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domingo, 3 de julho de 2022

Vida e cartas de São Paulo Apóstolo

S. Paulo, apóstolo | xaverianos.org
VIDA E CARTAS DE SÃO PAULO APÓSTOLO 
07 Outubro 2017

Podemos dividir a vida de Paulo em quatro períodos. Cada período mostra um aspecto da vida de Paulo. A passagem de um para o outro foi dura e dolorosa. Houve muita ruptura e mudanças.

Com a ajuda de Deus e a amizade dos irmãos e irmãs conseguiu superá-las, integrá-las na sua vida e fazê-las render para a caminhada das comunidades.

OS QUATRO PERÍODOS SÃO:

  •      Do nascimento aos 28 anos de idade: o judeu observante
  •      Dos 28 aos 41 anos de idade: o convertido fervoroso.
  •      Dos 41 aos 53 anos de idade o missionário itinerante
  •      De 53 até à morte aos 62 anos de idade: o prisioneiro e o organizador das comunidades.

I. PAULO UM JUDEU PRATICANTE

1 – LUGAR E AMBIENTE ONDE PAULO CRESCEU E SE CRIOU.

Não sabemos a data exata de seu nascimento. Tudo indica que aconteceu na primeira década de nossa era. Nasceu na cidade de Tarso de pais judeus. Pertencia à tribo de Benjamim e tinha uma irmã (At.23,6).

Tarso era uma cidade bonita e grande, com mais de 300.000 habitantes. Estava na beira do mar Mediterrâneo e era um centro importante de cultura e de comércio com um porto muito ativo. Por lá passava também uma estrada romana que unia Oriente com Ocidente.

Seus antepassados tinham vindo da cidade palestina de Gischala, segundo S. Jerônimo, quando se deu aquele fenômeno chamado “Diáspora”, durante a dominação grega. Em Tarso havia um bairro judeu, como em quase todas as cidades do Império romano, cada um com sua sinagoga e organização comunitária. Jerusalém e os judeus da Diáspora estavam intimamente interligados. Muitos judeus iam a Jerusalém para completar sua instrução.

Nascido numa família judaica, Paulo foi criado dentro das exigências da lei e das tradições paternas (Gl 1,14). Os judeus da Diáspora eram judeus praticantes. Sua preocupação maior era a observância da Lei. Lutavam, portanto para serem fiéis, contra aquilo que lhes impedia de serem autênticos: o culto ao imperador, a violação do repouso sabático, o serviço militar... Muita vez eram perseguidos por causa disto. De certa maneira eles eram “separados” diferentes dos outros povos.

Desde o nascimento Paulo foi cidadão romano, mas sempre se ufanou de ser judeu e fariseu.  Ele tinha dois nomes: Saulo, o nome judaico e Paulo o nome grego.  Paulo afirma em suas cartas que seu nome é PAULO. Foi denominado assim desde o nascimento e não somente depois de sua conversão. Este nome é usado também por Pdr. 3,15 e nos Atos dos Apóstolos a partir de 13,9. Nos capítulos anteriores dos Atos é chamado SAULO, que é uma helenização do hebraico “SAUL”.Em At, 13,9 encontramos a expressão  (Saulos de xai Paulos) que significa “Saulo ou Paulo”.

Paulo é forma grega de sobrenome de família romana. Tinha este nome por ser cidadão romano (At. 26,39; 22,27; 25,10). Facilmente algum ascendente de Paulo era um escravo. Libertado pelo dono assumiu o nome do patrão. Saulo é um nome acrescido. Tinha, então, um nome grego e outro semítico, conforme era costume dos judeus da época. É errado dizer que antes da conversão se chamava Paulo e depois Saulo. Também depois da conversão, os Atos dos Apóstolos usam diversas vezes a expressão Saulo.

2 – JUVENTUDE E FORMAÇÃO.

Como todos os meninos judeus da época, Paulo recebeu sua formação básica na casa dos pais, na sinagoga do bairro e na escola ligada à sinagoga. A formação básica compreendia: aprender a ler e escrever; estudar a Lei de Deus e a história do povo; assimilar as tradições religiosa; aprender as orações, sobretudo os salmos. O método era: pergunta e resposta; repetir e decorar; disciplina e convivência. Além da formação básica em Tarso, Paulo recebeu uma formação superior em Jerusalém. Estudou aos pés de Gamaliel (At 22,3). Esses estudos tinha as seguintes conteúdos:

  1.  A Lei de Deus, chamada de Torá: Compreendia os cincos primeiros livros da Bíblia (o Pentateuco). O estudo se fazia através de leituras freqüentes, até conhecer tudo de memória.
  2. A Tradição do Antigos: atualizava a Lei de Deus para o povo. Tinha duas partes, que eles chamavam, na língua deles Halaká e Hagadá.

A Halaká ensinava como viver de acordo com a Lei de Deus. Compreendia os costumes e as leis complementares, reconhecidas como tais pelas autoridades competentes. Havia a Halaká dos fariseus, a mais estrita, e a dos saduceus. Paulo se formou na tradição dos Fariseus (Fl 3,5; At 26,5). A Hagadá ensinava como ler a vida à luz da Lei de Deus. Não tinha aprovação oficial da autoridade. Era mais livre. Compreendia as histórias da Bíblia. O jeito de se lembrar a história antiga ajudava a ler sua própria história e a descobrir nela os apelos de Deus. A Hagadá era, por assim dizer, a interpretação da Palavra de Deus que o povo recebia nas Sinagosa. A Interpretação mais erudita da Bíblia, era chamada Midrash. Midrash significa busca. Ensinava as regras e o jeito de se buscar o sentido da Sagrada Escritura para a vida do povo e das pessoas e a descobrir, pela janela do texto, o passado do povo, e ver, como num espelho, “hoje” do mesmo povo.

A leitura da Bíblia era o eixo da formação. Marcava a piedade do povo. “Desde criança” (2Tm 3,15), os judeus aprendiam a Bíblia. Era sobretudo a mãe, em casa, que cuidava de transmiti-la aos filhos (2Tm 1,5 e 3,14). Assim desde pequeno, Paulo aprendeu que “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para instruir, para refutar, corrigir, educar na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito, qualificado para toda boa obra” (2Tm 3,16-17; cf. Rm 15,4; 1Cor 10,6.11).  

3 – PROFISSÃO E CLASSE SOCIAL.

Paulo era fabricante de tendas (At 18,3) e tinha recebido esta profissão do pai. Tal aprendizado começava aos treze anos de idade e durava dois ou três anos. O aprendiz trabalhava de sol a sol e obedecia a uma disciplina rígida.  Por ser cidadão romano de nascimento, a família de Paulo não era pobre, com certeza, pois a cidadania se obtinha com muito dinheiro (At 22,28). Disto alguém concluiu que o pai de Paulo era o dono de uma oficina com empregados. É possível, então, que Paulo tenha apreendido o ofício não tanto para ter um meio de viver, mas para poder, um dia, administrar a oficina do pai. Como ‘cidadão” era membro oficial da “polis” (cidade) e podia participar da assembléia do povo onde se discutia e decidia tudo o que diz respeito à vida e à organização da “polis”. Daí vem a palavra política. Os habitantes das cidades se dividiam em três classes básicas: cidadãos, libertos e escravos. Só os cidadãos eram considerados povo (Demos) e só eles participavam da Assembléia. O sistema de governo era, então, chamado “Demo (povo) cracia (governo)”. Na realidade não era o “governo do povo”, mas de uma pequena elite: dos cidadãos.

A formação de Paulo se deu, em sua maior parte, na cidade de Jerusalém (At. 22,3). Isto implica que o modo de pensar de Paulo foi mais semita do que grego e a língua de sua educação foi o aramaico. Seus estudos com Gamaliel nos dizem que ele se preparava para ser Rabi. No tempo de sua conversão já não era mais um discípulo, mas um mestre reconhecido e capaz de tomar decisões legais. O papel que representou em sua ida a Damasco nos leva a pensar neste sentido (At. 9,12; 22,5). Paulo tinha qualidades de líder.

Cidadão romano, cidadão de Tarso, aluno de Gamaliel, testemunha oficial da execução de Estevão, (At 7,58) emissário do Sinédrio para Damasco At 9,2; 22,5; 26,12), membro, talvez do Sinédrio, formação superior, membro ativo da comunidade, todos estes título e qualidades situam Paulo entre a elite da sociedade quer por formação, quer por posse e liderança. Tinha diante de si um futuro promissor e a possibilidade de uma carreira brilhante. A entrada de Jesus em sua vida, porém, modificou esta situação. “O que era lucro se tornou perda” (Fl 3,7).”Por causa dele perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de ganhar Cristo e estar com ele” (Fl 3,8).

II. PAULO UM CONVERTIDO FERVOROSO   A QUEDA NA ESTRADA DE DAMASCO

Era aproximadamente o ano 36. Paulo estava com 28 anos de idade. Em (Gal 2,1 e 1,18) o autor afirma que 14 anos depois de sua conversão houve o Concílio de Jerusalém. Este Concílio se deu pelos anos 49-50. Então a data da conversão estaria em consonância com este memorável fato. Paulo tinha poder e prestígio. Em nome do Sinédrio liderava a perseguição contra os cristãos. Teve a autorização de persegui-los até Damasco, na Síria (At 9,1-2; 26,9-12), a mais de 200Km de distância de Jerusalém. Oito dias de viagem. Enquanto caminhava por lá, eis que de repente uma luz aparece. Paulo cai e ouve uma voz: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” (At 1,9). Paulo estava perseguindo a comunidade dos cristãos. Mas Jesus pergunta: “por que me persegues?”. Jesus se identifica com a comunidade. Colocando-se do lado do perseguido, desaprova o perseguidor. A queda nas estradas de Damasco foi o divisor das águas. De agora em diante a vida de Paulo se divide em antes e depois. A entrada de Jesus na sua vida não foi pacífica, mas uma tempestade violenta. A Bíblia usa algumas imagens para descrever o que aconteceu. Duas delas são de Lucas e duas do próprio Paulo.

  • Queda. Deus não pediu licença. Entrou sem mais e o derrubou (At 9,4; 22,7; 26,14). E Paulo, caído no chão, se entrega. É o caçador vencido pela caça. A expressão “cair do cavalo” tem sua origem.
  • Aborto. “Por último Jesus apareceu a mim que sou um aborto” (1Cor 15,18). Seu nascimento para Cristo não foi normal. Foi forçado. Foi arrancado de dentro do seu mundo como se arranca uma crianç aqui. Não há cavalo, porém, na história e Paulo, só queda. Uma queda muito mais violenta do que cair de um cavalo.
  • Cego. Uma luz o envolveu (At 9,3). Paulo caiu por terra ao ver a luz da glória de Javé (Ez 1,27-28). Era uma luz tão forte que ficou cego. E ficou cego durante três dias , sem poder comer e beber (At 9,8-9). Três dias de escuridão e de morte antes da Ressurreição. O líder foi conduzido pelas mãos de seus liderados (At 9,8). Só pode enxergar de novo quando Ananias impôs as mãos e disse: “Saulo, meu irmão”!. (At 9,18). Ressuscitou quando foi acolhido na comunidade como Irmão. Morreu o perseguidor e ressuscitou o profeta.
  • a do seio da mãe por meio de uma operação.
  • Fui apanhado. Também esta imagem é de Paulo. Ele afirma: “Procuro apanhá-lo assim como eu mesmo fui apanhado por ele” (Fl 3,12). É como se Deus estivesse perseguindo Paulo com um laço na mão e, de repente, o apanhasse pelo pé e o derrubasse no chão.

Queda, cegueira, aborto e laço! Estas imagens são bem eloquentes. Deixam transparecer algo que Paulo viveu. Sugerem a ruptura que houve. Revelam o fracasso do sistema em que ele vivia. Apareceu o nada de Paulo de onde vai nascer o tudo de Deus. “Sem mim nada podeis fazer” (Jô 15,5). “Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,13).

A experiência no caminho de Damasco foi definitiva para Paulo. Lá se encontrou com o Senhor. Desde então Paulo adotou novo estilo de vida. O evento é narrado por Paulo em Ga1 1,13-17 e três vezes em At. 9,13-19; 22,6-16 e 26,12-18. Todas estas narrações falam de uma experiência fortíssima e não esperada, quando estava no auge de seu papel de perseguidor. Existe entre elas variantes a respeito de detalhes. O elemento essencial, porém, é igual em todas. As variantes dependem das fontes donde Lucas tirou o seu material. Paulo, falando desta experiência, associou a ela seu mandato apostólico. Por amor de Jesus ele se fez tudo a todos (1Cor 9,22); ficou o servo dos servos (Gal. 1,10; Rom. 1,1). Tornou-se semelhante aos grandes servos de Javé do AT (Moisés, Josué, Davi...) Depois da experiência de Damasco, Ananias o curou de sua cegueira com a imposição das mãos e Paulo foi batizado, ficando em Damasco por uns dias (At. 9,19).

Não muito tempo depois Paulo foi à Arábia (Gal. 1,17), o que não é mencionado nos Atos. Por Arábia se entendia a Transjordânia de hoje. Por que se retirou no deserto? Uns dizem que foi para meditar, outros afirmam que peregrinou até o Sinai, o monte da Lei, e outros ainda opinam que foi pregar o Evangelho. Ficou breve tempo e na primavera de 37 voltou para Damasco onde ficou 3 anos, o que foi tempo considerável (At. 9,23). Durante este tempo os judeus ficaram alvoroçados. Paulo lhes demonstrou ter sido Jesus o Messias. Agora Paulo já tinha discípulos. Alguém aventou a hipótese que neste tempo Paulo foi influenciado pelos essênios de Damasco. Nas cartas não existe o mínimo aceno a respeito.

A oposição judaica, apoiada pelo rei Aretas de Damasco, o obrigou a deixar a cidade. A fuga foi organizada pelos seus discípulos que o desceram num cesto para fora dos muros da cidade (At. E 2Cor. 11,32). Então foi a Jerusalém pela primeira vez depois de sua conversão (At, 9,26; Gal. 1,18). Barnabé fez com que fosse aceito em Jerusalém sem desconfiança (At. 9,27). Esta visita aconteceu no ano 40. O motivo foi para tomar informações de Cefas (Pedro – Gal. 49,15). Durante esta visita Paulo teve uma visão no templo em que Deus lhe ordenava de deixar Jerusalém (At. 22,17).  Paulo foi então a Tarso (At. 9,30; Gal. 1,21). Ficou 4 anos na Cilícia e nada sabemos desta época. Barnabé foi buscá-lo e o levou para Antioquia onde permaneceu um ano (At. 11, 25) evangelizando a cidade.Em Jerusalém um profeta chamado AGAPO anunciou uma grande caristia (At. 33,28). Em Antioquia se fez uma grande coleta que Paulo levou aos pobres de Jerusalém no ano 46 (At. 11,29-30; 12,25). As visitas de Paulo a Jerusalém foram muitas, mas sempre muito breves.

III. PAULO UM MISSIONÁRIO INTINERANTE

1.     AS VIAGENS DE PAULO PELO MUNDO

“Fiz muitas viagens. Sofri perigo nos rios, perigo por parte de ladrões, perigos por parte dos meus compatriotas, perigos da parte dos pagãos, perigos nas cidades, perigos no deserto, perigos no mar. Três vezes naufraguei. Passei um dia e uma noite em alto mar” (2Cor  11,25,26)...

Os Atos afirmam que o terceiro período da vida de Paulo foi marcado por três grandes viagens missionárias. A primeira começou no ano 46 (At 13,1-3) quando Paulo tinha mais ou menos 41 anos. A terceira terminou no ano 58 com sua prisão na praça do templo, em Jerusalém (At 21,27-34). Treze anos de andanças... E naquele tempo não havia ônibus, asfalto... Andava-se no lombo de um animal, ou a pé, ou de barco. Milhares de quilômetros. Nas estradas não havia segurança nenhuma. Hospedarias cada trinta quilômetros, mas somente nas grandes rodovias...

Durante treze anos viajou assim, visitando Antioquia, Atenas, Corinto, Éfeso, Tessalonica, Filippos, Corinto, Roma, adaptando-se a mentalidades diferentes, a gregos e romanos, a gente das cidades e do campo... Nunca viajava só. Na 1a viagens foi com Barnabé e Marcos (At 13,3-5). Na segunda com Silas (At 15,36-40) e Timóteo (At 15,1-3), com Lucas.e o casal Priscila/Áquila (At 18,18). Na terceira houve mais pessoas (At 19,22; 20,4-5; 21,16). Era uma comunidade cristã viajando  e Evangelizando. 

2. OS COMPANHEIROS DE PAULO.

Alguns companheiros de sexo masculino e feminino aparecem como mais íntimos de Paulo. Sem eles não teria conseguido fazer o que fez. Eis alguns deles.

  • Barnabé : Levita de Chipre que tornado cristão se destacava por sua generosidade. Seu nome era José. Acolheu Paulo em Jerusalém e foi o intermediário entre ele e os Apóstolos. Buscou Paulo em Tarso depois da conversão, trabalhou com ele em Antioquia e o acompanhou em sua 1a viagem e em Corinto. Desentendeu-se com Paulo ao início da 2a viagem por querer levar junto Marcos, seu sobrinho, o que Paulo não quis. (At 9,27; 11,25-26; 13,2; ..1Cor 9,6; Gl 2,1.9.13).
  • Lídia: Natural de Tiatira e vendedora de púrpura. Ofereceu hospitalidade a Paulo e se converteu com sua família. Foi uma mulher muito piedosa. Paulo a escolheu como coordenadora da comunidade de Filipos (At 16,14-15.40; Fl 1,5.7-8; 4,15)
  • Priscila e Áquila: casal originário do Ponto, mas residente em Roma. Fugiu para Corinto quando o Imperador Cláudio perseguiu os judeus. Áquila tinha a mesma profissão de Paulo. Acolheu Paulo em sua casa durante a 2a viagem missionária . Ele e sua mulher Priscila ou Prisca acompanharam Paulo até Éfeso tornando-se, por sua vez, missionário pregadores. Converteram Apolo (At 18,18-26),  voltaram a Roma depois da morte de Cláudio e retornando a Éfeso pouco depois. São Paulo acentua em suas cartas todos os serviços que o casal prestou às comunidades cristãs. (At 18,2.18; Rm 16,3-4).
  • Febe: gentia-cristã de Roma a serviço da comunidade de Cêncreas, recomendada por São Paulo aos romanos. Talvez, foi ela quem levou para Roma a Epístola aos Romanos. (Rm 16, 1-2).
  • Timóteo: Natural de Listra, na Ásia Menor. Paulo conhecia sua famáilia, a avó Lóide e a mãe Eunice. Levou consigo Timóteo na sua 2a e 3a viagem apostólica. Recebeu tarefas importantes de Paulo que o considerava como Filho. Foi o destinatário de duas cartas. Participou do cativeiro de Paulo em Roma. A tradição venera Timóteo como Bispo de Éfeso. (At 16,1; 14,19-20; 19,22; 2Tm 1,5; 3,14-15; 1Tm 1,3.18-19; 1Ts 3,2.6; 1Cor 4,17;16,10; Fl 2,19-22)
  • Marcos: Filho de Maria cuja casa em Jerusalém estava á disposição dos primeiros cristãos. Sobrinho de Barnabé e de família sacerdotal. Na 1a viagem acompanhou Paulo até Perge mas não agüentou a parada e voltou. Na segunda viagem Paulo não o quis mais consigo.  Ele e Barnabé foram, então, a Chipre pregar o Evangelho. Mais tarde, em Roma, acompanhou de novo Paulo e também Pedro. Escreveu o Evangelho que leva seu nome. A tradição diz que fundou a Igreja de Alexandria  onde teria morrido. (At 15,39; 12,12.25; 4,36; 13,5.13; Col 4,10; Fm 24; 2Tm 4,11; 1Pdr 5,13;)
  • Tito: Amigo e companheiro de São Paulo. Nunca mencionado nos Atos. Gentio e incircunciso foi com Paulo a Jerusalém para o Concílio Apostólico. Paulo lhe deu uma missão especial em Corinto e em Creta onde recebeu uma carta do Apóstolo. Compartilhou o 2o Cativeiro de Paulo, partindo, em seguida, para uma missão especial na Dalmácia. Teria morrido como Bispo de Creta.

3.    ALGUMAS DIFICULDADES NAS VIAGENS DE PAULO

  • Dificuldades de comunicação  Paulo falava grego, hebraico, aramaico e, talvez, latim. Na Ásia Menor os dialetos e as línguas faladas eram dezenas. Paulo diz na carta aos Gálatas: “Diante de vós foi desenhada a imagem de Jesus crucificado!” (Gl 3,1). O que faz supor que devia muita vez usar gestos de comunicação e desenhos. Terá tido intérpretes também...
  • Dificuldades de saúde Quem não tinha boa saúde não podia agüentar canseiras, noites mal dormidas, comidas diferentes. Paulo devia ter uma saúde de ferro para agüentar durante treze anos subidas e descidas de morros, frio e calor, o trabalho para se sustentar e o trabalho missionário... A doença apareceu durante a 2a viagem e o obrigou a parar na Galácia. Foi assim que nasceu a comunidade dos gálatas (Gl 4,13). Qual terá sido o problema? Uma doença na vista ou aquele “aguilhão da carne” (2Cor 12,7)? Paulo não explica. Preocupava-se sim com a saúde dos companheiros, principalmente de Timóteo que sofria de estômago (1Tm 5,23)
  • O sustento Era o problema maior. Uma viagem naquele tempo não era como hoje. Hoje, você entra no ônibus, passa a viagem dormindo numa cadeira e amanhece a 600 quilômentros de distância. Naquele tempo, percorrer uma distância de 600 quilômentros levava no mínimo vinte dias, a uma média de trinta quilômentro por dia. Hoje, quem esquece de levar lanche, agüenta passar a noite no ônibus de Belo Horizonte a São Paulo. Mas como levar lanche  para vinte dias? Impossível! E onde arrumar dinheiro para comprar comida para quatro ou cinco pessoas durante três semanas? Como é que eles faziam? Interrompiam a viagem, paravam e trabalhavam para conseguir o dinheiro suficiente. Assim, uma viagem de 600 quilômetros podia durar dois meses ou mais. Quando Paulo chegava a um lugar, uma das primeiras  providências a tomar era procurar uma oficina onde pudesse conseguir biscate e ganhar, uns trocados. (O lema de Paulo era: “Quem não quiser trabalhar, também não deve comer!” (2Ts 3,10). “Vocês mesmos sabem que estas minhas mãos providenciaram o que era necessário para mim e para os que estavam comigo” (At 20,33-34).
  • O Contato com as comunidades Paulo mantinha contato com as comunidades através de mensageiros (Cl 4,10, 1Cor 1,11; 16,12-18; 1Ts 3,2-6) e de cartas. Pedia que suas cartas fossem lidas nas reuniões de comunidade (1Ts 5,27). Escrever cartas era, para aquele tempo, muito dificultoso e exigia uma pessoa especializada no assunto. Paulo viajava, formava uma comunidade e continuava líder desta comunidade. Mantinha constante contacto com ela. Não tendo, como nós temos, telefone, rádio, jornal, TV telegramas, podemos imaginar as dificuldades que devia enfrentar.

4.  A GEOGRAFIA DAS VIAGENS DE PAULO.

Lucas (At 2,8-11) enumera os povos presentes em Jerusalém no dia de Pentecostes. No decorrer da narração ele mostra como aqueles povos foram atingidos pelo Evangelho, sobretudo com as viagens de Paulo. Realiza-se, pois, a profecia de Pentecostes. A história da humanidade, desintegrada pela confusão das línguas na construção de Babel (Gen 11,5-9), vai sendo refeita através do trabalho missionário de Paulo e do povo das comunidades. Jerusalém, porém, é o centro de onde parte a ação missionária. A ordem de Jesus é de ir até o fim do mundo, começando por Jerusalém. O fim do mundo é Roma. Lá acabam os Atos dos Apóstolos. Cada uma das viagens de Paulo começa e acaba em Jerusalém.

5.  O CONCÍLIO DE JERUSALÉM

Foi no ano 49, depois da 1a viagem missionária.. Em Antioquia os judeus armavam a maior das confusões pregando que aos pagãos convertidos se deviam aplicar as leis judaicas da circuncisão e outras. A Igreja antioquena decidiu enviar a Jerusalém Paulo, Barnabé e outros (Gal. 2,11) para consultar os apóstolos e presbíteros e ter uma decisão sobre  os problemas da comunidade. A visita concluiu-se com o chamado Concílio de Jerusalém. A controvérsia que se deu naquele Concílio diz respeito, principalmente, à dois pontos doutrinários.

  • A circuncisão (Gal. 1-10; At. 15,6-12). Era uma questão com muitas implicâncias. A grande questão era: “A salvação depende unicamente da fé em Cristo ou da fé em Cristo junto com a circuncisão e a observância da lei judaica?”
  • A questão disciplinar relativa aos alimentos (At. 15,13-29) foi outro assunto quente. Em Jerusalém Paulo se encontrou com toda a Igreja local, apóstolos e presbíteros. Também aqui os “falsos irmãos” (eram aqueles que provocaram confusões em Antioquia) insistiam na obrigatoriedade da circuncisão. Paulo se opôs a essa forma de cristianismo. Os Apóstolos e os presbíteros examinaram a fundo a questão (Gal. 2,2) e Pedro, como chefe da Igreja, apresentou a opinião da maioria que era contra a obrigatoriedade da circuncisão. A assembléia acatou esta decisão e, com este ato, a jovem Igreja se separou da matriz judaica e se abriu para um apostolado universal. A posição de Paulo foi aprovada e Paulo pode prosseguir sua pregação sem maiores oposições. Em relação ao segundo ponto Pedro declarou:” Pois decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis: abster-sedas carnes sacrificadas aos ídolos, do sangue, de animais sufocados e de uniões ilícitas. Fareis bem se evitardes estas coisas”.

IV.     PAULO PRISIONEIRO

Em 58 Paulo foi a Jerusalém e visitou Tiago (At 21,18), pois os judeus preparavam atos de hostilidade para com Paulo (21,17,22) Tiago lhe deu o conselho de associar-se a 4 homens que estavam para fazer voto de nazireato, para captar as simpatias dos judeus, de pagar as despesas deles e acompanhá-los ao templo durante sete dias (At. 21,23-24). Paulo assim fez, mas pouco adiantou. Acusado de profanar a lei judaica quase foi linchado. Quem o salvou foi um tribuno da coorte romana o qual o prendeu (At. 22,27). Foi, então, enviado a Cesaréia Marítima ao procurador Antônio Félix (At. 23,23-33) que o segurou prisioneiro durante dois anos e procurou extorquir dinheiro (At. 24,26). Félix foi substituído no ano 60 por Pórcio Festo. Paulo apelou para ser processado em Roma (At. 25,11), pois era cidadão romano e foi atendido. Acompanhado por um centurião e por Lucas, fez a viagem por mar, ao longo da costa, em direção a Creta. O tempo logo se manifestou ruim e o navio foi arrastado ao largo  até Malta, onde naufragou (At. 28,1).

Salvo por milagre do naufrágio e da mordida de uma víbora, passou o inverno em Malta, depois contornou a Sicília e terminou a viagem de mar em Putéoli, perto de Nápoles. Foi então por via terrestre para Roma, onde ficou em prisão domiciliar durante dois anos, de 61 a 63, guardado à vista por um soldado (At. 28,16). A situação não lhe impedia de reunir em sua casa judeus romanos (At. 28,16-28).

Paulo foi absolvido. Viveu durante dois anos numa casa alugada e com o fruto do próprio trabalho (At. 28,30). Sua principal tarefa, porém, era a pregação do Evangelho. Alguns dizem que foi a Espanha, mas a notícia carece de provas. Certo é que voltou ao oriente, na Grécia, na Macedônia. Quando e onde de novo foi preso não o sabemos. Parece que foi pelo ano 67, quando foi levado de novo para Roma, onde reinava o Imperador Nero. Santo Eusébio nos fala de seu martírio. Dionísio de Corinto escreveu que Paulo e Pedro foram aprisionados ao mesmo tempo. Tertuliano relata que o martírio de Paulo foi semelhante àquele de João Batista, isto é, foi decapitado. A afirmação de Eusébio a respeito da morte de Paulo durante o reinado de Nero é universalmente aceita. A perseguição de Nero durou de 64 a 68. Estabelecer o ano exato do martírio de Paulo é praticamente impossível, mas deve ser colocado entre 66 e 68. Que Pedro e Paulo tenham morrido na mesma ocasião é improvável. O que pode ser aceito é que o martírio dos dois se deu durante a mesma perseguição, ao máximo, no mesmo ano. Paulo, segundo a tradição popular, foi decapitado no lugar onde surge hoje a Basílica de São Paulo fora dos muros. Sua cabeça, destacada do corpo, teria pulado três vezes e teriam brotado por lá três fontes de água.

Paulo foi sepultado na Via Ostiense, perto da catedral que toma seu nome. No ano 258, por causa da perseguição do imperador Valeriano, que tinha o mau hábito de profanar as sepulturas dos mártires famosos, os restos de Paulo foram levados num lugar chamado “Ad Catacumbas”, na Via Ápia. Mais tarde, passadas as perseguições, foram recolocados no lugar originário onde o Imperador Constantino construiu a Basílica.

V.  AS CARTAS PAULINAS

1. QUANTIDADE E AUTOR DAS CARTAS

Os escritos do NT são 27. Deles 21 são apresentados em forma de cartas, numa proporção de 3 para 1. Entre as cartas 14 são atribuídas a Paulo. Aceitamos como primeiro escrito do NT a 1Tessalonicenses e que cronologicamente o “Corpo Paulino” antecede todos os outros escritos do NT. Por isto ousamos afirmar que Paulo introduziu na Igreja o gênero literário epistolar. A autenticidade das 14 cartas que lhe são atribuídas, hoje é assim interpretada:

  • Não há problema para sete delas: 1Ts, Gal. 1 e 2Cor, Rm, Fil, Fm.
  • Existem reservas, especialmente entre os protestantes,  para 2Ts, Col, Ef.
  • É seriamente discutida a autenticidade paulina para 1 e 2Tm e Tt.
  • Certamente Paulo não é o autor da carta aos Hebreus.

2. OS DESTINATÁRIOS DAS CARTAS

As cartas do Corpo Paulino abrangem uma rica variedade de sub-gêneros literários. Estendem-se de uma comunicação privada de indivíduo a indivíduo (veja-se, como exemplo, a carta a Filêmon), para grupos de pessoas (Igrejas). Por determinação do autor ou pelo conteúdo dos escritos podemos considerar muitas delas “Cartas abertas” às comunidades (Rm, Hebreus, etc..). Paulo, para seus destinatário é sempre o “Apóstolo”. Embora suas cartas possam ter características diferentes e tenham origem de circunstâncias particulares, estão sempre a serviço da comunidade e são o prolongamento e o eco fiel de sua voz apostólica. Por este motivo elas foram cuidadosamente conservadas pelas Igrejas destinatárias e passadas para outras Igrejas irmãs, constituindo, assim, o Corpo Paulino.

3. CARTAS PAULINAS PERDIDAS

A coleção das cartas do NT atribuídas a Paulo não representa toda a correspondência histórica entre ele e as Igrejas. Paulo mesmo acena indiretamente a outras cartas que não chegaram até nós. Como podemos conhecer isto?:

  • Paulo afirma (2Ts): “a saudação é de meu próprio punho. É o meu sinal em toda carta”. Isto faz pensar que a carta em questão não seja simplesmente a sua segunda experiência literária.
  • Em 1Cor 5,9 faz referência explícita a uma carta precedente.
  • A carta pois, escrita “numa grande aflição  e com muitas lágrimas”, da qual se fala em 2Cor 2,4, não pode ser identificada com 1Cr, mas antes como uma missiva entre a primeira e a segunda.
  • As cartas ao Laodicences à qual se faz aceno em Col 4,16 podem ser a carta aos Efésios, mas também escritos perdidos.
  • Em Fil 3,1s existem acenos a bilhetes enviados a Filipos antes da carta e perdidos, para nós. O conteúdo destes recados, conforme alguns  exegetas de hoje, estaria incluído na carta.

Resumindo: Parece que houve ao menos os seguintes escritos que andaram perdidos:

  • Um carta aos Coríntios antes da atual 1Cor.
  • Outra carta aos Corintios entre a 1Cor e 2Cor.
  • Cartas aos Filipenses que precederam àquela que temos. Acreditamos, porém, que a correspondência paulina, desconhecida por nós, foi bem maior.

 4. AS CARTAS PAULINAS À LUZ DA EPISTOLOGRAFIA ANTIGA

Como os antigos escreviam cartas ? Os antigos tinham 4 maneiras de escrever carta.

  • Escreviam-nas diretamente, de próprio punho.
  • Ditavam a carta a um escriba palavra por palavra.
  • Confiavam a redação da carta a um secretário ou amanuense, fornecendo a ele a temática geral da carta.
  • Davam ao amanuense ou secretário o endereço do destinatário, com o encargo de escrever em seu nome, sem ver, sequer, a composição.

A maneira última de escrever cartas, nos é bastante estranha. Era usada também por Cícero que, escrevendo para Atico, lhe autoriza o seguinte: “Se houver alguém para o qual você ache necessário enviar alguma carta em meu nome, gostaria que a escrevesse e a entregasse”

Esta variedade de costumes epistolares nos é ricamente comprovada pela epistolografia grego romana que chegou até nós pela literatura clássica, pelo modo de escrever dos Padres da Igreja e pelas incontáveis (mais de 15 000) cartas descobertas nos últimos séculos.Escrever era um trabalho muito penoso e lento por causa do material usado (papiro, tinta, caneta). Por isto se recorria geralmente a escribas profissionais. No tempo de Diocleciano um escriba pedia por 100 linhas o mesmo salário que recebia um operário por um dia de trabalho. Escreviam de próprio punho os pobres que não tinham escriba ou não podiam pagá-lo, e os ricos também, quando as coisas eram muito reservadas, e não era oportuno que o escriba as conhecesse.

Qual o modo usado por São Paulo para escrever? 

  • Não é fácil responder de maneira cabal. Só podemos dar afirmações cautas e genéricas.  

A) Paulo não teria escrito de seu próprio punho nenhuma carta. Não existe motivo para que nós nos afastemos do modo comum da praxe de escrever dos antigos. Paulo não foi, com certeza, uma exceção à regra geral, dispensando um escriba. As suas ocupações, pelo contrário, o ministério da pregação e o trabalho que lhe possibilitava viver, não lhe davam o tempo necessário para escrever. Em seis de suas cartas manifesta diretamente isto. (Fl 19; 2Ts 3,17; 1Cor 16,21; Gal 6,11; Rm 16,22; Col 14,18)

B)       Do outro lado parece-nos impossível imaginar Paulo ditando, palavra por palavra, suas cartas. Seria um tempo precioso tirado ao seu apostolado e ao seu trabalho. Pelos cálculos de “Roller”, especialista em epistolografia antiga, a 1a carta aos tessalonicenses teria custado 20:00 (vinte) horas de ditado e aquela aos romanos 90 horas e 42 minutos. É possível, então, que tenha encarregado alguém indicando-lhe as idéias principais e deixando para ele o encargo de pô-las por escrito. Lembremos que entre os antigos a memória era bem mais cultivada do que entre nós. Portanto a fidelidade ao pensamento Paulino era garantida. Como conclusão, poderíamos dizer que os pensamentos são de Paulo, mas a composição é de alguém que ouviu a doutrina de Paulo e a redigiu por escrito, em seu nome.

C) A respeito da carta aos Hebreus é provável que esteja em jogo a 4a hipótese.    Alguém, talvez discípulo de Paulo (Barnabé, Lucas, Clemente de Roma, Apolo, Sila, Filipe Aristão, Priscila, outros?..), expressou com uma carta pensamentos essencialmente paulinos. Esta seria também a opinião de Orígenes.

5. RAIOS X DAS CARTAS DE SÃO PAULO

As pessoas, em geral, também aquelas de cultura superior, conhecem nada ou muito pouco de Paulo. Ao ler suas cartas dizem que é um escritor muito difícil de ser entendido. Elas têm toda a razão. Digo mais: Quanto mais se aprofunda o estudo, tanto mais se compreende que é difícil entendê-lo corretamente e se intui como possa ser mal interpretado pelas pessoas que o lêem superficialmente. Paulo é difícil quer pelos conceitos que apresenta, quer pelo modo de expressar os conceitos.

Seu estilo é entrecortado, cheio de anacolutos (mudanças abruptas de construção, termos deslocados...) de subentendidos... Deixa, às vezes, o leitor hodierno meio atordoado e confuso. Muita vez, quem lê, depois de ter examinado dez palavras de uma sua proposição, sente a necessidade de acrescentar outras cinco palavras para apresentar a si mesmo o conceito claro e completo.

Se o seu estilo causa dificuldades, o que dizer de sua doutrina? Encontramos a cada passo especulações teológicas, elevações místicas, ensinamentos catequéticos, alusões históricas apresentando, para nós, problemas muitas vezes de difícil solução e ainda não plenamente resolvidos. Quando Paulo discute com os Coríntios a respeito daquilo que acontecia na comunidade era plenamente entendido por aquela comunidade que vivia a situação, enquanto nós, agora, não sabemos bem do que se tratava. Quando os instruía a respeito dos carismas, falava de um fenômeno comum naquele tempo, enquanto hoje está fora de nossas experiências desde séculos. Quando lhes dava normas para as assembléias litúrgicas, visava somente costumes vigentes naquela época, enquanto nossa norma de agir, hoje, é diferente. Quando recomendava aos tessalonicenses de se lembrarem daquilo que tinha dito a eles oralmente a respeito da parusia, nós nos perguntamos o que teria dito, pois não conhecemos aquela sua pregação oral ...

É normal, portanto, que as cartas de Paulo tenham sido julgadas difíceis até pelos antigos.  Pedro, na sua segunda carta, reconhece haver certa dificuldade na interpretação dos escritos de Paulo : “Ele (Paulo) disse isto também em suas cartas, se bem que nelas se encontrem algumas coisas difíceis que homem sem instrução e vacilantes deformam, para sua própria perdição” (2Pdr 2,16). Os destinatários de suas cartas pertenciam a classes sociais baixas e não podiam ser todos inteligentes e sábios. Eles também podiam não entender, ou entender mal, coisas que Paulo escrevia.

Hoje teólogos muito perspicazes em doutrina e história colocam à nossa disposição suas experiências para nos dar luzes sempre mais fúlgidas na interpretação das cartas paulinas. Todavia, não nos iludamos. Nós, vinte séculos distantes de Paulo, estamos em condições bem pior dos antigos destinatários e, portanto, entenderemos as cartas de Paulo muito menos do que eles.

Lembremos, porém, uma coisa importante. Se Paulo é de difícil interpretação, todavia não deve ser colocado de lado. Para catequistas, sacerdotes e Bispos é uma séria responsabilidade moral conhecer e fazer conhecer a doutrina paulina. Uma meditação feita sobre os escritos de Paulo vale 4 meditações sobre outros escritos excelentes (Ricciotti). É típico o exemplo de Santo Agostinho. Todos sabem que o último empurrão para a sua conversão aconteceu numa leitura ocasional de um trecho de Paulo:”Me agarrei avidissimamente sobretudo ao Apóstolo Paulo e se esvaíram em mim aquelas dúvidas que, como os adversários julgavam, não estariam de acordo com o testemunhos da Lei e dos Profetas.”... (Confissões VII, cap 21, &27). Aquele “avidissimamente” faz transparecer o estado de alma de um grande gênio que se encontrava com um outro grande gênio.

Este gênio semita tem uma boa cultura grega, recebida em Tarso desde a infância, e enriquecida pelos seus contínuos contatos com o mundo grego-romano. Esta influência se reflete na sua maneira de pensar, na sua linguagem, no seu estilo. Ele cita, na ocasião oportuna, autores clássicos (1Cor 15,33; Tt 1,12; At 17,28), conhece a filosofia popular baseada no estoicismo, tirando dela algumas noções. Imita a “diatribe”, maneira de discutir com perguntas e respostas, própria dos cínicos e dos estóicos. Suas argumentações seguem o fluxo e o defluxo das argumentações filosóficas da época. Fala corretamente o grego como uma segunda língua materna (At 21,40). Naturalmente é o grego popular, sem nenhuma pretensão de aticismo, pois despreza os artifícios da eloqüência humana e não quer fazer depender sua força de persuasão senão do poder da Palavra e da Fé, confirmada pelos sinais do espírito (1Ts 1,5; 1Cor 2,4s; 2Cor 16,21; Rm 15,18).  Por vez, sua expressão é incorreta e inacabada (1Cor 9,5), parecendo ser sua linguagem incapaz de conter o impulso de um pensamento rico demais ou de emoções demasiadamente vivas.

Em suas cartas há trechos que nos dão a impressão de uma redação longamente meditada (Ex: Cl 1,15-20) e outros trechos parecem saído de um primeiro impulso espontâneo e sem retoques. Seu estilo fogoso é, apesar ou por causa disto mesmo, de uma densidade extraordinária.  Muitos textos paulinos por seu vigor religioso e mesmo literário, permanecem, talvez, sem rival na história das cartas humanas.


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Discurso do Papa João XXIII na Abertura Solene do Concílio

CESEEP

Discurso do Papa João XXIII na Abertura Solene do Concílio

11 DE OUTUBRO 1962

Veneráveis irmãos,

Alegra-se a santa mãe Igreja, porque, por singular dom da Providência divina, amanheceu o dia tão ansiosamente esperado em que solenemente se inaugura o Concílio Ecumênico Vaticano II, aqui, junto do túmulo de São Pedro, com a proteção da Santíssima Virgem, de quem celebramos hoje a dignidade de Mãe de Deus.

Os Concílios Ecumênicos na Igreja

Todos os Concílios celebrados na história, tanto os 20 Concílios Ecumênicos, como os inúmeros Provinciais e Regionais, também importantes, testemunham claramente a vitalidade da Igreja Católica e constituem pontos luminosos da sua história.

O gesto do mais recente e humilde sucessor de são Pedro que vos fala, de convocar esta soleníssima reunião, pretendeu afirmar, mais uma vez, a continuidade do magistério eclesiástico, para o apresentar, em forma excepcional, a todos os homens do nosso tempo, tendo em conta os desvios, as exigências e as possibilidades deste nosso tempo.

É bem natural que, inaugurando o Concílio Ecumênico, nos apraza contemplar o passado, para ir recolher, por assim dizer, as vozes, cujo eco animador queremos tornar a ouvir na recordação e nos méritos, tanto dos mais antigos, como também dos mais recentes Pontífices, nossos predecessores: vozes solenes e venerandas, elevadas no Oriente e no Ocidente, desde o século IV até à Idade Média, e desde então até aos nossos dias, que transmitiram desde aqueles Concílios o seu testemunho; vozes a aclamarem em perenidade de fervor o triunfo da instituição divina e humana, a Igreja de Cristo, que recebe dele o nome, a graça e o significado.

Mas, ao lado dos motivos de alegria espiritual, é também verdade que sobre esta história se estende ainda, por mais de 19 séculos, uma nuvem de tristeza e de provações. Não é sem motivo que o velho Simeão manifestou a Maria, Mãe de Jesus, aquela profecia, que foi e permanece verdadeira: “Este menino está posto para ruína e para ressurreição de muitos, e será sinal de contradição” (Lc 2,34). E o próprio Jesus, chegando à idade adulta, fixou bem claramente a atitude que o mundo havia de continuar a tomar perante a sua pessoa através dos séculos, ao pronunciar aquelas palavras misteriosas: “Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10,16); e com aquelas outras, citadas pelo mesmo evangelista: “Quem não está comigo, está contra mim; e quem não recolhe comigo, desperdiça” (Lc 11,23).

O grande problema, proposto ao mundo, depois de quase dois milênios, continua o mesmo. Cristo sempre a brilhar no centro da história e da vida; os homens ou estão com ele e com a sua Igreja, e então gozam da luz, da bondade, da ordem e da paz; ou estão sem ele, ou contra ele, e deliberadamente contra a sua Igreja: tornam-se motivo de confusão, causando aspereza nas relações humanas, e perigos contínuos de guerras fratricidas.

Os Concílios Ecumênicos, todas as vezes que se reúnem, são celebração solene da união de Cristo e da sua Igreja, e por isso levam à irradiação universal da verdade, à reta direção da vida individual, doméstica e social; ao reforço das energias espirituais, em perene elevação para os bens verdadeiros e eternos.

Estão diante de nós, na sucessão das várias épocas dos primeiros 20 séculos da história cristã, os testemunhos deste magistério extraordinário da Igreja, recolhido em vários volumes imponentes: patrimônio sagrado dos arquivos eclesiásticos, tanto aqui em Roma como nas bibliotecas mais célebres do mundo inteiro.

Origem e causa do Concílio Ecumênico Vaticano II

No que diz respeito à iniciativa do grande acontecimento que agora se realiza, baste, a simples título de documentação histórica, reafirmar o nosso testemunho humilde e pessoal do primeiro e imprevisto florescer no nosso coração e nos nossos lábios da simples palavra “Concílio Ecumênico”. Palavra pronunciada diante do sacro Colégio dos Cardeais naquele faustíssimo dia 25 de janeiro de 1959, festa da Conversão de são Paulo, na sua Basílica. Foi algo de inesperado: uma irradiação de luz sobrenatural, uma grande suavidade nos olhos e no coração. E, ao mesmo tempo, um fervor, um grande fervor que se despertou, de repente, em todo o mundo, na expectativa da celebração do Concílio.

Três anos de preparação laboriosa, consagrados a indagar ampla e profundamente as condições modernas da fé e da prática religiosa, e de modo especial da vitalidade cristã e católica.

Pareceram-nos como um primeiro sinal, um primeiro dom de graça celestial.

Iluminada pela luz deste Concílio, a Igreja, como esperamos confiadamente, engrandecerá em riquezas espirituais e, recebendo a força de novas energias, olhará intrépida para o futuro. Na verdade, com atualizações oportunas e com a prudente coordenação da colaboração mútua, a Igreja conseguirá que os homens, as famílias e os povos voltem realmente a alma para as coisas celestiais.

E assim, a celebração do Concílio torna a ser motivo e singular obrigação de grande reconhecimento ao supremo dispensador de todos os bens, por celebrarmos com cânticos de exultação a glória de Cristo Senhor, Rei glorioso e imortal dos séculos e dos povos.

Oportunidade de celebrar o Concílio

Há ainda um argumento, veneráveis irmãos, que não é inútil propor à vossa consideração. Para tornar mais concreta a nossa santa alegria, queremos, diante desta grande assembléia, notar as felizes e consoladoras circunstâncias em que se inicia o Concílio Ecumênico.

No exercício cotidiano do nosso ministério pastoral ferem nossos ouvidos sugestões de almas, ardorosas sem dúvida no zelo, mas não dotadas de grande sentido de discrição e moderação. Nos tempos atuais, elas não vêem senão prevaricações e ruínas; vão repetindo que a nossa época, em comparação com as passadas, foi piorando; e portam-se como quem nada aprendeu da história, que é também mestra da vida, e como se no tempo dos Concílios Ecumênicos precedentes tudo fosse triunfo completo da idéia e da vida cristã, e da justa liberdade religiosa.

Mas parece-nos que devemos discordar desses profetas da desventura, que anunciam acontecimentos sempre infaustos, como se estivesse iminente o fim do mundo.

No presente momento histórico, a Providência está-nos levando para uma nova ordem de relações humanas, que, por obra dos homens e o mais das vezes para além do que eles esperam, se dirigem para o cumprimento de desígnios superiores e inesperados; e tudo, mesmo as adversidades humanas, dispõe para o bem maior da Igreja.

É fácil descobrir esta realidade, se se considera com atenção o mundo hodierno, tão ocupado com a política e as controvérsias de ordem econômica, que já não encontra tempo de atentar em solicitações de ordem espiritual, de que se ocupa o magistério da santa Igreja. Este modo de proceder não é certamente justo, e com razão temos de desaprová-lo; não se pode, contudo, negar que estas novas condições da vida moderna têm, pelo menos, esta vantagem de ter suprimido aqueles inúmeros obstáculos, com os quais, em tempos passados, os filhos do século impediam a ação livre da Igreja. De fato, basta percorrer mesmo rapidamente a história eclesiástica, para verificar sem sombra de dúvida que os próprios Concílios Ecumênicos, cujas vicissitudes constituíram uma sucessão de verdadeiras glórias para a Igreja Católica, foram muitas vezes celebrados com alternativas de dificuldades gravíssimas e de tristezas, por causa da intromissão indevida das autoridades civis. Elas, é certo, propunham-se, às vezes, proteger com toda a sinceridade a Igreja; mas, as mais das vezes, isto não se dava sem dano e perigo espiritual, porque eles procediam segundo as conveniências da sua política interesseira e perigosa.

A este propósito, confessamos-vos que sentimos dor vivíssima pelo fato de muitíssimos Bispos, que nos são tão caros, fazerem hoje sentir aqui a sua ausência, por estarem presos pela sua fidelidade a Cristo, ou detidos por outros impedimentos; a sua lembrança leva-nos a elevar fervorosíssimas orações a Deus. Porém, não sem grande esperança e com grande conforto para a nossa alma, vemos que a Igreja, hoje finalmente livre de tantos obstáculos de natureza profana, como acontecia no passado, pode desta Basílica Vaticana, como de um segundo Cenáculo Apostólico, fazer sentir por vosso meio a sua voz, cheia de majestade e de grandeza.

Fim principal do Concílio: defesa e difusão da doutrina

O que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz.

Essa doutrina abarca o homem inteiro, composto de alma e corpo, e a nós, peregrinos nesta terra, manda-nos tender para a pátria celeste.

Isto mostra como é preciso ordenar a nossa vida mortal, de maneira que cumpramos os nossos deveres de cidadãos da terra e do céu, e consigamos deste modo o fim estabelecido por Deus. Quer dizer que todos os homens, tanto considerados individualmente como reunidos em sociedade, têm o dever de tender sem descanso, durante toda a vida, para a consecução dos bens celestiais, e de usarem só para este fim os bens terrenos sem que seu uso prejudique a eterna felicidade.

O Senhor disse: “Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33). Esta palavra “primeiro” exprime, antes de mais, em que direção devem mover-se os nossos pensamentos e as nossas forças; não devemos esquecer, porém, as outras palavras desta exortação do Senhor, isto é: “e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33). Na realidade, sempre existiram e existem ainda, na Igreja, os que, embora procurem com todas as forças praticar a perfeição evangélica, não se esquecem de ser úteis à sociedade. De fato, do seu exemplo de vida, constantemente praticado, e das suas iniciativas de caridade toma vigor e incremento o que há de mais alto e mais nobre na sociedade humana.

Mas, para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade humana, que se referem aos indivíduos, às famílias e à vida social, é necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do patrimônio sagrado da verdade, recebido dos seus maiores; e, ao mesmo tempo, deve também olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno, que abriram novos caminhos ao apostolado católico.

Por esta razão, a Igreja não assistiu indiferente ao admirável progresso das descobertas do gênero humano, e não lhes negou o justo apreço, mas, seguindo estes progressos, não deixa de avisar os homens para que, bem acima das coisas sensíveis, elevem os olhares para Deus, fonte de toda a sabedoria e beleza; e eles, aos quais foi dito: “Submetei a terra e dominai-a” (Gn 1,28), não esqueçam o mandamento gravíssimo: “Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás” (Mt 4,10; Lc 4,8), para que não suceda que a fascinação efêmera das coisas visíveis impeça o verdadeiro progresso.

Como deve ser promovida a doutrina

Isto posto, veneráveis irmãos, vê-se claramente tudo o que se espera do Concílio quanto à doutrina.

O XXI Concílio Ecumênico, que se aproveitará da eficaz e importante soma de experiências jurídicas, litúrgicas, apostólicas e administrativas, quer transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios, que por vinte séculos, apesar das dificuldades e das oposições, se tornou patrimônio comum dos homens. Patrimônio não recebido por todos, mas, assim mesmo, riqueza sempre ao dispor dos homens de boa vontade.

É nosso dever não só conservar este tesouro precioso, como se nos preocupássemos unicamente da antiguidade, mas também dedicar-nos com vontade pronta e sem temor àquele trabalho hoje exigido, prosseguindo assim o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos.

A finalidade principal deste Concílio não é, portanto, a discussão de um ou outro tema da doutrina fundamental da Igreja, repetindo e proclamando o ensino dos Padres e dos Teólogos antigos e modernos, que se supõe sempre bem presente e familiar ao nosso espírito.

Para isto, não havia necessidade de um Concílio. Mas da renovada, serena e tranqüila adesão a todo o ensino da Igreja, na sua integridade e exatidão, como ainda brilha nas Atas Conciliares desde Trento até ao Vaticano I, o espírito cristão, católico e apostólico do mundo inteiro espera um progresso na penetração doutrinal e na formação das consciências; é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do “depositum fidei”, isto é, as verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas, conservando-lhes, contudo, o mesmo sentido e o mesmo alcance. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de apresentar as coisas que mais corresponda ao magistério, cujo caráter é prevalentemente pastoral.

Como se devem combater os erros

Ao iniciar-se o Concílio Ecumênico Vaticano II, tornou-se mais evidente do que nunca que a verdade do Senhor permanece eternamente. De fato, ao suceder uma época a outra, vemos que as opiniões dos homens se sucedem excluindo-se umas às outras e que muitas vezes os erros se dissipam logo ao nascer, como a névoa ao despontar o sol.

A Igreja sempre se opôs a estes erros; muitas vezes até os condenou com a maior severidade. Agora, porém, a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. Julga satisfazer melhor às necessidades de hoje mostrando a validez da sua doutrina do que renovando condenações. Não quer dizer que faltem doutrinas enganadoras, opiniões e conceitos perigosos, contra os quais nos devemos premunir e que temos de dissipar; mas estes estão tão evidentemente em contraste com a reta norma da honestidade, e deram já frutos tão perniciosos, que hoje os homens parecem inclinados a condená-los, em particular os costumes que desprezam a Deus e a sua lei, a confiança excessiva nos progressos da técnica e o bem-estar fundado exclusivamente nas comodidades da vida. Eles se vão convencendo sempre mais de que a dignidade da pessoa humana, o seu aperfeiçoamento e o esforço que exige é coisa da máxima importância. E o que mais importa, a experiência ensinou-lhes que a violência feita aos outros, o poder das armas e o predomínio político não contribuem em nada para a feliz solução dos graves problemas que os atormentam.

Assim sendo, a Igreja Católica, levantando por meio deste Concílio Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, pacien-te, cheia de misericórdia e bondade também com os filhos dela separados. Ao gênero humano, oprimido por tantas dificuldades, ela diz, como outrora Pedro ao pobre que lhe pedia esmola: “Eu não tenho nem ouro nem prata, mas dou-te aquilo que tenho: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda” (At 3,6). Quer dizer, a Igreja não oferece aos homens de hoje riquezas caducas, não promete uma felicidade só terrena; mas comunica-lhes os bens da graça divina, que, elevando os homens à dignidade de filhos de Deus, são defesa poderosíssima e ajuda para uma vida mais humana; abre a fonte da sua doutrina vivificante, que permite aos homens, iluminados pela luz de Cristo, compreender bem aquilo que eles são na realidade; a sua excelsa dignidade e o seu fim; e mais, por meio dos seus filhos, estende a toda parte a plenitude da caridade cristã, que é o melhor auxílio para eliminar as sementes da discórdia; e nada é mais eficaz para fomentar a concórdia, a paz justa e a união fraterna.

Promover a unidade na família cristã e humana

A solicitude da Igreja em promover e defender a verdade, deriva disso que, segundo o desígnio de Deus “que quer salvar todos os homens e que todos cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4), os homens não podem sem a ajuda de toda a doutrina revelada conseguir uma completa e sólida união dos espíritos, com a qual andam juntas a verdadeira paz e a salvação eterna.

Infelizmente, a família cristã, não atingiu ainda, plena e perfeitamente, esta visível unidade na verdade. A Igreja Católica julga, portanto, dever seu empenhar-se ativamente para que se realize o grande mistério daquela unidade, que Jesus Cristo pediu com oração ardente ao Pai celeste, pouco antes do seu sacrifício. Ela goza de paz suave, bem convicta de estar intimamente unida com aquela oração; e muito se alegra depois, quando vê que essa invocação estende a sua eficácia, com frutos salutares, mesmo àqueles que estão fora do seu seio. Mais ainda, se consideramos bem esta mesma unidade, impetrada por Cristo para a sua Igreja, parece brilhar com tríplice raio de luz sobrenatural e benéfica: a unidade dos católicos entre si, que se deve manter exemplarmente firmíssima; a unidade de orações e desejos ardentes, com os quais os cristãos separados desta Sé Apostólica ambicionam unir-se conosco; por fim, a unidade na estima e no respeito para com a Igreja Católica, por parte daqueles que seguem ainda religiões não-cristãs.

Quanto a isso, é motivo de tristeza considerar como a maior parte do gênero humano, apesar de todos os homens terem sido remidos pelo sangue de Cristo, não partilhem daquelas fontes da graça divina que existem na Igreja Católica. Por isso, à Igreja Católica, cuja luz tudo ilumina e cuja força de unidade sobrenatural beneficia toda a humanidade, bem se adaptam as palavras de São Cipriano: “A Igreja, aureolada de luz divina, envia os seus raios ao mundo inteiro; é, porém, luz única, que por toda a parte se difunde sem que fique repartida a unidade do corpo. Estende os seus ramos sobre toda a terra pela sua fecundidade, difunde sempre mais e mais os seus regatos: contudo, uma só é a cabeça, única é a origem, uma é a mãe copiosamente fecunda; por ela fomos dados à luz, alimentamo-nos com o seu leite, vivemos do seu espírito” (De Catholicae Ecclesiae unitate, 5).

Veneráveis irmãos, isto se propõe o Concílio Ecumênico Vaticano II, que, ao mesmo tempo que une as melhores energias da Igreja e se empenha por fazer acolher pelos homens mais favoravelmente o anúncio da salvação, como que prepara e consolida o caminho para aquela unidade do gênero humano, que se requer como fundamento necessário para que a cidade terrestre se conforme à semelhança da celeste “na qual reina a verdade, é lei a caridade, e a extensão é a eternidade” (Cf. Santo Agostinho, Epist. CXXXVIII, 3).

Conclusão

E agora, “dirige-se a vós a nossa voz” (2Cor 6,11), Veneráveis Irmãos no Episcopado. Eis-nos, finalmente, todos reunidos nesta Basílica Vaticana, onde está o eixo da história da Igreja: onde o céu e a terra estão estreitamente unidos, aqui junto do túmulo de Pedro, junto a tantos túmulos dos nossos Santos Predecessores, cujas cinzas, nesta hora solene, parecem exultar com frémito arcano.

O Concílio, que agora começa, surge na Igreja como dia que promete a luz mais brilhante. Estamos apenas na aurora: mas já o primeiro anúncio do dia que nasce de quanta suavidade não enche o nosso coração! Aqui tudo respira santidade, tudo leva a exultar! Contemplemos as estrelas, que aumentam com seu brilho a majestade deste templo; aquelas estrelas, segundo o testemunho do Apóstolo são João (Ap 1,20) sois vós mesmos; e convosco vemos brilhar aqueles candelabros dourados à volta do sepulcro do Príncipe dos Apóstolos, isto é, as igrejas a vós confiadas.

Vemos, ao vosso lado, em atitude de grande respeito e de expectativa cheia de simpatia, essas digníssimas personalidades aqui presentes, chegadas a Roma dos cinco continentes, para representarem as nações do mundo.

Pode dizer-se que o céu e a terra se unem na celebração do Concílio: os santos do céu, para proteger o nosso trabalho; os fiéis da terra, continuando a rezar a Deus; e vós, fiéis às inspirações do Espírito Santo, para procurardes que o trabalho comum corresponda às esperanças e às necessidades dos vários povos. Isto requer da vossa parte serenidade de espírito, concórdia fraterna, moderação nos projetos, dignidade nas discussões e prudência nas deliberações.

Queira o céu que as vossas canseiras e o vosso trabalho, para o qual se dirigem não só os olhares de todos os povos, mas também as esperanças do mundo inteiro, correspondam plenamente às aspirações comuns.

Deus todo-poderoso, em vós colocamos toda a nossa esperança, desconfiando das nossas forças. Olhai benigno para estes Pastores da vossa Igreja. A luz da vossa graça sobrenatural nos ajude a tomar as decisões e a fazer as leis, e ouvi todas as orações que vos dirigimos com unanimidade de fé, de palavra e de espírito.

Ó Maria, auxílio dos cristãos, auxílio dos Bispos, de cujo amor tivemos recentemente uma prova especial no vosso templo de Loreto, onde tivemos o prazer de venerar o mistério da Encarnação, disponde todas as coisas para um feliz resultado, e, juntamente com o vosso esposo são José, com os santos apóstolos são Pedro e são Paulo, com são João Batista e são João Evangelista, intercedei por nós junto de Deus.

A Jesus Cristo, amabilíssimo Redentor nosso, Rei imortal dos povos e do tempo, amor, poder e glória pelos séculos dos séculos. Assim seja!

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

SS. Pedro e Paulo | liturgiadashoras

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 295,1-2.4.7-8:PL38,1348-1352)                (Séc.V)

Estes mártires viram o que pregaram

            O martírio dos santos apóstolos Pedro e Paulo consagrou para nós este dia. Não falamos de mártires desconhecidos. Sua voz ressoa e se espalha em toda a terra, chega aos confins do mundo a sua palavra (Sl 18,5). Estes mártires viram o que pregaram, seguiram a justiça, proclamaram a verdade, morreram pela verdade.

            São Pedro, o primeiro dos apóstolos, que amava Cristo ardentemente, mereceu escutar: Por isso eu te digo que tu és Pedro (Mt 16,19). Antes, ele havia dito: Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo (Mt 16,16). E Cristo retorquiu: Por isso eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra construirei minha Igreja (Mt 16,18). Sobre esta pedra construirei a fé que haverás de proclamar. Sobre a afirmação que fizeste: Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo, construirei a minha Igreja. Porque tu és Pedro. Pedro vem de pedra; não é pedra que vem de Pedro. Pedro vem de pedra, como cristão vem de Cristo.

            Como sabeis, o Senhor Jesus, antes de sua paixão, escolheu alguns discípulos, aos quais deu o nome de apóstolos. Dentre estes, somente Pedro mereceu representar em toda parte a personalidade da Igreja inteira. Porque sozinho representava a Igreja inteira, mereceu ouvir estas palavras: Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (Mt 16,19). Na verdade, quem recebeu estas chaves não foi um único homem, mas a Igreja una. Assim manifesta-se a superioridade de Pedro, que representava a universalidade e a unidade da Igreja, quando lhe foi dito: Eu te darei. A ele era atribuído pessoalmente o que a todos foi dado. Com efeito, para que saibais que a Igreja recebeu as chaves do Reino dos Céus, ouvi o que, em outra passagem, o Senhor diz a todos os seus apóstolos: Recebei o Espírito Santo. E em seguida: A quem perdoardes os pecados, eles serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos (Jo 20,22-23).

            No mesmo sentido, também depois da ressurreição, o Senhor entregou a Pedro a responsabilidade de apascentar suas ovelhas. Não que dentre os outros discípulos só ele merecesse pastorear as ovelhas do Senhor; mas quando Cristo fala a um só, quer, deste modo, insistir na unidade da Igreja. E dirigiu-se a Pedro, de preferência aos outros, porque, entre os apóstolos, Pedro é o primeiro.

            Não fiques triste, ó apóstolo! Responde uma vez, responde uma segunda, responde uma terceira vez. Vença por três vezes a tua profissão de amor, já que por três vezes o temor venceu a tua presunção. Desliga por três vezes o que por três vezes ligaste. Desliga por amor o que ligaste por temor. E assim, o Senhor confiou suas ovelhas a Pedro, uma, duas e três vezes.

            Num só dia celebramos o martírio dos dois apóstolos. Na realidade, os dois eram como um só. Embora tenham sido martirizados em dias diferentes, deram o mesmo testemunho. Pedro foi à frente; Paulo o seguiu. Celebramos o dia festivo consagrado para nós pelo sangue dos apóstolos. Amemos a fé, a vida, os trabalhos, os sofrimentos, os testemunhos e as pregações destes dois apóstolos.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

A devoção ao Sangue de Cristo e seu significado

Jesus é coroado | Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

A devoção ao Sangue de Cristo e seu significado.

“Contemplemos com devoção o sangue de Jesus derramado até a última gota por nós na cruz pela redenção da humanidade” (São Pio de Pietrelcina)

O mês de julho é dedicado à devoção do preciosíssimo Sangue de Cristo, derramado pelo perdão dos nossos pecados. São João Batista apresentou Jesus ao mundo dizendo: “Eis o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). “Sem o Sangue desse Cordeiro não há salvação”. Em toda a celebração eucarística, de fato, torna-se presente, juntamente com o Corpo de Cristo, o seu precioso Sangue da nova e eterna Aliança, derramado por todos em remissão dos pecados (cf. Mt 26, 27).

O Sangue de Cristo representa a Sua Vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça divina para o perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. Quem for batizado e crer, como disse Jesus, será salvo (Mc 16,16) pelo Sangue de Cristo.

Em cada Santa Missa a Igreja renova, presentifica, atualiza e eterniza este Sacrifício de Cristo pela Redenção da humanidade. Em média, a cada quatro segundos essa oferta divina sobe ao Céu em todo o mundo. É o Sangue e o Sacrifício do Senhor oferecido ao Pai para satisfazer a Justiça divina ferida por nossos pecados.

Este Sangue está presente na Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus. Na Comunhão podemos ser lavados e inebriados pelo Sangue redentor do Cordeiro sem mancha que veio tirar o pecado de nossa alma. Mas é preciso parar para adorá-lo no Seu Corpo dado a nós. Infelizmente muitos ainda comungam mal, com pressa, sem Ação de Graças, sem permitir que o Sangue Real e divino lave a alma pecadora e doente.

O Catecismo da Igreja ensina que mesmo que o mais santo dos homens tivesse morrido na cruz, seria o seu sacrifício insuficiente para resgatar a humanidade das garras do demônio; era preciso um sacrifício humano, mas de valor infinito. Só Deus poderia oferecer este sacrifício; então, o Verbo divino, dignou-se assumir a nossa natureza humana, para oferecer a Deus um sacrifício de valor infinito. A majestade de Deus é infinita; e foi ofendida pelos pecados dos homens. Logo, só um sacrifício de valor infinito poderia restabelecer a paz entre a humanidade e Deus.

Hoje esse Sangue redentor de Cristo está à nossa disposição de muitas maneiras. Em primeiro lugar pela fé; somos justificados por esse Sangue ensina São Paulo:

“Mas eis aqui uma prova brilhante de amor de Deus por nós: quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós. Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu Sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5, 8-9).

São Pedro ensina que fomos resgatados pelo Sangue do Cordeiro de Deus mediante “a aspersão do seu sangue” (1Pe 1, 2). “Porque vós sabeis que não é por bens perecíveis, como a prata e o ouro, que tendes sido resgatados da vossa vã maneira de viver, recebida por tradição de vossos pais, mas pelo precioso Sangue de Cristo, o Cordeiro imaculado e sem defeito algum, aquele que foi predestinado antes da criação do mundo” (1Pe 1,19).

O Papa João Paulo II disse que: “O sinal do “Sangue derramado”, como expressão da vida doada de modo cruento em testemunho do amor supremo, é um ato da condescendência divina à nossa condição humana. Deus escolheu o sinal do sangue, porque nenhum outro sinal é tão eloquente para indicar o envolvimento total da pessoa”.

O Papa Bento XIV (1740-1748), ordenou a missa e o ofício em honra ao Sangue de Jesus, que foi estendida à Igreja Universal por decreto do Papa Pio IX (1846-1878). São Gaspar de Búfalo propagou fortemente esta devoção, tendo a aprovação da Santa Sé; foi o fundador da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue – CPPS, em 1815. Nasceu em Roma aos 06 de Janeiro de 1786.

O Sangue de Cristo representa a Sua Vida humana e divina, de valor infinito, oferecida à Justiça divina para o perdão dos pecados de todos os homens de todos os tempos e lugares. “Isto é meu sangue, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos homens em remissão dos pecados” (Mt 26, 28).

Assim, o Sangue do Senhor nos libertou do pecado, da morte eterna e da escravidão do demônio. São Paulo diz: “Portanto, muito mais agora, que estamos justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5,9). Por seu Sangue Cristo nos reconciliou com Deus: “por seu intermédio reconciliou consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).

Com o seu Sangue Cristo nos resgatou, nos comprou, nos fez um povo Seu: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue” (At 20,29). “Por esse motivo, irmãos, temos ampla confiança de poder entrar no santuário eterno, em virtude do Sangue de Jesus” (Hb 10,19).

Este Sangue redentor está à nossa disposição também no Sacramento da Confissão; pelo ministério da Igreja e dos sacerdotes o Cristo nos perdoa dos pecados e lava a nossa alma com o seu precioso Sangue. Infelizmente muitos católicos ainda não entenderam a profundidade deste Sacramento e fogem dele por falta de fé ou de humildade. O Sangue de Cristo perdoa os nossos pecados na Confissão e cura as nossas enfermidades espirituais e psicológicas.

Este Sangue está presente na Eucaristia: Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus.

“O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor” (1 Cor 10,16-27).

É pelo Sangue de Cristo que os santos e os mártires deram testemunho de sua fé e chegaram ao céu: “Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no Sangue do Cordeiro” (Ap 7,14). “Estes venceram-no por causa do Sangue do Cordeiro e de seu eloquente testemunho. Desprezaram a vida até aceitar a morte” (Ap 12, 11).

É pelo Sangue derramado que Ele venceu e se tornou Rei e Senhor:

“Está vestido com um manto tinto de Sangue, e o seu nome é Verbo de Deus…” (Ap 19,13-16).

O Sangue de Cristo por nós derramado deve nos levar a viver como Ele viveu. Como disse a Carta aos hebreus: “Portanto, irmãos, já que pelo Sangue de Cristo temos uma fundada esperança no acesso ao santuário… atendamos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras…” (Hb 10, 19.24).

Por estes e tantos outros motivos precisamos cultivar em nós a fé e a devoção ao Preciosíssimo Sangue de Jesus Cristo e colher as inúmeras bênçãos que o Senhor têm para distribuir em nossas vidas.

Retirado do livro: “Você conhece o poder do Sangue de Cristo?”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

Fonte: https://cleofas.com.br/

Reflexão para o XIV Domingo do Tempo Comum

Evangelho do domingo | Vatican News

“Jesus envia seus 72 discípulos a pregar a Boa Nova pelo mundo.”

Padre Cesar Augusto. SJ - Vatican News

O Evangelho de Lucas proclamado na liturgia deste domingo nos fala do envio, feito por Jesus, de 72 discípulos para prepararem sua chegada a toda cidade e lugar anunciando a Boa Nova.

Sabendo que na concepção rabínica da época havia no mundo 72 nações, podemos entender que o Senhor envia seus discípulos ao mundo todo para prepararem, com suas pregações, sua própria chegada, Ele o grande sinal da presença do Reino entre os homens.

Essa missão tão sublime exige deles atitudes exclusivas como não gastar tempo com cumprimentos pela estrada, confiar apenas na Providência, não levando nada consigo, mas estar desimpedido para desempenhar bem a tarefa e não ter outras preocupações.

Apesar da grandiosidade da missão, o Senhor avisa que eles poderão não ser bem recebidos, e que serão como cordeiros em meio a lobos. Deverão confiar apenas na Providência Divina e no Amor do Pai.

Irão dois a dois, para cumprir a exigência formal do testemunho de duas pessoas para uma declaração ser válida, além de dar visibilidade ao espírito comunitário, e deverão fazer tudo de modo urgente.

O dom da paz é o dom do próprio Deus. Como mensageiros de Deus, o discípulos deverão levar a paz a todos que os receberem. Eles são enviados do Senhor! Jesus não os envia para pregar obrigações e desgraças, mas para anunciar que são filhos queridos do Pai, que lhes proporciona o dom mais precioso: a Paz!

Os discípulos voltam com a tarefa cumprida e contam a Jesus como foi realizada. São portadores da alegria, dos sinais da vitória e Jesus lhes diz que viu “Satanás cair do céu, como um relâmpago”. Ou seja, o mundo se tornou mais bonito, mais justo, sem violência, sem sofrimento.

Também somos enviados pelo Senhor para preparar sua chegada na vida das pessoas. Isso deverá ter prioridade em nossa vida e nada nos deverá dificultar nossa ação. Nossa missão será levar a Paz, a certeza da Presença e do Amor de Deus.

Nosso trabalho de evangelização deverá comportar a pregação da justiça, do perdão, da vitória da vida. Isso nos transformará em exorcistas, não de Satanás personificado, mas daquilo que causa inferno e desgraça na vida das pessoas, todo e qualquer tipo de injustiça, de desamor.

Por outro lado, deveremos saber que ser anunciador da chegada de Jesus de modo algum não nos privilegia nos isentando de sofrimentos e preocupações. Somos companheiros do Senhor em sua “Via Sacra”.

No final do Evangelho de hoje, o Senhor nos diz qual deverá ser o motivo de nossa alegria, a alegria do missionário, do discípulo. Deveremos  ficar alegres porque o nosso nome foi inscrito no céu!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Por que o Papa quer que todos leiam o documento litúrgico do Vaticano II

Antoine Mekary | ALETEIA

Na sua nova carta, o Papa Francisco refere-se repetidamente à Sacrosanctum Concilium e à sua importância para a compreensão da liturgia.

Em sua recente carta apostólica Desiderio desideravi, o Papa Francisco reflete sobre a reforma da liturgia e faz frequentes referências ao documento fundamental do Concílio Vaticano II sobre a liturgia, a Sacrosanctum Concilium.

Ele explica: “somos chamados continuamente a redescobrir a riqueza dos princípios gerais expostos nos primeiros números da Sacrosanctum Concilium, captando a ligação íntima entre esta primeira das constituições do Concílio e todas as outras”.

Sacrosanctum Concilium foi o primeiro documento promulgado pelo Concílio Vaticano II e lançou as bases para a reforma que deveria ser iniciada após o Concílio.

No entanto, é um documento que é frequentemente subestimado e insuficientemente lido pelos fiéis leigos.

Para ajudar a corrigir essa tendência, o Papa Francisco menciona o documento 14 vezes na sua curta carta.

O Papa Francisco nota até mesmo a frequência com que ele se refere ao documento ao refletir sobre a arte da celebração, “uma forma de cuidar e crescer numa compreensão vital dos símbolos da Liturgia é certamente o ars celebrandi, a arte de celebrar. Esta expressão também está sujeita a diferentes interpretações. O seu sentido torna-se claro se nos referirmos ao sentido teológico da Liturgia descrita no Sacrosanctum Concilium n. 7, ao qual já me referi várias vezes”.

Em resumo, se quiser compreender plenamente a reforma da liturgia e os desejos do Papa Francisco e dos seus últimos predecessores, leia a constituição conciliar Sacrosanctum Concilium.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF