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terça-feira, 22 de março de 2022

Santa Léia

Santa Léia | arquisp
22 de março

Santa Léia

Pouco se conhece sobre a vida de Léia, uma rica romana que quando ficou viúva, ainda jovem, recusou um novo casamento, como era o costume da época, para se juntar à Marcela, abadessa de uma comunidade, criada em sua própria residência em Aventino, Roma. O local, depois se tornou um dos mosteiros fundados e dirigidos por Jerônimo, que se tornou santo, doutor da Igreja e bispo de Hipona, na África do Norte, e que viveu também nesse período, na cidade eterna.

Léia recusara ninguém menos que Vécio Agorio Pretestato, cônsul romano designado prefeito da Urbe, que lhe proporcionaria uma vida ainda mais luxuosa, pelo prestigio e privilégios que envolviam aquele cargo. Teria uma vila inteira como moradia e incontáveis criados para atendê-la. Entretanto, Léia preferiu viver numa cela pequena, fria e escura, com simplicidade e dedicada à oração, à caridade e à penitência.

A jovem abandonou os finos vestidos para usar uma roupa tosca de saco rude e fazia questão de realizar as tarefas mais humildes, assumindo uma atitude de escrava para as outras religiosas. Passava noites inteiras em oração e quando fazia obras beneméritas, o fazia escondido, para não chamar a atenção de ninguém e não receber nenhuma recompensa ou reconhecimento pelos seus atos. Por isso, Léia foi eleita Madre superiora, trabalho que exerceu durante o resto de seus dias com alegria, tranqüilidade e a mesma humildade.

Esses poucos dados sobre Léia estão contidos numa carta escrita pelo bispo Jerônimo, quando soube da sua morte, em 384. Curiosamente, ela morreu em Roma, no mesmo ano em que faleceu Vécio, o consul, rejeitado por ela .

Na ocasião dessas mortes, Jerônimo já havia se retirado de Roma para viver solitariamente perto de Belém, depois de ter sido caluniado. Retirou-se para um mosteiro e continuou dirigindo o que havia fundado, na residência romana. Na carta, que ele enviou à essas religiosas, fez um paralelo entre as duas mortes, mostrando que antes o riquíssimo cônsul usava as mais finas vestes púrpuras e agora estava envolto em escuridão, enquanto, Léia, antes vestida de rude roupa de saco, agora vivia na luz e na glória, por ter percorrido o caminho da santidade.

Logo foi venerada pelo povo que trazia Santa Léia, no coração e na memória. Até porque era difícil compreender, mesmo depois de passado tanto tempo, a troca que fizera do posto de primeira dama romana pela de abnegação de monja. Contudo, foi assim que Santa Léia escolheu viver, na entrega total ao Senhor ela encontrou a maneira de alcançar seu lugar ao lado de Deus na eternidade.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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segunda-feira, 21 de março de 2022

O aborto e os dramas de consciência

Rattiya Thongdumhyu | Shutterstock
Por Vanderlei de Lima

Objeção de consciência é abster-se de participar ativamente de atos objetivamente imorais, impostos pela lei positiva ou pela autoridade civil.

De início, digamos que o aborto é o crime mais covarde da história, pois trucida um bebê inocente e indefeso no ventre materno. Eis um tipo de homicídio amparado pela lei humana positiva, porém nunca pela Lei Divina não só inscrita no coração de cada ser humano, mas também proclamada pelo próprio Deus no Monte Sinai (cf. Ex 20,2-17). 

Fecundação: marco do início da vida

E por que é homicídio? – Porque há vida desde a concepção. Jérôme Lejeune, renomado geneticista francês, assegura: “A vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos transportados pelo espermatozoide se encontram com os 23 cromossomos da mulher [no óvulo], todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é o marco do início da vida. Daí para a frente qualquer método artificial para destrui-la é um assassinato” (Pergunte e Responderemos n. 485, novembro de 2002, p. 462-468). Mais: “Desde a penetração do espermatozoide se encontra realizado o novo ser. Não um homem teórico, mas já aquele que mais tarde chamarão de Pedro, de Paulo ou de Madalena […]. Se o ser humano não começa por ocasião da fecundação, jamais começará. Pois de onde lhe viria uma nova informação? O bebê de proveta o demonstra aos ignorantes” (Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Problemas de Fé e Moral. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2007, p. 176).

Esta comprovação científica dos nossos dias alicerça ainda mais a firme posição tradicional da Igreja a condenar o homicídio no ventre materno. Fiel ao 5º mandamento da Lei de Deus a prescrever o “Não matarás” (Ex 20,13), os cristãos do século I já diziam: “Não matarás criança por aborto nem criança já nascida” (Didaché 2,2). Ainda: o pecado do aborto foi inserido entre aqueles que, por derramar sangue inocente, brada ao céu por vingança divina (cf. Gn 4,10). Sim, Deus mesmo toma a defesa do bebê assassinado! O afamado biblista Luís Alonso Schökel, ao comentar a passagem bíblica em questão, diz: “Quando se comete um crime, a vítima ou seu defensor clamam, pedindo justiça; morta a vítima e na falta de defensor humano, o sangue derramado ‘clama ao céu’ pedindo justiça (Jó 16,18; Hb 12,24)” (Bíblia do Peregrino. 3ª ed. São Paulo: Paulus, 2017). 

Excomunhão latae sententiae

Relembremos ainda que o aborto é punido com a excomunhão latae sententiae (automática), conforme o Código de Direito Canônico vigente, cânon 1398: “Quem provoca o aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae”. Estão excomungados também todos os que, com ciência e consciência, ajudaram na realização do aborto. De modo material, a excomunhão atinge os médicos, enfermeiros, parteiras etc., pois colaboram diretamente no assassinato de um ser humano. De modo moral eficaz, a excomunhão atinge o marido, o namorado, o amante, o pai, a mãe etc. que ameaçam ou estimulam e ajudam a mulher a submeter-se ao aborto. A mãe também está excomungada, mas nem sempre, pois ela pode estar inserida nas atenuantes propostas pelo cânon 1324 que prevê a não excomunhão da mulher que aborta quando: a) esta tem apenas posse parcial da razão; b) está sob forte ímpeto de paixão que não foi por ela mesma fomentada voluntariamente e c) se está sob coação por medo grave.

Objeção de consciência

Que devem fazer os médicos ante uma lei homicida dessas? – Não devem se tornar assassinos, mas, sim, exercer o direito humano fundamental à objeção de consciência. Esta é entendida como qualquer tipo de resistência à autoridade pública por motivos íntimos, ou seja, se dá quando o cidadão julga, de modo bem fundamentado, que as determinações da autoridade são injustas e, por isso, não merecem obediência, mas oposição. Objeção de consciência é, portanto, abster-se de participar ativamente de atos objetivamente imorais, impostos pela lei positiva ou pela autoridade civil. O recurso à objeção de consciência assegura que ninguém pode ser, legalmente, obrigado a fazer algo contra a consciência, especialmente ferindo seus valores morais e espirituais.

Que tenhamos a graça divina de sempre obedecer a Deus antes que aos homens (cf. At 5,29).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa ao Fórum da Água: o mundo tem sede de paz

Água Potável | Vatican News

Aos participantes reunidos no Senegal, Francisco envia uma mensagem assinada pelo cardeal Parolin reiterando o direito à água potável e ao saneamento básico, como primário, universal e básico para a construção da fraternidade. O convite é para fortalecer a cooperação entre os Estados para a gestão sustentável de um "bem indivisível".

Antonella Palermo – Vatican News

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos participantes do 9º Fórum Mundial da Água sobre o tema da Segurança da Água para a Paz e o Desenvolvimento – que se realiza em Dacar, Senegal, de 21 a 26 de março - assinada pelo cardeal Secretário de Estado do Vaticano Pietro Parolin e lida pelo cardeal Michael Czerny, prefeito interino do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.

Fazer da água um verdadeiro símbolo de diálogo

O Papa disse que estava acompanhando os trabalhos deste encontro internacional com suas orações para que "possa ser uma oportunidade de trabalhar juntos para a realização do direito à água potável e ao saneamento básico para cada ser humano, e assim contribuir para fazer da água um verdadeiro símbolo de partilha, de diálogo construtivo e responsável em favor de uma paz duradoura".

A água é um bem precioso para a paz

Partindo do pressuposto de que "nosso mundo tem sede de paz", que é um "bem indivisível", o convite é para que todo esforço seja feito para construí-la, através da constante contribuição de todos. Para isso é necessário satisfazer as necessidades essenciais e vitais de cada ser humano. O Papa lembrou que a segurança da água hoje é ameaçada pela poluição, conflitos, mudanças climáticas e abuso dos recursos naturais. "A água não pode ser considerada simplesmente como um bem privado", disse, "que gera lucros mercantis e está sujeito às leis do mercado".

O acesso à água e ao saneamento básico é um direito primário

O dado que deveria sacudir as consciências e levar à ação concreta dos líderes internacionais diz respeito à situação de mais de dois bilhões de pessoas sem acesso a água potável e/ou ao saneamento básico. Francisco chamou a atenção para as consequências, em particular, para os pacientes em centros de saúde, mulheres em trabalho de parto, prisioneiros, refugiados e pessoas deslocadas. Citando a Laudato si', a mensagem reiterou que o acesso é um "direito humano primário, fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas"; também vincula estreitamente este direito ao "direito à vida, que está enraizado na dignidade inalienável da pessoa humana".

Apelo a servir o bem comum com dignidade

O texto destacou a "grave dívida social para com os pobres que não têm acesso à água potável". Sob a lente do Papa estão a poluição que ameaça a segurança, as armas que tornaram a água inutilizável, ou a secaram por causa da má gestão das florestas. Daí o apelo a todos os líderes políticos e econômicos, às diversas administrações, aos diretores de pesquisa, do financiamento, da educação e da exploração dos recursos naturais, para "servir o bem comum com dignidade, determinação, integridade e em espírito de cooperação". Fez-se referência ao Terceiro Encontro Mundial dos Movimentos populares (2016) e se pediu uma melhor gestão da água, especialmente por parte das comunidades: pode ajudar a criar maior coesão social e solidariedade, a iniciar processos e a construir relacionamentos.

Trabalhar juntos como irmãos na gestão da água

Mais uma vez o Papa enfatizou que a água é um dom de Deus e um patrimônio comum que deve ser usado universalmente. Convidou os países, por ser em grande parte um bem transfronteiriço, a trabalharem mais estreitamente juntos: "seria um grande passo avante para a paz". O pensamento voltou-se então para o rio Senegal, ao Níger, ao Nilo... regiões e situações onde a água chama para a necessidade de fraternidade. Gerir a água de forma sustentável e com instituições eficazes e solidárias", concluiu, "é também uma forma de reconhecer este dom da criação que nos foi confiado para que juntos possamos cuidar dele".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Hoje é celebrado o Dia Mundial da Síndrome de Down

Papa Francisco abraça criança com síndrome de Down /
Vatican Media.

REDAÇÃO CENTRAL, 21 mar. 22 / 12:04 pm (ACI).- Hoje é celebrado o Dia Mundial da Síndrome de Down, data promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar sobre a dignidade humana inerente das pessoas com a síndrome.

Em 2011, a ONU escolheu 21 de março (3/21 na forma usual de escrever dia e mês em inglês) como a data para o Dia Mundial da Síndrome de Down, porque a síndrome triplica o cromossomo número 21.

A comemoração também lembra "a dignidade inerente, o valor e as valiosas contribuições das pessoas com deficiência intelectual como promotoras do bem-estar e da diversidade de suas comunidades", diz a ONU.

Segundo a ONU, a incidência estimada da síndrome de Down no mundo é de 1 em 1 mil recém-nascidos. Segundo os dados da Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down, estima-se que no Brasil a incidência é de 1 em cada 700 nascimentos.

Em alguns países como o Reino Unido, se a trissomia é detectada ou suspeita-se de que o bebê nascerá com a Síndrome de Down, a mãe pode fazer um aborto legalmente.

Segundo um estudo publicado em 2020 pelo European Journal of Human Genetics, entre 2011 e 2015, o número de bebês nascidos na Europa com síndrome de Down diminuiu pela metade.

ONU disse que em 2020, o mundo teve que se adaptar a "uma forma diferente de se relacionar uns com os outros" e embora isso "foi um grande desafio [...] foi também uma oportunidade de encontrar novas formas de se conectar".

Em 2021, a ONU incentivou “melhorar as conexões para garantir que todas as pessoas com síndrome de Down possam se conectar e participar em igualdade de condições com as outras”.

Este ano, a data pretende ser "uma oportunidade única para que a comunidade global de síndrome de Down compartilhe ideias, experiências e conhecimentos; para que se fortaleça na hora de advogar e reivindicar" seus direitos; e consiga que sua mensagem "chegue aos principais interessados ​​e traga mudanças positivas”, disse.

Em 2021, por ocasião desta data, o papa Francisco lembrou que cada criança “é um dom que muda a história de uma família” e “que tem necessidade de ser acolhida, amada e cuidada. Sempre!”.

A síndrome foi descoberta pelo pesquisador John Langdon Down em 1866, embora ele não tenha descoberto as causas.

Em 1958, o pesquisador católico Jerome Lejeune descobriu que se tratava de uma alteração cromossômica: a trissomia do par de cromossomos 21, e publicou sua descoberta na revista Nature em 1959.

A principal consequência da Síndrome de Down é a incapacidade cognitiva, embora tenha sido demonstrado que a estimulação precoce pode ajudar muito a que esta seja reduzida.

Lejeune foi indicado ao Prêmio Nobel, mas sua candidatura não foi adiante devido à sua convicção contra o aborto de crianças com essa alteração genética.

Este cientista francês foi nomeado pelo papa são João Paulo II como membro da Pontifícia Academia para a Vida no Vaticano. 

Jérôme Lejeune nasceu em 13 de junho de 1926 na França e morreu em 1994. Após sua descoberta, ficou muito desapontado ao perceber que os governos estavam usando a detecção da Síndrome de Down para abortar essas crianças, e não para contribuir com o tratamento dessa deficiência.

Por isso, dedicou sua vida à defesa dessas crianças e se opôs à lei do aborto na França, embora isso lhe custasse a rejeição da comunidade científica e ele deixasse de receber doações para suas pesquisas.

Atualmente, está em processo de beatificação. O papa Francisco autorizou em 21 de janeiro de 2021 a promulgação do decreto da Congregação para as Causas dos Santos que reconhece suas virtudes heroicas, um passo anterior para seu reconhecimento como beato.

A Fundação Jérôme Lejeune dedica-se à pesquisa, formação, cuidado e conscientização da síndrome de Down. Em 2019, por ocasião do Dia Mundial da Síndrome de Down, a fundação publicou um vídeo em que relembra que “um diagnóstico não pode ser uma sentença de morte”.

https://youtu.be/OYsuRAGzZCY

Fonte: https://www.acidigital.com/

Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial

Papa Francisco em Lesbos  (AFP or licensors)

O Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial é comemorado a cada 21 de março desde 1966, convocado pelas Nações Unidas para comemorar o massacre em Sharpeville, África do Sul. No ano passado, o Papa definiu o racismo como "um vírus que, em vez de desaparecer, se esconde".

Andrea De Angelis – Vatican News

Às vezes o racismo também é feito de silêncios. Olhares eloquentes que não podem esconder um julgamento discriminatório. As palavras então reforçam conceitos que são os mais baixos que a raça humana pode expressar. Todos os anos, no dia 21 de março, celebramos o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial. Em uma época de pandemia e com mais de uma guerra em curso - Ucrânia, mas também Etiópia, Síria e Iêmen - este dia ganha um significado especial.

O que aconteceu 62 anos atrás

O dia é comemorado todos os anos nesta data para lembrar o que ocorreu em 21 de março de 1960 na África do Sul. No auge do apartheid, a polícia abriu fogo sobre um grupo de manifestantes negros, matando 69 e ferindo cerca de três vezes esse número. Foi um episódio dramático, lembrado de forma indelével na história como o Massacre de Sharpeville. Ao proclamar este Dia Internacional em 1966, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em sua Resolução 2142, enfatizou a necessidade de um maior compromisso para a eliminação de todas as formas de discriminação racial. Uma missão que certamente não terminou.

Lembrando Desmond Tutu

O Dia se comemora menos de três meses após a morte do arcebispo anglicano Desmond Tutu, que morreu em 26 de dezembro com a idade de 90 anos. Um símbolo da luta contra o apartheid na África do Sul, ele ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1984. O Comitê do prêmio mais famoso do mundo citou seu "papel como uma figura unificadora na campanha para resolver o problema do apartheid na África do Sul". Dois anos mais tarde, ele se tornou a primeira pessoa de pele negra a liderar a Igreja Anglicana na África do Sul: foi em 7 de setembro de 1986. O Arcebispo foi um homem de paz, um servo de Cristo e também inspirado pelo conceito africano de ubuntu, que indica uma visão da sociedade na qual cada pessoa é chamada a desempenhar um papel importante, com uma preocupação natural pelos outros e, consequentemente, pela promoção e manutenção da paz.

As palavras do Papa Francisco

"O racismo é um vírus que se transforma facilmente e, em vez de desaparecer, se esconde, mas está sempre à espreita. As manifestações de racismo renovam em nós a vergonha, demonstrando que o progresso da sociedade não está assegurado de uma vez por todas". Isto é o que o Papa Francisco escreveu exatamente um ano atrás em seu perfil no twitter, neste dia. Não ao racismo, sim ao acolhimento dos migrantes. Não aos nacionalismos, sim aos valores europeus e à paz. Estes foram os conteúdos da mensagem de Francisco em sua audiência com os participantes da Assembleia Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, em maio de 2019. A Igreja", disse o Papa, "observa com preocupação o ressurgimento, em todas as partes do mundo, de correntes agressivas contra os estrangeiros, especialmente os imigrantes, bem como aquele nacionalismo crescente que negligencia o bem comum". Desta forma", acrescentou, "há o risco de comprometer as formas de cooperação estabelecidas, prejudicando os objetivos das organizações internacionais e impedindo a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável" estabelecidos pela ONU. E novamente, em seu discurso aos participantes da conferência Xenofobia, Racismo e Nacionalismo Populista no Contexto da Migração Global, em setembro de 2018, o Papa declarou:

“Vivemos em tempos em que sentimentos que pareciam ultrapassados para muitos parecem estar revivendo e se espalhando. Sentimentos de suspeita, medo, desprezo e até mesmo ódio para com indivíduos ou grupos considerados diferentes por causa de sua afiliação étnica, nacional ou religiosa e, como tal, considerados não dignos o suficiente para participar plenamente da vida da sociedade. Com muita frequência, esses sentimentos inspiram atos de intolerância, discriminação ou exclusão que minam seriamente a dignidade das pessoas envolvidas e seus direitos fundamentais, incluindo seu direito à vida e à integridade física e moral. Infelizmente, acontece também que o mundo da política cede à tentação de explorar os medos ou as dificuldades objetivas de certos grupos e de usar promessas ilusórias para interesses eleitorais míopes. A gravidade destes fenômenos não pode nos deixar indiferentes. Todos somos chamados, em nossas respectivas funções, a cultivar e promover o respeito à dignidade intrínseca de cada pessoa humana, começando pela família - o lugar onde aprendemos desde muito jovens os valores de partilha, aceitação, fraternidade e solidariedade - mas também nos diversos contextos sociais em que atuamos”.

Absolutamente intolerável

Em junho passado, falando no debate urgente convocado hoje nas Nações Unidas em Genebra como parte da 43ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, sobre o tema das "atuais violações dos direitos humanos de inspiração racial, racismo sistêmico, brutalidade policial e violência contra protestos pacíficos", o Observador Permanente da Santa Sé, Arcebispo Ivan Jurkovič, exortou todos os Estados a "reconhecer, defender e promover os direitos humanos fundamentais de cada pessoa", definindo a discriminação racial como "absolutamente intolerável".  De fato, "todos os membros da família humana, criados à imagem e semelhança de Deus", observou ele, são "iguais em sua dignidade intrínseca, independentemente de raça, nação, gênero, origem, cultura ou religião". Citando as palavras do Papa Francisco, dom Jurkovič lembrou que "não é possível tolerar ou fechar os olhos a qualquer tipo de racismo ou forma de exclusão social e, ao mesmo tempo, afirmar defender a sacralidade da vida humana".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Nicolau de Flue

S. Nicolau de Flue | arquisp
21 de março

São Nicolau de Flue

Bruder Klaus nasceu no dia 21 de março de 1417, na Suíça. Oriundo de família pobre, ainda jovem queria ser monge ou eremita. Nesta época não pôde realizar o sonho porque tinha que ajudar os pais nos trabalhos do campo. Mais tarde também não o conseguiu, pois se casou. Felizmente a escolhida era uma moça muito virtuosa e religiosa, chamada Dorotéia, com a qual teve dez filhos. Vários deles se tornaram sacerdotes, e um dos netos, Conrado Scheuber, morreu com o conceito de santidade.

Ainda neste período Klaus não pôde se dedicar totalmente às orações e meditações como queria. Os escritos da época narram que, devido ao seu reconhecido senso de justiça, retidão de consciência e integridade moral, foi convocado a assumir vários cargos públicos, como, juiz, conselheiro e deputado.

Finalmente, aos cinqüenta anos de idade conseguiu a concordância da família e abandonou tudo. Adotou o nome de Nicolau e foi viver numa cabana que ele mesmo construiu, não muito longe de sua casa, mas num local ermo e totalmente abandonado. Tinha por travesseiro uma pedra e como cama uma tábua dura. Naquele local viveu por dezenove anos e há um fato desse período que impressionou no passado e impressiona até hoje. Há provas oficiais de que ele, durante todos esses anos, alimentou-se exclusivamente da Sagrada Comunhão. Entretanto, não conseguia se manter na solidão. Amável e receptivo, não fugia de quem o procurasse. E a pátria precisou dele várias vezes.

Pacificador e inimigo das batalhas, conhecido por seus atos e pela condição de eremita, foi chamado a mediar situações explosivas como a ameaça de guerra contra os austríacos e a eclosão iminente de uma guerra civil. Mas, quando não houve jeito de alcançar a paz no diálogo, ele também não fugiu de assumir seu lugar nos campos de batalha, como soldado e mesmo oficial. Entretanto, seu trabalho na reconciliação entre as partes envolvidas nestas questões de guerra repercutiu muito na população. Nicolau passou a ser venerado pelo povo, que logo o chamou de "Pai da Pátria".

Porém, à qualquer chance que tinha voltava para sua cabana, até ser solicitado novamente. Foi conselheiro espiritual e moral de muita gente, tanto pessoas simples como ocupantes de cargos elevados. Era muito respeitado por católicos e protestantes. Há quase um consenso em seu país de que a Suíça é hoje um país neutro e pacífico, que dificilmente se envolve em guerras ou conflitos internacionais, graças à influência do "Irmão Klaus", como era, e ainda é, carinhosamente chamado por todos os suíços.

Ele morreu no dia 21 de março de 1487, exatos setenta anos do seu nascimento. O corpo de Nicolau está sepultado na Igreja de Sachslen. Beatificado em 1669, foi canonizado pelo Papa Pio XII em 1947. A memória de São Nicolau de Flue é venerada pela Igreja, no dia 21 de março e como herói da pátria, no dia 25 de setembro. Ele é o Santo mais popular da Suíça.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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domingo, 20 de março de 2022

A Congregação para os Institutos de Vida Consagrada

Cardeal João Braz de Aviv | Vatican News

Os Dicastérios da Santa Sé narrados a partir de dentro: história, objetivos e "balanço de missão": como funcionam as estruturas que sustentam o ministério do Papa. Entrevista com o Prefeito, Cardeal João Braz de Aviz.

Alessandro De Carolis – Vatican News

A vida consagrada na Igreja é uma autêntica galáxia. Ordens antigas, institutos mais recentes, comunidades femininas e masculinas, todas unidas pelo ponto em comum do Evangelho vivido sine glossa, à luz de um carisma específico. A Congregação para Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica tem a tarefa de manter os pontos deste macrocosmo variegado em linha reta, mesmo nos aspectos mais delicados relativos à vida interna de cada instituto. O Cardeal João Braz de Aviz guia o dicastério há onze anos. É inestimável a colaboração e comunhão do Arcebispo Secretário José Rodríguez Carballo e o trabalho de cerca de quarenta oficiais, que são expressão das diversas formas de vida consagrada e com o apoio de um balanço de missão que, nos valores oficiais para 2021, chega a 3 milhões de euros. O Cardeal apresenta o trabalho da Congregação ao Vatican News.

O Prefeito, Dom João Braz de Aviz | Vatican News

Encarregada de promover e regular todas as suas formas e expressões, a Congregação tem o comando da situação da vida consagrada no mundo. Qual é hoje seu estado de saúde em um contexto cultural cada vez mais secularizado e incapaz de compreender o valor das escolhas integrais e definitivas?

De nosso observatório, emerge um grande e belo mosaico de vida consagrada. Não podemos fazer uma avaliação unívoca porque as realidades são realmente muito diversas. Embora seja verdade que em algumas sociedades e culturas a secularização parece diminuir o significado de uma vida dedicada ao próximo e ao Senhor, também é verdade que existem culturas e sociedades nas quais os valores da comunhão e da definitividade ainda têm um peso significativo.  É por isso que existem tantas nuances e também estão aumentando a mobilidade das pessoas consagradas de um continente para outro. A visão geral é uma visão que envia esperança e partilha porque há muitas pessoas consagradas nas diversas formas de vida consagrada que vivem suas vidas com alegria. Em suma, a vida consagrada está em boa saúde. Dissemos e confirmamos que o pontificado do Papa Francisco e a própria pessoa de um papa que vem do mundo religioso deu um impulso para uma nova consciência e abertura, mesmo nos contextos secularizados em que vivem muitas pessoas consagradas. Precisamente em muitos desses contextos, a vida consagrada aparece como uma verdadeira profecia.

A capela do dicastério | Vatican News

O senhor é responsável não só pelas ordens e congregações religiosas, mas também pelos institutos seculares, sociedades de vida apostólica, comunidades monásticas e virgens consagradas. Qual é a estrutura da Congregação e como está organizado o trabalho dos funcionários? Quais são os custos e em que medida eles respondem aos itens do "balanço de missão" do dicastério?

No Dicastério há cinco setores entre os quais é distribuído o serviço que o Dicastério presta às diferentes formas de vida consagrada. Obviamente, dado o número muito maior de religiosos em comparação com as outras formas, dois setores dedicam-se exclusivamente dos religiosos e das religiosas, em particular um dedicado ao âmbito do governo e o outro da disciplina. Outro setor é específico para a vida contemplativa feminina e em um outro confluem todas as outras formas: as sociedades de vida apostólica, os institutos seculares, o ordo virginum, os chamados novos institutos dos quais ainda não temos uma clareza teológica e jurídica, os eremitas. Por fim, há um setor que trata de questões gerais que afetam a vida consagrada, não as de institutos individuais, e por esta razão tal setor se relaciona com as conferências dos superiores maiores e com as conferências dos bispos. Há cerca de 40 funcionários que expressam a universalidade da vida consagrada tanto em termos proveniência como de vocação (religiosa, instituto secular, ordo virginum). Cada funcionário é designado a um setor, mas existe uma ampla colaboração tanto em termos de tópicos, que muitas vezes envolvem mais de um dos setores, quanto em termos de idioma, porque as traduções dos documentos que recebemos ou enviamos são feitas pelos próprios funcionários e claramente cada um dos setores não pode ter um funcionário por idioma.

Balanço de missão? Enquanto foi possível viajar, o Cardeal Prefeito e o Arcebispo Secretário visitaram muitos países para levar a voz do Papa o mais próximo possível dos consagrados e consagradas do mundo. Nós somos realmente um dicastério em saída! Obviamente, isto tem custos, e não apenas econômicos. A partir do Ano da Vida Consagrada (que começou no final de novembro de 2014), organizamos várias conferências e simpósios internacionais sobre temas que desafiam a vida consagrada. Também produzimos várias publicações traduzidas para os principais idiomas, e continuamos a publicar a revista semestral Sequela Christi. Continua a oferta de formação, mesmo tendo sido renovada, constituída pela escola bienal de magistério e direito sobre a vida consagrada, com professores de fora e dentro do Dicastério. Esta é a oferta formativa do nosso Studium ou Escola Interdisciplinar para a formação no Magistério Eclesial e na Normativa Canônica sobre a Vida Consagrada na Igreja. Durante dois anos a escola também foi oferecida em inglês a estudantes do Quênia durante o verão, enquanto que a partir deste ano, com ensino à distância, oferecemos a possibilidade a 100 estudantes residentes na África de seguirem as aulas em inglês.

Funcionários da Congregação | Vatican News

Em relação ao tema da gestão econômica, um tema particular sobre o qual se concentrou a reflexão do Dicastério nos últimos anos, foi a administração do patrimônio dos institutos religiosos. É possível conjugar carisma e dinheiro? E quais são as indicações e diretrizes operacionais sugeridas pela Congregação para as comunidades dos consagrados?

Não só é possível, mas é necessário conjugar carisma e dinheiro. Este é um dos grandes desafios da vida consagrada de hoje. Cada carisma se encarna em uma época particular e se manifesta através de escolhas, ações, obras, razão pela qual está intimamente ligado à vida e, portanto, a um discurso econômico. Para viver e agir é preciso dispor de meios, incluindo meios econômicos! A forte ênfase que o Dicastério tem oferecido é a de não identificar o carisma com obras. Se é verdade que o carisma se traduz em vida e que a vida muda, então as obras também podem mudar: quando um instituto não sabe como se adaptar a esta mudança, corre o risco de se concentrar apenas no aspecto econômico, ou seja, nos fundos de apoio às obras. Vimos que, nestes casos, para salvar as obras, muitos membros podem perder sua vocação e comprometer o próprio carisma. A economia, como diz frequentemente o Papa Francisco, deve servir, não governar. A economia deve estar a serviço da missão e do carisma. É por esta razão que a dimensão econômica deve fazer parte do patrimônio educativo de cada consagrado, religioso, religiosa, não só do ecônomo: é necessária uma boa compreensão do fenômeno econômico, mas também uma formação que proporcione competência. Com relação às obras, o dicastério sempre evidenciou, antes de mais nada, o significado evangélico das obras, e depois destacou sua sustentabilidade carismática, pessoal e econômica. Por esta razão, cada vez mais o dicastério enfatiza a necessidade de abordar esta questão consciente de que é necessário estar preparado, fazer uso de instrumentos e pessoas competentes e não fazer "uma economia artesanal". Em 2018, nosso dicastério publicou o documento Economia a Serviço do Carisma e da Missão onde são dadas diretrizes precisas sobre a economia e a vida consagrada.

O recente documento O Dom da Fidelidade, A Alegria da Perseverança reuniu os frutos da última sessão plenária do dicastério, dedicada ao problema dos abandonos, que o próprio Papa Francisco descreveu como "uma hemorragia que enfraquece a vida consagrada e a própria vida da Igreja". Qual é a análise feita deste fenômeno e quais são as formas sugeridas para lidar com ele?

A chamada questão dos abandonos está na reflexão do Dicastério há algum tempo: o documento mencionado é o resultado de uma sessão plenária realizada em janeiro de 2017. Desde então, analisamos o fenômeno como um todo e vimos que podem existir várias razões para isso: uma falta de vocação não reconhecida; uma falta de formação, especialmente em nível afetivo e comunitário; uma profunda desconexão entre formação inicial e permanente; uma vida comunitária que não fortalece a pertença, mas a enfraquece; uma real falta de fé e de uma espiritualidade profunda; um serviço de autoridade não vivido de forma evangélica; a incapacidade de acompanhar e uma má formação de formadores ou a simples improvisação; uma certa secularização que atravessa alguns institutos e comunidades. Não temos receitas para resolver esta situação, mas indicamos percursos que se inspiram na centralidade da sequela e, consequentemente, à necessidade de permanecer centrados em Deus. Por outro lado, pensamos que o fenômeno dos abandonos exige uma revisão aprofundada dos percursos de formação e um discernimento vocacional mais cuidadoso.

Os arquivos | Vatican News

A partir da Constituição Apostólica Vultum Dei quaerere, publicada em 2016, a vida contemplativa tem sido afetada nos últimos anos por mudanças significativas, especialmente no nível normativo. De quais exigências surgem e em que consistem?

A vida contemplativa na Igreja se desenvolveu e evoluiu muito nos últimos sessenta anos. Desde a Sponsa Christi, promulgada em 1950, até hoje, a vida contemplativa passou e desfrutou de muitas mudanças e transformações. Estas mudanças na vida, no mundo e na Igreja, com o grande evento do Concílio Vaticano II, produziram estilos, formas, modalidades, práticas, ... que as normas atuais de vida contemplativa não aceitavam, ou que muitas vezes tinham que ser regulamentadas como "exceções". O essencial não tinha mudado, o mutável tinha sofrido mudanças e modificações. Isto agora motivou a Igreja, com a Constituição Apostólica Vultum Dei quaerere (2016) e sua Instrução Cor Orans (2018), a produzir uma nova normativa para regular as mudanças, bem ciente de que a norma segue a vida. Estes documentos são também uma manifestação do grande apreço da Igreja pela vida contemplativa.

As mudanças mais significativas, resumindo muito, seriam: Primeiramente, a importância da mulher consagrada na Igreja. Por esta razão, agora a Madre da Federação foi autorizada a fazer a visita canônica, junto com o Ordinário, aos mosteiros de sua Federação. No mesmo sentido, ainda mais importante é o papel da Madre Abadessa ou Prioresa, que é equiparada a uma Superiora Maior (como as Provinciais na vida apostólica) e, portanto, com a autoridade de regular e acompanhar certas estruturas na vida das Irmãs (dispensa à clausura, permissão para sair da clausura de uma Irmã por um ano...). Outro ponto importante é que elas não são simplesmente chamadas de monjas de clausura, pois não é a clausura que determina e identifica esta forma de vida na Igreja em sua totalidade, mas são chamadas de Monjas Contemplativas ou Irmãs Contemplativas. A identidade desta forma de vida evangélica na Igreja deve ser vista na sua integridade e nos elementos essenciais que a definem, e não simplesmente por um meio, a clausura, para a contemplação. Os doze elementos indicados na Constituição Apostólica (Vdq) representam hoje o objeto de discernimento e revisão dispositiva para as Irmãs. Estes são a formação, a oração, a centralidade da Palavra de Deus, os Sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Penitência, a Vida fraterna em comunidade, a Autonomia, as Federações, a Clausura, o Trabalho, o Silêncio, os Meios de comunicação, a Ascese. Outra mudança significativa é a questão da filiação a um mosteiro autônomo quando se perde a real autonomia de vida, seja pela diminuição de número, seja pela impossibilidade na troca no serviço da autoridade, seja pela incapacidade de ser uma comunidade formativa. A filiação ocorre para reformar e revitalizar a vida de um mosteiro que perdeu sua autonomia, ou para acompanhar sua supressão. Na nova legislação, a autonomia não é entendida como isolamento, mas em um contexto de relações com os outros mosteiros da própria Ordem (federação ou congregação) e da própria vida consagrada em geral, além, de fato com a vida da Igreja particular. E para favorecer esta verdadeira autonomia, são estabelecidas condições, tais como o número de monjas em um mosteiro, a capacidade de governo e formação, tanto permanente quanto inicial, ou por exemplo, a capacidade de levar uma vida litúrgica que continue sendo um sinal de serviço na Igreja e no mundo, e ao mesmo tempo são dadas indicações para evitar o isolamento de um mosteiro. 

As comunidades religiosas femininas, que representam mais de dois terços do mundo das pessoas consagradas, pedem hoje consideração e dignidade, o que é um desafio para toda a Igreja. Que respostas chegam por parte do dicastério?

Creio que a própria mudança dos direitos das contemplativas, à qual me referi anteriormente, seja indicativa da resposta do Dicastério à consideração e à dignidade das mulheres. Em nosso dicastério, já há algum tempo, temos mulheres em cargos importantes (subsecretaria, chefe de setor), o que significa, por exemplo, que no congresso, no espaço em que discutimos assuntos delicados e importantes, a voz das mulheres é igual à dos homens. O mesmo se aplica quando o dicastério tem que confiar tarefas especiais (assistentes, comissários) a alguém que possa acompanhar uma situação em crise. Também aqui, estamos muito atentos, principalmente se se trata de verificar um instituto feminino, a nomear uma mulher como acompanhadora.  Podemos dizer que o caminho foi iniciado e não se volta atrás: só podemos continuar neste caminho se as próprias mulheres forem as primeiras a ter consciência de sua dignidade e a manter uma liberdade saudável sem cair na atitude de clericalismo que o Papa descreveu tão bem.

O dramático fenômeno dos abusos sexuais, como o abuso de poder, também envolveu o mundo dos consagrados. Como a percepção desta realidade está mudando na Igreja e que papel a vida religiosa desempenha no caminho de purificação e renovação?

O que foi dito sobre o papel da mulher também é válido para as questões dos abusos (tanto sexual como de poder e também espiritual): o Papa Francisco iniciou um caminho do qual não há como voltar atrás. Se antes tínhamos uma atenção especial para ajudar e às vezes proteger (mas sempre com a intenção de ajudar a pessoa ou a própria Igreja) os que cometiam o abuso, hoje o caminho é ter atenção e cuidado tanto daqueles que sofreram o abuso quanto daqueles que o cometeram. Isto significa que a própria Igreja enfrenta cada vez mais esta dramática situação não com medo, mas com o desejo de proximidade e, por esta razão, não tem vergonha de falar sobre o assunto e de reconhecer tais crimes. É claro que o caminho é longo e é um caminho que obviamente desafia a vida consagrada, tanto masculina quanto feminina. A resposta dos religiosos e das religiosas tem sido enfrentar os problemas juntos, e foi também uma oportunidade para criar comunhão entre as diferentes instituições. Refiro-me ao fato de que em muitos países as conferências dos superiores maiores, muitas vezes em conjunto com as conferências episcopais, elaboraram protocolos.  Outro passo muito importante foi o de combinar estas situações com os percursos de formação. De fato, muitos institutos consideraram a situação em nível formativo, seja em termos de prevenção, seja de acompanhamento em caso de abusos, seja também como formação dos superiores que são chamados a administrar essas situações com medidas específicas. Para nós, pessoas consagradas, a questão dos abusos, sexual e de poder, é um assunto ao qual devemos prestar muita atenção. Por esta razão, nosso dicastério tem uma comissão ad hoc para tratar de tais casos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os impactos e as atrocidades da guerra e a Luz de Cristo

Os impactos da guerra | Vatican News

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

            Nestes dias de guerras, pelos meios de comunicação social, nós cenas que causam indignação, de dor, e compaixão porque o poder militar, invasor mata pessoas, são mísseis atirando contra as os vulneráveis, contra prédios, contra as casas, contra os hospitais, contra escolas, torre de TV; nós percebemos fogo, fumaça, destruição. São os impactos que não deixam também de serem as atrocidades da guerra. Impacto vem da palavra latina impactus, desencontros, as conseqüências de atos violentos[1]. Atrocidade vem do latim, atrocitas-atis, que suscita horror, medo, algo efetivamente cruel[2]. Nós pedimos a Deus para que cesse a guerra e haja paz entre os povos. A Luz de Cristo ilumine os povos em vista de uma convivência pacifica, de muito amor entre todas as pessoas.

            A transfiguração do Senhor e a humanidade transfigurada.

            Este trecho da Sagrada Escritura ilumina a reflexão dada. Jesus foi para uma alta montanha e lá ele se transfigurou diante dos discípulos. Enquanto rezava, diz São Lucas, seu rosto mudou de aparência e suas roupas ficaram brancas e brilhantes. Jesus mostrou a sua realidade divina antes de sua encarnação de modo que ela foi uma luz para os discípulos continuarem a caminhada com Ele, rumo ao mistério pascal de sua paixão, morte e ressurreição. Quando Jesus falava de sua paixão e morte para chegar à ressurreição os seus discípulos não entendiam muito aquela linguagem de modo que a transfiguração foi uma luz para que eles compreendessem a realidade divina de Jesus, e que era necessário passar pela cruz para chegar à luz eterna, a ressurreição.

            Nós dizemos que a humanidade necessita se transfigurar como o Senhor fez para os seus discípulos. A guerra traz divisões, mortes, destruição de casas, hospitais, escolas, mortos de pessoas. É preciso superar esta situação de ódio para que haja o amor e a paz entre os povos. É preciso ir à montanha para o encontro com Deus e descer para assim continuar a caminhada rumo à eternidade, de irmãos e de irmãs junto a Deus Uno e Trino.

            O apelo dos papas.

            Os papas São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e Francisco sempre ressaltaram a importância da paz. Nunca mais a guerra, cesse a guerra. São vozes que gritam em favor do bem e do amor entre todas as pessoas. São apelos fundamentais para que a humanidade não recorra mais a violência, à guerra, em vista do poder de uma nação sobre a outra. Os apelos colocam também o nome do Senhor para que termine o conflito, a guerra na Ucrânia termine por parte da Rússia.

            A onda dos refugiados.

            A guerra traz ao mundo a crise humanitária que é a onda de refugiados. São milhões de refugiados que fogem da Ucrânia e vão para outros países, sobretudo a Polônia, outros países da Europa, das Américas e outros continentes. As pessoas se refugiam em busca de uma vida melhor em outros países não sabendo o que ocorrerá em outros países e quando é que terminará a guerra para retomar as suas casas. É um sofrimento muito grande para milhões de pessoas, na grande maioria mulheres, crianças, idosos e idosas, porque os homens devem permanecer na Ucrânia, na guerra. Existe a realidade do frio intenso onde as pessoas estão sofrendo, a falta de roupas, e da comida adequadas. Ressaltamos a solidariedade e o amor de muitas pessoas que estão ajudando os refugiados da Ucrânia.

            Risco com pessoas infantis.

            A guerra traz como problemática os milhões de meninos e meninas que estão em risco de vida. Como a TV mostra, o fato é que as famílias, sobretudo as mães com os seus filhos e filhas estão indo para as fronteiras da Ucrânia para outros países de modo que não tem o amparo. Como é que será o futuro daqueles meninos e meninas, como se dará a escola, o ensino, a acolhida em suas famílias?!. Os sofrimentos são muitos na linha da humanidade acompanhados por temperaturas congelantes, falta de suprimentos para a saúde, higiene.

            A situação das mulheres e dos órfãos da guerra.

            Segundo os meios de comunicação social são muitas as mulheres mortas na guerra, mas também violentadas, em muitos lugares. Além disso estão sofrendo por estar longe do seu seio familiar, crianças e bebês que estão sendo mortas, e outras são órfãos da guerra, por ter perdido os seus familiares ou quando tiveram que fugir sozinhas. Nos últimos discursos, o Papa Francisco fez um clamor de vida em favor destas crianças que estão sofrendo por causa da guerra.

            Consagração ao Imaculado Coração de Maria.

            O Papa Francisco consagrará a Rússia e a Ucrânia no dia 25 de março ao Imaculado Coração de Maria. Será durante a celebração penitencial na Basílica São Pedro. O mesmo ato será dado em Fátima no dia 25 de março, pelo esmoleiro do Papa, Cardeal Konrad Krajeweski, sendo o enviado do Papa. Na aparição aos pastorzinhos, de 13 de Julho de 1917, Nossa Senhora de Fátima pediu a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração de Maria. Outros papas realizaram esta consagração como Pio XII, São Paulo VI e agora o Papa Francisco[3]. Rezemos pela paz no Leste europeu e em todo o mundo. Cristo é a nossa paz e que haja a reconciliação entre todos os povos, sobretudo no Leste Europeu.

[1] Cfr. Impatto, Impattare. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 725.

[2] Cfr. Atrocità, AtroceIdem,  pg. 141.

[3] Disponível: https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2022-03/papa-consagracao..

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF