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Apologistas da Fé Católica |
OS PENTECOSTAIS E A POLÍTICA
Ao analisar as implicações e efeitos dessa situação, o informe do CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) é um organismo da Igreja Católica fundado em 1955 pelo Papa Pio XII a pedido dos bispos da América Latina e do Caribe), observa que a polarização política das seitas repercute fortemente sobre a vida da América Latina e também da Igreja Católica, porque sua influência está mudando a vivência religiosa, tanto no âmbito urbano, quanto rural.
Tal afirmação pode ser comprovada ao se constatar as inúmeras conversões ao pentecostalismo, Testemunhas de Jeová, Mórmons, entre outras, com destaque para o trabalho incansável de seus missionários. Essa verdadeira migração religiosa demonstra que o povo espera e busca uma solução sacral, ou seja, de natureza religiosa para seus problemas fundamentais.
Para efeito do melhor entendimento deste estudo, importa salientar que por espectro político de direita, considere-se o perfil republicano norte-americano chamado neoconservador, fortemente influenciado pelo protestantismo/ neo-pentecostalismo, pelo movimento sionista e pela maçonaria.
“A polarização das seitas afeta profundamente os movimentos de direita e de esquerda e o aspecto religioso é visto envolvido na luta violenta entre a repressão e a guerrilha. Afirma o relatório que a direita religiosa chega a manipular recursos superiores aos da própria Agência Central de Inteligência (CIA) em algumas áreas, como na Guatemala.”
“De fato, naquele país as seitas religiosas têm sido, para o exército e o governo em sua guerra contra a guerrilha, tão imprescindíveis quanto as armas automáticas e os helicópteros americanos. É praticamente igual à ajuda das seitas e auxílio militar que provém direta ou indiretamente dos Estados Unidos em apoio aos governos militares direitistas e com o objetivo de acabar com o comunismo na Guatemala. Defensores da presença norte-americana na Guatemala importam dinheiro, política, valores e um esquema religioso pré-fabricado pelas seitas fundamentalistas e proclamam, ali, a união de exército, religião e governo na luta contra a guerrilha. As seitas constituem uma eficaz arma contra-revolucionária e são responsáveis pelos massacres e extermínios, justificados com a BÍBLIA na mão da ditadura e a “pacificação” como obra de Deus.”
EM NOME DE DEUS
“O informe do CELAM constatou que a maioria das seitas, orienta seu trabalho de catequese preferencialmente na direção das classes mais necessitadas, as quais procuram converter e manter sob sua influência através da assistência social, que compreende ajudas efetivas em dinheiro e alimentação. Essa ajuda, com frequência, representa também prémios para aqueles que conseguem novos adeptos para as seitas. Do mesmo modo, em países mais pobres é significativa a participação delas nos programas educativos. Cita o caso do Haiti, onde os dirigentes das seitas praticamente apoderam-se das crianças nos berçários e dirigem todo o seu processo educativo até a formação completa, de modo a capacita-las a se tomarem membros, igualmente, dos quadros evangelizadores.”
O trabalho de aliciamento das seitas não se limita a áreas urbanas e envolve os complexos processos migratórios de camponeses até as cidades e as profundas alterações ocorridas nos meios rurais causadas por inúmeros problemas ligados ao desenvolvimento. Para todos os migrantes, incluídos os que são compelidos a se mudarem por motivos políticos. As seitas dão esperança, consolo, autoconfiança apontando, assim, o “sentido da vida”. As seitas dedicam um carinho especial às vítimas de perseguições políticas na América Latina.
“A problemática das seitas apresenta-se diferente em cada país da América Latina. Assim, por exemplo, se no Brasil, a preocupação é o vertiginoso crescimento do pentecostalismo, a escalada dos Mórmons é que merece atenção especial no Chile e na América Central, além da radicalização política dos grupos fundamentalistas que faz a dor-de-cabeça da Igreja Católica. Interessante é notar que, no chamado avanço das seitas, é o pentecostalismo que ocupa, invariavelmente, o primeiro plano, pois somente no Brasil, México, Chile e El Salvador encontramos 93% dos seus adeptos, que constituem cerca de 60 por cento de todos os evangélicos da América Latina.”
Comprovou o informe do CELAM que todas as seitas utilizam os mesmos processos para atrair e doutrinar as pessoas em suas reuniões e assembléias. A música e os cantos populares ocupam lugar de destaque na criação de uma atmosfera de confraternização. Ali todos se consideram à vontade, realizados, alvos de atenção. Recebem dons espirituais, não raro algum “ministério” que dá prestígio e um posto representativo na hierarquia. O canto com coro, a oração coletiva em voz alta, as aclamações, as exclamações e os testemunhos vibrantes de salvação e bênção de Deus completam o clima de exaltação e êxtase.
A maioria das seitas é bem recebida no meio da população com problemas de alfabetização; em outras situações oferecem aos crentes alternativas terapêuticas que prometem resolver inúmeros problemas de saúde física e psíquica. Exercem esse dom de “cura divina” como missão de caridade, mas também o utilizam como meio de pressão e intimidação, sobretudo sobre as pessoas menos esclarecidas, que são ameaçadas de possessão diabólica e maldição, caso saiam das normas da seita. Aos convertidos, ao contrário, é dada a possibilidade de três importantes experiências: o arrependimento de uma vida pecaminosa e mundana; a conversão, seguida do ritual do “batismo nas águas”, o qual marca a regeneração e a consciência plena de estar salvo em Cristo; a santificação completa, alcançada através do batismo com o Espirito Santo.
Um exemplo atual do sectarismo e do individualismo é o G12, seita criada pelo pastor colombiano César Castellanos Dominguez – Missão Carismática Internacional – e foi introduzida no Brasil em 1998 pelo Apóstolo Renê Terra Nova, fundador do Ministério Internacional da Restauração, após participar de um encontro da MCI, em Bogotá. Terra Nova adotou nova nomenclatura para a Visão Celular que passou a se chamar Movimento Celular ou M-12. O G12 é um movimento que nasceu inicialmente no seio do neo-pentecostalismo, com o propósito de provocar o crescimento das igrejas evangélicas através de pequenos grupos conhecidos como células. Essas células atuam em reuniões nas casas dos fiéis e geralmente são compostas por doze pessoas.
Essa nova visão é a grande responsável por orientações entre o meio protestante de abandonarem as tradições cristãs como o Natal, por exemplo. Eles têm uma “intenção” neo-pentecostal, sendo por vezes bem recebidos em algumas igrejas, embora rejeitados em outras.
As principais críticas ao movimento são, em primeiro lugar, o fato do participante do encontro ter o seu “renascimento” para Cristo (igrejas tradicionais, não aceitam o novo “nascimento”). Depois, em relação às doutrinas, há uma série delas que não são aceitas pelas denominações tradicionais e pentecostais clássicas, tais como: batalha espiritual, quebra de maldições, cobertura espiritual, atos proféticos, cura interior, etc. Vemos um novo tipo de protestantismo surgir na atualidade.
Reforçando a questão da busca de terreno pelas seitas na América latina, esse G12 e outros movimentos dão continuidade a toda aquela transformação de costumes incutindo nos fiéis a necessidade de manutenção de um estilo de religiosidade sectária, através de um comportamento ético isolado do mundo. Procura-se, por esse meio, renovar no convertido o sentimento de haver superado sua condição anterior e propõe-se-lhe uma moral rigorosa, com algumas proibições mas sem sacrifícios exagerados. As verdades devem ser aceitas sem juízo crítico. “O fundamentalismo, na interpretação bíblica, dá origem ao individualismo e repudia todo critério de unificação. O comum, então, é a salvação pessoal, sem intermediários. Nisso, justamente, está centrada toda a intensa atividade de proselitismo das seitas, iniciada, via de regra, com perseverante trabalho de doutrinação individual de porta a porta.”
“As seitas têm características peculiares. Algumas oferecem proteção e segurança aos convertidos nas diversas situações de crise individual, mas todas têm respostas prontas e objetivas para todas as necessidades imediatas, detendo-se minuciosamente nas questões particulares de cada um. Na interpretação flexível da Bíblia, encontram soluções para os mais complexos problemas existenciais e saídas relativamente claras e não ambíguas para quaisquer dificuldades do cotidiano. Exercitam isso com extrema convicção, pois consideram-se o único caminho de esperança nesse mundo caótico, os verdadeiros olhos de Deus para conduzir a humanidade aflita por salvação eterna.”
Politicamente as seitas são, em geral, excessivamente submissas à lei, à ordem e às autoridades em todos os níveis. Mas no Brasil vemos que já criam problemas. Vemos um abuso na relação com outros grupos religiosos, e até uma aliança com traficantes para não permitir religiões que não os interessam. Estão sendo amplamente envolvidas em atuação política, querendo transformar a sociedade, não mais apenas salvar o homem; suas postulações surgem mais dóceis, mais controláveis, portanto, pela situação dominante. Sem consciência revolucionária, as seitas podem representar perigo para o status quo, porque os seus líderes podem as manipular à vontade. Isso não era muito comum, por isso certos governos fizeram uso em infiltrá-las em áreas críticas em outros países, a fim de contrapor a sua passividade política ao ativismo religioso em favor da solução de questões sociais, como ocorre frequentemente com a lgreja Católica.
UM MAPA REDESENHADO
“Conquanto o então presidente americano Theodore Roosevelt, em 1912, percorrendo a Patagônia (Argentina) tenha dito, cheio de mágoa, que “será Ionga e difícil a absorção desses países pelos Estados Unidos, enquanto forem países católicos”: Dizer que o incremento da penetração das seitas na América Latina é um projeto ideológico americano pode ser uma assertiva tão fácil e simplista, quanto ignorá-la.”
“Por mais que se acumulem as evidências que robustecem a suspeita, seria temerário, como já observamos, concluir que haja um plano ordenado e sistemático naquele sentido. Não autoriza este juízo o fato de os Estados Unidos sediarem a totalidade das seitas que de lá desencadeiam o proselitismo sobre a América Latina, podendo também ser coincidência que o grosso do esquema financeiro que sustenta as atividades dos novos grupos religiosos seja da mesma procedência. É preferível adotar uma posição ingênua à primeira vista, do que avançar em acusações carentes de provas, embora os fatos sejam exageradamente auto-evidentes.”
O melhor entendimento das mutações religiosas na América Latina, daqui para a frente será alcançado certamente se evitarmos, na medida do possível, o emprego do termo evangélico ou evangélicos, cujo significado é diferente em cada lugar. No sul do Brasil, por exemplo, é usado especificamente para designar os membros da lgreja Evangélica de Confissão Luterana. No restante do País, a acepção é mais ampla e tanto serve para chamar, todos os protestantes, independentemente de igreja ou denominação, como também tem a conotação de “crente”, pessoa ligada a um movimento pentecostal. “Assim é conveniente então, não o empregar, mesmo porque pode ser confundido e não é sinônimo de evangelical ou evangelicals (no plural), termo largameme usado nos Estados Unidos para designar uma corrente espiritual que conta com mais de 70 milhões de adeptos.”
O evangelismo americano, que não é igreja ou denominação particular, como eles dizem é um modo especial de sentir Jesus e não uma doutrina, essa é a origem dos movimentos atuais que repetem a frase “igreja somos nós”. É um movimento mais identificado com o “avivamento” que animou os grandes pregadores do século XVIII, notadamente George Whitefield e Jonathan Edwards. Enfatiza o aspecto da conversão pessoal e da salvação eterna, em detrimento da dimensão social e histórica do cristianismo, sendo, pois, contra o ecumenismo. “Os evangelicals crescem em importância política a cada dia. O ex-presidente Reagan, aliás, com o intuito de obter-lhes o apoio, implantou na Casa Branca um escritório especial para cuidar dessas relações, a exemplo dos que já funcionavam para as igrejas protestantes tradicionais, os católicos e os judeus.”
Vale lembrar que apenas 30 por cento dos 38 milhões de protestantes da América Latina pertencem a igrejas históricas ou tradicionais. A imensa maioria (70 por cento) já é composta de convertidos às novas seitas, notadamente as pentecostais, as quais reivindicam uma fatia cada vez maior na preferência religiosa nesta parte do continente, onde, como se sabe, 340 milhões seriam católicos. Esses números é que assustam o episcopado latino-americano e eles se tornam mais inquietadores à medida em que se constata que o crescimento dos chamados movimentos religiosos livres ou seitas verifica-se a uma taxa anual superior a 15%.
O avanço frenético das novas seitas na América Latina, com efeito, é notado imediatamente à partir da fronteira norte do México. Hoje, em contraposição à modesta expansão das igrejas protestantes históricas, os Mórmons, o Movimento Moderno, a igreja Apostólica Fé em Cristo, a Ciência Cristã, os Discípulos de Cristo e dezenas de outras seitas pentecostais, todas vindas dos Estados Unidos, perturbam a, até então, tranquila supremacia que a Igreja Católica desfrutava no país até um século atrás.
“O pentecostalismo mexicano perde em expressão apenas para o chileno e o brasileiro. Tem quase 2 milhões de crentes, boa estrutura, desenvolve intenso trabalho de proselitismo, mantém duas boas publicações regulares, inclusive de larga circulação nacional: “El expositor biblico cristiano” e “ Hechos de los apostoles”, mas impressionantes mesmo são os Mórmons, cerca de um milhão no país, cuja perfeita organização dispõe até de um cadastro microfilmado, com o registro de todos os adeptos no México, arquivado em Salt Lake City, capital espiritual do movimento religioso em todo o mundo.”
“Aqui, vamos começar a perceber a presença das instituições chamadas transconfessionais, que que são organizações geralmente fundadas por evangelicals não históricos ou tradicionais, quase sempre fundamentalistas, não subordinadas a nenhuma igreja ou denominação religiosa. A “transconfessionalidade” não visa a coordenar ou promover a ação ou trabalho desenvolvido por várias igrejas pois, nesse caso, seria chamada interconfessional ou interdenominacional, como a Associação Cristã de Moços, que tem 12 mil sedes em 94 países. Sem a participação de católicos, perdem, também, o carater ecuménico.
As transconfessionais, as faith missions (missões de fé), comumente atuam na área da evangelização, operando ou apoiando missões bíblicas ou executando projetos considerados úteis à fé cristã, sem compromisso denominacional. São mantidas por fundações e por recursos oriundos de grandes corporações empresariais, na maioria multinacionais e, a seu turno, financiam projetos de outros organismos religiosos ou leigos. As transconfessionais, via de regra, são ligadas a entidades ultraconservadoras e mesmo de direita, portanto, anticomunistas. Velada e subliminarmente empenham-se na inculturação das populações com as quais se relacionam, procurando converter ao modo de vida americano, o padrão ocidental cristão e capitalista.”
Jancsó István, A construção dos estados nacionais na América latina, MONTEIRO DE LIMA, Delcio, os demônios descem do Norte.
Fonte: https://apologistasdafecatolica.wordpress.com/