilhar uma luz maior em seu ato? Quantos ainda não são os que têm dentro de si a luz da fé, mas só conseguem expressá-la por meio de atos pueris por não terem uma boa consciência? 

Desse modo, o amor a Deus exercido por aqueles que não são santos assume modos nada meritórios. Vai nos dizer São Bernardo: “Há homens que glorificam o Senhor porque Ele é poderoso, há os que o glorificam porque é bom para eles; enfim, veem-se os que o louvam simplesmente porque é bom. Os primeiros são escravos que temem por si; os segundos, mercenários que buscam a própria vantagem; e os últimos são os filhos verdadeiros que não pensam senão em seu Pai” (idem, p. 80). Cabe-nos aqui refletir o modo como estamos exercendo a caridade, sendo que esta, em última análise, deve ser uma expressão de amor genuíno a Deus, pois “aquele que não ama senão o que lhe concerne, mostra bem que não tem um amor puro e que não ama o bem pelo bem, mas por si mesmo” (idem, p. 79). 

É certo que, como nos diz São Bernardo, “às vezes uma alma servil faz a obra de Deus, mas como não age espontaneamente, persevera em sua indiferença” (idem, p. 81). São aqueles casos em que vemos a “utilidade pública” da coisa. É o exemplo da cesta básica distribuída aos pobres nas campanhas políticas; tem serventia para aquele estado agudo de fome, mas sabemos que esse ato provavelmente não vai deixar raiz alguma, pois não foi feito em Cristo e por Cristo. Mas daí cabe a pergunta: viemos a esse mundo simplesmente para a superficialidade do corpo ou viemos para nos santificar e nos configurarmos a Deus? Sabemos pela fé que a segunda assertiva é a correta.  

Tenhamos, então, a disposição de exercer a verdadeira caridade. Esta consiste em equiparar a nossa vontade à vontade de Deus. Nisso não há trivialidades, não há superficialidade, não há interesses egoístas, mas sim uma plenitude sem mácula a nos elevar, de fato, a Deus.

Fonte: Aleteia

Cardeal Parolin: a Europa não deve esquecer suas raízes cristãs

Cardeal Perolin | Guadium Press
O Cardeal Pietro Parolin afirmou durante o Fórum Estratégico Bled, na Eslovênia, que “a Europa não deve esquecer suas raízes cristãs e a contribuição necessária das Igrejas”.

Redação (06/09/2021 10:38Gaudium Press) O Fórum Estratégico Bled que é dedicado ao futuro da Europa contou com a participação do secretário do estado do Vaticano, o Cardeal Pietro Parolin. No evento, o eclesiástico italiano abordou temáticas que giram em torno da solidariedade, tais como, a cooperação internacional e a migração.

Segundo Parolin “o atual enfraquecimento da confiança no direito internacional e nas organizações internacionais” é patente e acarreta consequências para o próprio projeto europeu e conclui que isso pode “afetar, em particular, o sentimento de pertencer à Europa, que se baseia na adesão a seus valores fundamentais como o respeito à dignidade da pessoa humana, um profundo senso de justiça, liberdade, diligência, espírito de iniciativa, amor à família, respeito à vida, tolerância, desejo de cooperação e paz”.

Ele salientou ainda que, em um mundo de mudanças rápidas, corre-se o risco de uma “perda de identidade, especialmente quando faltam valores compartilhados”.

Detalhou que para redescobrir a identidade comum europeia e fazer previsões a esse respeito é essencial “encorajar e apoiar um diálogo aberto, transparente e regular” com os representantes das Igrejas e as associações religiosas, que “contribuem para a formação dos valores europeus”.

Entre os valores, o cardeal ressaltou a solidariedade: “a solidariedade europeia está no coração do projeto europeu”. Por isso, os países europeus devem laborar em cooperação, “devem se ver como parceiros, e não como concorrentes, ou como colonizadores” e ainda acrescentou que “a cooperação não deve se limitar às fronteiras europeias”.

Sobre a migração, o Cardeal afirmou a necessidade de um esforço global, pois as “soluções fragmentadas são inadequadas” e as comunidades solidárias devem “ajudar os migrantes para que eles aprendam a respeitar e assimilar a cultura e as tradições das nações que os acolhem”.

Com informações Vatican News e agencia.ecclesia.pt.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Mentalidade mundana e funcionalista penetra até a Igreja, diz dom Orani

Cardeal dom Orani Tempesta.
Foto: Congresso Eucarístico Internacional de Budapeste

BUDAPESTE, 06 set. 21 / 11:41 am (ACI).- O cardeal dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, afirmou que a “mentalidade mundana e funcionalista dos tempos atuais” está penetrando a vida religiosa e alertou para as consequências negativas desse erro, que pode levar a um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja e uma Igreja sem fiéis.

Nesta segunda-feira, 6, dom Orani fez uma catequese online para o Congresso Eucarístico Internacional, que ocorre em Budapeste, capital da Hungria. O cardeal dividiu a sua catequese em três partes. A primeira parte esteve centrada na “correspondência entre o desejo do coração humano por Deus e a gratuidade do desejo de Deus pelo homem que, despojando-se de sua majestade, se fez um de nós”.

A segunda parte “mostra a necessidade que o mundo tem de transformação e a consequente chamada a todos os batizados para que, como resultado da sua pertença a Cristo, sejam fermento”.

Na terceira parte, o cardeal identificou “Maria, a mãe da Igreja, como síntese perfeita do amor eucarístico em ação. Sua perfeita comunhão com Cristo se manifesta no drama da vida cotidiana, sua identificação com a misericórdia divina”.

O cardeal chamou a atenção sobre o fato de que “são muitos os que vivem em situação de necessidade. Carências materiais, morais e espirituais caracterizam a imensa pobreza em que nos encontramos e que somos chamados a enfrentar, respondendo ao chamado do Senhor que nos pede: ´dai-lhes vós mesmos de comer`”.

Também lamentou que “o homem moderno ache que a sede e a fome que levam dentro de si podem ser saciadas com o consumismo”. “Pessoas e coisas são, por isso, consumidas como objetos de um individualismo exagerado que, em vez de saciar, aumentam mais a angústia, provocando desordens e desequilíbrios no mundo”, explicou.

Dom Orani citou duas ocasiões nas quais Jesus expressa “sua sede pelo coração humano”. A primeira, junto ao poço, quando pediu à samaritana que lhe desse de beber; a segunda, na cruz, quando disse: “tenho sede”.

Em contrapartida, ele afirmou que “o Senhor manifesta seu protagonismo na relação com o ser humano. No encontro da sua sede, expressão da misericórdia do seu coração, com a sede do coração humano, feito para Deus, brota uma transformação emanada da correspondência original que transborda em testemunho: muitos samaritanos daquela cidade creram em Jesus pela força do testemunho daquela mulher”.

No entanto, a “mentalidade mundana e funcionalista dos tempos atuais termina penetrando a expressão religiosa”. Como consequência, “busca-se a fé de maneira imediata, com o único interesse de obter resultados pessoais”.

Dom Orani recordou a advertência feita frequentemente pelo papa Francisco contra a tentação do pelagianismo, adaptado aos tempos atuais, que busca adaptar a graça divina às estruturas humanas. O resultado é um gnosticismo “que prefere um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja e uma Igreja sem fiéis”.

Tudo isso, “termina reduzindo a vida da Igreja a uma peça de museu ou a algo próprio de alguns povos, que não é atrativa por não ser capaz de satisfazer os desejos dos corações humanos”.

Fonte: ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF