Doutor Jérôme Lejeune / Crédito: Fundação Jérôme Lejeune |
PARIS, 03 dez. 21 / 03:38 pm (ACI).- O postulador da causa da canonização de Jérôme Lejeune, Aude Dugast, destacou o caráter heroico das virtudes do geneticista francês, e seu legado espiritual e intelectual que mudou a visão do mundo da síndrome de Down.
Nascido em 13 de junho de 1926 em Montrouge, França, o doutor Lejeune descobriu em 1958 a trissomia do par de cromossomos 21, responsável pela síndrome de Down.
A descoberta foi publicada na revista Nature em 1959. Desde então, Lejeune dedicou todos os seus esforços para defender essas crianças das tentativas de instrumentalizar sua descoberta para justificar o aborto de crianças com Down.
Essa postura de Lejeune na defesa do direito à vida de crianças com Síndrome de Down fez com que sua candidatura ao Prêmio Nobel de Medicina de 1970 não prosperasse, apesar da importância de sua descoberta.
Numa entrevista ao National Catholic Register, Dugast observou que a virtude da fé do geneticista francês é óbvia, "ele nunca duvidou e sua fé cresceu junto com sua inteligência e conhecimento científico".
“Todo o seu ser estava orientado para a busca da verdade”, destacou. “Como resultado, ele usou sua inteligência científica e espiritual para descobrir os mistérios do mundo criado com o grande mérito de poder transmiti-lo ao mundo com palavras simples e com grande humildade”, acrescentou.
O postulador disse que as capacidades do servo de Deus se combinavam com "uma caridade heroica porque tinha um amor incondicional por seus pacientes que demonstrava quando se falava do aborto de crianças com síndrome de Down”.
“Ele não seguiu o espírito da época. Sua moral estava a salvo. E isso é heroico porque ele sabia que teria muitos problemas por fazer isso, ele sabia. Mas disse que ele era o defensor natural dessas crianças porque não podiam se defender sozinhas", comentou.
Dugast disse que o geneticista se manteve "incrivelmente tranquilo e gentil" mesmo quando as portas se fecharam, e foi graças a isso que foi reconhecido como “o verdadeiro defensor da vida. Esta é a marca da sua natureza heroica”.
O postulador acrescentou que o geneticista católico via "no paciente uma pessoa feita à imagem de Deus" e destacou que este olhar "de amor e esperança transforma o paciente e os pais".
“Tenho muitos testemunhos de pais que ficaram maravilhados com a maneira como Lejeune recebeu seu filho e olhou para ele. Isso os ajudou a olhar para seu filho deficiente com amor renovado”, acrescentou.
Além disso, afirmou que a justiça é a "grande virtude cardeal de Lejeune", que lutou "pelo reconhecimento dos direitos de todos os nascituros" e não teve medo de "sacrificar a própria carreira" por esta causa.
Dugast disse que essa decisão fez com que o servo de Deus perdesse muitas coisas no processo, como o Prêmio Nobel, ao qual foi nomeado duas vezes; mas nada poderia o desviar do que “via como a verdade da inteligência e a verdade do coração” sobre o valor da vida.
“Em nosso mundo pós-moderno, a pressão é enorme, e se a pessoa não é livre interiormente, se não está disposta a perder tudo para seguir a própria consciência, sempre estará em perigo de se comprometer”, lamentou.
O postulador disse que o legado científico de Lejeune revolucionou o mundo da genética e a vida das famílias com crianças com deficiência.
“Não percebemos hoje, mas antes dessa descoberta em 1958, as famílias que tinham um filho com síndrome de Down, ou uma criança 'mongolóide' como eram chamadas na época, estavam perdidas, sem mencionar a forma como a sociedade via os seus filhos e, portanto, como os via”, acrescentou.
Dugast lamentou que as famílias com filhos com deficiência naquela época tenham sido condenadas ao ostracismo e a viver escondidas, onde as outras filhas não podiam se casar.
“Ao mostrar que se tratava de uma doença cromossômica, Lejeune revolucionou a visão da sociedade sobre as famílias e restaurou sua dignidade. Isso as libertou do peso da suspeita e da fatalidade", destacou.
O postulador destacou que o servo de Deus fez da genética uma disciplina “por direito próprio, criou os primeiros certificados citogenéticos, foi o primeiro professor da primeira cátedra acadêmica de genética na França. Ele também foi reitor da Universidade de Medicina de Paris”.
“Diz-se que ele foi o pai da genética moderna. Todos os geneticistas da França durante 30 anos foram seus alunos. Teve um impacto enorme, não só na França, mas também nos EUA e em todo o mundo”, destacou.
Mas o seu impacto foi também no plano espiritual, onde o servo de Deus conseguiu demonstrar que “a fé e a ciência andam de mãos dadas, que para ser um grande cientista não é preciso deixar a fé de lado”, e para ser um homem venerável, com virtudes heróicas, “não precisa deixar a inteligência de lado”.
“A inteligência de Jérôme Lejeune está verdadeiramente no centro da sua santidade”, acrescentou.
Dugast também destacou o papel fundamental de Birthe Lejeune, esposa do geneticista francês, a quem descreveu como “mais do que uma mão direita. Ela era parte total dele”.
“Jérôme Lejeune não seria o homem que conhecemos se a senhora Lejeune não estivesse ao seu lado, mesmo que apenas em um nível muito simples. A senhora Lejeune era uma espécie de força vital pura, e Jérôme era um cientista, um poeta, que também era muito concreto, mas não tinha a força vital da senhora Lejeune”, acrescentou.
Por fim, Dugast destacou que é a simplicidade da santidade de Lejeune que mais o edifica, porque o servo de Deus "não nasceu santo, tornou-se santo".
“Ele levou a sério a fé de seu batismo e o Evangelho. Deixou-se levar pelas circunstâncias da vida, por seus encontros com essas crianças. E quando outras circunstâncias da vida lhe pediram para trair esse compromisso médico, do juramento hipocrático, ele disse não, eu sou médico e é a prova da inteligência que um embrião é um ser humano que um médico deve tratar”, acrescentou.
O postulador disse que Lejeune, falando “a verdade, converteu os médicos. E isso foi o que mais me comoveu e me fez refletir”.
“É maravilhoso ver que este grande cientista guiou toda a sua vida segundo as palavras de Jesus no Evangelho: ‘todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes’. Costumava terminar suas conferências com este chamado ao Evangelho. É a bússola da sua vida”, concluiu.
Fonte: https://www.acidigital.com/