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domingo, 20 de março de 2022

III Domingo da Quaresma - Ano C

Dom Paulo Cezar | arqbrasilia

III Domingo da Quaresma

Dom Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

A figueira estéril

Neste terceiro domingo da Quaresma, o texto de Lc 13, 1-9 narra a parábola da figueira estéril. Na primeira parte (Lc 13, 1-5), por meio de dois fatos trágicos, Jesus nos exorta à conversão. Na segunda parte do Evangelho, Jesus conta a parábola da figueira estéril. O que esta parábola quer nos dizer? Papa Francisco, comentando esta parábola, ensina: “O dono representa Deus Pai e o vinhateiro é a imagem de Jesus, enquanto a figueira é o símbolo da humanidade indiferente e árida. Jesus intercede junto ao Pai em favor da humanidade — e o faz sempre — pedindo-Lhe para aguardar e conceder ainda mais tempo, a fim de que ela possa produzir os frutos de amor e justiça. A figueira que o dono da parábola quer extirpar representa uma existência estéril, incapaz de doar, incapaz de praticar o bem. É símbolo de quem vive para si mesmo, satisfeito e tranquilo, instalado nas próprias comodidades, incapaz de dirigir o olhar e o coração para quantos estão ao seu lado em condições de sofrimento, pobreza e dificuldade. A esta atitude de egoísmo e de esterilidade espiritual, contrapõe-se o grande amor do vinhateiro em relação à figueira: pede ao dono que espere, que tenha paciência para que ele dedique a esta figueira o seu tempo e o seu trabalho. Promete ao dono que terá um cuidado especial para com a árvore infeliz.

E nesta similitude do vinhateiro se manifesta a misericórdia de Deus, que nos concede um tempo para a conversão. Todos temos necessidade de nos converter, de dar um passo em frente. E a paciência de Deus, a misericórdia, acompanha-nos nisto. Não obstante a esterilidade, que às vezes marca a nossa existência, Deus tem paciência e oferece-nos a possibilidade de mudar e fazer progressos no caminho do bem. Mas a dilação implorada e concedida na expectativa de que a árvore finalmente frutifique indica também a urgência da conversão. O vinhateiro diz ao dono: ‘Senhor, deixa-a mais este ano’ (v. 8). A possibilidade da conversão não é ilimitada. Por conseguinte, é necessário colhê-la imediatamente, caso contrário, perde-se para sempre.

Podemos pensar nesta Quaresma: o que devo fazer para me aproximar mais do Senhor, para me converter, e ‘cortar’ o que não está bem? (…) Pensemos, hoje, cada um de nós: o que devo fazer face esta misericórdia de Deus que me espera e me perdoa sempre? O que devo fazer? Podemos confiar infinitamente na misericórdia de Deus, mas sem abusar dela. Não devemos justificar a preguiça espiritual, mas aumentar o nosso esforço para corresponder prontamente a esta misericórdia com sinceridade de coração” (Papa Francisco, Angelus do III domingo da Quaresma, 24 de março de 2019).

A conversão é sempre um imperativo na nossa vida. Ela é uma exigência do nosso ser, pois o ser humano é um ser em caminho, em contínuo progresso. Isso acontece em todos os aspectos da nossa vida, e deve acontecer, também, na nossa vida espiritual. O ser humano é um todo, e a dimensão espiritual é constitutiva deste todo. É preciso olhar o todo do humano e trabalhar o todo. Quando a Campanha da Fraternidade propõe uma educação que olhe a pessoa na sua totalidade, é porque a educação deve trabalhar o ser humano na sua totalidade. Que não sejamos figueiras estéreis, mas, por meio da conversão, produzamos muitos frutos.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

A profética viagem de João Paulo II à Ucrânia

AFP - Jean Paul II lors de sa visite historique en Ukraine du 23 au 27 juin 2001

"Ninguém nunca falou tanto sobre a Ucrânia na história", lembra o historiador Bernard Lecomte, que acompanhou a maioria das viagens de João Paulo II, incluindo sua visita à Ucrânia em junho de 2001.

“O que João Paulo II está fazendo em Kiev?” Esse pergunta repetiu-se entre muitos habitantes da capital ucraniana, vendo o papamóvel andando pelas ruas de sua cidade entre sábado 23 e domingo 24 de junho de 2001.

Preparada com muito cuidado e muita oração, a visita de João Paulo II a Kiev, berço do cristianismo russo, sempre foi seu sonho.

AFP

Riscos

Certamente João Paulo II sabia que estava correndo grandes riscos ao ir para lá, especialmente porque o contexto político da época era particularmente turbulento.

Algumas semanas antes, o primeiro-ministro reformador Victor Yushchenko havia sido deposto após um ano de crise identitária e política. Quanto ao presidente, Leonid Kutchma, parecia definitivamente desacreditado no país.

A visita de João Paulo II assumiu então um significado radicalmente novo, pois “só um polonês que viveu sob o regime comunista” poderia compreender a situação, como observa a ensaísta Anne Daubenton em seu livro Ukraine, a indépendance à tout prix (Buchet-Chastel).

Crise

Quando, enfraquecida por esta crise, uma parte dos ucranianos questiona a independência de seu país, adquirida apenas dez anos antes, João Paulo II não hesita em lembrar o que é a Ucrânia.

Em um ucraniano impecável, ele evocou o passado e as tradições do vizinho da Polônia. Ele citou alguns dos maiores poetas e escritores, até cantando algumas canções folclóricas que muitos ucranianos haviam esquecido. Imperturbável, ele destilou sua mensagem sublinhando assim a evidente vocação europeia da Ucrânia:

Na palavra Ucrânia está contida a chamada à grandeza da vossa Pátria que, com a sua história, testemunha a sua singular vocação de fronteira e de porta entre o Oriente e o Ocidente. Ao longo dos séculos, este País foi encruzilhada privilegiada de culturas diferentes, ponto de encontro entre as riquezas espirituais do Oriente e do Ocidente. Há na Ucrânia uma evidente vocação europeia, realçada também pelas raízes cristãs da vossa cultura. […] Oxalá esta Terra continue a desempenhar a sua nobre missão, com o orgulho expresso pelo poeta há pouco citado quando escrevia:  “Não existe no mundo outra Ucrânia, não há outro Dniepre”. Povo que habitas nesta Terra, não te esqueças disto!

Uma viagem profética

Convencido do papel político e religioso da Ucrânia como “ponte” entre os “dois pulmões” do velho continente (o ocidental com a Europa ocidental e o oriental com a Rússia), João Paulo II sentiu imediatamente uma proximidade espiritual com ela.

AFP

Para Bernard Lecomte, autor de uma biografia de João Paulo II, a missão do papa polonês foi muito bem pensada: Karol Wojtyła passou muitos anos em Lublin, a poucos passos da fronteira ucraniana, como professor de teologia. Para ele, a Ucrânia era “o jardim ao lado: era quase sua casa, ele conhecia a Ucrânia melhor do que os ucranianos”. Lecomte afirma:

O primeiro evento de sua viagem em 2001 aconteceu na véspera de sua chegada: manifestações contra sua vinda, dirigidas pelo Patriarcado de Moscou. Afinal, a palavra que aparecia em todas as críticas dos opositores de João Paulo II na época era “proselitismo”. Uma acusação falsa, porém ainda útil: no uso dessa palavra encontramos a espinha dorsal da guerra atual, já que é disso que Vladimir Putin acusa os europeus. E para tanto conta com o apoio do Patriarcado, o mesmo que acusou João Paulo II de fazer proselitismo.

Portanto, não é sem contexto que João Paulo II deu aos ucranianos um grande curso de história. Antes de deixar Kiev em 27 de junho de 2001, ele deixou para os ucranianos esta frase enigmática:

Obrigado a ti, Ucrânia, que defendeste a Europa na tua incansável e heróica luta contra os invasores.

Hoje, a dimensão profética dessa frase de João Paulo II assume uma dimensão tão inesperada quanto impressionante.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa promulga a Constituição Apostólica Praedicate evangelium sobre a Cúria Romana

Missa de Pentecostes em 4 de junho de 2017 | Vatican News

O texto contém e sistematiza muitas reformas já implementadas nos últimos anos. Entrará em vigor no dia 5 de junho, Solenidade de Pentecostes. A nova Constituição confere uma estrutura mais missionária à Cúria para que esteja cada vez mais a serviço das Igrejas particulares e da evangelização. Propaganda Fide Unificada e Pontifício Conselho para a Nova Evangelização, o prefeito será o Papa.

Andrea Tornielli - Sérgio Centofanti

Foi promulgada neste sábado, 19 de março, Solenidade de São José, a nova Constituição Apostólica sobre a Cúria Romana e seu serviço à Igreja e ao mundo Praedicate evangelium: entrará em vigor no dia 5 de junho, Solenidade de Pentecostes.

Fruto de um longo processo de escuta iniciado com as Congregações Gerais que antecederam o Conclave de 2013, a nova Constituição, que substitui a “Pastor Bonus” de João Paulo II - promulgada em 28 de junho de 1988 e em vigor desde 1º de março de 1989 - é constituído de 250 itens.

Na próxima segunda-feira, 21 de março, às 11h30, o texto será apresentado na Sala de Imprensa da Santa Sé pelo cardeal Marcello Semeraro, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, por Dom Marco Mellino, secretário do Conselho dos Cardeais, e pelo jesuíta padre Gianfranco Ghirlanda, canonista, professor emérito da Pontifícia Universidade Gregoriana.

O texto, como mencionado, é o resultado de um longo trabalho colegial, que se inspirou nas reuniões pré-conclave de 2013, envolveu o Conselho dos Cardeais, com reuniões de outubro de 2013 a fevereiro passado, e continuou sob a orientação do Papa com várias contribuições de Igrejas de todo o mundo.

Digno de nota que a nova Constituição sanciona um processo de reforma que já foi quase totalmente implementado nos últimos nove anos, por meio das fusões e ajustes realizados, que levaram ao nascimento de novos Dicastérios. O texto sublinha que "a Cúria Romana é composta pela Secretaria de Estado, pelos Dicastérios e pelos Organismos, todos juridicamente iguais entre si".

Entre as inovações mais significativas a esse respeito contidas no documento está a unificação do Dicastério para a Evangelização da precedente Congregação para a Evangelização dos Povos e do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização: os dois chefes de dicastério se tornam pró prefeitos, porque a prefeitura deste novo Dicastério é reservada ao Papa. De fato, a Constituição diz: “O Dicastério para a Evangelização é presidido diretamente pelo Romano Pontífice”.

Depois, também é instituído o Dicastério para o Serviço da Caridade, representado pela Esmolaria, que assume assim um papel mais significativo na Cúria: “O Dicastério para o Serviço da Caridade, também chamado Esmolaria Apostólica, é uma expressão especial da misericórdia e, partindo da opção pelos pobres, os vulneráveis ​​e os excluídos, exerce em qualquer parte do mundo a obra de assistência e ajuda a eles em nome do Romano Pontífice, o qual, nos casos de particular indigência ou de outra necessidade, disponibiliza pessoalmente as ajudas a serem alocadas".

A Constituição Apostólica apresenta antes de tudo, nesta ordem, os Dicastérios da Evangelização, da Doutrina da Fé e do Serviço da Caridade.

Outra unificação diz respeito à Comissão para a Proteção de Menores, que passa a fazer parte do Dicastério para a Doutrina da Fé, continuando a funcionar com suas próprias regras e tendo seu próprio presidente e secretário.

Uma parte fundamental do documento é aquela que diz respeito aos princípios gerais. No preâmbulo é recordado que todo cristão é um discípulo missionário. Fundamental, entre os princípios gerais, é a especificação de que todos - e portanto também leigos e fiéis leigos - podem ser nomeados em funções de governo da Cúria Romana, em virtude do poder vicária do Sucessor de Pedro: "Todo cristão, em virtude do Batismo, é um discípulo-missionário na medida em que encontrou o amor de Deus em Cristo Jesus. Não se pode ignorar isso na atualização da Cúria, cuja reforma, portanto, deve incluir o envolvimento de leigas e leigos, também em papéis de governança e responsabilidade".

Sublinha-se, ademais, que a Cúria é um instrumento ao serviço do Bispo de Roma também em benefício da Igreja universal e, portanto, dos episcopados e das Igrejas locais. "A Cúria Romana não se coloca entre o Papa e os Bispos, mas coloca-se ao serviço de ambos, segundo as modalidades que são próprias da natureza de cada um".

Outro ponto significativo diz respeito à espiritualidade: também os membros da Cúria Romana são "discípulos missionários". Destacada, em particular, a sinodalidade, como modalidade de trabalho habitual para a Cúria Romana, um caminho já em curso, a ser cada vez mais desenvolvido.

Entre outros aspectos contidos no documento está a definição da Secretaria de Estado como "secretaria papal", a transferência do Escritório do Pessoal da Cúria para a Secretaria para a Economia (Spe), a indicação de que a Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (Apsa) deve atuar por meio da atividade instrumental do Instituto para as Obras de Religião.

Além disso, estabelece-se que para os clérigos e religiosos em serviço na Cúria Romana o mandato é de cinco anos e pode ser renovado por mais cinco anos, e que ao final regressem às dioceses e comunidades de referência: "Em regra, passados ​​cinco anos, os Oficiais clérigos e membros dos Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica que tenham servido nas Instituições e Ofícios da Cúria voltam à pastoral na sua Diocese/Eparquia, ou nos Institutos ou Sociedades a que pertencem. Se os Superiores da Cúria Romana o julgarem oportuno, o serviço pode ser prorrogado por mais cinco anos”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São José (Jozef) Bilczewski

S. José Bilczewski | arquisp
20 de março

São José (Jozef) Bilczewski

José (Jozef) nasceu dia 26 de abril de 1860 em Wilamowice (Polônia). Era o primeiro dos nove filhos de Francisco e Ana Fajkisz, uma família de camponeses, onde, desde cedo, aprendeu as orações e as primeiras noções do catecismo, fazendo nascer nele a fé viva que o acompanhará durante toda a vida.

Em 1872, terminados os estudos primários, os pais mandaram José ao ginásio na cidade de Wadowice, onde, muitos anos mais tarde, estudou também João Paulo II. Ele dedicou-se com muito empenho aos estudos, obtendo ótimos resultados. Nesse período, participava diariamente das celebrações na igreja paroquial e decidiu entrar no Seminário Diocesano de Cracóvia, onde desenvolveu ainda mais o espírito de oração, aprofundando sua formação humana e espiritual.

Foi ordenado sacerdote a 6 de julho de 1884. Depois de um ano de trabalho pastoral com grande zelo e dedicação foi enviado para continuar os estudos em Viena e, em seguida, em Roma e Paris. Trabalhou durante muito tempo como professor de Dogmática Especial na Universidade de Leópolis. Foi nomeado Arcebispo de Leópolis para o rito latino em 17 de dezembro de 1900 e recebeu a Ordenação episcopal a 20 de janeiro de 1901.

Arcebispo de Lviv dos Latinos, foi um ponto de referência para católicos, ortodoxos e judeus durante a Primeira Guerra Mundial e nos diferentes conflitos que a seguiram.
Do Coração de Jesus hauria um amor universal e dele aprendeu não só a mansidão, a humildade e a bondade, mas também a paciência nas provações que enfrentou, durante a vida.

Faleceu na sua Arquidiocese, no dia 20 de março de 1923, depois de se ter preparado santamente para a morte, que acolheu com paz e submissão como sinal da vontade de Deus. Foi proclamado santo pelo papa Bento XVI, dia 23 de outubro de 2005.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

sábado, 19 de março de 2022

JMJ: símbolos na Guarda são momento de renovação e transformação

Símbolos da JMJ na diocese da Guarda (Portugal)

A cruz e o ícone mariano vão estar na Serra da Estrela para uma Via Sacra no dia 20 de março.

Rui Saraiva – Portugal

Os símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) estão a peregrinar em Portugal, caminhando agora pela diocese da Guarda, depois das passagens pelo Algarve, Beja, Évora e Portalegre-Castelo Branco.

Foi no dia 5 de março que a cruz e o ícone chegaram àquela diocese do interior do país. Um acolhimento que está a decorrer com grande alegria e entusiasmo.

Para acompanharmos este percurso vamos contar com a preciosa colaboração do padre Francisco Barbeira, diretor do semanário católico “A Guarda”. Todas as semanas contaremos com a sua colaboração.

Neste contexto assinalamos que durante o acolhimento dos símbolos junto à Catedral, o padre Rafael Neves, responsável pela Pastoral Juvenil da Diocese da Guarda, assumiu esperar que este evento seja um “momento marcante na vida da diocese e na vida dos jovens”. Uma peregrinação que seja um encontro intergeracional que provoque um “cansaço bom” nos jovens.

“Hoje os símbolos vieram até às pessoas e aquilo que nós fizemos, nesta sala de visitas da cidade e até da Diocese, foi acolhermo-los, mas daqui em diante serão os símbolos a peregrinar e as pessoas a peregrinar com eles” – afirmou.

“Há aqui uma junção das duas coisas: é os símbolos a irem ter com as pessoas e as pessoas também irem ter com os símbolos” – explicou.

“Tudo faremos para que este seja um momento de renovação e transformação” – refere ainda o sacerdote.

A peregrinação dos símbolos na diocese da Guarda aponta para um momento muito importante, bem lá “no alto da torre da Serra da Estrela”, “o ponto mais alto de Portugal continental” – sublinha o padre Rafael Neves. Será no dia 20 de março que a Serra da Estrela acolherá uma Via Sacra.

O padre Francisco Barbeira, diretor do jornal “A Guarda” e responsável pela comunicação da diocese da Guarda envia a sua primeira crónica sobre a peregrinação dos símbolos naquela diocese portuguesa.

Festa e fraternidade

“Os símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude chegaram à Guarda, cidade mais alta de Portugal, em ambiente de alegria e muita animação, no dia 5 de março, depois de terem passado pela Diocese de Portalegre/Castelo Branco.

Aos 5 F’s que definem a cidade (Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa), D. Américo Aguiar, presidente da Fundação JMJ Lisboa 2023, quis acrescentar mais dois: Festa e Fraternidade.

“Queremos e desejamos que este território, desta amada Diocese da Guarda, faça Festa, sinta Festa, e também sejamos capazes de pensar naqueles que não podem fazer festa em razão das circunstâncias graves da sua vida, da sua vida pessoal e familiar. Uma oração especial e um pensamento com a Ucrânia, com os soldados, sejam russos, sejam ucranianos, que vivem momentos de trevas nas suas vidas”, disse D. Américo Aguiar na Festa de acolhimento dos símbolos na Praça Velha, junto da Sé Catedral, também apelidada de sala de visitas da cidade e da Diocese da Guarda.

A chegada da cruz e do ícone de Nossa Senhora movimentou jovens de todos os cantos da Diocese a que se associaram crianças e adultos.

O responsável da pastoral Juvenil na Diocese, padre Rafael Neves, destacou “o encontro intergeracional em torno dos símbolos” que congregou pessoas de todas as idades na Festa de Acolhimento.

Sérgio Costa, presidente da Câmara da Guarda sublinhou o “imenso orgulho, o carinho, a afeição e a solidariedade” da cidade, em receber os símbolos das Jornadas Mundiais da Juventude na Guarda.

D. Manuel Felício, Bispo da Guarda, espera que “a passagem dos símbolos pela Diocese da Guarda seja um abanão nas nossas comunidades para que elas se renovarem”. Lembrou que os símbolos “nos interpelam, não só, a caminhar para 2023, mas, sobretudo, a caminhar na fé, no bem, na construção da paz e na alegria”, atributos que fazem “falta na nossa sociedade”.

A Festa de Acolhimento começou com um concerto da “Banda da Paróquia”, grupo de música de inspiração cristã da Diocese de Coimbra, envolvendo os muitos jovens presentes na Praça Velha, na Guarda. Seguiu-se a celebração da Missa na Sé Catedral e, ao início da noite, a Vigília de Oração.

No domingo, 6 de Março, os símbolos que o Papa João Paulo II entregou aos jovens de todo o mundo, começaram a percorrer todos os arciprestados da Diocese da Guarda e, esta semana, já passaram pelo arciprestado de Pinhel/Figueira de Castelo Rodrigo e Almeida/Sabugal.

A cidade de Pinhel assinalou o momento com um concerto oração, com a Banda Jota, uma via-sacra pelas ruas do centro histórico, bem como a visita às escolas e residências seniores. Em Vilar Formoso, maior fronteira terrestre do País, os símbolos foram acolhidos na Igreja Paroquial. Em terras de contrabando, na raia do Sabugal, houve festa, alegria e muitos momentos de oração durante a passagem da Cruz e do ícone de Nossa Senhora.

Na Diocese da Guarda a peregrinação dos símbolos continua, até ao início do mês de Abril, nos arciprestados Fundão/Penamacor (13 a 17 de Março), Covilhã/Belmonte (17 a 20 de Março), Seia/Gouveia (20 a 24 de Março), Celorico/Trancoso (24 a 27 de Março) e Guarda/Manteigas (27 de Março a 2 de Abril).”

A Rádio Vaticano e o Vatican News continuam a acompanhar cada vez com maior intensidade a preparação da Jornada Mundial da Juventude que decorrerá em Lisboa em 2023.

Laudetur Iesus Christus

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Em Mariupol, é Nossa Senhora que “mostra o caminho”

lampada.in.ua | Shutterstock | LIUDMILA ERMOLENKO
Por Lukasz Kobeszko

O ícone venerado na grande catedral.

A cidade devastada pela guerra de Mariupol está localizada no Mar de Azov e na Baía de Taganrod, ligando por terra a Crimeia ocupada pela Rússia com Donbass e o resto do território russo. É por isso que é tão ferozmente atacada. A sua captura cortaria virtualmente o acesso da Ucrânia tanto ao Mar de Azov como à Península da Crimeia.

Os historiadores discutem sobre a genealogia do nome da cidade. Durante séculos, tal como na Crimeia e no sul da Ucrânia, os gregos instalaram-se na região. Os comerciantes gregos eram ativos na bacia do Mar Negro, enviando mercadorias para a Roménia, Bulgária, Ucrânia, e Turquia.

Cidade de Maria

O nome grego da cidade, Μαριούπολη, significa “uma cidade de Maria”. Outros acreditam que a cidade recebeu o nome de Maria Fedorovna, a esposa do czar Paulo I.

A cidade é o lar da Igreja Ortodoxa da Santíssima Trindade, onde a Mãe de Deus é venerada no seu ícone de Nossa Senhora de Mariupol. O ícone é do tipo Hodegetria, ou seja, mostra a Virgem Maria segurando o Menino Jesus, e apontando-o como o caminho da salvação. No Ocidente, Maria, nesta postura, é por vezes conhecida como Nossa Senhora do Caminho.

O ícone fez o seu caminho para Mariupol a partir da Crimeia

Diz a lenda que há séculos, um dos pastores da Crimeia chamado Mikhail conduziu inadvertidamente o gado que estava a pastorear para um desfiladeiro íngreme. De repente, o pastor viu um grande ícone de Nossa Senhora sobre uma rocha e uma vela acesa ao seu lado. Passado algum tempo, encontrou um caminho fácil para fora do desfiladeiro e salvou o seu rebanho.

Uma pequena capela foi construída na rocha onde o ícone foi encontrado. Durante as numerosas rusgas muçulmanas na Crimeia, o ícone foi escondido num barril e finalmente, no século XVIII, foi encontrado em Mariupol.

A 13 de Março, o Papa Francisco rezou para que a cidade fosse poupada.

Irmãos e irmãs, acabamos de rezar à Virgem Maria. Este fim-de-semana, uma cidade que leva o seu nome, Mariupol, tornou-se uma cidade martirizada pela guerra ruinosa que está a devastar a Ucrânia. Perante a barbárie da matança de crianças, e de cidadãos inocentes e indefesos, não há razões estratégicas que se mantenham: A única coisa a fazer é cessar a inaceitável agressão armada antes que a cidade seja reduzida a um cemitério.

Oração a Nossa Senhora de Mariupol

Beatíssima Intercessora da terra no Mar de Azov
e da cidade de Mariupol,
a saúde e a pureza da Ortodoxia,
de todos os que vos alcançam com as suas orações,
Santa Mãe, pedi ao nosso Cristo a libertação de toda a miséria
e a salvação das nossas almas.

Alegrai-vos, Santíssima Mãe de Deus e Rainha,
o nosso incansável Intercessor.
Iluminai aqueles
que nos mostram o caminho para a salvação.
Alegrai-vos, ó Querida Mãe,
pedindo ao Senhor que derrame a sua graça sobre nós.
Alegrai-vos perante os
cheios da pureza do Espírito de Deus.
Abençoai, ó Misericordiosa, aqueles
que graciosamente nos protegem da miséria.
Iluminai, Estrela mais Brilhante, os
que mostram o caminho para o Sol da Verdade.
Alegrai-vos, Virgem Santíssima Mãe de Deus,
pela glória de Mariupol e do nosso Intercessor.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Uma Quaresma pela Paz (III) - Para oferecer vítimas espirituais

Papa Francisco em oração na Igreja 'del Gesù' | Vatican News

Na terceira reflexão da Quaresma, Pe. Rafhael Silva Maciel sugere como exercício quaresma oferecer "sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, e, ao mesmo tempo, os nossos sofrimento e dores em favor de tantos que involuntariamente sofrem as dores das guerras e das suas consequências".

Vatican News

A Transfiguração do Senhor se dá no Monte Tabor, e ali, sobre o monte, Jesus, “enquanto rezava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou muito branca e brilhante. Eis que dois homens estavam conversando com Jesus: eram Moisés e Elias” (Lc 9,29-31). O Tabor é o lugar da Glória, o lugar em que Jesus, de certo modo, antecipa qual é o fim reservado para aqueles que escutam o que ele diz (Lc 9,35) e colocam em prática (Lc 8,21).

O referido trecho de Lucas diz qual era o assunto que Jesus conversava com Moisés e Elias: “Eles apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a morte, que Jesus iria sofrer em Jerusalém”. Morte que Jesus sofreria, em outro monte, o Monte Calvário. Revestidos de glória eles tratavam sobre o sofrimento, sobre as dores e a morte que se tornaria morte redentora, fonte vida nova. Na Quaresma, também somos chamados a refletir sobre esse aspecto da nossa existência: a dor e o sofrimento, vividos com o olhar na Cruz Redentora, erguida no Calvário, redimensionar todas as nossas dores e angústias.

O mundo assiste, mais uma vez, ao desenrolar de uma guerra, dentre outras que acontecem em nossos dias. Os meios de comunicação mostram a dor e o sofrimento de tantas pessoas, “quantas lágrimas são derramadas, em cada instante, no mundo (...). As mais amargas são as lágrimas causadas pela maldade humana: as lágrimas de quem viu arrancar-lhe violentamente uma pessoa querida (...) Há olhos que muitas vezes param fixos no pôr-do-sol e têm dificuldade em ver a alvorada dum dia novo” (Francisco, Discurso, 05.05.2016). Essas são lágrimas do sofrimento humano diante da dor da subida dos nossos “Calvários”.

Diante do tema do sofrimento humano o Apóstolo Paulo oferece seu testemunho: “completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). O Papa João Paulo II afirma que o Apóstolo encontrou o sentido para o sofrimento, redimensionou a dor em valor redentor, em oferta de si pela salvação das almas, pois, diz são João Paulo II, essas palavras “têm o valor de uma descoberta definitiva, que é acompanhada pela alegria: ‘Alegro-me nos sofrimentos suportados por vossa causa’ (Cl 1,24). Esta alegria provém da descoberta do sentido do sofrimento (...). O Apóstolo comunica a sua própria descoberta e alegra-se por todos aqueles a quem ela pode servir de ajuda — como o ajudou a ele — para penetrar no sentido salvífico do sofrimento” (Salvifici doloris, 1).

Como exercício quaresmal, somos convidados a oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, e, ao mesmo tempo, os nossos sofrimento e dores em favor de tantos que involuntariamente sofrem as dores das guerras e das suas consequências. São Pedro nos lembra e exorta a que “quais pedras vivas, vós também vos tornais os materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer vítimas espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1Pd 2,5). Eis, queridos irmãos, o significado do nosso sacerdócio batismal: oferecermo-nos como vítimas, como hóstias vivas. Que belo poder oferecer as nossas dores para amenizar a dor de outros, ou como diz poeticamente uma canção católica brasileira: “que o meu cansaço a outros descanse”.

Nesses dias de Quaresma, vivendo nossas penitências e exercícios espirituais, podemos oferecê-los e consagrá-los em favor de tantas pessoas que estão sofrendo em diversas partes do mundo, com o terror das guerras, entre tantos outros males; podemos oferecer nossos pequenos sacrifícios quaresmais, com a oração, para amenizar as dores de que padece o Sagrado Coração de Jesus diante da violência e da opressão pelas quais passam “os pequeninos” (Mt 25,40).

Que nestes dias quaresmais, o Senhor nos ajude a oferecer o dom das lágrimas, o dom da compaixão pelo sofrimento alheio, lágrimas que “nas Escrituras, pode ter dois aspetos: o primeiro é pela morte ou sofrimento de alguém. O outro aspecto são as lágrimas pelo pecado — pelo próprio pecado — quando o coração sangra pela dor de ter ofendido a Deus e ao próximo. Trata-se, portanto, de amar o outro de maneira tal que nos vinculamos a ele ou a ela até compartilharmos a sua dor” (Francisco, Audiência, 12.02.2020).

Por fim, nessa semana em que celebraremos o grande São José, nosso pai e senhor, entreguemos a ele as nossas ofertas, as nossas penitências e lágrimas, para que ele mesmo as apresente a Jesus em favor dos mais necessitados. São José que é proclamado como “sustento nas dificuldades”, ajude-nos a nos oferecermos como hóstias puras, a exercer nosso sacerdócio batismal, sacrificando em nós o que faz sofrer o Coração de Jesus, e oferecendo nossas dores para que outros descansem, na misericórdia de Deus.

Roma, 16 de março de 2021

Pe. Rafhael Silva Maciel

Missionário da Misericórdia

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Papas e guerra: entre a autodefesa e a incansável busca da paz

Ann Ronan Picture Library | Photo12 | AFP
Por I. Media

Um olhar sobre a história recente da Igreja, desde a Primeira Guerra Mundial, e os sucessos e fracassos da diplomacia papal.

Desde 24 de Fevereiro de 2022, a atitude da Santa Sé em relação à ofensiva russa na Ucrânia deu origem a perguntas e mal-entendidos, uma vez que o Papa Francisco nunca denunciou a Rússia pelo nome. Este tom faz parte de uma velha tradição de diplomacia no Vaticano, que tem sido frequentemente o único organismo a manter canais abertos com todos os atores em conflitos internacionais. I.MEDIA consultou três especialistas sobre o papado para identificar as directrizes da diplomacia papal desde a Primeira Guerra Mundial.

“Quando uma nação é atacada, tem todo o direito de se defender”, explica Frédéric le Moal, historiador e autor de um livro sobre a relação de Pio XII com a França durante a sua eleição em 1939. Ele observa que o termo “guerra justa”, que tem sido objeto de um longo desenvolvimento doutrinário ao longo dos séculos, está ligado sobretudo ao objetivo da “autodefesa”.

Relativamente à resistência ucraniana, assegura que se trata “totalmente” de um caso de auto-defesa, mas que encorajar a ajuda militar direta poderia levar a uma posição de “co-beligerância”. Esta situação daria a Vladimir Putin “o pretexto para uma política ainda mais agressiva” em relação ao Ocidente. “É um equilíbrio muito sutil, muito difícil de encontrar, e muito perigoso”, observa o historiador.

Consequências

O Papa Francisco, tal como Pio XII e os seus outros predecessores, sabe que “palavras demasiado brutais contra o inimigo podem ter consequências para os cristãos”. Assim, o objetivo da diplomacia do Vaticano nunca é atirar gasolina no fogo”, insiste o especialista em história militar. Evitar a espiral mortal que poderia conduzir a um conflito generalizado tem sido uma preocupação fundamental dos sucessivos papas ao longo da história.

Em 1939, Pio XII foi censurado por não ter denunciado claramente a agressão alemã contra a Polônia. Frédéric le Moal recorda que o Papa que pontificou durante a Segunda Guerra Mundial manteve sempre “uma extraordinária prudência” nas suas intervenções. O historiador vê analogias com a atitude do Papa Francisco perante o islamismo e o Kremlin.

Além disso, o estabelecimento de relações diplomáticas entre a Santa Sé e a Rússia sob o pontificado de Bento XVI, numa dinâmica de aproximação com o mundo ortodoxo, torna difícil fazer qualquer crítica frontal a Vladimir Putin. “É possível que o Papa Francisco esteja a ser cuidadoso para não quebrar este equilíbrio com a Rússia”, diz o historiador.

Conversar com todos, incluindo os poderes violentos

Frédéric le Moal lembra-nos que o realismo da diplomacia do Vaticano o leva a “falar com todos, incluindo pessoas que podem parecer verdadeiramente brutais”, assegura ele.

Assim, a nunciatura em Damasco nunca foi fechada durante a guerra civil, apesar da partida de uma grande parte do corpo diplomático. Esta estratégia deu ao papado “possibilidades de intervenção, especialmente num papel de arbitragem”, explica o historiador.

A Santa Sé viu-se assim no centro de muitas mediações, desde a Guerra dos Cem Anos até acontecimentos mais recentes, como a retomada das relações entre Cuba e os Estados Unidos em 2014.

Paradoxalmente, o mundo secularizado contemporâneo parece estar hoje mais receptivo às contribuições da diplomacia papal do que a chamada Europa “cristã” do início do século passado. O restabelecimento da credibilidade da Santa Sé tem sido fruto de várias décadas de esforço, após um período de descrédito da instituição pontifícia aos olhos dos governos ocidentais.

1914-1918: um papado controverso

Durante a Primeira Guerra Mundial, o papado sofreu um declínio na sua reputação internacional devido às diferenças entre o Papa Bento XV e o seu Secretário de Estado, recorda o historiador Marcel Launay, autor de uma biografia do pontífice que chefiou a Igreja de 1914 a 1922.

Neste contexto de caos entre nações europeias, o Cardeal Pietro Gasparri era a favor da “neutralidade absoluta, para não antagonizar nenhuma nação, porque para o papado isso era uma forma de procurar a paz” sem tomar a posição dos beligerantes.

Bento XV, por outro lado, considerava que se podia “interferir para tentar arranjar assuntos em nome de uma diplomacia que fosse a da paz”. Explicando que “a guerra é condenável em qualquer caso”, ele fez “24 intervenções em favor da paz e da reconciliação”.

Mas à medida que os combates avançavam, “o papado seria criticado pela sua atitude de aparente neutralidade”, recorda Marcel Launay. Neste contexto conturbado, os franceses chamavam a Bento XV o “Papa Germanófilo” e o general alemão, Erich Ludendorff, considerava-o, pelo contrário, um “Papa Francófilo”.

Na encíclica Ad beatissimi apostolorum, “desde o início do seu pontificado, ele disse: ‘Temos de procurar a paz, a guerra é odiosa'”, recorda o historiador. À medida que o pontificado evoluiu, “a posição de Bento XV prevaleceu finalmente sobre a de Gasparri”.

Em Agosto de 1917, Bento XV emitiu a mais importante intervenção do pontificado com a nota que dirigiu a todas as nações, convidando-as a “procurar a paz através do desarmamento”. Esta nota, mal recebida e mal compreendida, levou à exclusão da Santa Sé das negociações do tratado de paz em 1919, recorda Marcel Launay.

Rumo a uma Igreja que é “especialista em humanidade”

Nas décadas seguintes, a diplomacia papal deslocou gradualmente o seu centro de gravidade. Nas décadas de 1930 e 1940, a preocupação fundamental de Pio XII era limitar os riscos de perseguição dos católicos por Hitler, na Alemanha como nos países ocupados, e pelo regime soviético.

Sob os seguintes pontificados, contudo, ocorreu uma mudança de perspectiva. “A Igreja queria ser uma ‘especialista em humanidade’, pelo que já não se limitava a defender os católicos, mas vigiava realmente o respeito pela justiça para com todos os seres humanos, bem como a restauração da paz”, observou Frédéric le Moal.

O jornalista Bernard Lecomte, que cobriu o pontificado de João Paulo II, nota o “importante ponto de virada” tomado durante o pontificado de João XXIII, nomeadamente com a sua encíclica Pacem in Terris.

No início dos anos 60, o “Papa Bom” surpreendeu e chocou alguns católicos com os seus gestos de aproximação à URSS, o que, na verdade, ajudou a afastar o fantasma de uma guerra atómica. O jornalista explica que os contatos de João XXIII com Khrushchev “chegaram ao fim durante a crise dos mísseis cubanos, que coincidiu com a semana de abertura do Concílio”.

A pedido da comitiva de Kennedy, o papa italiano interveio com sucesso junto do líder soviético, que disse: “João XXIII e eu demo-nos bem porque somos ambos camponeses”.

“Houve, portanto, uma espécie de relação pessoal, bastante surpreendente”, observa Bernard Lecomte.

Seguiu-se o grito de Paulo VI – “Nunca mais guerra, nunca mais guerra” – na ONU em 1965. No entanto, o seu pontificado foi marcado pelos conflitos no Vietnã e em Biafra. Foi também o início da Ostpolitik no Vaticano.

O conceito de “nação” legitimado por João Paulo II

Eleito em 1978, João Paulo II assumiu uma estratégia diferente, enfatizando a defesa da nação polaca face ao domínio soviético, como demonstrado pelo “seu apoio ao Solidarnosc, aos dissidentes”, diz Bernard Lecomte.

O papa polaco continuou esta lógica no início dos anos 90, tomando o partido das populações balcânicas que procuravam a emancipação do regime de Belgrado, assinala ele.

“A independência da Croácia e da Eslovénia foi reconhecida muito rapidamente pela Santa Sé, mesmo antes dos países da Comunidade Europeia”, recorda o biógrafo do papa polaco. “Estas eram duas nações católicas pelas quais João Paulo II tinha um carinho especial, como ele tinha por todas as comunidades católicas do Oriente”.

Este apoio papal explícito e rápido seria criticado durante as lutas fratricidas que iriam dilacerar os países da ex-Jugoslávia. Mas a defesa de uma população oprimida, inclusive através da resistência armada, era legítima aos olhos de João Paulo II. “Quando somos atacados por tanques, respondemos com mísseis anti-tanque. Cada situação tem a sua resposta específica”, sublinhou Bernard Lecomte.

No seu discurso de 2004 na Normandia, o Cardeal Ratzinger, representante de João Paulo II para as comemorações de 6 de Junho, salientou que os desembarques Aliados eram uma necessidade moral e mostraram “o carácter insustentável do pacifismo absoluto”.

“O desembarque na Normandia não podia ser realizado com scooters, isso é claro!” observa Bernard Lecomte, notando a plena convergência entre o papa polaco e o seu sucessor alemão, eleito 60 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial.

Sucessos e fracassos aparentes de uma diplomacia de longo prazo

Em termos de esforços diplomáticos, o início do pontificado de João Paulo II foi marcado pela sua bem sucedida mediação no conflito sobre o Canal Beagle, uma zona fronteiriça disputada na ponta sul da América Latina. “Ele não queria deixar duas nações católicas, Argentina e Chile, entrar em guerra uma contra a outra”, recorda Bernard Lecomte, sublinhando a eficácia da mediação levada a cabo pelos núncios enviados pelo Papa, que conduziu a um tratado de paz no início dos anos 80.

O fim do pontificado foi mais amargo, pois a imensa influência internacional de João Paulo II não o impediu de experimentar desilusões. O Papa experimentou um “fracasso total” durante a ofensiva americana de 2003 no Iraque, segundo o seu biógrafo. Ele “investiu muito” ao enviar o Cardeal Pio Laghi a George W. Bush e o Cardeal Roger Etchegaray a Saddam Hussein, e “foi tudo em vão”. O repórter sublinha: “Só porque a diplomacia do Vaticano se investe numa questão, não significa que tenha êxito”.

No entanto, esta atitude de João Paulo II deu frutos a longo prazo, na percepção que a população iraquiana tem da figura do Papa. Bernard Lecomte reconhece que é “bastante provável” que o sucesso da visita do Papa Francisco ao Iraque em 2021 tenha estado ligado à atenção constante da Santa Sé à população iraquiana, mesmo quando o país era um pária na cena internacional.

Apesar dos aparentes fracassos face a acontecimentos traumáticos e violentos, a perseverança da diplomacia papal e a atenção fiel dos papas às populações martirizadas pela guerra pode, portanto, ser também uma ferramenta valiosa para moldar a paz a longo prazo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF