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terça-feira, 12 de julho de 2022

Os eventos que marcam a beatificação de João Paulo I em 4 de setembro

Papa João Paulo I Luciani na audiência com peregrinos da Diocese de Belluno,
pároco de Canale D'Agordo (Foto Albino Luciani Museum) 
(Museo Albino Luciani)

Na Missa de 4 de setembro, presidida pelo Papa Francisco, a petição será lida pelo bispo de Belluno-Feltre Marangoni, pelo postulador cardeal Stella e pela vice-postuladora Falasca. A vigília de sábado, 3, na Basílica de São João de Latrão, será presidida pelo cardeal vigário De Donatis, enquanto a Missa de Ação de Graças será no dia 11 de setembro em Canale d'Agordo, cidade natal de João Paulo I.

Alessandro Di Bussolo - Cidade do Vaticano

Faltam pouco mais de 50 dias para a beatificação de João Paulo I, marcada para domingo, 4 de setembro, na Praça de São Pedro, às 10h30 (horário italiano), e presidida pelo Papa Francisco. O escritório da postulação da causa comunica algumas informações importantes sobre os três principais compromissos agendados naqueles dias em Roma e em Canale d'Agordo, terra natal de Albino Luciani.

Missa de beatificação de 4 de setembro na Praça de São Pedro

Na Missa com o rito de beatificação, a petição será lida pelo bispo da Diocese de Belluno-Feltre, Dom Renato Marangoni, enquanto excepcionalmente sede da causa de canonização do venerável Papa Albino Luciani, juntamente com o postulador de a causa, cardeal Beniamino Stella e a vice-postuladora Stefania Falasca.

Durante a beatificação, a Postulação doará ao Pontífice um relicário com uma relíquia do novo beato. Para participar da celebração, os ingressos gratuitos devem ser solicitados à Prefeitura da Casa Pontifícia, enquanto todos os bispos e sacerdotes que desejarem concelebrar, e diáconos participar, devem se inscrever diretamente no site: biglietti.liturgiepontificie.va.

A Vigília em São João de Latrão em 3 de setembro

Na noite anterior, sábado, 3 de setembro de 2022, às 18h30, será realizada a Vigília de Oração na Basílica de São João de Latrão, presidida pelo cardeal Angelo De Donatis, vigário geral de Sua Santidade para a Diocese de Roma. Na Basílica, que custodia a Cátedra do Bispo de Roma, João Paulo I tomou posse em 23 de setembro de 1978. O momento de oração será animado por cantos e leituras de trechos de seu magistério. Os ingressos não serão obrigatórios para a participação, sendo a entrada gratuita.

Missa de Ação de Graças em 11 de setembro em Canale d'Agordo

A Missa de Ação de Graças pela beatificação de João Paulo I será celebrada no domingo, 11 de setembro de 2022, na Diocese de Belluno-Feltre. Será às 16h00 na praça de Canale d’Agordo, local de nascimento do novo beato, com a participação dos bispos e comunidades das três sedes episcopais em que o novo beato exerceu seu ministério sacerdotal e episcopal: o patriarcado de Veneza, liderado por Dom Francesco Moraglia, a Diocese de Belluno-Feltre, com Dom Renato Marangoni e a Diocese de Vittorio Veneto, com o bispo Corrado Pizziolo. A Missa será presidida pelo patriarca Francesco Moraglia, metropolita da Província Eclesiástica de Veneza. Para informações sobre o evento, a referência é o site da diocese: chiesabellunofeltre.it

A menina que recebeu o milagre, sua mãe e padre Dabusti na Sala de Imprensa

Nos dias que antecedem a beatificação, será realizada uma coletiva na Sala de Imprensa da Santa Sé, organizada pela Postulação, que também contará com a presença da menina argentina milagrosamente curada em 2011, graças à intercessão do venerável João Paulo I, Candela Giarda, a mãe Roxana Sousa e o padre José Dabusti, pároco da igreja próxima ao hospital de Buenos Aires onde Candela estava sendo tratada e que sugeriu invocar João Paulo I.

Falasca: a importância da coleta das fontes sobre o futuro beato

A causa de canonização foi aberta em 2003, vinte e cinco anos após sua morte, em sua Diocese natal de Belluno-Feltre, e foi concluída em 9 de outubro de 2017 com o decreto sobre as virtudes, sancionado pelo Papa Francisco.

"A abertura da Causa - sublinha a vice-postuladora Stefania Falasca, vice-presidente da Fundação vaticana João Paulo I - permitiu também um trabalho fundamental que nunca havia sido realizado precedentemente e que nos permite falar com conhecimento de Luciani: a aquisição das fontes. Um trabalho de pesquisa, de tutela patrimonial, de estudo da sua obra e do magistério que hoje é realizado pela nossa Fundação”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Dez Freis Franciscanos são ordenados sacerdotes em Jerusalém

Foto: Divulgação/Custodia Terrae Sanctae
Dos dez neo-sacerdotes, três são provenientes do México, seis da África (República Centro-africana e República Democrática do Congo) e um da Itália.

Israel – Jerusalém (11/07/2022 16:47, Gaudium Press) O Patriarca Latino de Jerusalém, S.B. Pierbattista Pizzaballa, presidiu a ordenação sacerdotal de dez freis franciscanos, realizada na Igreja do Convento de São Salvador no dia 29 de junho, Festa de São Pedro e São Paulo.

Dos dez neo-sacerdotes, três são provenientes do México, seis da África (República Centro-africana e República Democrática do Congo) e um da Itália. Apenas dois deles são incardinados na Custódia.

Foto: Divulgação/Custodia Terrae Sanctae

Jesus é sua razão de vida?

Em sua homilia, o Arcebispo Pizzaballa fez o seguinte alerta aos novos presbíteros: “Não pensem, caríssimos, agora que terminaram os estudo e finalmente se tornarão sacerdotes, que a viagem de vocês terminou, que alcançaram a meta. Ao contrário, começa agora”.

O prelado ressaltou ainda que os fiéis desejarão “perceber em vocês se Jesus é sua razão de vida ou não. Se a pergunta sobre Jesus pouco a pouco esculpe e molda sua identidade sacerdotal, então sua relação com as pessoas que vocês encontrarão também adquirirá a mesma dinâmica de escuta e formação”.

Foto: Divulgação/Custodia Terrae Sanctae

O ministério do sacerdócio pertence à Igreja

Segundo Pizzaballa, a relação com Jesus não é uma simples questão pessoal, mas é algo que inevitavelmente passa pela Igreja, que é o lugar onde o encontro com o Senhor é real, concreto, visível.

“Os sacramentos que vocês celebrarão, juntamente com a Palavra que proclamarão e o testemunho de suas vidas, serão o alimento de suas comunidades. Mas também a relação de obediência com os seus superiores, com os bispos, com Pedro, constitui a relação de vocês com Jesus. Não se pode dizer ‘sim’ a Cristo sem dizer ‘sim’ à Igreja”, destacou.

Por fim, ele advertiu que o Ministério recebido pelos novos sacerdotes não é para eles, mas “pertence à Igreja, que os entrega. A Igreja hoje entrega em suas mãos e confia em vocês para continuar no mundo a obra da Redenção. Sejam conscientes do quão precioso dom recebem hoje”. (EPC)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Audiência Geral do Papa das quartas-feiras fica suspensa em julho

Audiência Geral de 25 de maio de 2022  (Vatican Media)

As catequeses de Francisco serão retomadas numa quarta-feira, 3 de agosto.

Confira a agenda do Papa para julho, agosto e setembro

Andressa Collet - Vatican News

Como nos anos anteriores, a tradicional Audiência Geral das quartas-feiras na Praça São Pedro ficará suspensa no mês de julho para as habituais férias de verão no continente europeu. A pausa foi confirmada em comunicado divulgado nesta sexta-feira (1) pela Sala de Imprensa da Santa Sé. Desde 23 de fevereiro, após as reflexões sobre São José, o Pontífice tem dedicado a Audiência Geral aos idosos, através da história de algumas figuras presentes na Bíblia.

As catequeses do Papa Francisco serão retomados na quarta-feira, 3 de agosto. Durante esse período, porém, a oração mariana do Angelus aos domingos no Palácio Apostólico continua.

O mês, que normalmente era de descanso do Pontífice, já tem atividades oficiais confirmadas, como a agenda de audiências privadas no Vaticano. Além disso, o Papa preside no domingo (3) uma missa com a comunidade congolesa em Roma. Começa às 9h30 na hora italiana, 4h30 no horário de Brasília, na Basílica de São Pedro, com transmissão ao vivo dos canais do Vatican News, com comentários em português.

Para o final do mês de julho, está prevista a viagem apostólica do Papa Francisco ao Canadá de 24 a 30, onde a Igreja está empenhada num importante processo de reconciliação com os povos indígenas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Por que a Cruz?

Por que a Cruz? | Editora Cléofas

Por que a Cruz?

ERA NECESSÁRIO TANTO SOFRIMENTO?

Todos temos pousado muitas vezes o olhar sobre imagens de Cristo crucificado. Todos nós, cristãos, já meditamos nas dores que dilaceraram o corpo e a alma do Senhor. E é natural que nos tenhamos perguntado: “Por que a Cruz, por que essa Cruz terrível? Era necessário tanto sofrimento do Filho de Deus para a redenção da humanidade?”

A resposta é: “Não”. Todos os teólogos, todos os exegetas, todos os santos, dizem-nos que teria bastado o menor ato amoroso de Cristo, dotado de valor infinito – por ser verdadeiro Deus e verdadeiro homem -, para reparar por todos os pecados do mundo. Diante da Cruz de Cristo, estamos, pois, num “território de Deus”, que a lógica humana é incapaz de penetrar plenamente. Aos santos, esse abismo causava vertigens, vertigens amorosas, por certo, como contam que acontecia com São Francisco de Assis, extasiado diante de um crucifixo:

Era prudente esse amor, meu Salvador,

Que te fez descer até à terra? […]

Esse amor teu que me endoidece assim

Roubou-te a tua Sabedoria.

Esse amor que me faz desfalecer

Roubou-te a tua Onipotência.

Poverello de Assis ficava santamente desvairado ao contemplar a loucura de Deus de que fala São Paulo, que está acima da sabedoria dos homens 1.

Embora nós não “entendamos” essa loucura, vamos procurar ouvir a Deus – só Ele pode nos dar a resposta – e assim poderemos vislumbrar, pelo menos, três grandes verdades sobre a Cruz de Cristo, que estão inseparavelmente unidas, de tal modo que é difícil falar de uma delas sem mencionar as outras duas:

– O Filho de Deus sofreu e morreu na Cruz para nos salvar.

– O sofrimento e a morte de Cristo na Cruz foram um ato indescritível do amor de Deus.

– Na Cruz, este amor de Deus transformou o sofrimento em vida e redenção.

UM MISTÉRIO DE SALVAÇÃO

Na profissão de fé cristã, afirmamos solenemente que Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, por nós homens e pela nossa salvação, desceu dos Céus, encarnou-se no seio da Virgem Maria e se fez homem, por nós foi crucificado, padeceu e foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia e subiu aos céus 2

É uma verdade da nossa fé que São Paulo considerava básica, fundamental: Transmiti-vos, em primeiro lugar – escreve aos de Corinto – o que eu mesmo recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados… (1 Cor 15, 1). É uma verdade constantemente proclamada no Novo Testamento 3.

Repisemos – agora usando palavras de São Tomás de Aquino – que “essa verdade, isto é, que Cristo morreu por nós, é de tal modo difícil, que a nossa inteligência pode apenas apreendê-la, mas de modo algum descobri-la por si mesma […]. A graça e o amor de Deus para conosco são tão grandes, que Ele fez por nós mais do que podemos compreender” 4.

É assim mesmo. Mas, embora não compreendamos esse mistério, captamos um pouco dele; e esse pouco, mesmo sendo imperfeito, é uma forte luz para nós. Uma vez que sabemos – porque Deus o revelou – que Ele escolheu a Cruz para nos salvar, podemos entrever alguma coisa dos motivos, das “razões” dessa escolha divina, guiados pelo que o próprio Deus nos manifesta.

A primeira “razão” que se ilumina é a seguinte: só Cristo, como Filho Unigênito – Deus e homem – podia tomar sobre si os pecados de todos os homens com “um amor para com o Pai que superasse o mal de todos os pecados” 5, com um amor infinitamente maior que a maldade. Não só quis, por assim dizer, pagar o preço suficiente pelos nossos pecados (teria bastado uma gota do seu sangue), mas submergir todo o pecado, todo o mal do mundo – passado, presente e futuro – na plenitude do seu amor, imenso como um oceano sem limites, e autenticado pela prova de fogo do sofrimento.

Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco – diz São João, o Apóstolo –: em que enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para que por Ele vivamos […]. Nisto conhecemos o amor: Ele [Jesus] deu a sua vida por nós […]. Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas pelos de todo o mundo (1 Jo 4, 9; 3, 16 e 2, 2).

Podemos, deste modo, dizer que Jesus na Cruz é o “abraço amoroso de Deus” que envolve, protege e salva os seus filhos perdidos, manchados e feridos de morte pelo pecado. Cristo, que veio salvar o que estava perdido (cf. Lc 19, 10), interpõe-se entre os nossos pecados e o castigo que mereciam; por assim dizer, deixa que se arremessem ferozmente contra Ele todos os crimes, todos os males, todas as perversidades de todos os homens, e assume-os como se fossem próprios, para expiá-los (cf. 2 Cor 5,21). O pecado parece derrubar, destruir, aniquilar Jesus, mas é Ele quem o vence pelo amor, lavando-o com o seu sangue. Depois, triunfante, ressuscitará para a nossa justificação (Rom 4, 25), derramará copiosamente a graça do Espírito Santo nos nossos corações (cf. Rom 5, 5), e abrir-nos-á as portas da felicidade eterna.

Foi Ele – profetizara Isaías – que carregou sobre si as nossas enfermidades e carregou com as nossas dores […]. Por nossas iniqüidades é que foi ferido, por nossos pecados é que foi torturado. O castigo que nos havia de trazer a paz caiu sobre ele, e por suas chagas fomos curados (Is 53, 4-5).

“Para transmitir ao homem o rosto do Pai – diz João Paulo II -, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar também o «rosto» do pecado: Aquele que não havia conhecido o pecado, Deus o fez pecado por nós para que nos tornássemos nele justiça de Deus (2 Cor 5, 21)” 6.

A CRUZ ATINGE AS RAÍZES DO MAL

Demos mais um passo. Também podemos perceber, em segundo lugar, que é precisamente por meio da Cruz que Deus “atinge as raízes do mal, que se embrenham na história do homem e das almas humanas” 7.

Qual foi, e continua a ser, a raiz primeira do mal, do pecado? O orgulho, o egoísmo. O pecado dos nossos primeiros pais foi – revela-nos a Bíblia – um pecado de orgulho e de desobediência (cf. Gên 3, 1 e segs.). Todos os nossos pecados, no fundo, consistem nisso mesmo: em virar as costas a Deus, em desobedecer ao que o seu amor nos pede e voltar-nos para nós mesmos, como se fôssemos o centro de tudo – sereis como deuses (Gên 3, 5) -, movidos pelo egocentrismo orgulhoso e cobiçoso.

Essa foi a raiz do pecado. E a raiz da entrega de Cristo na Cruz, qual foi? São Paulo dá-nos a resposta: foi a humildade e a obediência do Filho de Deus. Humilhou-se a si mesmo, feito obediente até à morte, e morte de Cruz (Fil 2, 8). Com o seu amor salvador, Cristo foi até ao fundo do mal e aplicou-lhe, como médico divino, o remédio na própria raiz. Ao orgulho, princípio de todo o pecado (Ecl 10, 15), aplicou o remédio da sua humildade: um Deus-homem que se humilha. À desobediência, aplicou o remédio da obediência: um Deus-homem que cumpre a vontade do Pai até à morte, até à Cruz.

Com expressão que faz pensar, a Carta aos Hebreus afirma que Cristo, apesar de Filho de Deus, aprendeu a obedecer por aquilo que sofreu, e, uma vez atingida a perfeição, tornou-se, para todos os que lhe obedecem, fonte de salvação eterna (Hebr 5, 8-9). Enquanto homem, Cristo fez a experiência da obediência humana. No desafio da Cruz, lutou por unir a sua vontade à do Pai. Essa obediência fê-lo atingir a perfeição do sacrifício redentor com que reparou a desobediência de Adão e as nossas desobediências. Assim como, pela desobediência de um só [Adão], muitos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só [Cristo], muitos se tornaram justos (Rom 5, 19).

UM MISTÉRIO DE AMOR

Cristo, ao sofrer, faz a vontade do Pai, acabamos de vê-lo. Com isso, estamos prontos para assomar o olhar a mais uma abertura que nos permitirá alcançar de Deus novas luzes sobre o mistério da Cruz.

No Horto das Oliveiras, antes de padecer a Paixão, Cristo reza ao Pai: Abá, Pai! Tudo te é possível; afasta de mim este cálice. Contudo, não se faça o que eu quero, mas o que tu queres (Mc 14, 34-36).

Jesus é homem, e sente profunda repugnância pelo sofrimento. Mas o coração de Cristo encerra todo o Amor – todo o Amor divino num coração humano – e por isso quer acima de tudo o que o Pai quer, que é a nossa salvação. A palavra querer tem aqui a dupla riqueza de sentido que possui na nossa língua. Por um lado, significa o ato íntimo da vontade livre, não forçada; por outro, expressa o bem-querer, o ato de amor. Ambos os sentidos estão presentes na alma de Cristo.

Cristo quis a Cruz, livremente. Desejou-a com ardor: Com um batismo de sangue tenho que ser batizado, e como trago o coração apertado até que ele se realize! (Lc 12, 50). A Cruz não caiu de repente sobre Ele, como uma árvore que se atravessa inesperadamente no caminho. Ele amou-a livremente, ofereceu-se a ela, abraçou-a. “Com que amor se abraça – comenta São Josemaria Escrivá – ao lenho que Lhe há de dar a morte!” 8

O seu Sacrifício redentor foi, pois, plenamente voluntário. A Cruz foi o seu altar, e Jesus encaminhou-se para ela como Sacerdote, a fim de se oferecer a si mesmo como Vítima (cfr. Hebr 7, 27). Cristo amou-nos e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor (Ef 5, 1).

“A morte do Salvador – diz São Francisco de Sales – foi rigoroso holocausto que Ele próprio ofereceu ao Pai para a nossa redenção; ainda que as dores e padecimentos da sua paixão tenham sido tão graves e fortes que qualquer outro mortal teria sucumbido a eles, a Jesus não lhe teriam dado morte se Ele não o tivesse consentido, e se o fogo do seu amor infinito não tivesse consumido a sua vida. Ele foi, pois, sacrificador de si mesmo; ofereceu-se ao Pai e imolou-se no amor” 9.

Para que não tivéssemos disso a menor dúvida, pouco antes da Paixão Jesus disse de modo explícito ao povo, em Jerusalém, que o seu sacrifício era um ato de doação: Eu dou a minha vida […]. Ninguém a tira de mim; sou eu que a dou por mim mesmo (Jo 10, 17-18). E, na Última Ceia, atualizando já antecipadamente o mistério da Paixão – que deixou perenemente presente no mistério da Eucaristia -, deu-nos o seu Corpo e Sangue: o meu corpo, que vai ser entregue por vós; o meu sangue, que vai ser derramado por vós (Lc 22, 19-20).

Vemos, pois, que Deus ama a Cruz porque nos ama a nós; e é mediante a Cruz que quer manifestar-nos patentemente a infinita grandeza do seu amor.

“Cristo sofre e morre por amor – escreve Javier Echevarría -. O Pai envia o Filho para que, ao entregar a sua vida, dê testemunho definitivo do amor, e flua dEle, da Cruz, o Espírito Santo que tornará possível a nossa fé e, com esse dom divino, a salvação […]. Deus é o Deus do amor e da vida: um Deus que vence o pecado, o desamor e a morte que do desamor deriva, precisamente com o seu Amor, e nos faz renascer dessa forma para uma vida nova que não terá fim” 10.

MISTÉRIO DE AMOR SEM FIM

Vamos dar outro passo na nossa reflexão. E começaremos pelas palavras que São João usa para sintetizar o que aconteceu na Última Ceia e na Paixão de Jesus: Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim (Jo 13, 1).

Amar até o fim significa que, no caminho da sua entrega por nós na Cruz, Jesus seguiu todas as etapas, sem deixar uma só, e chegou até o final. As penúltimas palavras que pronunciou na Cruz foram: Tudo está consumado (Jo 19, 30), antes de clamar: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! (Lc 23, 46).

Mas amar até o fim também significa que Cristo, na Cruz, nos amou sem limite algum, sem recuo algum, sem poupar-se em nada, até ao máximo extremo.

Nada limitou o seu amor. Não se deteve em barreiras, não o arredou nenhuma dor, nenhum sacrifício, nenhum horror. Acima do seu bem-estar, da sua honra, da sua vida, colocou a salvação dos que amava, de cada um de nós.

Já pensamos no que é um amor ilimitado? Um amor que não depende de nada, nem exige nada, para se dar por inteiro? O amor de Cristo começa sem que nós o tenhamos amado, não é retribuição, é puro dom; e chega até ao extremo ainda que nós não correspondamos, melhor dizendo, no meio de uma brutal falta de correspondência. Nisto consiste o amor – esclarece São João –: não em termos nós amado a Deus, mas em que Ele nos amou primeiro e enviou o seu Filho para expiar os nossos pecados (1 Jo 4, 10).

A meditação da Paixão, neste sentido, é transparente. Nenhum sofrimento físico aparta Jesus da Cruz. Basta que contemplemos – como numa seqüência rápida de planos cinematográficos – Jesus preso, amarrado, arrastado indignamente, esbofeteado, açoitado até a sua carne se converter numa pura chaga, coroado de espinhos, esfolado e esmagado sob o peso da Cruz, cravado com pregos ao madeiro, torturado pela dor, pela sede, pelo esgotamento… Nada o detém na sua entrega amorosa.

Podemos projetar também – em flashes consecutivos – a seqüência dos seus sofrimentos morais, e perceber que tampouco conseguiram afastá-lo de chegar até ao fim. É caluniado, ridicularizado, julgado iniquamente, condenado injustamente; alvo de dolorosa ingratidão, de hedionda traição; é ferido pela infidelidade, pela falta de correspondência dos que amava e escolhera como Apóstolos; é atingido pelas troças mais grosseiras, pelos insultos mais ferinos, por escarros e tapas no rosto… Nada o faz recuar, nem sequer a última humilhação, pois não o deixaram morrer em paz, e desrespeitaram com zombarias e insultos os últimos instantes da sua agonia. Os que passavam perto da Cruz sacudiam a cabeça e diziam: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz!” Os príncipes dos sacerdotes, os escribas e os anciãos também zombavam dele: “Ele salvou a outros e não pode salvar-se a si mesmo! Se é rei de Israel, desça agora da cruz e creremos nele; confiou em Deus, que Deus o livre agora, se o ama…” (Mt 27, 39-43).

Esta doação sem limites de Cristo é o Amor que nos salva, o caminho que Ele quis escolher para nos livrar do mal, afogando-o em si – no seu Amor – como num abismo. Ao mesmo tempo, é um contínuo apelo ao nosso amor. “Quem não amará o seu Coração tão ferido? – perguntava São Boaventura -. Quem não retribuirá o amor com amor? Quem não abraçará um Coração tão puro? Nós, que somos de carne, pagaremos amor com amor, abraçaremos o nosso Ferido, a quem os ímpios atravessaram as mãos e os pés, o lado e o Coração. Peçamos que se digne prender o nosso coração com o vínculo do seu amor e feri-lo com uma lança, pois é ainda duro e impenitente” 11.

O SOFRIMENTO TRANSFIGURADO

O inefável Amor de Cristo na Cruz ilumina uma dimensão importante, única, do amor cristão, que é, justamente, uma das maiores luzes do mistério da Cruz.

João Paulo II põe em relevo essa luz com as seguintes palavras, ricas em profunddidade: “Por obra de Cristo, o sentido do sofrimento mudou radicalmente […]. É necessário descobrir nele a potência redentora, salvadora, do amor. O mal do sofrimento, no mistério da redenção de Cristo, fica superado e de todas as maneiras transformado: converte-se na força para a libertação do mal, para a vitória do bem.

“À luz desta verdade – prossegue o Papa -, todos os que sofrem podem sentir-se chamados a participar da obra da redenção realizada por meio da Cruz. Participar da Cruz de Cristo significa acreditar na potência salvífica do sacrifício que todos os fiéis podem oferecer junto com o Redentor” 12.

Cristo não suprimiu o sofrimento: assumiu-o, fê-lo seu. Não eliminou o sofrimento, mas transfigurou-o em meio e expressão de amor e de redenção. Deixou-o no mundo, não como um lastro mortal, mas como uma fonte de vida e de alegria.

Ao lermos estas palavras, que recolhem os fulgores da verdade cristã, talvez sintamos de a vertigem e o desconcerto que se experimentam ante o mistério.

Se for assim, olhemos de novo para Cristo e tenhamos presente que – como ensina a Igreja – “o Filho de Deus, pela sua Encarnação, se uniu de certo modo a cada homem” 13, a cada um de nós. Dizer isto não é exagero nem retórica; pelo contrário, nós, os cristãos, podemos afirmar, com alegre convicção, que Cristo está unido aos nossos sofrimentos como se fossem seus. Ele sofre conosco, une a nossa dor à sua dor na Cruz, e quer ajudar-nos a transformar os nossos padecimentos – dando-lhes o mesmo sentido que aos dEle – num tesouro de amor, de graça, de salvação, de gozo (cf. Rom 8, 17-18).

Por isso, quando sentirmos o peso do sofrimento, e talvez nos perguntemos: “Por que Deus, que é bom, me deixa sofrer assim?”, fitemos Jesus na Cruz e digamos: “O meu Deus não é um Deus longínquo, que contempla fria ou indiferentemente as dores dos homens. Não está olimpicamente fechado na sua glória bem-aventurada, para lá das estrelas. Se fosse assim, seria difícil não nos sentirmos confusos, desolados e até revoltados. Mas não, o meu Deus é Jesus Cristo, é nEle que eu creio. E Cristo compartilhou conosco todas as nossas dores, quis conhecê-las todas, quis prová-las todas. Ele sabe. Ele me entende. Ele me acompanha. No sofrimento, Ele está, mais do que nunca, perto de mim. No sofrimento, eu posso estar, mais do que nunca, unido a Ele”.

Então, ao encararmos o abismo da Dor – sobretudo quando o nosso sofrimento for mais intenso -, em vez de vermos um buraco negro ameaçador, contemplaremos o rosto de Cristo, e perceberemos que nos olha com ternura, nos anima e – sorrindo – nos faz entender, como aos discípulos após a Ressurreição, que o sofrimento por Ele transfigurado é a porta que – juntamente com Ele – nos conduz para o Amor eterno, para a Alegria, para a Glória (cfr. Lc 24, 26).

Então, nenhum sofrimento nos parecerá grande demais, e poderemos dizer com São Paulo que a nossa leve e momentânea tribulação prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória (2 Cor 4, 17); encontraremos a paz na dor, e proclamaremos com alegria: Tenho como coisa certa que os sofrimentos do tempo presente nada são, em comparação com a glória que se há de revelar em nós (Rom 8, 18).

(Adaptação de um trecho do livro de F. Faus: A sabedoria da Cruz)

1 1 Cor 1,25

2 Símbolo Niceno-Constantinopolitano

3 Ver, p.e., Rom 4,25; Gál 1,4; Ef 1,7; 1 Pe 3,18; 1 Jo 1,7; 1 Jo 2,2; Apoc 1,5, etc, etc.

4 Exposição sobre o Credo, Presença, Rio e Janeiro 1975, pág. 44

5 João Paulo II, Carta Apostólica Salvifici doloris, n. 17

6 João Paulo II, Carta Apostólica Novo millennio ineunte, n. 25

7 Ibidem, n. 16

8 Via Sacra, II estação

9 Tratado do Amor de Deus, 10,17

10 Itinerarios de vida cristiana, Ed. Planeta, Barcelona 2001, págs. 172 1 174

11 Vitis mystica, 3,11

12 Alocução da quarta-feira, 9.11.1998

13 Concílio Vaticano II, Const. Pastoral Gaudium et spes, n. 22

Fonte: https://www.presbiteros.org.br/

Quanto mais amor damos ao próximo, mais amor recebemos de Deus

Shutterstock | LittlePerfectStock
Por Mário Scandiuzzi

Um testemunho importante sobre a alegria e as recompensas de servir a Deus e à Igreja.

Minha esposa e eu temos nos dedicado ao Segue-me, o encontro de jovens com Cristo, em nossa cidade. Uma vez por ano fazemos parte das reuniões que antecedem o encontro, com espiritualizações e ensaios, nos preparando junto com os outros participantes para vivenciar este tão esperado momento. 

O Segue-me começa numa sexta-feira e vai até o domingo, com diversas atividades que levam o jovem a uma reflexão e a um verdadeiro encontro com Cristo. 

Tive a oportunidade de fazer o Segue-me em Brasília, quando era adolescente. Há 20 anos o encontro passou a ser realizado também em nossa cidade (Itumbiara-GO) e em praticamente todos eles estivemos presentes. Nossas filhas também já fizeram o Segue-me, o que foi motivo de muita alegria para nós.  

Mas este ano o encontro teve um sabor especial. Foram dois anos sem a realização do Segue-me por causa da pandemia. E no ano de 2020, a suspensão se deu quatro dias antes da data marcada. Tenho certeza que São Miguel Arcanjo, o padroeiro do encontro neste ano, trabalhou muito. Ele colocou sua milícia celeste em ação para que jovens e casais pudessem partilhar de um momento tão especial. 

Saímos de lá cansados, mas com a sensação de dever cumprido. Foram três dias de orações e atividades que nos colocaram mais perto de Deus, e nos mostraram como o Pai age para o bem daqueles que O amam. 

O que fica gravado em nossos corações é o amor pregado por Jesus. E como bem escreveu São Francisco, em sua oração mais famosa: “É dando que se recebe”. E assim percebemos que quanto mais amor damos ao próximo, mais amor recebemos de Deus. Quanto mais nos doamos aos irmãos, mais Deus se doa para nós e nos cobre de bênçãos. 

O Segue-me dura um fim de semana, mas os frutos que ele produz em nossas vidas duram para sempre.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Santa Olga

Santa Olga | arquisp
11 de julho

Santa Olga

Olga, a primeira santa russa inserida no calendário católico bizantino, é considerada o elo entre a época pagã e a cristã, na história das populações eslavas. As fontes que a citam são numerosas e todas de relevância histórica.

Delas aprendemos que Olga nasceu em 890, na aldeia Vybut, próxima de Pskov e do rio Velika, Rússia. Era uma belíssima jovem típica daquela região. Em 903, quando o príncipe Igor a avistou, logo quis casar-se com ela, apesar de sua pouca idade. Na realidade, Olga era filha do chefe dos Variagi, uma tribo normanda de origem escandinava, responsável por vários pontos estratégicos, pois se dedicavam à exploração do transporte e do comércio.

O seu casamento foi um símbolo concreto da fusão do povo russo com aquele variago, que ao final do século IX começava a viver sob a influência do cristianismo. Em 945, o príncipe Igor, marido de Olga, foi assassinado e ela, com um temperamento correto, mas violento, vingou-se com firmeza. Mandou matar muitos chefes inimigos e, para os sobreviventes, impôs tributos e taxas de todos os tipos.

Tornou-se a regente para o filho Esviatoslav, de três anos de idade, governando Kiev com esperteza política e colocando o principado numa excelente condição financeira. Era amada pelo povo, que a reconhecia como justa e misericordiosa, mas também severa e inflexível. Educou o filho corretamente, mas não teve a felicidade de vê-lo converter-se ao cristianismo como ela tinha feito. Essa satisfação desfrutou seu neto Vladimir, que, além de tornar-se cristão e batizado, depois veio a ser o "batizador da Rússia", "novo apóstolo" e santo da Igreja.

Olga tentou estreitar os laços com o sólido Império de Bizâncio por meio do casamento de seu filho com uma princesa de lá. Em 957, viajou para Constantinopla, mas não obteve bons resultados, para desilusão dos cristãos e satisfação dos pagãos. Por isso os cristãos buscavam apoio no imperador Otto I da Saxônia, que era católico. Em 959, eles lhe pediram que enviasse um bispo para a Rússia, o qual ficou só três anos, pois foi expulso devido à revolta dos pagãos.

Olga rezava dia e noite pela conversão do filho e para o bem dos súditos. Ao terminar a regência, segundo as leis da época, retirou-se para suas atividades privadas, dando continuidade às obras de seu apostolado e de missionária. Construiu algumas igrejas, inclusive a de madeira dedicada à santa Sofia, em Kiev.

Viveu piamente e morreu com quase oitenta anos, em 11 de julho de 969. Dela escreveu seu biógrafo: "Antes do batismo, a sua vida foi manchada por fraquezas e pecados. Ela, mesmo assim, tornou-se santa, certamente não pelo seu próprio merecimento, mas por um plano especial de Deus para o povo russo".

A veneração por santa Olga começou durante o governo do seu neto Vladimir, que, em 996, mandou transferir as relíquias da avó para a igreja que mandara construir especialmente para recebê-las. O seu culto foi confirmado pela Igreja no Concílio Russo de 1574, mantendo a festa litúrgica no mesmo dia em que ocorreu seu trânsito.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF