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domingo, 17 de julho de 2022

“No entanto, uma só coisa é necessária.”

Editora Cidade Nova

“No entanto, uma só coisa é necessária.” (Lc 10,42) | Palavra de Vida Julho 2022

Jesus está a caminho de Jerusalém, onde em breve cumpriria sua missão, e faz uma parada num povoado, na casa de Marta e Maria.

por Web Master   publicado em 29/06/2022.

O evangelista Lucas descreve deste modo a recepção que as duas irmãs deram a Jesus: Marta, em seu tradicional papel de dona de casa, “ocupada com os muitos serviços”1 próprios da hospitalidade; enquanto Maria, “sentada aos pés do Senhor, ouvia sua palavra” (v. 39). A atenção de Maria contrasta com a agitação de Marta. E, diante da sua queixa por ter sido deixada sozinha na tarefa de servir, Jesus responde: “Marta, Marta! Tu andas preocupada e agitada por muitas coisas. No entanto, só uma coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada” (v. 41-42). Esse trecho do Evangelho se encontra depois da parábola do Bom Samaritano – talvez a página mais sublime quanto à caridade para com o próximo – e antes daquela em que Jesus ensina os discípulos como devem orar – certamente a página mais sublime quanto ao relacionamento com Deus Pai. Portanto, é como se esse trecho representasse o ponto de equilíbrio entre o amor ao irmão e o amor a Deus.

“No entanto, uma só coisa é necessária.”

As protagonistas dessa passagem do Evangelho são duas mulheres. O diálogo que ocorre entre Jesus e Marta mostra a relação de amizade entre eles, tanto que ela se sente à vontade para reclamar junto ao Mestre. Mas qual é o serviço que Jesus deseja? O que importa a Ele é que Marta não fique agitada, que abandone o papel tradicional atribuído às mulheres e que também ela comece a escutar a Sua Palavra, como Maria, que assume um papel novo, o de discípula. A mensagem desse texto foi frequentemente reduzida a uma contraposição entre vida ativa e vida contemplativa, como se fossem duas abordagens religiosas alternativas. Mas tanto Marta como Maria amam Jesus e querem servi-lo. Com efeito, no Evangelho não se diz que a oração e a escuta da Palavra são mais importantes do que a caridade. Mas precisamos encontrar uma forma de unir esses dois amores de maneira indissolúvel. Dois amores, o amor a Deus e o amor ao próximo, que não se opõem um ao outro, mas que se complementam, porque o Amor é um só.

“No entanto, uma só coisa é necessária.”

Então, só falta entender bem qual é essa única coisa necessária. Quanto a isso, o início da frase “Marta, Marta...” (v. 41) pode nos ajudar. À primeira vista, a repetição do nome pode até parecer o anúncio de uma repreensão. Mas, na realidade, ela representa o modo típico de alguém perceber o “chamado à vocação”. Leva-nos a pensar, portanto, que Jesus está chamando Marta a se relacionar com Ele de uma maneira nova, a estabelecer um vínculo que não seja como o de um servo, mas de um amigo que entra em um relacionamento profundo com Ele. Chiara Lubich escreve: Jesus se valeu dessa circunstância para explicar aquilo que é mais necessário na vida do homem. [...] Escutar a Palavra de Jesus. E para Lucas, que escreveu esta passagem, escutar a Palavra significa também vivê-la. [...] Esta deve ser também a sua atitude: acolher a Palavra e deixar que ela realize em você uma transformação. E não só, mas é preciso ser fiel a essa Palavra, guardando-a em seu coração para que ela possa moldar a sua vida, assim como a terra conserva em si a semente a fim de que possa germinar e produzir frutos. Produzir, portanto, frutos de vida nova, efeitos da Palavra.2

“No entanto, uma só coisa é necessária.”

Quem sabe quantas ocasiões também nós temos de acolher o Mestre na intimidade da nossa casa, justamente como Marta e Maria, podendo colocar-nos à escuta, aos pés Dele, como verdadeiros discípulos. Muitas vezes as inquietações, as doenças, os compromissos e até mesmo as alegrias e os momentos de satisfação nos dispersam no turbilhão das coisas a serem feitas, não nos deixando o tempo de parar a fim de reconhecer o Senhor, para escutá-lo.
Essa Palavra de Vida é uma oportunidade preciosa para nos exercitarmos na escolha da melhor parte, ou seja, na escuta da Sua Palavra, para adquirirmos aquela liberdade interior que pode nos fazer agir coerentemente na nossa vida do dia a dia, em atitudes que são frutos de uma relação de amor, a qual dá sentido tanto ao serviço quanto à escuta.

Confira a Palavra de Vida Julho 2022 no site nacional do Movimento dos Focolares. 

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/

15 ANOS DE APARECIDA

cnbb.org

15 ANOS DE APARECIDA: “O DOCUMENTO ENSINA QUE A IGREJA É MORADA DE POVOS E IRMÃOS E CASA DOS POBRES”, RELEMBRA PRESIDENTE DA CNBB

O arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, em vídeo, destaca um trecho do documento da Conferência de Aparecida que traduz uma prece do episcopado latino-americano e caribenho:

“Louvamos a Deus pelos homens e mulheres da América Latina e Caribe que, movidos por sua fé, têm trabalhado incansavelmente na defesa da dignidade da pessoa humana, especialmente dos pobres e marginalizados. Em seu testemunho levado até a entrega total resplandece a dignidade do ser humano”.

De acordo com o presidente da CNBB, esta passagem do Documento de Aparecida mostra bem que “a cidadania civil deve sempre estar unida à cidadania eclesial”. De acordo com dom Walmor, o documento ensina que a Igreja é morada de povos e irmãos e casa dos pobres. Isto, reforça o arcebispo de Belo Horizonte, coloca para os cristãos o desafio de enxergar cada pessoa como irmão e irmã. “Não se pode viver tranquilamente quando os irmãos sofrem com a fome, com a miséria, a violência e tantos outros males”, disse. 

Conheça os destaques que o presidente da CNBB faz da Conferência de Aparecida:

https://youtu.be/jk8gl49E06g

V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho

Francisco | cnbb

A V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho foi realizada em Aparecida, de 13 a 31 de maio de 2007. Inaugurada pelo Papa Bento XVI, a Conferência de Aparecida recorda que: “Os discípulos, que por essência são também missionários em virtude do Batismo e da Confirmação, são formados com um coração universal, aberto a todas as culturas e a todas as verdades, cultivando a capacidade de contato humano e de diálogo”. (DAp 377)

Aparecida reafirma as grandes linhas eclesiológicas e pastorais das Conferências anteriores: o espírito eclesial do Rio de Janeiro, o espírito de comunhão do Concílio Vaticano II e de Medellín, o espírito de participação de Puebla e o espírito da Nova Evangelização de Santo Domingo. Destaque para a participação do cardeal Jorge Mario Bergoglio, então arcebispo de Bueno Aires, hoje Papa Francisco.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Maior Rosário do Mundo é construído no Líbano

Foto: Facebook/Rosary of Lebanon
A construção, que já está em sua fase final, terá 600 metros de comprimento e 59 capelas, cada uma com cinco metros de comprimento por 3,5 metros de largura.

Líbano – Beirute (15/07/2022 12:38, Gaudium Press) Um Rosário de 600 metros de comprimento está em fase final de construção no Líbano. Localizado entre as cidades de Deir El Ahmar e Beshouat, na região de Bekaa, este já é considerado o maior rosário do mundo.

Cada uma das 59 contas desse imenso Rosário na realidade são capelas, de cinco metros de comprimento por 3,5 metros de largura, nas quais os fiéis poderão percorrer recitando a oração mariana.

Foto: Facebook/Rosary of Lebanon

Rosário iluminado

Assim que a obra estiver pronta, o maior Rosário do mundo, com os seis Pai Nossos e 53 Ave Marias do Terço, será iluminado durante as noites, ficando visível do Céu. Este grande Rosário foi construído a cerca de trinta quilômetros da Síria.

A construção levará os peregrinos até a cruz da Ressurreição e a um grande auditório destinado a realização de celebrações. Abaixo da Cruz haverá uma capela dedicada à oração diante do Santíssimo Sacramento.

História do maior Rosário do mundo

A ideia de se construir um Rosário com estas proporções surgiu de um jovem libanês que no ano de 2006 foi preso por engano enquanto peregrinava em Medjugorje, na Bósnia e Herzegovina.

Ao pedir a intercessão de Nossa Senhora para que fosse libertado, sentiu a inspiração para criar um santuário mariano. Ao ser libertado, juntou fundos para tirar o projeto do papel. Em 2008 foi iniciada a construção em um terreno pertencente à ordem libanesa maronita.

Foto: Facebook/Rosary of Lebanon

Igreja Católica no Líbano

Segundo as estatísticas oficiais divulgadas pelo Vaticano, atualmente a Igreja Católica está presente no Líbano com dez Dioceses e mais de 800 paróquias, além de sete outras jurisdições no Oriente Médio. Até o final de 2006 haviam 1.413.652 católicos maronitas no país. (EPC)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM - Ano C

Dom Paulo Cezar | arqbrasilia

XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM

Palavra do Pastor

Dom Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

Uma só Coisa é Necessária

            Neste domingo, a Palavra de Deus coloca diante de nós a visita de Jesus à casa de Marta e Maria (Lc 10, 38 – 42). O Evangelho apresenta a atitude de duas irmãs com relação à visita de Jesus. O Evangelho dá a entender que Marta fosse a dona de casa, pois diz: “… certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa”.  Marta quer oferecer uma hospedagem digna para Jesus. A hospedagem para o mundo bíblico é algo muito importante. Abraão recebendo os três viajantes recebeu o próprio Deus (Gn 18, 1-10).

Mas, este Evangelho quer ir além, pois enquanto Marta está preocupada com os muitos afazeres, Maria está sentada aos pés de Jesus ouvindo-o: “Maria ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra”. Jesus é apresentado como mestre, como aquele que ensina, e Maria está aos seus pés, escutando-O. É evidente que São Lucas quer afirmar o primado da escuta da Palavra de Deus.  Maria é apresentada como modelo do discípulo que, na vida do dia a dia, não se deixa afogar pelos muitos afazeres, mas sabe distinguir o que é fundamental a cada momento. Por isso, a observação de Jesus a Marta: “Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas com muitas coisas; no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só”.

O Evangelho não quer contrapor Marta e Maria, vida contemplativa e vida ativa. Ele quer que cada cristão, cada discípulo de Jesus Cristo seja capaz de, em cada momento, escolher a melhor parte. Ele quer que encontremos momentos na nossa vida para ouvirmos a Palavra de Deus, para estarmos com o Senhor, para exercermos a dimensão contemplativa da vida que, nas palavras de Carlo Maria Martini, é aquele momento de distanciamento da realidade, de reflexão e avaliação das coisas à luz da fé, que é muito necessário para não sermos atropelados pelos compromissos cotidianos: “é um tempo do Espírito”. Vive-se hoje numa sociedade da eficiência, do fazer, do realizar, onde o perigo está na fragmentação da vida, das mil coisas que fazemos, no qual o ser humano vai perdendo aquela unidade essencial, fundamental na vida. O encontro com a Palavra de Deus, com a leitura orante da Palavra de Deus, vai nos fazendo experimentar o amor de Deus.

O encontro orante com a Palavra de Deus nos torna homens e mulheres que buscam viver da vontade de Deus, que afirmam o primado de Deus. A vontade de Deus se manifesta mediante a escuta orante da Palavra. Ela vai realizando em nós, no hoje da história, aquilo que fez com os grandes personagens da história da Salvação: Abraão, Moisés, Isaías, Jeremias, Maria, os apóstolos etc. Ela quer continuar a formar, ainda hoje, homens e mulheres livres e operantes.

Por isso, o plano pastoral da nossa Arquidiocese coloca no centro a Palavra de Deus: “Igreja em Brasília: Casa da Palavra”. A Palavra de Deus é um lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo, de formação do discípulo missionário, de formação da comunidade missionária. É preciso estarmos como Maria, aos pés do mestre Jesus Cristo, ouvindo-O.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Bartolomeu de Las Casas

Bartolomeu de Las Casas | arquisp
17 de julho

Bartolomeu de Las Casas

Bartolomeu de Las Casas nasceu em Sevilha, na Espanha, no ano de 1474. Seu pai era um mercador da esquadra de Colombo, na segunda viagem ao novo continente. Estudou na Universidade de Salamanca, onde se graduou em direito. Foi para a América como conselheiro legal do governador, chegando, em 15 de abril de 1502, na ilha Espanhola.

Como a maioria, Bartolomeu estava motivado pelo espírito aventureiro e explorador de riquezas, logo se adaptando ao estilo de vida influente dos colonizadores. No início, aceitou o ponto de vista convencional quanto à exploração da população indígena. Ele também participou dos ataques contra as tribos, e os escravizava em suas plantações.

Depois viajou para Roma, onde terminou os estudos e ordenou-se sacerdote em 1507. A rainha Isabel, chamada "a católica", da Espanha, considerava a evangelização dos índios a justificativa mais importante para a expansão colonial. Insistia para que os sacerdotes e frades estivessem entre os primeiros a fixarem-se na América. Em 1510, Bartolomeu de Las Casas retornou à ilha Espanhola, agora como missionário, para combater o tratamento cruel e desumano dado aos índios pelos colonizadores.

Para defender os índios no novo continente, Bartolomeu viajou várias vezes à Espanha, apelando aos oficiais do governo e a todos que o quisessem ouvir. Desde que ingressou na vida religiosa dominicana, ele se dedicou à causa indígena em defesa da vida, da liberdade e da dignidade. Lutou, também, para que tivessem direitos políticos, de povos livres e capazes de realizar uma nova sociedade, mais próxima do Evangelho.

A prioridade, para Bartolomeu, era a evangelização. Com tal propósito, viajou pela América Central fazendo um trabalho pioneiro, registrando tudo em seus diários. Foi perseguido pelos colonizadores espanhóis de São Domingos, Peru, Nicarágua, Guatemala e do México. Neste último país, foi nomeado bispo aos setenta anos de idade, em 1544. Mas ficou apenas três anos em Chiapas, sempre perseguido pelos espanhóis.

Em 1547, partiu da América para não mais voltar. Regressou à Espanha, continuando lá a defesa dos índios, quando corrigiu e publicou seus escritos, todos se contrapondo à política colonial. Porém suas idéias foram contestadas na América e também na Espanha. Tanto que, em 1552, suas obras foram censuradas e proibidas para leitura.

Morreu aos noventa e dois anos de idade no Convento Dominicano de Atocha, no dia 17 de julho de 1566, em Madri, Espanha. Muito querido do povo mexicano, seu nome, hoje, é lembrado como um dos maiores humanistas e missionários da história do cristianismo.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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A NASA descobriu o inferno?

Foto: NASA/ Unplash
Atualmente fala-se do planeta 55 Cancri, muito próximo da sua estrela.

Redação (16/07/2022 11:16Gaudium Press) “Os cientistas parecem ter descoberto o lugar do inferno, o planeta 55 Cancri, porque está tão perto de sua estrela que é como lava derretida. Todos os materiais são líquidos devido à altíssima temperatura que experimentam”: essas palavras são de Pe. Mario Arroyo, doutor em filosofia e professor da Universidade Pan-Americana, relatadas no final de maio pela Aciprensa.

O sacerdote está se referindo ao planeta 55 Cancri, um exoplaneta a mais de 40 anos-luz da Terra, do tipo “super Terra”, que será explorado pelo telescópio espacial James Webb, atualmente muito divulgado.

A visão desse planeta é realmente impressionante: sua proximidade com sua estrela significa que, segundo a NASA, ele atinge “temperaturas superficiais bem acima do ponto de fusão dos típicos minerais formadores de rochas”. Ou seja, suas próprias rochas se fundem, não suportam o calor que vem de seu sol. Por esse motivo, acredita-se que o lado diurno do planeta sejam oceanos de lava, isto é, a superfície não apenas aquece, mas também derrete, e pelo menos parte dela se transforma em vapor.

“À noite, o vapor esfriaria e condensaria para formar gotas de lava que choveriam de volta à superfície, voltando a se solidificar ao anoitecer”, diz a NASA.

Quando Pe. Arroyo fala do inferno, “obviamente é uma metáfora, porque o inferno não é um lugar, mas um estado, o estado de privação eterna e definitiva de Deus”, explica ele.

Não tão rápido

Mas, não tão rápido Padre…

O presbítero se refere à pena de dano, que é a privação de Deus, a mais terrível, mas não a única. Existe também a dor do sentido, que na expressão de Lucrécia Rego de Planas é “o sofrimento do corpo”, uma “dor intensa no corpo”, que para explicar, várias vezes Cristo a expressou como causada por um “fogo”, que não é necessariamente nosso fogo material, mas pode ser, e que em todo caso parece ser um princípio da ordem material, pois tem como fim um efeito na ordem material.

Um lugar chamado inferno não existe necessariamente, mas pode existir, assim como existe um céu empíreo, um céu material.

Além disso, alguns teólogos defendem que o princípio da ordem material que pune os corpos dos condenados pode ser muito mais eficaz em sua ação punitiva do que o nosso ‘simpático’ fogo terrestre. De fato, além da tradição da Igreja, há algumas revelações particulares que apoiam a ideia do inferno como lugar e como fogo, a começar pelas aparições de Fátima.

 Pe. Arroyo ressalta também que “este planeta 55 Cancri, embora esteja em situações tão extremas de calor e temperatura, não está privado da presença de Deus, Deus também está presente”. Não há nada no universo que esteja privado da ação da presença do Criador, nem mesmo o inferno, pois Deus sustenta a existência de todo ser, e no momento em que essa sustentação falhasse, os seres voltaria ao nada, inclusive os demônios e os condenados.

É claro que a presença de Deus no céu é diferente da do inferno, porque ali Ele está em uma união gloriosa com a criatura racional, sendo sua recompensa “demasiadamente grande”, enquanto no inferno tudo fala da rejeição que voluntariamente e definitivamente o condenado tem Deus e da legítima rejeição que Deus tem para com aqueles que não quiseram aceitar as mil bondades de seu amor.

Com efeito, “Nele vivemos, nos movemos e existimos”. Não podemos escapar de seus olhos perscrutadores. Pensar nisso sempre faz bem.

De qualquer forma, o melhor é olhar para o céu…

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Jesus Cristo e a missão jovem

Papa Francisco saúda um grupo de jovens mulheres no pátio de San Damaso,
na Audiência Geral (2021.10.18)

A vida presente passa de uma forma rápida, de modo que São Basílio Magno, bispo de Cesareia, aconselhou os jovens para agarrar-se às coisas eternas. Tudo deve ajudar para alcançar a esta vida. É claro que a vida presente tem o seu devido valor, para ser bem vivida nos diversos ambientes que os jovens eram inseridos, apontando sempre à vida futura, a eterna".

Por Dom Vital Corbellini, bispo de Marabá (PA)

A Igreja tem presente a juventude na ação evangelizadora, como parte integrante da missão, pois ela conta com os batizados, batizadas, jovens para levar a boa nova do Reino de Deus, de Jesus Cristo para toda a humanidade. Os primeiros séculos do cristianismo deram à juventude uma atenção especial devido ser a parte da comunidade e da sociedade com maior força e vitalidade. A Igreja faz hoje a opção pelos jovens em vista da renovação da comunidade e da sociedade. É por causa de Cristo que a Igreja assume os jovens para que todos vivam na paz e no amor. O Senhor chama os jovens para uma missão, de modo que ele seja anunciado e amado junto aos outros jovens e junto ao povo de Deus.

A Comissão Episcopal Pastoral para a Juventude da CNBB está fazendo uma missão na Prelazia de Tucumã, na parte Sul do Pará, na região Norte, de 15 a 25 de Julho, fazendo parte da Amazônia. A Diocese de Marabá acolhe os jovens que vieram de outros lugares do Brasil para esta importante missão, para ir ao encontro de outras pessoas, de outros jovens para evangelizar e serem evangelizados. A seguir veremos como a Igreja antiga e atual colocou os jovens nesta perspectiva de atenção, de valorização ao seguimento do Senhor no mundo em que vivem os jovens, também em vista da missão.

 Aproximação com os jovens

São Basílio Magno, bispo de Cesareia, hoje na Turquia, século IV foi um dos únicos santos padres da Igreja que dedicou aos jovens uma atenção especial pela vida que eles levavam na sociedade imperial[1]. Muitos eram os motivos ao escrever para eles uma obra e dar aos mesmos, alguns conselhos que seriam de benefício no momento em que eles os aceitassem com fé e com amor. Como bispo, ele manifestou o desejo de estar próximo deles, encontrar-se vizinho a eles, logo após os seus pais, para dar-lhes um afeto todo particular[2].

Discernimento na escola

São Basílio aconselhou aos jovens cristãos que iam às escolas pagãs, para que recebessem uma educação geral, sobretudo de autores pagãos, e tivessem o discernimento de suas doutrinas, a fim de que eles acolhessem as coisas melhores que os professores diziam e descartassem as coisas que não lhe convinham para as suas vidas de seguidores e de seguidoras de Cristo e da Igreja[3].

 A vida presente passa de uma forma rápida, de modo que o bispo de Cesareia aconselhou os jovens para agarrar-se às coisas eternas. Tudo deve ajudar para alcançar a esta vida. É claro que a vida presente tem o seu devido valor, para ser bem vivida nos diversos ambientes que os jovens eram inseridos, apontando sempre à vida futura, a eterna[4].

 Os bens da vida presente e da vida futura

O bispo de Cesareia também falou da importância dos bens presentes que são meios em vista daqueles da vida futura. Eles servem para amar o próximo e a Deus. No entanto os bens desta vida estão longe pelo seu devido valor aos bens eternos pelo fato de serem sombra e sonho da realidade atual[5]. À vida futura conduzem as palavras das Sagradas Escrituras que sempre admoestam mediante os valores da conversão. As diversas doutrinas do mundo, sendo purificadas levam a preparação da alma com a vida com Deus[6]. O jovem cristão tirará da sabedoria pagã o melhor para uma vida conforme o evangelho do Senhor[7].

 O valor dos poetas pagãos em vista do cristianismo

São Basílio reforçou a ideia de que é preciso seguir os poetas, mas que tudo fosse à vista do seguimento a Jesus Cristo, à religião cristã. As narrações dos poetas, quando apresentavam fatos ou ditos de seres humanos excelentes, livremente seriam acolhidos, seguidos com o espírito de emulação e imitados. No entanto quando passavam para representações de seres humanos perversos, deveriam ser evitados porque não mereceriam o testemunho de vida[8]. Mas quando os poetas fizessem o elogio da virtude, do dom de Deus, deveriam ser imitados pelos jovens em vista do bem a ser feito neste mundo e um dia na eternidade[9].

 Os jovens são as pessoas do agora de Deus

No mundo atual existe a palavra do Papa Francisco, colocando a importância dos jovens que são o agora de Deus. Eles não sejam apenas o futuro do mundo, mas vivam o presente, enriquecendo com sua contribuição para o mundo melhor. O jovem participa junto com os adultos no desenvolvimento da família, da sociedade e da Igreja[10]. O pontífice ainda teve presente que o olhar atento para quem deseja ser guia dos jovens consiste em encontrar a pequena chama que ainda arde, e ainda ela não quebrou. É a capacidade de encontrar caminhos onde os muros sejam derrubados, para que vejam as habilidades, as possibilidades, superando as dificuldades. É o olhar de Deus Pai que nutre as sementes de bem semeadas nos corações dos jovens. O Papa ainda afirma que o coração de cada jovem é considerado terra sagrada, portador de vida divina, para assim a pessoa se aproximar do Mistério do Altíssimo[11].

 Realidade de muitas juventudes

O Papa Francisco disse que os padres sinodais reforçaram a beleza de ser Igreja universal pela realização do sínodo sobre os jovens. É preciso destacar um contexto de globalização crescente, as diferenças entre as culturas, uma pluralidade de mundos juvenis, de modo que se fala de juventudes no plural[12].

O Papa pede a todos para que as pessoas se unam aos jovens que passam por problemas familiares, comunitários e sociais, sofrem formas de marginalização, e de exclusão social por motivos religiosos, étnicos ou econômicos. É fundamental como Igreja estar ao lado dos jovens, para que esta seja uma Igreja mais maternal, e em vez de matar, aprenda a dar à luz, ocorrendo o dom da vida. Se a gente chora os jovens que morrem pela miséria e pela violência, é fundamental que a sociedade aprenda ser com os mesmos, mãe solidária[13].

A missão dos jovens

O Papa Francisco afirmou que os jovens gostam da missão, porque a missão está ligada à juventude. Ainda que alguns jovens sejam frágeis, limitados, feridos, vão ser missionários à sua maneira, pela comunicação do bem, mesmo que conviva com fragilidades. Uma missão popular sempre é oportunidade dos jovens viverem a alegria da vida e do anúncio de Jesus Cristo. A Pastoral Juvenil é uma pastoral de missão, pois é o próprio Espírito Santo que ilumina os jovens para a missão em Jesus Cristo na unidade com o Pai. É bonita a ação dos jovens visitarem as casas, tomarem contato com a vida do povo, olharem a família e assim eles compreenderem a vida de uma forma bem mais ampla, com a fé, a pertença à Igreja, a esperança, a caridade, a vocação para um sacramento é fortalecida[14].

Jesus chamou jovens para o seguirem que se tornaram seus discípulos, apóstolos. Hoje ele chama jovens que tenham um coração disposto a segui-lo e proclamá-lo aos outros. A missão é dom de Deus e é também responsabilidade humana, para que os jovens sejam dedicados ao serviço da evangelização na família, na comunidade e na sociedade. É preciso dar o apoio aos jovens para a missão de anunciar aos outros a palavra de Cristo, a valorização dos sacramentos à vida cristã e o engrandecimento do Reino de Deus.

____________________

[1] Basilio di Cesarea. Discorso ai giovani, a cura di Mario Naldini. Firenze, Nardini Editore, 1984.

[2] Cfr. Idem, 1,1-3, pg. 81.

[3]  Cfr. Idem, 1, 6, pg. 83.

[4] Cfr. Idem, II, 3, pg. 85.

[5] Cfr. Idem II, 5, pgs, 85-87.

[6] Cfr. Idem, II, 7, pg. 87.

[7] Cfr. Idem, III, 1-2, pg. 89.

[8] Cfr. Idem, IV, 1-2, pg. 91.

[9] Cfr. Idem, V, 1-2, pgs. 95-97.

[10] Cfr. Papa Francisco. Exortação Apostólica Christus Vivit, 64. Brasília, Edições CNBB, 2019, pg. 31.

[11] Cfr. Idem, 67, pg. 32.

[12] Cfr. Idem, 68, pg. 32.

[13] Cfr. Idem, 74-75, pgs. 34-35.

[14] Cfr. Idem, 239-240, pg. 102. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 16 de julho de 2022

A Queda dos muros de Jericó

Os muros de Jericó | Cléofas

A Queda dos muros de Jericó

 POR PROF. FELIPE AQUINO

(Js 6, 1-20)

Logo após a travessia do Jordão, os filhos de Israel defrontaram-se com a cidade de Jericó, habitada por cananeus hostis. Tiveram de se dispor ao assalto do reduto inimigo, obtendo por fim estrondosa vitória.

O texto bíblico referente ao episódio (Js 6, 1-20) parece ter sofrido glossas no decorrer dos tempos, prestando-se atualmente a diversos ensaios de reconstituição e interpretação; ademais as recensões hebraica e grega apresentam pequenas divergências entre si. Eis, porém, em grandes linhas, o que se verificou:

Havendo os filhos de Israel acampado diante de Jericó, os habitantes da cidade, confiantes no poder de suas muralhas, fecharam-se no interior destas, esperando que a penúria ou alguma inclemência da natureza obrigasse os invasores a retroceder. Foi então que, a mandado do Senhor, os guerreiros hebreus, junto com os sacerdotes, que levavam a arca de Javé, por seis dias consecutivo deram processionalmente a volta da cidade (a qual não devia ter perímetro muito longo, para poder ser bem defendida); os desfiles se fizeram ao som das trombetas dos sacerdotes. No sétimo dia, efetuaram sete circuitos, após os quais ressoaram as trombetas; a estas os quarenta mil filhos de Israel (cf. Js 4, 13) responderam imediatamente com brado poderosíssimo; em consequência, as muralhas de Jericó desmoronaram e os assaltantes puderam penetrar na cidade.

Não há dúvida, trata-se aqui de um feito maravilhoso, que só se verificou por intervenção extraordinária de Deus. É o que a Sagrada Escritura explicitamente recorda num dos livros posteriores do Antigo Testamento:

“O soberano Senhor do mundo, sem catapulta e sem máquinas de guerra, derrubou os muros de Jericó nos tempos de Josué” (2Mc 12, 15).

Contudo não pode deixar de chamar a atenção o artifício prescrito pelo Senhor. Precisava o Todo-Poderoso de que os israelitas fizessem o circuito da cidade para que Ele desmantelasse as fortificações? Que relação há entre as procissões, com seus toques de trombeta, e o desmoronamento subsequente?

Pressupondo que eram um estratagema bélico, os exegetas têm procurado estabelecer um nexo entre esses desfiles e a vitória final. Assim:

1. Alguns apelam para o testemunho de cronistas da antiguidade, os quais referem que tropas assaltantes, em um ou outro caso, fizeram repetidos circuitos da cidade ou do acampamento sitiados, com o fim de ludibriar o inimigo. Eis, por exemplo, o que narra Sexto Júlio Frontino, autor da obra Stratagemata (catálogo de estratagemas) sob o Imperador Domiciano (81-96):

“Domício Calvino cercava na Ligúria a cidade de Luna, localidade defendida tanto por sua posição geográfica como por obras de fortificação. Muito frequentemente mandava que todas as suas tropas desfilassem ao redor da mesma, reconduzindo-as, a seguir, ao acampamento. Esta tática incutiu aos habitantes a convicção de que os romanos não queriam senão exercitar-se; visto então que negligenciavam o serviço de vigilância. Domício transformou essa espécie de passeata em ataque repentino. A cidade foi tomada, e os moradores se renderam”.

Merece atenção o fato de que o autor refere este estratagema sob o título “De fallendis his Qui obsidebuntur. Como se procede para enganar os que são sitiados”.

Baseando-se neste testemunho, julga o Pe. Abel O. P., professor da Escola Bíblica de Jerusalém, que Josué recorreu a tática semelhante com a intenção de fazer crer aos habitantes de Jericó que os seus planos eram pacíficos e não visavam um ataque à cidade (em tempo de guerra justa, torna-se lícito o recurso não somente a manobras cruentas, mas também às que enganam e desnorteiam o adversário). É de notar, porém, que o ilustre exegeta, para construir a sua hipótese, é obrigado a afirmar que as “passeatas” dos israelitas se realizavam em absoluto silêncio; nem toque de trombeta nem clamor de guerra emanava de Israel, de sorte a não provocar suspeita ou alarma na cidade de Jericó. E, a fim de inferir este traço da narrativa bíblica, Abel, apelando para critérios filológicos, distingue dois documentos, fontes do texto atual de Js 6, documentos dos quais o primeiro, o “fundamental”, lhe parece narrar unicamente desfiles silenciosos!19

A sentença do Pe. Abel não deixa de ter autoridade. Contudo baseia-se num postulado que não pode ser estabelecido com segurança. É o que a torna discutível.

2. Há quem, apelando igualmente para a mentalidade e a praxe dos antigos, explique de outra maneira o valor bélico dos circuitos praticados pelos filhos de Israel. Em vez de tranquilizar os habitantes de Jericó, teriam tido por fim aterrorizá-los!… A ostentação da arca (quase “estandarte” da teocracia israelita) acompanhada pelos sacerdotes e os guerreiros, o toque das trombetas, o brado final deviam ser ritos aptos a impressionar os “supersticiosos” moradores de Jericó. Estes admitiam, sim, a existência de um Deus próprio dos israelitas, protetor poderoso desta gente; haviam ouvido falar dos prodígios realizados por Javé em prol dos hebreus na saída do Egito, na travessia do Mar Vermelho e no deserto; isto tudo os fazia temer (cf. Js 2, 8-11). Sobre este fundo, os desfiles dos israelitas podiam-lhes parecer equivalentes a uma tomada de posse do terreno em nome do Deus Forte de Israel; o número setenário (dos desfiles, dos dias de cerco), sendo símbolo de totalidade, devia insinuar a esses homens a ruína total que o pujante Senhor lhes destinava, condenando-os ao anátema. É preciso não esquecer que, para os antigos, a guerra era ação religiosa; junto com os povos que se defrontavam, julgavam que os respectivos deuses pugnavam entre si;20 ora no caso parecia que o Deus de Israel se anunciava mais forte que os deuses de Jericó, como se mostrara mais poderoso que os dos egípcios e de outras nações.

Assim os desfiles em torno de Jericó teriam desempenhado o papel de causar pessimismo psicológico e religioso aos assediados: quando no fim dos sete dias de estratagema, explorando este estado de alma, Josué soltou o brado de avanço, já não terá encontrado grande resistência por parte dos defensores da cidade.

Esta sentença não pode ser comprovada de maneira decisiva, como também nada de sério se lhe poderia objetar.

Caso se admita uma das duas hipóteses acima propostas, ainda fica margem para a pergunta: como se deu o assalto à cidade após a preparação psicológica dos sete dias?

Sem poder reconstituir o quadro com precisão, dada a escassez de dados, os exegetas por vezes sugerem um ou outro particular que a narrativa lhes parece oferecer:

a) os espiões que, antes do cerco da cidade, estiveram em Jericó (cf. Js 2) concluíram um pacto com a meretriz Rahab, cuja casa estava situada na periferia da cidade (cf. 2, 15). Esta mulher, crendo que realmente Javé havia de entregar Jericó aos hebreus, decidira salvar-se com os seus familiares, atraiçoando os concidadãos; terá, pois, prometido dar ingresso aos invasores pela sua casa, logo que se propusessem empreender o assalto… Para apoiar a tese, os estudiosos fazem notar a precisão de topografia e de sinais, a recomendação de silêncio, no diálogo travado entre Rahab e os exploradores (cf. 2, l5-2O); 21

b) pode-se interpretar em sentido figurado o termo hebraico homah, geralmente traduzido por “muralha”. É, sim, com valor metafórico que ele ocorre, por exemplo, em 1 Sm 25, 16. 22 Significaria então a guarnição militar, os homens que montavam a guarda às portas de Jericó. Estes, e não as muralhas, teriam caído… isto é, desfalecido de terror após o estratagema de Josué; teriam capitulado, permitindo o ingresso na cidade sem desferir algum golpe. Entrando em Jericó, os invasores lhe teriam ateado fogo, poupando apenas a casa de Rahab, posta no perímetro das muralhas; 23

c) o toque diário de trombetas teria sido um artifício para prender a atenção dos habitantes de Jericó, enquanto operários israelitas cavavam galerias debaixo das muralhas de Jericó; uma vez terminados os trabalhos, o brado mais forte teria sido sinal para que pusessem fogo à armação de madeira que sustentava os muros e se retirassem; o pânico teria então irrompido em Jericó. Aproveitando-se da situação confusa e das ruínas causadas pelo incêndio, os filhos de Israel teriam conseguido penetrar na cidade. 24

3. Estas diversas conjecturas formuladas para explicar os desfiles dos israelitas como estratagema bélico, embora muito eruditas, não possuem senão o valor de suposições mais ou menos fundadas no texto e na arqueologia. Não se pode insistir sobre o papel estratégico de tais procissões. Uma consideração mais atenta dos trechos sagrados insinua que o seu significado primordial é de outra ordem: é significado religioso, não militar. Com efeito, eis os termos com que, no fim da Escritura, o Apóstolo de Cristo se refere ao episódio:

“Foi pela fé que os muros de Jericó desmoronaram, depois de se lhes haver dado a volta durante sete dias” (Hb 11, 30).

Esta breve frase estabelece um nexo entre a fé dos israelitas e a conquista de Jericó; foi aquela que de Deus obteve esta. Verdade é que entre a atitude de fé dos hebreus que assediaram Jericó e a conquista da cidade mediaram os desfiles de sete dias. Tais cerimônias foram prescritas pelo Senhor, não, porém, como se Javé visasse ensinar aos seus fiéis um estratagema bélico, a manobra adequada….; foram inculcadas primariamente para que os filhos de Israel tivessem ocasião de exercer a sua fé; praticando aqueles artifícios (cujo valor militar é incerto e não importa muito no caso), os hebreus, antes do mais, professavam crer no Auxílio de Deus, que dispensa máquinas de guerra desde que Ele queira realizar algum desígnio. Depois de ter experimentado essa fé, o Senhor recompensou-a com retumbante vitória.

Firme este princípio básico para a interpretação do episódio, não nos seria lícito fechar os olhos a ulteriores considerações: é bem possível que, para entregar Jericó aos israelitas em prêmio de sua fé, o Senhor se tenha servido de causas segundas. Bons autores pensam que permitiu um terremoto em momento oportuno,26 à semelhança do que se verificou posteriormente numa batalha contra os filisteus.27 Não terá dispensado de pequenos combates o exército de Josué; a estes alude Js 24, 11. 28 O clamor proferido pelo povo israelita imediatamente antes de assaltarem a cidade parece não ser senão a terou-a ou o brado de ataque que marcava o início das batalhas de outrora.29 Nem se exclui a ação devastadora da sede na cidade cercada, pois a única fonte de abastecimento pode ter estado fora dos muros do reduto, como às vezes acontecia (cf. Jt 7, 6). Em suma, é de crer que o texto do livro de Josué não nos refere a história completa da tomada de Jericó, mas se restringe ao episódio que realçava a influência do fator “fé” na campanha bélica.

Quanto à arqueologia, as escavações levadas a efeito desde 1908 no local da antiga cidade fizeram ver que a muralha de Jericó construída após 1600 a.C. sofreu destruição; o seu lado oriental foi mesmo totalmente arrasado. Os arqueólogos discutem sobre a época precisa em que se deu o desastre, embora o assinalem geralmente ao intervalo que corre entre 1400 e 1200 a.C. (ora Josué tomou Jericó por volta de 1200 a.C.).

Em conclusão: as manobras dos hebreus em tomo de Jericó têm primariamente o significado de um testemunho da fé que Deus exigia de seu povo; a sua finalidade imediata era provocar um bem de ordem espiritual numa gente rude como Israel, ou seja, excitar uma sincera atitude religiosa perante o verdadeiro Deus. A resposta do Senhor ao seu povo consistiu certamente numa intervenção poderosa, portentosa, cujos pormenores não podemos descrever com exatidão, visto que o texto sagrado não fornece os elementos para isto.

Fonte: https://cleofas.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF