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Como cristãos, seguidores de Jesus Cristo somos contra a
guerra porque ela traz fome, destruição, fuga de pessoas de seus territórios,
mortes de pessoas, sobretudo de inocentes. Jesus é a paz que traz a
reconciliação entre os seres humanos.
Dom Vital Corbellini, Bispo de
Marabá – PA.
O mundo está presenciando de
uma forma angustiante, uma guerra entre nações da Rússia com a Ucrânia. Este
fato preocupa a toda a humanidade porque o desespero está presente na população
que sofre com a guerra, devido as armas que matam muitas pessoas, jovens,
mulheres, pais de famílias, crianças e idosos. No fundo é a prepotência de
um povo que busca a dominação sobre o outro. Diante desta realidade de conflito
e de guerra, nós pedimos a Deus Uno e Trino, graça da paz em nossa realidade e
no mundo. Como cristãos, seguidores de Jesus Cristo somos contra a guerra
porque ela traz fome, destruição, fuga de pessoas de seus territórios, mortes
de pessoas, sobretudo de inocentes. Jesus é a paz que traz a reconciliação
entre os seres humanos e nos leva até Deus (Jo 14,27). Supliquemos ao Deus Uno
e Trino para que as autoridades russas, ucranianas e de outras nações do mundo
possam se entender para a construção da paz universal, entre os povos e as
nações.
O significado da
palavra guerra
A guerra é um conflito aberto
e declarado entre dois ou mais estados, países, com recursos às armas. É o
complexo das noções pela direção das operações bélicas, nos setores da
logística, estratégia e tática [1]. Nós vimos que as forças russas atacaram em diversas
frentes a Ucrânia, pelo ar, terra e mar. A guerra é feita por muitos meios e
por muitas direções, de modo que lutemos em favor da paz no Brasil e no mundo.
A mensagem de
Cristo Jesus
A mensagem de Cristo Jesus
requer o amor fraterno, também com os inimigos: “Amai os vossos inimigos e
fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por
aqueles que vos caluniam” (Lc 6,27-28). Cristo pede aos seus seguidores
atitudes contrárias à guerra, a eliminação de pessoas, mortes, palavras e atos
que levem à conversão de vida entre os seres humanos e entre os povos, para que
todos sejam irmãos e irmãs no Senhor.
Os Padres da
Igreja
Os Padres da Igreja como
homens e como cristãos provaram uma profunda aversão à guerra e desejavam a paz
entre as pessoas e os povos. Eles viveram no período do Império romano. Eles
afirmavam que a guerra tem a sua raiz no pecado. Eles disseram que Jesus Cristo
não fez recurso nenhum às armas para instaurar o Reino de Deus. Eles disseram
que o Senhor pediu a conversão de vida, o amor fraterno como condições para se
ter a vida plena (Jo 10,10) [2].
Lealdade ao
império romano e atitude crítica à guerra
Os padres da Igreja admiravam
a ordem do serviço militar romano, professavam a lealdade para com o poder, no
entanto eram críticos para com a guerra, porque ela eliminava pessoas e povos.
“De fato, aquele que matou milhares de milhares, seja ladrão, seja príncipe ou
tirano, não pode pagar com uma só morte o castigo de tantos” [3]. A guerra só
trazia mortes e violência entre as pessoas e os povos, de modo que era preciso
lutar pelo bem e pela paz.
Os primeiros
cristãos
Os cristãos dos primeiros
séculos queriam aplicar às suas vidas, o ideal evangélico da paz. Santo Ireneu
de Lião, bispo nos séculos II e III dizia que a vinda do Senhor trouxe a paz e
uma lei vivificante se difundiu em terra como disseram os profetas que se de
Sião sairá a lei, de Jerusalém a palavra do Senhor, corrigindo a muitos povos
de modo que suas espadas se quebrarão para fazer arados e suas lanças para
fazer foices e não mais se aprenderá a fazer guerra (Is 2, 3-4; Mq 4,2-3).
Santo Ireneu ainda dizia que esta profecia se realizou ao Enviado do Pai, Jesus
Cristo, o Senhor, no qual se verificou a palavra na ação, aquele que
transformou as armas em instrumentos utilizáveis para a vida, e trouxe a paz
entre todos os povos [4].
Aliados pela paz
São Justino de Roma, padre e
mártir, séculos II e III, afirmou que os cristãos eram os melhores aliados e
ajudantes para a manutenção da paz no Império romano. Eles professavam a fé em
Deus que deseja o bem de toda a humanidade. Eles lutavam contra a pobreza, o
sofrimento entre as pessoas e a desonra paterna para que reine a paz [5]. Eles
seguiam os mandamentos da lei de Deus, sobretudo o do amor fraterno.
Guerra, derramamento
de sangue
Santo Agostinho, bispo de
Hipona, séculos IV e V, reconhecia os benefícios do Império romano aos povos,
mas este resultado, afirmava foi alcançado com muitas guerras e muito
derramamento de sangue [6]. É impossível a legitimação da guerra se não se leva
em conta a justiça [7]. Para Santo Agostinho, está no coração do ser humano, o
desejo da paz, para que os povos lutem contra a guerra para assim chegar à paz,
como dom de Deus a ser vivido na humanidade [8].
A história da humanidade
registra tempos de paz e de guerras. Como seguidores e seguidoras do Senhor
Jesus, somos chamados a viver na paz, como dom e como compromisso humano. A
guerra não serve para a convivência humana porque ela viola o diálogo, o amor
fraterno, além de trazer mortes, fugas de pessoas, como estamos vendo no Leste
Europeu. Pedimos ao Senhor da paz, que cesse a guerra nos povos da Rússia e da
Ucrânia, em nosso meios e em todo o mundo. Nossa Senhora leve os nossos pedidos
ao seu Filho, Jesus Cristo, em unidade com o Espírito Santo e o Pai.
[1] Cfr. Guèrra. In: Il
vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 699.
[2] Cfr. A. Hamman – M.
Maritano. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto
da Angelo Di Berardino, F-0. Marietti, Genova - Milano, 2007,
pg. 2481.
[3][3] Atenágoras de
Atenas. Sobre a ressurreição dos mortos, 19. In: Padres
Apologistas. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 185.
[4] Cfr. Ireneu de Lião, IV,
34,4. São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 483-484.
[5] Cfr. Justino de
Roma. I Apologia, 12, 1-8. São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 27-28.
[6][6] Cfr. Civitate
Dei, 19,7. Cfr. A. Hamman – M. Maritano. In: Nuovo Dizionario
Patristico..., Idem, pg. 2483.
[7] Cfr. Santo
Agostinho. A Cidade de Deus, IV,4. São Paulo, Vozes, 1991, pg. 153.
[8] Cfr. Civitate Dei, 19, 10-20; 15,4;. Cfr.
A. Hamman – M. Maritano. In: Nuovo Dizionario Patristico...,
Idem, pg. 2483.
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt