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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Francisco: "O perdão é um direito humano"

Papa Francisco em entrevista à televisão italiana | Vatican News

O Papa em conexão com o programa de televisão "Che tempo che fa", faz um amplo diálogo com o condutor Fabio Fazio que lhe pergunta como consegue suportar o peso de tantas histórias de sofrimento e dor indescritíveis: "Toda a Igreja me ajuda". Papa recorda música de Roberto Carlos.

Salvatore Cernuzio - Vatican News

"A guerra é um contrassenso". O Papa Francisco conecta-se da Casa Santa Marta, no Vaticano, com o programa televisivo "Che tempo che fa" conduzido por Fabio Fazio no canal RAI 3 e dialoga com o apresentador que o interrogou sobre muitas questões: guerras, migrantes, a proteção da criação, a relação entre pais e filhos, o mal e o sofrimento, a oração, o futuro da Igreja, a necessidade de amigos. E afirma que o perdão é um "direito humano, a capacidade de ser perdoado é um direito humano. Todos temos o direito de ser perdoados se pedirmos perdão". 

O olhar se concentra principalmente no tema caro ao Papa, o da migração. Infelizmente, este tema ainda é atual depois da recente notícia dos 12 migrantes encontrados mortos por congelamento na fronteira entre a Grécia e a Turquia. Para o Papa "isto é um sinal da cultura da indiferença". E é também "um problema de categorização": as guerras, em primeiro lugar; pessoas, em segundo lugar. O Iêmen é um exemplo disto: "Há quanto tempo é que o Iêmen sofre a guerra e há quanto tempo é que falamos das crianças do Iêmen? Um exemplo claro, e não se encontra solução para o problema há anos. Não quero exagerar, mais do que 7 de certeza, se não 10. Há categorias que importam e outras que estão embaixo: crianças, migrantes, os pobres, aqueles que não têm o que comer. Estes não contam, pelo menos não contam em primeiro lugar, porque há pessoas que amam estas pessoas, que tentam ajudá-las, mas na imaginação universal o que conta é a guerra, a venda de armas. Basta pensar que com um ano sem produzir armas, se poderia dar de comer e educação a todo o mundo, gratuitamente. Mas isto está em segundo plano", diz o Papa Francisco. Ele volta os seus pensamentos para Alan Kurdi, a criança síria encontrada morta numa praia, e para as muitas outras crianças como ele "que não conhecemos" e que "morrem de frio" todos os dias. A guerra permanece, no entanto, a primeira categoria: "Vemos como se mobilizam as economias e o que é hoje mais importante, a guerra: guerra ideológica, guerra de poderes, guerra comercial e tantas fábricas de armas", diz o Papa.

E falando de guerra, o Pontífice - perguntado sobre as tensões entre a Ucrânia e a Rússia - recorda as raízes desta horrível realidade que é "um contrassenso da criação" que remonta ao Gênesis com a guerra entre Caim e Abel, a guerra pela Torre de Babel. "Guerras entre irmãos" surgiram pouco depois da criação do homem e da mulher por Deus: "Há como que um anti-senso da criação, é por isso que a guerra é sempre destruição. Por exemplo, trabalhar a terra, tomar conta dos filhos, manter uma família, fazer a sociedade crescer: isto é construir. Fazer a guerra é destruir. É uma mecânica de destruição”.

Nesta mesma mecânica, o Papa Francisco inclui o tratamento "criminoso" reservado a milhares de migrantes. "Para chegar ao mar sofrem tanto", diz o Pontífice, e volta a denunciar as "lagers" na Líbia: "Quanto sofrem nas mãos dos traficantes aqueles que querem fugir". Há filmes que mostram isto e muitos são conservados na seção migrantes e refugiados do Dicastério para o Desenvolvimento Humano. "Eles sofrem e depois arriscam-se a atravessar o Mediterrâneo". Depois, por vezes, são rejeitados, pois alguém que, por responsabilidade local, diz "Não, aqui não vêm"; há estes navios que andam à procura de um porto, que voltam ou morrem no mar. Isto está acontecendo hoje", reitera o Papa. E, como em outras ocasiões, repete o princípio de que "cada país deve dizer quantos imigrantes pode acolher": "Este é um problema de política interna que deve ser bem pensado e dizer "eu posso até este número". E os outros? Existe a União Europeia, temos de concordar, para que possamos alcançar um equilíbrio, em comunhão". Neste momento, em vez disso, apenas "injustiça" parece emergir: "Eles vêm para a Espanha e Itália, os dois países mais próximos, e não são recebidos noutro lugar. O migrante deve ser sempre acolhido, acompanhado, promovido e integrado. Acolhido porque há uma dificuldade, depois acompanhá-lo, promovê-lo e integrá-lo na sociedade". Acima de tudo, integrá-lo a fim de evitar a guetização e os extremismos filhos de ideologias, como aconteceu na tragédia de Zaventem, na Bélgica, com os dois agressores "belgas", mas "filhos de migrantes guetizados". Além disso, os migrantes são recursos em países que registam um forte declínio demográfico. Por conseguinte, sublinha o Papa Francisco, "devemos pensar inteligentemente na política migratória, uma política continental". E o fato de que "o Mediterrâneo é hoje o maior cemitério da Europa deve fazer-nos pensar".

Da mesma forma, o Papa, interpelado sobre isto pelo apresentador, exorta a refletir sobre o que parece ser uma tremenda divisão no mundo: uma parte desenvolvida onde se tem "a possibilidade de escola, universidade, trabalho"; outra, com as "crianças que morrem, migrantes que se afogam, injustiças que vemos também nos nossos próprios países". A tentação "muito feia", sublinha o Pontífice, é "a de olhar para o outro lado, não olhar". Sim, há os meios de comunicação social que mostram tudo "mas nós tomamos distância"; sim, "queixamo-nos um pouco, 'é uma tragédia!" mas depois é como se nada tivesse acontecido". "Não basta ver, é necessário sentir, é necessário tocar", insiste Francisco. "Sentimos falta de tocar as misérias e o tocar leva-nos ao heroísmo". Penso nos médicos, enfermeiros e enfermeiras que deram as suas vidas nesta pandemia: tocaram o mal e escolheram ficar ali com os doentes".

O mesmo princípio se aplica à Terra. Mais uma vez, o Papa Francisco reitera o apelo a cuidar da Criação: "É uma educação que temos de aprender". O Papa olha para a Amazônia e aos problemas de desflorestação, falta de oxigênio, mudanças climáticas: existe o risco de "morte da biodiversidade", existe o risco de "matar a Mãe Terra", afirma. Prosseguiu citando o exemplo dos pescadores de San Benedetto del Tronto, que encontraram cerca de 3 milhões de toneladas de plástico num ano e tomaram medidas para remover todos os resíduos do mar. "Temos de colocar isto na nossa cabeça: tomar conta da Mãe Terra", diz o Papa. 

Francisco cita uma canção de Roberto Carlos na qual um filho pergunta ao seu pai "por que é que o rio já não canta. O rio não canta - o Papa destaca o Papa falando das mudanças climáticas - porque já não existe mais".

O Papa invoca uma atitude de "cuidado", que também parece faltar de um ponto de vista social. Hoje em dia o que vivemos é de fato um problema de "agressividade social", como mostra o fenômeno do bullying: "Esta nossa agressividade deve ser educada. A agressão não é uma coisa negativa em si porque é preciso agressão para dominar a natureza, para ir avante, para construir, há uma agressão positiva, digamos assim. Mas há uma agressão destrutiva que começa com algo muito pequeno, mas quero mencioná-la aqui: começa com a língua, a tagarelice. Mas a tagarelice, nas famílias, nos bairros, destrói". Destrói a "identidade". E isto acontece entre governantes, como entre as famílias. É por isso que o Papa Francisco aconselha, precisamente "para não nos destruirmos", a dizer "não à tagarelice": "Se tem algo contra o outro ou conserva só para você mesmo ou vai ter com ele e o diz na sua cara, ser corajosos, corajosas". 

Com o foco ainda nos jovens, por vezes vítimas de "uma incrível sensação de solidão" apesar de estarem hiperligados, o Papa Francisco dirigiu-se aos pais dos adolescentes, aqueles que por vezes lutam para compreender "o sofrimento dos outros". Para o Bispo de Roma, a relação entre pais e filhos pode ser resumida numa palavra: "proximidade". "A proximidade com os filhos. Quando os jovens casais se vão confessar ou quando falo com eles, faço sempre uma pergunta: 'Você brinca com os seus filhos? A gratuidade do pai e da mãe com o filho. Por vezes ouço respostas dolorosas: 'Mas padre, quando saio de casa para trabalhar eles estão dormindo e quando volto à noite eles estão de novo dormindo'. É a sociedade cruel que os separa dos filhos. Mas a gratuidade com os próprios filhos: brincar com os filhos e não ter medo dos filhos, das coisas que eles dizem, das hipóteses, ou mesmo quando um filho, já mais crescido, um adolescente, escorrega, estar perto, falar como um pai, como uma mãe". Aqueles "pais que não são próximos dos seus filhos, que, para os tranquilizar, dizem 'Mas leva a chave do carro, vai'" não fazem o bem. Por outro lado, "é muito bonito" quando os pais são "quase cúmplices dos seus filhos".

Sobre a questão da proximidade, Fazio recorda a conhecida frase do Papa: "Um homem só pode olhar um outro homem de cima para baixo quando o ajuda a se levantar". Francisco aprofunda o conceito: “É verdade, na sociedade vemos com que frequência as pessoas olham para os outros de cima para baixo para os dominar, para os subjugar e não para os ajudar a levantar. Basta pensar - é uma história triste, mas quotidiana - daqueles empregados que têm de pagar pela estabilidade do seu trabalho com o seu corpo, porque o seu patrão os olha de cima para baixo, para os dominar. É um exemplo diário, mas realmente um exemplo diário". Este gesto, por outro lado, só é lícito para fazer um ato 'nobre', ou seja, estender a mão e dizer 'levante-se irmão, levante-se irmã”. 

A conversa expande-se e toca no conceito de liberdade que é um dom de Deus mas que "é também capaz de fazer muito mal". "Como Deus nos fez livres, somos senhores das nossas decisões e também de tomar decisões erradas", diz Francisco. E ele insiste no conceito de Mal: "Há alguém que não mereça o perdão e a misericórdia de Deus ou o perdão dos homens?" pergunta o apresentador. O Pontífice responde com "algo que talvez chocará algumas pessoas": "A capacidade de ser perdoado é um direito humano. Todos temos o direito de ser perdoados se pedirmos perdão. É um direito que provém da própria natureza de Deus e foi dado como herança aos homens. Esquecemos que alguém que pede perdão tem o direito de ser perdoado. Você fez algo, deve pagar. Não! Tem o direito de ser perdoado, e se você tem uma dívida para com a sociedade, deve pagá-la, mas com o perdão”.

Contudo, há outro Mal, o inexplicável que por vezes atinge os inocentes, e pelo qual se pergunta por que razão Deus não intervém.  "Tantos males - explica o Bispo de Roma - vêm precisamente porque o homem perdeu a capacidade de seguir as regras, mudou a natureza, mudou tantas coisas, e também por causa das suas próprias fragilidades humanas. E Deus permite que isto continue". É claro que as perguntas permanecem sem resposta: "Por que é que as crianças sofrem?". "Não consigo encontrar explicação para isto", admite o Papa. "Eu tenho fé, tento amar a Deus que é meu pai, mas pergunto-me: 'Mas por que sofrem as crianças? E não há resposta. Ele é forte, sim, onipotente no amor. Em vez disso, o ódio, a destruição, estão nas mãos de outro que semeou o Mal no mundo por inveja".

E com o Mal "não se fala", recomenda o Papa, "dialogar com o Mal é perigoso": "E muitas pessoas vão, tentam dialogar com o Mal - eu também já me encontrei nesta situação muitas vezes - mas eu pergunto-me por que, um diálogo com o Mal, isso é uma coisa má... O diálogo com o Mal não é bom, isto vale para todas as tentações. E quando esta tentação chega, "por que as crianças sofrem?", só encontro uma maneira: sofrer com elas". Dostoevsky foi "um grande mestre" nisto.

O futuro, do mundo e da Igreja, ocupa amplo espaço na entrevista. O futuro do mundo, como prefigurado na "Fratelli tutti", com o homem no centro das economias e das escolhas. Esta é uma prioridade que o Papa diz partilhar com muitos chefes de Estado que têm bons ideais. Estes, contudo, colidem com "condicionamentos políticos e sociais, também na política mundial, que impedem as boas intenções". Estas são "sombras" que exercem pressão sobre a sociedade, sobre o povo, sobre aqueles que têm papéis de responsabilidade, diz o Papa: "E depois é preciso negociar muito". Sobre o futuro da Igreja, Jorge Mario Bergoglio recorda a imagem da Igreja delineada por São Paulo VI na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, a inspiração para a sua Evangelii Gaudium: "Uma Igreja em peregrinação". Hoje, "o maior mal da Igreja, o maior", volta a reiterar o Papa Francisco, "é a mundanização espiritual" que, por sua vez, "faz crescer uma coisa feia, o clericalismo, que é uma perversão da Igreja". "O clericalismo que existe na rigidez, e por baixo de todo o tipo de rigidez existe a podridão, sempre", diz Francisco, contando entre as "coisas feias" da Igreja de hoje as "posições rígidas, ideologicamente rígidas" que tomam o lugar do Evangelho. "Sobre atitudes pastorais digo apenas duas, que são antigas: o Pelagianismo e o Gnosticismo. O pelagianismo acredita que com a minha força posso avançar. Não, a Igreja avança com a força de Deus, a misericórdia de Deus e o poder do Espírito Santo. E o gnosticismo, o misticismo, sem Deus, esta espiritualidade vazia... não, sem a carne de Cristo não há compreensão possível, sem a carne de Cristo não há redenção possível", "Temos de voltar ao centro mais uma vez: 'O Verbo tornou-se carne'. Neste escândalo da cruz, do Verbo feito carne, está o futuro da Igreja", diz o Papa.

Ele explica então a importância de rezar: "Rezar", diz, "é o que uma criança faz quando se sente limitada, impotente [ela diz] 'papai, mamãe'. Rezar significa olhar para os nossos limites, as nossas necessidades, os nossos pecados.... Rezar é entrar com força, para além dos limites, para além do horizonte, e para nós, cristãos, rezar é encontrar o 'pai'". "A criança", insiste o Papa, "não espera pela resposta do papai, quando o papai começa a responder ela vai para outra pergunta. O que a criança quer é que o olhar do seu pai esteja sobre ela. Não importa qual seja a explicação, importa apenas que o papai olhe para ela, e isso dá-lhe segurança. Rezar é um pouco isso".

As perguntas tocam depois em áreas mais pessoais: "Alguma vez se sente só? O senhor tem amigos verdadeiros", pergunta-se ao Papa. "Sim", responde, "tenho amigos que me ajudam, eles conhecem a minha vida como um homem normal, não que eu seja normal, não. Tenho as minhas próprias anomalias, eh, mas como um homem comum que tem amigos; e gosto de estar com os meus amigos às vezes para lhes contar as minhas coisas, para ouvir as deles, mas de fato preciso de amigos. Essa é uma das razões pelas quais não fui viver no apartamento papal, porque os papas que lá estiveram antes eram santos e eu não sou tanto assim, não sou tão santo. Preciso de relações humanas, é por isso que vivo neste hotel de Santa Marta, onde se encontram pessoas que falam com todos, se encontram amigos. É uma vida mais fácil para mim, não tenho vontade de fazer outra, não tenho a força e as amizades dão-me força. Pelo contrário, preciso de amigos, eles são poucos, mas verdadeiros".

Durante a entrevista, não faltam referências ao passado e à sua infância em Buenos Aires, à sua torcida pelo San Lorenzo, à sua "vocação" de açougueiro, às suas raízes piemontesas, e à sua experiência no laboratório de química, um estudo "que tanto me seduziu" mas sobre o qual prevaleceu o chamado de Deus. A propósito de confidências, o Papa recorda também o voto que fez a Nossa Senhora do Carmo, em 16 de julho de 1990, de não ver televisão: "Não vejo televisão, não porque a condene" e o seu amor pela música, especialmente pela música clássica. Depois, ele insiste no seu sentido de humor que, diz ele, "é um remédio" e "faz muito bem".

Como cada um dos seus discursos, o Papa Francisco pede orações por ele. "Eu preciso, e se algum de vocês não rezar porque não acredita, não sabe ou não pode, pelo menos envie-me bons pensamentos, boas ondas. Preciso da proximidade das pessoas”. A entrevista se conclui com uma imagem retirada de um filme do pós-guerra: "Para finalizar o diálogo, penso que foi Vittorio De sica que fazia o cartomante, lia as mãos 'obrigado 100 liras', eu digo a vocês '100 orações', '100 liras, 100 orações'. Obrigado".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Papa fala de ‘santos da porta ao lado’

Papa Francisco e Rayan | ACI Digital

 Vaticano, 07 fev. 22 / 08:56 am (ACI).- “Estamos acostumados a ver, a ler na mídia muitas coisas ruins, notícias ruins, acidentes, assassinatos, muitas coisas. Mas gostaria de mencionar duas coisas boas hoje”, disse o papa Francisco no final da oração do Ângelus de ontem, 6 de fevereiro, diante de numerosos fiéis reunidos na Praça de São Pedro.

Em primeiro lugar, o papa falou do Marrocos, onde um grande grupo de pessoas se uniu para resgatar um menino de 5 anos, Rayan, que caiu em um poço de 32 metros e ficou preso por quatro dias.

O papa agradeceu o testemunho de “como um povo todo se uniu para salvar Rayan. O povo todo estava ali, trabalhando para salvar um menino! Foi feito de tudo".

O papa lamentou que o menino infelizmente tenha morrido pouco depois de ser retirado do poço.

Francisco também relatou outra história que aconteceu na Itália e que "não sairá nos jornais". Falou sobre o testemunho de John, um ganês de 25 anos que trabalhava no norte da Itália até que ficou doente.

“Um emigrante, que sofreu tudo o que tantos emigrantes sofrem para chegar até aqui, e que finalmente se instalou em Monferrato, começou a trabalhar, a fazer o seu futuro, numa adega”.

Francisco contou que este jovem ficou doente com "um câncer terrível e que está morrendo", mas acrescentou que quando lhe contaram o diagnóstico e lhe perguntaram o que ele queria fazer, ele respondeu: 'Ir para casa e abraçar meu pai antes de morrer'. Morrendo, ele pensou em seu pai”.

O papa relatou comovido que quando as pessoas souberam de sua história naquela cidade de Monferrato, se reuniram para fazer uma arrecadação de fundos, o medicaram e o enviaram em um avião com um amigo para "morrer nos braços de seu pai".

"Isso nos mostra que hoje, no meio de tantas notícias ruins, há coisas boas, há os ‘santos da porta ao lado’. Obrigado por estes dois testemunhos que nos fazem bem”, concluiu Francisco

Fonte: https://www.acidigital.com/

“Não discutir com idiotas”: uma armadilha para nos tornar idiotas…

Mangostar | Shutterstock
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Estejamos sempre abertos a buscar a verdade com todos. A ninguém desqualifiquemos como idiotas.

“Não discutir com idiotas”, a frase – dita com essas palavras ou com outras semelhantes – foi invocada nos últimos tempos em artigos e livros. Diante de eleições muito polarizadas e com posições extremistas em jogo, que dividem famílias e grupos sociais, parece uma ideia muito sensata. Mas oculta um problema: como saber quem é o idiota com o qual não discutir?

Aqueles que rotulam facilmente os outros como idiotas estão mais interessados em se autoafirmar e conseguir seguidores nos debates sociais do que realmente interessados na verdade. A estratégia corresponde a dizer “eu digo quem são os idiotas, então se me seguir você será inteligente”. Quem está interessado realmente na verdade, discute ideias sem rotular pessoas. Além disso, o primeiro sinal de idiotice é justamente acusar os outros de serem idiotas e assim nos furtarmos da necessidade de analisar seriamente os argumentos que apresentam, contrários a nossas posições.

O bom cristão, habituado a um exame de consciência sério, sabe que deve se perguntar sobre os seus pecados antes de acusar os pecados dos outros (quem tem dúvidas, leia Mt 7, 3-5). Antes de acusar o outro de idiota, temos que conhecer suas ideias e motivações e buscar entendê-lo. Antes de dizer que uma ideia é idiota, temos que analisar nossas próprias convicções sobre aquele tema, para ver se nós também não estamos pensando idiotices.

Dialogar, não discutir

Na Fratelli tutti (FT 215), Papa Francisco faz uma proposta radical: “Uma sociedade onde as diferenças convivem integrando-se, enriquecendo-se e iluminando-se reciprocamente, embora isso envolva discussões e desconfianças. Na realidade, de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo”. De todos se pode aprender alguma coisa! Portanto é necessário dialogar com todos. Pouco antes, o Papa afirma que “O diálogo social autêntico pressupõe a capacidade de respeitar o ponto de vista do outro, aceitando como possível que contenha convicções ou interesses legítimos. A partir da própria identidade, o outro tem algo para dar, e é desejável que aprofunde e exponha a sua posição para que o debate público seja ainda mais completo” (FT 203). Não é uma posição relativista ou medrosa, pois “num verdadeiro espírito de diálogo, nutre-se a capacidade de entender o sentido daquilo que o outro diz e faz, embora não se possa assumi-lo como uma convicção própria. Deste modo torna-se possível ser sincero, sem dissimular o que acreditamos, nem deixar de dialogar, procurar pontos de contacto e sobretudo trabalhar e lutar juntos” (Querida Amazonia, QA 108).

O diálogo, praticado num clima de abertura e amizade, deve evoluir para o debate construtivo, onde dados e argumentos racionais são expostos por ambas as partes. Desse debate surgem as soluções consensuais e os acordos realmente comprometidos com o bem comum. Muitas vezes, nossos interlocutores não estão interessados nesse debate e se tornam mais agressivos e irracionais à medida que perdem seus argumentos e sua lógica. Nesse momento, apelam e nos acusam de idiotas. Temos que tomar muito cuidado, porém, para que nós mesmos não nos tornemos esse tipo de pessoa. Muitas vezes, sem nos darmos conta, esquecemos as razões de nossos posicionamentos (que consideramos óbvios demais) ou não percebemos aspectos problemáticos de nossas propostas (que só iremos compreender se ouvimos os argumentos do outro).

Em ano eleitoral…

Posições ideológicas, baseadas em argumentos de autoridade ou no apelo fácil a nossa instintividade, serão cada vez mais comuns nesse ano eleitoral. Também aparecerão cada vez mais ideólogos, em ambos os lados do espectro partidário, usando citações incompletas ou descontextualizadas da doutrina social da Igreja para nos convencer a segui-los. É um tempo em que teremos de dialogar muito, entre nós e com os que pensam diferente, para conseguirmos o justo discernimento cristão.

Estejamos sempre abertos a buscar a verdade com todos. A ninguém desqualifiquemos como idiotas. É difícil ir contra os erros do pensamento hegemônico, ainda que necessário. Contudo, é mais difícil e mais necessário não só ir contra os erros do pensamento hegemônico, mas buscar a verdade – esteja onde estiver – juntamente com os que pensam e com os que não pensam como nós.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

PAPA FRANCISCO CONFIRMA KIKO ARGÜELLO "AD VITAM"

Papa Francisco e Kiko Argüello | Vatican Media

Quando um carisma ou uma realidade eclesial se encontra em estado fundacional, “o fundador não é reempossado, continua à frente… por isso se fala de ‘fundador em vida’ no Decreto”.

É o que o Santo Padre declarou no encontro com todas as associações de fieis, movimentos eclesiais e novas comunidades, organizado pelo Dicastério para Leigos, Família e Vida, em 16 de setembro de 2021.

Com estas palavras o Santo Padre confirmou o que já havia declarado à Equipe Internacional do Caminho Neocatecumenal, Kiko Argüello, Padre Mario Pezzi e Ascensión Romero, na audiência que lhes concedeu no último 3 de setembro.

Em tal ocasião, o Papa havia reconhecido que a natureza do Caminho Neocatecumenal não é a de ser uma Associação ou ser um Movimento, senão uma Iniciação Cristã, que leva ao redescobrimento do Batismo e da vida divina em nós.

Também no encontro com o Dicastério, o Papa sublinhou: “Nós temos que entender que a evangelização é um mandato que vem do Batismo… quem recebeu o Batismo tem a missão de evangelizar”.

Na audiência do último dia 3 de setembro, o Santo Padre renovou sua confiança em Kiko e em sua equipe, animando-os a prosseguir  a missão que o Senhor lhes confiou e também se alegrou pelo início do processo de canonização de Carmen Hernández na arquidiocese de Madri.

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br

Como o extremismo ideológico pode levar a teorias conspiratórias

AuntSpray | Shutterstock
Por Octavio Messias

Pesquisa com mais de 100 mil participantes mostra que quanto mais distante do centro no espectro político, maiores chances de acreditar em informações sem fundamento.

Em sua tradicional mensagem Urbi et Orbi, no último Natal, Papa Francisco lamentou o cenário de polarização e extremismos que vivemos hoje e, ao longo de apenas duas páginas de discurso, usou a palavra “diálogo” 11 vezes e expôs como a pandemia intensificou a intolerância no mundo. “A nível internacional, corre-se o risco de que esta complexa crise conduza a atalhos em vez de caminhos mais longos de diálogo. No entanto, são esses, na realidade, os únicos que levam à resolução de conflitos e a benefícios compartilhados e duradouros”, afirmou o Pontífice. 

Além dos conflitos, tensões e crises citados pelo Papa, da Síria à Ucrânia, a pandemia também intensificou o radicalismo político e mostrou como isso tende a levar à desinformação e à crença em teorias que não correspondem à realidade. É isso que prova uma pesquisa quantitativa – conduzida com 104.253 pessoas de 26 países – recentemente publicada na revista Nature Human Behaviour.

Arco ideológico

O questionário pedia aos voluntários que se situassem no espectro político (esquerda e direita, de moderada a extema, além do centro), revelassem em quem pretendiam votar nas próximas eleições e que se posicionassem em afirmações como “acredito que eventos aparentemente desconexos são muitas vezes o resultado de atividades encobertas” ou “existem organizações secretas que têm grande influência nas decisões políticas”. Com base nas respostas, os pesquisadores observaram que, quanto mais distantes do centro estivessem os participantes, maior a probabilidade de acreditarem em teorias conspiratórias. O que não faltou na pandemia. 

Teorias de que a ex-chanceler alemã Angela Merkel seria uma alienígena reptiliana, assim como os ex-presidentes norte-americanos George W. Bush e Barack Obama, terraplanismo, o conspiratório movimento QAnon e informações deturpadas ou fictícias a respeito dos efeitos da vacina (colocando a vida de milhares de pessoas em risco) circularam muito além do razoável. Vale lembrar que 80% das internações por Covid-19 no Brasil são de pessoas que não se vacinaram. O estudo salienta que a maioria das pessoas crentes em teorias conspiratórias é de ultradireita. O que não significa que fake news também não circule no outro extremo. 

Validação

No livro A Natureza das Teorias da Conspiração, de Michael Butter, da Universidade de Tübingen, na Alemanha, o autor explica como esse tipo de teoria conspiratória circula desde a Grécia Antiga, vindo a ganhar força e disseminação no momento presente graças à internet e às mídias sociais. 

Como os algorítimos, que são programados para pregar para convertidos e nos mostrar apenas publicações que correspondem ao nosso arco ideológico, essa pesquisa demontra que, ainda que muitos recorram à razão ao se posicionarem politicamente, o lado emocional muitas vezes fala mais alto. 

Como se estivéssemos constantemente em busca de validação para aquilo que já queremos acreditar. O que é uma atitude perigosa, que gera apenas conflito e desinformação, diminuindo consideravelmente a possibilidade de qualquer diálogo. Como defende Papa Francisco, o diálogo é fundamental para uma convivência social harmoniosa. Assim como nos atermos aos fatos e não a delírios, por mais tentadores que eles possam parecer. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Consciência Negra - tarefa de todos

Protestos contra o assassinato de Moise Kabangambe  (AFP or licensors)

Combater o racismo estrutural no Brasil é tarefa de todos, sem exclusão de ninguém. É a posição de Gislaine Marins, expressa no artigo "Consciência Negra, não Consciência de Melanina" a propósito do recente assassinato, no Rio de Janeiro, do jovem refugiado congolês, Moïse Kabagambe.

Dulce Araújo - Vatican News

O Brasil é um país com um alto índice de assassinato de pessoas negras, ao ponto de se falar em genocídio de jovens negros. E a sociedade quase que se habituou a isso. Já quase nem reage. Mas o brutal assassinato à pancada do jovem refugiado congolês, Moïse Kabagambe, a 24 do mês passado, no Rio de Janeiro, provocou várias reações de condenação da parte de muitos organismos.

A Rede CLAMOR Brasil, a Rede Solidária para Migrantes e Refugiados e a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Transformadora, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil emitiram – segundo o Programa Brasileiro da Rádio Vaticano  – uma nota assinada em conjunto por mais de 120 entidades pastorais, em que manifestam a sua solidariedade à família de Moïse e à comunidade congolesa no Brasil.

Moïse que fugiu com a família da guerra na RDC, vivia há mais de uma década no Brasil. Tinha 24 anos e foi morto violentamente à pancada em frente dum quiosque na Barra do Tijuca (Rio de Janeiro), onde tinha ido pedir o pagamento de alguns dias de trabalho.

Mas porque é que a sua morte causou, de algum modo, e felizmente, mais reações do que o quotidiano assassinato de jovens negros no Brasil?

Segundo a  Drª Gislaine Marins, professora, que a respeito do caso Moíse escreveu  um artigo intitulado “Consciência Negra, não Consciência de Melanina”, é que há no país há maior sensibilidade em relação a estrangeiros.

De qualquer modo, ela considera que a raiz da discriminação racial no Brasil tem a ver com o passado colonial e a exploração económica (que se estende ainda hoje aos migrantes) e que é preciso conhecer a História do país e pôr a tónica na educação para se combater eficazmente o fenómeno. E não se trata apenas de tarefa dos negros, mas a Consciência Negra deve envolver todos, independentemente da cor da pele, a fim de se poder construir uma sociedade realmente livre do racismo. 

A Doutora Gislaine Marins é formada em Letras, tradutora, professora, com participação no Dicionário de Figuras e Mitos Literários das Américas e autora do Blog “Palavras Debulhadas” para a divulgação da língua portuguesa. O seu artigo “Consciência Negra, não Consciência de Melanina” foi publicado no dia 4 de fevereiro no site da emissora brasileira “Tua Radio Alvorada”. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Beato Pio IX

Beato Pio IX | arquisp
07 de fevereiro

Beato Pio IX

O Papa Pio IX nasceu na Itália aos 13 de maio de 1792. Seus pais pertenciam à nobreza local e o batizaram com o nome de Giovanni (João) Maria Mastai Ferretti. Em 1809, transferiu-se para Roma a fim de continuar os estudos, sem ter se definido pelo sacerdócio. Sua saúde era muito débil, tanto que, devido a uma enfermidade, teve de abandonar os estudos em 1812, sendo também dispensado do serviço militar obrigatório.

O jovem Mastai teve um encontro com São Vicente Pallotti em 1815, que lhe profetizou o pontificado. Nessa época, João fazia parte da Guarda nobre pontifícia, mas teve que deixá-la por motivo de saúde. A partir daí, a Virgem de Loreto o curou, gradual e definitivamente, da enfermidade.

Mastai resolveu optar pelo estudo eclesiástico em 1816, sendo ordenado sacerdote em 1819. Celebrou sua primeira Missa na igreja de Santa Ana dos Carpinteiros, do Instituto Tata Giovanni, para o qual fora nomeado reitor, permanecendo na função até 1823. Acompanhou o núncio apostólico ao Chile, onde ficou por dois anos.

Aos trinta e seis anos de idade, o sacerdote Giovanni Maria Mastai foi nomeado Bispo e destinado à arquidiocese da cidade de Espoleto, Itália. Durante os anos 1831 e 1832, ocorreram revoluções nas cidades de Espoleto e Ìmola. O então bispo Mastai não quis derramamento de sangue e reparou os destruidores efeitos da violência, com a paz, concedendo o perdão para todos os envolvidos.

Foi nomeado Cardeal em 1840. Na tarde do dia 16 de junho de 1846, o cardeal Mastai, que fugia de todas as honrarias, foi eleito Papa escolhendo o nome Pio IX. Começou seu governo com um ato de generosidade: concedeu uma anistia para delitos políticos e, já em 1847, promulgou um decreto de ampla e surpreendente liberdade de imprensa.

Entre as realizações do seu pontificado, podemos destacar o restabelecimento da hierarquia católica na Inglaterra, Holanda e Escócia; a condenação das doutrinas galicanas; a definição solene, a 08 de dezembro de 1854, do dogma da Imaculada Conceição; o envio de missionários ao Pólo Norte, Índia, Birmânia, China e Japão; a criação de um Dicastério para as questões relativas aos orientais; a promulgação do "Syllabus errorum", no qual condenou os erros do Modernismo; a celebração, com particular solenidade, do 18º centenário do martírio dos Apóstolos Pedro e Paulo; a celebração do Concílio Ecumênico Vaticano I , ápice do seu pontificado, iniciado em 1869 e concluído em 1870.

Com a queda de Roma, em 20 de setembro de 1870, e o fim do poder temporal, Pio IX encerrou-se no Vaticano, por se considerar prisioneiro. No dia 07 de fevereiro de 1878, com a sua piedosa morte, chegou ao fim o pontificado mais longo, e um dos mais difíceis da História da Igreja. Pio IX foi um grande Papa, certamente um dos maiores, cumpriu sua missão de "Vigário de Cristo", responsável dos direitos de Deus e da Igreja, foi sempre claro e direto: soube unir firmeza e compreensão, fidelidade e abertura. Com a comprovação de inúmeras graças por intercessão do Papa Pio IX, Giovanni Maria Mastai Ferretti, foi beatificado no ano 2000 pelo Papa João Paulo II, em Roma.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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domingo, 6 de fevereiro de 2022

“CREIO, SENHOR!”

Santíssimo Sacramento | ACI Digital

 “CREIO, SENHOR!” 

         Jesus é o primeiro a garantir-me a Sua presença no Sacrário; e as Suas palavras são tão sublimes, singulares, peremptórias, que só podem ter sido pronunciadas por Quem é a Verdade e a Onipotência. Um louco não teria podido exprimir-se como Ele: por mais desequilibrado que fosse, ele só poderia fazer uso dos elementos do seu delírio, apenas daquilo que se costuma pensar e dizer no mundo. Mas no mundo, quem alguma vez teria podido imaginar o oferecer carne e sangue do seu próprio corpo, a fim de conquistar para os outros a vida eterna? E assegurar-lhe a ressurreição?

 

         Em Cafarnaum, alguns ouviram as Suas palavras com horror, e muito dos Seus próprios discípulos chegaram mesmo a abandoná-Lo, absolutamente desiludidos por um Mestre que já não compreendiam.

         Mas Jesus insiste, fala a sério, e as Suas respostas a tantas insistências dos presentes fazem-se ou dão-se de forma a cada vez mais deixarem os Seus ouvintes apavorados: Ele não hesita em apresentar-Se a Si e à Sua missão, como ninguém alguma vez o poderia ter imaginado. As Suas afirmações, de fato, instam ou avançam num crescendo que faz cada vez mais entrever a mais oculta verdade do seu mistério.

 

         De um modo bem diferente de tudo quanto tinha acontecido no deserto por meio de Moisés, o PAI, n’Ele, dá o verdadeiro Pão do Céu. É Pão de Deus, é Aquele que desce do Céu e dá a vida ao mundo: Ele é o Pão da Vida. Quem O acolhe não mais tem fome e quem acredita n’Ele, não mais tem sede. Os pais, que comeram o maná, morreram; mas quem se alimenta d’Ele viverá eternamente.

 

         A partir deste momento, o discurso toma o rumo ou sentido mais surpreendente. Compreende-se que Ele, Verbo de Verdade, alimenta e sacia por Si Mesmo a inteligência humana; como é fácil de compreender que a Verdade é comparada ao pão, como fundamental elemento alimentício do homem.

 

         Mas Jesus, além disso, insinua que n’Ele o Verbo Se fez carne, assumindo a natureza humana...; que a Sua carne é destinada a ser sacrificada pela salvação do mundo...; carne, a Sua, oferecida a todos sob as aparências do pão; pão que o homem deve comer, para ser assimilado a Cristo e , por Seu intermédio, viver da Sua Verdade: aquela que procura e dá a Vida ou Bem-Aventurança Eterna.

         E, então, quem não come a carne do Filho do Homem e não bebe o Seu Sangue, não pode ter a vida em si; quem, pelo contrário, acolhe o Seu convite, tem o privilégio de estar em Cristo e de ter em si Cristo, sim, de viver por toda a eternidade.

 

         Linguagem dura, motivo de escândalo? Apenas o é para quem não tem em si a Luz do Espírito, apavorado como está com a recordação da carne lançada como simples pasto aos animais ou consumida por antropófagos...; enquanto afinal se trata de uma realidade que oferece aos sentidos nada mais que as propriedades do pão, mesmo se apenas pão – quanto ao seu ser em si – se torna o Corpo de Cristo, ou seja, a natureza humana, assumida pelo Verbo, único e divino Caminho para o Pai. Precisamente o Pai que revela o mistério do Filho, feito carne, feito pão, feito vida do mundo.

 

         O discurso que se realizou na sinagoga de Cafrnaum, não podia dizer mais, como solene anúncio do maior e mais supremo dos prodígios, realizado na Última Ceia.

 

         O relato dos Sinópticos, integrado na catequese de São Paulo aos Coríntios, descreve a cena que se realizou naquela noite no Cenáculo com uma sobriedade que leva a supor nos comensais um certo conhecimento do evento: nenhum deles pede ao Mestre que explique esse Seu misterioso modo de Se exprimir. Declarando que o Pão é o Seu Corpo e que o vinho é o Seu Sangue, Jesus não faz senão retomar e concluir o discurso feito em Cafarnaum... Os Apóstolos tinham-Lhe permanecido fiéis e tinham acreditado n’Ele; e, agora, esperavam d’Ele algo de insolitamente grande.

 

         Precisamente isto: a Sua palavra criadora transforma inteiramente o pão no Seu Corpo.  O adjetivo demonstrativo “isto” refere-se a tudo quanto caía ou entrava no domínio dos sentidos dos Apóstolos, ou seja, às qualidades sensíveis que indicam a realidade substancial do pão. Ora, o verbo ser conjugado no presente revela que uma nova substância toma o seu lugar, sem anular essas qualidades, que continuam a ser o “o sinal” natural de um outro Pão: o Corpo de Cristo.

 

         Tudo fez excluir que o verbo ser possa entender-se em sentido metafísico, se atribuído ao Corpo: nessa solene vigília da morte, Jesus não poderia permitir-Se a Si Mesmo linguagem figurada, dirigindo-Se a homens rudes, incultos, a quem noutras circunstancias tinha sentido o dever de explicar o sentido das parábolas... Poderiam eles agradecer, como supremo dom do seu Mestre um vazio símbolo do Seu Corpo?

 

         Serão os seus fiéis, amanhã, a descobrir de que modo o pão pode parecer pão, apenas porque conserva as qualidades naturais que o tornam capaz de se comer...; e o Corpo, embora sendo rivalíssimo quando à sua substância, não apresenta nada daquilo que o tornaria repugnante aos sentidos. Os Apóstolos, entretanto, não teriam posto qualquer problema. Acreditaram na palavra do Mestre, e a Igreja seguiu a esteira da sua tradição, evitando os dois excessos do realismo grosseiro e ingênuo e do simbolismo gnóstico.

         Ele está verdadeiramente presente, mas sob espécies que não são Suas: são precisamente as mais adequadas para fazer-Se comer com toda a avidez do amor.

Fonte: www.obradoespiritosanto.com

O Papa aos prefeitos: os pobres são a riqueza de uma cidade

O Papa com os prefeitos italianos | Vatican News

O precioso trabalho das instituições municipais ao lado do povo neste tempo de pandemia foi o ponto de partida para o Papa Francisco incentivar os prefeitos a ouvirem sempre o povo, a interessarem-se pelas periferias, criar empregos e favorecer o diálogo entre as diferentes realidades sociais e culturais.

Tiziana Campisi/Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência neste sábado (05/02), na Sala Clementina, no Vaticano, a Associação Nacional de Municípios Italianos, para um momento de reflexão sobre seu serviço de defesa e promoção do bem comum nas cidades e comunidades que administram. O encontro foi uma ocasião para Francisco agradecer a todos os prefeitos por seu trabalho nestes dois anos de pandemia.

Ao lado dos cidadãos com redes solidárias

O Pontífice reconheceu a complexidade da tarefa para a qual os prefeitos são chamados: estar perto das pessoas a serviço do bem comum, mas ao mesmo tempo sentir "a solidão da responsabilidade". Ele observou que muitas vezes "a democracia se reduz a delegar com voto, esquecendo o princípio da participação, essencial para que uma cidade seja bem administrada". Pretende-se "que os prefeitos tenham a solução para todos os problemas", que "não se resolvem apenas recorrendo aos recursos financeiros". O Papa sublinhou a importância de contar com a presença de redes de solidariedade.

A pandemia fez emergir muitas fragilidades, mas também a generosidade de voluntários, vizinhos, agentes de saúde e administradores que se esforçaram para aliviar o sofrimento e a solidão dos pobres e idosos. Esta rede de relações solidárias é uma riqueza que deve ser preservada e fortalecida.

O olhar diversificado para as necessidades

Francisco citou três palavras de incentivo aos prefeitos: paternidade ou maternidade, periferias e paz. Ele destacou, em primeiro lugar, que "o serviço ao bem comum é uma alta caridade, comparável à dos pais numa família" e disse que "mesmo numa cidade, diferentes situações devem ser respondidas com atenção diversificada", escutando os problemas das pessoas e tentando “entender as prioridades sobre as quais intervir, sem focar na necessidade de financiamentos adequados.

Na realidade, precisamos também de um projeto de convivência civil e de cidadania: precisamos investir na beleza onde há mais degradação, na educação onde reina o mal-estar social, em lugares de agregação social onde se observam reações violentas, na formação para a legalidade onde reina a corrupção. Saber sonhar com uma cidade melhor e compartilhar o sonho com os outros administradores locais, com os membros eleitos do conselho municipal e com todos os cidadãos de boa vontade é um índice de cuidado social.

Atenção para as periferias

A seguir, o olhar do Papa se voltou para as periferias. Francisco destacou sua centralidade evangélica, lembrando que Jesus nasceu num estábulo em Belém e morreu fora dos muros de Jerusalém no Calvário. E se os prefeitos muitas vezes se encontram com "periferias degradadas, onde o descaso social gera violência e formas de exclusão", iniciar das periferias, de onde se vê melhor o todo, e "não significa excluir alguém", mas "iniciar dos pobres para servir o bem de todos".

Não existe cidade sem os pobres. Eu acrescentaria que os pobres são a riqueza de uma cidade. Isto pode parecer cínico para alguns: não, não é assim. Os pobres nos lembram as nossas fragilidades e que precisamos uns dos outros. Eles nos chamam à solidariedade, que é um valor cardinal da doutrina social da Igreja, particularmente desenvolvido por São João Paulo II.

Trabalho "unção de dignidade"

Em seguida, o Papa citou o que emergiu em tempos de pandemia: "solidão e conflitos dentro dos lares", "o drama de quem teve que fechar sua atividade econômica, o isolamento dos idosos, a depressão de adolescentes e jovens, o aumento de suicídios, desigualdades sociais que favoreceram aqueles que já desfrutavam de boas condições econômicas, as fadigas das famílias que não chegam ao final do mês”, o risco de acabar nas mãos de agiotas. O Papa convidou os prefeitos a ajudarem as periferias para que se transformem "em laboratórios de uma economia e uma sociedade diferentes". "Não basta dar um pacote de comida", ressaltou Francisco. A dignidade dos necessitados exige um trabalho, “um projeto em que cada um seja valorizado pelo que pode oferecer aos outros, pois o trabalho” é uma unção de dignidade”.

Política, academia de diálogo entre culturas

"Há uma tarefa histórica que envolve a todos", observou o Pontífice: "Criar um tecido comum de valores que leve a desarmar as tensões entre diferenças culturais e sociais", disse ainda Francisco, indicando aos prefeitos que a política "pode ​​ser uma academia de diálogo entre as culturas", e que "a paz não é a ausência de conflito, mas a capacidade de fazê-lo evoluir para uma nova forma de encontro e convivência com o outro". Para Francisco, é possível enfrentar um conflito antes de tudo aceitando-o, resolvendo-o e transformando-o "no elo de um novo processo".

A paz social é fruto da capacidade de colocar em comum vocações, competências e recursos. É fundamental favorecer a iniciativa e a criatividade das pessoas, para que possam tecer relações significativas dentro dos bairros. Muitas pequenas responsabilidades são a premissa de uma pacificação concreta que se constrói diariamente.

No contexto das relações entre os vários órgãos institucionais, o Papa recordou "o princípio da subsidiariedade, que valoriza os entes intermediários e não mortifica a livre iniciativa pessoal".

O ensinamento de São João Crisóstomo

Ao final de seu discurso, Francisco encorajou os prefeitos a "ficarem perto do povo", vencendo a tentação de fugir das responsabilidades diante das quais São João Crisóstomo "exortou a gastar-se pelos outros, em vez de permanecer nas montanhas a olhá-los com indiferença". “Um ensinamento a ser guardado”, concluiu o Papa, sobretudo quando há desânimo e desilusão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O ódio dos adolescentes pelos pais

CarlosDavid | Shutterstock
Por Mar Dorrio

Chega um dia em que aquele menininho ou menininha que você viu crescer e te abraçar se volta contra você. Como agir?

Nas revistas que dizem nos preparar para ter filhos, ninguém fala disso. Trata-se daquele ódio que entra sorrateiramente em sua casa. Um ódio que acampa na sua vida. Ele se instala em sua casa, sem licença, sem permissão, sem que você o tenha procurado.

Isso geralmente acontece quando seus filhos crescem e você tem que protegê-los de si mesmos: de suas más decisões, de suas ações desajeitadas, de seus objetivos inviáveis etc. Quando você tem de protegê-los de erros que os deixariam com grandes cicatrizes. É quando aquele sentimento se instala, quando o ódio chega.

De repente, aquele menino(a) que você viu crescer, que teve tantas noites de um sono tranquilo na casa que você estruturou para ele, começa o confronto. Ao invés de ver a casa da família como um local de proteção, passam a vê-la como uma prisão.

Seus maiores sinais de amor

Você já percebeu que ele(a) não apenas derrama sua raiva nas quatro paredes da sua casa. Mas passa a rejeitar seu abraço, seus conselhos e, acima de tudo, seus maiores sinais de amor: suas proibições. E então você entende o quão ligados estão o ódio e a paternidade/maternidade.

Aleteia

Somente um pai ou mãe pode aceitar o ódio que seu filho(a) professa contra eles como um pequeno preço para mantê-lo(a) seguro(a). Nós os amamos, e é por isso que queremos o bem deles, embora o efeito colateral do tratamento para alcançar esse bem seja receber seu ódio.

Não é fácil

Dói, dói muito. Que ninguém pense que é fácil, que ninguém pense que esse ódio não arrasa um pai e uma mãe por dentro. Mas o amor, quando é Amor com letra maiúscula, dá um passo à frente e diz, do fundo daquele coração partido: pode se revoltar contra mim, mas eu continuarei aqui para orientá-lo(a).

Tudo isso, em algum momento, acontece em muitas famílias, seja qual for o tipo. Mas chega a ocorrer com mais virulência em famílias que sabem que o bem, a melhor versão da vida de seus filhos, anda de mãos dadas com o exemplo de Jesus.

Acima de tudo, estamos em uma sociedade que aperta a mão do próprio diabo, o enganador. Assim, seu filho(a) encontrará amizades que o confortarão com o estilo vivido em casa.

Se a tempestade for grande, pode parecer uma batalha perdida. Mas o mesmo desânimo que leva esta sociedade pela mão na direção oposta dos planos de Deus, é aquele que quer que você afunde no poço do desespero. Então, o que podemos fazer?

Ferramentas infalíveis

Primeiro, quero lembrar que, nesta batalha, temos duas ferramentas infalíveis, que seu filho(a), embora não queira reconhecê-las, sente em seu coração: amor e afeto.

ZŁOTY TRON KAROLA WIELKIEGO
fot. materiały wydawnictwa

– Reze pedindo a Deus que a dor não invada tudo dentro de você. O tempo diário de oração fará com que você possa construir pontes sem ceder ao que é importante. Se você estiver nessa situação de dificuldade grave, terá que rezar mais do que nunca.

– Os exorcistas nos dizem que os demônios são preguiçosos. Dificulte. Reze diariamente o Santo Rosário pelo seu filho(a), ore pelas pessoas que o(a) distanciam de você e de seus conselhos.

– Ofereça seu sofrimento pela sua família. Não se esqueça de meditar sobre a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo.

– Espere pacientemente. A graça tem seus tempos. E lembre-se de que, não importa o quão ruim vejamos as coisas, a batalha foi vencida: só temos que perseverar.

Confiando-nos à Virgem Santíssima e a Santa Mônica, trilharemos cada vez mais os caminhos de Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF