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terça-feira, 19 de outubro de 2021

Documento preparatório Sínodo 2023

Uma reunião do Sínodo dos bispos | Vatican News

Documento preparatório Sínodo 2023

Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão

1. A Igreja de Deus é convocada em Sínodo. O caminho, intitulado «Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão», iniciará solenemente nos dias 9-10 de outubro de 2021, em Roma, e a 17 de outubro seguinte, em cada uma das Igrejas particulares. Uma etapa fundamental será a celebração da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, em outubro de 2023,[1] a que se seguirá a fase de execução, que envolverá novamente as Igrejas particulares (cf. EC, art. 19-21). Com esta convocação, o Papa Francisco convida a Igreja inteira a interrogar-se sobre um tema decisivo para a sua vida e a sua missão: «O caminho da sinodalidade é precisamente o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milénio».[2] Este itinerário, que se insere no sulco da “atualização” da Igreja, proposta pelo Concílio Vaticano II, constitui um dom e uma tarefa: caminhando lado a lado e refletindo em conjunto sobre o caminho percorrido, com o que for experimentando, a Igreja poderá aprender quais são os processos que a podem ajudar a viver a comunhão, a realizar a participação e a abrir-se à missão. Com efeito, o nosso “caminhar juntos” é o que mais implementa e manifesta a natureza da Igreja como Povo de Deus peregrino e missionário.

2. Uma interrogação fundamental impele-nos e orienta-nos: como se realiza hoje, a diferentes níveis (do local ao universal) aquele “caminhar juntos” que permite à Igreja anunciar o Evangelho, em conformidade com a missão que lhe foi confiada; e que passos o Espírito nos convida a dar para crescer como Igreja sinodal?

Enfrentar juntos esta interrogação exige que nos coloquemos à escuta do Espírito Santo que, como o vento, «sopra onde quer; ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai» (Jo 3, 8), permanecendo abertos às surpresas para as quais certamente nos predisporá ao longo do caminho. Ativa-se deste modo um dinamismo que permite começar a colher alguns frutos de uma conversão sinodal, que amadurecerão progressivamente. Trata-se de objetivos de grande relevância para a qualidade da vida eclesial e para o cumprimento da missão de evangelização, na qual todos nós participamos em virtude do Batismo e da Confirmação. Indicamos aqui os principais, que enunciam a sinodalidade como forma, como estilo e como estrutura da Igreja:

·         fazer memória do modo como o Espírito orientou o caminho da Igreja ao longo da história e como hoje nos chama a ser, juntos, testemunhas do amor de Deus;

·         viver um processo eclesial participativo e inclusivo, que ofereça a cada um – de maneira particular àqueles que, por vários motivos, se encontram à margem – a oportunidade de se expressar e de ser ouvido, a fim de contribuir para a construção do Povo de Deus;

·         reconhecer e apreciar a riqueza e a variedade dos dons e dos carismas que o Espírito concede em liberdade, para o bem da comunidade e em benefício de toda a família humana;

·         experimentar formas participativas de exercer a responsabilidade no anúncio do Evangelho e no compromisso para construir um mundo mais belo e mais habitável;

·         examinar como são vividos na Igreja a responsabilidade e o poder, e as estruturas mediante as quais são geridos, destacando e procurando converter preconceitos e práticas distorcidas que não estão enraizadas no Evangelho;

·         credenciar a comunidade cristã como sujeito credível e parceiro fiável em percursos de diálogo social, cura, reconciliação, inclusão e participação, reconstrução da democracia, promoção da fraternidade e da amizade social;

·         regenerar as relações entre os membros das comunidades cristãs, assim como entre as comunidades e os demais grupos sociais, por exemplo, comunidades de crentes de outras confissões e religiões, organizações da sociedade civil, movimentos populares etc.;

·         favorecer a valorização e a apropriação dos frutos das recentes experiências sinodais nos planos universal, regional, nacional e local.

3. O presente Documento Preparatório põe-se ao serviço do caminho sinodal, de modo especial como instrumento para favorecer a primeira fase de escuta e consulta do Povo de Deus nas Igrejas particulares (outubro de 2021 – abril de 2022), na esperança de contribuir para colocar em movimento as ideias, as energias e a criatividade de todos aqueles que participarem no itinerário, e facilitar a partilha dos frutos do seu compromisso. Para esta finalidade: 1) começa por delinear algumas caraterísticas salientes do contexto contemporâneo; 2) explica resumidamente as referências teológicas fundamentais para uma correta compreensão e prática da sinodalidade; 3) oferece algumas indicações bíblicas que poderão alimentar a meditação e a reflexão orante ao longo do caminho; 4) descreve certas perspectivas a partir das quais reler as experiências de sinodalidade vivida; 5) expõe determinadas indicações para articular este trabalho de releitura na oração e na partilha. Para acompanhar concretamente a organização dos trabalhos, propõe-se um Vade-mécum metodológico, anexado ao presente Documento Preparatório e disponível no site dedicado.[3] O site oferece alguns recursos para o aprofundamento do tema da sinodalidade, como apoio a este Documento Preparatório; entre eles destacamos dois, em seguida mencionados várias vezes: o Discurso na Comemoração do cinquentenário da instituição do Sínodo dos Bispos, pronunciado pelo Papa Francisco no dia 17 de outubro de 2015, e o documento A sinodalidade na vida e na missão da Igreja, elaborado pela Comissão Teológica Internacional e publicado em 2018.

I. Apelo a caminhar juntos

4. O caminho sinodal desenvolve-se num contexto histórico, marcado por mudanças epocais na sociedade e por uma passagem crucial na vida da Igreja, que não é possível ignorar: é nas dobras da complexidade deste contexto, nas suas tensões e contradições, que somos chamados «a investigar os sinais dos tempos e a interpretá-los à luz do Evangelho» (GS, n. 4). Delineiam-se aqui alguns elementos do cenário global mais intimamente ligados ao tema do Sínodo, mas o quadro deverá ser enriquecido e completado a nível local.

5. Uma tragédia global como a pandemia de Covid-19 «despertou, por algum tempo, a consciência de sermos uma comunidade mundial que viaja no mesmo barco, onde o mal de um prejudica a todos. Recordamo-nos de que ninguém se salva sozinho, que só é possível salvar-nos juntos» (FT, n. 32). Ao mesmo tempo, a pandemia fez eclodir as desigualdades e as disparidades já existentes: a humanidade parece estar cada vez mais abalada por processos de massificação e fragmentação; a trágica condição que os migrantes vivem em todas as regiões do mundo testemunha quão elevadas e vigorosas ainda são as barreiras que dividem a única família humana. As Encíclicas Laudato si' e Fratelli tutti documentam a profundidade das fraturas que atravessam a humanidade, e podemos referir-nos a tais análises para nos colocarmos à escuta do clamor dos pobres e da terra e para reconhecer as sementes de esperança e de futuro que o Espírito continua a fazer germinar inclusive no nosso tempo: «O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projeto de amor, nem se arrepende de nos ter criado. A humanidade ainda possui a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum» (LS, n. 13).

6.                      Esta situação que, não obstante as grandes diferenças, irmana toda a família humana, desafia a capacidade da Igreja de acompanhar as pessoas e as comunidades a reler experiências de luto e sofrimento, que desmascararam muitas falsas certezas, e a cultivar a esperança e a fé na bondade do Criador e da sua criação. No entanto, não podemos negar que a própria Igreja deve enfrentar a falta de fé e a corrupção, inclusive no seu interior. Em particular, não podemos esquecer o sofrimento vivido por menores e pessoas vulneráveis «por causa de abusos sexuais, de poder e de consciência cometidos por um número notável de clérigos e pessoas consagradas».[4] Somos continuamente interpelados, «como Povo de Deus, a assumir a dor de nossos irmãos feridos na sua carne e no seu espírito».[5] Durante demasiado tempo, o grito das vítimas foi um clamor que a Igreja não soube ouvir suficientemente. Trata-se de feridas profundas, que dificilmente se cicatrizam, pelas quais nunca se pedirá perdão suficiente, e que constituem obstáculos, às vezes imponentes, para prosseguir na direção do “caminhar juntos”. A Igreja inteira é chamada a confrontar-se com o peso de uma cultura impregnada de clericalismo, que ela herdou da sua história, e de formas de exercício da autoridade nas quais se insinuam os vários tipos de abuso (de poder, económico, de consciência, sexual). É impensável «uma conversão do agir eclesial sem a participação ativa de todos os membros do Povo de Deus»:[6] juntos, peçamos ao Senhor «a graça da conversão e da unção interior para poder expressar, diante desses crimes de abuso, a nossa compunção e a nossa decisão de lutar com coragem».[7]

7.                      A despeito das nossas infidelidades, o Espírito continua a agir na história e a manifestar o seu poder vivificante. É precisamente nos sulcos cavados pelos sofrimentos de todos os tipos, suportados pela família humana e pelo Povo de Deus, que florescem novas linguagens da fé e renovados percursos, capazes não apenas de interpretar os acontecimentos de um ponto de vista teologal, mas de encontrar na provação as razões para voltar a fundar o caminho da vida cristã e eclesial. É motivo de grande esperança que não poucas Igrejas já tenham iniciado encontros e processos de consulta do Povo de Deus, mais ou menos estruturados. Onde eles se distinguiram por um estilo sinodal, o sentido de Igreja voltou a florescer e a participação de todos deu renovado impulso à vida eclesial. Também encontram confirmação o desejo de protagonismo no seio da Igreja por parte dos jovens, e o pedido de uma maior valorização das mulheres e de espaços de participação na missão da Igreja, já apontados pelas Assembleias sinodais de 2018 e de 2019. Nesta linha vão também a recente instituição do ministério laical do catequista e a abertura às mulheres do acesso aos ministérios do leitorado e do acolitado.

8. Não podemos ignorar a variedade das condições em que as comunidades cristãs vivem nas diferentes regiões do mundo. Ao lado dos países em que a Igreja acolhe a maioria da população, representando um ponto de referência cultural para toda a sociedade, existem outros em que os católicos constituem uma minoria; nalguns deles os, católicos, em conjunto com outros cristãos, experimentam formas de perseguição até muito violentas, e não raro o martírio. Se, por um lado, predomina uma mentalidade secularizada que tende a eliminar a religião do espaço público, por outro lado, existe um fundamentalismo religioso que não respeita as liberdades dos outros, alimentando formas de intolerância e de violência que se refletem também na comunidade cristã e nas suas relações com a sociedade. Não raramente, os cristãos adotam as mesmas atitudes, fomentando inclusive divisões e contraposições, até na Igreja. É igualmente necessário ter em consideração o modo como as fraturas que atravessam a sociedade se repercutem no seio da comunidade cristã e nas suas relações com a própria sociedade, por razões étnicas, raciais, de casta ou devido a outras formas de estratificação social ou de violência cultural e estrutural. Tais situações têm um impacto profundo sobre o significado da expressão “caminhar juntos” e sobre as possibilidades concretas de as pôr em prática.

9. Neste contexto, a sinodalidade representa a via mestra para a Igreja, chamada a renovar-se sob a ação do Espírito e graças à escuta da Palavra. A capacidade de imaginar um futuro diferente para a Igreja e para as suas instituições, à altura da missão recebida, depende em grande medida da escolha de encetar processos de escuta, diálogo e discernimento comunitário, em que todos e cada um possam participar e contribuir. Ao mesmo tempo, a escolha de “caminhar juntos” constitui um sinal profético para uma família humana que tem necessidade de um projeto comum, apto a perseguir o bem de todos. Uma Igreja capaz de comunhão e de fraternidade, de participação e de subsidiariedade, em fidelidade ao que anuncia, poderá colocar-se ao lado dos pobres e dos últimos, emprestando-lhes a própria voz. Para “caminhar juntos”, é necessário que nos deixemos educar pelo Espírito para uma mentalidade verdadeiramente sinodal, entrando com coragem e liberdade de coração num processo de conversão, sem o qual não será possível aquela «reforma perene da qual ela [a Igreja], como instituição humana e terrena, necessita perpetuamente» (UR, n. 6; cf. EG, n. 26).

II. Uma Igreja constitutivamente sinodal

10. «Aquilo que o Senhor nos pede, de certo modo está já tudo contido na palavra “Sínodo”»,[8] que «é palavra antiga e veneranda na Tradição da Igreja, cujo significado recorda os conteúdos mais profundos da Revelação».[9] É o «Senhor Jesus que se apresenta a si mesmo como “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14, 6)», e «os cristãos, na sua sequela, são originariamente chamados “os discípulos do caminho” (cf. At 9, 2; 19, 9.23; 22, 4; 24, 14.22)».[10] Nesta perspectiva, a sinodalidade é muito mais do que a celebração de encontros eclesiais e assembleias de Bispos, ou uma questão de simples administração interna da Igreja; ela «indica o específico modus vivendi et operandi da Igreja, o Povo de Deus, que manifesta e realiza concretamente o ser comunhão no caminhar juntos, no reunir-se em assembleia e no participar ativamente de todos os seus membros na sua missão evangelizadora».[11] Entrelaçam-se assim aqueles que o título do Sínodo propõe como eixos fundamentais de uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão. Neste capítulo explicamos sumariamente algumas referências teológicas essenciais em que esta perspectiva se fundamenta.

11. No primeiro milénio, “caminhar juntos”, ou seja, praticar a sinodalidade, era a maneira habitual de proceder da Igreja, entendida como «Povo reunido pela unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo».[12] Àqueles que dividiam o corpo eclesial, os Padres da Igreja opuseram a comunhão das Igrejas espalhadas pelo mundo, que Santo Agostinho descrevia como «concordissima fidei conspiratio»,[13] isto é, o acordo na fé entre todos os Batizados. É aqui que se arraiga o amplo desenvolvimento de uma prática sinodal a todos os níveis da vida da Igreja – local, provincial, universal – que encontrou a sua mais excelsa manifestação no concílio ecuménico. Foi neste horizonte eclesial, inspirado no princípio da participação de todos na vida da Igreja, que São João Crisóstomo pôde dizer: «Igreja e Sínodo são sinónimos».[14] Este modo de proceder não esmoreceu nem sequer no segundo milénio, quando a Igreja evidenciou em maior medida a função hierárquica: se na idade média e na época moderna é bem atestada a celebração dos sínodos diocesanos e provinciais, assim como a dos concílios ecuménicos, quando se tratava de definir verdades dogmáticas, os Papas queriam consultar os Bispos, para conhecer a fé de toda a Igreja, recorrendo à autoridade do sensus fidei de todo o Povo de Deus, que é «infalível “in credendo”» (EG, n. 119).

12. O Concílio Vaticano II ancorou-se neste dinamismo da Tradição. Ele põe em evidência que «aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que o conhecesse na verdade e o servisse santamente» (LG, n. 9). Os membros do Povo de Deus são irmanados pelo Batismo e «ainda que, por vontade de Cristo, alguns sejam constituídos doutores, dispensadores dos mistérios e pastores em favor dos demais, reina, porém, igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto à atuação, comum a todos os Fiéis, a favor da edificação do corpo de Cristo» (LG, n. 32). Por conseguinte, todos os Batizados, participantes na função sacerdotal, profética e real de Cristo, «no exercício da multiforme e ordenada riqueza dos seus carismas, das suas vocações, dos seus ministérios»,[15] são sujeitos ativos de evangelização, quer individualmente quer como totalidade do Povo de Deus.

13. O Concílio ressaltou que, em virtude da unção do Espírito Santo recebida no Batismo, a totalidade dos Fiéis «não pode enganar-se na fé; e esta sua propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do Povo todo quando este, “desde os Bispos até ao último dos Fiéis leigos”, manifesta o consenso universal em matéria de fé e de moral» (LG, n. 12). É o Espírito que guia os crentes para «toda a verdade» (Jo 16, 13). Pela sua obra, «a Tradição apostólica progride na Igreja», porque todo o Povo santo de Deus cresce na compreensão e na experiência, «tanto das coisas como das palavras transmitidas, quer graças à contemplação e ao estudo dos crentes, que as meditam no seu coração (cf. Lc 2, 19. 51), quer graças à íntima inteligência que experimentam das coisas espirituais, quer graças à pregação daqueles que, com a sucessão do episcopado, receberam o carisma da verdade» (DV, n. 8). Com efeito, este Povo, reunido pelos seus Pastores, adere ao depósito sagrado da Palavra de Deus confiado à Igreja, persevera constantemente no ensinamento dos Apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e na oração, «de tal modo que, na conservação, atuação e profissão da fé transmitida, haja uma especial concordância de espírito entre os Pastores e os Fiéis»  (DV, n. 10).

14. Por isso, os Pastores, constituídos por Deus «como autênticos guardiões, intérpretes e testemunhas da fé de toda a Igreja»,[16] não tenham medo de se colocar à escuta da Grei que lhes for confiada: a consulta do Povo de Deus não exige a assunção, no seio da Igreja, dos dinamismos da democracia centrados no princípio de maioria, uma vez que na base da participação em qualquer processo sinodal está a paixão partilhada pela missão comum de evangelização, e não a representação de interesses em conflito. Por outras palavras, trata-se de um processo eclesial, que só pode realizar-se «no seio de uma comunidade hierarquicamente estruturada».[17] É na fecunda ligação entre o sensus fidei do Povo de Deus e a função magisterial dos Pastores que se realiza o consenso unânime de toda a Igreja na mesma fé. Cada processo sinodal, em que os Bispos são chamados a discernir aquilo que o Espírito diz à Igreja, não sozinhos, mas ouvindo o Povo de Deus, que «participa também da função profética de Cristo» (LG, n. 12), constitui uma forma evidente daquele «caminhar juntos» que faz crescer a Igreja. São Bento salienta que «muitas vezes o Senhor revela a melhor decisão»[18] a quem não ocupa posições relevantes na comunidade (neste caso, o mais jovem); assim, os Bispos tenham o cuidado de alcançar todos, a fim de que no desenrolar ordenado do caminho sinodal se realize aquilo que o apóstolo Paulo recomenda às comunidades: «Não extingais o Espírito. Não desprezeis as profecias. Examinai tudo: abraçai o que é bom» (1 Ts 5, 19-21).

15. O sentido do caminho ao qual todos somos chamados consiste, antes de mais nada, em descobrir o rosto e a forma de uma Igreja sinodal, em que «cada um tem algo a aprender. Povo fiel, Colégio episcopal, Bispo de Roma: cada um à escuta dos outros; e todos à escuta do Espírito Santo, o “Espírito da verdade” (Jo 14, 17), para conhecer aquilo que Ele “diz às Igrejas” (Ap 2, 7)».[19] O Bispo de Roma, como princípio e fundamento de unidade da Igreja, pede que todos os Bispos e todas as Igrejas particulares, nas quais e a partir das quais existe a Igreja católica una e única (cf. LG, n. 23), entrem com confiança e coragem no caminho da sinodalidade. Neste “caminhar juntos”, peçamos ao Espírito que nos leve a descobrir como a comunhão, que compõe na unidade a variedade dos dons, dos carismas e dos ministérios, tem em vista a missão: uma Igreja sinodal é uma Igreja “em saída”, uma Igreja missionária, «com as portas abertas» (EG, n. 46). Isto inclui a chamada a aprofundar as relações com as outras Igrejas e comunidades cristãs, com as quais estamos unidos mediante o único Batismo. Além disso, a perspectiva de “caminhar juntos” é ainda mais ampla e abrange toda a humanidade, da qual compartilhamos «as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias» (GS, n. 1). Uma Igreja sinodal é um sinal profético sobretudo para uma comunidade de nações incapaz de propor um projeto partilhado, através do qual perseguir o bem de todos: praticar a sinodalidade é, hoje para a Igreja, a maneira mais evidente de ser «sacramento universal da salvação» (LG, n. 48), «sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano» (LG, n. 1).

III. À escuta das Escrituras

16. O Espírito de Deus, que ilumina e vivifica este “caminhar juntos” das Igrejas, é o mesmo que atua na missão de Jesus, prometido aos Apóstolos e às gerações de discípulos que ouvirem a Palavra de Deus e que a puserem em prática. Em conformidade com a promessa do Senhor, o Espírito não se limita a confirmar a continuidade do Evangelho de Jesus, mas iluminará as profundidades sempre novas da sua Revelação e inspirará as decisões necessárias para sustentar o caminho da Igreja (cf. Jo 14, 25-26; 15, 26-27; 16, 12-15). Por este motivo, é oportuno que o nosso caminho de construção de uma Igreja sinodal se deixe inspirar por duas “imagens” da Escritura. Uma sobressai na representação da “cena comunitária” que acompanha constantemente o caminho da evangelização; a outra refere-se à experiência do Espírito, em que Pedro e a comunidade primitiva reconhecem o risco de colocar limites injustificados à partilha da fé. A experiência sinodal do caminhar juntos, no seguimento do Senhor e em obediência ao Espírito, poderá receber uma inspiração decisiva da meditação a respeito destes dois momentos da Revelação.

Jesus, a multidão, os apóstolos

17. Na sua estrutura fundamental, uma cena original aparece como a constante do modo como Jesus se revela ao longo de todo o Evangelho, anunciando o advento do Reino de Deus. Os atores em jogo são essencialmente três (mais um). Naturalmente, o primeiro é Jesus, o protagonista absoluto que toma a iniciativa, semeando as palavras e os sinais da vinda do Reino, sem «preferência de pessoas» (cf. At 10, 34). De várias maneiras, Jesus presta especial atenção aos “separados” de Deus e aos “abandonados” pela comunidade (na linguagem evangélica, os pecadores e os pobres). Com as suas palavras e as suas ações, oferece a libertação do mal e a conversão à esperança, em nome de Deus Pai e na força do Espírito Santo. Não obstante a diversidade das chamadas e das respostas de acolhimento do Senhor, a caraterística comum é que a fé emerge sempre como valorização da pessoa: a sua súplica é ouvida, à sua dificuldade presta-se ajuda, a sua disponibilidade é apreciada, a sua dignidade é confirmada pelo olhar de Deus e restituída ao reconhecimento da comunidade.

18. Com efeito, a ação de evangelização e a mensagem de salvação não seriam compreensíveis sem a abertura constante de Jesus ao interlocutor mais vasto possível, que os Evangelhos indicam como a multidão, ou seja, o conjunto de pessoas que o seguem ao longo do caminho, e às vezes até o perseguem, na esperança de um sinal e de uma palavra de salvação: eis o segundo ator da cena da Revelação. O anúncio evangélico não se dirige unicamente a poucos iluminados ou escolhidos. O interlocutor de Jesus é “o povo” da vida comum, o “qualquer um” da condição humana, que Ele coloca diretamente em contacto com o dom de Deus e a chamada à salvação. De um modo que surpreende e às vezes escandaliza as testemunhas, Jesus aceita como interlocutores todos aqueles que sobressaem da multidão: ouve a lamentação apaixonada da mulher cananeia (cf. Mt 15, 21-28), que não pode aceitar ser excluída da bênção que Ele traz; abandona-se ao diálogo com a Samaritana (cf. Jo 4, 1-42), não obstante a sua condição de mulher social e religiosamente comprometida; solicita o ato de fé livre e reconhecido do cego de nascença (cf. Jo 9), que a religião oficial tinha descartado como alheio ao perímetro da graça.

19. Alguns seguem Jesus mais explicitamente, experimentando a fidelidade do discipulado, ao passo que outros são convidados a regressar à sua vida quotidiana: no entanto, todos dão testemunho da força da fé que os salvou (cf. Mt 15, 28). Entre aqueles que seguem Jesus, destaca-se nitidamente a figura dos apóstolos, aos quais Ele próprio chama desde o início, destinando-os à mediação autorizada da relação da multidão com a Revelação e com o advento do Reino de Deus. A entrada em cena deste terceiro ator não se verifica graças a uma cura ou conversão, mas coincide com o chamamento de Jesus. A eleição dos apóstolos não é o privilégio de uma posição exclusiva de poder e de separação, mas sim a graça de um ministério inclusivo de bênção e de comunhão. Graças ao dom do Espírito do Senhor ressuscitado, eles devem salvaguardar o lugar de Jesus, sem o substituir: não para colocar filtros à sua presença, mas para facilitar o seu encontro.

20. Jesus, a multidão na sua variedade, os apóstolos: eis a imagem e o mistério a contemplar e aprofundar continuamente, a fim de que a Igreja se torne cada vez mais aquilo que é. Nenhum dos três atores pode abandonar a cena. Se Jesus não estiver presente e outra pessoa ocupar o seu lugar, a Igreja tornar-se-á um contrato entre os apóstolos e a multidão, cujo diálogo acabará por seguir o enredo do jogo político. Sem os apóstolos, autorizados por Jesus e instruídos pelo Espírito, a relação com a verdade evangélica interrompe-se e a multidão permanece exposta a um mito ou a uma ideologia a respeito de Jesus, quer o aceite quer o rejeite. Sem a multidão, a relação dos apóstolos com Jesus corrompe-se numa forma sectária e autorreferencial de religião, e a evangelização perde a sua luz, que provém da revelação de si que Deus dirige a quem quer que seja, diretamente, oferecendo-lhe a sua salvação.

21. Além disso, há o ator “extra”, o antagonista, que traz à cena a separação diabólica dos outros três. Diante da perspectiva inquietadora da cruz, há discípulos que vão embora e multidões que mudam de humor. A ameaça que divide e, por conseguinte, impede um caminho comum, manifesta-se indiferentemente sob as formas do rigor religioso, da injunção moral, que se revela mais exigente que a de Jesus, e da sedução de uma sabedoria política mundana, que se julga mais eficaz que um discernimento dos espíritos. Para evitar os enganos do “quarto ator”, é necessária uma conversão contínua. A este propósito, é emblemático o episódio do centurião Cornélio (cf. At 10), precedente ao “concílio” de Jerusalém (cf. At 15), que constitui um ponto de referência crucial para uma Igreja sinodal.

Uma dupla dinâmica de conversão: Pedro e Cornélio (At 10)

22. O episódio narra antes de mais nada a conversão de Cornélio, que chega a receber uma espécie de anunciação. Cornélio é pagão, presumivelmente romano, centurião (oficial de baixa patente) do exército de ocupação, que exerce uma profissão baseada na violência e no abuso. No entanto, dedica-se à oração e à esmola, ou seja, cultiva a relação com Deus e cuida do próximo. De modo surpreendente, o anjo entra precisamente nele, chama-o pelo nome e exorta-o a enviar – o verbo da missão! – os seus servos a Jafa para chamar – o verbo da vocação! – Pedro. Então, a narração torna-se a da conversão deste último, que naquele mesmo dia recebeu uma visão em que uma voz lhe ordena que mate e coma animais, alguns dos quais impuros. A sua resposta é decisiva: «De modo algum, Senhor!» (At 10, 14). Reconhece que é o Senhor quem fala com ele, mas opõe-se-lhe com uma clara rejeição, dado que aquela ordem destrói preceitos da Torá que são irrenunciáveis para a sua identidade religiosa, e que exprimem um modo de entender a eleição como diferença que implica separação e exclusão em relação aos outros povos.

23. O apóstolo permanece profundamente consternado e, enquanto se interroga sobre o sentido do que tinha acontecido, chegam os homens enviados por Cornélio, que o Espírito lhe indica como seus enviados. Pedro responde-lhes com palavras que evocam as de Jesus no horto: «Eu sou aquele a quem procurais» (At 10, 21). Trata-se de uma verdadeira conversão, uma passagem dolorosa e imensamente frutuosa para sair das próprias categorias culturais e religiosas: Pedro aceita alimentar-se com pagãos da comida que sempre tinha considerado proibida, reconhecendo-a como instrumento de vida e de comunhão com Deus e com o próximo. É no encontro com as pessoas, acolhendo-as, caminhando com elas e entrando nas suas casas, que ele se dá conta do significado da sua visão: nenhum ser humano é indigno aos olhos de Deus e a diferença instituída pela eleição não é preferência exclusiva, mas sim serviço e testemunho de alcance universal.

24. Tanto Cornélio como Pedro envolvem outras pessoas no seu percurso de conversão, fazendo delas companheiros de caminho. A ação apostólica cumpre a vontade de Deus, criando comunidade, derrubando barreiras e promovendo o encontro. A palavra desempenha um papel central no encontro entre os dois protagonistas. Cornélio começa a compartilhar a experiência que viveu. Pedro ouve-o e em seguida toma a palavra, comunicando por sua vez o que lhe aconteceu e testemunhando a proximidade do Senhor, que vai ao encontro de cada pessoa para a libertar daquilo que a torna prisioneira do mal e mortifica a sua humanidade (cf. At 10, 38). Esta maneira de comunicar é semelhante àquela que Pedro adotará quando, em Jerusalém, os fiéis circuncidados o repreenderão, acusando-o de ter transgredido as normas tradicionais, nas quais toda a atenção deles parece estar concentrada, menosprezando a efusão do Espírito: «Por que entraste na casa de incircuncisos e comeste com eles?» (At 11, 3). Naquele momento de conflito, Pedro descreve o que lhe aconteceu, assim como as suas reações de consternação, incompreensão e resistência. É exatamente isto que ajudará os seus interlocutores, inicialmente agressivos e refratários, a ouvir e a aceitar o que aconteceu. A Escritura contribuirá para interpretar o sentido disto, como sucessivamente acontecerá no “concílio” de Jerusalém, num processo de discernimento que é uma escuta em comum do Espírito.

IV. A sinodalidade em ação:
roteiros para a consulta do Povo de Deus

25. Iluminado pela Palavra e fundamentado na Tradição, o caminho sinodal enraíza-se na vida concreta do Povo de Deus. Com efeito, apresenta uma peculiaridade que é igualmente um recurso extraordinário: o seu objeto – a sinodalidade – é também o seu método. Em síntese, constitui uma espécie de estaleiro de obras ou experiência-piloto, que permite começar a colher imediatamente os frutos do dinamismo que a progressiva conversão sinodal introduz na comunidade cristã. Por outro lado, não pode deixar de se referir às experiências de sinodalidade vivida, a vários níveis e com diferentes graus de intensidade: os seus pontos fortes e os seus sucessos, assim como os seus limites e as suas dificuldades, oferecem elementos preciosos para o discernimento sobre a direção na qual continuar a caminhar. Aqui, certamente, faz-se referência às experiências ativadas pelo presente caminho sinodal, mas também a todas aquelas em que já se experimentam formas de “caminhar juntos” na vida do dia a dia, mesmo quando o termo sinodalidade nem sequer é conhecido ou utilizado.

A questão fundamental

26. A interrogação fundamental que orienta esta consulta do Povo de Deus, como já foi recordado no início, é a seguinte:

Anunciando o Evangelho, uma Igreja sinodal “caminha em conjunto”: como é que este “caminhar juntos” se realiza hoje na vossa Igreja particular? Que passos o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso “caminhar juntos”?

Para dar uma resposta, sois convidados a:

  1. perguntar-vos que experiências da vossa Igreja particular a interrogação fundamental vos traz à mente?
  2. reler estas experiências mais profundamente: que alegrias proporcionaram? Que dificuldades e obstáculos encontraram? Que feridas fizeram emergir? Que intuições suscitaram?
  3. colher os frutos para compartilhar: onde, nestas experiências, ressoa a voz do Espírito? O que ela nos pede? Quais são os pontos a confirmar, as perspectivas de mudança, os passos a dar? Onde alcançamos um consenso? Que caminhos se abrem para a nossa Igreja particular?

Diferentes articulações da sinodalidade

27. Na oração, reflexão e partilha suscitadas pela interrogação fundamental, é oportuno ter em consideração três níveis em que a sinodalidade se articula como «dimensão constitutiva da Igreja»:[20]

·         o plano do estilo em que a Igreja normalmente vive e atua, que exprime a sua natureza de Povo de Deus a caminho em conjunto e que se reúne em assembleia, convocado pelo Senhor Jesus na força do Espírito Santo para anunciar o Evangelho. Este estilo realiza-se através «da escuta comunitária da Palavra e da celebração da Eucaristia, da fraternidade da comunhão e da corresponsabilidade e participação de todo o povo de Deus, nos seus vários níveis e na distinção dos diversos ministérios e funções, na sua vida e na sua missão»;[21]

·         o plano das estruturas e dos processos eclesiais, determinados inclusive dos pontos de vista teológico e canónico, em que a natureza sinodal da Igreja se manifesta de maneira institucional a nível local, regional e universal;

·         o plano dos processos e eventos sinodais em que a Igreja é convocada pela autoridade competente, em conformidade com procedimentos específicos, determinados pela disciplina eclesiástica.

Embora sejam distintos de um ponto de vista lógico, estes três planos referem-se uns aos outros e devem manter-se unidos de maneira coerente, caso contrário transmite-se um contratestemunho, minando a credibilidade da Igreja. Com efeito, se não se encarnar em estruturas e processos, o estilo da sinodalidade degrada-se facilmente do nível das intenções e dos desejos para aquele da retórica: enquanto processos e eventos, se não forem animados por um estilo adequado, não passam de formalidades vazias.

28. Além disso, na releitura das experiências, é necessário ter em consideração que “caminhar juntos” pode ser entendido de acordo com duas perspectivas diferentes, fortemente interligadas. A primeira diz respeito à vida interna das Igrejas particulares, às relações entre os indivíduos que as constituem (em primeiro lugar, aquela entre os Fiéis e os seus Pastores, também através dos organismos de participação previstos pela disciplina canónica, incluindo o sínodo diocesano) e às comunidades em que se subdividem (de modo particular as paróquias). Em seguida, considera as relações dos Bispos entre si e com o Bispo de Roma, inclusive através dos organismos intermediários de sinodalidade (Sínodos dos Bispos das Igrejas patriarcais e arquiepiscopais maiores, Conselhos de Hierarcas e Assembleias de Hierarcas das Igrejas sui iuris, Conferências Episcopais, com as suas expressões nacionais, internacionais e continentais). Por conseguinte, estende-se à maneira como cada uma das Igrejas particulares integra em si mesma a contribuição das várias formas de vida monástica, religiosa e consagrada, de associações e movimentos laicais, de instituições eclesiais e eclesiásticas de diferentes tipos (escolas, hospitais, universidades, fundações, instituições de caridade e de assistência etc.). Para finalizar, esta perspectiva abrange também as relações e as iniciativas comuns com os irmãos e as irmãs das demais Confissões cristãs, com os quais partilhamos o dom do mesmo Batismo.

29. A segunda perspectiva tem em consideração o modo como o Povo de Deus caminha em conjunto com toda a família humana. Assim, o olhar contemplará o estado das relações, do diálogo e das eventuais iniciativas comuns com os crentes de outras religiões, com as pessoas afastadas da fé e igualmente com ambientes e grupos sociais específicos, com as respetivas instituições (mundo da política, da cultura, da economia, das finanças, do trabalho, sindicatos e associações empresariais, organizações não governamentais e da sociedade civil, movimentos populares, minorias de vários tipos, pobres e excluídos etc.).

Dez núcleos temáticos a aprofundar

30. Para ajudar a fazer emergir as experiências e a contribuir de maneira mais rica para a consulta, em seguida indicamos também dez núcleos temáticos que abordam diferentes aspetos da “sinodalidade vivida”. Deverão adaptar-se aos diferentes contextos locais e, periodicamente, ser integrados, explicados, simplificados e aprofundados, prestando atenção particular a quantos têm mais dificuldade em participar e responder: o Vade-mécum que acompanha este Documento Preparatório oferece instrumentos, percursos e sugestões, a fim de que os diferentes núcleos de interrogações inspirem concretamente momentos de oração, formação, reflexão e intercâmbio.

I. OS COMPANHEIROS DE VIAGEM

Na Igreja e na sociedade, estamos no mesmo caminho, lado a lado. Na vossa Igreja local, quem são aqueles que “caminham juntos”? Quando dizemos “a nossa Igreja”, quem é que faz parte dela? Quem nos pede para caminhar juntos? Quem são os companheiros de viagem, inclusive fora do perímetro eclesial? Que pessoas ou grupos são, expressa ou efetivamente, deixados à margem?

II. OUVIR

A escuta é o primeiro passo, mas requer que a mente e o coração estejam abertos, sem preconceitos. Com quem está a nossa Igreja particular “em dívida de escuta”? Como são ouvidos os Leigos, de modo particular os jovens e as mulheres? Como integramos a contribuição de Consagradas e Consagrados? Que espaço ocupa a voz das minorias, dos descartados e dos excluídos? Conseguimos identificar preconceitos e estereótipos que impedem a nossa escuta? Como ouvimos o contexto social e cultural em que vivemos?

III. TOMAR A PALAVRA

Todos estão convidados a falar com coragem e parrésia, ou seja, integrando liberdade, verdade e caridade. Como promovemos, no seio da comunidade e dos seus organismos, um estilo comunicativo livre e autêntico, sem ambiguidades e oportunismos? E em relação à sociedade de que fazemos parte? Quando e como conseguimos dizer o que é deveras importante para nós? Como funciona a relação com o sistema dos meios de comunicação social (não só católicos)? Quem fala em nome da comunidade cristã e como é escolhido?

IV. CELEBRAR

“Caminhar juntos” só é possível se nos basearmos na escuta comunitária da Palavra e na celebração da Eucaristia. De que forma a oração e a celebração litúrgica inspiram e orientam efetivamente o nosso “caminhar juntos”? Como inspiram as decisões mais importantes? Como promovemos a participação ativa de todos os Fiéis na liturgia e o exercício da função de santificar? Que espaço é reservado ao exercício dos ministérios do leitorado e do acolitado?

V. CORRESPONSÁVEIS NA MISSÃO

A sinodalidade está ao serviço da missão da Igreja, na qual todos os seus membros são chamados a participar. Dado que somos todos discípulos missionários, de que maneira cada um dos Batizados é convocado para ser protagonista da missão? Como é que a comunidade apoia os seus membros comprometidos num serviço na sociedade (na responsabilidade social e política na investigação científica e no ensino, na promoção da justiça social, na salvaguarda dos direitos humanos e no cuidado da Casa comum etc.)? Como os ajuda a viver estes compromissos, numa lógica de missão? Como se verifica o discernimento a respeito das escolhas relativas à missão e quem participa? Como foram integradas e adaptadas as diferentes tradições em matéria de estilo sinodal, que constituem a herança de muitas Igrejas, especialmente as orientais, em vista de um testemunho cristão eficaz? Como funciona a colaboração nos territórios onde estão presentes diferentes Igrejas sui iuris?

VI. DIALOGAR NA IGREJA E NA SOCIEDADE

O diálogo é um caminho de perseverança, que inclui também silêncios e sofrimentos, mas é capaz de recolher a experiência das pessoas e dos povos. Quais são os lugares e as modalidades de diálogo no seio da nossa Igreja particular? Como são enfrentadas as divergências de visão, os conflitos, as dificuldades? Como promovemos a colaboração com as Dioceses vizinhas, com e entre as comunidades religiosas no território, com e entre associações e movimentos laicais etc.? Que experiências de diálogo e de compromisso partilhado promovemos com crentes de outras religiões e com quem não crê? Como é que a Igreja dialoga e aprende com outras instâncias da sociedade: o mundo da política, da economia, da cultura, a sociedade civil, os pobres...?

VII.  COM AS OUTRAS CONFISSÕES CRISTÃS

O diálogo entre cristãos de diferentes confissões, unidos por um único Batismo, ocupa um lugar particular no caminho sinodal. Que relacionamentos mantemos com os irmãos e as irmãs das outras Confissões cristãs? A que âmbitos se referem? Que frutos colhemos deste “caminhar juntos”? Quais são as dificuldades?

VIII. AUTORIDADE E PARTICIPAÇÃO

Uma Igreja sinodal é uma Igreja participativa e corresponsável. Como se identificam os objetivos a perseguir, o caminho para os alcançar e os passos a dar? Como se exerce a autoridade no seio da nossa Igreja particular? Quais são as práticas de trabalho em grupo e de corresponsabilidade? Como se promovem os ministérios laicais e a assunção de responsabilidade por parte dos Fiéis? Como funcionam os organismos de sinodalidade a nível da Igreja particular? São uma experiência fecunda?

IX. DISCERNIR E DECIDIR

Num estilo sinodal, decide-se por discernimento, com base num consenso que dimana da obediência comum ao Espírito. Com que procedimentos e com que métodos discernimos em conjunto e tomamos decisões? Como podem eles ser melhorados? Como promovemos a participação na tomada de decisões, no seio de comunidades hierarquicamente estruturadas? Como articulamos a fase consultiva com a deliberativa, o processo do decision-making com o momento do decision-taking? De que maneira e com que instrumentos promovemos a transparência e a accountability?

X. FORMAR-SE NA SINODALIDADE

A espiritualidade do caminhar juntos é chamada a tornar-se princípio educativo para a formação da pessoa humana e do cristão, das famílias e das comunidades. Como formamos as pessoas, de maneira particular aquelas que desempenham funções de responsabilidade no seio da comunidade cristã, a fim de as tornar mais capazes de “caminhar juntas”, de se ouvir mutuamente e de dialogar? Que formação oferecemos para o discernimento e o exercício da autoridade? Que instrumentos nos ajudam a interpretar as dinâmicas da cultura em que estamos inseridos e o seu impacto no nosso estilo de Igreja?

A fim de contribuir para a consulta

31. A finalidade da primeira fase do caminho sinodal é favorecer um amplo processo de consulta, para recolher a riqueza das experiências de sinodalidade vivida, nas suas diferentes articulações e aspetos, envolvendo os Pastores e os Fiéis das Igrejas particulares em todos os diversificados níveis, através dos meios mais adequados, em conformidade com as realidades locais específicas: a consulta, coordenada pelo Bispo,  destina-se «aos Presbíteros, Diáconos e Fiéis leigos das suas Igrejas, individualmente ou associados, sem transcurar a valiosa contribuição que pode vir dos Consagrados e das Consagradas» (EC, n. 7). De maneira particular, solicita-se a contribuição dos organismos de participação das Igrejas particulares, especialmente do Conselho presbiteral e do Conselho pastoral, a partir dos quais verdadeiramente «pode começar a tomar forma uma Igreja sinodal».[22] Será igualmente preciosa a contribuição das outras realidades eclesiais às quais o Documento Preparatório for enviado, assim como daqueles que quiserem enviar diretamente a própria contribuição. Finalmente, será de importância fundamental que encontre espaço também a voz dos pobres e dos excluídos, e não somente daqueles que desempenham alguma função ou responsabilidade no seio das Igrejas particulares.

32. A síntese que cada Igreja particular elaborar na conclusão deste trabalho de escuta e discernimento constituirá a sua contribuição para o percurso da Igreja universal. Para tornar mais fáceis e sustentáveis as fases sucessivas do caminho, é importante conseguir condensar os frutos da oração e da reflexão, no máximo, em dez páginas. Se for necessário, para as contextualizar e explicar melhor, poderão ser anexados outros textos como apoio ou integração. Recordamos que o objetivo do Sínodo, e por conseguinte desta consulta, não consiste em produzir documentos, mas em «fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender uns dos outros e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos».[23]

Índice

I. Apelo a caminhar juntos

II. Uma Igreja constitutivamente sinodal

III. À escuta das Escrituras

                        Jesus, a multidão, os apóstolos

                        Uma dupla dinâmica de conversão: Pedro e Cornélio (At 10)

IV. A sinodalidade em ação: roteiros para a consulta do Povo de Deus

                        A questão fundamental

                        Diferentes articulações da sinodalidade

                        Dez núcleos temáticos a aprofundar

A fim de contribuir para a consulta

Fonte: https://www.vaticannews.va/

São Paulo da Cruz

S. Paulo da Cruz | arquisp
19 de outubro

São Paulo da Cruz

Aos 19 anos, Francisco Danei, nascido em Ovada, no Piemonte, depois de escutar um sermão sobre a Paixão de Cristo, afervorado como os antigos cruzados, quis arrolar-se como voluntário no exército veneziano que se apressava para mover guerra contra os turcos a fim de libertar o Santo Sepulcro.
Bem depressa, porém, compreendeu que aquela cruzada tinha objetivos mais materiais e concretos; então escolheu a via da mortificação e das duras penitências para imitar a Cristo sofredor.

Passava longas horas em oração e meditação. Depois, o bispo de Alexandria do Egito concedeu-lhe vestir o hábito de penitente com os sinais da Paixão de Cristo: um coração encimado pela cruz e três cravos com o monograma de Cristo. Junto com o irmão foi viver como eremita no monte Argentário. Nos domingos ambos desciam e se dirigiam aos lugares vizinhos para pregar sobre a Paixão de Jesus.

Para tornar mais eficazes suas palavras, não hesitavam em flagelar-se em público, induzindo também os corações mais endurecidos à reflexão e com frequência à conversão.

Suas missões eram assinaladas por uma cruz de madeira erigida no lugar onde os dois irmãos tinham pregado, habitualmente em uma praça desse local.

Depois de o papa Bento XIII haver ordenado sacerdotes os dois irmãos na basílica de São Pedro, concedeu-lhes permissão para constituir sua congregação. Esta tinha um nome bastante extenso: Congregação dos Clérigos Descalços da Santa Cruz e da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, logo simplificado pelo povo com o nome de passionistas, como ainda hoje são chamados.

A rígida regra primitiva teve de ser mitigada para obter a definitiva aprovação pontifícia. O primeiro capítulo geral reuniu-se em 1747. A nova congregação teve uma rápida difusão em todas as regiões da Itália. Paulo morreu no convento romano anexo à igreja dos santos João e Paulo, sobre o monte Célio; foi canonizado em 1867.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Santos João de Brébeuf, Isac Jogues e companheiros, mártires

S. João Brébeuf | Salve Maria
19 de outubro
Santos João de Brébeuf, Isac Jogues e companheiros, mártires

Nestes últimos tempos mudou-se a atitude para com os índios de pele vermelha. Tomou-se consciência de que a prepotência dos brancos colonizadores tem destruído a vida de populações, cujos valores próprios e autênticos já tarde demais os “civilizados” quiseram salvar. O cristianismo e, de modo especial, os missionários procuram preservar os valores genuínos de cada povo. Por isso oito jesuítas, entre eles João de Brébeuf, morreram no Canadá na metade do século XVII.

Nasceu em 593 de família normanda que acompanhou Guilherme, o Conquistador, e são Luís IX. Tornou-se jesuíta ordenando-se padre no dia em que completou 29 anos. Três anos após partiu para o Canadá em companhia de Massé, Lalemant e José Roche d’Aillon. Foi direto trabalhar entre os índios algonquinos. Logo aprendeu a língua deles chegando a escrever nela gramática e catecismo. Passou depois para a tribo dos urões. Também nessa língua redigiu um catecismo. Batizou cerca de 7.000 índios.

Sua vida inteira foi um martírio. Morava em choupanas de extrema pobreza, pequena imagem do inferno. No dia 16 de março de 1649 a tribo dos iroqueses, adversários dos urões, invadiram a missão, amarraram João de Brébeuf num pau, arrancaram-lhe as unhas, bateram nele de mil maneiras, torturando-o de todos os modos e, por fim, admirados pela sua coragem, partiram-lhe o peito e comeram-lhe o coração para herdarem a força da sua alma.

Com sete outros companheiros mártires: Antônio Daniel, Carlos Garnier, Gabriel Lalemant, João de la Lande, Isac Jogues, Natal Chabanel e Renato Goupil, foi canonizado no dia 29 de junho de 1931. A festa deles cai no dia dezenove de outubro. Muito querido dos índios que o chamavam de “o homem que carrega os fardos”.

Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini

Fonte: https://www.paulus.com.br/

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

CARTA ABERTA DA CNBB

CNBB

CNBB SAI EM DEFESA DO PAPA FRANCISCO, DO ARCEBISPO DE APARECIDA (SP) DOM ORLANDO BRANDES E DO EPISCOPADO BRASILEIRO

A presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou na manhã deste domingo, 17 de outubro, uma Carta Aberta dirigida ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (ALESP), o deputado estadual, Carlão Pignatari. No documento, a CNBB rejeita “fortemente as abomináveis agressões” proferidas no último dia 14 de outubro, dia de seu aniversário de 69 anos de presença e serviços ao Brasil, pelo deputado estadual Frederico D’Avila, da Tribuna da ALESP.

No vídeo abaixo, o presidente da CNBB, dom om Walmor Oliveira de Azevedo manifesta sua indignação e presta apoio ao Papa Francisco e ao arcebispo de Aparecida.

https://youtu.be/aD4Ke20wSNU

O político, diz a carta, agiu com ódio descontrolado e desferiu ataques ao Santo Padre o Papa Francisco, à própria CNBB e ao arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes. A CNBB defende que, com esta atitude, o deputado “feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes” e vai buscar uma reparação jurídica a ser corrigida “pelo bem da democracia brasileira”.

Na Carta Aberta, a CNBB afirma se ancorar, profeticamente, sem medo de perseguições, no princípio contido na Gaudium et Spes (“Alegria e Esperança” em latim) sobre o papel da Igreja no mundo contemporâneo, a única constituição pastoral e a 4ª das constituições do Concílio Vaticano II:

“a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76)

A CNBB busca agora, por meio da presidência de seu regional Sul 1, um agenda para entregar pessoalmente o documento ao presidente da ALESP, deputado Carlão  Pignatari. Confira, abaixo, a íntegra do documento em versão word e aqui em versão PDF.

CARTA ABERTA

P – Nº. 0325/21

Exmo. Sr.
Deputado Estadual Carlão Pignatari
Presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
Cidadãos e cidadãs brasileiros

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, nesta casa legislativa e diante do Povo Brasileiro, rejeita fortemente as abomináveis agressões proferidas pelo deputado estadual Frederico D’Avila, no último dia 14 de outubro, da Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Com ódio descontrolado, o parlamentar atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente o Exmo. e Revmo. Sr. Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida. Feriu e comprometeu a missão parlamentar, o que requer imediata e exemplar correção pelas instâncias competentes.

Ao longo de toda a sua história de 69 anos, celebrada no dia em que ocorreu este deplorável fato, a CNBB jamais se acovardou diante das mais difíceis situações, sempre cumpriu sua missão merecedora de respeito pela relevância religiosa, moral e social na sociedade brasileira. Também jamais compactuou com atitudes violentas de quem quer que seja. Nunca se deixou intimidar. Agora, diante de um discurso medíocre e odioso, carente de lucidez, modelo de postura política abominável que precisa ser extirpada e judicialmente corrigida pelo bem da democracia brasileira, a CNBB, mais uma vez, levanta sua voz.

A CNBB se ancora, profeticamente, sem medo de perseguições, no seguinte princípio: a Igreja reivindica sempre a liberdade a que tem direito, para pronunciar o seu juízo moral acerca das realidades sociais, sempre que os direitos fundamentais da pessoa, o bem comum ou a salvação humana o exigirem (cf. Gaudium et Spes, 76).

Defensora e comprometida com o Estado Democrático de Direito, a CNBB, respeitosamente, espera dessa egrégia casa legislativa, confiando na sua credibilidade, medidas internas eficazes, legais e regimentais, para que esse ultrajante desrespeito seja reparado em proporção à sua gravidade – sinal de compromisso inarredável com a construção de uma sociedade democrática e civilizada.

A CNBB, prontamente, comprometida com a verdade e o bem do povo de Deus, a quem serve, tratará esse assunto grave nos parâmetros judiciais cabíveis. As ofensas e acusações, proferidas pelo parlamentar – protagonista desse lastimável espetáculo – serão objeto de sua interpelação para que sejam esclarecidas e provadas nas instâncias que salvaguardam a verdade e o bem – de modo exigente nos termos da Lei.

Nesta oportunidade, registramos e reafirmamos o nosso incondicional respeito e o nosso afeto ao Santo Padre, o Papa Francisco, bem como a solidariedade a todos os bispos do Brasil. A CNBB aguarda uma resposta rápida de Vossa Excelência – postura exemplar e inspiradora para todas as casas legislativas, instâncias judiciárias e demais segmentos para que a sociedade brasileira não seja sacrificada e nem prisioneira de mentes medíocres.
Em Cristo Jesus, “Caminho, Verdade e Vida”, fraternalmente,

Brasília-DF, 16 de outubro de 2021

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte, MG
Presidente

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre, RS
1º Vice-Presidente

Dom Mário Antônio da Silva
Bispo de Roraima, RR
2º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar do Rio de Janeiro, RJ
Secretário-Geral

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

E o que salvará o cristianismo?

Pascal Deloche / Godong
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

É fato que os dados demográficos indicam uma aparente derrocada do cristianismo no continente em que se desenvolveu.

O Papa Francisco deu início a um audacioso projeto de consulta a toda a comunidade católica para a realização da próxima Assembleia do Sínodo dos Bispos. Valorizou particularmente três palavras: encontrar, escutar e discernir – mas para aprofundar essas palavras é melhor ler a própria homilia do Papa. Aqui, gostaria de refletir sobre o catastrofismo, o voluntarismo e a politização que frequentemente acompanham essa discussão. E, desde já, retomo a resposta da pergunta do título: o que salva o cristianismo, em todos os tempos e situações, é sempre a graça de Deus – ainda que se valha de nós para a sua realização.

As demografias e os corações

É fato que os dados demográficos indicam uma aparente derrocada do cristianismo no continente em que se desenvolveu, a Europa. No Brasil, a redução do número de católicos é, em grande parte, compensada pelo aumento de fiéis das Igrejas neopentecostais, de tal modo que a proporção de cristãos na população não diminui muito. Nos países europeus, contudo, a redução também afeta as denominações protestantes, de modo que há um aumento da proporção dos que se declaram ateus ou agnósticos. Isso aponta para um dado interessante: muitas das mudanças que são continuamente pedidas à Igreja Católica, sob a alegação de serem necessárias para sua sobrevivência, como o casamento dos pastores ou a formação de um clero feminino, já acontecem em muitas denominações protestantes, sem que isso implique necessariamente numa maior resistência ao processo de secularização…

Esses dados demográficos são muito significativos. Têm muito a ver com o processo de cancelamento cultural e de negação dos valores cristãos que acontece na maioria dos países de tradição cristã. Mas escondem um dado fundamental: mostram a aparência externa, não o coração do ser humano. Baseiam-se normalmente em enquetes onde se pergunta qual a confissão religiosa da pessoa, se participa ou não de alguma celebração semanal. Mas quem pode garantir que a religião professada corresponde à fé vivida no coração da pessoa? Mesmo a participação ao culto dominical, particularmente no passado, nas sociedades predominantemente católicas, para muitos era apenas uma obrigação social…

O mundo está cheio de “cristãos de fachada”. Isso não deveria nos escandalizar, nem deveríamos condenar essas pessoas. O cristianismo por tradição, em oposição àquele por convicção, é a consequência de um erro histórico das comunidades cristãs: acreditar que o poder social e institucional poderia converter as pessoas, que a crença religiosa poderia ser negociada junto com outros sinais de status social e até determinar quais direitos seriam reconhecidos.

De certa forma, as dificuldades que vivemos hoje em ambientes com uma mentalidade até anticristã são uma graça que nos dá a possibilidade de aderir a Cristo de uma forma mais genuína, motivados por um encontro mais verdadeiro e não por convenções sociais. Nesse sentido, só Deus, que conhece o nosso coração melhor do que nós mesmos, pode dizer se a redução demográfica da porcentagem de cristãos declarados corresponde a uma redução da porcentagem de corações animados pela fé.

Mesmo essa reflexão, quando nos preocupamos com o aumento ou redução do número de convertidos a Cristo, ainda pode ser um sinal do “homem velho” dentro de nós, uma condição em que ainda pensamos nossa fé em termos de aceitação social e conformidade das normas sociais às nossas convicções. São Paulo, em sua Carta ao Filipenses, mostra em palavras comoventes como a graça de viver e anunciar a companhia de Cristo supera todas as tribulações que enfrentamos na vida social (cf. Fl 1, 1-30; Fl 3, 8-16).

A disputa pelo poder, a serviço do Mal

Temos frequentemente uma tendência voluntarista de pedir mudanças estruturais para resolver as situações. No fundo, acreditamos que os problemas são consequência da conivência ou da má vontade das autoridades. Bastaria que elas mudassem as estruturas para eles se solucionassem. Mudanças estruturais são fundamentais para que os problemas sejam resolvidos, mas elas não são uma solução e sim o resultado de uma solução já em ato. Os problemas da vida em sociedade, sejam políticos, econômicos ou eclesiais, são muito complexos e não se resolvem de forma simplista. Pessoas bem-intencionadas e comprometidas são fundamentais, mas nada garante que elas saberão tomar as melhores decisões diante das dificuldades. O Papa Francisco insiste, em várias ocasiões, que o importante é iniciar processos, pois é neles que a mudança acontece. As transformações que realmente trazem a novidade desejada não se dão por decisões voluntaristas, mas dentro de processos.

Os relatos históricos, algumas vezes, nos fazem ter a impressão de que o Concílio Vaticano II, por exemplo, se deu por uma decisão intempestiva de São João XXIII e que tudo mudou a partir dali. Aliás, pensamos que tudo deveria ter mudado e que as mudanças que não ocorreram se devem à vontade de algumas autoridades reacionárias. Mas, pelo contrário, o Concílio é o fruto de um largo processo de reflexão e amadurecimento da comunidade católica, o século XX contou com uma infinidade de grandes teólogos e pensadores que foram repensando a presença da Igreja na atualidade. E esse processo ainda não terminou, esse convite do Papa Francisco não é “o retorno” do espírito do Concílio, mas sim mais uma etapa da longa caminhada, cheia de avanços e tropeços, de reproposição da Igreja ao mundo de hoje.

Essa visão voluntarista das mudanças estruturais vem acompanhada de uma série de posicionamentos políticos em relação à vida da Igreja. Se o problema é uma estrutura inadequada, que não muda em função da vontade de algumas autoridades, a solução é uma luta política que afaste essas pessoas e coloque outras, que pensam como nós, no poder. Essa é justamente a porta pela qual o diabo, aquele que divide e afasta de Deus, entra no interior da Igreja e do coração daqueles que a amam e gostariam de ajudá-la a melhorar. Passamos a imaginar que é o poder humano e não a graça divina que faz as coisas melhorarem na Igreja.

O exemplo de “Querida Amazônia”

No início dessa consulta do Sínodo, que representa uma nova etapa no longo processo de reproposição da Igreja ao mundo de hoje, não é demais recordar que a primeira mudança que ocorre na Igreja é aquela que acontece em nosso coração. Quanto mais nos convertemos ao amor de Cristo, quanto mais propomos o essencial a nossos irmãos, mais felizes somos e melhor será a Igreja. Além dos inúmeros textos que estão saindo com relação ao próprio Sínodo, alguns já citados no início desse artigo, vale a pena rever o “sonho eclesial” de Francisco para a “Querida Amazônia” (QA 61ss).

É pedagógico, para todos nós, ver como o Papa retoma os desafios para a presença eclesial naquela região, apontados numa consulta popular que lembra essa atual do Sínodo, mostrando como eles podem ser superados com uma fidelidade maior ao anúncio do Evangelho. Francisco não desvincula o espiritual do social, não deixa de constatar a necessidade de novas estruturas para novos tempos, mas deixa claro como a pessoa convertida a Cristo é o verdadeiro instrumento de Deus para a construção da sua Igreja.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O AMOR E A LOUCURA ANDAM JUNTAS

Crédito: Blog de Língua Portuguesa

Dom Jacinto Bergmann
Arcebispo de Pelotas (RS)

 Início a minha reflexão com uma estória: “A Loucura resolveu convidar os amigos para tomar um café em sua casa. Todos os convidados foram. Após o café, a Loucura propôs: – Vamos brincar de esconde-esconde? -Esconde-esconde? O que é isso? – perguntou a Curiosidade. – Esconde-esconde é uma brincadeira. Eu conto até cem e vocês se escondem. Ao terminar de contar, eu vou procurar, e o primeiro a ser encontrado será o próximo a contar. Todos aceitaram, menos o Medo e a Preguiça. – 1,2,3…- a Loucura começou a contar. A Pressa escondeu-se primeiro, num lugar qualquer. A Timidez, tímida como sempre, escondeu-se na copa de uma árvore. A Alegria correu para o meio do jardim. Já a Tristeza começou a chorar, pois não encontrava um local apropriado para se esconder. A Inveja acompanhou o Triunfo e se escondeu perto dele debaixo de uma pedra. A Loucura continuava a contar e os seus amigos iam se escondendo. O Desespero ficou desesperado ao ver que a Loucura já estava no noventa e nove. – CEM! – gritou a Loucura. – Vou começar a procurar… A primeira a aparecer foi a Curiosidade, já que não aguentava mais querendo saber quem seria o próximo a contar. Ao olhar para o lado, a Loucura viu a Dúvida em cima de uma cerca sem saber em qual dos lados ficar para melhor se esconder. E assim foram aparecendo a Alegria, a Tristeza, a Timidez… Quando estavam todos reunidos, a Curiosidade perguntou: – Onde está o Amor? Ninguém o tinha visto. A Loucura começou a procurá-lo. Procurou em cima da montanha, nos rios, debaixo das pedras e nada do Amor aparecer. Procurando por todos os lados, a Loucura viu uma roseira, pegou um pauzinho e começou a procurar entre os galhos, quando de repente ouviu um grito. Era o Amor, gritando por ter furado o olho com um espinho. A Loucura não sabia o que fazer. Pediu desculpas, implorou pelo perdão do Amor e até prometeu segui-lo para sempre.  O Amor aceitou as desculpas. Hoje, o Amor é cego e a Loucura o acompanha sempre”. 

A última frase dessa estória é uma conclusão e contém uma afirmação:  Conclui que o amor é “cego” e afirma que a “loucura” acompanha o amor. Mas deixa tudo em aberto, para que nós nos perguntemos: Por que o amor é “cego”? por que a “loucura” acompanha o amor? Ensaio aqui uma resposta às duas questões sob o prisma da boa nova cristã. 

Por que o amor é “cego”? Jesus de Nazaré ensinou que o amor cristão “não enxerga” (quem não enxerga é “cego) as limitações do amado. Enxerga tão somente o amado a ser amado. Ama gratuitamente. Chega a amar o amado por causa de suas limitações e não por seus acertos. Pois, Jesus de Nazaré viveu o amor “cego” como ele ensinou. Amou não levando em conta as “limitações” do ser humano. Como Deus “nascido numa gruta de animais” assumiu a natureza humana limitada, viveu 30 anos escondido numa família, pregou a boa nova aos “pequenos e simples”, pediu que fosse “dado a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, sujeitou-se a não ter “onde reclinar a cabeça”, abraçou a cruz e a morte de cruz… tudo isso, amando gratuitamente – como “cego”, por causa dos pecados da humanidade e em vista da sua redenção. Que cenário de gratuidade – “cegueira” – do amor! Eis um amor “cego” e por isso salvador. 

Por que a “loucura” acompanha o amor? Jesus de Nazaré ensinou que o amor cristão não caminha apenas segundo as razões, segundo os desejos, segundo as regras, segundo os interesses, segundo os direitos, segundo as compensações (não caminhar segundo as razões… é “loucura”). O amor cristão caminha colocando tudo em função do amado; coloca o “sábado para o homem e não o homem para o sábado”. Ama desinteressadamente. Chega amar o amado por causa de suas feridas e não por causa de suas belas e razoáveis aparências. Pois, Jesus de Nazaré viveu o amor “desinteressado” como ele ensinou. Amou não levando em conta apenas as “razões” do ser humano. Como Mestre da “vida plena para a qual veio” escolheu “pescadores e publicanos” para discípulos e apóstolos, conviveu com pecadores discriminados, curou leprosos marginalizados, acolheu prostitutas desprezadas, identificou o Reino de Deus com as crianças “pequenas e simples” (e não com não-crianças “grandes e complicadas”), corrigiu a religião “hipócrita e vazia”, deixou-se condenar pelo poder mundano e falso, caminhou para o calvário sob o peso da cruz dos malvados, morreu como “grão de trigo” inocente, deixou o sepulcro como ressuscitado… tudo isso, amando desinteressadamente – como “louco”, por causa dos pecados da humanidade e em vista da sua redenção. Que espetáculo de desinteresse – “loucura” – do amor! Eis um amor “louco” e por isso salvador. 

Em Jesus de Nazaré “o Amor cegado pelo espinho e a Loucura seguidora do Amor” tornou-se real! Que em nós cristãos também o Amor e a Loucura andem juntas! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

“Revelações ou A luz fluente da divindade”

Foto: ALETEIA
Por Vanderlei de Lima

Os apaixonados pela espiritualidade monástica – de dentro e de fora dos mosteiros – são brindados com este rico tesouro da mística cisterciense feminina do século XIII.

“Revelações ou A luz fluente da divindade” – Este é o título, em português, da obra de Matilde (ou Mechitildes) de Magdeburg, mística cisterciense do século XIII, que a Editora Vozes acaba de publicar com 387 páginas.

Nasceu ela entre 1207 e 1210. Bem dotada por natureza, adquiriu vasta cultura. Por ordem de seu confessor, a partir de 1250 – durante 30 anos, portanto – escreveu a obra Lux divinitatis fluens in corda veritatis, que, ao pé da letra, poderia ser traduzida por A luz da Divindade que flui para os [ou nos] corações da verdade, mas apareceu, agora, como A luz fluente da divindade.

Matilde era beguina (mulher que, sem votos religiosos, vivia em comunidade rezando e exercendo a caridade) de Magdeburg. Aí adquiriu grande prestígio, mas não lhe faltaram inimigos por denunciar: os vícios do clero, da Igreja e do Império. Buscando solidão e tranquilidade, retirou-se, já mais velha, para o cenóbio de Helfta. Nesse mosteiro, terminou de escrever sua obra. Faleceu entre 1282 e 1294. 

Ainda que tenha escrito num alemão medieval elevado, sendo uma das primeiras escritoras em língua vernácula, o texto nos foi transmitido em dupla versão: uma latina – com seis livros –, realizada, ao que parece, no convento dominicano de Halle, e a outra, em alemão, que contém sete livros. É a versão alemã que a Editora Vozes entrega ao público. Dela extraímos, a título de estímulo aos leitores, um breve trecho sobre o pecado.

Matilde afirma que pecar não é da natureza humana, mas algo diabólico: “Certas pessoas eruditas dizem que é humano pecar. Em todas as tentações do meu corpo pecaminoso – com todo o sentir do meu coração, com toda a percepção da minha razão e com toda a nobreza de minha alma – nunca consegui chegar a outro reconhecimento senão este: é diabólico pecar. O pecado pode ser grande ou pequeno, mas o diabo sempre está presente. Além disso, o diabólico que acatamos por vontade livre causa-nos um dano maior do que toda a nossa natureza humana. Como humanos, acomete-nos o seguinte: fome, sede, calor, frio, tormento, miséria, tentação, sono, cansaço – Cristo também sofreu isso em seu próprio corpo, Ele que foi um homem igual a nós e por nossa causa. Mas se o pecado pertencesse à existência humana, Cristo necessariamente também teria pecado. Isso porque Ele era um verdadeiro ser humano no corpo, um homem justo na sabedoria, um homem constante na virtude e um homem perfeito no Espírito Santo. Além disso, era um Deus eterno na verdade eterna e não um pecador. Se quisermos nos tornar iguais a Ele devemos viver como Ele viveu ou ser salvos por meio do arrependimento” (p. 190-191). Que profundidade teológica!

Não podemos deixar de observar, no entanto, que o livro não traz Introdução nem explicativas notas de rodapé. Ambos os recursos ou ao menos um deles melhor contextualizaria o leitor da obra que, por ser do século XIII e tratar de temas religiosos diversos, pode tornar-se de árdua compreensão. Notamos ainda que algumas expressões deveriam ser melhoradas em sua tradução: na página 289, em vez de “salubre”, o correto seria salutar; na 364, no lugar de “Cristandade”, poderia ser Cristianismo; na 367, o ideal seria colocar vírgula após cada hora litúrgica; na 92, é muito estranha a qualificação de Nossa Senhora como “deusa”; na 300, troque-se “abençoar-se” por benzer-se; na 327, é mais condizente celeireira do que “administradora”; na 274, troque-se “beata” por bem-aventurada; nas páginas 140, 205, 245, 305, divindade fica melhor que “deidade”; na 2ª aba, escreva-se mosteiro e monjas de Helfta no lugar de “convento” e “freiras” etc. Tais lapsos – que demonstram certa imperícia do tradutor e do revisor em termos específicos do monaquismo – não atrapalham a obra como um todo, mas devem ser corrigidos numa próxima edição.

Como quer que seja, os apaixonados pela espiritualidade monástica – de dentro e de fora dos mosteiros – só têm a parabenizar a Editora Vozes por brindar-nos com este rico tesouro da mística cisterciense feminina do século XIII.

Mais informações aqui.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Missionários protestantes são sequestrados no Haiti

Imagem ilustrativa / Crédito: James (Unsplash)
Por Matt Hadro

PORTO PRÍNCIPE, 18 out. 21 / 08:57 am (ACI).- 17 missionários protestantes e suas famílias foram sequestrados no Haiti neste sábado, 16 de outubro.

Os missionários fazem parte do Christian Aid Ministries, com sede em Ohio, Estados Unidos, e foram sequestrados quando visitavam um orfanato.

Christian Aid Ministries, em uma atualização publicada em seu site na tarde de 17 de outubro, pediu orações por uma "resolução" da situação.

O ministério evangélico disse que o grupo inclui cinco homens, sete mulheres e cinco crianças. Quase todos os sequestrados são cidadãos americanos, e um é cidadão canadense.

“Como organização, confiamos esta situação a Deus e confiamos que Ele nos ajudará. Que o Senhor Jesus seja exaltado e muito mais pessoas conheçam Seu amor e salvação”, disse a organização.

Segundo o jornal americano The Washington Post, uma pessoa que conhece a situação disse que um dos missionários sequestrados teria conseguido enviar uma mensagem através do WhatsApp: "Por favor, rezem por nós, estamos sendo pegos como reféns, eles sequestraram nosso motorista, não sei para onde estão nos levando”.

A agência de notícias Associated Press informou que, segundo um policial local, o grupo criminoso "400 Mawozo" seria o responsável pelo sequestro. A mesma gangue esteva por trás do sequestro de padres e religiosos católicos em abril deste ano.

Em seu site, o Christian Aid Ministries afirma que serve como “um canal para amish, menonitas e outras pessoas e grupos anabatistas conservadores”, para levar ajuda àqueles que necessitam ao redor do mundo.

A organização leva ajuda a países como Haiti e Cazaquistão, ao mesmo tempo que promove o evangelismo em anúncios nos Estados Unidos, e oferece assistência a objetores de consciência em casos de recrutamento militar naquele país.

O Haiti foi atingido por desastres naturais, crises políticas e violência relacionada ao crime, bem como sequestros, nos últimos meses. Jovenel Moïse, presidente do Haiti, foi assassinado em sua casa em julho deste ano, enquanto um terremoto de magnitude 7,2 atingiu o país em agosto.

Em abril, 10 padres e religiosos católicos foram sequestrados na cidade de Croix-des-Bouquets. A gangue criminosa que se autodenomina "400 Mazowo" exigiu um milhão de dólares por sua libertação.

Três dos reféns foram libertados no mesmo dia, enquanto os outros sete foram libertados após várias semanas. Não se sabe se o resgate foi pago.

Na ocasião, a arquidiocese de Porto Príncipe, na capital haitiana, alertou em um comunicado que a violência de grupos criminosos no país atingiu níveis "sem precedentes".

Fonte: https://www.acidigital.com/

Violência gera violência: o apelo de Francisco pela paz

Crime na Noruega causou comoção nacional | Vatican News

"Eu lhes peço, por favor, que abandonem a via da violência, que é sempre perdedora, que é uma derrota para todos. Lembremo-nos que violência gera violência", disse o Papa citando atentados dos últimos dias em vários países.

Vatican News

Ao final do Angelus, o Papa Francisco manifestou seu pesar pelos atentados ocorridos na Noruega, Afeganistão e Inglaterra, que provocaram inúmeros mortos e feridos. Ao expressar sua proximidade aos familiares das vítimas, fez o seguinte apelo:

“Eu lhes peço, por favor, que abandonem a via da violência, que é sempre perdedora, que é uma derrota para todos. Lembremo-nos que violência gera violência.”

Na Noruega, cinco pessoas morreram, e duas ficaram feridas num ataque com arco e flechas em Kongsberg, que provocou uma grande comoção nacional. No Afeganistão, várias explosões sucessivas deixaram pelo menos 40 mortos e quase uma centena de feridos em uma mesquita xiita em Kandahar, a principal cidade do sul do país. Na Inglaterra, o parlamentar inglês David Amess morreu depois de ser esfaqueado em uma igreja em Essex, condado do leste do país.

A coragem de testemunhar o Evangelho

O Pontífice mencionou também a beatificação, em Córdova, do sacerdote Juan Elías Medina e de 126 companheiros mártires: sacerdotes, religiosas, seminaristas e leigos assassinados por ódio à fé durante a perseguição religiosa da década de 1930 na Espanha.

“Que a fidelidade deles dê a força a todos nós, especialmente aos cristãos perseguidos em várias partes do mundo, a força de testemunhar o Evangelho com coragem”, disse o Papa, pedindo o aplauso dos fiéis aos novos beatos.

Francisco agradeceu ainda à Fundação “Ajuda à Igreja que sofre” pela iniciativa de oração do terço com as crianças de todo o mundo pela paz e a unidade. “Encorajo esta campanha de oração, que este ano de modo especial é confiada à intercessão de São José. Obrigado a todas as crianças que participam!”

Fonte: https://www.vaticannews.va/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF