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segunda-feira, 28 de março de 2022

Entrevista do Padre Mário Pezzi

Pe. Mário Pezzi | neocatechumenaleiter

O canal Tv2000 realizou uma entrevista com o Padre Mario Pezzi sobre sua experiência como Presbítero da equipe dos Iniciadores do Caminho Neocatecumenal, Kiko e Carmen, e agora Ascensión.

https://youtu.be/m7apVbt8_qY

Transcrição da entrevista do P. Mario Pezzi no programa “SOUL”, do canal TV2000, à jornalista Mónica Mondo, Roma (Itália), em 20 de março de 2022.

Sacerdote, missionário comboniano, Padre Mario Pezzi, Dom Mario Pezzi: como prefere ser chamado?

Padre, porque no coração ainda sou missionário comboniano.

Você é o presbítero da Equipe Internacional do Caminho Neocatecumenal, do qual é iniciador junto com Kiko Argüello e Carmen Hernández, ainda que você diga que não quis iniciar nada.

Não, eu não sou iniciador. Os iniciadores são Kiko e Carmen. Eu fui chamado em 1971 para acompanhá-los como presbítero itinerante, porque em cada equipe itinerante é importante a presença de um presbítero.

Mas de fato está entre os primeiros.

Sim, entre os primeiros sim. 

E hoje, sobretudo depois do falecimento de Carmen Hernández, com Kiko Argüello e María Ascensión Romero, você é responsável pelo Caminho em todo o mundo. Vocês são muitos, não é verdade? Como os chama? Irmãos, filhos?

Irmãos e também filhos e netos…

Você nasceu em Gottolengo, perto de Bréscia. Nunca imaginou que viajaria por todo o mundo.

Não, com certeza não.

Como você se tornou missionário?

Tive a vocação ao sacerdócio muito cedo, desde pequeno. Logo encontrei um missionário que procurava vocações. O pároco convidou-me a encontrá-lo e após um mês de prova – chamavam-no assim, para ver quem havia se engajado – selecionaram-me para entrar no seminário. Na época entrava-se no “quinto ano elementar” (aos seis anos), porque, ao final do quinto ano, havia um exame particular para aceder às séries seguintes. E deste ponto seguiu-se toda a minha formação. 

Principalmente orientado à África. Em seguida encontrou o Caminho. Como o encontrou? Como aconteceu? Depois você terá de me explicar também o que é o Caminho Neocatecumenal.

Sim. Como aconteceu? Não magicamente. Foi o Senhor que me preparou há muitos anos atrás, por meio de uma crise interior que tive desde o tempo do noviciado e, sobretudo, em Roma, onde os superiores me mandaram estudar na Universidade Urbaniana.

Foi depois de 1968, em 1969, e já no ano “sessenta e oito” tinha entrado nas Universidades Pontifícias. Meu problema era encontrar uma forma de ministério sacerdotal que fosse mais próxima e mais inteligível às pessoas. Porque eu notava uma separação entre o que fazíamos na igreja e o que se vivia fora. Nesse tempo, isso já era algo manifesto. Além disso, a linguagem dos padres já não chegava, os sacramentos não incidiam para poder mudar a vida. Os sacramentos em si mesmo são eficazes, sim, mas se não há uma preparação, não produzem frutos. Por meio do Batismo é semeada em nós uma pequena semente, que tem um potencial imenso, como toda semente. Quando Deus cria uma semente, esta tem em si todas as potencialidades para se desenvolver, só que em muitos de nós – como disse muitas vezes João Paulo II – essa semente fica como morta, fomos registrados como católicos, mas não tivemos a formação.

E você, já teve esta formação?

Eu a tive depois, no Caminho. Eu tive uma formação, graças a Deus, em uma família cristã, nos missionários combonianos, com santos missionários, principalmente com a figura de Comboni, que para mim foi decisiva.

Na primeira vez que encontrou Kiko e Carmen, uma dupla estranha, porque não estavam casados, mas trabalhavam juntos como cristãos, que impressão você teve deles? O que é que o surpreendeu?

Eu os vi como pessoas normais, unidos por uma missão. E impressionou-me principalmente o que diziam, o que pregavam. Por quê? Porque aí encontrei a resposta… Porque desde os estudos de teologia comecei a buscar uma figura de sacerdote mais próxima das pessoas. Estive em Spello, com os “Pequenos Irmãos”, visitei-os. Mantive contato com os padres operários de Lovaina, menos extremistas que os franceses. Todos buscávamos… Naquele tempo muitos irmãos religiosos deixaram o sacerdócio.

Buscava, buscava, e um diretor espiritual me disse: “Não dê nenhum passo até que Deus lhe manifeste a vontade d’Ele. Espere”. Esperei seis anos. Aceitei ser ordenado sacerdote, porque eu não tinha dúvidas sobre a vocação. Ordenaram-me em março; em julho conheci as comunidades da Paróquia dos Mártires Canadenses e em novembro conheci Kiko.

“Mártires Canadenses” é uma paróquia de Roma onde se iniciou o Caminho na Itália. Se tivesse que dizer o que é o Caminho a uma pessoa que não o conhece, o que é?

O Caminho é um dom que o Senhor concedeu, através de Kiko e Carmen, à Igreja de hoje. O Concílio foi convocado, como dizia João XXIII, para encontrar uma linguagem que transmitisse as verdades de sempre de um modo novo. O Concílio deu a resposta, descobrindo, principalmente, o valor da Palavra de Deus, que não pode ser entendida sem o Antigo Testamento… Fez esta conexão que está na base do Caminho Neocatecumenal. Renovou a liturgia e Kiko como artista…

Sim, porque era pintor, talvez ainda o seja…

Sim, é pintor, músico, arquiteto e muitas outras coisas.

Carmen era mais teóloga, certo?

Carmen era mais investigadora, porque era uma química. Estava habilitada para a investigação. Fez esta investigação nos livros e nas Sagradas Escrituras e transmitiu essa sabedoria a Kiko. Eu assisti com eles ao nascimento das várias etapas… ao nascimento da Iniciação Cristã… do Caminho Neocatecumenal.

Quanto tempo dura este Caminho? Dura toda a vida?

Não. O Caminho Neocatecumenal tem uma duração que não está estabelecida, como diz o “Ordo Initiatonis Christianae Adultorum”. Ou seja, a nova ordem para o Catecumenato dos Adultos diz que não há um problema de “tempo” porque identificamos o Caminho na Virgem Maria. A Virgem Maria recebe um anúncio: “Serás a mãe do Filho de Deus”. “Como é possível?”, disse. “O Espírito Santo virá sobre ti e te cobrirá com sua sombra; por isso o que vai nascer será santo e será chamado Filho do Altíssimo”, pois salvará a humanidade. “Eis aqui a escrava do Senhor”. E em Maria inicia-se um processo de gestação.

Então, nossos anjos, catequistas itinerantes, que vão sem dinheiro e dão sua vida pelo Anúncio, anunciam uma Boa Notícia: que Deus nos ama como somos, que não nos pede que mudemos para nos amar. E isso toca o coração de muitos, principalmente de muitos pecadores, porque sempre tivemos o esquema de que Deus ama os bons e castiga os maus. Deus nos amou quando éramos seus inimigos, quando o crucificamos, Ele disse: “Pai, perdoa-lhes!”. Por amor a nós, para nos salvar da escravidão que temos à morte… Não é que os homens são maus, são escravos, e Jesus Cristo, dando-nos seu Espírito, faz-nos filhos de Deus.

Você crê? Sabe o que quer dizer ser filho de Deus? Quer dizer que o Espírito Santo habita em nossos corações. São Paulo diz, na Carta aos Gálatas, que os frutos da carne, daqueles que não conheceram Jesus Cristo, são inveja, ciúmes, guerras, maledicências, etc. (cf. Gl 5,20-21). E os frutos do Espírito Santo, que habita em nós… Claro que é necessária uma iniciação. Estamos acostumados ao fato de que para ser engenheiro deve-se cursar uma carreira de muitos anos, para ser cirurgião… E para ser cristãos? Porque hoje o mundo já não é cristão. Por isso o Caminho é um dom para esta sociedade e tem uma palavra existencial que chega aos drogados, aos matrimônios destruídos, que faz que nasçam filhos, que faz que muitas famílias deixem seu trabalho, tudo, para ir testemunhar este amor de Deus que os salvou, pois existe uma salvação.

Esta é a missão, que é característica do carisma – se diz assim, não? –, da graça, da forma de seu movimento eclesial posicionar-se na Igreja. Explique melhor isso.

Não, não é um movimento. Na última audiência com o Papa Francisco, na qual ele confirmou Kiko, enquanto estiver vivo – porque disse que ainda estamos em um tempo fundacional, que se concluirá quando Kiko morrer –, disse: “Vós não sois um movimento, como disse o Papa João Paulo II”. Quando o Papa João Paulo II foi à Paróquia dos Mártires Canadenses, disse: “… porque vosso movimento”, e Carmen levantou-se publicamente e disse: “Não é um movimento, é um caminho, uma iniciação progressiva, gradual à vida cristã”. Depois o Papa voltou a dizer “vosso movimento”, e Carmen levantou-se outra vez. Os guardas já estavam preparados para se aproximarem de Carmen. E o Papa disse: “Bom, não é um movimento, mas o Caminho está em movimento”.

João Paulo II lhes queria muito, estimava-os e os apoiou muitíssimo.

Sim, nos queria muito. Sim, porque ele vinha da experiência do nazismo e do comunismo. O que está acontecendo hoje, ele já vivera em sua carne. Sua maior mensagem para os cristãos é: “Não tenhais medo! Abri as portas para Cristo! Conhecei a Jesus Cristo!”. Como é possível que Deus falasse aos homens durante séculos por meio dos profetas e ultimamente através de seu Filho e nós não conhecemos sequer o que Ele disse? Não tivemos uma formação à vida cristã.

Inclusive as crianças já não sabem fazer o sinal da Cruz.

E muito menos sabem quem é o que está na Cruz.

Padre, como se pode falar principalmente aos jovens, que estão tão atordoados e distraídos, para quem Deus é uma opção, não é uma presença?

Este é um grande dom que o Senhor deu ao Caminho: ter apostado na família. Não quiseram fazer grupos de jovens, ou outros grupos, não, mas sim a família. Porque com a família vem a educação dos filhos e a transmissão da fé aos filhos. Em nossas famílias temos muitas ajudas.

Por exemplo, depois de um período de Caminho, faz-se uma celebração doméstica no domingo pela manhã. As Laudes são celebradas no domingo pela manhã, ao redor de uma mesa com uma toalha, com as flores, com as velas, com um crucifixo, com a Bíblia. As crianças tocam os tambores, os avós também participam. Depois dos salmos, o pai lê o Evangelho do dia e depois pergunta aos filhos: “O que esta palavra lhe diz?”. Por meio desse diálogo, que é importantíssimo, transmitem a fé. Depois, quando eles já têm uma certa idade, quando já podem comportar-se, vão à Eucaristia, os pais levam-nos à Eucaristia com eles. E quando têm treze anos, a idade da puberdade, são convidados a entrar em uma nova comunidade.

É um itinerário formativo que, de alguma maneira, lembra os judeus; é assim?

Certamente. Os judeus tinham uma espécie de catecumenato, de iniciação, muito sério, e antes de admitir um prosélito, perguntavam-lhe: “Mas você sabe que, entrando em nosso povo, pode ser assassinado, como o são muitos dos nossos?”. Se respondia: “Sim, eu sei” – porque se sentia atraído por sua maneira de viver –, se dizia que sim, admitiam-no; e se dizia que não, não o admitiam.

Você está dizendo que ser cristão não é fácil e que pode causar também sofrimentos, exclusões, perseguições e morte.

Sim. Não é que seja difícil; ao contrário, é muito fácil. Porque no primeiro período, ao qual chamamos de pré-catecumenato, não pedimos nada às pessoas. Há pessoas com amante, pessoas drogadas… Não se pede nada porque o Caminho é celebrativo, não é uma mentalização. Nós nos baseamos na celebração da Palavra a cada semana, que antes é preparada por um grupo da comunidade. Depois, quando é celebrada e a Palavra de Deus é proclamada em uma pequena comunidade, a presença do Espírito Santo tem o poder de tocar o coração.

Isso faz também que a missão não seja proselitismo, certo?

Sim, por isso o Papa Francisco nos agradeceu muitas vezes, principalmente porque através das famílias em missão que vivem…

Quantas são, padre?

Não sei, umas mil. Estão presentes principalmente na China, no Laos, no Vietnã, etc., mas também no norte da Europa, também na América, nos “pueblos jóvenes”, etc. Apenas com sua presença, pelo modo como vivem, atraem as pessoas. Quando uma família com seis, sete, dez, onze filhos vai ao mercado, todos se admiram, como uma nostalgia, como um desejo. Temos famílias que nos pediram esta missão desde o ano 1985, 1986, famílias que saíram, as primeiras, ao norte da Europa, e também aos barracos de Lima. As famílias saíram deixando o trabalho, tudo, para se encarnarem nesses lugares. Porque temos dois tipos: os itinerantes, são os que “voam”, porque são os que seguem todo o itinerário do Caminho até o final. Eles decidem quando é tempo de fazer uma etapa, se há maturidade suficiente. Outro tipo são as famílias em missão e as “missio ad gentes”, famílias que estão fixas em um lugar.

Vocês têm também muitos sacerdotes?

Para isso nasceram, com o Papa João Paulo II… Kiko e Carmen quiseram fundar, graças a João Paulo II, um seminário para formar presbíteros a serviço dessas famílias na evangelização.

Também no Caminho Neocatecumenal, como em outras formas de pertença à Igreja, nota-se hoje uma crise, uma falta de adesão, uma falta de fascinação, de atrativo? Ou seja, o dom do Espírito que João Paulo II declarou nessas novas formas e movimentos está diminuindo?

O Reino de Deus é um mistério. Talvez o Senhor aja muito mais do que nós vemos. Também porque o Reino de Deus não faz publicidade. Há santos em todo o mundo, diante de Deus, homens retos de boa vontade, que não são notícia. Ao contrário, são notícia os que têm os meios de comunicação e se enchem de orgulho das coisas… agora com o metaverso criam a realidade hipervirtual, que prende nossos jovens e os faz perderem tempo.

Temos visto que em nossas comunidades… Durante o primeiro ataque do Covid, que saiu da China, onde estavam nossas famílias, recebemos cartas espontâneas que diziam: “Este é um período particular que Deus nos dá para ter maior intimidade com Ele, para não nos dispersarmos na atividade”. Viram isso como uma graça. Depois chegou a nós e também nós, durante um ano, não pudemos ter reuniões presenciais; tivemos que realizá-las, os que podiam, via “Zoom”. Mas neste ano, em 2020, redescobrimos a celebração doméstica. Ou seja, as famílias celebraram, como puderam, a Vigília Pascal. Nós preparamos primeiro as crianças, ensinamos os cantos a elas, etc. Celebraram também a Vigília de Pentecostes. As duas foram uma maravilha! A fé de nossos irmãos, mesmo provada, resiste e aumenta.

Nós temos uma catequese sobre a Cruz, que diz que a Cruz é gloriosa. Jesus Cristo a fez gloriosa porque por meio da Cruz, o Senhor nos despoja do homem velho. E todos, todos, também os que não creem, um dia se encontram em uma cama, impotentes, e muitos que se professam comunistas, ou ateus, pedem para se reconciliar com o Senhor. Depois, para os jovens temos várias iniciativas. Além das Laudes do domingo pela manhã, temos a “Perscrutação”. A cada mês, convidamos os jovens a perscrutarem a Escritura na paróquia. Em seguida temos os “acampamentos de verão”, peregrinações. Tentamos ajudá-los porque eles têm que enfrentar uma batalha enorme, com a pressão dos meios de comunicação, da escola, do “gênero”, etc.

Mas o que é mais importante é que suas palavras são um olhar profético. Agradeço-lhe muito e lhe pergunto se há um canto do Caminho que lhe é particularmente preferido, que possamos escutar e com o qual possamos concluir.

Sim, “Maria, pequena Maria” e o “Salve Rainha”. Mas eu não os tenho; vocês os têm?

Nós os procuramos… Agora já os estamos escutando…

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br

Síndrome de Burnout e espiritualidade

fizkes | Shutterstock
Por Mário Scandiuzzi

Além de uma fonte de renda, seu trabalho tem sido também uma fonte de problemas e doenças?

O dia a dia é corrido. São inúmeros compromissos, pressão por resultados, administração do tempo, priorizar as atividades. A vida profissional nem sempre é fácil, e num mercado cada vez mais competitivo, a saúde pode dar sinais de que algo não está bem.

Cansaço físico e mental excessivo, falta de sono, problemas gastrointestinais, mudanças no apetite, dificuldade de concentração e sentimentos de fracasso de falta de esperança são alguns sintomas de um distúrbio emocional chamado de Síndrome de Burnout (expressão em inglês que pode ser traduzida como queimar por inteiro) ou Síndrome do Esgotamento Profissional.

Os sintomas podem surgir de forma leve, mas a tendência é se agravarem – se nada for feito. Psiquiatras ou psicólogos capacitados poderão identificar estes sinais, diagnosticar o quadro e indicar o melhor tratamento, que pode ser através de psicoterapia ou com o uso de medicamentos. Além disso, mudanças nas condições de trabalho e a prática de atividade física também são indicados para alcançar um melhor resultado.

A prevenção pode ser feita com a definição de pequenos objetivos na vida pessoal e profissional e momentos de lazer com amigos e familiares, entre outros.

Não estamos falando que as pessoas que sofrem com esta síndrome devem abandonar seus empregos, mas é importante saber analisar a relação custo/benefício. Além de uma fonte de renda, tem sido uma fonte também de problemas e doenças? Existe a possibilidade de um outro emprego?

O modo como olhamos nossa vida também deve ser mudado. Enxergamos apenas os pontos negativos, ou conseguimos ver os aspectos positivos e tirar lições de cada situação enfrentada? Para isso é importante valorizar o que temos vivido de bom.

Se o diagnóstico médico indicar o uso de remédios, lembre-se do livro do Eclesiástico, capítulo 38. O versículo 1 diz o seguinte: “Honra o médico por causa da necessidade, pois foi o Altíssimo que o criou”. Mais à frente, no versículo 4, está escrito que “O Senhor fez a terra produzir os medicamentos; o homem sensato não os despreza”.

Reforce também os seus momentos de oração e de reflexão da Palavra de Deus. São Paulo nos ensina: “Orai em todas circunstância” (Efésios 6,18).

E por fim, deposite toda sua fé em Cristo, afinal Ele mesmo disse: “Coragem! Eu venci o mundo”. (João 16,33)

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: abolir a guerra, antes que ela apague o homem da história

Povoado de Krasylivka, na Ucrânia, depois de um bombardeio | Vatican News

O pensamento do Papa está sempre voltado para a Ucrânia: "É preciso repudiar a guerra, um lugar de morte onde pais e mães sepultam seus filhos, onde os homens matam seus irmãos sem sequer tê-los visto, onde os poderosos decidem e os pobres morrem".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Após a oração mariana do Angelus, deste domingo (27/03), o Papa Francisco fez novamente um apelo pela paz na Ucrânia.

Mais de um mês se passou desde o início da invasão da Ucrânia, desde o início desta guerra cruel e insensata que, como qualquer guerra, representa uma derrota para todos, para todos nós. É preciso repudiar a guerra, um lugar de morte onde pais e mães sepultam seus filhos, onde homens matam seus irmãos sem sequer tê-los visto, onde os poderosos decidem e os pobres morrem.

A seguir, Francisco ressaltou que "a guerra não só destrói o presente, mas também o futuro de uma sociedade". "Li que desde o início da agressão contra a Ucrânia, uma a cada duas crianças foi deslocada do país. Isto significa destruir o futuro, causando traumas dramáticos nas crianças. Esta é a brutalidade da guerra, um ato bárbaro e sacrílego", frisou o Papa.

A guerra não pode ser algo inevitável: não devemos nos acostumar com a guerra! Pelo contrário, devemos converter a indignação de hoje no compromisso de amanhã. Porque, se sairmos dessa história como antes, todos seremos culpados de alguma forma. Diante do perigo da autodestruição, a humanidade entenda que chegou a hora de abolir a guerra, de apagá-la da história humana antes que ela apague o homem da história.

O Papa pediu "a todos os líderes políticos que reflitam sobre isso, que se comprometam com isso! E olhando para a Ucrânia martirizada, entender que cada dia de guerra torna a situação pior para todos". Por isso, Francisco renovou o seu apelo: "Chega, pare, calem-se as armas, que se negocie seriamente pela paz!" A seguir, convidou os fiéis a invocarem a Rainha da Paz, a quem foi consagrada a humanidade, especialmente a Rússia e a Ucrânia, rezando uma Ave-Maria.

Depois, o Pontífice saudou os romanos e peregrinos provenientes da Itália e outros países. Saudou os participantes da Maratoda de Roma, que este ano por iniciativa da Athletica Vaticana, vários atletas participaram de iniciativas de solidariedade em prol das pessoas que na Cidade Eterna passam necessidade.

Por fim, Francisco recordou a Statio Orbis de dois anos atrás na Praça São Pedro.

Dois anos atrás, desta praça, elevamos uma súplica pelo fim da pandemia. Hoje, a fizemos pelo fim da guerra na Ucrânia. Ao sair da praça, será oferecido a vocês um livro gratuito, produzido pela Comissão Vaticana Covid-19 com o Dicastério para a Comunicação, a fim de convidar a rezar nos momentos de dificuldade, sem medo, tendo sempre fé no Senhor.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Xisto III

S. Xisto III | arquisp
28 de março

São Xisto III

Xisto chegou a adotar uma posição neutra na controvérsia entre pelagianos e semipelagianos do sul da Gália, especialmente contra Cassiano, sendo advertido pelo papa Zózimo. Mas reconheceu o seu erro, com a ajuda de Agostinho, bispo de Hipona, que combatia arduamente aquela heresia, e que lhe escrevia regularmente.

Ao se tornar papa em 432, Xisto III agindo com bastante austeridade e firmeza, nesta ocasião, Agostinho teve de lhe pedir moderação. Foi assim, que este papa conseguiu o fim definitivo da doutrina herege. Esta doutrina pelagiana negava o pecado original e a corrupção da natureza humana. Também defendia a tese de que o homem, por si só, possuía a capacidade de não pecar, dispensando dessa maneira a graça de Deus.

Ele também conduziu com sabedoria uma ação mais conciliadora em relação a Nestório, acabando com a controvérsia entre João de Antioquia e Cirilo, patriarca de Constantinopla, sobre a divindade de Maria. Em seguida, demonstrou a sua firme autoridade papal na disputa com o patriarca Proclo. Xisto III teve de escrever várias epístolas para manter o governo de Roma sobre a lliría, contra o imperador do Oriente que queria torná-la dependente de Constantinopla, com a ajuda deste patriarca.

Depois do Concílio de Éfeso em 431, em que a Mãe de Jesus foi aclamada Mãe de Deus, o papa Xisto III mandou ampliar e enriquecer a basílica dedicada à Santa Mãe das Neves, situada no monte Esquilino, mais tarde chamada Santa Maria Maior. Esta igreja é a mais antiga do Ocidente que foi dedicada a Nossa Senhora.

Desta maneira ele ofereceu aos fiéis um grande monumento ao culto da bem-aventurada Virgem Maria, à qual prestamos um culto de hiperdulia, ou seja, de veneração maior do que o prestado aos outros santos. Xisto III, mandou vir da Palestina as tábuas de uma antiga manjedoura, que segundo a tradição havia acolhido o Menino Jesus na gruta de Belém, dando origem ao presépio. Introduziu no Ocidente a tradição da Missa do Galo celebrada na noite de Natal, que era realizada em Jerusalém desde os primeiros tempos da Igreja.

Durante o seu pontificado, Xisto III promoveu uma intensa atividade edificadora, reformando e construindo muitas igrejas, como a exuberante basílica de São Lourenço em Lucina, na Itália.

Morreu em 19 de agosto de 440, deixando a indicação do sucessor, para aquele que foi um dos maiores papas dos primeiros séculos, Leão Magno. A Igreja indicou sua celebração para o dia 28 de março, após a última reforma oficial do calendário litúrgico.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

domingo, 27 de março de 2022

Nazaré: Basílica da Anunciação

Crédito: Mundo Vasto Mundo

Há dois mil anos, Nazaré era uma aldeia desconhecida para a maioria dos habitantes do mundo. Naquela aldeia, estava a criatura mais extraordinária que existiu.

https://youtu.be/m7sN1OPXJnY

Há dois mil anos, enquanto Roma brilhava no seu esplendor, havia muitas outras cidades nas margens do Mediterrâneo que, embora longe de possuírem a importância da capital do Império, gozavam de prosperidade e em alguns casos tinham sido protagonistas de gloriosas páginas da história: Atenas, Corinto, Éfeso, Siracusa, Alexandria, Cartago... e na antiga Palestina, a venerável cidade santa de Jerusalém e as florescentes Cesareia e Jericó.

Ao contrário destas cidades, Nazaré era uma aldeia desconhecida para a maioria dos habitantes do mundo: um punhado de casas pobres, parcialmente escavadas na rocha, aglomeradas nas encostas de alguns promontórios da Baixa Galileia. Mesmo na área reduzida da região, Nazaré não era muito importante. Em duas horas a pé se chegava a Séforis, onde se concentrava quase toda a atividade comercial da zona; este local edifícios bem construídos, e seus habitantes falavam grego e estavam em contato com o mundo intelectual greco-latino. Em Nazaré, por outro lado, viviam poucas famílias, que só falavam aramaico. Os seus habitantes eram cerca de uma centena. A maioria deles se dedicava à agricultura e à criação de gado, mas não faltaram alguns artesãos como José, que com a sua engenhosidade e esforço prestava bons serviços fazendo trabalhos de carpintaria ou ferraria.

Naquela aldeia, num canto perdido da terra, onde ninguém que estivesse planejando um grande empreendimento humano teria ido procurar alguém para o levar a cabo, estava a criatura mais extraordinária que existiu, levando uma vida absolutamente normal e simples, cheia de naturalidade[1].

opusdei.org

Ave Maria

Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria[2]. São Lucas apresenta com simplicidade o grande momento em que começou a nossa redenção. Sabemos muito bem como a história continua: o anúncio do Anjo, a perturbação de Maria, aquele diálogo impregnado de humildade e a resposta final de Nossa Senhora: Ecce ancilla Domini; fiat mihi secundum verbum tuum[3].

Segundo uma antiga tradição, recolhida por vários Padres da Igreja, no século II ainda moravam em Nazaré alguns parentes de Jesus, que conservavam o quarto onde a Santíssima Virgem recebeu o anúncio do Anjo e a outra casa onde a Sagrada Família morou mais tarde. Também se conservava a memória da fonte onde a nossa Mãe, como as outras mulheres daquela aldeia, ia buscar água. Há testemunhos escritos de peregrinos que visitaram Nazaré no século IV para ver aquela casa, e testemunharam que já naquela época era um lugar de culto cristão, onde havia um altar.

No século V, foi construída uma igreja de estilo bizantino, que estava em ruínas quando os Cruzados chegaram no final do século XI. O cavaleiro normando Tancredo, Príncipe da Galileia, mandou construir uma basílica sobre a gruta, mas o novo edifício foi demolido outra vez durante a invasão do Sultão Bibars, em 1263.

Em 1620, um emir autorizou os franciscanos a adquirir as ruínas da basílica e da gruta. Em 1730, os franciscanos obtiveram a autorização do Sultão otomano para construir uma nova igreja naquele local. A estrutura foi ampliada em 1877 e completamente demolida em 1955, para permitir a construção da atual basílica, que é o maior santuário cristão do Oriente Médio.

Antes de começar a construção da nova basílica, o Studium Biblicum Franciscanum realizou uma pesquisa arqueológica no local: encontraram um edifício dedicado ao culto, com numerosos grafites cristãos. Entre eles, destaca-se uma inscrição em grego: XE MAPIA (Ave Maria); e outra na qual se menciona “o lugar santo do M”. Tanto o edifício primitivo como o grafite são anteriores ao século III, e muito provavelmente corresponderiam ao final do século I ou início do II.

Estas descobertas foram completadas posteriormente com estudos realizados na Casa Santa de Loreto, entre 1962 e 1965, que mostraram que as proporções da casa encaixavam com as que eventualmente teriam um edifício anexo à gruta de Nazaré, e que os grafites encontrados nas paredes da Casa que se conservam em Loreto são do mesmo estilo e correspondem ao mesmo período que os encontrados em Nazaré. Estes dados, somados aos fornecidos por fontes escritas e outros restos arqueológicos, explicam porque é perfeitamente compatível que, tanto na basílica de Nazaré como no santuário do Loreto, os peregrinos possam contemplar o lugar físico onde ocorreu a Encarnação do Verbo, considerando com emoção e agradecimento: Hic Verbum caro factum est.

As pesquisas arqueológicas realizadas em Nazaré no século XX confirmaram que havia culto cristão
ao redor da Gruta da Anunciação desde os primeiros séculos. Além disso, descobriram os restos de
três igrejas (visíveis na cripta da atual basílica) que foram construídas antes da deslocação
da Casa Santa de Loreto para a Itália.

opusdei.org

As pesquisas arqueológicas realizadas em Nazaré no século XX confirmaram que havia culto cristão ao redor da Gruta da Anunciação desde os primeiros séculos. Além disso, descobriram os restos de três igrejas (visíveis na cripta da atual basílica) que foram construídas antes da deslocação da Casa Santa de Loreto para a Itália.

"Deus Pai me receberá"

Era natural que esta emoção interior, contida, mas ao mesmo tempo impossível de esconder completamente, se apoderasse do Bem-Aventurado Álvaro del Portillo em 15 de março de 1994, quando foi rezar e celebrar a Santa Missa na Basílica da Anunciação em Nazaré. Mons. Javier Echevarría recordava, alguns dias depois, que Dom Álvaro estava muito contente por ter esta oportunidade de “contemplar muito de perto os lugares onde Cristo esteve, onde viveu Cristo, o seu grande amor”[4] .

Em Nazaré, o Bem-Aventurado Álvaro foi primeiro rezar numa igreja onde se conserva um poço cuja antiguidade parece remontar aos tempos da vida terrena de Maria. Aí voltou a considerar uma ideia que muitas vezes levava à sua oração: como Nossa Senhora, “sendo a criatura mais excelente, com todas as perfeições sobrenaturais que se podem imaginar, tinha de cumprir todos os detalhes que lhe correspondiam como esposa e mãe de família. Obrigações comuns, que dizem respeito a pessoas comuns como nós – que ela faria com verdadeira delicadeza, com verdadeiro carinho, pensando que, com o que parecia muito vulgar, ela estava honrando a Deus e ajudando as pessoas que dependiam do seu trabalho e do seu serviço”[5].

Depois, foram à igreja de São José, onde é venerada a casa onde a Sagrada Família viveu durante a vida oculta de Jesus. Ali, o Bem-Aventurado Álvaro “recordou os ensinamentos do nosso Fundador sobre São José. O nosso Padre chamava-o de “um grande senhor”, porque soube cumprir a sua missão com verdadeira distinção, com verdadeiro entusiasmo, embora não faltassem dificuldades ou dores; não teve dúvidas, mas deve ter tido inquietações, ao ver tão de perto mistérios que ele não compreendia”[6].

De lá, foram para a Basílica da Anunciação, e o Bem-Aventurado Álvaro ficou emocionado ao ler a inscrição debaixo do altar: Verbum caro hic factum est. Dom Javier Echevarría recordava que, diante daquelas palavras, “renovaram-se os desejos e os amores que o nosso Padre tinha em 15 de Agosto de 1951, quando foi consagrar a Obra ao Coração Dulcíssimo de Maria, na Santa Casa de Loreto, que a tradição chama de casa de Nossa Senhora”. Ali, em cima do altar, está escrito: Hic Verbum caro factum est”.

Dom Álvaro celebrou a Missa na gruta da Anunciação
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Naquele momento, a basílica estava fechada ao público e, como sempre, o Bem-aventurado Álvaro pôde celebrar o Santo Sacrifício de uma maneira muito recolhida. Em sua homilia, ele falou do sentido cristão do sofrimento. Estava presente um fiel supernumerário da Obra que tinha sido diagnosticado pelos médicos com um câncer com um prognóstico muito ruim, e que faleceu pouco tempo depois:

Sempre e em todos os momentos é um grande privilégio celebrar ou assistir à Santa Missa. Mas Nosso Senhor é tão bom que quis deixar estas recordações da sua passagem pela terra, da sua vinda ao mundo. Aqui parece mais fácil falar com Deus, considerar com alegria o Amor que o Senhor tem por nós, e é um privilégio especial celebrar a Santa Missa.

Nesta gruta, lá em baixo, onde está o sinal, o Verbo se fez carne. O Deus Todo-Poderoso, infinitamente grande, assume a carne humana. Onde? Numa casa cheia de pobreza. E onde ele nasceu também? Em outra gruta, que agora, com o passar dos anos, está muitos metros abaixo do solo. O Senhor esteve ali. Foi aí que o Senhor nasceu. Para quê? Para nos dar vida. Ele se tornou mortal, vivendo dessa maneira – e depois, morrendo como morreu – para que pudéssemos viver.

O Senhor permite que passemos por dores, sofrimentos e tristezas. Mas são carícias que nos aproximam mais d'Ele. Hoje, ao contemplar aquela cena maravilhosa narrada pelos Evangelistas, penso mais facilmente que quando o Senhor nos permite sofrer, depois nos transmite mais o seu Amor, para nos parecermos mais com Ele.

Nós, sacerdotes e leigos do Opus Dei, estamos aqui reunidos para assistir ao Santo Sacrifício da Missa e dizemos-lhe: Senhor, obrigado por ser tão bom! Obrigado por dignar-se vir ao mundo, assumindo a carne daquela donzela maravilhosa que era a Virgem Maria! Para que nós fôssemos santos, para aprendermos a lutar e para sabermos dizer: Quero o que quereis, quero porque o quereis, quero como o quereis, quero enquanto o queirais.

Meus filhos: vamos pedir por toda a Obra. Eu também me uno às intenções particulares de cada um de vocês.

O Senhor é muito bom. O Senhor nos conduz por caminhos que não podemos compreender; mas tudo o que Ele nos envia ou permite que nos aconteça é sempre para o nosso bem e para o bem das pessoas que nos amam e que nós amamos.

Eu peço, como é natural, em primeiro lugar, pela Obra, por todos os membros do Opus Dei espalhados pelo mundo. Pelo muitos que sofrem; pelos muitos que têm lutas interiores e precisam da ajuda de nosso Senhor. Podemos ajudá-los, recorrendo a Nosso Senhor através da Santíssima Virgem Maria. Jesus não pode negar nada à sua mãe. Como Ele, que é o melhor filho, pode dizer não a Maria, a melhor das mães? Nosso Senhor ouve a Maria que também é nossa Mãe porque Jesus Cristo a deixou para nós como herança antes de morrer. Maria é nossa Mãe e nos ouve o tempo todo.

Estejam sempre cheios de alegria, cheios de paz, porque temos um Deus no Céu que é capaz de fazer maravilhas e uma Mãe no Céu que recebeu todo o amor que uma Mãe pode ter.

Vamos rezar em primeiro lugar pelo Santo Padre e pela Igreja universal, pela Igreja Católica. Especialmente pelo Papa, que necessita muito de orações. Ele tem muitos inimigos, mas o Senhor lhe dá paz e alegria abundantes. Ele não pensa nisso: pensa na falta do amor de Deus. Meus filhos: falta amor de Deus no mundo!

É a hora de nos examinarmos também, para ver se estamos amando a Deus como devemos. Vamos ver se podemos dar algo mais ao Senhor, que tem o direito de pedi-lo e que nos pede agora, enquanto nos oferece a graça para corresponder. É fácil assim! E quando o momento chegar, poderemos dizer ao nosso Senhor: Senhor, eu fiz tudo o que estava ao meu alcance, tudo o que pude. E quando chegar o momento, Você me receberá, como recebeu o filho pródigo daquele bom pai.

Que não sejamos filhos pródigos; que sejamos fiéis, sempre, até a morte, que virá quando Deus quiser. Que Deus abençoe a vocês.

Vamos rezar uma Ave-Maria a Nossa Senhora”[7].

Sempre fiéis

Oito dias depois, nosso Senhor quis levar consigo o Bem-Aventurado Álvaro, que até o último suspiro manteve aquela paz inefável que quem vive completamente nas mãos de Deus possui. A Missa pela sua alma foi celebrada na basílica romana de Santo Eugênio, no dia 25 de Março, solenidade da Encarnação do Senhor: “Como recordávamos – escrevia-se em Crónica – a renovação do Sacrifício do Altar que o Padre fez na Basílica da Anunciação, em Nazaré, apenas dez dias antes”. Também estavam vivas em todos as palavras que o Bem-Aventurado Álvaro proferiu no final da sua homilia: “Sejamos fiéis, sempre, até à morte, que virá quando Deus quiser”. Como eco desse conselho, na frente do Sacrário que os fiéis da Obra deram ao Prelado em 2007, por ocasião do seu 75º aniversário, e que se destinava à casa de retiros Saxum, foi colocada a inscrição: Semper fidelis, que resume a vida do Bem-Aventurado Álvaro e dá o tom que devemos ter em nossa vida em todos os momentos.


[1] Inspirado na pregação do padre Francisco Varo Pineda, em parte recolhida no seu blog: Un día en la vida de la Virgen María (Primeros Cristianos); Retiro, pro manuscrito.

[2] Lc 1, 26-27.

[3] Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38).

[4] Javier Echevarría, Palavras publicadas en Crónica, 1994, p. 279 (AGP, biblioteca, P01).

[5] Ibid.

[6] Ibid., p. 282.

[7] Álvaro del Portillo, Homilia, 15/03/1994, publicada en Crónica, 1994, pp. 283-285 (AGP, biblioteca, P01).

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

O Pecado Original, uma verdade de fé

Crédito: Editora Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

O Catecismo da Igreja diz que “O pecado original é uma verdade essencial da fé” (§388); isto é, é dogma de fé.

“O homem, tentado pelo Diabo, deixou morrer em seu coração a confiança em seu Criador e, abusando de sua liberdade, desobedeceu ao mandamento de Deus. Foi nisto que consistiu o primeiro pecado do homem” (§397).

“A doutrina do pecado original é, por assim dizer, “o reverso” da Boa Notícia de que Jesus é o Salvador de todos os homens, de que todos têm necessidade da salvação e de que a salvação é oferecida a todos graças a Cristo. A Igreja, que tem o senso de Cristo, sabe perfeitamente que não se pode atentar contra a revelação do pecado original sem atentar contra o mistério de Cristo” (§389).

Bento XVI disse o seguinte em 1985:

“Se um dia a Providência me livrar destes meus encargos, gostaria de me dedicar exatamente a escrever um livro sobre o ‘pecado original’ e sobre a necessidade de se redescobrir a sua realidade autêntica. Com efeito, se não se compreende mais que o homem vive em um estado de alienação não apenas econômica e social, uma alienação, pois, que não se soluciona apenas com seus próprios esforços, não se compreende mais a necessidade do Cristo redentor. Toda a estrutura da fé é, dessa forma, ameaçada. A incapacidade de compreender e apresentar o ‘pecado original’ é realmente um dos problemas mais graves da teologia e da pastoral atuais” (Messori, A fé em crise?, São Paulo: EPU, 1985. Pg. 55-57).

Infelizmente há hoje teólogos católicos que põem em dúvida, perigosamente, este dogma, ou relativizam a sua realidade. Dom Estevão Bettencourt, em sua revista PERGUNTE E RESPONDEREMOS (PR, 285/1986; 418/1997; 380/1994; 476/2002), apontou erros em muitos livros de teólogos sobre o assunto. Sentimos que volta disfarçadamente um neo-pelagianismo que nega o pecado original, ou o relativiza; despreza o batismo e o mistério de Cristo e da Redenção da humanidade por sua morte e ressurreição. O Pelagianismo foi a heresia de Pelágio, um monge que negava o pecado original, e que foi combatido por Santo Agostinho e considerado heresia pelo papa da época.

Muitos pais hoje já não batizam seus filhos e se esquecem que é por este Sacramento que recuperamos a vida divina em nossas almas. Por ele nos tornamos filhos de Deus, enxertados no Corpo Místico de Cristo, a Igreja. Passamos a ser templos da Santíssima Trindade. Tudo isso tem sido muito esquecido e desprezado.

No livro “Luz do mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos”, na conversa com o jornalista alemão Peter Seewald (2010), o Papa Bento XVI explica o laicismo atual, arrogante e prepotente, inimigo de tudo que leva o nome de Deus, de Cristo e da Igreja, e o correlaciona com o pecado original: “A verdade do pecado original, confirma-se. Recorrentemente, o homem renega a fé, quer ser só ele, torna-se laico no sentido mais profundo da palavra” (p. 64-65).

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

A diplomacia do Vaticano é única: a Santa Sé “não mente nem engana”

Photo Courtesy of Victor Gaetan
Por I. Media

O perito em diplomacia do Vaticano explica como o Papa e a sua equipa diplomática têm uma abordagem única do conflito na Ucrânia, fundada no direito natural.

Desde que a Rússia invadiu a Ucrânia a 24 de Fevereiro de 2022, o Papa Francisco tem estado particularmente ativo, fazendo numerosos apelos à paz, falando diretamente com o Patriarca ortodoxo russo Kirill e o Presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, e enviando dois cardeais para apoiar os refugiados.

Para compreender a abordagem diplomática do Papa Francisco e da Santa Sé a este conflito, I.MEDIA falou com Victor Gaetan, um perito em diplomacia do Vaticano. Originário da Roménia, o autor de God’s Diplomats (Diplomatas de Deus) vive atualmente em Washington, DC, e é um colaborador regular da revista Foreign Affairs e do National Catholic Register.

Quais são as especificidades da diplomacia do menor Estado do mundo, o Vaticano?

Os três princípios que caracterizam a diplomacia da Santa Sé estão a trabalhar nos bastidores, construindo conexões para o diálogo e a mediação. Para a Santa Sé, diálogo diplomático significa não competir com o interlocutor ou tentar contestá-lo, mas ter absoluta independência e objetividade. Significa uma verdadeira mediação através da escuta.

Como é que a resposta da Santa Sé ao conflito na Ucrânia se enquadra na sua abordagem diplomática geral?

A resposta atual da Santa Sé está de acordo com a sua ação diplomática tradicional em conflitos. Por exemplo, o Papa e a sua equipa diplomática, liderada pelo Cardeal Pietro Parolin [Secretário de Estado], não culpam nenhuma parte específica. Trabalham também nos bastidores a fim de reunir diferentes partidos, sem nunca se envolverem em análises políticas públicas ou especulações.

Apontarei, por exemplo, a visita sem precedentes que o Papa Francisco fez a 25 de Fevereiro à embaixada russa junto da Santa Sé, de onde falou com o Patriarca Kirill. Tudo isto foi calmo: ouvimos dizer que esta visita incomum aconteceu, mas a Santa Sé não comentou mais nada. Esta visita, porém, lançou as bases do que foi anunciado publicamente mais tarde, a 16 de Março, que foi quando o Santo Padre falou [através de vídeo-chamada] ao Patriarca Kirill. Foi-nos dado um histórico mais completo da conversa, com os pontos discutidos entre os dois. Para se chegar a essa conversa, algo mais discreto teve de acontecer antes, que foi a visita sem precedentes à embaixada russa.

Por que o intercâmbio entre estes dois líderes religiosos é significativo neste contexto?

É significativo em primeiro lugar devido ao papel da Igreja Ortodoxa na Rússia. Depois do comunismo, assistimos ao renascimento do cristianismo na Rússia. Pela primeira vez após mais de 100 anos, a Igreja Ortodoxa Russa já não estava submetida ao Estado, mas trabalhava em harmonia com ele, tanto na política interna como na política externa. Assim, o Patriarca e a Igreja Ortodoxa na Rússia têm uma enorme influência sobre o Estado. Com isto em mente, é essencial contactar e tentar exercer influência sobre o Estado através do Patriarcado.

A forma como isto foi construído é também muito importante. Esta excelente relação que o Papa Francisco tem hoje com o Patriarca Kirill é algo que tem vindo a construir há mais de 30 anos. Tudo começou em 1988, quando uma grande delegação do Vaticano se deslocou à Rússia para a celebração do Milénio [marcando 1000 anos de cristianismo ortodoxo russo] e também se encontrou com o Presidente Gorbachev. A relação entre o Vaticano, a Rússia e a Igreja Ortodoxa tem estado em curso há 30 anos.

Este intercâmbio oficial entre Francisco e Kirill já teve repercussões mais amplas?

Sim, outro elemento diplomático muito importante é que, na sequência do encontro virtual do Papa Francisco com o Patriarca Kirill, o Arcebispo de Cantuária, Justin Welby, também falou com o Patriarca. O Arcebispo Welby expressou quase literalmente as mesmas preocupações, e enfatizou a necessidade de diplomacia.

Isto é importante porque o Arcebispo de Cantuária trabalha absolutamente em conjunto com a Coroa Britânica e o Gabinete do Primeiro-Ministro. Estas conversas têm várias dimensões, uma vez que o Patriarca Kirill também comunica-se diretamente com o Presidente Putin. Esta é uma das características da diplomacia da Santa Sé, e em particular a do Papa Francisco: envolver múltiplos líderes religiosos a fim de trazer os mesmos resultados de paz, preservação dos sacramentos, ajuda humanitária aos que estão em zonas de guerra e assim por diante. Esta estratégia da diplomacia do Vaticano não poderia ter sido implementada se o Papa ou o Secretário de Estado tivessem feito declarações belicosas publicamente.

À luz da decisão do Papa Francisco de consagrar a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração da Virgem Maria, podemos dizer que a espiritualidade está a tornar-se parte dos instrumentos diplomáticos utilizados pelo Vaticano?

Isso é absolutamente significativo. A Rússia já foi consagrada à Virgem Maria pelo Papa João Paulo II em 1984 e depois voltou a ser em 1989, num momento muito importante das relações entre a Santa Sé e o governo da União Soviética.

Então porque é que o Papa Francisco decidiu refazer isto agora? Tem um forte valor diplomático, bem como um valor espiritual. É a pedido dos bispos católicos romanos da Ucrânia, que pediram e assinaram uma petição para que Francisco fizesse esta bela e fascinante iniciativa.

A Igreja Católica Romana na Ucrânia tem sido, desde a independência, praticamente posta de lado pela Igreja Católica Grega no país. Desde o início, a primeira tem estado mais próxima das autoridades locais e centrais, adquirindo mais propriedades. O que o Papa Francisco está a fazer, na minha opinião, ao ler as nuances diplomáticas, é reconhecer e realçar o valor histórico da Igreja Católica Romana, que por acaso é maioritariamente de etnia polaca na Ucrânia.

A Santa Sé também tem prestado uma grande ajuda humanitária. Como é que isto se enquadra na diplomacia do Vaticano?

A vertente humanitária tem passado pela Cáritas, que está totalmente empenhada na Ucrânia e tem estado, desde o início da guerra, distribuindo alimentos e medicamentos e assim por diante. A Cáritas trabalha no terreno, ajuda toda a gente e está muito bem organizada.

Outra ferramenta ou instrumento da Santa Sé são os “emissários” que são enviados para o terreno. Eles têm três dimensões: a dimensão humanitária, a dimensão ecuménica e a dimensão diplomática. A dimensão ecuménica significa que eles se encontram com diferentes líderes religiosos, por exemplo. A dimensão diplomática significa que comunicam e recolhem informações do campo, através de missionários, líderes locais, etc. Trabalham com mapas étnicos e linguísticos, por exemplo, em vez de mapas militares. Isto é feito de modo a obter a realidade da situação que é depois apresentada ao Papa e aos seus diplomatas em Roma e as decisões são tomadas a partir daí, para os ajudar a tomar decisões objectivas.

O Papa Francisco enviou os cardeais Krajewski e Czerny à Ucrânia nas últimas semanas para mostrar o seu apoio. Qual é o significado disso de um ponto de vista diplomático?

Este passo não é sem precedentes. O Papa Francisco usa frequentemente os cardeais para os enviar para áreas para negociações sensíveis ou para reuniões não oficiais. Embora os dois cardeais em questão não sejam diplomatas, uma vez que não fazem parte da Secretaria de Estado, é outra forma de o Papa Francisco exercer o seu pleno e incansável compromisso a fim de ser paz.

Diria que a diplomacia da Santa Sé é única?

Sim, ela destaca-se como absolutamente única. A Santa Sé não tem interesses militares ou materiais, não tem comércio. O trabalho deriva apenas da lei natural, que está imbuída em todos nós, de saber profundamente o que é bom e o que é mau. A Santa Sé atua como independente, totalmente objetiva e desprovida de interesse particular. Adquiriu credibilidade, uma vez que não mente nem engana. É credível e de confiança, portanto, sim, única.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF