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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

Quaresma: por que o peixe não é considerado “carne”?

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Por Adriana Bello

E por que não podemos comer frango, se podemos comer peixe?

Jesus jejuou durante 40 dias e morreu em uma sexta-feira. Por isso, embora algumas pessoas decidam não comer carne durante toda a Quaresma, as sextas-feiras são os dias mais importantes. Antigamente, em alguns países católicos, em todas as sextas-feiras do ano só se consumia peixe.

É preciso recordar que esta abstinência de carne é feita para honrar o sacrifício do Senhor ao morrer na cruz para limpar nossos pecados.

Carne vermelha

Desde a antiguidade, a carne vermelha foi símbolo de opulência e celebração. Por isso, consumi-la durante a Quaresma não combinaria com o sentimento de penitência e humildade desta época litúrgica.

Em sua “Suma Teológica”, São Tomás de Aquino explica que o consumo de carne vermelha também dá mais prazer, já que ela é mais saborosa. Abster-se dela seria demonstração de um grande sacrifício.

“Ah, então são apenas as canes vermelhas que são proibidas”, pensarão alguns. Não, o frango – que é carne branca – também não é permitido na Quaresma. Mas por que então o peixe está liberado?

Frango

Como escreveu São Paulo, “Nem todas as carnes são iguais: uma é a dos homens e outra a dos animais; a das aves difere da dos peixes” (I Coríntios 15, 39).

Neste sentido, São Tomás de Aquino adverte que o frango também proporciona prazer. Talvez não tanto quanto o da carne vermelha, mas ele é um animal de “sangue quente” e da terra, diferenciando-se do peixe.

O jejum foi instituído pela Igreja com a finalidade de frear as concupiscências da carne, que considera os prazeres do tato relacionados à comida e ao sexo. Portanto, a Igreja proibiu aos que jejuam os alimentos que dão mais prazer ao paladar, além de serem um incentivo à luxúria. Tais são as carnes dos animais que tomam seu descanso na terra e os seus derivados, como o leite e os ovos das aves”.

Não obstante, com o passar dos anos, a Igreja foi flexibilizando esta regra. Em alguns países, a carne de capivara, por exemplo, é permitida, já que a Igreja a considera como carne de peixe, apesar de ela ser um mamífero aquático.

Frutos do mar

E em relação aos frutos do mar, como moluscos e crustáceos? Alguns membros do clero acreditam que a ostra e a lagosta devem ficar fora da lista de carnes permitidas na Quaresma, já que, embora aquáticas, também estão associadas ao luxo e ao extremo prazer.

Quanto aos derivados animais (ovos, leite e queijo), também há divergências dentro da Igreja. Alguns os consideram pertinentes, pois não são o animal em si. Mas outros dizem que é preferível substituí-los.

Regra

Em resumo: a carne permitida às sextas-feiras da Quaresma (e na Quarta-feira de Cinzas) é aquela que provém do mar, dos lagos e dos rios, com algumas exceções.Assim como Jesus deu sua carne e sangue por nós, jejuar é uma mostra de gratidão.

Explicado isso, é importante dizer que, embora o peixe possa ser consumido, seu preparo deve ser simples. Os doentes, crianças menores de 14 anos, pessoas com problemas mentais, mulheres que amamentam e aqueles que têm restrições alimentares podem descumprir a norma.

Apesar de não ser um mandamento, abster-se de certos gostos gastronômicos nos proporciona um senso de humildade, abnegação, agradecimento e penitência. É uma maneira de recordar e viver o tempo da Quaresma em verdadeira preparação para a Páscoa.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa Francisco inicia série de catequeses sobre o valor da velhice

Papa Francisco na Audiência Geral / Daniel Ibáñez (ACI)

Vaticano, 23 fev. 22 / 09:58 am (ACI).- O papa Francisco iniciou uma série de catequeses sobre o significado e o valor da velhice, na Audiência Geral desta quarta-feira, 23 de fevereiro. A velhice “está entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento”, disse o papa.

“Com estas catequeses sobre a velhice, gostaria de encorajar todos a investirem os seus pensamentos e afetos nos dons que ela tem em si e proporciona às outras idades da vida. A velhice é um dom para todas as idades da vida. É um dom de maturidade, de sabedoria”, disse Francisco. “A Palavra de Deus ajudar-nos-á a discernir o sentido e o valor da velhice”.

Que “o Espírito Santo nos conceda também os sonhos e as visões de que necessitamos”, orou o papa.

O papa citou a passagem bíblica do profeta Joel: “Os vossos anciãos terão sonhos, os vossos jovens terão visões” para explicar que “deve haver uma aliança entre as gerações”.

“Se os avós se voltam para suas melancolias, os jovens vão olhar ainda mais para seus celulares. A tela pode permanecer ligada, mas a vida se extingue antes do tempo.”, disse o papa.

“Os idosos, com os recursos que só os anos de vida concedem, são chamados a comunicar seus sonhos, para que a partir deles os jovens possam ampliar seus horizontes e tomar decisões que abram caminhos para o futuro”.

Francisco disse: “todos vivemos em um presente onde convivem crianças, jovens, adultos e idosos. No entanto, a proporção mudou: a longevidade tornou-se massa e, em grandes regiões do mundo, a infância é distribuída em pequenas doses”.

“Na primeira fase dramática da pandemia, foram eles que pagaram o preço mais alto”, comentou o papa. “Já eram a parte mais frágil e negligenciada: não olhávamos muito para eles quando eram vivos, nem sequer os vimos morrer”.

Francisco descreveu que o risco de os idosos serem descartados “é ainda mais frequente” porque “os idosos muitas vezes são vistos como um peso”.

“Junto com a migração, a velhice está entre as questões mais urgentes que a família humana é chamada a enfrentar neste momento. Não se trata apenas de uma mudança quantitativa. Eestá em jogo a unidade das idades da vida, ou seja, o verdadeiro ponto de referência para a compreensão e apreciação da vida humana em sua totalidade”, disse o papa.

Francisco advertiu que "a exaltação da juventude como a única idade digna de encarnar o ideal humano, aliada ao desprezo pela velhice vista como fragilidade, degradação ou deficiência, foi o ícone dominante do totalitarismo do século XX".

"Será que esquecemos isso?”

“Na representação do sentido da vida, e nas chamadas culturas ‘desenvolvidas’, a velhice tem pouca incidência. Porque é considerada uma idade que não tem conteúdos especiais para oferecer, nem significados próprios para viver.”

O papa destacou que “falta o incentivo das pessoas a procurá-los, e falta educação da comunidade para reconhecê-los”.

“Em suma, para uma idade que é parte decisiva do espaço comunitário e se estende por um terço de toda a vida, há – às vezes – planos de assistência, mas não projetos de existência. Planos de assistência, sim; mas não projetos para fazê-los viver plenamente. E isso é um vazio de pensamento, imaginação, criatividade”, disse ele.

Francisco recomendou a leitura de a "Carta para os direitos dos idosos e os deveres da comunidade" que encontrou editada em italiano "pelos governos, não foi editada pela Igreja, é uma coisa laica" e descreveu que "este desafio de humanidade e de civilização requer o nosso empenho e a ajuda de Deus” por isso convidou: “Peçamo-lo ao Espírito Santo”.

Dedicar tempo aos idosos

Na sua saudação aos peregrinos de língua portuguesa, Francisco recordou a festa da Cátedra de São Pedro que a Igreja celebra no dia 22 de fevereiro e encorajou-os a “encontrar o Senhor Jesus que nos diz: Segue-me!”.

“Lembremos que segui-Lo significa sair de nós mesmos e comunicar a vida a todos, concretamente dando o nosso tempo ao avô, à avó, aos idosos”, disse o papa.

Saudando os fiéis de língua italiana, o papa mencionou a memória litúrgica de são Policarpo que a Igreja celebra neste dia 23 de fevereiro e sublinhou "que a sua fidelidade a Cristo, até o martírio, desperte em todos o desejo de seguir o divino Mestre cooperando generosamente em seu trabalho de reconciliação e paz”.

Dia de jejum pela paz na Ucrânia

Por fim, o papa Francisco lamentou o "agravamento da situação na Ucrânia. Apesar dos esforços diplomáticos das últimas semanas, estão a abrir-se cenários cada vez mais alarmantes" porque "uma vez mais a paz de todos é ameaçada por interesses de parte".

O papa recordou que o Senhor é "Deus da paz e não da guerra; que é o Pai de todos e não apenas de alguns, que quer que sejamos irmãos e não inimigos".

"Peço a todas as partes envolvidas para que se abstenham de qualquer ação que possa causar ainda mais sofrimento às populações", disse.

Francisco lançou um apelo "a todos, crentes e não crentes" para que no próximo dia 2 de março - Quarta-feira de Cinzas - realizem um "Dia de jejum pela paz".

“Encorajo de modo especial os crentes a fim de que naquele dia se dediquem intensamente à oração e ao jejum. Que a Rainha da paz preserve o mundo da loucura da guerra”, concluiu o papa.

Fonte: https://www.acidigital.com/



SANTA JOSEFINA VANNINI, VIRGEM

Santa Josefina Vannini | Vatican News
23 de fevereiro

S. JOSEFINA VANNINI, VIRGEM

"Cuidem dos pobres enfermos com o mesmo amor de uma mãe amorosa que cuida do seu único filho doente".

A chamada do Senhor irrompeu bem cedo na vida de Judite – este foi o nome que recebeu de seus pais -, mas a resposta do seu sim ao Esposo foi bem mais difícil que o previsto. Tanto é verdade, que teve que sofrer muito antes de realizar seu sonho: receber finalmente o véu religioso.

O caminho da Cruz

O Senhor, quase sempre, prepara as almas mais fortes para segui-lo no caminho do sofrimento. Assim também aconteceu com Judite que, ao ficar órfã dos pais, aos quatro anos de idade, viveu para sempre separada dos seus dois irmãozinhos.
De certa forma, foi assim que ela disse seu primeiro sim, aceitando viver entre as órfãs do Orfanato Torlônia, em Roma, dirigido pelas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Ali, sua vocação amadureceu logo, porém, não encontrava um Instituto onde desabrochar. Durante o noviciado, com as mesmas religiosas, foi transferida, várias vezes, e, enfim, demitida, definitivamente, por questão de saúde.

Um encontro mudou sua vida

Voltando a Roma, para visitar sua tia e, depois, em Nápoles, onde trabalhou como professora de Jardim de Infância, Judite continuava inquieta, pois sabia que não era aquele seu caminho.
Em 1891, participou de um Curso de exercícios espirituais para jovens senhoras, junto às Irmãs de Nossa Senhora do Cenáculo, em Roma, onde conheceu o sacerdote camiliano, Padre Luigi Tezza, chamado, no último momento, para substituir o pregador. No final do retiro espiritual, Judite foi ter com o Padre Tezza e lhe contou a sua história. O sacerdote, que era Procurador-geral, encarregado de restaurar a vida das Terciárias Camilianas, compreendeu os desígnios divinos de Judite e lhe convidou a fazer parte deste projeto. Judite refletiu, mas, depois, aceitou, dizendo: “Eis-me aqui à sua disposição; não sou capaz de fazer nada, mas confio em Deus”.

O calvário do novo Instituto

Em 2 de fevereiro de 1892, a nova comunidade começou a se formar, com uma cerimônia, que se realizou na sala onde São Camilo de Lellis havia falecido, transformada em Capela. O novo Instituto teve início com Judite e outras duas jovens, que o Padre Tezza havia formado, com a imposição do escapulário cruzado.
Três anos depois, Judite, que recebeu o nome de Irmã Josefina, tornou-se superiora geral. No entanto, o novo Instituto precisava da aprovação definitiva da Autoridade eclesiástica: o Papa Leão XIII a rejeitou duas vezes, exigindo que a nova família se afastasse de Roma e se tornasse Pia Associação.
Entretanto, outra provação estava à espreita: circulavam boatos difamatórios sobre a conduta do Padre Tezza, que até foi proibido de entrar em contato com as Irmãs. Decepcionado com a situação, em total obediência, partiu, em 1900, para o Peru, de onde não voltou mais, deixando Madre Josefina sozinha, que nunca desanimou.

O carisma das Filhas de São Camilo

Em 1911, quando Josefina Vannini faleceu, as Camilianas já contavam 156 religiosas professas e 16 Casas religiosas entre a Europa e a América.
A principal herança que a fundadora - beatificada por São João Paulo II, em 1994 e canonizada pelo Papa Francisco, em 2019 – deixou às suas Irmãs foi “a pura e simples assistência física e espiritual aos enfermos, tanto a domicílio como em hospitais, leprosários e asilos, centros de reabilitação Europeus e em terras de missão. Precisamente como Jesus queria”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Policarpo de Esmirna

S. Policarpo | arquisp
23 de fevereiro

São Policarpo de Esmirna

Nascido em uma família cristã da alta burguesia no ano 69, em Esmirna, Ásia Menor, atual Turquia. Os registros sobre sua vida nos foram transmitidos pelo seu biógrafo e discípulo predileto, Irineu, venerado como o "Apóstolo da França" e sucessor de Timóteo em Lion. Policarpo foi discípulo do apóstolo João, e teve a oportunidade de conhecer outros apóstolos que conviveram com o Mestre. Ele se tornou um exemplo íntegro de fé e vida, sendo respeitado inclusive pelos adversários. Dezesseis anos depois, Policarpo foi escolhido e consagrado para ser o bispo de Esmirna para a Ásia Menor, pelo próprio apóstolo João, o Evangelista.

Foi amigo de fé e pessoal de Inácio Antioquia, que esteve em sua casa durante seu trajeto para o martírio romano em 107. Este escreveu cartas para Policarpo e para a Igreja de Esmirna, antes de morrer, enaltecendo as qualidades do zeloso bispo. No governo do papa Aniceto, Policarpo visitou Roma, representando as igrejas da Ásia para discutirem sobre a mudança da festa da Páscoa, comemorada em dias diferentes no Oriente e Ocidente. Apesar de não chegarem a um acôrdo, se despediram celebrando juntos a liturgia, demonstrando união na fé, que não se abalou pela divergência nas questões disciplinares.

Ao contrário de Inácio, Policarpo não estava interessado em administração eclesiástica, mas em fortalecer a fé do seu rebanho. Ele escreveu várias cartas, porém a única que se preservou até hoje foi a endereçada aos filipenses no ano 110. Nela, Policarpo exaltou a fé em Cristo, a ser confirmada no trabalho diário e na vida dos cristãos. Também citou a Carta de Paulo aos filipenses, o Evangelho, e repetiu as muitas informações que recebera dos apóstolos, especialmente de João. Por isto, a Igreja o considera "Padre Apostólico", como foram classificados os primeiros discípulos dos apóstolos.

Durante a perseguição de Marco Aurélio, Policarpo teve uma visão do martírio que o esperava, três dias antes de ser preso. Avisou aos amigos que seria morto pelo fogo. Estava em oração quando foi preso e levado ao tribunal. Diante da insistência do pro cônsul Estácio Quadrado para que renegasse a Cristo, Policarpo disse: "Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Redentor? Ouça bem claro: eu sou cristão"! Foi condenado e ele mesmo subiu na fogueira e testemunhou para o povo: "Sede bendito para sempre, ó Senhor; que o vosso nome adorável seja glorificado por todos os séculos". Mas a profecia de Policarpo não se cumpriu: contam os escritos que, mesmo com a fogueira queimando sob ele e à sua volta, o fogo não o atingiu.

Os carrascos foram obrigados a matá-lo à espada, depois quando o seu corpo foi queimado exalou um odor de pão cosido. Os discípulos recolheram o restante de seus ossos que colocaram numa sepultura apropriada. O martírio de Policarpo foi descrito um ano depois de sua morte, em uma carta datada de 23 de fevereiro de 156,enviada pela igreja de Esmirna à igreja de Filomélio. Trata-se do registro mais antigo do martirológio cristão existente.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Suicídio de padres no Brasil: o que está acontecendo?

© Gorinov / Shutterstock
Por Francisco Vêneto

Só ao longo de 2021 e início de 2022, já foram ao menos 10 casos confirmados.

O suicídio de padres no Brasil tem se tornado um assunto preocupantemente frequente.

Neste último dia 1º de fevereiro, o corpo sem vida do padre Geraldo de Oliveira, de 77 anos, foi encontrado entre os bancos da igreja de São Sebastião, em Surubim, Pernambuco, ao lado de um frasco e de uma carta na qual declarava sentir-se desprezado pela própria comunidade.

O bispo da diocese de Nazaré da Mata, dom Francisco de Assis, prestou solidariedade “aos seus familiares, ao clero, à paróquia São Sebastião, em Surubim, e ao povo de Deus”, acrescentando tratar-se de um “momento de grande dor”. Dom Francisco afirmou ainda que, “como seguidores de Jesus, caminho, verdade e vida, cremos na vida eterna e na superioridade do amor de Deus, a quem recomendamos esse nosso irmão, confiando-lhe também as preces de todos os nossos diocesanos”.

Só ao longo de 2021 e início de 2022, já foram ao menos 10 casos confirmados de suicídios de padres no Brasil.

Em novembro de 2021, repercutiu intensamente no país um contundente comentário sobre a gravidade deste panorama e sobre a carência de acompanhamento e apoio aos padres nos seus momentos de maior fragilidade emocional.

O clero está despertando para as próprias necessidades?

Sobre o mais recente episódio de suicídio de um padre brasileiro, o bispo de Barretos, SP, dom Milton Kenan Junior, escreveu uma mensagem aos sacerdotes na qual registra que há membros do clero que, a seu ver, tendem a “rotular, desprezar, ignorar, boicotar… porque aquele irmão não pensa como eu, porque o outro ousa ser diferente”.

Sem justificar o ato desesperado e extremo de dar fim à própria vida, o bispo assegurou que muitos se suicidam “porque não encontraram quem se sentasse com eles para ouvi-los; porque não encontraram alguém que os olhasse sem julgá-los”. Dom Milton exortou os padres a mudarem este cenário para evitar a multiplicação de casos como o do pe. Geraldo, que, nas palavras do bispo, “depois de 50 anos de sacerdócio procurou a dignidade na morte por própria conta”.

Suicídio de padres no Brasil: afinal, por quê?

Segundo o pe. José Rafael Solano Durán, de Londrina, PR, encontramos hoje “presbíteros, diáconos e bispos desencantados; homens que já não se sentem mais atraídos por nada e muito menos por ninguém. Neste caso, por Cristo”. O pe. José Rafael, que é doutor em Teologia Moral, acrescenta, segundo matéria do site Gaudium Press, que, “para muitos, fazer parte do clero é muito mais do que um problema, um dilema. Homens capazes de pensar e refletir, mas incapazes de decidir. Quem não sabe decidir perde o horizonte do fundamental e chega a um ponto no qual situações inesperadas o absorvem, se tornando simplesmente alguém que vive segundo as decisões dos outros”.

Entre essas “decisões dos outros” há desde casos de falsa vocação, induzida sem discernimento sério e responsável por parte de familiares ou mesmo de formadores em seminários, até pressões desproporcionais relacionadas não apenas com a vida sacramental dos fiéis, mas também com questões administrativas sem estrutura de apoio. Não se podem ignorar, tampouco, as cada vez mais frequentes situações de clamorosa injustiça decorrente de falsas acusações de assédio sexual ou moral: tornou-se preocupantemente comum generalizar contra a totalidade do clero como se todos fossem predadores abomináveis, quando a grande maioria dos sacerdotes não tem culpa nem corresponsabilidade alguma pelos crimes hediondos perpetrados por uma minoria de bandidos de batina.

Um histórico preocupante de estresse e depressão

Embora o acúmulo de casos de suicídio de padres tenha sido particularmente chocante em 2021 e os sinais de alerta continuem intensos em 2022, não é de hoje que este quadro se registra na Igreja brasileira.

Em novembro de 2016, por exemplo, uma sequência de três suicídios dentro do período de apenas 15 dias chamou as atenções da mídia. O pe. Ligivaldo dos Santos, de Salvador, se atirou de um viaduto aos 37 anos de idade. O pe. Rosalino Santos, de Corumbá, MS, tinha 34 anos quando publicou no Facebook uma foto de quando era criança, legendada com frases soltas como “Dei o meu melhor” e “Me ilumine, Senhor” – dois dias depois, o seu corpo sem vida foi encontrado pendendo de uma forca. Pouco depois, o terceiro sacerdote brasileiro a dar fim à própria vida dentro daquela quizena foi o pároco Renildo Andrade Maia, de Contagem, MG: ele tinha apenas 31 anos.

Psicologia e sacerdócio

Na época, o psicólogo Ênio Pinto, autor do livro “Os Padres em Psicoterapia”, destacou que “a vida religiosa não dá superpoderes aos padres. Pelo contrário, eles são tão falíveis quanto qualquer um de nós. Em muitos casos, a fé pode não ser forte o suficiente para superar momentos difíceis”. Ênio tem noção do que diz, já que trabalhou durante muitos anos no Instituto Terapêutico Acolher, em São Paulo, fundado no ano 2000 especificamente para oferecer atendimento psicoterápico a padres, freiras e leigos a serviço da Igreja.

A mesma visão foi compartilhada pelo também psicólogo William Pereira, autor do livro “Sofrimento Psíquico dos Presbíteros”. Para ele, “o grau de exigência da Igreja é muito grande: espera-se que o padre seja, no mínimo, modelo de virtude e santidade. Qualquer deslize, por menor que seja, vira alvo de crítica e julgamento. Por medo, culpa ou vergonha, muitos preferem se matar a pedir ajuda”.

Já na época foram apontados como possíveis fatores de peso para o suicídio de padres no Brasil o excesso de trabalho, a falta de lazer e a perda de motivação.

Estresse, ansiedade, depressão e sacerdócio

De fato, uma pesquisa realizada ainda em 2008 pela organização Isma Brasil, voltada a estudar e tratar do estresse, já indicava que a vida sacerdotal era uma das ocupações mais estressantes: dos 1.600 padres e freiras entrevistados naquele ano, 448 (28%) se disseram “emocionalmente exaustos”, um percentual superior ao dos policiais (26%), dos executivos (20%) e dos motoristas de ônibus (15%). Segundo a psicóloga coordenadora dessa pesquisa, Ana Maria Rossi, os padres diocesanos são mais propensos a sofrer de estresse do que os religiosos que vivem reclusos. Na sua opinião, um dos fatores mais estressantes “é a falta de privacidade. Não interessa se estão tristes, cansados ou doentes: os padres têm que estar à disposição dos fiéis 24 horas por dia, sete dias por semana”.

Realmente, muito longe da “vida mansa” que os desinformados atribuem levianamente ao clero em geral, o dia-a-dia da maioria dos sacerdotes é pontuado por muitas celebrações de batizados, casamentos, unções dos enfermos, escuta de confissões e um grande número de atividades pastorais que incluem iniciativas logisticamente complexas de caridade e ação social junto a pessoas necessitadas, além da celebração diária da Santa Missa, das orações pessoais ou comunitárias e dos tempos de estudo – sem mencionar os casos em que o padre ainda dá aulas e atende os fiéis em direção espiritual, ouvindo e tendo que dar conselhos diante de casos que, muitas vezes, são de uma gravidade devastadora.

Outra instituição especialmente dedicada a atender sacerdotes e freiras que lutam contra o estresse, a ansiedade ou a depressão é a Âncora, do Paraná, que chega a registrar ocupação de 100% e, em alguns meses, trabalha com lista de espera.

Fiéis devem ficar atentos, julgar menos e ajudar mais

É oportuno lembrar aos leitores católicos que é dever cristão zelar pelo bem das almas – e isto inclui a alma dos sacerdotes, religiosos, seminaristas, freiras e leigos consagrados. Eles contam com especial graça de Deus, certamente, mas Deus sempre deixou claro que confia o acolhimento da Sua graça à nossa liberdade, inteligência e caridade: todos precisamos fazer a nossa parte, seja por nós próprios, seja pelos outros, ajudando-os especialmente quando estão sobrecarregados e necessitados da nossa fraternidade.

Devemos tomar em especial o cuidado de não cometer injustos julgamentos baseados na visão imatura de que “o que falta a esses padres é vida de oração”. Em vários casos isto será verdade, mas é incorreto generalizar. Esta generalização reducionista, aliás, pode chegar a ser pecado de calúnia ou, no mínimo, maledicência. Mesmo as pessoas que vivem intensamente a fé e uma sólida espiritualidade estão sujeitas, sim, ao esgotamento físico e à necessidade de ajuda.

Se julgarmos menos e ajudarmos mais, viveremos com mais coerência o cristianismo que dizemos professar e que tanto gostamos de cobrar dos outros.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O que há em comum entre um carpinteiro, uma milionária e um jogador de futebol?

Ann Miller e Phillip Mulryne | Guadium Press
Por mais sucesso que um ser humano faça, e por mais livros que se escreva sobre ele, sua lembrança passa.

Redação (21/02/2022 11:04Gaudium PressHá muitos homens que se destacam por suas biografias, por sua história de vida, pelo bom desempenho que obtiveram em áreas relevantes, sucesso financeiro, exemplos de superação, extraordinárias conquistas esportivas, contribuições científicas, talento nas artes. Fora as exceções de grandes ditadores e tiranos que sobressaíram pelo mal que praticaram, a ponto de ganhar registro em páginas de livros, não se dá destaque para as histórias de fracasso. O que fica marcado e tem amplo alcance são as histórias de sucesso.

No entanto, por mais sucesso que um ser humano faça, e por mais livros que se escreva sobre ele, isso passa. Com efeito, quem sabe, hoje, com quem Napoleão Bonaparte foi casado, quantos filhos teve, que guerras venceu, de quem era filho, onde e como vivia? O mesmo se dá com reis, rainhas, ídolos e heróis de todos os tempos. Vivem, vencem, se destacam, são aclamados, seguidos por algum tempo, partem e têm como herança o ostracismo e o esquecimento.

O carpinteiro

Temos, porém, um personagem que, sem fazer esforço, sem realizar grandes conquistas e praticar grandes feitos, sem nem mesmo empreender viagens para fora de sua terra e sem conquistar muitos bens, teve o poder de dividir a história ao meio: ou se viveu antes dele, ou depois dele.

O interessante desse personagem é que, entre todos os seres humanos que foram biografados, provavelmente, dele se sabe menos do que sobre qualquer outro, mas, também, dele se sabe tudo e o tempo não alterou uma vírgula sequer, não mudou um passo, uma nuance.

De tudo o que escreveram sobre ele – e ainda se escreve muito – há uma afirmação que parece ser a mais completa: a de que ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente. E isso, tanto é verdade que, sem ter ainda mencionado o seu nome e nem usado letras maiúsculas para me referir a ele, todos os que me leem sabem exatamente a quem me refiro.

Qualquer leve menção à sua vida já suscita em quem lê a compreensão de que se fala de Jesus Cristo.

Quando lemos uma biografia, encontramos ali de tudo e até dados desnecessários e irrelevantes. Porém, sobre Jesus, antes do seu batismo, o que sabemos além das circunstâncias em que ele veio ao mundo e um breve incidente ocorrido aos seus 12 anos? Depois, sem que se tenha notícia alguma do que ocorreu durante trinta anos, ele aparece e muda a história da humanidade.

Para desenvolver o raciocínio a que me proponho, resumirei esses trinta anos ocultos à profissão que ele aprendeu com o pai e que, provavelmente, exerceu: a de carpinteiro. Agora, vamos fazer uma viagem no tempo e no espaço.

Phil Mulryne

Final da década de 1990. Com 1,75m, 72kg, excelente forma física e forte desejo de ser campeão, vestindo a camisa do Manchester United Football Club, entra em campo o meia Phil Mulryne, realizando o sonho de ter como colega de equipe o ídolo David Beckham, considerado um dos melhores jogadores do mundo. O jovem jogador irlandês era um dos “diabos vermelhos”, alcunha dos jogadores do Manchester, principal time da Inglaterra e um dos mais famosos do mundo.

Phillip Mulryne | Guadium Press

Além de esporte, futebol é um negócio e, em março de 1999, o promissor Phillip Mulryne deixa o Manchester e assina contrato com o Norwich City, um time menor, mas com um salário bem mais atraente: 500 mil libras (700 mil dólares) por ano. Ao longo de sua carreira, disputou 205 partidas, 27 das quais pela Seleção da Irlanda do Norte, marcando um total de 23 gols.

Era o típico jogador de futebol com um futuro promissor: dinheiro, fama, sucesso, namoro com uma modelo famosa. No entanto, parecia que algo não ia bem nos planos traçados para a vida do jovem astro da bola. Logo após o início da temporada 1999-2000, Mulryne quebrou a perna no confronto com um jogador do time adversário durante uma partida, o que o deixou fora de campo por um bom tempo.

Após a recuperação, nos anos seguintes, permaneceu como um jogador mediano, voltando a ter destaque nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2006, quando foi expulso da seleção irlandesa, às vésperas de uma partida contra a seleção da Inglaterra, por ter fugido da concentração para passar a noite bebendo em um bar de Belfast. Começava aí a decadência de sua carreira como atleta, que encerraria em 2008, jogando em um time inglês da quinta divisão.

Ann Miller

Ann Miller | Guadium Press

Agora, vamos nos deslocar da Irlanda do Norte para os Estados Unidos e voltar mais alguns anos no tempo. Estamos em 1928 e a casa do próspero presidente da Southern Pacific Railroad, empresa que controla a importante ferrovia que liga São Diego a São Francisco, está em festa. Acaba de nascer a pequena Ann.

A menina cresceu cercada de todo conforto, luxo e muito mimo, mas algo naquela criança era diferente, ela acalentava um sonho secreto…

Aos 20 anos, Ann casou-se com Richard Miller, vice-presidente da Pacific Gas and Eletric. De menina rica passou a socialite famosa e sua vida continuou cercada de luxo e glamour. Ann e Richard formavam um casal apaixonado, que se dava muito bem. Foram pais de dez filhos.

A rotina de Ann Miller – se é que se possa chamar isso de rotina – era constituída por festas, férias em estações de esqui, roupas de grife, joias, mansões, iates, escavações arqueológicas, viagens ao Mediterrâneo e tudo de mais requintado que se possa imaginar. Um dos filhos a definiu como “uma mulher que tinha um milhão de amigos, fumava, bebia e jogava cartas. Tornou-se mergulhadora em águas abertas e dirigia tão rápido e imprudentemente que as pessoas saíam do carro dela com o pé dolorido de tanto pisar no freio imaginário”.

A Sra. Miller foi alguém que viveu a vida intensamente, usufruindo de todos os prazeres que o dinheiro pode proporcionar. Ficou viúva em 1984 e, logo após a morte do marido, sua vida sofreu uma grande transformação. Parou abruptamente de fumar e de consumir álcool e cafeína.

Em 1989, ao completar 61 anos, decidiu fazer uma festa luxuosíssima, para 800 convidados, no salão de festas do Hotel Hilton, em São Francisco. Naquela noite memorável, Ann Miller faria uma revelação bombástica que pegaria a todos de surpresa. Com seu jeito alegre e contagiante, a milionária comunicou a todos que a sua vida chegava ao fim…

O laço que os une

O que há em comum entre aquele humilde carpinteiro da Galileia, o ambicioso jogador de futebol irlandês e a milionária Ann Miller? Em comum, eles têm o chamado, também conhecido como vocação. O Mestre os chamou; o jogador e a socialite atenderam ao chamado.

Phillip Mulryne | Guadium Press

Em 2008, o jovem irlandês encerrava a sua carreira de jogador de futebol, mas, onde terminava a carreira do homem, iniciava-se o plano de Deus… Em 2009, aos 31 anos, Phillip Patrick Stephen Mulryne entrava em um seminário em Belfast. Em setembro de 2016, ele fez a profissão dos votos de pobreza, obediência e castidade na Ordem Dominicana, sendo ordenado sacerdote no dia 8 de julho de 2017, aos 39 anos, na Igreja de St. Saviour, em Dublin.

Após celebrar a sua primeira Missa, o Pe. Phillip Mulryne lembrou a inquietação que sentia, a busca que fazia, e disse que a sua vida só se preencheu ao responder o chamado de Deus, que foi transformado pela graça e que o seu único objetivo era ser completamente de Deus.

Em São Francisco, quando, durante a luxuosa festa, a elegante matrona pediu silêncio, pois queria fazer um comunicado, todos ficaram apreensivos. Ela disse: “Os primeiros dois terços da minha vida foram dedicados ao mundo. Vida própria e filhos tomaram conta dos meus primeiros e segundos 30 anos de vida. O último terço será dedicado à minha alma.”

Ainda sem entender aonde ela pretendia chegar, seus amigos e familiares ficaram ainda mais estupefatos quando ela explicou que pedira a Deus mais um terço, ou seja, mais 30 anos de vida, e que os dedicaria a realizar o seu sonho de infância; aquela era uma festa de despedida, pois ela tinha decidido entrar para o Carmelo e concluiu dizendo que o último terço de sua vida pertenceria a Deus.

Irmã Mary Joseph | Guadium Press

No dia seguinte, entrou para o Convento das Irmãs de Nossa Senhora do Monte Carmelo, em Des Plaines, Illinois. Como carmelita, tornou-se a Irmã Mary Joseph, fez votos de silêncio, solidão e pobreza, passando a dormir sobre uma prancha de madeira com um colchão finíssimo. Sem dúvida, o seu sonho de menina era muito importante para Deus, tanto que ele acatou o seu pedido e lhe deu mais 31 anos de vida, os quais ela dedicou completamente a Ele. Irmã Mary Joseph faleceu aos 92 anos, no dia 6 de junho de 2021.

O convite

Essas duas trajetórias, nos dias atuais, podem parecer incomuns, mas, na história dos santos, encontramos muitos que abandonaram o luxo e as riquezas para se dedicarem à vida religiosa. O importante é estarmos atentos para o que Deus quer de nós e ouvirmos a sua voz, que, muitas vezes, vem na brisa. Há uma música que eu ouvia nas Missas, quando criança, que dizia: “Se ouvires a voz do vento, chamando sem cessar, se ouvires a voz do tempo, mandando esperar, a decisão é tua. São muitos os convidados, quase ninguém tem tempo. Se ouvires a voz de Deus, chamando sem cessar, se ouvires a voz do mundo, querendo te enganar, a decisão é tua.”

Como o próprio Carpinteiro disse: “Grande é a messe, mas poucos são os operários.” (Lc 10, 2) O jogador de futebol e a milionária conseguiram mudar as suas histórias e responder ao chamado divino, mas, quantos, surdos à voz de Deus, se deixam levar pelos apegos e ilusões do mundo e não atendem ao doce convite feito por aquele humilde Carpinteiro que construiu o Universo…

Afonso Pessoa

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Jesus? Quem é Ele?

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Jesus? Quem é Ele?

O Evangelho desta quinta-feira da 6ª Semana do Tempo Comum lança uma reflexão crucial para a fé de todo cristão: Quem é Jesus? Qual lugar Ele ocupa na minha vida? Com tantas vozes que se misturam e gritam por atenção na atualidade, o Senhor se manifesta no silêncio eloquente, no escondimento aparente, na simplicidade que irradia.

Jesus? Quem é Ele? A pergunta que foi feita pelo próprio Mestre aos seus discípulos, buscando levá-los à reflexão de quem as pessoas da época diziam que Ele era; para nós, hoje, é quase que um exame de consciência que nos impele a perguntar qual lugar estou dando para Jesus na minha vida, na minha história, no meu dia a dia, na minha existência.

As várias vozes também se levantavam no tempo de Jesus e, muitas vezes, confundiam o povo quanto à verdade de seus conteúdos. Por isso, muitos, como responderam os discípulos, viam Jesus como um grande profeta, um eloquente pregador, uma figura reformista da comunidade. Mas a experiência pessoal com Cristo leva à verdade, pois os discípulos professam: Tu és o Messias! Sentar-se aos pés do Mestre, escutá-Lo, ver suas ações, sentir com Ele… tudo isso só pode ser realidade se se cria intimidade.

O Papa Francisco, desde o início do seu pontificado, tem alertado a humanidade sobre a grande crise humana que gera as relações descartáveis e superficiais. Não é à toa que, hoje, a solidão ensurdecedora gera tantos males psicológicos nas pessoas: rodeados de muitos, acabamos, por vezes, estando sozinhos! Mas, por que sozinhos se temos a possibilidade de termos a companhia do melhor dos amigos? Nosso Senhor deseja ardentemente estar com o homem, não porque Ele é incompleto: pelo contrário, na perfeição de sua divindade, o amor é tão completo que transborda de

Si e chega ao homem como objeto de seu amor.

Por isso, podemos, novamente, nos perguntar: Jesus? Quem é Ele? O Papa Francisco nos ajuda a responder essa pergunta em tom bastante pessoal de diálogo com o Cristo: “Quem sou Eu para ti, que acolheste a fé, mas ainda tens medo de te fazeres ao largo da minha Palavra? Quem sou Eu para ti, que és cristão há tanto tempo, mas que, desgastado pelo hábito, perdeste o primeiro amor? Quem sou Eu para Ti, que vives um momento difícil e tens necessidade de despertar para recomeçar?”

“É isso que interessa ao Senhor: estar no centro dos nossos pensamentos, tornar-se o ponto de referência dos nossos afetos; ser, em síntese, o amor da nossa vida. Não as opiniões que temos sobre Ele: isto não lhe interessa. A Ele interessa o nosso amor, se Ele está no nosso coração.” E, o Senhor repreende os discípulos para que não falassem sobre a descoberta deles para ninguém, naquele momento. Mas, por que? Se ele, como diz o Papa Francisco, quer ser o centro de nossa vida, por que, naquele momento, não sair dizendo a todos quem Ele era? Porque não são as nossas opiniões que valem, mas sim a experiência. O encontro com o Senhor não seria em meio às vozes barulhentas de tantos que falavam de si, faziam referência à sua mensagem, mas sim, numa experiência.

A nós também, na atualidade, o Cristo quer nos encontrar na experiência. Há dois milênios, Ele tem se manifestado ao homem em sua pessoalidade, seja por meio do encontro pessoal com Ele na oração, seja neste mesmo encontro pessoal, por meio dos Sacramentos e de sua Palavra que Ele mesmo deixou sob a autoridade da Igreja.

Os homens, as letras, as ações, as vozes… tudo isso é instrumento. O Caminho, a Verdade e a Vida são Ele, vêm Dele. Seu Corpo Místico, a Igreja, dispõe de uma autoridade imensurável dada por Ele, para comunicar a sua voz. Portanto… Jesus? Quem é Ele? O encontro não com uma ideia, mas com uma pessoa, só se dará quando formos aqueles que dão morada para Aquele que, nascendo em uma manjedoura e morrendo numa cruz, não se abstém de habitar no nosso coração, que é mais pobre do que a manjedoura e, por vezes, mais violento do que a Cruz. Deixemo-nos, pois, ser alcançados e amados por Ele.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Sacerdotes amados e respeitados no seu ministério!

Eucaristia | Vatican News

Voltar às fontes de seu chamado desde o batismo para viver sua vocação sacerdotal de “viver e amar como Jesus viveu e amou” para ser sinal da salvação.

Padre Guanair da Silva Santos

Caros amigos e leitores!

O Simpósio Internacional “para uma teologia fundamental do sacerdócio” com certeza foi aguardado e esperado por muitos ministros ordenados neste tempo de mudança de época com os desafios do contexto atual. Neste período, vivemos grandes desafios e questionamentos diversos de diversos setores da sociedade, a respeito do celibato, de abusos sexuais e de poder. O Cardeal Marc Ouellet, Prefeito da Congregação para os Bispos, nos convoca a refletir e aprofundar o tema. "O que se pode esperar de uma 'teologia fundamental do sacerdócio' no contexto histórico atual, dominado pelo drama dos abusos sexuais perpetrados pelos clérigos? Não deveríamos nos abster de falar do sacerdócio quando os pecados e crimes de ministros indignos estão nas primeiras páginas da imprensa internacional, seja por trair seu compromisso ou por encobrir vergonhosamente os perpetradores de tal depravação? Não deveríamos ficar em silêncio, arrepender-nos e procurar as causas de tais delitos? ".

Creio que este Simpósio é um sopro do Espírito que nos leva e escutar a realidade ou realidades dos sacerdotes hoje na perspectiva de uma “Igreja sinodal” e assim, como discípulos do Divino Mestre “nos coloquemos à escuta do Espírito Santo que, como o vento, «sopra onde quer; ouves o seu ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai» (Jo 3, 8), permanecendo abertos às surpresas para as quais certamente nos predisporá ao longo do caminho. Creio também, que o Simpósio tenha despertado em muitos sacerdotes, assim como eu, uma alegria, uma expectativa, uma luz diante do cenário da vida e missão do sacerdote. Um voltar às fontes de seu chamado desde o batismo para viver sua vocação sacerdotal de “viver e amar como Jesus viveu e amou” para ser sinal da salvação, motivos pelos quais não devemos nos abster de discutir e aprofundar o tema.

É nossa missão enquanto ministros ordenados prestar atenção aos sinais dos tempos. Em seu discurso de abertura do Simpósio o Papa Francisco nos leva a perceber que: “O tempo que estamos vivendo requer, de nós, que não ignoremos a mudança, mas, ao contrário, nos abramos a ela com a consciência de estarmos perante uma mudança epocal (já o disse noutras ocasiões). E, se ainda tínhamos dúvidas, a covid tornou isto mais do que evidente: de fato, a sua irrupção é muito mais que uma questão de saúde, muito mais do que uma constipação. A mudança apresenta-nos sempre diferentes modos de a enfrentar. O problema é que, se muitas ações e atitudes podem ser úteis e boas, nem todas elas têm sabor de Evangelho. Aqui está o nó que devemos discernir: a mudança e a ação têm sabor de Evangelho ou não?”.

Deste modo, as palavras do Cardeal Ouellet e do Papa Francisco, são encorajadoras, desperta nossos ouvidos como de um discípulo para seguir o caminho com Jesus na missão de evangelizar, pois Ele mesmo disse: “eis que estarei convosco até o fim dos tempos” (Mt. 28,20). Assim sendo, nós sacerdotes, somos os pastores do povo de Deus. Atendemos ao chamado de Deus, onde a Igreja é uma continuação no tempo da obra de Cristo, que o evangelista Marcos indica com as seguintes palavras: «Jesus subiu a um monte e chamou os que Ele quis. E foram ter com Ele. Elegeu doze para andarem com Ele e para os enviar a pregar, com o poder de expulsar demônios» (Mc 3, 13-15). Recordando-nos que o chamado é de Deus para servir ao povo de Deus. São João Paulo II, na Pastore Dabo vobis afirmou: “Dar-vos-ei pastores segundo o Meu coração” (Jer 3, 15). Certamente, há uma fisionomia essencial do sacerdote que não muda: o padre de amanhã, não menos que o de hoje, deverá assemelhar-se a Cristo. Quando vivia sobre a terra, Jesus ofereceu em Si mesmo o rosto definitivo do presbítero, realizando um sacerdócio ministerial do qual os apóstolos foram os primeiros a serem investidos; aquele é destinado a perdurar, a reproduzir-se incessantemente em todos os períodos da história (João Paulo II, 1992).

Assemelhar-se a Cristo é nossa identidade e, como toda e qualquer identidade cristã, encontra na Santíssima Trindade a sua própria fonte, que se revela e autocomunica aos homens em Cristo, constituindo nele e por meio do Espírito a Igreja como "gérmen e início do Reino". Não ignoramos as dificuldades pelas quais passamos e vivemos. Não são poucas nem pequenas. Mas, para vencê-las, está a nossa esperança, a nossa fé no indefectível amor de Cristo, a nossa certeza da insubstituibilidade do ministério sacerdotal na vida da Igreja e do mundo, já nos dizia São João Paulo II (João Paulo II, 1992).

Neste simpósio o Papa Francisco nos propôs a refletir a partir de quatro pilares. Com uma lucidez nos propõe um caminho para revisão cotidiana de nossa identidade e missão. Mas, é preciso levar em conta que as palavras do Papa Francisco se dirigem a todos os “ministros ordenados” – padres e bispos – para uma profunda e séria reflexão acerca de sua presença e testemunho na Igreja e no mundo. Neste contexto São João Paulo II preocupado com as dificuldades e os desafios que já se anunciavam, chamou todos os ministros ordenados a fortalecer sua relação com Jesus Cristo e, “n'Ele, com a Sua Igreja que se situa intrinsicamente no próprio ser do presbítero, em virtude da sua consagração/unção sacramental, e no seu agir, isto é, na sua missão ou ministério” (João Paulo II, 1992). Afirma ainda, “em particular, "o sacerdote Ministro é servo de Cristo presente na Igreja mistério, comunhão e missão. Pelo fato de participar da 'unção' e da 'missão' de Cristo, ele pode prolongar na Igreja a sua oração, a sua palavra, o seu sacrifício e a sua ação salvífica. É, portanto, servidor da Igreja mistério porque atua os sinais eclesiais e sacramentais da presença de Cristo ressuscitado. É servidor da Igreja comunhão porque - unido ao Bispo e em estreita relação com o presbitério - constrói a unidade da comunidade eclesial na harmonia das diferentes vocações, carismas e serviços. É finalmente servidor da Igreja missão porque faz com que a comunidade se torne anunciadora e testemunha do Evangelho" (João Paulo II, 1992).

Eu tenho em mente as palavras de um padre idoso, moramos e residimos juntos por seis anos de ministério sacerdotal, que acompanhava toda semana a informações da Santa Sé, leitor assíduo do Observatório Romano. Quando a lia e, chegando na sessão das nomeações episcopais ele repetia: “o bispo tem que ser amigo dos padres, tem que amar os padres, um homem de oração e temente a Deus”, e fazia sempre a pergunta: “será que os escolhidos exercerão sua missão à luz do mandato de Jesus?” Com ele, tive uma melhor compreensão do significado de estar a “serviço segundo o Evangelho”, que é dar de si, esvaziar-se, para escutar o sacerdote, conhecer sua história, sua experiência fundamental que originou sua vocação ministerial, para ser sinal de salvação.

O Bispo é um pai que vive para os seus filhos e que se faz tudo com a Igreja e com os seus sacerdotes, prodigalizando-se para formar as consciências e para os fazer crescer na fé (João Paulo II, 1992). Hoje, encontramos muitos bispos que exercem a paternidade episcopal. A vivência de seu ministério é para “confirmar os irmãos na fé”. Com estes não há problemas no exercício da obediência compreendida como testemunho evangélico. Entretanto, temos encontrado bispos que mais se parecem um vigilante de escola, um vigiador, e não um pai, que deveria proporcionar a proximidade. Para o Papa Francisco, o bispo deve exercer e favorecer a proximidade para com os padres em geral e não somente aproximar os ambiciosos. O bispo, seja ele quem for, permanece para cada presbítero e cada Igreja particular uma ligação que ajuda a discernir a vontade de Deus. Mas não devemos esquecer que o próprio bispo só pode ser instrumento deste discernimento se também ele se colocar à escuta da realidade dos seus sacerdotes e do povo santo de Deus que lhe está confiado.

Em uma “Igreja em saída”, a sinodalidade nos convoca a seguir o caminho de Cristo a fim de comunicar aos homens os frutos da salvação; é necessário termos a coragem, o entusiasmo. Apesar das dificuldades que nos cercam – clericalismo, abuso de poder e sexuais – é preciso seguir, como os pastores seguiram a Estrela de Belém, não desaminar, continuar o caminho com Cristo e com Ele e impulsionados pelo Espírito Santo, propor a conversão do coração aos errantes e pedir perdão aos ofendidos. A realidade apresenta um quadro desafiador à vida e missão do sacerdote e, que neste caminho sinodal o simpósio nos ajuda a ver:

- Sacerdotes vivendo em situação de abandono;

- Sacerdotes sofrendo racismo e preconceito por ser negro;

-  Sacerdotes tratados como “empregados” e não “servidores”;

-  Sacerdotes vivendo a solidão;

-  Bispo sem paternidade episcopal;

Meu desejo e esperança está na confiança de que é o Espírito Santo conduz os caminhos da história e os destinos da Igreja. As dores e sofrimentos que vivemos e passamos, colocamo-los junto a cruz de Cristo que é nossa glória e libertação. Na cruz Cristo venceu a morte, venceu o inimigo. A cruz nos ensina que o caminho a ser trilhado por todos é a conversão. Tomar a cruz e seguir a Jesus é o que nos diz Marcos, o evangelista Mc 8,27-9,1. A cruz é a consequência do compromisso livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que, portanto, todos devem livremente ser aceitos e tratados como irmãos. O meu sonho, o meu pedido é cuidemos todos nós uns dos outros. Um clero doentio, hoje, vai resultar em um episcopado doentio, amanhã. Rezemos por todos os sacerdotes com carinho e amor. Prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão.

Pe. Guanair da Silva Santos

Pároco da Paróquia São Vicente de Paulo/ Coronel Pacheco- Brasil

Secretário do Instituto Mariama (IMA) – Associação de Bispos, presbíteros e diáconos negros do Brasil.

peguanair@hotmail.com

Bibliografia

- Francisco, P. (18 de 02 de 2022). Discurso do Papa Francisco no Simósio Internacional "para uma teologia fundamental do sacerdócio". Fonte: vatican.va: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2022/february/documents/20220217-simposio-teologia-sacerdozio.html

- II, P. J. (25 de 03 de 1992). Exortação Apostólica pós-sinodal pastores-dabo-vobis. Fonte: vatican.va: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_25031992_pastores-dabo-vobis.html

- Ouellet, M. A. (18 de 02 de 2022). Oellet: redescobrir o horizonte sacerdotal obscurecido por abusos. . Fonte: Vatican News: https://press.vatican.va/content/salastampa/it/bollettino/pubblico/2021/09/07/0540/01156.html#PORTOGHESEOK

- Sé, S. (07 de 09 de 2021). Documento Preparatório da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. Fonte: Press.vatican.va

https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF