Momento da Viagem Apostólica do Papa João Paulo II à Grécia (4 de maio de 2001) | Vatican News |
A Viagem Apostólica de Francisco aos dois países
mediterrâneos, de 2 a 6 de dezembro, realiza-se no âmbito de trajetórias já
traçadas em 2010, em Chipre, pelo Papa emérito e em 2001, na Grécia, pelo
Pontífice polonês. A história de suas peregrinações nessas terras entre o
Oriente e o Ocidente.
Amedeo Lomonaco - Cidade do
Vaticano
A ilha de Chipre é a terra de
São Barnabé, nascido em Pafos e ali regressado para o anúncio da Páscoa do
Senhor Jesus. Segundo a tradição oriental, tornou-se a nova pátria para Lázaro,
ressuscitado por Jesus, que se mudou para Chipre para se tornar bispo de Citium
(hoje Larnaca). Na Grécia, o apóstolo dos gentios, São Paulo, deixou marcas
indeléveis. Filipos foi o primeiro lugar evangelizado na Europa e foi
justamente a partir da Grécia que o cristianismo se espalhou pelo continente
europeu.
“Embarcados em Trôade, fomos diretamente à Samotrácia e
no outro dia a Neápolis; e dali a Filipos". (Atos 16,11)”
O Papa Francisco irá a Chipre
e à Grécia, países na encruzilhada entre o Oriente e o Ocidente, de 2 a 6 de
dezembro, para confirmar na fé, confortar e encorajar as
comunidades locais. As etapas da Viagem Apostólica são Nicósia, Larnaca, Atenas
e Lesbos,
onde o Pontífice já esteve em 2016 para se encontrar com migrantes e refugiados
no campo de Mòria. Naquelas terras, sulcadas nas origens do cristianismo pelos
apóstolos Barnabé e Paulo, também foram como peregrinos João Paulo II e Bento
XVI.
“O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça,
paz e gozo no Espírito Santo. (Rm 14,17)”
Viagem do Papa
Wojtyła à Grécia
A Grécia, em 2001, foi a
primeira etapa da peregrinação jubilar de João Paulo II nas pegadas de São
Paulo. Na cerimônia de
boas-vindas, ele destaca que "a inculturação do Evangelho no
mundo grego permanece um exemplo para cada inculturação". Em seguida, o
Papa Wojtyla encontra o então
arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, sua Beatitude Christódoulos.
O pontífice polonês pede perdão por feridas ligadas a dramáticas páginas da
história, como o saque de Constantinopla em 1204.
Claramente, há a necessidade
de um processo libertador de purificação da memória. Pelas ocasiões
do passado e do presente, em que filhos e filhas da Igreja católica pecaram em
actos ou omissões contra os seus irmãos e irmãs ortodoxos, que o Senhor nos
conceda o perdão que lhe pedimos. Algumas memórias são particularmente
dolorosas, e determinados acontecimentos do passado mais longínquo deixaram
profundas feridas nas mentes e nos corações das pessoas, e ainda hoje se fazem
sentir. Refiro-me ao desastroso saque da cidade imperial de Constantinopla, que
por longo tempo foi a fortaleza da cristandade no Oriente. É trágico o facto de
que os salteadores, que partiram com a finalidade de garantir o livre acesso
dos cristãos à Terra Santa, agredissem os seus próprios irmãos na fé.
João Paulo II e Sua Beatitude Christódoulos (maio 2001)
Inspirado por
São Paulo
Ao visitar a Catedral de São
Dionísio em Atenas, João Paulo II recorda que este santo
"foi um dos primeiros gregos que, ouvindo a pregação de Paulo sobre a
ressurreição, se converteu". “Acolham todos este mistério de salvação, para
vivê-lo e ser suas testemunhas com os vossos irmãos”. Da capital helênica
ressoam então as palavras de São Paulo no famoso discurso do Areópago, relatado
nos Atos dos Apóstolos. Neste lugar da pregação do Apóstolo dos Gentios, é lida
em grego por um prelado ortodoxo e em inglês pelo cardeal Sodano a a "Declaração
Conjunta sobre as raízes cristãs da Europa".
Nós, Papa João Paulo II, Bispo
de Roma, e Christódoulos, Arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, diante
do bema (pódio) do Areópago, do qual São Paulo, o Grande Apóstolo das
Gentes, "Apóstolo por vocação, escolhido para anunciar o Evangelho de Deus"
(Rm 1, 1) pregou aos Atenienses o único Deus verdadeiro, Pai, Filho e
Espírito Santo e os chamou à fé e à conversão, queremos declarar em conjunto:
Damos graças a Deus pelo nosso encontro e pela comunicação recíproca, nesta
ilustre Cidade de Atenas, Sede Primacial da Igreja Apostólica Ortodoxa da
Grécia. Repetimos a uma só voz e um só coração as palavras do Apóstolo das
Gentes: "Rogo-vos, irmãos, pelo nome de Nosso Senhor Jesus Cristo,
que digais todos o mesmo, e que entre vós não haja divisões; sede perfeitos no
mesmo espírito e no mesmo parecer” ...
Na noite de 4 de maio, Sua
Beatitude Christódoulos e outros Metropolitas membros do Santo Sínodo da Igreja
Ortodoxa grega visitam o Papa na Nunciatura Apostólica em Atenas. No final do
encontro, o inesperado pedido de João Paulo II a Christodoulos: “Podemos rezar
o Pai Nosso em grego?”. “Sim, Santo Padre”, foi a resposta. Juntos, em grego,
eles recitam a oração que Jesus nos ensinou.
Momento da Viagem Apostólica de João Paulo II à Grécia (maio 2001) |
Dar testemunho
nos areópagos de hoje
O momento final da Viagem
Apostólica de João Paulo II à terra grega é vivido em 5 de maio de 2001. O
Pontífice celebra a Santa Missa no
Palácio dos Esportes do Centro Olímpico de Atenas. “Recordar em
Atenas o caminho e a ação de Paulo - afirma o Papa Wojtyła - é como ser
convidados a anunciar o Evangelho até aos extremos confins da terra, propondo
aos nossos contemporâneos a salvação dada por Cristo e mostrando-lhes os
caminhos da santidade e o orientação moral reta que constituem as respostas à
chamada do Senhor.”
“Seguindo o exemplo de São
Paulo e das primeiras comunidades – afirma o Papa -, é urgente criar ocasiões
de diálogo com os nossos contemporâneos, sobretudo nos lugares em que se decide
o futuro do homem e da humanidade, para que as decisões tomadas não sejam
condicionadas apenas pelos interesses políticos e econômicos que não têm em
conta a dignidade das pessoas e as exigências que dela derivam, mas que seja
para vós como um suplemento de alma que recorde o lugar insigne e a dignidade
do homem. Os areópagos que hoje solicitam o testemunho dos cristãos são
numerosos”.
Durante a homilia, o pontífice
polonês recordou também o fecundo diálogo entre a fé cristã e a filosofia.
O vosso País goza de uma
longa tradição de sabedoria e de humanismo. Desde as origens do cristianismo,
os filósofos empenharam-se por "mostrar a ligação entre a razão e a
religião. [...] Esboçou-se assim um caminho que, saindo das antigas tradições
particulares, levava a um desenvolvimento que correspondia às exigências da
razão universal" (Fides et ratio, 36). Este trabalho dos
filósofos e dos primeiros apologistas cristãos permitiu sucessivamente iniciar,
no seguimento de São Paulo e do seu discurso em Atenas, um diálogo fecundo
entre a fé cristã e a filosofia.
Antes de partir da Grécia,
João Paulo II dirige uma exortação especial: “Sede testemunhas de Cristo como
Paulo!”
Entre as dores e
as esperanças de Chipre
O outro país no centro da 35ª
Viagem Apostólica do Papa Francisco é Chipre. É a segunda vez que um Pontífice
visita esta ilha. Para relembrar a primeira visita de um Bispo de Roma a
Chipre, é preciso voltar a 2010, à Viagem
Apostólica de Bento XVI, realizada de 4 a 6 de junho daquele
ano. Seguindo os passos dos padres da fé, Santos Paulo e Barnabé, o Papa
emérito chega a Chipre como peregrino para confirmar os católicos na fé e
entregar o Instrumentum laboris tendo em vista a Assembleia
Especial para o Oriente Médio do Sínodo de Bispos, realizada em outubro de
2010.
No voo papal para
Chipre, Bento XVI expressa sua tristeza pelo assassinato do então
vigário apostólico da Anatólia, Dom Luigi Padovese, assassinado na Turquia em 3
de junho de 2010, “que também muito contribuiu - acrescenta o Pontífice - para
a preparação do Sínodo para o Oriente Médio”. Durante a cerimônia de
boas-vindas no aeroporto internacional de Paphos, referindo-se à divisão da
ilha de Chipre em duas partes, Bento XVI expressa um desejo por Chipre, que
também está ligado também ao presente desta ilha.
May the love of your homeland
and of your families and the desire to live …
Possam o amor à vossa Pátria e
às vossas famílias e o desejo de viver em harmonia com os vossos vizinhos sob a
protecção misericordiosa de Deus omnipotente, inspirar-vos para resolverdes com
paciência os problemas que ainda partilhais com a comunidade internacional para
o futuro da vossa Ilha.
Bento XVI em Chipre durante a Viagem Apostólica de 4 a 6 de junho de 2010
Entre encontros
ecumênicos e anseios de paz
A unidade dos cristãos é um
dos temas centrais da viagem de Bento XVI a Chipre. Durante a celebração
ecumênica de 4 de junho de 2010, na área arqueológica da Igreja
de Agia Kiriaki Chrysopolitissa, o Pontífice recordou que "a comunhão
eclesial na fé apostólica é tanto um dom como um apelo à missão". “A
unidade de todos os discípulos de Cristo – acrescenta - é um dom que se deve
implorar ao Pai, na esperança de que Ele fortaleça o testemunho do Evangelho no
mundo de hoje.
No encontro seguinte, dirigindo-se às
autoridades civis, Bento XVI afirma: “Quando as políticas que
apoiamos são postas em ato em harmonia com a lei natural própria da nossa comum
humanidade, então as nossas ações tornam-se mais sólidas e levam a uma
atmosfera de entendimento, de justiça e de paz.”
No dia seguinte, 5 de junho de
2010, mais de 1.500 pessoas representando todos os católicos cipriotas em seus
componentes, maronitas, armênios e latinos, acolhem Bento XVI, em um ambiente
alegre também marcado pelo canto de algumas crianças, no campo esportivo
da Escola primária de São Maron.
Only by patient work can
mutual trust be built…
Só através de um trabalho
paciente de confiança recíproca, o peso da história passada pode ser superado e
as diferenças políticas e culturais entre os povos podem tornar-se um motivo
para agir por uma compreensão maior. Exorto-vos a ajudar a criar esta recíproca
confiança entre cristãos e não-cristãos, como fundamento para construir uma paz
duradoura e uma harmonia entre os povos de diversas religiões, regiões
políticas e bases culturais.
Momento da Viagem Apostólica de Bento XVI a Chipre, em junho de 2010
Entrega do Instrumentum
Laboris
No dia 5 de junho de 2010,
durante o encontro com o
arcebispo ortodoxo de Chipre Crisóstomo II, Bento XVI expressou um
desejo: “Possa o Espírito Santo guiar e confirmar esta grande iniciativa
eclesial, que tem como objetivo recompor a plena e visível comunhão entre as
Igrejas do Oriente e do Ocidente, uma comunhão que deve ser vivida na
fidelidade do Evangelho e na tradição apostólica, de modo que aprecie as
legítimas tradições do Oriente e do Ocidente, e que se abra à diversidade dos
dons através dos quais o Espírito edifica a Igreja na unidade, na santidade e
na paz.”
Na Missa celebrada
para os sacerdotes, religiosos e diáconos na Igreja da Santa Cruz de Nicósia,
Bento XVI sublinhou que a humanidade tem necessidade da Cruz de Cristo para
vencer o mal do mundo:
“A cruz é algo maior e mais
misterioso do que, à primeira vista, possa parecer. Indubitavelmente, é um
instrumento de tortura, de sofrimento e de derrota, mas ao mesmo tempo
manifesta a transformação completa, a desforra sobre estes malefícios, e isto
faz dele o símbolo mais eloquente da esperança que o mundo jamais viu.”
No dia seguinte, 6 de junho de
2010, presidindo a Missa por ocasião da publicação do Instrumentum
laboris da Assembleia Especial para o Oriente Médio do
Sínodo dos Bispos, recorda que os cristãos são chamados, como na Igreja primitiva,
a serem testemunhas de Jesus perante o mundo.
We are called to overcome our
differences, to bring peace and reconciliation…
Somos interpelados a superar
as nossas diferenças, a levar paz e reconciliação aonde existem conflitos e a
oferecer ao mundo uma mensagem de esperança. Somos chamados a estender a nossa
atenção aos necessitados, dividindo generosamente os nossos bens terrenos com
aqueles que são menos afortunados do que nós. E somos chamados a proclamar de
maneira incessante a morte e a ressurreição do Senhor, até que Ele venha.
Por ocasião da entrega do Instrumentum
laboris, Bento XVI recorda, portanto, que “o Médio Oriente ocupa
um lugar particular no coração de todos os cristãos, dado que foi precisamente
ali que Deus se fez conhecer aos nossos pais na fé.”
No Angelus de 6 de
junho de 2010, pede para implorar à Virgem Maria que interceda
"por todos nós, pelo povo de Chipre e pela Igreja do Médio Oriente".
A visita à
catedral maronita de Chipre, que de várias formas - afirma Bento XVI
- representa a verdadeira longa e rica história, por vezes turbulenta «daquela
comunidade, antecede a última etapa da viagem apostólica 2010 na ilha cipriota:
a cerimônia de
despedida do Aeroporto Internacional de Larnaca:
“Chipre – afirma Bento XVI - desempenha
um papel particular na promoção do diálogo e da cooperação”. Um papel
importante que Chipre continua a assumir ainda hoje, neste momento abalado pela
pandemia e por crises que afetam o tecido económico e social em todo o mundo.
A viagem do Papa
Francisco
A história de Chipre e da
Grécia se entrecruza também com a pregação dos apóstolos Barnabé e Paulo, com
os ensinamentos de São João Paulo II e de Bento XVI. Agora, a esses passos
somam-se os do Papa Francisco. O programa da 35ª Viagem
Apostólica se desenvolve em lugares visitados também por seus
predecessores. Depois de chegar ao aeroporto de Larnaca no dia 2 de dezembro,
Francisco vai a Nicósia para o encontro com sacerdotes, religiosos,
consagradas, diáconos, catequistas, associações e movimentos eclesiais na
Catedral maronita de Nossa Senhora das Graças. Em seguida, o programa prossegue
com o translado ao Palácio Presidencial para três compromissos: a cerimônia de
boas-vindas, a visita de cortesia ao Chefe do Estado e o encontro com as
autoridades, a sociedade civil e o corpo diplomático. O dia 3 de dezembro é o
dia da visita a Sua Beatitude Crisóstomo II, arcebispo ortodoxo de Chipre, do
encontro com o Santo Sínodo e da Missa no Gps Stadium de Nicósia. O segundo dia
da viagem termina com uma oração ecumênica pelos migrantes na igreja paroquial
de Santa Croce.
A etapa grega começa no
sábado, 4 de dezembro. Após a cerimônia de boas-vindas, o programa inclui uma
visita de cortesia ao chefe do Estado, encontros com o primeiro-ministro e com
autoridades, sociedade civil e corpo diplomático. À tarde, a visita a Sua
Beatitude Ieronymos II, arcebispo de Atenas e de toda a Grécia no Arcebispado
Ortodoxo e, a seguir, encontro com as respectivas comitivas na sala do Trono.
Para o final do dia estão programados outros dois
encontros: com bispos, sacerdotes, religiosos, consagradas, seminaristas e
catequistas na Catedral de São Dionísio. O encontro privado com membros da
Companhia de Jesus conclui o dia 4 de dezembro. No domingo, 5 de dezembro, o
Papa voa para Mitilene, na ilha grega de Lesbos, para transmitir seu
encorajamento aos refugiados do “Reception and identification centre”. No final
da manhã, ele retorna a Atenas, onde à tarde preside a celebração da Missa no
Megaron concert hall. À noite, visita de cortesia de Sua Beatitude Ieronymos II
ao Santo Padre na Nunciatura Apostólica. No dia 6 de dezembro, Francisco recebe
o presidente do Parlamento grego antes do encontro com os jovens na Escola São
Dionísio das Irmãs Ursulinas de Maroussi e da cerimônia de despedida.
Fonte: https://www.vaticannews.va/