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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

CARTA ABERTA DA CNBB

CNBB

CNBB SAI EM DEFESA DO PAPA FRANCISCO, DO ARCEBISPO DE APARECIDA (SP) DOM ORLANDO BRANDES E DO EPISCOPADO BRASILEIRO

A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na manhã deste domingo, 17 de outubro, uma Carta Aberta dirigida ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), o deputado estadual, Carlão Pignatari. No documento, a CNBB rejeita “fortemente as abomináveis agressões” proferidas no último dia 14 de outubro, dia de seu aniversário de 69 anos de presença e serviços ao Brasil, pelo deputado estadual Frederico D’Avila, da Tribuna da ALESP.

No vídeo abaixo, o presidente da CNBB, dom om Walmor Oliveira de Azevedo manifesta sua indignação e presta apoio ao Papa Francisco e ao arcebispo de Aparecida.

https://youtu.be/aD4Ke20wSNU

O político, diz a carta, agiu com ódio descontrolado e desferiu ataques ao Santo Padre o Papa Francisco, à própria CNBB e ao arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes. A CNBB defende que, com esta atitude, o deputado “feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes” e vai buscar uma reparação jurídica a ser corrigida “pelo bem da democracia brasileira”.

Na Carta Aberta, a CNBB afirma se ancorar, profeticamente, sem medo de perseguições, no princípio contido na Gaudium et Spes (“Alegria e Esperança” em latim) sobre o papel da Igreja no mundo contemporâneo, a única constituição pastoral e a 4ª das constituições do Concílio Vaticano II:

“a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76)

A CNBB busca agora, por meio da presidência de seu regional Sul 1, um agenda para entregar pessoalmente o documento ao presidente da ALESP, deputado Carlão  Pignatari. Confira, abaixo, a íntegra do documento em versão word e aqui em versão PDF.

CARTA ABERTA

P – Nº. 0325/21

Exmo. Sr.
Deputado Estadual Carlão Pignatari
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
Cidadãos e cidadãs brasileiros

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nesta casa legislativa e diante do Povo Brasileiro, rejeita fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D’Avila, no último dia 14 de outubro, da Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes.

Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz.

A CNBB se ancora, profeticamente, sem medo de perseguições, no seguinte princípio: a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).

Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.

A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis. As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar – protagonista desse lastimável espetáculo – serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem – de modo exigente nos termos da Lei.

Nesta oportunidade, registramos e reafirmamos o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil. A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência – postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres.
Em Cristo Jesus, “Caminho, Verdade e Vida”, fraternalmente,

Brasília-DF, 16 de outubro de 2021

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte, MG
Presidente

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

E o que salvará o cristianismo?

Pascal Deloche / Godong
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

É fato que os dados demográficos indicam uma aparente derrocada do cristianismo no continente em que se desenvolveu.

O Papa Francisco deu início a um audacioso projeto de consulta a toda a comunidade católica para a realização da próxima Assembleia do Sínodo dos Bispos. Valorizou particularmente três palavras: encontrar, escutar e discernir – mas para aprofundar essas palavras é melhor ler a própria homilia do Papa. Aqui, gostaria de refletir sobre o catastrofismo, o voluntarismo e a politização que frequentemente acompanham essa discussão. E, desde já, retomo a resposta da pergunta do título: o que salva o cristianismo, em todos os tempos e situações, é sempre a graça de Deus – ainda que se valha de nós para a sua realização.

As demografias e os corações

É fato que os dados demográficos indicam uma aparente derrocada do cristianismo no continente em que se desenvolveu, a Europa. No Brasil, a redução do número de católicos é, em grande parte, compensada pelo aumento de fiéis das Igrejas neopentecostais, de tal modo que a proporção de cristãos na população não diminui muito. Nos países europeus, contudo, a redução também afeta as denominações protestantes, de modo que há um aumento da proporção dos que se declaram ateus ou agnósticos. Isso aponta para um dado interessante: muitas das mudanças que são continuamente pedidas à Igreja Católica, sob a alegação de serem necessárias para sua sobrevivência, como o casamento dos pastores ou a formação de um clero feminino, já acontecem em muitas denominações protestantes, sem que isso implique necessariamente numa maior resistência ao processo de secularização…

Esses dados demográficos são muito significativos. Têm muito a ver com o processo de cancelamento cultural e de negação dos valores cristãos que acontece na maioria dos países de tradição cristã. Mas escondem um dado fundamental: mostram a aparência externa, não o coração do ser humano. Baseiam-se normalmente em enquetes onde se pergunta qual a confissão religiosa da pessoa, se participa ou não de alguma celebração semanal. Mas quem pode garantir que a religião professada corresponde à fé vivida no coração da pessoa? Mesmo a participação ao culto dominical, particularmente no passado, nas sociedades predominantemente católicas, para muitos era apenas uma obrigação social…

O mundo está cheio de “cristãos de fachada”. Isso não deveria nos escandalizar, nem deveríamos condenar essas pessoas. O cristianismo por tradição, em oposição àquele por convicção, é a consequência de um erro histórico das comunidades cristãs: acreditar que o poder social e institucional poderia converter as pessoas, que a crença religiosa poderia ser negociada junto com outros sinais de status social e até determinar quais direitos seriam reconhecidos.

De certa forma, as dificuldades que vivemos hoje em ambientes com uma mentalidade até anticristã são uma graça que nos dá a possibilidade de aderir a Cristo de uma forma mais genuína, motivados por um encontro mais verdadeiro e não por convenções sociais. Nesse sentido, só Deus, que conhece o nosso coração melhor do que nós mesmos, pode dizer se a redução demográfica da porcentagem de cristãos declarados corresponde a uma redução da porcentagem de corações animados pela fé.

Mesmo essa reflexão, quando nos preocupamos com o aumento ou redução do número de convertidos a Cristo, ainda pode ser um sinal do “homem velho” dentro de nós, uma condição em que ainda pensamos nossa fé em termos de aceitação social e conformidade das normas sociais às nossas convicções. São Paulo, em sua Carta ao Filipenses, mostra em palavras comoventes como a graça de viver e anunciar a companhia de Cristo supera todas as tribulações que enfrentamos na vida social (cf. Fl 1, 1-30; Fl 3, 8-16).

A disputa pelo poder, a serviço do Mal

Temos frequentemente uma tendência voluntarista de pedir mudanças estruturais para resolver as situações. No fundo, acreditamos que os problemas são consequência da conivência ou da má vontade das autoridades. Bastaria que elas mudassem as estruturas para eles se solucionassem. Mudanças estruturais são fundamentais para que os problemas sejam resolvidos, mas elas não são uma solução e sim o resultado de uma solução já em ato. Os problemas da vida em sociedade, sejam políticos, econômicos ou eclesiais, são muito complexos e não se resolvem de forma simplista. Pessoas bem-intencionadas e comprometidas são fundamentais, mas nada garante que elas saberão tomar as melhores decisões diante das dificuldades. O Papa Francisco insiste, em várias ocasiões, que o importante é iniciar processos, pois é neles que a mudança acontece. As transformações que realmente trazem a novidade desejada não se dão por decisões voluntaristas, mas dentro de processos.

Os relatos históricos, algumas vezes, nos fazem ter a impressão de que o Concílio Vaticano II, por exemplo, se deu por uma decisão intempestiva de São João XXIII e que tudo mudou a partir dali. Aliás, pensamos que tudo deveria ter mudado e que as mudanças que não ocorreram se devem à vontade de algumas autoridades reacionárias. Mas, pelo contrário, o Concílio é o fruto de um largo processo de reflexão e amadurecimento da comunidade católica, o século XX contou com uma infinidade de grandes teólogos e pensadores que foram repensando a presença da Igreja na atualidade. E esse processo ainda não terminou, esse convite do Papa Francisco não é “o retorno” do espírito do Concílio, mas sim mais uma etapa da longa caminhada, cheia de avanços e tropeços, de reproposição da Igreja ao mundo de hoje.

Essa visão voluntarista das mudanças estruturais vem acompanhada de uma série de posicionamentos políticos em relação à vida da Igreja. Se o problema é uma estrutura inadequada, que não muda em função da vontade de algumas autoridades, a solução é uma luta política que afaste essas pessoas e coloque outras, que pensam como nós, no poder. Essa é justamente a porta pela qual o diabo, aquele que divide e afasta de Deus, entra no interior da Igreja e do coração daqueles que a amam e gostariam de ajudá-la a melhorar. Passamos a imaginar que é o poder humano e não a graça divina que faz as coisas melhorarem na Igreja.

O exemplo de “Querida Amazônia”

No início dessa consulta do Sínodo, que representa uma nova etapa no longo processo de reproposição da Igreja ao mundo de hoje, não é demais recordar que a primeira mudança que ocorre na Igreja é aquela que acontece em nosso coração. Quanto mais nos convertemos ao amor de Cristo, quanto mais propomos o essencial a nossos irmãos, mais felizes somos e melhor será a Igreja. Além dos inúmeros textos que estão saindo com relação ao próprio Sínodo, alguns já citados no início desse artigo, vale a pena rever o “sonho eclesial” de Francisco para a “Querida Amazônia” (QA 61ss).

É pedagógico, para todos nós, ver como o Papa retoma os desafios para a presença eclesial naquela região, apontados numa consulta popular que lembra essa atual do Sínodo, mostrando como eles podem ser superados com uma fidelidade maior ao anúncio do Evangelho. Francisco não desvincula o espiritual do social, não deixa de constatar a necessidade de novas estruturas para novos tempos, mas deixa claro como a pessoa convertida a Cristo é o verdadeiro instrumento de Deus para a construção da sua Igreja.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O AMOR E A LOUCURA ANDAM JUNTAS

Crédito: Blog de Língua Portuguesa

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)

 Início a minha reflexão com uma estória: “A Loucura resolveu convidar os amigos para tomar um café em sua casa. Todos os convidados foram. Após o café, a Loucura propôs: – Vamos brincar de esconde-esconde? -Esconde-esconde? O que é isso? – perguntou a Curiosidade. – Esconde-esconde é uma brincadeira. Eu conto até cem e vocês se escondem. Ao terminar de contar, eu vou procurar, e o primeiro a ser encontrado será o próximo a contar. Todos aceitaram, menos o Medo e a Preguiça. – 1,2,3…- a Loucura começou a contar. A Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer. A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore. A Alegria correu para o meio do jardim. Já a Tristeza começou a chorar, pois não encontrava um local apropriado para se esconder. A Inveja acompanhou o Triunfo e se escondeu perto dele debaixo de uma pedra. A Loucura continuava a contar e os seus amigos iam se escondendo. O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava no noventa e nove. – CEM! – gritou a Loucura. – Vou começar a procurar… A primeira a aparecer foi a Curiosidade, já que não aguentava mais querendo saber quem seria o próximo a contar. Ao olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em qual dos lados ficar para melhor se esconder. E assim foram aparecendo a Alegria, a Tristeza, a Timidez… Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou: – Onde está o Amor? Ninguém o tinha visto. A Loucura começou a procurá-lo. Procurou em cima da montanha, nos rios, debaixo das pedras e nada do Amor aparecer. Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou um pauzinho e começou a procurar entre os galhos, quando de repente ouviu um grito. Era o Amor, gritando por ter furado o olho com um espinho. A Loucura não sabia o que fazer. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para sempre.  O Amor aceitou as desculpas. Hoje, o Amor é cego e a Loucura o acompanha sempre”. 

A última frase dessa estória é uma conclusão e contém uma afirmação:  Conclui que o amor é “cego” e afirma que a “loucura” acompanha o amor. Mas deixa tudo em aberto, para que nós nos perguntemos: Por que o amor é “cego”? por que a “loucura” acompanha o amor? Ensaio aqui uma resposta às duas questões sob o prisma da boa nova cristã. 

Por que o amor é “cego”? Jesus de Nazaré ensinou que o amor cristão “não enxerga” (quem não enxerga é “cego) as limitações do amado. Enxerga tão somente o amado a ser amado. Ama gratuitamente. Chega a amar o amado por causa de suas limitações e não por seus acertos. Pois, Jesus de Nazaré viveu o amor “cego” como ele ensinou. Amou não levando em conta as “limitações” do ser humano. Como Deus “nascido numa gruta de animais” assumiu a natureza humana limitada, viveu 30 anos escondido numa família, pregou a boa nova aos “pequenos e simples”, pediu que fosse “dado a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, sujeitou-se a não ter “onde reclinar a cabeça”, abraçou a cruz e a morte de cruz… tudo isso, amando gratuitamente – como “cego”, por causa dos pecados da humanidade e em vista da sua redenção. Que cenário de gratuidade – “cegueira” – do amor! Eis um amor “cego” e por isso salvador. 

Por que a “loucura” acompanha o amor? Jesus de Nazaré ensinou que o amor cristão não caminha apenas segundo as razões, segundo os desejos, segundo as regras, segundo os interesses, segundo os direitos, segundo as compensações (não caminhar segundo as razões… é “loucura”). O amor cristão caminha colocando tudo em função do amado; coloca o “sábado para o homem e não o homem para o sábado”. Ama desinteressadamente. Chega amar o amado por causa de suas feridas e não por causa de suas belas e razoáveis aparências. Pois, Jesus de Nazaré viveu o amor “desinteressado” como ele ensinou. Amou não levando em conta apenas as “razões” do ser humano. Como Mestre da “vida plena para a qual veio” escolheu “pescadores e publicanos” para discípulos e apóstolos, conviveu com pecadores discriminados, curou leprosos marginalizados, acolheu prostitutas desprezadas, identificou o Reino de Deus com as crianças “pequenas e simples” (e não com não-crianças “grandes e complicadas”), corrigiu a religião “hipócrita e vazia”, deixou-se condenar pelo poder mundano e falso, caminhou para o calvário sob o peso da cruz dos malvados, morreu como “grão de trigo” inocente, deixou o sepulcro como ressuscitado… tudo isso, amando desinteressadamente – como “louco”, por causa dos pecados da humanidade e em vista da sua redenção. Que espetáculo de desinteresse – “loucura” – do amor! Eis um amor “louco” e por isso salvador. 

Em Jesus de Nazaré “o Amor cegado pelo espinho e a Loucura seguidora do Amor” tornou-se real! Que em nós cristãos também o Amor e a Loucura andem juntas! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

“Revelações ou A luz fluente da divindade”

Foto: ALETEIA
Por Vanderlei de Lima

Os apaixonados pela espiritualidade monástica – de dentro e de fora dos mosteiros – são brindados com este rico tesouro da mística cisterciense feminina do século XIII.

“Revelações ou A luz fluente da divindade” – Este é o título, em português, da obra de Matilde (ou Mechitildes) de Magdeburg, mística cisterciense do século XIII, que a Editora Vozes acaba de publicar com 387 páginas.

Nasceu ela entre 1207 e 1210. Bem dotada por natureza, adquiriu vasta cultura. Por ordem de seu confessor, a partir de 1250 – durante 30 anos, portanto – escreveu a obra Lux divinitatis fluens in corda veritatis, que, ao pé da letra, poderia ser traduzida por A luz da Divindade que flui para os [ou nos] corações da verdade, mas apareceu, agora, como A luz fluente da divindade.

Matilde era beguina (mulher que, sem votos religiosos, vivia em comunidade rezando e exercendo a caridade) de Magdeburg. Aí adquiriu grande prestígio, mas não lhe faltaram inimigos por denunciar: os vícios do clero, da Igreja e do Império. Buscando solidão e tranquilidade, retirou-se, já mais velha, para o cenóbio de Helfta. Nesse mosteiro, terminou de escrever sua obra. Faleceu entre 1282 e 1294. 

Ainda que tenha escrito num alemão medieval elevado, sendo uma das primeiras escritoras em língua vernácula, o texto nos foi transmitido em dupla versão: uma latina – com seis livros –, realizada, ao que parece, no convento dominicano de Halle, e a outra, em alemão, que contém sete livros. É a versão alemã que a Editora Vozes entrega ao público. Dela extraímos, a título de estímulo aos leitores, um breve trecho sobre o pecado.

Matilde afirma que pecar não é da natureza humana, mas algo diabólico: “Certas pessoas eruditas dizem que é humano pecar. Em todas as tentações do meu corpo pecaminoso – com todo o sentir do meu coração, com toda a percepção da minha razão e com toda a nobreza de minha alma – nunca consegui chegar a outro reconhecimento senão este: é diabólico pecar. O pecado pode ser grande ou pequeno, mas o diabo sempre está presente. Além disso, o diabólico que acatamos por vontade livre causa-nos um dano maior do que toda a nossa natureza humana. Como humanos, acomete-nos o seguinte: fome, sede, calor, frio, tormento, miséria, tentação, sono, cansaço – Cristo também sofreu isso em seu próprio corpo, Ele que foi um homem igual a nós e por nossa causa. Mas se o pecado pertencesse à existência humana, Cristo necessariamente também teria pecado. Isso porque Ele era um verdadeiro ser humano no corpo, um homem justo na sabedoria, um homem constante na virtude e um homem perfeito no Espírito Santo. Além disso, era um Deus eterno na verdade eterna e não um pecador. Se quisermos nos tornar iguais a Ele devemos viver como Ele viveu ou ser salvos por meio do arrependimento” (p. 190-191). Que profundidade teológica!

Não podemos deixar de observar, no entanto, que o livro não traz Introdução nem explicativas notas de rodapé. Ambos os recursos ou ao menos um deles melhor contextualizaria o leitor da obra que, por ser do século XIII e tratar de temas religiosos diversos, pode tornar-se de árdua compreensão. Notamos ainda que algumas expressões deveriam ser melhoradas em sua tradução: na página 289, em vez de “salubre”, o correto seria salutar; na 364, no lugar de “Cristandade”, poderia ser Cristianismo; na 367, o ideal seria colocar vírgula após cada hora litúrgica; na 92, é muito estranha a qualificação de Nossa Senhora como “deusa”; na 300, troque-se “abençoar-se” por benzer-se; na 327, é mais condizente celeireira do que “administradora”; na 274, troque-se “beata” por bem-aventurada; nas páginas 140, 205, 245, 305, divindade fica melhor que “deidade”; na 2ª aba, escreva-se mosteiro e monjas de Helfta no lugar de “convento” e “freiras” etc. Tais lapsos – que demonstram certa imperícia do tradutor e do revisor em termos específicos do monaquismo – não atrapalham a obra como um todo, mas devem ser corrigidos numa próxima edição.

Como quer que seja, os apaixonados pela espiritualidade monástica – de dentro e de fora dos mosteiros – só têm a parabenizar a Editora Vozes por brindar-nos com este rico tesouro da mística cisterciense feminina do século XIII.

Mais informações aqui.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Missionários protestantes são sequestrados no Haiti

Imagem ilustrativa / Crédito: James (Unsplash)
Por Matt Hadro

PORTO PRÍNCIPE, 18 out. 21 / 08:57 am (ACI).- 17 missionários protestantes e suas famílias foram sequestrados no Haiti neste sábado, 16 de outubro.

Os missionários fazem parte do Christian Aid Ministries, com sede em Ohio, Estados Unidos, e foram sequestrados quando visitavam um orfanato.

Christian Aid Ministries, em uma atualização publicada em seu site na tarde de 17 de outubro, pediu orações por uma "resolução" da situação.

O ministério evangélico disse que o grupo inclui cinco homens, sete mulheres e cinco crianças. Quase todos os sequestrados são cidadãos americanos, e um é cidadão canadense.

“Como organização, confiamos esta situação a Deus e confiamos que Ele nos ajudará. Que o Senhor Jesus seja exaltado e muito mais pessoas conheçam Seu amor e salvação”, disse a organização.

Segundo o jornal americano The Washington Post, uma pessoa que conhece a situação disse que um dos missionários sequestrados teria conseguido enviar uma mensagem através do WhatsApp: "Por favor, rezem por nós, estamos sendo pegos como reféns, eles sequestraram nosso motorista, não sei para onde estão nos levando”.

A agência de notícias Associated Press informou que, segundo um policial local, o grupo criminoso "400 Mawozo" seria o responsável pelo sequestro. A mesma gangue esteva por trás do sequestro de padres e religiosos católicos em abril deste ano.

Em seu site, o Christian Aid Ministries afirma que serve como “um canal para amish, menonitas e outras pessoas e grupos anabatistas conservadores”, para levar ajuda àqueles que necessitam ao redor do mundo.

A organização leva ajuda a países como Haiti e Cazaquistão, ao mesmo tempo que promove o evangelismo em anúncios nos Estados Unidos, e oferece assistência a objetores de consciência em casos de recrutamento militar naquele país.

O Haiti foi atingido por desastres naturais, crises políticas e violência relacionada ao crime, bem como sequestros, nos últimos meses. Jovenel Moïse, presidente do Haiti, foi assassinado em sua casa em julho deste ano, enquanto um terremoto de magnitude 7,2 atingiu o país em agosto.

Em abril, 10 padres e religiosos católicos foram sequestrados na cidade de Croix-des-Bouquets. A gangue criminosa que se autodenomina "400 Mazowo" exigiu um milhão de dólares por sua libertação.

Três dos reféns foram libertados no mesmo dia, enquanto os outros sete foram libertados após várias semanas. Não se sabe se o resgate foi pago.

Na ocasião, a arquidiocese de Porto Príncipe, na capital haitiana, alertou em um comunicado que a violência de grupos criminosos no país atingiu níveis "sem precedentes".

Fonte: https://www.acidigital.com/

Violência gera violência: o apelo de Francisco pela paz

Crime na Noruega causou comoção nacional | Vatican News

"Eu lhes peço, por favor, que abandonem a via da violência, que é sempre perdedora, que é uma derrota para todos. Lembremo-nos que violência gera violência", disse o Papa citando atentados dos últimos dias em vários países.

Vatican News

Ao final do Angelus, o Papa Francisco manifestou seu pesar pelos atentados ocorridos na Noruega, Afeganistão e Inglaterra, que provocaram inúmeros mortos e feridos. Ao expressar sua proximidade aos familiares das vítimas, fez o seguinte apelo:

“Eu lhes peço, por favor, que abandonem a via da violência, que é sempre perdedora, que é uma derrota para todos. Lembremo-nos que violência gera violência.”

Na Noruega, cinco pessoas morreram, e duas ficaram feridas num ataque com arco e flechas em Kongsberg, que provocou uma grande comoção nacional. No Afeganistão, várias explosões sucessivas deixaram pelo menos 40 mortos e quase uma centena de feridos em uma mesquita xiita em Kandahar, a principal cidade do sul do país. Na Inglaterra, o parlamentar inglês David Amess morreu depois de ser esfaqueado em uma igreja em Essex, condado do leste do país.

A coragem de testemunhar o Evangelho

O Pontífice mencionou também a beatificação, em Córdova, do sacerdote Juan Elías Medina e de 126 companheiros mártires: sacerdotes, religiosas, seminaristas e leigos assassinados por ódio à fé durante a perseguição religiosa da década de 1930 na Espanha.

“Que a fidelidade deles dê a força a todos nós, especialmente aos cristãos perseguidos em várias partes do mundo, a força de testemunhar o Evangelho com coragem”, disse o Papa, pedindo o aplauso dos fiéis aos novos beatos.

Francisco agradeceu ainda à Fundação “Ajuda à Igreja que sofre” pela iniciativa de oração do terço com as crianças de todo o mundo pela paz e a unidade. “Encorajo esta campanha de oração, que este ano de modo especial é confiada à intercessão de São José. Obrigado a todas as crianças que participam!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/

São Lucas

São Lucas | arquisp
18 de outubro

São LUCAS, EVANGELISTA, MÉDICO, PADROEIRO DOS ARTISTAS

Um escrito do século II, que estudos recentes consideram historicamente verídico, sintetiza do seguinte modo o perfil deste santo evangelista: “Lucas, um sírio de Antioquia, médico de profissão, discípulo dos apóstolos, mais tarde seguiu são Paulo até a confissão (martírio) deste. Serviu irrepreensivelmente ao Senhor, jamais tomou mulher, nem teve filhos. Morreu aos 84 anos, na Boécia, cheio do Espírito Santo”.

Das notas de viagem, isto é, dos Atos dos Apóstolos, no qual Lucas fala na primeira pessoa, apreendemos todas as notícias que a ele dizem respeito, além de breves acenos nas cartas de são Paulo — o apóstolo ao qual, mais do que a qualquer outro, estava ligado por fraterna amizade.

“Saúda-vos Lucas, médico amado”, lê-se na Carta aos Colossenses. A profissão de médico pressupõe uma boa cultura. Realmente, em seus escritos se revela um homem culto, com inclinações artísticas e bons dotes literários. Com são Paulo realizou a segunda viagem missionária de Trôade a Filipos, por volta do ano 50. Em Filipos deteve-se um par de anos para consolidar o trabalho do Apóstolo, após o qual voltou a Jerusalém.

Foi de novo companheiro de viagem de são Paulo e compartilhou com ele a prisão em Roma.
Os cristãos orientais atribuem ao “médico pintor”, Lucas, numerosos quadros representando a Virgem. Em seu evangelho, escrito em um grego fluente e límpido, Lucas traça a biografia da Virgem e fala da infância de Jesus. Revela-nos os íntimos segredos da Anunciação, da Visitação e do Natal, fazendo-nos entender que conheceu pessoalmente a Virgem, a ponto de alguns exegetas considerarem que tenha sido Maria quem lhe transcreveu o Magnificat. É Lucas mesmo quem afirma ter feito pesquisas e pedido informações sobre fatos relativos à vida de Jesus junto àqueles que deles foram testemunhas. Só Maria podia ser testemunha da Anunciação e dos fatos que se seguiram.

Lucas conhecia os evangelhos de Mateus e Marcos quando começou a escrever o seu, antes do ano 70. Julgava que ao primeiro faltava uma certa ordem no desenvolvimento dos fatos e considerava o segundo por demais conciso.

Como diligente estudioso, Lucas, depois de ter documentado escrupulosamente as notícias da vida de Jesus “desde o início”, quis narrá-la novamente de forma ordenada, de modo que os fatos e ensinamentos progredissem pari passu como a realidade.

Deu prova da mesma agradável fluência narrativa também na redação dos Atos dos Apóstolos.
Três cidades se ufanam de conservar suas relíquias: Constantinopla, Pádua e Veneza.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

domingo, 17 de outubro de 2021

FILOSOFIA: Nove maneiras de como se não deve falar de Deus

Foto: Canção Nova - Formação

Nove maneiras de como se não deve falar de Deus

Por Raimon Panikkar

Os nove pontos seguintes são um contributo para resolver um conflito que faz de muitos dos nossos contemporâneos um grupo à parte. De facto, parece que muita gente não é capaz de resolver o seguinte dilema: ou acreditar na caricatura de Deus que não é mais do que a projecção dos seus desejos insatisfeitos, ou não acreditar em nada em absoluto e, consequentemente, nem em si mesmos.

Pelo menos desde Parmênides, a maior parte da cultura ocidental tem-se centrado à volta da experiência-limite do Ser e da Plenitude. Grande parte da cultura oriental, por sua vez, pelo menos a partir dos Upanixades, centra-se à volta da consciência-limite do Nada e do Vazio. A primeira é atraída pelo mundo das coisas enquanto nos revelam a transcendência da Realidade. A segunda é atraída pelo mundo do subjectivo o qual nos revela a impermanência dessa mesma verdadeira Realidade. Ambas se preocupam com o problema da "finalidade", o fim último a que muitas tradições chamaram Deus.

As nove breves reflexões que se seguem nada dizem acerca de Deus. Em vez disso, desejariam apenas indicar a que circunstâncias o discurso sobre Deus tem de ser adequado e mostrar-se eficaz, se se quiser manter útil para nos ajudar a viver nossas vidas de uma maneira mais plena e mais livre. Não procedemos desta maneira para evitarmos abordar "isso" que é Deus, mas talvez por termos uma profunda intuição: não podermos falar de Deus da mesma maneira como falamos de outras coisas.

É importante que se tenha em conta o facto de que a maioria das tradições humanas falam de Deus tão só no vocativo. Deus é uma invocação.

As nove facetas que esta reflexão apresenta é um esforço para formular nove pontos, os quais, quanto a mim, deveriam ser aceites como base para o diálogo que os homens não podem por muito mais tempo adiar sob pena de se reduzirem a nada mais do que robôs programados. Em cada ponto acrescentei apenas alguns comentários, concluindo com citações da tradição cristã as quais servem apenas de ilustração.

1. Não podemos falar de Deus sem primeiro ter alcançado um silêncio interior

Assim como é necessário fazer uso de um acelerador de partículas e de matrizes matemáticas para falar com conhecimento de causa de elétrons, necessitamos, para falar de Deus, de uma pureza de coração que nos permitirá ouvir a Realidade sem outra interferência que a auto-investigação. Sem este silêncio do processo mental, não podemos elaborar qualquer discurso sobre Deus que não se reduza a uma simples extrapolação mental. Sem esta condição nós estaremos apenas a projetar as nossas próprias preocupações, boas ou más. Se procurarmos Deus com o fito de fazer uso do divino para qualquer coisa, estamos a ultrapassar a ordem da Realidade. Diz o Evangelho: "Quando orares, procura a mais profunda e a mais silenciosa parte da tua casa."

2. Falar sobre Deus é um discurso suigêneris

É radicalmente diferente do discurso sobre outra coisa qualquer, porque Deus não é uma coisa. Fazer de Deus uma coisa seria fazer de Deus um ídolo, mesmo que se trate de um ídolo mental.

Se Deus fosse apenas uma coisa, escondida ou superior, uma projecção do nosso pensamento, não seria necessário dar a "isso" um nome. Poder-se-ia com vantagem falar de um super-homem, uma super causa, uma meta-energia, ou meta-pensamento ou não sei o quê de outra coisa qualquer. Não seria necessário, em ordem a imaginar um arquiteto inteligentíssimo que outro não pudesse igualar ou um arquiteto de engenho inultrapassável, usar o termo "Deus"; bastaria falar do super desconhecido por de trás de todas as coisas que não conhecemos. É este o Deus das "descontinuidades" , o Deus dos espaços entre as matérias, cuja retirada estratégica tem vindo a ser revelada mais ou menos nestes três últimos séculos. "Não dirás o nome de Deus em vão", diz a Bíblia.

3. O discurso acerca de Deus é um discurso sobre o nosso ser todo inteiro.

Não é matéria de pressentimento, "feeling", da razão, do corpo, de ciência, de filosofia acadêmica e/ou de teologia. A experiência humana, em todos os tempos sempre procurou exprimir um "algo" de outra ordem que é "um mais" tanto na base como no fim de tudo o que somos, sem excluir ninguém. Deus, se Deus "existe", não está à esquerda, nem à direita, nem acima nem abaixo seja qual for o sentido destas palavras. "Deus não faz distinção entre pessoas", diz São Pedro.

4. Não é um discurso acerca de qualquer igreja, religião ou ciência.

Deus não é monopólio de qualquer tradição humana mesmo daquelas que a si mesmas se intitulam de teístas ou das que se consideram religiões. Todo e qualquer discurso que tenta tornar Deus prisioneiro de uma ideologia seja ela qual for é um discurso sectário.

É inteiramente legítimo definir o campo semântico das palavras, mas quem limitar o campo de "Deus" à idéia que um dado grupo humano faz do divino acaba sempre por defender uma concepção sectária de Deus. Se existe "alguma coisa" que corresponde ao termo "Deus", não o podemos confinar a nenhum "apartheid".

Deus é o Todo (to pan); A Bíblia hebraica diz isso; também as Escrituras cristãs repetem o mesmo.

5. É um discurso que sempre corresponde à expressão de uma fé

É impossível falar sem a linguagem. Do mesmo modo, não há linguagem que se não adapte a esta ou àquela crença. Contudo, nunca se deve confundir o Deus do qual falamos com a linguagem ou a crença que dá expressão ao Deus em que acreditamos. Existe uma relação transcendental entre o Deus que a linguagem simboliza e aquilo que nós atualmente sabemos acerca de Deus. A tradição ocidental falou freqüentemente de misterium – palavra que não significa nem enigma nem desconhecido.

Toda a linguagem é condicionada pela cultura e a ela está ligada. Mais, a linguagem depende do contexto concreto o qual, por sua vez e ao mesmo tempo a alimenta de significações e lhe determina os limites do campo significativo. Precisamos de um dedo, olhos e de um telescópio a fim de localizar a lua, mas não a podemos identificar com o sentido que aqueles instrumentos indicam. É preciso ter em conta a intrínseca inadequação de todas as formas de expressão. Por exemplo, as provas da existência de Deus que foram desenvolvidas no período da escolástica cristã só podem demonstrar aos que crêem em Deus que a existência do divino não é uma irracionalidade. Se assim não fora, como poderiam ser capazes de saber que a prova demonstrava aquilo de que precisamente andavam à procura?

6. É um discurso acerca do símbolo e não do conceito

Não se pode fazer de Deus o objeto de qualquer conhecimento ou de qualquer crença. Deus é um símbolo simultaneamente revelado e escondido no símbolo de tudo aquilo que vamos exprimindo enquanto falamos. O símbolo é símbolo porque simboliza e não por causa de ser interpretado como tal. Não há hermenêutica possível para um símbolo porque é ele próprio a hermenêutica. Aquilo de que fazemos uso para interpretar é o próprio símbolo.

Se a linguagem fosse apenas um instrumento para designar objetos, nunca seria possível um discurso sobre Deus. Os humanos não falam apenas para transmitir informação, mas porque sentem uma necessidade intrínseca de falar – quer dizer, para viver em pleno, participando linguisticamente num dado universo.

"Nunca ninguém viu Deus", disse S. João.

7. Falar sobre Deus é, necessariamente, um discurso polissêmico.

Trata-se de um discurso que não pode ser limitado a uma sentença estritamente analógica. Não pode haver desse discurso um primum analogatum uma vez que não pode haver uma meta-cultura a partir da qual se possa continuar o discurso. Se uma houvesse seria uma cultura. Existem muitos conceitos sobre Deus, mas nenhum é "conceito de" Deus. Isto significa que procurar limitar, definir ou conceber Deus é um empreendimento contraditório: o produto de um tal procedimento seria apenas uma criação do espírito, uma criatura.

"Deus é maior que o nosso coração", diz São João numa das suas epístolas.

8. Deus não é o único símbolo para indicar o que o termo «Deus» deseja transmitir.

O pluralismo é inerente, em última análise, à condição humana. Não podemos "compreender" ou significar o que a palavra "Deus" representa na óptica de uma única perspectiva ou mesmo a partir de um único princípio de inteligibilidade. Na verdade nem a palavra "Deus" é necessária. Toda a tentativa para tornar absoluto o termo "Deus" destrói as ligações não só com mistério divino (que deixaria assim de ser absoluto – isto é sem dependência relacional de qualquer espécie), mas com os homens e com as mulheres daquelas culturas que não sentem a necessidade deste símbolo. O reconhecimento de Deus caminha sempre com a experiência da contingência humana e com a própria contingência do conhecimento de Deus, uma atrás da outra.

O catecismo cristão resume isto dizendo que Deus é infinito e imenso.

9. É um discurso que inevitavelmente se completa a si mesmo outra vez num novo silêncio.

Um Deus que fosse completamente transcendente – o que poderia significar querer falar sobre um tal Deus? – tornar-se-ia supérfluo, ou até mesmo uma hipótese perversa. Um Deus inteiramente transcendente levaria a negar a imanência divina e ao mesmo tempo destruiria a transcendência humana. O mistério divino é inefável e não há discurso que o possa descrever.

É característica humana reconhecer que a própria experiência é limitada não só no sentido linear em direção ao futuro, mas também intrinsecamente nos alicerces que a sustenta. Não há experiência, a não ser que sabedoria e amor, se unam, corporalmente e temporalmente. "Deus" é uma palavra que agrada a algumas pessoas e desagrada a outras. Esta palavra, ao irromper no silêncio da existência, permite-nos redescobrir uma vez mais esse silêncio. Nós somos, cada um de nós é, uma existência de uma "sistência" que permite polongarmo-nos pelo tempo fora, estendermo-nos pelo espaço, consubstancial com o resto do universo quando insistimos em viver, caminhando em frente à procura, resistindo à cobardia e à frivolidade, subsistindo precisamente neste mistério a que muitos chamam Deus e outros preferem não nomear.

"Recolhe-te no silêncio e sabe que eu sou Deus", declara um Salmo.

Haverá quem lamente que eu tenha uma idéia demasiado precisa de Deus, mesmo que suponha que eu haja aqui escrito alguma coisa de acertado. Desejaria responder que, pelo contrário, eu tenho uma idéia muito precisa do que Deus não é – e mesmo esta idéia não se subtrai ao ataque crítico destes nove pontos. Mas apesar disto, não se trata de um circulo vicioso, mas antes, um novo exemplo do ciclo vital da Realidade. Não se pode falar da realidade fora da realidade nem fora do pensamento, tal como é impossível amar sem amor. Talvez o mistério divino dê sentido a todas estas palavras. A experiência do divino mais simples e despretensiosa consiste na tomada de consciência de tudo aquilo que quebra o nosso isolamento (solipsismo) ao mesmo tempo que respeita a nossa solidão (identidade).

Por Raimon Panikkar

O texto em inglês disponível em http://www.aril.org/panikkar.htm

ADVERTÊNCIA só minha, o responsável por esta página


Fonte: https://www.ecclesia.org.br/

Uma alma do Purgatório te agradecerá por isto

Zvonimir Atletic | Shutterstock
Por Cláudio de Castro

Podemos fornecer uma ajuda enorme a um falecido. Mas você sabe como fazê-lo?

purgatório é real. Se você morrer com pecados veniais, passará algum tempo purgando-os, purificando-os, até que sua alma, livre de pecados, possa ir para o Céu.

Santa Faustina Kowalska teve uma visão do purgatório e o descreve desta maneira:

Eu vi o Anjo da Guarda, que me disse para segui-lo. Em um ponto, encontrei-me em um lugar nebuloso, cheio de fogo, e havia uma multidão de almas sofredoras lá. Essas almas estavam orando com grande fervor, mas sem eficácia para si mesmas; só nós podemos ajudá-las.

Um padre comentou em um programa de rádio que se dedicou a tirar uma alma do purgatório por dia, rezando o Terçodiante de Jesus no sacrário.

Ele oferecia a indulgência que ganhava com a recitação desses rosários para as almas mais necessitadas da Misericórdia Divina.

Muitos santos presenciaram aparições de almas do purgatório que “com a permissão de Deus” apareceram para pedir seus favores – uma missa, a recitação do rosário… – para ajudá-las a sair daquele lugar de tormentos.

E quando elas conseguem, antes de embarcarem em sua viagem ao Paraíso, agradecem pelo imenso favor recebido.

Eu sinto que as almas no purgatório são nossas irmãs. E busco maneiras de ajudá-las. Também procuro conscientizar as pessoas sobre nossa obrigação moral de se recordar das almas do purgatório e mantê-las em nossas orações. É um ato de misericórdia que agrada muito a Deus.

São Josemaría Escrivá disse sobre elas:

As benditas almas do purgatório: levai-as muito em conta em vossos sacrifícios e orações. Espero que, quando referirdes a elas, vós possais dizer: “Minhas boas amigas, as almas do purgatório…”

Mas como ajudá-las concretamente? Existem 3 maneiras muito eficazes.

1. COM INDULGÊNCIAS

Ofereça indulgências pelas almas do purgatório. Você deve estar na graça de Deus para receber indulgências; precisa se confessar, receber a Comunhão e orar pelas intenções do Papa.

2. COM MISSAS

Pois os méritos de uma única missa são infinitos.

3. COM SUA FERVOROSA ORAÇÃO

Particularmente através da recitação do Terço.

Como ajudar os falecidos

Diz o Catecismo da Igreja:

Desde os primeiros tempos, a Igreja honrou a memória dos defuntos, oferecendo sufrágios em seu favor, particularmente o Sacrifício eucarístico para que, purificados, possam chegar à visão beatífica de Deus. A Igreja recomenda também a esmola, as indulgências e as obras de penitência a favor dos defuntos:

«Socorramo-los e façamos comemoração deles. Se os filhos de Job foram purificados pelo sacrifício do seu pai por que duvidar de que as nossas oferendas pelos defuntos lhes levam alguma consolação? […] Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer por eles as nossas orações».

CIC 1032

Eu realmente gosto de oferecer todas as infinitas graças que recebo em cada missa para as benditas almas do purgatório.

Eu sei que elas precisam e nos imploram por isso. É como se elas gritassem constantemente: “Ajudai-nos!”

Você aceitaria rezar também pelas benditas almas do purgatório? Elas precisam e vão te agradecer muito.

Reze a Deus por elas, e particularmente por aquelas que mais precisam da misericórdia divina.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Abertura da etapa arquidiocesana do Sínodo dos Bispos na Arquidiocese de Brasília

Arquidiocese de Brasília

No domingo (17), será aberta a etapa arquidiocesana do Sínodo dos Bispos na Arquidiocese de Brasília. O caminho sinodal proposto pelo Papa Francisco foi iniciado no último dia 10 de outubro e se desenvolverá até outubro de 2023. Neste vídeo, Dom Paulo Cezar, Arcebispo de Brasília, explica a proposta do Sínodo e convida todos os fiéis da Arquidiocese a participarem da abertura, no próximo domingo, às 10h30 na Catedral Metropolitana de Brasília e a caminharem juntos nessa proposta do Santo Padre.

https://youtu.be/lQcrnQcCKec

Sínodo dos Bispos

Diferente dos sínodos anteriores e, levando em conta o tema escolhido pelo Santo Padre – A Sinodalidade – a preparação para a reunião que acontecerá dentro de dois anos, recolherá experiências, participações e material advindos de todo o mundo. O caminho foi iniciado com a preparação dos documentos, textos e questionários preparados pela Secretaria do Sínodo dos Bispos, bem como a divulgação do itinerário que será percorrido pelos católicos de todo o mundo, unidos a suas dioceses, movimentos, famílias religiosas e outras realidades de vida e vocação. Em seguida, a partir do próximo domingo (17), será aberta a etapa diocesana, onde as Igrejas particulares irão se reunir para dialogar e discernir propostas que serão enviadas a próxima etapa nas Conferências episcopais, que farão uma síntese de seu país para serem apresentadas as conferências continentais que, por fim, enviarão a Roma para que, os bispos delegados para a Reunião do Sínodo em outubro de 2023 possam construir as propostas que podem auxiliar a Igreja no caminho de redescoberta de sua vivência sinodal.

Encontrar, escutar, discernir

Para iluminar o percurso destes dois anos, o Santo Padre utilizou-se do Evangelho da Liturgia do dia que relata a história do jovem rico. “Fazer Sínodo significa caminhar pela mesma estrada, caminhar em conjunto. Fixemos Jesus, que na estrada primeiro encontra o homem rico, depois escuta as suas perguntas e, por fim, ajuda-o a discernir o que fazer para ter a vida eterna. Encontrar, escutar, discernir: três verbos do Sínodo, nos quais me quero deter.” Desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco tem insistido na necessidade da cultura do encontro. Nesta homilia, o Pontífice afirma que “encontrar” é dar importância, dispensar tempo, dar espaço a oração entre os pares, além de, não ser só uma ação diante do irmão, mas também, diante de Jesus Cristo. Elaborar teorias e fazer eventos não são a prioridade, mas sim, cultivar esta cultura do encontro que torna o homem único diante do outro.

Diferente do que muitas instâncias pregam hoje, o ato de parar e escutar é uma demonstração de que o outro é importante. Jesus escuta os dilemas e os questionamentos do jovem rico e só depois apresenta a ele as soluções. Se se faz o contrário, não há frutos pois não se saberá qual a dificuldade do outro. E quando se escuta, se dialoga, se caminha junto, pode-se, então, discernir. O discernimento deve ser uma via de mão dupla, sobretudo no caminho sinodal. As reflexões são construídas em conjunto. Não se fazem a partir de um estudo particular, mas recolhendo experiências, pensamentos, angústias e alegrias para que, com várias mãos, se produza o melhor para a comunidade.

Processo de escuta

E como a experiência deste caminho sinodal será de participação de todos na Igreja, o Santo Padre não deseja escutar tão somente o clero, mas também os fiéis leigos de todo mundo, as famílias religiosas e as mais variadas experiências eclesiais, é importante saber como essas dimensões acolhem essa nova vivência. O missionário Thulio Fonseca, da comunidade Canção Nova, que serve em Roma partilha como foi sua impressão na Missa de abertura: “Algo que define o caminho sinodal é de fato o ‘caminhar juntos’, e foi isso que experimentei na abertura do Sínodo aqui no Vaticano. A experiência de unidade que nos faz ser Igreja foi o expoente que nos uniu em cada momento desta primeira etapa, e para mim a Santa Missa de abertura foi muito marcante, pois o sínodo está apenas começando, e com o envio do Papa Francisco fomos encorajados a viver isso em nossas realidades locais, dioceses, grupos paroquiais e em nossas famílias. Também a proximidade da Cúria Romana com o povo de Deus nos enche de esperança, na certeza de que esse diálogo trará belos frutos de comunhão, participação e missão para todos os batizados.”

Fonte: https://arqbrasilia.com.b

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF