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domingo, 27 de março de 2022

Nazaré: Basílica da Anunciação

Crédito: Mundo Vasto Mundo

Há dois mil anos, Nazaré era uma aldeia desconhecida para a maioria dos habitantes do mundo. Naquela aldeia, estava a criatura mais extraordinária que existiu.

https://youtu.be/m7sN1OPXJnY

Há dois mil anos, enquanto Roma brilhava no seu esplendor, havia muitas outras cidades nas margens do Mediterrâneo que, embora longe de possuírem a importância da capital do Império, gozavam de prosperidade e em alguns casos tinham sido protagonistas de gloriosas páginas da história: Atenas, Corinto, Éfeso, Siracusa, Alexandria, Cartago... e na antiga Palestina, a venerável cidade santa de Jerusalém e as florescentes Cesareia e Jericó.

Ao contrário destas cidades, Nazaré era uma aldeia desconhecida para a maioria dos habitantes do mundo: um punhado de casas pobres, parcialmente escavadas na rocha, aglomeradas nas encostas de alguns promontórios da Baixa Galileia. Mesmo na área reduzida da região, Nazaré não era muito importante. Em duas horas a pé se chegava a Séforis, onde se concentrava quase toda a atividade comercial da zona; este local edifícios bem construídos, e seus habitantes falavam grego e estavam em contato com o mundo intelectual greco-latino. Em Nazaré, por outro lado, viviam poucas famílias, que só falavam aramaico. Os seus habitantes eram cerca de uma centena. A maioria deles se dedicava à agricultura e à criação de gado, mas não faltaram alguns artesãos como José, que com a sua engenhosidade e esforço prestava bons serviços fazendo trabalhos de carpintaria ou ferraria.

Naquela aldeia, num canto perdido da terra, onde ninguém que estivesse planejando um grande empreendimento humano teria ido procurar alguém para o levar a cabo, estava a criatura mais extraordinária que existiu, levando uma vida absolutamente normal e simples, cheia de naturalidade[1].

opusdei.org

Ave Maria

Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria[2]. São Lucas apresenta com simplicidade o grande momento em que começou a nossa redenção. Sabemos muito bem como a história continua: o anúncio do Anjo, a perturbação de Maria, aquele diálogo impregnado de humildade e a resposta final de Nossa Senhora: Ecce ancilla Domini; fiat mihi secundum verbum tuum[3].

Segundo uma antiga tradição, recolhida por vários Padres da Igreja, no século II ainda moravam em Nazaré alguns parentes de Jesus, que conservavam o quarto onde a Santíssima Virgem recebeu o anúncio do Anjo e a outra casa onde a Sagrada Família morou mais tarde. Também se conservava a memória da fonte onde a nossa Mãe, como as outras mulheres daquela aldeia, ia buscar água. Há testemunhos escritos de peregrinos que visitaram Nazaré no século IV para ver aquela casa, e testemunharam que já naquela época era um lugar de culto cristão, onde havia um altar.

No século V, foi construída uma igreja de estilo bizantino, que estava em ruínas quando os Cruzados chegaram no final do século XI. O cavaleiro normando Tancredo, Príncipe da Galileia, mandou construir uma basílica sobre a gruta, mas o novo edifício foi demolido outra vez durante a invasão do Sultão Bibars, em 1263.

Em 1620, um emir autorizou os franciscanos a adquirir as ruínas da basílica e da gruta. Em 1730, os franciscanos obtiveram a autorização do Sultão otomano para construir uma nova igreja naquele local. A estrutura foi ampliada em 1877 e completamente demolida em 1955, para permitir a construção da atual basílica, que é o maior santuário cristão do Oriente Médio.

Antes de começar a construção da nova basílica, o Studium Biblicum Franciscanum realizou uma pesquisa arqueológica no local: encontraram um edifício dedicado ao culto, com numerosos grafites cristãos. Entre eles, destaca-se uma inscrição em grego: XE MAPIA (Ave Maria); e outra na qual se menciona “o lugar santo do M”. Tanto o edifício primitivo como o grafite são anteriores ao século III, e muito provavelmente corresponderiam ao final do século I ou início do II.

Estas descobertas foram completadas posteriormente com estudos realizados na Casa Santa de Loreto, entre 1962 e 1965, que mostraram que as proporções da casa encaixavam com as que eventualmente teriam um edifício anexo à gruta de Nazaré, e que os grafites encontrados nas paredes da Casa que se conservam em Loreto são do mesmo estilo e correspondem ao mesmo período que os encontrados em Nazaré. Estes dados, somados aos fornecidos por fontes escritas e outros restos arqueológicos, explicam porque é perfeitamente compatível que, tanto na basílica de Nazaré como no santuário do Loreto, os peregrinos possam contemplar o lugar físico onde ocorreu a Encarnação do Verbo, considerando com emoção e agradecimento: Hic Verbum caro factum est.

As pesquisas arqueológicas realizadas em Nazaré no século XX confirmaram que havia culto cristão
ao redor da Gruta da Anunciação desde os primeiros séculos. Além disso, descobriram os restos de
três igrejas (visíveis na cripta da atual basílica) que foram construídas antes da deslocação
da Casa Santa de Loreto para a Itália.

opusdei.org

As pesquisas arqueológicas realizadas em Nazaré no século XX confirmaram que havia culto cristão ao redor da Gruta da Anunciação desde os primeiros séculos. Além disso, descobriram os restos de três igrejas (visíveis na cripta da atual basílica) que foram construídas antes da deslocação da Casa Santa de Loreto para a Itália.

"Deus Pai me receberá"

Era natural que esta emoção interior, contida, mas ao mesmo tempo impossível de esconder completamente, se apoderasse do Bem-Aventurado Álvaro del Portillo em 15 de março de 1994, quando foi rezar e celebrar a Santa Missa na Basílica da Anunciação em Nazaré. Mons. Javier Echevarría recordava, alguns dias depois, que Dom Álvaro estava muito contente por ter esta oportunidade de “contemplar muito de perto os lugares onde Cristo esteve, onde viveu Cristo, o seu grande amor”[4] .

Em Nazaré, o Bem-Aventurado Álvaro foi primeiro rezar numa igreja onde se conserva um poço cuja antiguidade parece remontar aos tempos da vida terrena de Maria. Aí voltou a considerar uma ideia que muitas vezes levava à sua oração: como Nossa Senhora, “sendo a criatura mais excelente, com todas as perfeições sobrenaturais que se podem imaginar, tinha de cumprir todos os detalhes que lhe correspondiam como esposa e mãe de família. Obrigações comuns, que dizem respeito a pessoas comuns como nós – que ela faria com verdadeira delicadeza, com verdadeiro carinho, pensando que, com o que parecia muito vulgar, ela estava honrando a Deus e ajudando as pessoas que dependiam do seu trabalho e do seu serviço”[5].

Depois, foram à igreja de São José, onde é venerada a casa onde a Sagrada Família viveu durante a vida oculta de Jesus. Ali, o Bem-Aventurado Álvaro “recordou os ensinamentos do nosso Fundador sobre São José. O nosso Padre chamava-o de “um grande senhor”, porque soube cumprir a sua missão com verdadeira distinção, com verdadeiro entusiasmo, embora não faltassem dificuldades ou dores; não teve dúvidas, mas deve ter tido inquietações, ao ver tão de perto mistérios que ele não compreendia”[6].

De lá, foram para a Basílica da Anunciação, e o Bem-Aventurado Álvaro ficou emocionado ao ler a inscrição debaixo do altar: Verbum caro hic factum est. Dom Javier Echevarría recordava que, diante daquelas palavras, “renovaram-se os desejos e os amores que o nosso Padre tinha em 15 de Agosto de 1951, quando foi consagrar a Obra ao Coração Dulcíssimo de Maria, na Santa Casa de Loreto, que a tradição chama de casa de Nossa Senhora”. Ali, em cima do altar, está escrito: Hic Verbum caro factum est”.

Dom Álvaro celebrou a Missa na gruta da Anunciação
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Naquele momento, a basílica estava fechada ao público e, como sempre, o Bem-aventurado Álvaro pôde celebrar o Santo Sacrifício de uma maneira muito recolhida. Em sua homilia, ele falou do sentido cristão do sofrimento. Estava presente um fiel supernumerário da Obra que tinha sido diagnosticado pelos médicos com um câncer com um prognóstico muito ruim, e que faleceu pouco tempo depois:

Sempre e em todos os momentos é um grande privilégio celebrar ou assistir à Santa Missa. Mas Nosso Senhor é tão bom que quis deixar estas recordações da sua passagem pela terra, da sua vinda ao mundo. Aqui parece mais fácil falar com Deus, considerar com alegria o Amor que o Senhor tem por nós, e é um privilégio especial celebrar a Santa Missa.

Nesta gruta, lá em baixo, onde está o sinal, o Verbo se fez carne. O Deus Todo-Poderoso, infinitamente grande, assume a carne humana. Onde? Numa casa cheia de pobreza. E onde ele nasceu também? Em outra gruta, que agora, com o passar dos anos, está muitos metros abaixo do solo. O Senhor esteve ali. Foi aí que o Senhor nasceu. Para quê? Para nos dar vida. Ele se tornou mortal, vivendo dessa maneira – e depois, morrendo como morreu – para que pudéssemos viver.

O Senhor permite que passemos por dores, sofrimentos e tristezas. Mas são carícias que nos aproximam mais d'Ele. Hoje, ao contemplar aquela cena maravilhosa narrada pelos Evangelistas, penso mais facilmente que quando o Senhor nos permite sofrer, depois nos transmite mais o seu Amor, para nos parecermos mais com Ele.

Nós, sacerdotes e leigos do Opus Dei, estamos aqui reunidos para assistir ao Santo Sacrifício da Missa e dizemos-lhe: Senhor, obrigado por ser tão bom! Obrigado por dignar-se vir ao mundo, assumindo a carne daquela donzela maravilhosa que era a Virgem Maria! Para que nós fôssemos santos, para aprendermos a lutar e para sabermos dizer: Quero o que quereis, quero porque o quereis, quero como o quereis, quero enquanto o queirais.

Meus filhos: vamos pedir por toda a Obra. Eu também me uno às intenções particulares de cada um de vocês.

O Senhor é muito bom. O Senhor nos conduz por caminhos que não podemos compreender; mas tudo o que Ele nos envia ou permite que nos aconteça é sempre para o nosso bem e para o bem das pessoas que nos amam e que nós amamos.

Eu peço, como é natural, em primeiro lugar, pela Obra, por todos os membros do Opus Dei espalhados pelo mundo. Pelo muitos que sofrem; pelos muitos que têm lutas interiores e precisam da ajuda de nosso Senhor. Podemos ajudá-los, recorrendo a Nosso Senhor através da Santíssima Virgem Maria. Jesus não pode negar nada à sua mãe. Como Ele, que é o melhor filho, pode dizer não a Maria, a melhor das mães? Nosso Senhor ouve a Maria que também é nossa Mãe porque Jesus Cristo a deixou para nós como herança antes de morrer. Maria é nossa Mãe e nos ouve o tempo todo.

Estejam sempre cheios de alegria, cheios de paz, porque temos um Deus no Céu que é capaz de fazer maravilhas e uma Mãe no Céu que recebeu todo o amor que uma Mãe pode ter.

Vamos rezar em primeiro lugar pelo Santo Padre e pela Igreja universal, pela Igreja Católica. Especialmente pelo Papa, que necessita muito de orações. Ele tem muitos inimigos, mas o Senhor lhe dá paz e alegria abundantes. Ele não pensa nisso: pensa na falta do amor de Deus. Meus filhos: falta amor de Deus no mundo!

É a hora de nos examinarmos também, para ver se estamos amando a Deus como devemos. Vamos ver se podemos dar algo mais ao Senhor, que tem o direito de pedi-lo e que nos pede agora, enquanto nos oferece a graça para corresponder. É fácil assim! E quando o momento chegar, poderemos dizer ao nosso Senhor: Senhor, eu fiz tudo o que estava ao meu alcance, tudo o que pude. E quando chegar o momento, Você me receberá, como recebeu o filho pródigo daquele bom pai.

Que não sejamos filhos pródigos; que sejamos fiéis, sempre, até a morte, que virá quando Deus quiser. Que Deus abençoe a vocês.

Vamos rezar uma Ave-Maria a Nossa Senhora”[7].

Sempre fiéis

Oito dias depois, nosso Senhor quis levar consigo o Bem-Aventurado Álvaro, que até o último suspiro manteve aquela paz inefável que quem vive completamente nas mãos de Deus possui. A Missa pela sua alma foi celebrada na basílica romana de Santo Eugênio, no dia 25 de Março, solenidade da Encarnação do Senhor: “Como recordávamos – escrevia-se em Crónica – a renovação do Sacrifício do Altar que o Padre fez na Basílica da Anunciação, em Nazaré, apenas dez dias antes”. Também estavam vivas em todos as palavras que o Bem-Aventurado Álvaro proferiu no final da sua homilia: “Sejamos fiéis, sempre, até à morte, que virá quando Deus quiser”. Como eco desse conselho, na frente do Sacrário que os fiéis da Obra deram ao Prelado em 2007, por ocasião do seu 75º aniversário, e que se destinava à casa de retiros Saxum, foi colocada a inscrição: Semper fidelis, que resume a vida do Bem-Aventurado Álvaro e dá o tom que devemos ter em nossa vida em todos os momentos.


[1] Inspirado na pregação do padre Francisco Varo Pineda, em parte recolhida no seu blog: Un día en la vida de la Virgen María (Primeros Cristianos); Retiro, pro manuscrito.

[2] Lc 1, 26-27.

[3] Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38).

[4] Javier Echevarría, Palavras publicadas en Crónica, 1994, p. 279 (AGP, biblioteca, P01).

[5] Ibid.

[6] Ibid., p. 282.

[7] Álvaro del Portillo, Homilia, 15/03/1994, publicada en Crónica, 1994, pp. 283-285 (AGP, biblioteca, P01).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

O Pecado Original, uma verdade de fé

Crédito: Editora Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

O Catecismo da Igreja diz que “O pecado original é uma verdade essencial da fé” (§388); isto é, é dogma de fé.

“O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem” (§397).

“A doutrina do pecado original é, por assim dizer, “o reverso” da Boa Notícia de que Jesus é o Salvador de todos os homens, de que todos têm necessidade da salvação e de que a salvação é oferecida a todos graças a Cristo. A Igreja, que tem o senso de Cristo, sabe perfeitamente que não se pode atentar contra a revelação do pecado original sem atentar contra o mistério de Cristo” (§389).

Bento XVI disse o seguinte em 1985:

“Se um dia a Providência me livrar destes meus encargos, gostaria de me dedicar exatamente a escrever um livro sobre o ‘pecado original’ e sobre a necessidade de se redescobrir a sua realidade autêntica. Com efeito, se não se compreende mais que o homem vive em um estado de alienação não apenas econômica e social, uma alienação, pois, que não se soluciona apenas com seus próprios esforços, não se compreende mais a necessidade do Cristo redentor. Toda a estrutura da fé é, dessa forma, ameaçada. A incapacidade de compreender e apresentar o ‘pecado original’ é realmente um dos problemas mais graves da teologia e da pastoral atuais” (Messori, A fé em crise?, São Paulo: EPU, 1985. Pg. 55-57).

Infelizmente há hoje teólogos católicos que põem em dúvida, perigosamente, este dogma, ou relativizam a sua realidade. Dom Estevão Bettencourt, em sua revista PERGUNTE E RESPONDEREMOS (PR, 285/1986; 418/1997; 380/1994; 476/2002), apontou erros em muitos livros de teólogos sobre o assunto. Sentimos que volta disfarçadamente um neo-pelagianismo que nega o pecado original, ou o relativiza; despreza o batismo e o mistério de Cristo e da Redenção da humanidade por sua morte e ressurreição. O Pelagianismo foi a heresia de Pelágio, um monge que negava o pecado original, e que foi combatido por Santo Agostinho e considerado heresia pelo papa da época.

Muitos pais hoje já não batizam seus filhos e se esquecem que é por este Sacramento que recuperamos a vida divina em nossas almas. Por ele nos tornamos filhos de Deus, enxertados no Corpo Místico de Cristo, a Igreja. Passamos a ser templos da Santíssima Trindade. Tudo isso tem sido muito esquecido e desprezado.

No livro “Luz do mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”, na conversa com o jornalista alemão Peter Seewald (2010), o Papa Bento XVI explica o laicismo atual, arrogante e prepotente, inimigo de tudo que leva o nome de Deus, de Cristo e da Igreja, e o correlaciona com o pecado original: “A verdade do pecado original, confirma-se. Recorrentemente, o homem renega a fé, quer ser só ele, torna-se laico no sentido mais profundo da palavra” (p. 64-65).

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

A diplomacia do Vaticano é única: a Santa Sé “não mente nem engana”

Photo Courtesy of Victor Gaetan
Por I. Media

O perito em diplomacia do Vaticano explica como o Papa e a sua equipa diplomática têm uma abordagem única do conflito na Ucrânia, fundada no direito natural.

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de Fevereiro de 2022, o Papa Francisco tem estado particularmente ativo, fazendo numerosos apelos à paz, falando diretamente com o Patriarca ortodoxo russo Kirill e o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, e enviando dois cardeais para apoiar os refugiados.

Para compreender a abordagem diplomática do Papa Francisco e da Santa Sé a este conflito, I.MEDIA falou com Victor Gaetan, um perito em diplomacia do Vaticano. Originário da Roménia, o autor de God’s Diplomats (Diplomatas de Deus) vive atualmente em Washington, DC, e é um colaborador regular da revista Foreign Affairs e do National Catholic Register.

Quais são as especificidades da diplomacia do menor Estado do mundo, o Vaticano?

Os três princípios que caracterizam a diplomacia da Santa Sé estão a trabalhar nos bastidores, construindo conexões para o diálogo e a mediação. Para a Santa Sé, diálogo diplomático significa não competir com o interlocutor ou tentar contestá-lo, mas ter absoluta independência e objetividade. Significa uma verdadeira mediação através da escuta.

Como é que a resposta da Santa Sé ao conflito na Ucrânia se enquadra na sua abordagem diplomática geral?

A resposta atual da Santa Sé está de acordo com a sua ação diplomática tradicional em conflitos. Por exemplo, o Papa e a sua equipa diplomática, liderada pelo Cardeal Pietro Parolin [Secretário de Estado], não culpam nenhuma parte específica. Trabalham também nos bastidores a fim de reunir diferentes partidos, sem nunca se envolverem em análises políticas públicas ou especulações.

Apontarei, por exemplo, a visita sem precedentes que o Papa Francisco fez a 25 de Fevereiro à embaixada russa junto da Santa Sé, de onde falou com o Patriarca Kirill. Tudo isto foi calmo: ouvimos dizer que esta visita incomum aconteceu, mas a Santa Sé não comentou mais nada. Esta visita, porém, lançou as bases do que foi anunciado publicamente mais tarde, a 16 de Março, que foi quando o Santo Padre falou [através de vídeo-chamada] ao Patriarca Kirill. Foi-nos dado um histórico mais completo da conversa, com os pontos discutidos entre os dois. Para se chegar a essa conversa, algo mais discreto teve de acontecer antes, que foi a visita sem precedentes à embaixada russa.

Por que o intercâmbio entre estes dois líderes religiosos é significativo neste contexto?

É significativo em primeiro lugar devido ao papel da Igreja Ortodoxa na Rússia. Depois do comunismo, assistimos ao renascimento do cristianismo na Rússia. Pela primeira vez após mais de 100 anos, a Igreja Ortodoxa Russa já não estava submetida ao Estado, mas trabalhava em harmonia com ele, tanto na política interna como na política externa. Assim, o Patriarca e a Igreja Ortodoxa na Rússia têm uma enorme influência sobre o Estado. Com isto em mente, é essencial contactar e tentar exercer influência sobre o Estado através do Patriarcado.

A forma como isto foi construído é também muito importante. Esta excelente relação que o Papa Francisco tem hoje com o Patriarca Kirill é algo que tem vindo a construir há mais de 30 anos. Tudo começou em 1988, quando uma grande delegação do Vaticano se deslocou à Rússia para a celebração do Milénio [marcando 1000 anos de cristianismo ortodoxo russo] e também se encontrou com o Presidente Gorbachev. A relação entre o Vaticano, a Rússia e a Igreja Ortodoxa tem estado em curso há 30 anos.

Este intercâmbio oficial entre Francisco e Kirill já teve repercussões mais amplas?

Sim, outro elemento diplomático muito importante é que, na sequência do encontro virtual do Papa Francisco com o Patriarca Kirill, o Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, também falou com o Patriarca. O Arcebispo Welby expressou quase literalmente as mesmas preocupações, e enfatizou a necessidade de diplomacia.

Isto é importante porque o Arcebispo de Cantuária trabalha absolutamente em conjunto com a Coroa Britânica e o Gabinete do Primeiro-Ministro. Estas conversas têm várias dimensões, uma vez que o Patriarca Kirill também comunica-se diretamente com o Presidente Putin. Esta é uma das características da diplomacia da Santa Sé, e em particular a do Papa Francisco: envolver múltiplos líderes religiosos a fim de trazer os mesmos resultados de paz, preservação dos sacramentos, ajuda humanitária aos que estão em zonas de guerra e assim por diante. Esta estratégia da diplomacia do Vaticano não poderia ter sido implementada se o Papa ou o Secretário de Estado tivessem feito declarações belicosas publicamente.

À luz da decisão do Papa Francisco de consagrar a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração da Virgem Maria, podemos dizer que a espiritualidade está a tornar-se parte dos instrumentos diplomáticos utilizados pelo Vaticano?

Isso é absolutamente significativo. A Rússia já foi consagrada à Virgem Maria pelo Papa João Paulo II em 1984 e depois voltou a ser em 1989, num momento muito importante das relações entre a Santa Sé e o governo da União Soviética.

Então porque é que o Papa Francisco decidiu refazer isto agora? Tem um forte valor diplomático, bem como um valor espiritual. É a pedido dos bispos católicos romanos da Ucrânia, que pediram e assinaram uma petição para que Francisco fizesse esta bela e fascinante iniciativa.

A Igreja Católica Romana na Ucrânia tem sido, desde a independência, praticamente posta de lado pela Igreja Católica Grega no país. Desde o início, a primeira tem estado mais próxima das autoridades locais e centrais, adquirindo mais propriedades. O que o Papa Francisco está a fazer, na minha opinião, ao ler as nuances diplomáticas, é reconhecer e realçar o valor histórico da Igreja Católica Romana, que por acaso é maioritariamente de etnia polaca na Ucrânia.

A Santa Sé também tem prestado uma grande ajuda humanitária. Como é que isto se enquadra na diplomacia do Vaticano?

A vertente humanitária tem passado pela Cáritas, que está totalmente empenhada na Ucrânia e tem estado, desde o início da guerra, distribuindo alimentos e medicamentos e assim por diante. A Cáritas trabalha no terreno, ajuda toda a gente e está muito bem organizada.

Outra ferramenta ou instrumento da Santa Sé são os “emissários” que são enviados para o terreno. Eles têm três dimensões: a dimensão humanitária, a dimensão ecuménica e a dimensão diplomática. A dimensão ecuménica significa que eles se encontram com diferentes líderes religiosos, por exemplo. A dimensão diplomática significa que comunicam e recolhem informações do campo, através de missionários, líderes locais, etc. Trabalham com mapas étnicos e linguísticos, por exemplo, em vez de mapas militares. Isto é feito de modo a obter a realidade da situação que é depois apresentada ao Papa e aos seus diplomatas em Roma e as decisões são tomadas a partir daí, para os ajudar a tomar decisões objectivas.

O Papa Francisco enviou os cardeais Krajewski e Czerny à Ucrânia nas últimas semanas para mostrar o seu apoio. Qual é o significado disso de um ponto de vista diplomático?

Este passo não é sem precedentes. O Papa Francisco usa frequentemente os cardeais para os enviar para áreas para negociações sensíveis ou para reuniões não oficiais. Embora os dois cardeais em questão não sejam diplomatas, uma vez que não fazem parte da Secretaria de Estado, é outra forma de o Papa Francisco exercer o seu pleno e incansável compromisso a fim de ser paz.

Diria que a diplomacia da Santa Sé é única?

Sim, ela destaca-se como absolutamente única. A Santa Sé não tem interesses militares ou materiais, não tem comércio. O trabalho deriva apenas da lei natural, que está imbuída em todos nós, de saber profundamente o que é bom e o que é mau. A Santa Sé atua como independente, totalmente objetiva e desprovida de interesse particular. Adquiriu credibilidade, uma vez que não mente nem engana. É credível e de confiança, portanto, sim, única.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Católicos festejam primeira ordenação sacerdotal em Omã

Vatican News

Pe. Dickson Eugene, da inspetoria salesiana de Bangalore e criado em Omã, foi ordenado pelo vigário apostólico Dom Paul Hinder. Os cristãos são uma pequena minoria em um contexto fortemente islâmico, mas as autoridades toleram a liberdade de culto e há um respeito geral pela liberdade religiosa. O sultão doou terrenos e contribuiu para a construção de igrejas e locais de oração, além de doar um órgão para a igreja de Mascate.

Sexta-feira foi dia de festa para os católicos do Sultanato de Omã, comunidade formada por cerca de 60 mil fiéis, equivalente a 2% da população total, de grande maioria muçulmana, pertencente ao Vicariato Apostólico da Arábia Meridional.

Às 15h00 (hora de Omã) o vigário Dom Paul Hinder celebrou a primeira ordenação sacerdotal da história da Igreja local. Trata-se do Pe. Dickson Eugene, que recebeu o sacramento na Paróquia de São Pedro e São Paulo durante uma celebração transmitida ao vivo pelas redes sociais, para permitir a participação de toda a comunidade. Padre Eugênio pertence à Inspetoria salesiana de Bangalore, Índia, mas cresceu em Omã, onde passou a maior parte de sua vida.

Os festejos, celebrações e encontros pela continuam durante todo este fim de semana. No sábado, o vigário apostólico celebrou o Crisma em duas igrejas diferentes: pela manhã na Igreja de Ruwi e, à tarde, na Paróquia de Ghala, ambas inseridas no território da capital Mascate. Por fim, neste domingo, o encontro entre Dom Hinder e todos os sacerdotes que trabalham em Omã, para fazer um balanço da situação católica local e os desafios futuros da missão no país.

A Igreja Católica no Sultanato é composta predominantemente por trabalhadores imigrantes, especialmente do sul e sudeste da Ásia. Faz parte do Vicariato do sul, que também inclui o Iêmen e os Emirados Árabes Unidos (EAU), cuja sede fica em Abu Dhabi. Atualmente o território está dividido em cinco paróquias: a Igreja de Santo Antônio da Pádua em Sohar; a Igreja dos santos apóstolos Pedro e Paulo em Ruwi; a Igreja do Espírito Santo em Ghala; a Igreja de São Francisco Xavier em Salalah; a igreja de Mar Thoma.

Os cristãos são uma pequena minoria em um contexto fortemente islâmico, mas as autoridades toleram a liberdade de culto e há um respeito geral pela liberdade religiosa. Os fiéis podem se reunir para o culto, administrar escolas, eventos e celebrações. No passado, o sultão doou terrenos e contribuiu para a construção de igrejas e locais de oração, além de doar um órgão para a igreja de Mascate.

A contribuição das lideranças locais mostrou-se fundamental no passado para obter a libertação do Pe. Tom Uzhunnalil, o salesiano indiano sequestrado no Iêmen em março de 2016 por um comando jihadista em Aden, que também matou quatro irmãs e mais 12 pessoas, incluindo hóspedes do centro para idosos. O papel de mediador desempenhado por Omã foi decisivo para sua libertação, que recebeu a aprovação e agradecimento da Santa Sé nos dias seguintes à sua libertação.

*Com Asia News

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

IV Domingo da Quaresma - Ano C

Dom Paulo Cezae | arqbrasilia

IV Domingo da Quaresma

Dom Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

O Pai Misericordioso

            A Palavra de Deus deste quarto Domingo da Quaresma coloca diante de nós, no Evangelho, a imagem do Filho pródigo e do Pai misericordioso (Lc 15, 1-3. 11-32). Jesus conta esta parábola para justificar a sua atitude para com os publicanos e pecadores. Os publicanos e pecadores se aproximavam de Jesus. Os fariseus e mestres da Lei criticavam Jesus: “Esse homem acolhe os pecadores e faz refeição com eles” (Lc 15, 2). Jesus é criticado porque come com os pecadores, porque os acolhe. Os mestres da Lei e fariseus têm uma atitude legalística: se escoram nos preceitos da Lei judaica e na sua observância. Fazendo isso, se fecham àqueles que estão afastados de Deus, que estão longe de Deus, que eram tidos como pecadores diante dos preceitos da Lei mosaica. Jesus, ao contrário, tem uma atitude de proximidade com os pecadores. Jesus codivide a mesa com eles. Essa atitude de Jesus escandalizava esses observantes rigorosos da Lei mosaica.

Por isso, no centro da parábola está o filho mais novo, que sai de casa, gasta a sua herança com uma vida desenfreada e quando perde tudo, quando se encontra no fundo do poço, relembra que os empregados na casa do Pai, tem pão com fartura e decide voltar para casa. Sair de casa implica abandonar o Pai e a vida da comunidade, que poderia ser aqui o judaísmo e para a comunidade cristã, a Igreja. Mas este filho volta, ele ensaia o discurso de pedido de perdão ao Pai. Quando retorna é desarmado pela atitude do Pai, que o avista, corre abraça-o e o cobre de beijos. Depois lhe manda colocar a melhor túnica, um anel no dedo e sandálias nos pés e manda matar um novilho gordo para fazer festa. Festa porque recuperou o seu filho que estava morto e voltou à vida. Esta é a atitude de Deus para com aqueles que se encontram mortos pelo pecado, que abandonaram a casa do Pai, a Igreja. Deus é um Pai misericordioso que sempre quer seus filhos e filhas ao redor da sua mesa.

Papa Francisco comenta: “A figura do pai da parábola revela o coração de Deus. Ele é o Pai misericordioso que em Jesus nos ama além de qualquer medida, espera sempre a nossa conversão todas as vezes que erramos; aguarda a nossa volta quando nos afastamos d’Ele pensando que O podemos dispensar; está sempre pronto a abrir-nos os seus braços independentemente do que tiver acontecido. Como o pai do Evangelho, também Deus continua a considerar-nos seus filhos quando nos perdemos, e vem ao nosso encontro com ternura quando voltamos para Ele. E fala-nos com tanta bondade quando nós pensamos que somos justos. Os erros que cometemos, mesmo se forem grandes, não afetam a fidelidade do seu amor. Que no sacramento da Reconciliação possamos voltar a partir sempre de novo: Ele acolhe-nos, restitui-nos a dignidade de seus filhos e diz-nos: «Vai em frente! Fica em paz! Levanta-te, vai em frente!»”. (Angelus, IV domingo da quaresma de 2016).

Que o encontro com este Evangelho, neste tempo da Quaresma, nos ajude a percebermos que a misericórdia deve fazer parte da nossa vida. Quem experimenta o amor misericordioso de Deus deve se tornar também, homem e mulher da misericórdia.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Seminário de Formação sobre Tráfico Humano

Tráfico humano | Vatican News

Seminário de Formação sobre Tráfico Humano: um crime invisibilizado que “crucifica milhões de pessoas em todo o Planeta”.

Padre Modino - CELAM

Mais de 90 lideranças de todas as regiões do Brasil estão reunidas nos dias 24 e 25 de março para participar do Seminário Nacional (online) de Formação para o Enfrentamento ao Tráfico Humano. O evento conta com a organização da Comissão Episcopal Pastoral Especial de Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O Seminário foi aberto com uma Audiência Pública, onde em uma mesa de diálogo, que teve como tema “O papel da Igreja, da Sociedade, do Estado no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”, representantes da Comissão dos Direitos Humanos do legislativo, Ministério Público do Trabalho e organizações da Sociedade Civil debateram, em um olhar amplo, aprofundando as realidades que promovem o tráfico de pessoas, os mecanismos de acompanhamento e a construção concreta de articulação e formação nas bases.

Estamos diante de um tema difícil, pois ele é “invisibilizado pela sociedade”, segundo dom Evaristo Spengler. O Presidente da Comissão Episcopal Pastoral Especial de Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB lembrava a Campanha da Fraternidade de 2014, que abordou essa temática, que levou as paróquias, as comunidades a se perguntar se o tráfico de pessoas ainda é um problema. Cabe lembrar, segundo o bispo da Prelazia de Marajó, que a escravidão foi legal no Brasil até pouco mais de 100 anos atrás, e que “essa mentalidade ainda persiste em muitas pessoas ainda, e talvez na sociedade como um todo”.

Encontro sobre o tráfico humano | Vatican News

O bispo falou de uma realidade que trata as pessoas como mercadoria e de como o tráfico de pessoas se reinventou com a pandemia, usando muito as redes sociais, buscando aumentar o lucro para pessoas gananciosas e sem escrúpulos. Nessa conjuntura em que o lucro domina, a pessoa vira um objeto, algo que se faz realidade de uma forma muito sutil. Dom Evaristo lembrou as palavras do Papa Francisco, em que diz que “o mundo não terá paz enquanto não houver uma cultura do cuidado”.

Frente a isso, ele falou da cultura da guerra, que começa pela competição, a concorrência, o fato de querer mais, educando para o vale tudo, o que demanda uma nova mentalidade de solidariedade, de cooperação, da cultura da paz que nos fala o Papa Francisco. O presidente da Comissão chamou a todos a contribuir, também a Igreja, segundo nos lembram os documentos do Concílio Vaticano II, algo que tem sido assumido pela Comissão Episcopal Pastoral Especial de Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB. A mesma atitude deve estar presente na sociedade e no Estado, em um trabalho em rede que leve a fazer realidade uma vida digna para todos. 

Os desafios para o combate ao tráfico humano no Brasil foram abordados por Natália Suzuki da Organização Repórter Brasil. A jornalista partiu da ideia de que estamos diante de uma questão que impacta a sociedade como um todo. Essa é uma realidade que “deve nos incomodar profundamente, deve nos provocar todos os dias a nos indignar e a lutarmos contra”. De fato, estamos diante de uma temática nova na Agenda Pública, que até poucos anos atrás era só abordado por grupos específicos. Aos poucos tem entrado dentro das políticas públicas, algo que ainda não é algo simples, segundo Suzuki.

Encontro sobre o tráfico humano | Vatican News

Estamos diante de um crime que vem camuflado com outras coisas, dificultando os diagnósticos. Isso deve nos levar a entender que “o tráfico de pessoas, quase sempre está relacionado com alguma outra prática criminosa”, como algo que ajuda a entender onde está o problema, afirmou a jornalista. A isso se junta a escassez de recursos do Poder Público, o que demanda o envolvimento da sociedade civil e da Igreja, para ajudar a mudar o contexto, para mudar a vulnerabilidade dos indivíduos e reduzir a desigualdade. Para isso se torna de grande importância a incidência em nível local, trabalhar em rede, superar o que já sabemos e fazer diagnósticos novos que levem a uma política de combate ao tráfico de pessoas.

Uma expressão do tráfico de pessoas é o trabalho escravo, uma temática que foi abordada pelo Procurador Italvar Filipe de Costa Medina do Ministério Público do Trabalho, que começou sua fala definindo o trabalho escravo como um crime, segundo recolhe a legislação brasileira. No Brasil existem trabalhadores que são “tratados como uma coisa, desprovidos da sua dignidade”, segundo o Procurador. Ele mostrou as diferentes modalidades de trabalho escravo: trabalho forçado, jornada exaustiva, mostrando exemplos de como isso se torna realidade no país, recordando também os passos dados nas últimas décadas no combate ao trabalho escravo, onde a Igreja católica teve um papel decisivo.

A legislação brasileira recolhe os fatos que determinam o que constitui trabalho escravo, sendo reclamadas pelo Procurador políticas públicas que enxerguem essa realidade. Nesse sentido, relatou alguns dos passos que já foram dados e as atuações que estão sendo realizadas desde o Ministério Público e a Polícia Federal, insistindo na importância de que as pessoas sejam conscientes que essa realidade existe e que “as denúncias sejam levadas aos órgãos competentes para que o trabalho escravo seja combatido e definitivamente erradicado no país”.

O papel do Governo Federal no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foi abordado pela deputada Erika Kokay, da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. O Brasil participa de uma história que “é permeada por um povo escravizado, são milhões de pessoas que foram arrancadas da sua própria existência e foram escravizadas aqui no Brasil”, segundo a deputada, que refletia sobre a coisificação e desumanização vivida por essas pessoas, algo que foi “carregado no corpo e na alma”.

Em suas palavras refletiu sobre a condição de sujeito e a liberdade como algo que determina a humanidade da pessoa, o que rompe o tráfico de pessoas, que promove a visão da pessoa como mercadoria. No Brasil desaparecem 226 pessoas por dia, muitas delas submetidas ao tráfico de pessoas, segundo a deputada, que também refletiu sobre a discriminação como causa da exploração sexual de crianças e adolescentes. Ela chamou a fazer um grande movimento no conjunto da sociedade, a construir redes, buscando condições de cuidado para todos e todas, e fomentar o protagonismo para evitar o tráfico de pessoas.

O papel da Sociedade Civil no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas foi a questão abordada pela Irmã Eurides Alves de Oliveira, ICM. A religiosa começou lembrado as palavras do Papa Francisco que afirma que “O tráfico de pessoas continua sendo uma ferida no corpo da humanidade contemporânea, uma chaga na carne de Cristo”. A membro da Comissão Episcopal de Enfrentamento ao tráfico de Pessoas e da Rede Um Grito pela Vida vê o enfretamento do tráfico de pessoas como um desafio urgente e necessário, um crime invisibilizado que “crucifica milhões de pessoas em todo o Planeta”.

A erradicação é missão de todos e todas, “que acreditamos na possibilidade de um outro mundo possível”, segundo a religiosa. Para isso se faz necessário a superação da indiferença e da alienação, reclamando o papel do Estado, inoperante, indiferente e totalmente silenciado nos últimos anos em relação com o tráfico de pessoas, inclusive em retrocesso, denunciou a Ir. Eurides.

A religiosa relatou os passos dados pela sociedade civil e pela Igreja, “presente onde o Estado não está ou não quer estar”, enfatizando a importância do trabalho de base e de incidência política. Nesse sentido destacou a missão da Rede um Grito pela Vida, da Comissão Pastoral da Terra, da Comissão Justiça e Paz, da Pastoral da Mulher Marginalizada, da Associação Brasileira de Defesa da Mulher, Infância e Juventude. Por isso, a Ir. Eurides insistiu em que “precisamos continuar incansavelmente dando visibilidade a isso em todos os espaços”, para denunciar as causas, capacitando pessoas e não recuando na dimensão profética, ainda mais diante de uma conjuntura que fez com que aumentasse e se diversificasse o tráfico de pessoas.

Os participantes da Mesa de Diálogo, desde as diferentes realidades onde cada um vive, foram acrescentando a reflexão dos palestrantes, denunciando situações de tráfico humano presentes no Brasil afora, uma dinâmica que vai estar presente ao longo do Seminário, que abordará em diferentes painéis ao longo dos dois dias as Estruturas que geram o tráfico de pessoas, como agir no enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, e o Compromisso Pastoral no Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Ruperto

S. Ruperto | arquisp
27 de março

São Ruperto

Ruperto era um nobre descendente dos condes que dominavam a região do médio e do alto Reno, rio que percorre os Alpes europeus. Os Rupertinos eram parentes dos Carolíngios e o centro de suas atividades estava em Worms, onde Ruperto recebeu sua formação junto aos monges irlandeses.

No ano 700, sua vocação de pregador se manifestou e ele dirigiu-se à Baviera, na Alemanha, com este intuito. Com o apoio do conde Téodo da Baviera, que era pagão e foi convertido por Ruperto, fundou uma igreja dedicada a São Pedro, perto do lago Waller, a dez quilômetros de Salzburgo. Mas, o local não condizia ainda com os objetivos de Ruperto, que conseguiu do conde outro terreno, próximo do rio Salzach, nos arredores da antiga cidade romana de Juvavum.

Nesse terreno, o mosteiro que o bispo Ruperto construiu é o mais antigo da Áustria e veio a ser justamente o núcleo de formação da nova cidade de Salzburgo. Teve para isso o apoio de doze concidadãos, dois dos quais também se tornaram santos: Cunialdo e Gislero. Fundou, ao lado deste, um mosteiro feminino, que entregou a direção para sua sobrinha, a abadessa Erentrudes. Foi o responsável pela conversão total da Baviera e, é claro, de toda a Áustria.

Morreu no dia 27 de março de 718, um domingo de Páscoa, depois de rezar a missa, no mosteiro de Juvavum. Antes, como percebera que a morte estava próxima, fez algumas recomendações e pedido de orações à sua sobrinha, e irmã espiritual, Erentrudes. Suas relíquias estão guardadas na belíssima catedral de Salzburgo, construída no século XVII. Ele é o padroeiro de seus habitantes e de suas minas de sal.

São Ruperto, reconhecido como o fundador da bela cidade de Salzburgo, cujo significado é cidade do sal, aparece retratado com um saleiro na mão, tamanha sua ligação com a própria origem e desenvolvimento da cidade. Foi seu primeiro bispo e sua influência alastrou-se tanto, que é festejado nesse dia, não só nas regiões de língua alemã, como também na Irlanda, onde estudou, porque alí foi tomado como modelo pelos monges irlandeses.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

sábado, 26 de março de 2022

Espiritualidade sacerdotal

ACI Digital

“Sentai-vos no confessionário todos os dias, ou pelo menos duas ou três vezes por semana, esperando ali as almas como o pescador espera os peixes. A princípio, talvez não venha ninguém. Levai o breviário, um livro de leitura espiritual ou alguma coisa para meditar. Nos primeiros dias podereis aproveitá-los; depois virá uma velhinha e lhe ensinareis que não basta que ela seja boa, que deve trazer os netos pequeninos. Quatro ou cinco dias depois virão duas menininhas, e depois um rapazote, e depois um homem, um pouco às escondidas… Ao cabo de dois meses, não podereis rezar nada no confessionário, porque as vossas mãos ungidas, como as de Cristo – confundidas com elas, porque sois Cristo -, estarão dizendo: EU TE ABSOLVO”.

“E a alegria de deixá-Lo ali, realmente presente, com o seu Corpo, com o seu Sangue, com a sua Alma e com a sua Divindade, a presidir a toda a vida cristã da paróquia, à espera de que vamos até Ele a dizer-Lhe que O amamos? Sim, o Sacrário tem de ser um ponto importante na vida do sacerdote; a limpeza, as flores, os paramentos sagrados:tudo, tudo. É preciso ir até li com carinho, com amor de mãe e, além disso, com fortaleza de pai, e como crianças pequenas que necessitam de ajuda emprestada de seu Pai-Deus.”

São Josemaría Escrivá. in PRADA, O Fundador do Opus Dei


Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Como ser feliz, segundo a neurociência

Shutterstock
Por Talita Rodrigues

O equilíbrio entre o bem-estar físico e espiritual é fundamental na busca da felicidade e do sentido de viver.

Como ser feliz? Muitas vezes, temos a ideia errônea de que a felicidade depende puramente dos sentimentalismo e das sensações. E eu estou aqui para dizer a você que NÃO. Além da saúde mental, precisamos pensar também no que o seu corpo precisa, para que o processo da felicidade se torne completo. E então, falaremos aqui dos “hormônios do prazer.”

Hormônios do prazer

Os “hormônios do prazer” são substâncias químicas produzidas pelo nosso cérebro. São essenciais para o desempenho de diversas funções físicas e psicológicas, além de também estarem relacionadas às sensações de motivação, alegria, euforia e ao bem-estar geral.

Atuam como mensageiros químicos, transportando, estimulando e equilibrando os sinais entre neurônios, células nervosas e outras células do corpo (isso é química pura). Além das sensações, eles podem afetar uma grande variedade de funções físicas também.

Já o desequilíbrio deles pode causar estresse, insônia, ganho de peso, sintomas depressivos, mau humor, inclusive transtornos psicológicos sérios – já que a liberação desses hormônios funciona através de química. Ou seja, se há alterações nesse processo, há também uma ruptura nessa química, e aí sentimos os efeitos diretamente em nosso estado de humor e em nossa saúde mental. 

E é justamente por isso, que é tão, mas tão importante ter uma vida equilibrada, mental, fisiológica e espiritualmente. São necessárias atividades diárias e constantes para manter esse quarteto em produção e essa química funcionando. 

E acredite em mim: isso poderá te salvar de você mesmo(a).

Substâncias que te ajudam a ser feliz

– DOPAMINA: é mais conhecida por participar no ciclo de recompensa, estimulando nosso cérebro a completar tarefas. E é exatamente por causar sensação de prazer que sua liberação é estimulada por algumas drogas viciantes, compras em excesso e comer demais;

SEROTONINA: é produzida também no nosso intestino, acreditam? Por isso é tão importante ter uma alimentação saudável, ingerir bastante água e praticar atividade física. Ela ajuda a equilibrar o humor, apetite, sono, memória, aprendizagem e temperatura;

– ENDORFINA: atua como um poderoso analgésico, sendo liberada pelo organismo em situações de dor e estresse. Ela também ajuda a controlar a resposta do corpo ao estresse (auxilia a baixar os níveis de cortisol);

OCITOCINA: tem ligação com reduções de ansiedade e sentimentos de calma e segurança, o que a fez ser classificada como o “hormônio do amor”.

No dia a dia

Você tem a grande possibilidade de melhorar a sua saúde mental, fazendo pequenos ajustes, introduzindo atitudes benéficas diárias e se conhecendo mais a cada dia. Nosso corpo é uma máquina que, para funcionar bem, precisa ser cuidado diariamente. Cuide-se. Busque ter saúde mental através da psicoterapia e o equilíbrio destes hormônios. 

Mas em especial, busque a espiritualidade. Somente a espiritualidade e o seu contato diário com Deus, poderão devolver o sentido de viver que você tanto busca!

Para ter acesso a mais conteúdos como este, clique aqui e siga a psicóloga Talita Rodrigues no Instagram

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A importância da caminhada sinodal na vida eclesial

CNBB

Dom Vital Corbellini

Bispo de Marabá (PA) 

O Sínodo ganha importância por ser uma instituição eclesial que alude à unidade na diversidade, conforme o Evangelho de Jesus Cristo na vida de toda a Igreja, de seus ministros, de cada fiel e de toda a sociedade. Ele possibilita uma vida nova para todo o povo de Deus. Geralmente segue um tema em profunda ligação ao Concílio Vaticano II. Para isso, é preciso ouvir a voz do Senhor, do seu Espírito para que a sua palavra penetre nos corações e em todas as estruturas em vista da conversão das pessoas para a concretização da paz e do amor na Igreja e no mundo de hoje.  

Nós percebemos a importância que o sínodo carrega para a Igreja e para a sociedade, devido ser uma caminhada em conjunto. Isto é ação do Espírito Santo que ilumina a vida da Igreja para que ela cumpra sempre mais a unidade e a fraternidade, seja sempre mais povo de Deus, num mundo onde se valoriza muito o individualismo, o autoritarismo, o clericalismo. O Sínodo de 2023 busca superar estes males que a Igreja está enfrentando no momento atual. Jesus enviou os seus discípulos ao mundo para fazer discípulos seus, todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo (Mt 28, 19). Todos são chamados a assumir as palavras do Senhor. É preciso fazer um caminho solidário, fraterno. É o que o Papa Francisco está propondo em Outubro, para o sínodo de 2023, em Roma.   

A palavra Sínodo. 

O sínodo é um caminho comum, em conjunto. A sua origem é grega SýnodusSýn, com, junto, Odós, caminho. O seu significado é reunião, visando à unidade de seus membros1. O Sínodo é uma palavra antiga, porque a Igreja primitiva realizava muitos sínodos eclesiais em vista da unidade da doutrina e para uma caminhada em conjunto de Igreja tanto no Oriente como no Ocidente. O seu significado é bastante atual de modo que é o caminho dos fieis para ser percorrido neste mundo e um dia na eternidade. O fato é que a sinodalidade se expressa no modo de vida e de trabalho ordinário da Igreja, fazendo com que todo o povo de Deus caminhe junto, ouvindo o Espírito Santo e a Palavra de Deus, com o intuito de participar da Igreja na comunhão que o Senhor Jesus Cristo estabelece entre nós. O Concílio Vaticano II ressaltou muito esta forma de ser da Igreja que é o caminhar junto, sendo o jeito mais eficaz de manifestar em prática a natureza da Igreja como Povo de Deus, que é peregrino e missionário do Senhor Jesus Cristo.  

O sínodo 2023 e o seu objetivo.  

O Papa Francisco convocou um sínodo de bispos que será realizado em Outubro de 2023 em Roma. O tema é: Por uma Igreja Sinodal. Lema: Comunhão, Participação. Missão. As três dimensões estão profundamente relacionadas entre si, porque elas são os pilares essenciais de uma Igreja verdadeiramente sinodal. O fato é que não há hierarquia entre elas, mas cada uma enriquece e orientam as outras.  

O objetivo do Sínodo 2023 é ouvir a voz, como Povo de Deus, o Espírito Santo, o que ele a diz à Igreja. É uma missão importante de se realizar, porque ela possui esta dimensão divina e humana. Todos devem se colocar na escuta de sua voz e trabalhar para que o Sínodo produza frutos de vida em nossas vidas. Tudo será feito pela Palavra de Deus, a partir da Escritura Sagrada, a Tradição viva da Igreja, ouvindo as pessoas, as pastorais, os movimentos, os serviços, os marginalizados, os povos ribeirinhos, os povos indígenas, discernindo desta forma os sinais dos tempos.  

As formas da sinodalidade. 

A Igreja reconhece que a sinodalidade é de fundamental importância na sua natureza. Nós percebemos que uma Igreja sinodal expressou-se ao longo da história, em Concílios ecumênicos, sínodos de bispos, sínodos diocesanos e também conselhos de pastoral diocesanos, paroquiais, comunitários. Nós dizemos que existem diversas maneiras de se dar a sinodalidade, porque nós caminhamos juntos, buscamos a unidade na diversidade em vista da evangelização. De uma certa forma nós praticamos a sinodalidade com as reuniões que realizamos nas pastorais, nos movimentos, nos serviços. A sinodalidade faz-se sempre mais como jeito de ser Igreja, não tanto um acontecimento, mas é um estilo, um modo de ser que a Igreja vive a sua missão no mundo, de evangelizar e de ser evangelizada, de proclamar o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A sinodalidade não é feita, é construída pela ação do Espírito Santo e é de responsabilidade humana.  

A missão da Igreja. 

A missão da Igreja é o povo de Deus que caminha junto, unido com o Senhor, iluminado pelo Espírito Santo e fortalecido pela presença do Pai. Cada membro, bispo, presbítero, religioso, diácono, toda a pessoa batizada desempenhe o seu papel crucial, unidos com os outros e com Deus. Jesus confiou aos seus discípulos a missão de levar o evangelho a toda a criatura(Mt 28,19). A Igreja sinodal não caminha sozinha, mas caminha em comunhão com os seus membros, em vista do cumprimento de sua missão comum, por meio da participação de seu povo  com o Senhor Jesus.  

A importância da fase diocesana. 

O sínodo tem diversas etapas de modo que o momento atual refere-se à Diocese realizar o seu modo de fazer o sínodo. Cada Diocese fará o seu caminho. A Diocese de Marabá está fazendo a sua caminhada sinodal. Ela passou todas as áreas de Pastoral, Cidade nova, Nova Marabá, Jacundá, Morada Nova, Carajás e Araguaia com a intenção de fazer com que o sínodo penetre sempre mais na vida do povo de Deus, em todos nós, confiado pelo Senhor. Algumas perguntas colocaram-se para serem respondidas até o fim de junho, além de dar um folheto explicativo ao momento do Sínodo, comunhão, participação e missão. Nós confiamos ao Espírito Santo esta missão importante na vida diocesana, mas também nós somos chamados a fazer a parte humana, através das reuniões, dos encontros de formação para que a sinodalidade ocorra em todos os níveis de uma Igreja Particular. Cada Diocese fará a sua síntese de modo que tudo será enviado para Brasília e depois para Roma.  

Nós dizemos que o Sínodo exigirá empenho de toda a Igreja. Ele é importante na vida eclesial para torná-la sempre mais conforme o Senhor Jesus Cristo deseja de seus seguidores e seguidoras, mais próxima do povo de Deus e mais próxima do Deus Uno e Trino. A comunhão, a participação e a missão tornem-se uma meta a ser alcançada para todos os seus membros, visando ser a Igreja de Jesus Cristo neste mundo e um dia viva na eternidade. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF