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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Meditações sobre a Ressurreição (Parte I)

Ressuscitou | Kerigma Católico News

1. O VAZIO DO CORAÇÃO SEM DEUS

Lágrimas ao amanhecer

Quando o Domingo de Páscoa começava a clarear,  um grande silêncio envolvia o descampado onde se encontrava o túmulo de Jesus. Só duas coisas poderiam chamar ali a atenção de um passante solitário: uma grande pedra circular – que servira para fechar verticalmente a entrada do sepulcro – fora rolada e estava posta a um lado; e perto da entrada escancarada, uma mulher, em pé, soluçava baixinho, com um leve estremecer de ombros, de modo que os primeiros raios de sol faziam cintilar as lágrimas que lhe escorriam pelas faces. Era Maria Madalena.

            Entretanto – lemos no Evangelho de São João –, Maria conservava-se do lado de fora, perto do sepulcro, e chorava (Jo 20,11). Era a segunda vez, naquele amanhecer de domingo, que Maria ia até ao sepulcro de Jesus, incansável no seu empenho por  prestar uma última homenagem a nosso Senhor, depois da sua paixão e morte.  Ajudada por outras santas mulheres, queria ungir-lhe o corpo – que na sexta-feira santa só tinham podido ungir às pressas e de modo incompleto – com os aromas que haviam preparado.

Foi assim que Maria Madalena chegou ao túmulo juntamente com Maria, mãe de Tiago e Salomé, suas amigas. Estas últimas – conta São Marcos – fugiramtrêmulas e amedrontadas (Mc 16,8), ao verem que o sepulcro estava vazio. Maria, porém, foi correndo à procura de Pedro e João, para lhes dizer, quase sem fôlego: Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram (Jo 20,2)

            Há espanto geral. Recuperados do primeiro susto, os dois Apóstolos saem em disparada e ela vai atrás. Quando chegam ao túmulo, entram, e ficam perplexos ao ver que, além de estar vazio, os panos com que tinham amortalhado o cadáver de Jesus permaneciam intactos, com o mesmo formato que tinham quando envolviam o corpo de Cristo, só que agora aplanados, como se o corpo do Senhor os tivesse atravessado, esvaziando-os sem nem mesmo tocá-los; e o sudário que lhe cobrira a cabeça estava cuidadosamente enrolado, também intacto, a um lado.  Pedro e João, emocionados e perplexos, sentiram as pernas tremer e o coração rebentar, e voltaram correndo ao Cenáculo para avisar os outros. Maria, porém, não arredou pé de lá. Não queria ir-se embora. Queria encontrar Jesus, queria honrá-lo com carinho, mesmo que fosse apenas um pobre cadáver dilacerado. Por isso estacou ali, imóvel, chorando.

As suas lágrimas silenciosas eram a expressão do seu amor. São Gregório Magno, o grande Papa do século sexto, tem um comentário muito bonito a este respeito: “E nós temos que pensar – diz ele – na força tão grande do amor que inflamava a alma daquela mulher, que não se afastava do sepulcro do Senhor, mesmo quando os apóstolos dele já voltavam. Buscava a quem não encontrava; chorava procurando-o e, consumindo-se no fogo do seu amor, ardia no desejo de encontrar aquele que imaginava roubado. E assim aconteceu que só ela o viu, a única que ficou procurando… Começou a buscar, e não o encontrou; perseverou no seu querer, e achou-o; de tal forma cresceram os seus desejos, e tanto se dilataram, que acabaram alcançando o que buscavam”.

Quando meditamos em tudo o que nos conta dessa mulher o santo Evangelho, percebemos que a vida de Maria Madalena poderia ser definida assim: o Amor com maiúscula, ou seja, o Amor de Deus, procurou-a e salvou-a; ela correspondeu a esse Amor e não se cansou, por sua vez, de procurá-lo, de modo que toda a sua vida foi uma busca ardente e um  aprofundamento nesse divino Amor, como o foi a vida de muitos grandes santos… Mas tem havido tantas confusões, tantas mentiras e interpretações esquisitas sobre o amor de Maria Madalena, que vale a pena lembrar a sua verdadeira história.

Quem era a mulher de Magdala?

Na realidade, trata-se de uma confusão que – na maior boa fé, aliás – dura há séculos. Para começar, é muito importante lembrar quem não era Maria Madalena. Os melhores comentaristas do Evangelho, já desde os tempos de Santo Agostinho, alertam-nos para que não a confundamos com outras duas mulheres do Evangelho. Uma é aquela pecadora pública que certa vez banhou os pés de Jesus com lágrimas de arrependimento e os ungiu com bálsamo (cf. Lc 7,37 ss.); e a outra é Maria de Betânia, a irmã menor – pura e singela – de Marta e Lázaro, que também derramou perfume sobre a cabeça e os pés de Jesus pouco antes da Paixão, num gesto de fina cortesia, muito oriental (Jo 12,3).

Além desse esclarecimento, é interessante frisar que o Evangelho nunca disse que Maria Madalena fosse uma prostituta ou que tivesse uma vida leviana. Aliás, afirma de fato algo muito pior. Diz que, dela, Jesus tinha expulsado sete demônios (Lc 8,2). Isto é muito sério. Bem sabemos que o número sete – na linguagem bíblica – significa muitos, uma multidão. Pois é isso que dela nos diz São Lucas.

É, sem dúvida, algo terrível. Só o podemos compreender se tivermos consciência de que o demônio – como ensina a Bíblia – é, acima de tudo, o pai da mentira, do orgulho e do ódio. Como deve ter sido espantosa a vida dessa pobre mulher! Um poço de ódio, de raiva, de desconfiança, de mentira, de rancor… Pode haver sofrimento maior? Um verdadeiro inferno! Uma mulher incapaz de amar, incapaz de alegrar-se, incapaz de vibrar com a  verdade, de admirar a beleza e de saborear o bem; incapaz de perdoar, incapaz de sorrir com carinho para os outros…! Porque um coração afastado de Deus e entregue ao diabo – ao pecado – é como um poço escuro e fundo. Lá não pode penetrar um raio de luz divina. A pessoa chega a tornar-se incapaz de acreditar que o amor, a beleza e a bondade existam. Só conhece as trevas em que se afunda…

A tristeza no fundo do coração

Esse “poço escuro”, essas “trevas”, são o retrato da tristeza que há hoje em dia no fundo de muitos corações. Corações eternamente insatisfeitos, pessoas que podem cantar, gritar, possuir, experimentar, dançar, agitar-se, embriagar-se de álcool, sexo, drogas e emoções radicais, mas que por dentro estão sombriamente vazias. Vivem instaladas no “coração das trevas”. E, mesmo sem o saberem, procuram, procuram. Percebem que lhes falta o essencial, algo que passaram a vida buscando  sem encontrar. Sentem-se como alguém que se esfalfou tentando apanhar a água da fonte com um recipiente furado. Atormenta-as, então, uma ânsia de infinito que as queima por dentro, mas que nenhum tesouro do mundo e nenhuma loucura do mundo e nenhum prazer do mundo conseguem satisfazer…  Pode-se dizer que estão torturadas por uma esperança distorcida, por um infinito desejo de felicidade, que corre expectante atrás do vazio. É lógico que essa esperança distorcida termine no desespero. O fundo do fundo da vida delas é a ausência…, é o vazio…, e morrem sem saber por quê nunca foram felizes.

E, no entanto, o porquê é claro: elas sofrem da ausência de Deus! Essas pessoas – como Madalena antes de encontrar Jesus – não sabem que o seu mísero coração está gritando aquelas palavras de um poema de Tagore: “Tenho necessidade de Ti, só de Ti! Deixa que o meu coração o repita sem cansar-se. Os outros desejos que dia e noite me envolvem, no fundo, são falsos e vazios. Assim como a noite esconde em sua escuridão a súplica da luz, na escuridão da minha inconsciência ressoa este grito: «Tenho necessidade de Ti, só de Ti!». Assim como a tempestade está procurando a paz, mesmo quando golpeia a paz com toda a sua força, assim a minha revolta bate contra o teu amor e grita: «Tenho necessidade só de Ti!»”

O encontro que tudo mudou 

Assim estava Maria Madalena, quando um belo dia – de surpresa – Jesus foi buscá-la. Não conhecemos os detalhes. Só sabemos que Jesus teve compaixão dela, e dela expulsou sete demônios, como recordávamos acima. Dá para imaginar o que deve ter sentido aquela alma, ao encontrar-se livre do Maligno e inundada pelo dom da graça, conduzida por Jesus à descoberta deslumbrante de Deus? Que deve ter sentido quando experimentou – quiçá pela primeira vez na vida – a pureza e a grandeza do Amor, pois, como diz São João,  Deus é Amor (1 Jo 4,8).

Encontrar Deus, na pessoa de Cristo, foi como sair da asfixia do poço e, de repente, “respirar”, absorver Deus até ao fundo da alma, como uma aragem do Céu que a criava de novo. Madalena passou a ser uma mulher que, pela primeira vez na vida, se apercebeu de como é bela a criação, todas as criaturas, transfiguradas pelo olhar e a presença do Salvador. Seu coração transformou-se numa brasa incandescente, inflamada pelo Amor que se derrama do Céu sobre o mundo através do Coração de Jesus.

É natural que, a partir do dia em que o antigo coração das trevas foi inundado pela fé, pela esperança e pelo amor, começasse a seguir Jesus e a servi-lo, com uma dedicação abnegada e total, como conta o Evangelho, juntamente com outras santas mulheres. Seguir Cristo tornou-se, a partir daquele momento, a razão – toda a razão – da sua existência. Servir Jesus passou a ser para ela um puro amor, que cumulava de plenitude e sentido o seu pensar, sonhar e viver.

Por isso, quando a avalanche de brutalidades da Paixão, o ódio implacável dos inimigos, desabou sobre Cristo e o reduziu a um cadáver ensangüentado na Cruz, Maria Madalena – grudada à Mãe do Salvador – agarrou-se à Cruz como quem se agarra à vida. Viver sem Jesus era para ela – como para todos os corações que encontraram Cristo de verdade – a vertigem de um vazio de morte. Essa é a Madalena que vemos chorar junto do sepulcro do Senhor. Essa a razão de que só pense em buscar o meu Senhor (Jo 20,13).

O reencontro da vida

Enquanto estava assim, desolada, o Evangelho nos descreve uma cena deliciosa: Chorando, inclinou-se para olhar dentro do sepulcro. Viu dois anjos vestidos de branco… Eles perguntaram-lhe: “Mulher, por que choras?” Ela respondeu: “Porque levaram o meu Senhor, e não sei onde o puseram” (Jo 20,13). A Madalena suplicante, toda “procura”, encarnava nesses momentos aquelas palavras do profeta Isaías: A minha alma desejou-Te, meu Deus, durante a noite e, dentro de mim, o meu espírito procurava-Te (Is 26,9). Assim buscava Jesus.

O Evangelho continua, e dá-nos alegria acompanhá-lo: Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não o reconheceu. Perguntou-lhe Jesus: “Mulher, por que choras? Quem procuras?”  (Jo 20,15). Comove ver Jesus ressuscitado, Jesus em pessoa, indo ao encontro daquela pobre criatura, como o pai que desfruta por dentro ao pensar na surpresa maravilhosa que preparou para o filho. E é muito bonito perceber – para quem conhece e medita o Evangelho – que, depois da ressurreição, Jesus se mostra mais humano ainda, se possível, do que quando andava com os seus pelos caminhos da Galiléia e da Judéia. Torna-se mais próximo, afetuoso, acessível. E   aparece com uma nova carga de alegria: “diverte-se”, por assim dizer, alegrando os seus amigos com atitudes cheias de “bom humor”, de um divino e delicioso bom humor.

Para captar isso, basta continuar a acompanhar esse diálogo do Senhor com Madalena. Quem procuras? ­– pergunta-lhe Jesus -, e ela, supondo que fosse o jardineiro, respondeu: “Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste, e eu o irei buscar”.  Cristo não quer prolongar mais a aflição, e manifesta-se abertamente: Disse-lhe Jesus: “Maria!”  O Evangelho aqui balbucia, só sabe repetir a exclamação que saiu daquela Maria estremecida de gozo, com os olhos arregalados e o coração prestes a explodir: Voltando-se ela, exclamou em hebraico: Rabôni!”, que quer dizer “Mestre!”… Nesse exato momento, Jesus a olha com ternura e a “nomeia” sua primeira mensageira da fé, da alegria da Ressurreição:  Não me retenhas…Vai aos meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus. Maria Madalena correu (nesse dia, realmente, não parou de correr…) para anunciar aos discípulos que tinha visto o Senhor e contou o que Ele lhe tinha falado (Jo 20,15-18)

A partir desse momento, para Madalena a vida voltava a ser Vida, com maiúscula. O futuro era radiante: o reencontro com Jesus encheu de novo o vazio da alma com a luz cálida e inextinguível da esperança.

A chegarmos a esse ponto, será bom refletir e perguntar-nos: “Será que, pensando nos vazios que com freqüência eu sinto, a lição da Madalena não me diz nada?”  Todo vazio, toda amargura, é uma ausência: a ausência de Deus. Pode ser a terrível ausência provocada pelo pecado, pelos sete demônios, mas pode ser também a ausência de uma alma boa que perde Deus de vista, fica morna na fé, e acha então inexplicáveis muitas tristezas que a atormentam e que têm uma perfeita explicação: são a ausência do “amor” de Deus na alma, são a frieza de quem tem Jesus ao lado (sempre está ao nosso lado, sempre nos procura, como fez com Madalena) e não o enxerga, são a amargura esquizofrênica de quem se queixa de Deus, justamente na hora em que Deus mais a ajuda… Como Madalena, que pensava que Jesus (aquele Jesus que não reconheceu) lhe tinha roubado Jesus… Não acontece algo disto conosco?

Sim, acontece. Diante de muitas dificuldades, lutas ou cruzes que Deus nos envia para o nosso bem, pensamos tolamente que Deus nos abandonou ou se afastou de nós. Que retirou a sua mão e não nos ajuda com a sua graça. E é quando está mais próximo.

Gravemos bem a lição das lágrimas e do júbilo de Maria Madalena. Convençamo-nos, profundamente, de que toda tristeza, toda amargura, toda revolta, no fundo, é uma ausência de Deus (maligna ou benigna, mas nunca boa). Por isso, decidamo-nos a procurar Deus, a procurar Jesus com toda a nossa alma, como Madalena: com a mesma determinação com que ela o procurou. –”Onde está?” – diremos a nós mesmos – e responderemos com a decisão de aumentar o nosso aprofundamento na fé, a nossa leitura e meditação do Evangelho e das riquezas da doutrina cristã… E, se nos perguntarmos: – “Como achá-lo?”,  deveremos responder:  – “Como Madalena, que busca, pergunta, procura e não pára até encontrá-lo, ou seja, como Jesus nos ensinou: rezando, pedindo, orando sem cessar, pois a sua promessa não falha: Eu vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; buscai e achareis; batei e vos abrirão.  

Encontro de Rimini, Papa: partilha e proximidade, esta é a tarefa dos cristãos

A 43ª edição do Encontro para a amizade entre os Povos abre-se
em 20 de agosto na Feira de Rimini | Vatican News

A mensagem de Francisco foi assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, para a abertura da 43ª edição do Encontro do movimento Comunhão e Libertação, em 20 de agosto, intitulada "Uma paixão pelo ser humano". O texto faz um apelo à comunidade cristã a alimentar a amizade social não dando "lições da sacada", mas descendo "para as ruas sustentada por uma esperança confiável".

Gabriella Ceraso/Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco enviou uma mensagem ao bispo italiano de Rimini, dom Francesco Lambiasi, em vista do 43° Encontro para a Amizade entre os Povos promovido pelo movimento católico "Comunhão e Libertação". O evento tem início neste sábado, dia 20, e prossegue até quinta-feira, 25 de agosto, sobre o tema "Uma paixão pelo ser humano".

Na mensagem, enviada nesta sexta-feira (19/08), Francisco recorda que "no centenário de nascimento do Servo de Deus, pe. Luigi Giussani, os organizadores pretendem lembrar com gratidão seu zelo apostólico, que o levou a encontrar tantas pessoas e a levar a cada uma a Boa Nova de Jesus Cristo". Em seu discurso proferido no encontro de 1985, pe. Giussani disse: "O cristianismo não nasceu para fundar uma religião, nasceu como uma paixão pelo ser humano. [...] Amor pelo ser humano, veneração pelo ser humano, ternura pelo ser humano, estima absoluta pelo ser humano".

Palavra-chave "paixão"

O Papa centraliza o tema deste evento "Uma paixão pelo ser humano" na mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin. Esse tema se transforma num apelo aos cristãos hoje: no clima de "todos contra todos" é preciso redescobrir o caminho da atenção, do amor pelos outros, da proximidade, da busca pelo bem, como condição para ser plenamente nós mesmos.

Francisco recordou em várias ocasiões que "a fragilidade dos tempos em que vivemos é acreditar que não há possibilidade de resgate, de uma mão que te levanta, de um abraço que te salva, perdoa, te eleva, te inunda de um amor infinito, paciente e indulgente que te coloca novamente nos trilhos". Este é "também o aspecto mais doloroso da experiência de muitos que viveram a solidão durante a pandemia ou que tiveram que abandonar tudo para fugir da violência da guerra".

Como o Bom Samaritano, como Cristo: amar cada pessoa

A parábola do Bom Samaritano é hoje mais do que nunca uma palavra-chave, em sintonia com o tema do Encontro de Rimini, pois nela se encarna a "paixão incondicional por todo irmão e irmã que se encontra ao longo do caminho", que não é "apenas generosidade", mas, na descrição do Papa Francisco, é "reconhecer o próprio Cristo em cada irmão abandonado ou excluído". Quem crê é chamado a ter o mesmo olhar, a mesma paixão de Cristo, que amou a todos sem exclusão: um "amor gratuito, sem medida e sem cálculos".  Mas, nos perguntamos: "Tudo isso não poderia parecer uma intenção piedosa, em comparação com o que vemos acontecer hoje?"

O caminho da fraternidade não se desenha nas nuvens

Como é possível olhar para quem está ao nosso redor como um bem a ser respeitado, num mundo que hoje coloca "todos contra todos" e onde prevalecem "egoísmo e interesses partidários", com a pandemia e a guerra que nos fez regredir em relação ao projeto de uma humanidade solidária?  Tendo em vista que "o caminho da fraternidade não é desenhado nas nuvens, mas atravessa os muitos desertos espirituais presentes em nossas sociedades" e que no deserto, como disse Bento XVI, "se redescobre o valor do que é essencial para viver", Francisco indica o caminho: "O nosso compromisso", lê-se na mensagem, "não consiste exclusivamente em ações ou programas de promoção e assistência", "não um excesso de ativismo, mas antes de tudo uma atenção dada ao outro considerando-o como uma única coisa consigo. Essa atenção do amor é o início de uma verdadeira preocupação com sua pessoa" e do desejo de buscar seu bem.  "Recuperar essa consciência é decisivo." O outro, o encontro com o outro, segundo o Papa Francisco, é "a condição para nos tornarmos plenamente nós mesmos e dar frutos".

A amizade social, fruto do doar-se aos outros

Doar-se aos outros constitui a amizade social que o Papa recomenda em sua mensagem: é a fraternidade aberta a todos, "um abraço que abate os muros e vai ao encontro do outro consciente de quanto cada pessoa concreta vale, em qualquer situação que se encontre. Um amor pelo outro pelo que ele é: uma criatura de Deus, feita à sua imagem e semelhança. Portanto, dotada de uma dignidade intangível, da qual ninguém pode dispor ou, pior, abusar".

É essa amizade social que, como fiéis, somos convidados a alimentar com nosso o testemunho. É essa amizade social que o Papa convida os participantes do encontro a promover. Encurtar as distâncias, inclinar-se para tocar a carne sofrida de Cristo no povo. "Quanta necessidade os homens e mulheres do nosso tempo têm de encontrar pessoas que não dão lições da sacada, mas descem para as ruas a fim de partilhar a fadiga cotidiana da vida, sustentados por uma esperança confiável!" Esta é a tarefa histórica dos cristãos. Aos participantes do Encontro Francisco pede que eles compreendam esse apelo, "continuando a colaborar com toda a Igreja no caminho da amizade entre os povos, ampliando no mundo a paixão pelo ser humano".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São João Eudes

S. João Eudes | Guadium Press
19 de agosto
Homem não só de palavra, mas também de ação, São João Eudes foi um inflamado apóstolo de uma difícil empresa: a reforma de um clero que abandonava a sua missão. Sua festa é celebrada no dia 19 de agosto.

Redação (18/08/2020 17:14Gaudium Press) Conhecido como “o santo da Normandia”, João Eudes nasceu em Ri, próximo de Argentan, no dia 14 de novembro do ano 1601. Seu nascimento – como o de tantos homens providencias, marcado pela prévia esterilidade dos pais – foi um sinal enviado pela própria Virgem Santíssima, a quem o pequeno João fora confiado.

Portador de uma evidente vocação sacerdotal, a Providência o preparara desde cedo com insignes dons de piedade e de fé, com os quais João teria de enfrentar um futuro tempestuoso: “Estando numa paróquia onde muito poucas pessoas comungavam fora da Páscoa, comecei, por volta dos 12 anos, a conhecer a Deus por uma graça especial de sua divina bondade, e a comungar todos os meses, após ter feito uma Confissão geral. Foi na festa de Pentecostes que Ele me concedeu a graça de fazer a Primeira Comunhão. […] Pouco tempo depois, Ele me deu também a graça de Lhe consagrar meu corpo pelo voto de castidade”.[1]

Este costume de comungar assiduamente era já uma manifestação de oposição às tendências jansenistas que, na época, começavam a penetrar nos meios católicos mais fervorosos.

Os Jesuítas, ainda portadores de grande reconhecimento e prestígio naquele início do séc. XVII, apesar de perseguidos, como sempre, foram os responsáveis da formação de João Eudes. Seu coração, entretanto, ouviu o chamado a uma outra via religiosa, a de uma congregação recém-fundada na França pelo Padre Bérulle: o Oratório, inspirado no exemplo de São Filipe Néri.

Foi recebido de braços abertos. Era um jovem promissor, de “aparência robusta”[2], gênio singular, coração reto e portador de um misterioso segredo de Deus que cintilava em seu olhar discreto. Para os oratorianos, era o futuro da congregação.

João Eudes foi logo enviado para um noviciado em Paris. Com 24 anos foi ordenado sacerdote e cedo pôde dar exemplo de como um ministro de Jesus Cristo deve ser. A hipótese de que muitas almas poderiam morrer sem receber os sacramentos por causa da peste que grassou de 1627 a 1631 pela França, Savóia, Piemonte e Itália, fez com que aquele exemplar sacerdote não titubeasse um instante em arriscar a própria vida, partindo em socorro dos contagiados. Somente quando recebeu a notícia de que seu superior, o Pe. Répichon, fora acometido pela peste,  suspendeu sua ação junto àquelas almas necessitadas, partindo prontamente para socorrer seu superior e mais três irmãos, também vítimas da peste.

O Clero esquecido de sua missão

Mas sua missão ainda não havia começado. Desligou-se, com muito pesar, da congregação do Oratório e partiu para a aventura – encorajado por uns, perseguido por muitos outros – de fundar um seminário a fim de formar bons sacerdotes. Sobretudo nisto esteve a originalidade de João. Ele contemplava, desolado, até indignado, a situação do clero de sua época. Descreve em breves linhas Daniel-Rops: “Aqui, mulheres decotadas apoiavam-se no altar durante o sacrifício; acolá, mendigos estendiam a mão até no recinto sagrado; mais adiante, crianças levadas à missa divertiam-se com os seus jogos, e os latidos de cachorros cobriam a voz dos pregadores. Os párocos achavam tudo isso muito natural: quando Alain de Solminihac inspecionou certa igreja numa visita pastoral, lançou-se sobre um padre que cozinhava em pleno presbitério!”[3]

Mas estes fatos não passam de pontas de icebergs. As altas cúpulas e as classes dirigentes em nada davam exemplo de virtude para os menores. São João apontou, sem medo, para a causa: “Aqui temos nós estas pobres gentes nas melhores disposições, mas que podemos esperar quando os pastores que as guiam são tal como os vemos por toda a parte?”[4]

A fundação da Congregação de Jesus e Maria

Era preciso começar pelo santuário, e João teve coragem para isso. “Aqueles que têm por obrigação trabalhar pela salvação das almas fazem profissão de as perder”.[5] Diante desta situação, não podia esperar mais o zelo impetuoso daquele novo Elias.

Nesta mesma época, São Vicente de Paulo acabava de abrir um seminário e ajudou-o com sapienciais conselhos. A mística Marie de Vallées, até hoje muito discutida, lhe assegurou ser da vontade de Deus que se erigisse uma nova Congregação.

Com 5 companheiros, São João Eudes abriu seu seminário e fundou, a 25 de março de 1643, a Congregação de Jesus e Maria. Mas, como diz o Eclesiástico, quem entra para o serviço de Deus deve preparar sua alma para a provação (cf. Eclo 2,1): Roma freou o pedido da fundação; na Normandia, os burgueses e a clerezia em geral opuseram-se fortemente. Sua capela em Caen foi interditada e pensaram até em prendê-lo. “Mais secretamente, num momento em que o jansenismo está em pleno vigor, os partidários deste, que se encontram por toda a parte – até no Oratório -, trabalham contra o arauto místico de uma doutrina que afirma ao mundo a bondade de Deus…”[6]

Mas contra os assaltos dos homens, o Espírito Santo continuou a suscitar frutos na obra de João. O seu seminário prosperou, a Assembleia do Clero da França enviou-lhe felicitações e os bispos chamaram-no sucessivamente para fundar seminários.

O Santo da devoção ao Coração de Jesus e Maria

A matriz e a motriz de seu apostolado – a sua espiritualidade – foi a inédita e quase “clandestina” devoção ao Coração de Jesus e Maria. Uma vez que Margarida Maria Alacoque viria a receber as revelações do Sagrado Coração de Jesus pouco tempo depois.

O Coração de carne do Homem-Deus era para ele a sede do amor divino, o Coração adorabilíssimo, digno de toda reverência, raiz de toda virtude e fonte de toda inspiração. Para a época, a devoção era muito mais desconhecida, e por tal, muito mais ousada do que hoje concebemos. Ainda mais a devoção ao Coração de Maria, a quem São João Eudes mandou celebrar festas honoríficas e dedicou linhas inflamadas de amor e carinho.

O ano de 1680 contemplou a gloriosa morte, aos 78 anos, daquele verdadeiro patriarca, pai espiritual de inúmeros sacerdotes da mais pura índole, fervorosos formadores de novas frentes de apostolado, na mesma hora em que Nosso Senhor Jesus Cristo expiou, como o santo havia suplicado.

Por Arthur Paz


[1] GEORGES, CJM, Émile. Saint Jean Eudes. Paris: Lethielleux, 1925, p.7.

[2] ROPS, Daniel. A Igreja dos Tempos Clássicos. I. O grande século das almas. Trad. Henrique Ruas e Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 2000, p. 82.

[3] Idem, p. 77.

[4] Idem, p.82.

[5] Idem, p. 76.

[6] Idem, p. 83.

Que orações devemos fazer no fim do Terço?

Ruslan Grumble | Shutterstock
Por Philip Kosloski

Além da Salve Rainha, você pode incluir estas outras orações.

O Terço é uma bela oração e uma das devoções mais populares da Igreja Católica. Pode ser rezado de várias maneiras, e muitos perguntam sobre a melhor maneira de concluí-lo.

Como o Terço é uma oração devocional popular, contou com algumas adaptações ao longo dos séculos. De fato, existem algumas maneiras diferentes encerrá-lo. Entretanto, as seguintes orações são uma boa maneira de concluir a reza do Terço.

Orações finais do Terço

No final do Terço a oração mais recomendada é a Salve Rainha. Você pode rezar esta oração segurando a medalha que, geralmente, une a extensão do crucifixo aos mistérios.

Salve, Rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura, esperança nossa, salve! A Vós bradamos, 
os degredados filhos de Eva. A Vós suspiramos, gemendo e chorando neste vale de lágrimas. 
Eia, pois, advogada nossa, esses Vossos olhos misericordiosos a nós volvei. E, depois deste desterro, nos mostrai Jesus, bendito fruto do Vosso ventre. Ó clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria. Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém.

Depois da Salve Rainha, você também pode fazer outras orações. Uma das indicadas é a oração de São Miguel.

São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede o nosso refúgio contra as ciladas do demônio. Que Deus o repreenda – humildemente lhe pedimos –, e vós, príncipe da milícia celeste, pela virtude divina, precipitai no Inferno a Satanás e a todos os espíritos malignos que rondam o mundo em busca da ruína das almas. Amém.

Depois de qualquer oração devocional, muitos terminam o Terço com a seguinte invocação:

Ó Deus, cujo Filho unigênito, por Sua vida, morte e ressurreição, garantiu para nós as recompensas da salvação eterna; concedei, suplicamos-vos, que meditando nestes mistérios do Santíssimo Rosário da Bem-Aventurada Virgem Maria, imitemos o que contêm e alcancemos o que prometem. Por Cristo Nosso Senhor, Amém.

Termine o Rosário fazendo o Sinal da Cruz.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A presença de Maria no plano de Deus e na vida eclesial

Ícone de Nossa Senhora com o Menino Jesus | Vatican News

"O Papa Pio XII, na proclamação do dogma da Assunção de Nossa Senhora, primeiro de Novembro de 1950, citou um dos santos padres para fundamentar a verdade de fé, São João Damasceno, padre escritor dos séculos VII e VIII, afirmou que era conveniente que aquela que tinha guardado ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, após a sua morte, livre de toda a corrupção."

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

O plano de Deus referente à salvação humana realizou-se pela resposta positiva de numa criatura, a bem-aventurada Virgem Maria, para ser a mãe do Salvador. O Senhor a escolheu na sua infinita bondade, para que ele entrasse na realidade humana. Desde que o homem pecou, pensou o Senhor a nova Eva, uma nova geração que seria inaugurada pelo seu Filho, Jesus, na qual haveria uma inimizade entre a primeira Eva e a mulher, entra a sua descendência e a descendência da mulher, no caso de Maria (Gn 3,15). Na anunciação disse o anjo à Maria que ela conceberia e daria à luz um filho, cujo nome seria Jesus (Lc 1,31), o Salvador da Humanidade. Ela viveu o plano do Senhor, onde em tudo se faria a vontade dele, segundo a palavra de Deus, dita pelo anjo (Lc 1,38).

Dentro do mês vocacional, no terceiro domingo, sabendo que o povo cristão, católico é chamado a rezar pelas vocações, celebramos nós a vida religiosa, e, também a Assunção de Nossa Senhora aos Céus. Os religiosos assumem os votos de pobreza, castidade e obediência, na missão evangelizadora da Igreja e no mundo. A Assunção é uma festa bonita que expressa a presença de Maria na vida do povo, as devoções, os seus títulos que fazem com que todas as gerações a chamarão bem-aventurada, porque o Deus todo-poderoso fez por ela grandes coisas e santo é o seu nome (Lc 1, 48-49). A Assunção de Maria tornou-se um dogma, verdade de fé, proclamado pela Igreja onde se afirmou que ela foi elevada aos céus em corpo e alma, associada ao mistério de seu Filho, Jesus Cristo. Ela foi concebida sem o pecado original de modo que ela teve uma morte natural, e, antes que seu corpo voltasse ao nada, ela foi ressuscitada pelo Senhor Deus, pelo Pai, em unidade com o Espírito Santo. Como criatura ela antecede a todo o gênero humano, com a ressurreição dos mortos, pois as coisas ocorridas nela logo após a sua morte serão dadas para todas as pessoas no final da história. É muito importante analisar a forma como os santos padres, os primeiros escritores cristãos elaboraram uma doutrina a respeito de Maria, a mãe do Filho de Deus.

 Um corpo livre do pecado

O Papa Pio XII, na proclamação do dogma da Assunção de Nossa Senhora, primeiro de Novembro de 1950, citou um dos santos padres para fundamentar a verdade de fé, São João Damasceno, padre escritor dos séculos VII e VIII, afirmou que era conveniente que aquela que tinha guardado ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, após a sua morte, livre de toda a corrupção. Era conveniente que aquela que trouxera no seio o Criador como Verbo de Deus encarnado, morasse nos tabernáculos divinos. Era também conveniente que a Mãe de Deus possuísse o que pertence ao Filho e fosse venerada por toda a criatura como mãe e serva de Deus[1].

Maria como a pessoa que fez a vontade do Pai e era a bem-aventurada

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V especificou o motivo pelo qual Maria chamar-se bem aventurada, ao interpretar a passagem bíblica onde os seus discípulos, que estavam com Jesus disseram que sua mãe, os seus irmãos estavam lá, fora, perto dele de modo que o Senhor afirmou quem eram a sua mãe, os seus irmãos?! E estendendo a mão, Jesus disse que quem faz a vontade do seu Pai que está nos céus, era seu irmão, irmã, e mãe (Mt 12,46-50). Maria estava dentro desta palavra de salvação, porque ela fez a vontade do Pai[2].

Santo Agostinho ainda falou do elogio que o Senhor recebeu de uma mulher que disse ser bem-aventurada o ventre que o gerou e os seios que o amamentaram. Jesus afirmou que antes seriam bem-aventurados aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam (Lc 11,27-28). Jesus teve presente a sua mãe sendo bem-aventurada porque ela observou a Palavra de Deus, proveniente do Verbo do Senhor por meio do qual foi criada e nela fez-se carne[3].

Jesus, a forma de servo

Santo Agostinho ainda disse que a Virgem Maria concebeu e deu à luz um filho, por causa da forma manifestada de servo, pois um menino nasceu para a humanidade (Is 9,6). Mas pelo fato de que o Verbo de Deus, que permanece para sempre (Is 40,8) fez-se carne para habitar entre as pessoas (Jo 1,14) por causa da forma de Deus, que está escondida, a humanidade chamou o Senhor de Emanuel, Deus conosco (Mt 1,23; Is 7,14). Fez-se homem, permanecendo Deus, para que o Filho do Homem pudesse também se chamar Deus com a humanidade. Exulte, portanto o mundo porque veio a ele aquele que o criou. O Criador de Maria nasceu de Maria, o Salvador da humanidade[4].

Cristo nasceu do Pai e de Maria

O bispo de Hipona também teve presentes as duas gerações, uma eterna e outra temporal na única Pessoa do Senhor. Jesus Cristo nasceu de Deus Pai, sendo Deus como Ele, homem pela mãe, Maria; da imortalidade do Pai, da virgindade da mãe, do Pai sem o tempo, eterna, da mãe no tempo sem a participação humana; do Pai como princípio de vida, da mãe para colocar fim à morte[5].O nascimento humano e divino de Jesus

São Cirilo, bispo de Alexandria, século V disse que o nascimento de Jesus na humanidade estava unido ao seu ser humano e em conjunto com Deus. O Verbo mesmo encarnando-se na bem-aventurada Virgem, fez dela o próprio templo, porque aquele que saiu de Maria era do ponto de vista exterior, ser humano, mas, era intimamente verdadeiro Deus. O bispo continuou dizendo que aquela que foi considerada como bem-aventurada, por isso foi com razão chamada Mãe de Deus, pois a Virgem Mãe, Maria, gerou na carne o Filho de Deus, Jesus que nasceu dela[6].

Hino à mãe de Deus

Rábula de Edessa, bispo na Síria, século V, compôs um hino à Virgem Maria como mãe de Deus. Ela é santa, mas Maria é também tesouro maravilhoso e esplêndido, dado a todo o mundo, luz irradiante do Incompreensível, templo puro do Criador de todas as coisas. Através dela foi anunciado Aquele que tirou os pecados do mundo e os redimiu. Fortalece a nossa fé e doa a paz para o mundo inteiro. O bispo teve presente que os fiéis supliquem à Maria para que a nossa maldade não leve para a ruína e Maria volta-se ao seu povo, enquanto ela reza ao seu Unigênito, o Filho saído dela, para que tenha piedade de todos os fiéis, pela sua santa oração[7].

O bispo continuou a sua súplica em forma de hino à Maria pedindo-lhe que ela intercedesse junto ao seu Unigênito pelos pecadores que nela buscam refúgio. Todos os flagelos que atingiram a precedente geração, também afetam as pessoas na vida real. Por isso os seres humanos querem pela intercessão de Maria junto ao seu Filho, a misericórdia e o Senhor tenha piedade de todos os pecadores e as pecadoras[8].

A assunção de Maria, Mãe de Deus

São João Damasceno, monge, sacerdote, de Damasco, na Síria, séculos VII e VIII, disse que Maria foi submetida às leis da natureza através da morte, o seu corpo imaculado, mas ela recebeu a graça da incorruptibilidade (1 Cor 15,53). O Criador do universo acolheu com as mesmas mãos a alma santa na qual o Deus encarnado encontrou nela, a sua habitação. O Senhor concedeu a honra àquela que pela sua natureza humana, Ele a escolheu na sua infinita bondade para com os seres humanos, como mãe, segundo o plano da salvação, encarnando-se e aceitando a convivência humana. Ela teve uma morte maravilhosa, do momento que ela foi acolhida por Deus. Ela teve a morte natural, mas não permaneceu na morte e o seu corpo não se dissolveu na corrupção. O seu corpo foi preservado, mudando-se nela em tabernáculo grandioso e divino, livre da morte e destinado a durar pela eternidade junto com Deus. Após a sua morte ela teve a graça da assunção por parte de Deus, de seu Filho, na real habitação celeste, divina[9]

A presença de Maria leva as pessoas até Deus, ao seu Filho no Espírito Santo. Maria nunca está sozinha porque ela carrega nos braços o seu Filho Jesus Cristo. Nós vivamos bem com a presença de Maria para que a nossa vida esteja ligada a Deus, ao próximo como a nós mesmos. Maria interceda por nós junto a Deus e pela paz no mundo.

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[1] Cfr. Da Constituição Apostólica Munificentissimus Deus, do Papa Pio XII. (AAS 42 [1950] 760-762. 767-769). In: Liturgia das Horas, Ofício das Leituras. São Paulo, Edições Paulinas, 1987, pg. 1515.

[2] Cfr. Agostino. Commento al Vangelo di san Giovanni, 10,3. In: La teologia dei padri, v. 2. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pg. 161.

[3] Cfr. Idem, pg. 161.

[4] Cfr. Santo Agostino d`Ippona. La Vergine Maria, 22. Pagine scelte a cura di Michele Pellegrino. Milano, Edizioni Paoline, 1993, pg. 67.

[5] Cfr. Idem, 28, pg. 73.

[6] Cfr. Cirillo di Alessandria. Contro coloro che non riconoscono che Maria è la Madre di Dio, 4. In: Idem, pg. 161.

[7] Cfr. Rabbula di Edessa. Inni liturgici, 1-5. In: Idem, pg. 163.

[8] Cfr. Idem, pg. 163.

[9] Cfr. Giovanni Damasceno. Omelia sul transito di Maria, 1,10-11, 12-13. In: Idem, pgs. 171-172.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

A traição dos clérigos. Da missa no tapete até a patinete no altar. A perigosa espetacularização do “Maior Mistério”

Padre Celebra Missa No Mar No Sul Da Itália. Foto: @FrancoScarsell2

Alguns banhistas, impressionados com o grupo de jovens liderados por um padre igualmente jovem, ofereceram uma esteira para servir de altar. A cena foi imortalizada e, claro, logo foi parar na rede. A diocese local, imediatamente tomada pela de Milão, criticou o gesto.

11 DE AGOSTO DE 2022

Por: Matteo Matzuzzi

(ZENIT News / Roma, 08.11.2022).- «Reconheço que me faltou a atenção necessária para valorizar um Mistério tão grande e tão indignamente confiado a nossas humildes mãos. Sempre vivi a celebração da Eucaristia com profunda consciência do imenso Mistério de amor que ela esconde e transmite, e em oito anos de ordenação foi a primeira vez que não usei pelo menos uma sobrepeliz e uma estola. Mas eu percebo que mesmo uma vez é demais. Peço humildemente desculpas do fundo do coração também pela confusão gerada pela cobertura midiática das notícias e das imagens: não era minha intenção que tivesse tanto destaque, a ponto de para a comemoração que tínhamos inicialmente escolheu um lugar isolado e longe de guarda-chuvas (embora algumas pessoas, vendo-nos de longe, tenham se juntado à festa)».

O Papa: «O padre que preside a celebração diz: «Levante o coração», não diz: «Levante o telemóvel para tirar fotos!»

Os fatos: domingo, 24 de julho, Dom Mattia Bernasconi, vigário de 27 anos da diocese de San Luigi Gonzaga em Milão, estava na Calábria com um grupo de meninos do oratório. Era o último dia da viagem, o programa era celebrar a missa num pinhal (assim à sombra) e depois regressar a casa a norte. Chegando ao local escolhido, o grupo descobriu que o local já havia sido reservado por outras pessoas e eles só precisaram se deslocar para uma praia de frente para o mar em Capo Colonna. Não havia árvores, nem sombra. E a massa? Na água. Todo junto. O único lugar, entre outras coisas, que não é escaldante. Alguns banhistas, impressionados com o grupo de jovens liderados por um padre igualmente jovem, ofereceram uma esteira para servir de altar. A cena foi imortalizada e, claro, logo foi parar na rede. a diocese local, imediatamente assumido pelo de Milão, censurou o gesto. Esta não é uma condenação ou uma repreensão ao pobre padre, mas um lembrete do significado do gesto (e símbolos) que o padre Mattia realizou no mar.

O caso está encerrado, embora o padre esteja sendo investigado pelo Ministério Público de Crotone por "ofender uma confissão religiosa", e o pedido de desculpas é especialmente sentido, a ponto de o padre dizer que "na missa que celebrei na segunda-feira por isso tarde na igreja paroquial de San Luigi, pedi perdão ao Senhor pela minha superficialidade, que fez tantos sofrer. Espero que você possa entender minhas boas intenções, manchadas por muita ingenuidade, e aceitar meu sincero pedido de perdão.

O problema é justamente aquele destacado pelas duas dioceses: entender o que se faz quando se celebra. Não é uma questão menor que não pode ser escapada. “A participação na Eucaristia faz-nos entrar no mistério pascal de Cristo, dando-nos a oportunidade de passar com Ele da morte para a vida, isto é, ali no Calvário. A missa é para refazer o Calvário, não é um espetáculo", disse o Papa Francisco há alguns anos, e acrescentou - e o ponto é especialmente doloroso - que "em um dado momento o sacerdote que preside a celebração diz: coração!", não diz: "Coloque seu celular para tirar a foto!". Não, isso é ruim! E digo-vos que fico muito triste quando celebro aqui na praça ou na basílica e vejo tantos telemóveis ligados, não só dos fiéis, mas também de alguns padres e até bispos. Por favor!

O arrependimento sincero do jovem padre que celebrou no mar e dúvidas sobre a adequação dos seminários para a formação

Durante os meses de confinamento, parecia que assistir à missa era uma questão capital: apelos públicos, redes sociais inundavam-se de gritos e lamentações de quem protestava exigindo missa, a possibilidade de sair de casa para entrar numa igreja, receber a comunhão e rezar . O governo da época disse não, apoiado na opinião não solicitada de algum canonista improvisado que encerrou a questão afirmando que a missa ainda pode ser vista na televisão. Entre um café durante a homilia, talvez uma ida ao banheiro e - por que não - um aperitivo doméstico para intercalar a celebração se o horário escolhido fosse próximo ao almoço. Por algum tempo parecia que a "questão de massa" havia se tornado central: sociólogos, bispos e teólogos refletiram sobre essa súbita necessidade do sagrado que estava chegando às famílias italianas. Foi medo? O desejo de pensar nas coisas do alto? Ou talvez simplesmente procurando uma desculpa para sair de casa como alternativa a passear com o cachorro na coleira pelo quarteirão?

De qualquer forma, passado o confinamento, as igrejas não ficaram lotadas, nem o comparecimento, que já é baixo devido à pré-pandemia. E os discursos sobre a Eucaristia, a adoração e as Sagradas Escrituras foram rapidamente substituídos por disputas sobre passarelas duplas na praia, boates fechadas e máscaras que devem ser usadas a bordo dos trens. A engenhosidade do sacerdote ambrosiano é sincera e documenta um fato evidente: na maioria dos casos, a missa é oferecida ao povo de Deus como espetáculo. Um espetáculo, como disse o Papa. Os párocos que veem os bancos cada vez mais vazios, o número de funerais aumentando ano após ano, bem como o número de líderes caninos presentes nas celebrações, provocam um frenesi que se traduz em desejo de atração. Mas não com as ferramentas simples e antigas que a Igreja coloca à sua disposição, o poder da Palavra e uma boa catequese. Não, faz isso tornando a massa "menos chata", então - dizem ingenuamente - até crianças e jovens vão. Sacerdotes mascarados, correndo de uma ponta a outra do prédio vestidos, um jogo escolar de palmas para apresentar o Evangelho (o imortal Aleluia da lâmpada que perdura por gerações). Os celebrantes deslizam pelo corredor após a bênção final (aconteceu, em Dublin), diante do delírio do riso dos fiéis. A necessidade de fazer algumas brincadeiras, antes durante e depois da homilia. Homilias que, mesmo com histórias e brincadeiras, costumam durar uma eternidade testando a psique dos pobres e poucos paroquianos presentes.

De fato, eles, os sacerdotes, são os primeiros a falhar quando se trata de "valorizar tão grande Mistério". Não se trata de rito antigo ou novo, há missas espetaculares tanto entre os fiéis do missal tridentino como os da missa de Paulo VI. A exibição de vestidos de renda na altura das axilas, que mais parecem cortinas, não está muito longe, em termos de gosto, do roupão oversized com zíper e chinelos nos pés.. Em medio stat virtus, disseram os sábios. Há celebrações seguidas pelo mundo tradicionalista em que se respira mistério e fé profunda (Enzo Bianchi, que não pode ser acusado de ser seguidor do missal de São Pio V, também o reconheceu em junho, lembrando a fecunda experiência dos monges de Le Barroux), assim como é possível assistir a "novas" missas edificantes e fortificantes, nas quais se está totalmente imerso no Mistério. O problema é quando se pensa, mesmo que seja por banal superficialidade, que a Eucaristia é algo próprio e que, portanto, pode ser mudada, adaptada, atualizada de acordo com as contingências. Não há sombra para dizer missa? Assim, todos entram na água, vestidos, com tapete e protetor solar, cuidando para que os hospedeiros não acabem entre as águas-vivas e as algas. Não é um problema de formação de sacerdotes? Será que a missa muitas vezes se reduz a uma mera repetição mecânica de gestos sem a necessária inervação espiritual? Se os padres são os primeiros a fazer, implicitamente, da celebração da Eucaristia um ato semelhante ao rearranjo da estante na sala, é difícil pensar em conquistar os fiéis tíbios ou relutantes em dedicar um espaço do seu dia à relação com o sagrado.

Ninguém se deixa levar, cativar e conquistar pela ordem alfabética dos livros nas estantes. Em vez disso, este é o momento em que as pessoas fazem fila por horas para entrar na Basílica de São Pedro quando o Papa celebra, esquecendo-se de fazer o sinal da cruz ao passar, imersos em tirar fotos, capturar o momento, para eternizar o acontecimento de estar ali com o Vigário de Cristo, supondo que quem tira a foto e a posta no Instagram sabe que ele é o Vigário de Cristo e sabe, claro, o que significa essa definição.

Esquece-se onde está, o que está fazendo, ou seja – para citar Francisco novamente – “o Calvário”. Em vez disso, aqui estamos "segurando nossos telefones celulares para tirar fotos". No entanto, há uma solução e, paradoxalmente, está enraizada na crise, na aceitação de ser uma minoria. Sem sair em uma busca frenética e sem fôlego por novos crentes. Pierangelo Sequeri escreveu no Avvenire alguns dias depois do caso da festa no colchão: «A era da missa debaixo da casa, programada para preencher todas as horas e todos os espaços da igreja, está prestes a se despedir. Não será substituído pelo serviço de quarto (para nós já era). A mega-assembléia que enche a igreja ou o estádio será mais rara (e esperamos que seja mais genuína). A massa certamente será mais preciosa. Seu lugar será mais precioso; seu tempo será mais precioso. No entanto, haverá mais convidados do que adoradores: como no tempo de Jesus. E vai ser lindo. Muitos assinantes que agora são difíceis podem achar isso muito inconveniente e se perder. Muitos dos que achavam que não tinham lugar vão se surpreender e se emocionar ao deixar de ser “os forasteiros”, com Jesus passando entre as mesas: com fotos. Claro, eles terão que ser legais o suficiente para usar pelo menos o vestido de festa, já que todo o resto é de graça." Muitos dos que achavam que não tinham lugar vão se surpreender e se emocionar ao deixar de ser “os forasteiros”, com Jesus passando entre as mesas: com fotos. Claro, eles terão que ser legais o suficiente para usar pelo menos o vestido de festa, já que todo o resto é de graça." Muitos dos que achavam que não tinham lugar vão se surpreender e se emocionar ao deixar de ser “os forasteiros”, com Jesus passando entre as mesas: com fotos. Claro, eles terão que ser legais o suficiente para usar pelo menos o vestido de festa, já que todo o resto é de graça."

Don Giuliano Zanchi, diretor da Revista do Clero Italiano, destacou que "neste ponto nossas assembléias começaram a se assemelhar a plateias que, mesmo animadas por uma certa cumplicidade participativa, assimilaram os esquemas mentais típicos do espetáculo". Não é coincidência, acrescentou ele, "que muitos que mudaram do presencial para o vídeo não tenham visto uma diferença real". As pessoas falam disso há décadas e não é preciso muita sorte, entrando em uma igreja alguns minutos antes da missa, para perceber que um espetáculo está sendo preparado: câmeras colocadas em frente ao altar para transmitir a celebração, leitores - não sempre devidamente treinados – certificando os livros litúrgicos, os coristas – nem sempre dotados para o canto fino, e não é pecado ou drama, humildade seria reconhecê-lo – ensaiar as melodias que animarão a liturgia. Os bancos estão vazios, porque serão preenchidos pelos fiéis que entrarão na igreja quando quiserem: alguns na Glória e outros no Evangelho, alguns no ofertório e outros diretamente na consagração, talvez com seus iPhones ligados para servir como pano de fundo para o momento mais sagrado. O sagrado, de fato: cada vez mais como o santo graal a ser buscado.

Já em 1975, o professor Joseph Ratzinger dizia que «mesmo com a simplificação e a formulação mais compreensível da liturgia, é evidente que o mistério da ação de Deus na Igreja deve ser salvaguardado; e, portanto, a fixação da substância litúrgica imaterial para sacerdotes e comunidades, bem como seu caráter plenamente eclesial. É por isso que é necessário opor-se, com mais decisão do que até agora, ao achatamento racionalista, aos discursos aproximativos, ao infantilismo pastoral que degradam a liturgia católica à categoria de clube de aldeia e querem reduzi-la a um nível caricatural». Há sempre a ansiedade de fazer barulho, de preencher o que se acredita ser um vazio. Mas tudo o que é necessário é mais silêncio; um silêncio que, como diz Ratzinger, "não é uma pausa em que mil pensamentos e desejos nos assaltam, mas uma recordação que nos traz paz interior, que nos permite respirar e descobrir o que é essencial». «O Pai fala uma só Palavra: é a sua Palavra, o seu Filho. Ele o pronuncia em eterno silêncio e somente em silêncio a alma pode entendê-lo”, lê-se no Máxima de San Juan de la Cruz. Menos tapetes e telemóveis, mais silêncio. Pelo menos na Igreja.

Tradução do original em língua italiana, publicado originalmente em Il Foglio, realizado pelo diretor editorial de ZENIT.

Fonte: https://es.zenit.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF