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segunda-feira, 11 de outubro de 2021

A inveja da graça alheia

A oferta de Abel e Caim, mosaico do século XII, Capela Palatina,
Palermo [© Franco Cosimo Panini Editore]
Arquino /30Giorni / Dezembro/2011

A inveja da graça alheia


“A tristeza pela bondade de um outro, sobretudo se é irmão, é o pecado que Deus condena mais que qualquer outro” (De civitate Dei XV, 7, 1).

Entrevista com padre Nello Cipriani sobre Abel e Caim, como imagens dos dois tipos de cidade (ou seja, de Igreja) que aparecem no De civitate Dei


Entrevista com Nello Cipriani por Lorenzo Cappelletti


Na virada do ano voltamos a conversar com padre Nello Cipriani, professor ordinário no Instituto Patrístico Augustinianum, de Roma, sobre Abel e Caim como imagens dos dois tipos opostos de cidade (ou seja, de Igreja) que aparecem no De civitate Dei de Santo Agostinho. Uma peregrina na terra, a outra que precisa atestar-se neste mundo. Uma peregrina, não porque caduca, como erroneamente se entende, mas porque não pretende construir-se por si mesma e se reconhece constantemente criada por Deus; e portanto é livre, livre para pedir e oferecer a si mesma. A outra que pretende construir para si uma morada estável neste mundo e que, portanto, se concebe necessariamente em alternativa ou pelo menos em concorrência com qualquer um que neste mundo queira afirmar sua presença.


Dados os binômios usados pelo próprio Santo Agostinho (cidade dos homens/cidade de Deus; cidade terrena/cidade celeste, etc.), uma das maiores dificuldades para quem se aproxima do De civitate Dei é entender que as duas cidades não são uma real e outra ideal, mas fazem parte ambas, continuamente, do panorama histórico; e a outra grande dificuldade é que a sua oposição absoluta não coincide de modo algum com uma impermeabilidade absoluta de uma em relação à outra. Há algum texto em que Santo Agostinho mostra com maior clareza a imanência à história e o aspecto dinâmico da relação entre as duas cidades?
NELLO CIPRIANI: No passado houve um grande debate em torno da noção das duas cidades, objeto do De civitate Dei de Santo Agostinho. Alguns estudiosos, sobretudo protestantes, entenderam a cidade de Deus apenas como uma comunidade espiritual e invisível, uma communio sanctorum, ou como uma comunidade meramente escatológica, que não teria nenhuma relação com a Igreja que vive no tempo, unida pela comunhão dos sacramentos e ordenada por uma hierarquia. A razão dessa interpretação se deve ao fato de que o critério seguido pelo bispo de Hipona para distinguir as duas cidades, a de Deus, ou celeste, e a dos homens, ou terrena, vem da sua postura interior oposta. Elas nascem de dois amores contrários: a cidade de Deus nasce do amor a Deus que chega até o desprezo de si mesmo, a cidade terrena, do amor a si mesmo que chega até o desprezo de Deus; a primeira vive segundo o Espírito ou segundo Deus, a outra segundo a carne ou segundo o homem. As duas cidades, além disso, mesmo tendo sentimentos opostos, já que são animadas por uma fé, uma esperança e um amor diferentes, vivem através do tempo confundidas e mescladas uma à outra. Portanto, a impressão é de que o discurso está no plano da meta-história e não da concretude histórica, que pode ser reconhecida. Semelhante conclusão, porém, não corresponde de modo algum ao pensamento de Santo Agostinho, que repete muitas vezes que a Igreja é a cidade de Deus, ou melhor, a parte dela que vive na história “entre as perseguições dos homens e as consolações de Deus”1. Já no início da obra, de fato, ele distingue a parte da cidade de Deus que vive na estabilidade da sé eterna e a parte que “neste correr dos séculos caminha peregrina entre os infiéis, vivendo de fé e esperando com perseverança”2 a vida eterna. No livro dezoito do De civitate Dei ele retoma a história da Igreja: fundada por Cristo sobre o fundamento dos Apóstolos, difunde-se primeiramente de Jerusalém para a Judeia e para a Samaria; depois, com o anúncio do Evangelho aos povos pagãos, se estende a todo o mundo conhecido. Delineia depois suas características principais: na Igreja há uma hierarquia, há praepositi, de modo particular o bispo, chamados a servir os irmãos, e há simples fiéis, que são também cristos, ou seja, consagrados, e participam do sacerdócio de Cristo. O momento central da vida da Igreja é a celebração eucarística, quando ela se une ao sacrifício de Cristo na cruz e com ele oferece a si mesma. Da Eucaristia os cristãos extraem a força para suportar as perseguições e o martírio. A Igreja, de resto, não tem apenas inimigos externos que a perseguem; sofre também em razão dos hereges e de muitos que são cristãos só de nome. A cidade de Deus, que é a Igreja peregrina, vive no mundo submetida às leis e às autoridades do Estado, respeita tudo o que não é contrário à religião e não deixa de dar a sua contribuição para criar uma sociedade pacífica, pois considera a paz temporal um bem precioso para todos. Por fim, a cidade de Deus, que caminha peregrina no mundo, é a Igreja, ou seja, a comunidade bem visível dos crentes, que vive no tempo com o olhar fixo na eternidade, mas que sofre e se esforça na história para aliviar as misérias dos homens, pois é animada por uma fé “que age pela caridade” (Gl 5,6). Se a esperança escatológica a projeta para o céu, a caridade a liga à história, para antecipar em alguma medida já aqui a paz que não tem ocaso.

Pode-se dizer que a essência da cidade celeste, representada por Abel, segundo Agostinho, está toda no fato de Abel ter aceito ser peregrino, enquanto Caim pôs-se a construir uma cidade? Se dermos atenção a algo mencionado no livro XV do De civitate Dei, poderíamos dizer que Abel põe-se a si mesmo à disposição para que um Outro se manifeste (sua praesentia servientem) e Caim, ao contrário, precisa demonstrar que está ali e, portanto, que tem importância (suam praesentiam demonstrantem)3?
Abel, que não constrói nenhuma cidade, e Caim, que a constrói, são figuras bem representativas das duas cidades, pois para Santo Agostinho a esperança escatológica e, respectivamente, o retraimento no mundo são suas principais características distintivas. Os cidadãos da cidade terrena são tais justamente porque vivem retraídos na terra, buscam apenas os bens deste mundo e, pela posse deles, se esforçam e lutam entre si. O cristão, por sua vez, vive no mundo sem se apegar a ele; faz bom uso dos bens temporais, sem se deixar possuir por eles, pois se considera exilado neste mundo e tem os olhos sempre voltados para a pátria do céu, que é o próprio Deus. Todavia, as diferentes esperanças não são o único elemento distintivo das duas cidades. Santo Agostinho considera a cidade de Deus diferente da cidade terrena também pelo amor à verdade e sobretudo pela humildade de quem se reconhece criatura de Deus e portanto vive na obediência e na submissão ao Criador. Escreve: “Na cidade de Deus e à cidade de Deus exilada no tempo é recomendada sobretudo a humildade, que é exaltada em grau supremo em seu rei, que é Cristo, enquanto em seu adversário, que é o diabo, domina, como ensina a Sagrada Escritura, o vício oposto a essa virtude, ou seja, a soberba. Está portanto aqui a grande diferença entre as duas cidades de que falamos: uma é a sociedade dos homens pios, a outra a dos ímpios; cada uma unida a seus anjos, a primeira unida aos anjos nos quais prevaleceu o amor de Deus, a outra aos anjos em que prevaleceu o amor a si”4. Outro elemento distintivo da cidade de Deus é a caridade que impele seus membros a servirem-se mutuamente, enquanto na cidade terrena domina a paixão pelo poder e pelo predomínio (cf. De civitate Dei XIV, 28).

Em outro lugar, do livro XV, Agostinho faz uma comparação entre as duas cidades com base numa outra imagem bíblica, a das ofertas feitas a Deus por Abel e Caim, uma recebida e a outra recusada. Recusada – Agostinho comenta – não porque Caim não tenha oferecido algo seu, mas porque, justamente oferecendo algo a Deus, pretendia na realidade não servir, mas servir-se de Deus. Essa também pode ser uma imagem eficaz e atual, pois permite entender até onde pode chegar o equívoco da religiosidade até mesmo dos cristãos, que pode existir não a serviço, mas como justificação de si.
Sim, é verdade. Os dois irmãos, Abel e Caim, são vistos como representativos das duas cidades também pela expressão da sua religiosidade. Segundo o livro do Gênesis, Caim sentiu tristeza, pois Deus tinha recebido a oferta de Abel e não a sua (cf. Gn 4,4-5). Como observa Santo Agostinho, pelo relato bíblico “não é fácil precisar por quais motivos Caim desagradou a Deus”5. Na primeira carta de João, porém, lemos que Caim estava tomado pelo maligno e matou seu irmão, “porque as suas obras eram más, ao passo que as do seu irmão eram justas” (1Jo 3,12). O bispo de Hipona entende essas palavras no sentido de que Caim com a sua oferta “dava a Deus algo seu, mas dava-se também a si mesmo”6. E explica: “Assim fazem todos aqueles que, mesmo não seguindo a vontade de Deus, mas a sua, ou seja, mesmo não vivendo com o espírito reto, mas perverso, oferecem todavia a Deus uma dádiva, com a qual pensam torná-lo propício, a fim de que os ajude não a curar seus desejos maus, mas a satisfazê-los”7. Provavelmente tinha em mente em primeiro lugar os sacrifícios públicos que no império romano os pagãos ofereciam a seus deuses, para serem por eles ajudados a reinar sobre os outros povos, “não pelo desejo de prover o seu bem, mas por querer dominá-los”8. Porém, ele oferece, em seguida à observação histórica, um princípio geral que infelizmente pode ser aplicado também à religiosidade de muitos fiéis: “Os bons se servem do mundo para gozar de Deus, os maus ao contrário querem servir-se de Deus para gozar o mundo”9. A análise de Santo Agostinho, de qualquer forma, não se detém aqui. Ele observa ainda que Caim, ao ver que Deus tinha aceito a oferta do irmão e não a sua, não deveria ter-se indignado nem sentido inveja, mas ter-se arrependido e imitado o irmão bom, pois – conclui – “a tristeza pela bondade de um outro, sobretudo se é irmão, é o pecado que Deus condena mais que qualquer outro”10.
Santo Agostinho num afresco do século VI,
Basílica de São João de Latrão, Roma
Como é possível dizer, seguindo sempre o livro XV do De civitate Dei, que depositar a esperança na invocação do nome do Senhor Deus (como faz Enos, outra figura veterotestamentária da cidade celeste) é a atividade totalizante e suprema da cidade de Deus sem sermos tachados de espiritualismo e de quietismo e mantendo, todavia, a radicalidade dessa afirmação?
Também Enos, o filho de Set, é visto por Santo Agostinho como uma figura representativa da cidade de Deus, porque foi o primeiro que “começou a invocar o nome do Senhor”11. E essa – explica – “na presente condição de morte é toda e a máxima ocupação da cidade de Deus peregrina neste mundo”12. Em sua radicalidade, a afirmação é realmente forte, mas não nos deve surpreender, se levarmos em conta que a oferta a Deus vem de Deus não menos que a invocação de seu nome13. Já no décimo livro da obra Agostinho dissera que toda a vida de cada cristão e de toda a cidade remida é um sacrifício agradável a Deus. Esse culto espiritual da cidade de Deus não é uma evasão dos compromissos da vida concreta de cada dia. O verdadeiro culto de Deus, de fato, consiste no amor a Deus e inseparavelmente no amor ao próximo (cf. De civitate Dei X, 3, 2). Para Santo Agostinho, “os verdadeiros sacrifícios são as obras de misericórdia, que fazemos para nós mesmos e para o próximo em louvor a Deus”14. É sacrifício agradável a Deus, portanto, tudo o que os membros do corpo de Cristo fazem para manter unida na caridade a comunidade eclesial, exercendo cada um o seu carisma em benefício dos outros membros. Enfim, a Eucaristia é culmen et fons da vida da cidade de Deus peregrina no mundo: “Este é o sacrifício dos cristãos: ‘Muitos e um só corpo em Cristo’. A Igreja celebra esse mistério com o sacramento do altar, conhecido dos fiéis, no qual lhe é mostrado que, na coisa que oferece, ela mesma é oferecida”15.

Para concluir, portanto, padre Cipriani nos recorda oportunamente que é o sacramento a fonte da verdadeira imagem da Igreja, justamente porque ela, celebrando-o, nada demonstra ( demonstrat), mas lhe é mostrado ( demonstratur) que naquilo que oferece ( offert) ela mesma é oferecida ( offeratur). Do ativo ao passivo, poderia, como bom orador, comentar Agostinho.

 

 

Notas

1 “Inter persecutiones mundi et consolationes Dei” (Agostinho, De civitate Dei XVIII, 51, 2).
2 “...In hoc temporum cursu, cum inter impios peregrinatur ex fide vivens, sive in illa stabilitate sedis aeternae, quam nunc exspectat per patientiam...” (Agostinho, De civitate Dei I, Praefatio).
3 “Invenimus ergo in terrena civitate duas formas, unam suam praesentiam demonstrantem, alteram caelesti civitati significandae sua praesentia servientem” (Agostinho, De civitate Dei XV, 2).
4 “Quapropter quod nunc in civitate Dei et civitati Dei in hoc peregrinanti saeculo maxime commendatur humilitas et in eius rege, qui est Christus, maxime praedicatur contrariumque huic virtuti elationis vitium in eius adversario, qui est diabolus, maxime dominari sacris Litteris edocetur: profecto ista est magna differentia, qua civitas, unde loquimur, utraque discernitur, una scilicet societas piorum hominum, altera impiorum, singula quaeque cum angelis ad se pertinentibus, in quibus praecessit hac amor Dei, hac amor sui” (Agostinho, De civitate Dei XIV, 13, 1).
5 “In quo autem horum Deo displicuerit Cain, facile non potest inveniri” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).
6 “Dans Deo aliquid suum, sibi autem se ipsum” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).
7 “Quod omnes faciunt, qui non Dei, sed suam sectantes voluntatem, id est non recto, sed perverso corde viventes, offerunt tamen Deo munus, quo putant eum redimi, ut eorum non opituletur sanandis pravis cupiditatibus, sed explendis” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).
8 “Non caritate consulendi, sed dominandi cupiditate” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).
9 “Boni quippe ad hoc utuntur mundo, ut fruantur Deo; mali autem contra, ut fruantur mundo, uti volunt Deo” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).
10 “Hoc peccatum maxime arguit Deus, tristitiam de alterius bonitate, et hoc fratris” (Agostinho, De civitate Dei XV, 7, 1).
11 “Speravit invocare nomen Domini Dei” (Agostinho, De civitate Dei XV, 21).
12 “In hoc mundo peregrinantis civitatis Dei totum atque summum in hac mortalitate negotium” (Agostinho, De civitate Dei XV, 21).
13 “Illa autem, quae caelestis peregrinatur in terra, falsos deos non facit, sed a vero Deo ipsa fit, cuius verum sacrificium ipsa sit” (Agostinho, De civitate Dei XVIII, 54, 2).
14 “Vera sacrificia opera sint misericordiae sive in nos ipsos sive in proximos, quae referuntur ad Deum” (Agostinho, De civitate Dei X, 6).
15 “Hoc est sacrificium christianorum: Multi unum corpus in Christo. Quod etiam sacramento altaris fidelibus noto frequentat Ecclesia, ubi ei demonstratur, quod in ea re, quam offert, ipsa offeratur” (Agostinho, De civitate Dei X, 6).


Fonte: http://www.30giorni.it/

O PAPA NA IGREJA

ACI Digital

Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney 

O Papa na Igreja

Um dos alicerces da nossa catolicidade, da Igreja Católica, é a instituição do Papado: o Papa como sucessor de São Pedro, constituído como chefe da Igreja, aquele que tem as chaves, o poder de ligar e desligar, sancionado por Deus no Céu. Nele se cumpre a promessa que Jesus fez à sua Igreja: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).

Repito isso porque, alguns cristãos, zelosos pela ortodoxia, no ímpeto de defender algum dos valores e riquezas da Igreja, esquecem-se desse valor primordial. Destruído esse, os outros valores se desmoronam. Perde-se o vínculo da unidade na Igreja e da união com o fundador.

Uma das provas de que a Igreja é indefectível, apesar das fraquezas humanas, e goza da assistência contínua e infalível do seu fundador, é a instituição do Papado, que nos dá a garantia da presença contínua dele na sua Igreja, através daquele que lhe faz as vezes, o seu Vigário.

Jesus escolheu como seu vigário (que lhe faz as vezes, repito) na terra, Pedro, a pedra. E Pedro, primeiro Papa, é uma figura emblemática e paradigmática. Pedro se chamava Simão. Jesus lhe mudou o nome, significando sua missão, como é habitual nas Escrituras: “Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas! (que quer dizer Pedro – pedra)” (Jo 1, 42). Quando Simão fez a profissão de Fé na divindade de Jesus, este lhe disse: “Não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (a Igreja): tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 13-19). Corajoso e com imenso amor pelo Senhor, sentiu também sua fraqueza humana, ao negar três vezes que o conhecia. “Simão, Simão! Satanás pediu permissão para vos peneirar, como o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32).  E Pedro, depois de ter chorado seu pecado, foi feito por Jesus o Pastor da sua Igreja.

São Pedro, fraco por ele mesmo, mas forte pela força que lhe deu Jesus, representa bem a Igreja de Cristo. “Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica, edificada por Jesus Cristo sobre a pedra que é Pedro… Cremos que a Igreja, fundada por Cristo e pela qual Ele orou, é indefectivelmente una, na fé, no culto e no vínculo da comunhão hierárquica. Ela é santa, apesar de incluir pecadores no seu seio; pois em si mesma não goza de outra vida senão a vida da graça. Se realmente seus membros se alimentam dessa vida, se santificam; se dela se afastam, contraem pecados e impurezas espirituais, que impedem o brilho e a difusão de sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por esses pecados, tendo o poder de livrar deles a seus filhos, pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo” (Credo do Povo de Deus).

Nenhuma sociedade humana sobreviveria a tantas fraquezas e dificuldades, se não fosse a ação do Espírito Santo que a mantém incólume no meio de todas essas tempestades, até a consumação dos séculos.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A proclamação da verdade num ambiente de cancelamento cultural

Public Domain
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Os cristãos devem sempre proclamar corajosamente a verdade e condenar o erro.

Frequentemente ouvimos que devemos ser tolerantes para poder dialogar, pois os cristãos devem amar e procurar a convivência harmoniosa com todos. Mas também ouvimos que essa ideia é, na verdade, uma tibieza dos que tem medo do cancelamento social praticado pela mentalidade dominante (que foi tema do último artigo). Os cristãos, nessa segunda posição, devem sempre proclamar corajosamente a verdade e condenar o erro.

A reflexão cristã nos mostrou, ao longo dos séculos, que a verdade e o amor não podem ser separados um do outro. Assim, como qualquer pessoa que já tenha tido a responsabilidade de educar outra pode testemunhar, a correção fraterna é uma dimensão importante do amor mútuo. E não só na relação educativa! Um casamento no qual os cônjuges não se corrijam mutuamente provavelmente fracassará. Os amigos sinceros também sabem que devem corrigir um ao outro em muitas ocasiões.

Correção não é acusação

O problema não está na correção mútua, e sim na tendência de transformar a proclamação da verdade em denúncia e condenação, um ato de contraposição, não um gesto de amor. Na mentalidade “do mundo”, os erros normalmente são denunciados com vistas à culpabilização e condenação de alguém. Mesmo entre os que se amam, muitas vezes indica-se o erro para culpar o outro, não para ajudá-lo a melhorar. A correção fraterna, proposta no cristianismo (cf. Mt 18,15-20), é um gesto de amor com vistas à conversão mútua. Aquele que corrige também se converte, pois aprende a compreender e se torna mais capaz de amar o outro. A lógica que orienta a correção fraterna é muito diversa daquela que orienta a denúncia pública, ainda que ambas tenham afinidades e uma possa levar à outra.

Uma sabedoria “mundana”, que pode servir a todos nós, é aquela dos grupos que estudam acidentes aéreos e de transportes em geral. Os investigadores fazem questão de frisar que seu objetivo é descobrir as causas dos acidentes, para que elas sejam evitadas no futuro, e não encontrar culpados. Aliás, essas investigações frequentemente mostram que os envolvidos são vítimas antes de culpados pelos erros.

Um exercício de empatia

“Tolerância” é uma palavra ambígua. Originalmente, tem uma acepção que chega a ser supremacista: os “superiores” toleram os “inferiores”. Com o tempo, ganhou um outro sentido, significando uma ausência de preconceitos, que pode chegar à falta de critérios de discernimento – uma posição extremada, que não é obrigatória quando falamos em tolerância, mas frequente.

A correção fraterna implica muito mais empatia do que tolerância. A empatia é a capacidade de compreender o outro, entender suas motivações, comover-se com suas dores e com seus ideais. A tolerância pode ser um aspecto da empatia, que é muito mais ampla. Numa relação empática, as dores do outro se tornam evidentes e dolorosas também para nós. Na perspectiva da empatia, a correção fraterna se torna imprescindível na medida que ajuda o outro a ser mais feliz e não em função da afirmação de nossas próprias ideias.

Tudo isso, que já é difícil no relacionamento interpessoal, se torna muito mais difícil quando se trata da esfera pública, das relações institucionais, da vida cultura e política. Mas são esses, justamente, os desafios que os cristãos devem enfrentar se querem superar o cancelamento e a hegemonia cultural, mantendo-se fiéis à sua inspiração evangélica.

Quando a ordem dos fatores importa

Para começar, temos que entender que, nesse aspecto, a ordem dos fatores altera muito o produto. Revisemos nossa história pessoal: como é diferente a correção feita por alguém que nos ama daquela feita por outra pessoa. A correção pelos que nos amam se expressa como ato de amor, sabemos que aquela pessoa também está triste por ter que fazer a correção. A correção feita por qualquer outro nos constrange, humilha, gera uma reação de negação – mesmo quando sabemos que o outro está certo.

O desafio, de enormes proporções, impossível negar a dificuldade da empreitada, é demonstrar publicamente que é o amor que nos orienta nesse esforço de anunciar a verdade. Demonstrar amor antes de corrigir não é uma atitude piegas ou um pretexto para a omissão, e sim uma aplicação do espírito evangélico às situações concretas de hoje.

Trazer beleza e esperança ao mundo

Na arena social, duas premissas podem nos ajudar a ter uma posição cristã justa. A primeira é compreender que o erro sempre causa uma ferida na humanidade de quem erra. É para curar ou evitar essa chaga que fazemos a correção fraterna. Se não conseguimos identificar e explicitar essa ferida, dificilmente conseguiremos ajudar quem pensa diferente de nós a reconhecer uma postura errada. Sinal claro de que precisamos procurar entender mais a situação do outro, se queremos ser um real auxílio fraterno.

A segunda premissa é que a verdade sempre aponta para o amor, a beleza e a esperança. Uma correção que só denuncia o erro, mas não aponta uma solução na qual transparece o amor, a beleza e a esperança, não é realmente verdadeira – mesmo que formalmente correta. Os fariseus dos tempos de Jesus eram capazes de apontar com precisão o desrespeito à Lei. Para o seu tempo, podiam estar formalmente certos, mas lhes faltava o amor – por isso não conseguiam reconhecer a Verdade diante deles, nem se deixavam contaminar pelo Amor. Se nossa correção só aponta o erro, é sinal de que nos falta a comunhão com Cristo, que pode fazer de qualquer situação uma ocasião para conhecer o Amor e a Verdade – enchendo a vida de beleza e superando a dor com esperança.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Ser rico diante de Deus

Guadium Press
O que é ser rico diante de Deus? A liturgia deste 28º Domingo aborda uma verdade muitas vezes esquecida pela sociedade moderna.

Redação (10/10/2021 14:29Gaudium Press): O Evangelho deste domingo centra a atenção em uma verdade muitas vezes esquecida pela sociedade moderna. A atitude de negação do moço rico perante o pedido de entrega feita por Nosso Senhor e o consequente abatimento e tristeza bem representam a reação do mundo contemporâneo face às contradições e fracassos da vida: não se conformam com o modo de a Sabedoria divina agir nas almas ao longo da História.

Vem e segue-me!

A primeira leitura trata do “espírito de sabedoria” que se move em direção ao homem, fazendo-o assim, almejá-la acima de todas as honras, riquezas e poderes terrenos:

“Preferi a sabedoria aos cetros e tronos e, em comparação com ela, julguei sem valor a riqueza” (Sab 7, 8).

            Muitos há que se perguntam: como obter a felicidade? A resposta parece ser simples: fazer a vontade de Deus. Todavia, como custa muitas vezes aceitar as decisões de Deus, sobretudo quando elas indicam um caminho que não desejamos e não queremos transitar. Esta foi justamente a reação do moço rico, descrita no Evangelho de São Marcos:

“Bom mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna? [Respondeu-lhe Jesus:] Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me!” (Mc 10, 17-21).

Este jovem podia esperar qualquer resposta de Nosso Senhor, menos aquela que seus ouvidos acabaram de escutar. Jesus “olhou-o com amor” (Mc 17, 21), convidando-o a um imenso chamado de ser um dentre os apóstolos. A resposta foi uma negação instantânea; e uma profunda tristeza tomou conta daquela pobre alma. Por que? O apego aos próprios critérios fez com que ele não recebesse com alegria o mandato divino de entregar tudo e segui-Lo.

Ora, Deus não podia ter esclarecido, dando-lhe as razões de tão exigente entrega? Não. A Divina Sabedoria queria provar o seu amor, dizendo no fundo de seu interior: Faze o que lhe peço, e terás a alegria e a paz que tanto almejas. Tu não encontrarás a felicidade nas riquezas e honras deste mundo, mas somente em mim terás o descanso que tanto procuras. “Vinde a mim tu que estais cansado e fatigado sob o peso de teus fardos, e eu te darei descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve” (Cf. Mt 11, 28-30). Infelizmente, a rejeição foi sua resposta.

Quantos há que preferem seguir os próprios critérios e caprichos, trilhando um caminho para si mesmos. Recusam e rejeitam as determinações da Sabedoria Divina, revoltam-se diante das incompreensões deste “vale de lágrimas”. Estes representam nitidamente a imagem do mundo presente: “abatido” e “triste”.

Como então, se tornar rico diante de Deus? Desapegando-se deste mundo e aceitando os seus desígnios com mansidão de alma, pois deste modo obterão “um tesouro no céu” (Mc 10 21).

Troféus de glória

Verdadeiro exemplo de sujeição a Deus foram os santos. Conta-se que no século XI, em plena Idade Média, São Roberto,[1] um monge beneditino, ansiava por ver em seus irmãos de hábito exímios praticantes da regra de São Bento e homens realmente ardorosos e piedosos nos seus deveres de piedade. Este seu desejo levou-o a reformar a ordem, juntamente com Santo Alberico e Santo Estêvão Harding, fundando uma primeira abadia em Cister (região francesa da Borgonha), futuramente conhecida como ordem dos Cistercienses.

Contudo, até a consecução desta reforma, várias dificuldades apresentaram-se ao longo do caminho. Muitos monges, acomodados com a medíocre rotina levada dentro dos claustros, opuseram grande resistência aos planos de São Roberto. Certa feita, um monge, que o santo conhecera desde os primórdios de sua vida beneditina, ao evidenciar o seu fracasso na tentativa de reformar o mosteiro de Saint Michel (Tonerre, França), disse-lhe:

– Poderás suportar outro fracasso, indo agora, para a Abadia de Saint Ayol?”

– Posso? – interrogou o santo olhando para um crucifixo – Tonerre fez-me ficar de joelhos diante do Crucificado, pedindo e implorando seu auxílio, e ali, aprendi a lição da Cruz! O cristianismo não é um culto que leva ao êxito pessoal!

Prosseguiu São Roberto:

– Compreendem agora por que não tenho medo do fracasso? – E olhando novamente, sem tirar os olhos do crucificado, continuou: – Para mim, o fracasso não existe! Para as almas que se conformam com a vontade divina, os “fracassos” não são motivo de desânimo, mas são troféus de glória que os conduzem ao Céu.

Por Guilherme Motta


RAYMOND. Mary. Três monges rebeldes. Dois Irmãos: Biblioteca Católica, 2018, p. 110-111.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Papa Francisco no Ângelus: "Sua fé está cansada e você quer revigorá-la?

Papa Francisco no Ângelus de 10 de outubro. Foto: Vatican Media

Vaticano, 10 out. 21 / 04:24 pm (ACI).- O papa Francisco ofereceu alguns conselhos aos católicos que sentem que sua fé está "cansada" e desejam revigorá-la em seu discurso prévio à oração do Ângelus deste domingo, 10 de outubro.

Em seu discurso prévio à oração do Ângelus de 10 de outubro, o papa falou que a renovação pessoal deve ser um processo em três etapas.

"Sua fé, minha fé, está cansada, e queremos revigorá-la? Procure o olhar de Deus: sente-se em adoração, permita-se ser perdoado na Confissão, fique diante do Crucificado. Em suma, deixe-se amar por Ele", disse o papa.

"Este é o começo da fé: deixai-vos amar por Ele, que é Pai".

O Papa ofereceu este conselho enquanto refletia sobre a leitura do Evangelho do dia, em que Jesus exorta o jovem rico: "Vai, vende o que tens, e dá aos pobres ... depois vem, segue-me".

No balcão virado para a Praça de São Pedro, o papa disse aos presentes que todos podemos nos ver refletidos no jovem rico porque ele não foi nomeado no Evangelho.

Ele disse: "O jovem começa com uma pergunta: 'O que devo fazer para herdar a vida eterna?". Note os verbos que ele usa: 'deve fazer', 'herdar'. Aqui está sua religiosidade: um dever, um fazer para obter; 'faço algo para obter o que preciso'".

"Mas esta é uma relação comercial com Deus, um quid pro quo". A fé, no entanto, não é um frio, um ritual mecânico, um fazer uma coisa em troca de outra. É uma questão de liberdade e amor".

O papa, que havia celebrado há pouco a missa de inauguração do processo de dois anos que levou ao sínodo sobre sinodalidade, pediu a seus ouvintes que considerassem se sua fé era principalmente uma questão de dever ou uma espécie de "moeda de troca".

"A primeira coisa a fazer é libertar-nos de uma fé comercial e mecânica, que insinua a falsa imagem de um Deus contábil e controlador, não de um pai", disse.

"Jesus, no segundo passo, ajuda este homem, oferecendo-lhe a verdadeira face de Deus". De fato, o texto diz: "Jesus olhando para ele, amou-o": isto é Deus!", acrescentou.

"É aqui que nasce e renasce a fé: não de um dever, não de algo que deve ser feito ou pago, mas de um olhar de amor a ser acolhido". Desta forma, a vida cristã se torna bela, se for baseada não em nossas capacidades e em nossos planos, mas no olhar de Deus".

O papa disse que na terceira e última etapa, Jesus convidou o jovem a dar generosamente de si mesmo aos outros.

"Talvez seja também o que estamos perdendo". Muitas vezes, fazemos o mínimo possível, enquanto Jesus nos convida a fazer o máximo possível", comentou ele.

"Quantas vezes ficamos satisfeitos por cumprir nossos deveres - os preceitos, algumas orações, etc. - enquanto Deus, que nos dá a vida, nos pede o impulso da vida"!

Concluindo sua meditação, o papa disse: "Uma fé sem dar, sem obras de caridade, no final nos entristece: assim como aquele homem cujo 'rosto caiu' e voltou para casa 'triste,' apesar de ter sido olhado com amor por Jesus em pessoa".

"Hoje podemos nos perguntar": Em que ponto está minha fé? Será que eu a sinto como algo mecânico, como uma relação de dever ou interesse para com Deus? Será que me lembro de alimentá-la, deixando-me olhar e ser amado por Jesus? ... E, atraído por Ele, respondo livremente, com generosidade, com todo o meu coração"?

Depois de rezar ao Angelus, o Papa Francisco saudou duas beatificações que aconteceram neste fim de semana.

Ele disse: "Ontem, em Nápoles, Maria Lorenza Longo, esposa e mãe de família do século XVI, foi beatificada. Viúva, ela fundou em Nápoles o Hospital dos Incuráveis e das Clarissas Capuchinhas".

"Uma mulher de grande fé e intensa vida de oração, ela fez tudo o que podia pelas necessidades dos pobres e dos que sofrem".

Ele acrescentou: "Hoje, em Tropea, Calábria, o padre Francesco Mottola, fundador dos Oblatos do Sagrado Coração, falecido em 1969, foi beatificado".

"Pastor zeloso e incansável anunciador do Evangelho, ele foi um testemunho exemplar de um sacerdócio vivido na caridade e na contemplação".

Depois de pedir uma salva de palmas para os novos beatos, o papa observou que o dia 10 de outubro é o Dia Mundial da Saúde Mental, marcado pela Santa Sé com uma mensagem do Cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.

O papa reconheceu aqueles que sofrem de problemas de saúde mental, assim como as vítimas de suicídio, inclusive os jovens.

"Oremos por eles e suas famílias, para que não sejam deixados sozinhos ou discriminados, mas acolhidos e apoiados", disse.

Ao saudar os peregrinos na praça, ele apontou uma grande imagem de Madre Maria Bernardetta da Imaculada, uma professora irmã das Irmãs Pobres de São José, sustentada por visitantes de sua terra natal, Montella, no sul da Itália.

Ela passou um tempo na capital argentina, Buenos Aires, e foi amiga do papa Francisco, que foi sacerdote e bispo nesta cidade, entre os anos de 1979 até a morte dela em 2001. O Vaticano anunciou a abertura de sua causa em 2019.

"Rezemos por sua pronta canonização", disse o papa, concluindo seu discurso do Ângelus dominical.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Papa: Sínodo é um evento de graça, estar aberto às surpresas do Espírito

Missa para o início do caminho sonodal | Vatican News

A Palavra de Deus guia o Sínodo, para que não seja uma "convenção" eclesial, um convênio de estudos ou um congresso político, mas um evento de graça, um processo de cura conduzido pelo Espírito Santo. Palavras do Papa ao inaugurar o caminhos sinodal celebrando a missa na Basílica de São Pedro.

Bianca Fraccalvieri – Cidade do Vaticano

“Encontrar, escutar, discernir”: estes foram os verbos indicados pelo Papa Francisco na sua homilia de abertura do processo sinodal.

O Pontífice presidiu à Santa Missa na Basílica Vaticana, com a participação de leigos, religiosos, sacerdotes, bispos e cardeais que participam deste processo que culminará em Roma, daqui dois anos, com o Sínodo dos Bispos sobre a tema da sinodalidade.

Francisco se inspirou no Evangelho deste domingo, que apresenta um homem rico que foi ao encontro de Jesus enquanto o Mestre se punha a caminho. "Jesus não tinha pressa, não olhava o relógio para acabar rápido o encontro. Estava sempre a serviço da pessoa que encontrava, para ouvi-la."

“Deus não habita em lugares assépticos e pacatos, distantes da realidade, mas caminha conosco”, disse o Papa, que então pergunta: “Nós, comunidade cristã, encarnamos o estilo de Deus, que caminha na história e partilha as vicissitudes da humanidade?”

Peritos na arte do encontro

O Evangelho começa narrando um encontro, ao qual Jesus não fica indiferente. “Também nós, que iniciamos este caminho, somos chamados a tornar-nos peritos na arte do encontro; peritos, não na organização de eventos", mas "na reserva de um tempo para encontrar o Senhor e favorecer o encontro entre nós".

Deus muda tudo quando somos capazes de encontros verdadeiros com Ele e entre nós... "sem formalismos nem fingimentos, nem maquiagens".

Escutar com o coração

Depois do encontro, o passo sucessivo é escutar. E mais uma vez Francisco se dirige à assembleia: “Como estamos quanto à escuta? Como está «o ouvido» do nosso coração? Permitimos que as pessoas se expressem?

“Fazer Sínodo é colocar-se no mesmo caminho do Verbo feito homem: é seguir as suas pisadas, escutando a sua Palavra juntamente com as palavras dos outros. É descobrir, maravilhados, que o Espírito Santo sopra de modo sempre surpreendente para sugerir percursos e linguagens novos.”

“Não insonorizemos o coração, não nos blindemos nas nossas certezas. Escutemo-nos.”

Discernir para mudar

Por fim, discernir. O encontro e a escuta recíproca, explicou Francisco, não são um fim em si mesmos, deixando as coisas como estão.

Pelo contrário, quando entramos em diálogo, no fim já não somos os mesmos de antes, mudamos, como indica o Evangelho de hoje. Jesus intui que o homem à sua frente é bom, mas quer conduzi-lo para além da simples observância dos preceitos - uma indicação preciosa também para nós:

“O Sínodo é um caminho de discernimento espiritual, que se faz na adoração, na oração, em contato com a Palavra de Deus.”

A Palavra guia o Sínodo, para que não seja uma "convenção" eclesial, um convênio de estudos ou um congresso político, mas um evento de graça, um processo de cura conduzido pelo Espírito Santo.

Assim como fez com o homem rico do Evangelho, Jesus chama a Igreja a libertar-nos daquilo que é mundano e também dos fechamentos e dos modelos pastorais repetitivos, para interrogar-se a direção para onde Ele quer conduzir.

“Queridos irmãos e irmãs, bom caminho em conjunto! Sejamos peregrinos enamorados do Evangelho, abertos às surpresas do Espírito Santo. Não percamos as ocasiões de graça do encontro, da escuta recíproca, do discernimento. Com a alegria de saber que, enquanto procuramos o Senhor, é Ele quem primeiro vem ao nosso encontro com o seu amor.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/

São João XXIII, papa

S. João XXIII | Rede Século 21
11 de outubro

São João XXIII

Terceiro franciscano (1881-1963). Beatificado  em 1º de outubro de 2000, por São  João Paulo II e canonizado por Papa Francisco em 27 de abril de 2014. Sua memória é celebrada no dia 11 de outubro. 

Nasceu no dia 25 de novembro de 1881 em Sotto il Monte, diocese e província de Bérgamo (Itália), e nesse mesmo dia foi batizado com o nome de Ângelo Giuseppe; foi o quarto de treze irmãos, nascidos numa família de camponeses e de tipo patriarcal. Ao seu tio Xavier, ele mesmo atribuirá a sua primeira e fundamental formação religiosa. O clima religioso da família e a fervorosa vida paroquial foram a primeira escola de vida cristã, que marcou a sua fisionomia espiritual.

Ingressou no Seminário de Bérgamo, onde estudou até ao segundo ano de teologia. Ali começou a redigir os seus escritos espirituais, que depois foram recolhidos no “Diário da alma”. No dia 1 de Março de 1896, o seu diretor espiritual admitiu-o na ordem franciscana secular, cuja regra professou a 23 de Maio de 1897.

De 1901 a 1905 foi aluno do Pontifício Seminário Romano, graças a uma bolsa de estudos da diocese de Bérgamo. Neste tempo prestou, além disso, um ano de serviço militar. Recebeu a Ordenação sacerdotal a 10 de Agosto de 1904, em Roma, e no ano seguinte foi nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Maria R. Tedeschi, acompanhando-o nas várias visitas pastorais e colaborando em múltiplas iniciativas apostólicas: sínodo, redação do boletim diocesano, peregrinações, obras sociais. Às vezes era também professor de história eclesiástica, patrologia e apologética. Foi também Assistente da Ação Católica Feminina, colaborador no diário católico de Bérgamo e pregador muito solicitado, pela sua eloquência elegante, profunda e eficaz.

Naqueles anos aprofundou-se no estudo de três grandes pastores:  São Carlos Borromeu  (de quem publicou as Actas das visitas realizadas na diocese de Bérgamo em 1575), São Francisco de Sales e o então Beato Gregório Barbarigo. Após a morte de D. Giacomo Tedeschi, em 1914, o Pade Roncalli prosseguiu o seu ministério sacerdotal dedicado ao magistério no Seminário e ao apostolado, sobretudo entre os membros das associações católicas.

Em 1915, quando a Itália entrou em guerra, foi chamado como sargento sanitário e nomeado capelão militar dos soldados feridos que regressavam da linha de combate. No fim da guerra abriu a “Casa do estudante” e trabalhou na pastoral dos jovens estudantes. Em 1919 foi nomeado diretor espiritual do Seminário.

Em 1921 teve início a segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Santa Igreja. Tendo sido chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé, percorreu muitas dioceses da Itália organizando círculos missionários.

Em 1925, Pio XI nomeou-o Visitador Apostólico para a Bulgária e elevou-o à dignidade episcopal da Sede titular de Areopolis.

Tendo recebido a Ordenação episcopal a 19 de Março de 1925, em Roma, iniciou o seu ministério na Bulgária, onde permaneceu até 1935. Visitou as comunidades católicas e cultivou relações respeitosas com as demais comunidades cristãs. Atuou com grande solicitude e caridade, aliviando os sofrimentos causados pelo terremoto de 1928. Suportou em silêncio as incompreensões e dificuldades de um ministério marcado pela táctica pastoral de pequenos passos. Consolidou a sua confiança em Jesus crucificado e a sua entrega a Ele.

Em 1935 foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia: era um vasto campo de trabalho. A Igreja tinha uma presença ativa em muitos âmbitos da jovem república, que se estava a renovar e a organizar. Mons. Roncalli trabalhou com intensidade ao serviço dos católicos e destacou-se pela sua maneira de dialogar e pelo trato respeitoso com os ortodoxos e os muçulmanos. Quando irrompeu a segunda guerra mundial ele encontrava-se na Grécia, que ficou devastada pelos combates. Procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus com a “permissão de trânsito” fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944 Pio XII nomeou-o Núncio Apostólico em Paris.

Durante os últimos meses do conflito mundial, e uma vez restabelecida a paz, ajudou os prisioneiros de guerra e trabalhou pela normalização da vida eclesial na França. Visitou os grandes santuários franceses e participou nas festas populares e nas manifestações religiosas mais significativas. Foi um observador atento, prudente e repleto de confiança nas novas iniciativas pastorais do episcopado e do clero na França. Distinguiu-se sempre pela busca da simplicidade evangélica, inclusive nos assuntos diplomáticos mais complexos. Procurou agir sempre como sacerdote em todas as situações, animado por uma piedade sincera, que se transformava todos os dias em prolongado tempo a orar e a meditar.

Em 1953 foi criado Cardeal e enviado a Veneza como Patriarca, realizando ali um pastoreio sábio e empreendedor e dedicando-se totalmente ao cuidado das almas, seguindo o exemplo dos seus santos predecessores: São Lourenço Giustiniani, primeiro Patriarca de Veneza, e São Pio X.

Depois da morte de Pio XII, foi eleito Sumo Pontífice a 28 de Outubro de 1958 e assumiu o nome de João XXIII. O seu pontificado, que durou menos de cinco anos, apresentou-o ao mundo como uma autêntica imagem de bom Pastor. Manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com as Encíclicas “Pacem in terris” e “Mater et magistra”.

Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canônico e convocou o Concílio Ecumênico Vaticano II. Visitou muitas paróquias da Diocese de Roma, sobretudo as dos bairros mais novos. O povo viu nele um reflexo da bondade de Deus e chamou-o “o Papa da bondade”. Sustentava-o um profundo espírito de oração, e a sua pessoa, iniciadora duma grande renovação na Igreja, irradiava a paz própria de quem confia sempre no Senhor. Faleceu na tarde do dia 3 de junho de 1963.

Foi canonizado pelo Papa Francisco em 27 de abril de 2014, mesma data da canonização de São João Paulo II. Sua memória é celebrada no dia 11 de outubro.

Fonte: https://franciscanos.org.br/

domingo, 10 de outubro de 2021

Carta de sacerdote ignorada pelo NYT

Presbíteros

Carta de um missionário de Angola
Por Nieves San Martín

LUANDA, segunda-feira, 31 de maio de 2010 (ZENIT.org).- “Sou um simples sacerdote católico. Sinto-me feliz e orgulhoso pela minha vocação. Vivo em Angola como missionário há vinte anos.” Assim começa a carta que o missionário salesiano uruguaio Martín Lasarte enviou ao New York Times sem obter resposta. Na carta, explica o trabalho silencioso a favor dos mais desfavorecidos da maioria dos sacerdotes da Igreja Católica que, contudo, “não é notícia”.

Na carta remetida a ZENIT pelo Pe. Martín Lasarte, ele explica que a enviou dia 6 de abril ao jornal nova-iorquino e desde então não obteve resposta. Nela, expressa seus sentimentos diante da onda midiática despertada pelos abusos de alguns sacerdotes, enquanto pouco surpreende o interesse que desperta nos meios o trabalho cotidiano de milhares e milhares de sacerdotes.

“É doloroso muito saber que as pessoas que deveriam ser sinais de amor de Deus tenham sido um punhal na vida de inocentes. Não há palavra que justifique tais atos. Não há dúvida de que a Igreja está do lado dos fracos, dos mais indefesos. Portanto, todas as medidas que forem tomadas para a proteção e prevenção da dignidade das crianças serão sempre uma prioridade absoluta”, afirma em sua carta.

Contudo, destaca, “é curiosa a pouca noticiabilidade e desinteresse por milhares e milhares de sacerdotes que trabalham em prol dos milhões de crianças, adolescentes e demais desfavorecidos nos quatros cantos do mundo”.
“Penso que para seu meio de informação não interessa as muitas crianças desnutridas que tive de carregar por caminhos minados em 2002 desde Cangumbe a Luena (Angola), pois nem o governo se dispunha a fazer isso, e as ONGs não estavam autorizadas; tive de enterrar dezenas de pequenos, falecidos entre os deslocados  pela guerra e os que retornaram; que salvamos a vida de milhares de pessoas no México mediante o único posto médico a 90 mil km de distância, assim como a distribuição de alimentos e sementes; que demos a oportunidade de educação nestes 10 anos e escolas a mais de 110 mil pequenos…”, afirma.

“Não é de interesse – destaca – que ,como outros sacerdotes, tivemos de socorrer a crise humanitária de cerca de 15 mil pessoas nos quartéis da guerrilha, depois de sua rendição, porque não chegavam os alimentos do governo e da ONU.”
E, em seguida, enumera uma série de ações, muitas vezes em situação de risco ou perda de vida, por seus companheiros que são ignoradas pela mídia.

“Não é notícia um sacerdote de 75 anos, Pe. Roberto, que vai até as cidades de Luanda curando os meninos da rua, levando-os a uma casa de recuperação, para que se desintoxiquem; que alfabetiza centenas de presos; e outros sacerdotes, maltratados e até violentados e buscam um refúgio. Menos ainda que o Frei Maiato, com seus 80 anos, passe de casa em casa confortando os doentes e desesperados.”

“Não é notícia que mais de 60 mil, dos 400 mil sacerdotes e religiosos, deixaram sua terra e sua família para servir seus irmãos em leprosários, hospitais, campos de refugiados, orfanatos para crianças acusadas de bruxaria ou órfãos de pais que faleceram com Aids, em escolas para os mais pobres, em centros de formação profissional, em centros de atenção a portadores do HIV… ou sobretudo em paróquias e missões, dando motivações para as pessoas viverem e amarem.”
“Não é notícia que meu amigo, Pe. Marcos Aurélio, por salvar alguns jovens durante a guerra na Angola, transportou-os de Calulo a Dondo e, voltando à sua missão, foi morto no caminho; que o irmão Francisco, com cinco senhoras catequistas, por ir ajudar as áreas rurais mais escondidas, foram mortos em um acidente na estrada; que dezenas de missionários na Angola morreram por falta de socorro sanitário, por uma simples malária; que outros voaram pelo céu, por motivo de minas terrestres, visitando seus povos. No cemitério de Kalulo estão os túmulos dos primeiros sacerdotes que chegaram à região… Nenhum deles passou dos 40 anos.”

“Não é notícia acompanhar a vida de um sacerdote ‘normal’ em seu dia-a-dia, em suas dificuldades e alegrias, consumindo sem barulho sua vida a favor da comunidade à qual serve.”

“A verdade é que não procuramos ser notícia, mas simplesmente levar a Boa Notícia, essa notícia que sem barulho começou na noite de Páscoa. Há mais ruído por uma árvore que cai do que por um bosque que cresce”, destaca.

“Não pretendo fazer uma apologia da Igreja e dos sacerdotes – afirma. O sacerdote não é nenhum herói nem um neurótico. É um simples homem que, com sua humanidade, busca seguir Jesus e servir seus irmãos. Há miséria, pobreza e fragilidade, como em cada ser humano; e também beleza e bondade, como em cada criatura…”

“Insistir na perseguição obsessiva em um tema, perdendo a visão de conjunto, cria verdadeiramente caricaturas ofensivas do sacerdócio católico, nas quais me sinto ofendido”, afirma.
E conclui: “Só lhe peço, amigo jornalista, que busque a Verdade, o Bem e a Beleza. Isso o tornará nobre em sua profissão”.


Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Do Comentário sobre Ageu, de São Cirilo de Alexandria, bispo

MaisFé.org

Do Comentário sobre Ageu, de São Cirilo de Alexandria, bispo

(Cap.14:PG 71,1047-1050)    (Séc.V)

Meu nome é glorificado entre as nações

Por ocasião da vinda de nosso Salvador, o templo se manifestou sem comparação mais glorioso e mais divino, mais ilustre e excelente do que o antigo. Assim o julga quem percebe a diferença entre o culto da religião da lei e o culto evangélico de Cristo, e entre a realidade e sua sombra.  

A este respeito creio poder dizer o seguinte. Existia um só templo, unicamente, em Jerusalém, e um único povo, o israelita, ali oferecia sacrifícios. Todavia, depois que o Unigênito, sendo o Deus e Senhor que resplandeceu para nós (Sl 117,27), conforme a Escritura, se tornou semelhante a nós, o restante do orbe da terra encheu-se de casas santas e de inumeráveis adoradores que honram com incenso e sacrifícios espirituais o Deus do universo. Foi isto que, segundo me parece, predisse Malaquias, falando em nome de Deus: Porque sou eu o grande rei, diz o Senhor, e meu nome é glorificado entre as gentes e em todo lugar se oferece incenso a meu nome e um sacrifício puro (cf. Ml 1,11).  

É, portanto, verdade que a glória do último templo – entenda-se a Igreja – seria maior. Aos dedicados que trabalham em sua edificação será dada pelo Salvador, como recompensa e dom do céu, o Cristo, paz de todos: por quem temos acesso junto ao Pai no único Espírito (cf. Ef 2,18). É o que afirma: Darei a paz a este lugar e paz da alma para aumento de todos quantos houverem trabalhado para levantar este templo (Ag 2,9). Em outro lugar também diz Cristo: Eu vos dou a minha paz (Jo 14,27). Qual seja sua atuação nestes que o amam, Paulo explica: A paz de Cristo, que ultrapassa todo entendimento, guarde vossos corações e inteligências (cf. Fl 4,7). Igualmente o sábio Isaías orava: Senhor, nosso Deus, dá-nos a paz, pois tu nos tratas como nossas ações merecem (Is 26,12). Porque para quem recebeu uma vez a paz de Cristo,torna-se fácil guardar a própria alma e dirigir o esforço para o dom da virtude bem exercida.  

Por isto se declara que será dada a paz a todo aquele que constrói. Seja alguém edificador da Igreja e sacerdote, seja intérprete dos sagrados mistérios, foi estabelecido sobre a casa de Deus. E se cuidar de sua alma, vivendo como pedra viva e espiritual para o templo santo e habitação de Deus no Espírito (cf. Ef 2,22), alcançará por prêmio a salvação sem dificuldade.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF