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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Desafios para a Pastoral Juvenil

Dom Antônio | CNBB Norte 2

DESAFIOS PARA A PASTORAL JUVENIL

Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém (PA)

DESAFIOS PARA A PASTORAL JUVENIL:  o enfrentamento de ideologias (Parte 7) 

A pastoral juvenil abraça a missão de formar os jovens como autênticos discípulos missionários de Jesus Cristo. Todavia, eles não estão numa sociedade a parte, preservados das ideologias mundanas e dos múltiplos influxos culturais com seus insistentes apelos sedutores. O próprio Jesus em diálogo orante com o Pai pediu: “Não te peço para tirá-los do mundo, mas para guardá-los do Maligno. Eles não pertencem ao mundo, como eu não pertenço ao mundo. Consagra-os com a verdade: a verdade é a tua palavra” (Jo 17,15-17). Imersos nas realidades socioculturais, em meio às mais variadas pressões ideológicas, os jovens são chamados a viverem consagrados à Verdade. Neste artigo queremos refletir sobre o impacto das ideologias na vida dos jovens. Vejamos algumas delas: 

 O subjetivismo (voluntarismo): essa ideologia se sintetiza na frase: “Quem manda em mim sou eu!”. Ela é muito ouvida na família, na escola, na universidade, entre amigos. O subjetivismo prega a absolutização do sujeito; mas isso é, socialmente, uma fantasia. Seria o egoísmo absoluto, o império do Eu e da vontade pessoal (voluntarismo); tal atitude nega a sadia interação com os outros; promove a autoafirmação violenta, predatória, suprime a necessidade de autoridade; promove o “estrelismo”. O subjetivismo é mentiroso, pois nem sempre somos sujeitos; somos muitas vezes naturalmente vítimas. O ser humano é muito mais que sua vontade pessoal; sua vontade pode ser adulterada e manipulada porque não é absoluta. Ela só é autêntica quando faz a experiência do confronto com a vontade alheia. O subjetivismo elimina a institucionalidade. Há uma Vontade que a tudo transcende que precisa discernida. É importante recordar que não nascemos sendo sujeitos, mas objetos de cuidados dos outros. Não somos autossuficientes. Aos poucos vamos compreendendo a importância da relativização da nossa vontade pessoal. Jovens influenciados pelo subjetivismo tendem a assumir uma postura defensiva a tudo e tem dificuldades de relacionamento com a autoridade. 

 O individualismo: “Cada um por si e Deus por todos!” É a ideologia da fantasia da prepotência do indivíduo isolado. Trata-se da tendência do esquecimento da nossa dimensão social. A pessoa é vista de modo isolada, avulsa, destacada dos outros, sem vínculos. A pessoa apesar de ser um “ser in-divi-sível”, por ser “uno”, é também um uno aberto aos outros. O individualismo radical é contraditório, pois não vivemos sem os outros. Eles nos enriquecem. O indivíduo não vive isoladamente! Somos parte integrante de uma grande rede! Toda a nossa existência é marcada pela presença do outro: fomos gerados, crescemos, fomos cuidados, educados; sem interação não sobrevivemos. A individualidade é positiva, pois é reconhecimento da nossa originalidade pessoal; mas jamais sobrevivemos sem a interação com os outros. Ser indivíduo não significa ser isolado.  Jovens individualistas se fecham no seu mundo e se empobrecem na dimensão socioafetiva. 

 Consumismo: Para essa ideologia a pessoa “Vale quanto consome!”. É a ideologia que reduz a beleza e a complexidade das necessidades humanas ao hábito do consumo. O consumismo reduz a grandeza do ser humano à sua dimensão física. Mas temos muitas fomes e diversas sedes; não precisamos somente de comida, bebida, roupa e calçado. O consumismo é materialista, agride o meio ambiente, desperdiça, nega a necessidade da ecologia integral. O ser humano não vive para consumir, mas consome para viver!  A saúde está no equilíbrio! Tudo está em relação! A visão consumista da vida, inverte o dinamismo que nos leva à felicidade: voltar-nos para fora! O consumismo reduz a pessoa aos instintos possessivos. Jovens consumistas sentem-se vazios e sufocados em meio a tantas coisas e prazeres. 

 Hedonismo: Afirma que a vida é curtição e sem prazer ela não vale nada! O hedonismo traz o prazer como princípio supremo da felicidade, absolutiza o agradável, provoca a fuga do sacrifício, descarta a caridade, a doação, a renúncia. Pelo prazer tudo é válido; isso promove e justifica a prostituição, abusos sexuais, atalhos, assédios, o sucesso imediato, o comodismo, a pornografia, a ditadura do prazer, o sensacionalismo, a intolerância em relação a tudo aquilo que causa incômodo pessoal. O prazer é um componente da nossa vida; mas nada que perdura nesta vida se mantém sobre o prazer. Sem sacrifício não há vida, não há amor, crescimento. Amor e sacrifício são inseparáveis! A salvação está intimamente relacionada à experiência do sacrifício. Jovens hedonistas trazem consigo uma grande dificuldade de compreender a verdadeira natureza do amor cristão.  

 O utilitarismo: “Quem não vive para servir, não serve para viver”. Essa parece ser uma frase inofensiva e estimulante, mas na verdade, é terrível. É profundamente utilitarista. Só merece viver quem é útil. A ideologia utilitarista afirma que só vale aquilo que é útil, não se importa com o seu sentido e significado; tudo é visto como puro meio inclusive a pessoa do outro; quem não produz não merece viver; quem não é útil é peso, gera prejuízo, é estorvo; por isso o utilitarismo propõe o descarte, a eutanásia, a pena de morte, o aborto… A pessoa humana tem valor em si mesma. Jamais deve servir como meio. A pessoa humana não vale pelo que ela faz, produz e serviço, mas pelo seu significado natural; o sentido da vida são está no produzir, mas no ser, no relacionar-se, na experiência do amor. 

 Tecnicismo: o tecnicismo vicia a subjetividade humana e a reduz ao uso de meios técnicos; o homem assim se torna escravo da técnica, da ciência, dos meios, da máquina. O tecnicismo prioriza a relação homem x máquina gerando a redução da qualidade das relações humanas; o homem chega a ser escravo dos meios; caindo na frieza das relações humanas, tornando-se mecanicista, frio, robótico, rígido, perdendo sua afetividade, sociabilidade e ternura; o tecnicismo quer tudo comprovar e o que não é comprovado não merece crédito. A tecnologia é um bem, é produto da conquista da inteligência, o ser humano não deve depender e ser subjugado pelo domínio da tecnologia. É preciso educar os jovens para dar prioridade às relações humanas. A dependência tecnológica é uma séria realidade atualmente, sobretudo, para os jovens.

 O relativismo moral: “Você decide!”. Para o relativismo moral as ações humanas não têm peso moral objetivo, mas tudo é conferido pelo indivíduo. Esse modo de pensar esvazia a objetividade do sentido das relações e dos gestos humanos. Invalida o direito e os códigos morais e gera a fuga da responsabilidade individual, apelando sempre para a mania da busca de uma justificativa para todas as atitudes, inclusive para a criminalidade. O relativismo moral promove a desobediência, a fragmentação doutrinal, a negação da objetividade dos limites do comportamento humano. Cada um faz a sua fronteira, por isso nega o direito, a lei, os códigos de procedimentos; cada um “faz a sua verdade”; é uma atitude consequente do subjetivismo. O relativismo moral é falso e destrói radicalmente a objetividade dos valores, das exigências morais e éticas. As leis naturais negam radicalmente o relativismo moral.

 Niilismo: “A morte resolve tudo!” Afirma que a razão humana é fraca para assimilar a Verdade e o Bem, por isso justifica o pessimismo, a apatia, a indiferença, a falta de compromisso, o cansaço, o desânimo, a fuga, o vazio existencial, a falta de motivação, a tristeza, o deboche da vida, o sofrimento, o derrotismo, a hipocondria, a automutilação, o suicídio. A mentalidade niilista promove o aniquilamento, o falimento, a negação da natureza da Vida humana dotada de grandes recursos como a inteligência, vontade, liberdade, espiritualidade… Mas Viver é querer, desejar, buscar, reagir, projetar-se, lutar…

 Presentismo (imediatismo): “Não deixar pra amanhã o que se pode fazer agora”; o imediatismo, pressiona os jovens para a pressa, levando-os a investir pouca preocupação em relação ao futuro. Com isso os jovens revelam ter dificuldade quanto à espera e a paciência em relação a processos. A mentalidade presentista é míope em relação ao passado e despreocupada quanto ao futuro. Para essa ideologia a felicidade é feita de fragmentos do tempo presente. O imediatismo é o vício que nos leva a negar a necessidade de etapas, processo; na vida somos convocados a nos educar, a saber esperar! O presentismo é grave porque: elimina a visão de liberdade voltada para o futuro, como projeto; suprime a percepção da história; descarta a exigência da vida como processo; rejeita a necessidade de etapas e da virtude da paciência; nega a necessidade do discernimento; não se importa com as consequências dos atos, das escolhas, das palavras, das atitudes…

Enfim, as ideologias são frágeis pois negam a visão da totalidade de uma realidade; absolutizam um aspecto da realidade, são posturas extremistas, desequilibradas, integristas; em geral tendem a reduzir a o ser humano a uma só dimensão, negando outras dimensões e exigências. As ideologias são reducionistas.  

PARA REFLEXÃO PESSOAL: 

Por que as ideologias em geral são sedutoras? 

Qual dessas ideologias mais lhe chamou a atenção? 

Onde está a grande fragilidade das ideologias? 

Os poderosos conselhos de 3 monges para vencer a melancolia

TheVisualsYouNeed - Shutterstock
Por Marzena Devoud

Não tem vontade de fazer nada? Fadiga misturada com profunda tristeza? Talvez seja a "acídia", um transtorno espiritual que pode afetar todo cristão. Aqui estão conselhos de três grandes monges que viveram e superaram esse mal.

A acídia, um estranho estado de espírito, uma espécie de tristeza e melancolia atingiu os primeiros monges cristãos, aqueles que escolheram refugiar-se no deserto para viver mais intensamente, na solidão ou em pequenas comunidades, o seu ideal de perfeição espiritual. 

Esses homens às vezes eram tocados por um desconforto que os deixava ao mesmo tempo preocupados, insatisfeitos, tristes e cansados. O mal chamado pela Igreja de acídia é, portanto, aquilo que hoje conhecemos como ansiedade e depressão. 

Este mal poderia, então, assumir diferentes formas: irritação com os irmãos e a vida monástica, falta de concentração na leitura e na oração, grande fadiga, fome e sono repentinos, desejo de novidades, desejo incontrolável de estar em outro lugar. O “demônio da acídia, também chamado de demônio do meio-dia , é o mais pesado de todos os demônios”, avisa Evagrio Pôntico, um monge do século IV que vivia no deserto egípcio. Ele explicou: 

“Ele ataca o monge por volta da quarta hora e o rodeia até por volta da oitava. Começa dando-lhe a impressão de que o sol está muito lento em seu curso, ou mesmo imóvel, e que o dia é de cinquenta horas. Em seguida, ele o exorta a olhar sem parar pela janela, o joga para fora de sua cela para examinar o sol e ver se a hora oitava se aproxima, finalmente o exorta a lançar os olhos por todos os lados, esperando a visita de um irmão. Ele o faz odiar seu lugar, seu modo de vida, o trabalho das mãos; ele sugere a ele que não há mais amor entre os irmãos, que ele não pode contar com nenhum … ” 

De fato, a acídia é uma espécie de torpor que paralisa a fé e deve ser combatido. Sim, mas como? Algumas ideias vêm destes três grandes monges que lutaram contra a acídia:

1SANTO ANTÔNIO, O GRANDE

Ascético e embriagado de Deus, como muitos anacoretas nos primeiros séculos do cristianismo, Santo Antônio, o Grande retirou-se no deserto para encontrar no silêncio e na solidão as condições ideais de união com Deus. Assim como Cristo, foi no deserto que testou sua fé. Apesar da sensação de esgotamento psíquico, até mesmo de loucura que o acometeu, decidiu resistir às visões impostas por Satanás: “Vi todas as redes do demônio instaladas na terra”.

Este último se esforça para distraí-lo de suas orações, instando-o a renunciar em espírito ao jejum a que se vincula e, em um sonho, chafurdar na gula … Ele, então, entende que o ascetismo nunca deve ser considerado como um fim em em si. A salvação vem de Deus. Como ele explica, dando este conselho valioso: 

“Guarda o que te mando: aonde quer que você vá, tenha sempre Deus diante de seus olhos; faça o que fizer, tenha o testemunho das Sagradas Escrituras; e onde quer que você esteja, não se mova facilmente. Guarde essas três coisas e você será salvo ”.

2SÃO PEDRO DAMIÃO

O monge eremita Pedro Damião dedicou-se desde muito jovem à oração, ao ascetismo e ao estudo das Sagradas Escrituras, tanto à contemplação como à pregação. 

Em suas numerosas obras que o tornaram doutor da Igreja, São Pedro Damião insiste em certas manifestações do mal. Surpreendido pela sonolência durante a leitura, descreve este “inevitável peso das pálpebras a que nem mesmo um santo de grande temperamento resiste”. Para ele, o remédio encontra-se na caridade que leva à verdadeira alegria:

“Que a esperança os conduza à alegria! Que a caridade desperte seu entusiasmo! e que nesta embriaguez a tua alma se esqueça que está a sofrer, para florescer caminhando para o que contempla dentro de si ”. 

3SÃO ROMUALDO

São Romualdo de Ravenna admitiu sofrer de acídia. O mal se manifestou nele particularmente durante o aprendizado mecânico dos Salmos . Diante da rebelião do corpo contra os constrangimentos da vida monástica a que estava submetido, ele repetiu que não era necessário ceder, mas, ao contrário, aumentar vigílias, orações e jejuns. 

Para ele, o monge trabalhador deve lembrar que não há outro descanso além do descanso eterno. Visto que as horas da manhã são aquelas em que a acídia ocorre com mais frequência, eles devem então estar ocupados com a oração.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Apelo do Papa pela Nicarágua: que o diálogo seja a base de uma convivência pacífica

Nicaraguense na Praça São Pedro durante o Angelus, segura a bandeira de
seu país  (AFP or licensors)

O Papa acompanha "de perto com preocupação e tristeza a situação que se criou na Nicarágua, que envolve pessoas e instituições".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Após a oração mariana do Angelus deste domingo (21/08), o Papa Francisco fez o seguinte apelo:

Acompanho de perto com preocupação e tristeza a situação que se criou na Nicarágua, que envolve pessoas e instituições. Gostaria de expressar minha convicção e minha esperança de que, por meio de um diálogo aberto e sincero, se possam encontrar as bases para uma convivência respeitosa e pacífica. Peçamos ao Senhor, por intercessão da Puríssima, para que inspire esta vontade concreta no coração de todos.

A seguir, Francisco saudou os romanos e peregrinos de várias partes da Itália e demais países, famílias, grupos paroquiais e associações. Em particular, saudou a comunidade do Pontifício Colégio Norte-Americano, especialmente os novos seminaristas recém-chegados, e os exortou "ao compromisso espiritual e à fidelidade ao Evangelho e à Igreja". Saudou as consagradas da Ordo virginum e as encorajou "a testemunhar alegremente o amor de Cristo". Saudou também os jovens do Caminho da Via Lucis que, seguindo o exemplo dos Santos da "porta ao lado", encontram os pobres que vivem nas estações ferroviárias.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 21 de agosto de 2022

São Pio X, papa

S. Pio X, papa | ACI Digital
21 de agosto

São Pio X

Origens

Santo Pio X foi batizado com o nome de José Melquior Sarto. Nasceu numa família pobre, humilde e cheia de filhos. Mas, também, era uma família rica de fé em Nosso senhor Jesus Cristo. Seu local de nascimento e infância foi um vilarejo na região de Riese, pertencente à diocese de Treviso, que fica ao norte da Itália. Sua data de nascimento foi 2 de junho de 1835. Desde pequeno, José mostrou uma ter inteligência brilhante. Por isso, seus pais decidiram fazer um enorme esforço para que o menino conseguisse estudar. Assim, dia após dia, por quatro anos, José caminhou descalço por vários quilômetros para ir e vir da escola. Sua alimentação nesse tempo se resumia a um pedaço de pão que levava para o almoço. E desde esse tempo de criança, o brilhante José já dizia que queria ser padre.

Órfão de pai

Quando se preparava para ingressar no seminário, seu pai veio a falecer. José, então, quis deixar os estudos para ajudar em casa. Sua mãe, porém, não permitiu. Ela se chamava Margarida e era uma camponesa cheia de coragem e fé. Assim, José permaneceu no seminário com o coração dividido por causa e sua família. Mas sua mãe sempre o encorajou a permanecer firme. No seminário, José também destacou-se nos estudos demonstrando, mais uma vez, sua inteligência brilhante.

Ordenação e ascenção

José Melquior Sarto, o futuro Papa Pio X foi ordenado padre aos vinte e três anos. Por causa de sua inteligência, vida de oração, humildade e carisma, ele viveu uma ascensão rápida na Igreja. No começo da vida de padre, foi vice-vigário em um vilarejo. Em seguida, o bispo designou-o vigário de uma grande paróquia. Por causa de seu trabalho pastoral marcante, foi nomeado cônego da catedral de Treviso. Depois, foi sagrado bispo da diocese italiana de Mântua. Em seguida, o Papa deu a ele o título de cardeal de Veneza. E, depois do falecimento do Papa Leão XIII, no conclave de 1903, Dom José Melquior Sarto foi eleito papa. Ele aceitou a missão e escolheu o nome de Pio X.

O começo da missão papal

Dom José Sarto assumiu o nome de Papa Pio X, mas continuou a ser quem era, vivendo a modéstia, a simplicidade e a pobreza. O lema de seu pontificado surpreendeu o mundo: "Restaurar as coisas em Cristo". Este lema foi bastante sentido através de uma vigilante atenção dada à vida interior da Igreja. Além disso, Pio X promoveu renovações na Igreja, como criar bibliotecas e reformar os seminários. Renovou também a música sacra, pela qual nutria grande amor. Outra reforma importante do Papa Pio X foi a do breviário, o livro de orações que os clérigos utilizam para rezar o ano inteiro.

Reformas para os leigos

Grande devoto da Eucaristia, São Pio X permitiu que os fiéis tivessem a grande graça de poderem receber a comunhão diariamente. Ele também autorizou que as crianças acima de sete anos pudessem receber a primeira comunhão. Sob seu governo, o ensino do catecismo passou a ser ministrado em todas as paróquias, para fiéis de todas as idades, pois ele percebia que os católicos precisavam conhecer melhor a fé que professam. Essas reformas trouxeram importantes mudanças para a Igreja.

Previsão da Primeira Guerra Mundial

Teólogo brilhante, São Pio X foi também pastor muito dedicado. Com satisfação ele fazia questão de se definir como "um simples pároco do campo". Ele anteviu a Primeira Guerra Mundial e isso lhe causou muito sofrimento. Sofreu pelas perdas que a humanidade sofreria e pela impotência de, mesmo como Papa, não poder fazer nada para evita-la.

Dom da cura

São Pio X tinha o dom da cura. Quando ele ainda estava vivo, várias curas extraordinárias aconteceram a doentes que tiveram contato com ele. Homem simples e acessível, ele explicava essas curas afirmando que elas emanavam "do poder das chaves de São Pedro". Poder este que vem de Nosso senhor Jesus Cristo. São Pio X faleceu quando tinha setenta e nove anos, em 20 de agosto de 1914 e passou a ser aclamado como santo pelos fiéis. Em 1954 foi celebrada sua canonização.

Oração a São Pio X

Ó Deus, que destes a São Pio X a graça de governar vossa Igreja com sabedoria, amor e verdade, dai também a nós, por sua intercessão, a graça de sabermos governar nossas vidas, nossas famílias, nossos empreendimentos, para que o vosso nome seja sempre mais glorificado. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo, amém. São Pio X, rogai por nós.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

Meditações sobre a Ressurreição (Parte II)

Ressuscitou | Kerigma Católico News

2. EMAÚS: A DECEPÇÃO E A ESPERANÇA

Dois homens tristes no entardecer

O Evangelho de São Lucas, no seu capítulo 24 (13-35), faz-nos contemplar de perto, de uma maneira muito viva, dois homens que  – na tarde do próprio dia da Ressurreição de Jesus – estão voltando para casa, cabisbaixos e decepcionados: os discípulos de Emaús.

Nesse mesmo dia – diz São Lucas -, dois discípulos caminhavam para uma aldeia, chamada Emaús, distante de Jerusalém sessenta estádios –cerca de doze quilômetros. Iam falando um com o outro sobre tudo o que se tinha passado . Aquilo  que se tinha passado era, nada mais nada menos, a paixão e a morte de Jesus, a “derrota” estrondosa de Cristo às mãos dos seus inimigos, enquanto as multidões, que cinco dias antes, no domingo de Ramos, o haviam aclamado entusiasmadas, vociferavam com ódio: Crucifica-o! Crucifica-o!

            Podemos imaginar, por isso,  qual era o seu estado de ânimo. Perdidos, deprimidos, desnorteados, conversavam como quem não acaba de acreditar que tivesse sido possível aquele afundamento dos seus sonhos. Assim andavam quando Jesus aproximou-se e caminhava com eles; mas os olhos estavam-lhes como que vendados e não o reconheceram.

São Josemaría Escrivá oferece-nos uma descrição cálida da aparição de Jesus ressuscitado a esses discípulos: “Caminhavam aqueles dois discípulos – escreve – em direção a Emaús. Andavam a passo normal, como tantos outros que transitavam por aquelas paragens. E ali, com naturalidade, aparece-lhes Jesus e caminha com eles, numa conversa que diminui a fadiga. Imagino a cena, bem ao cair da tarde. Sopra uma brisa suave. Em redor, campos semeados de trigo já crescido, e as oliveiras velhas, com os ramos prateados à luz tíbia”. São palavras poéticas que nos ajudam a fazer meditação, sentindo-nos dentro da cena, participando dela “como mais um personagem”.[i]

Ouçamos, pois – enquanto os acompanhamos –, as primeiras palavras que o Senhor lhes dirige: De que vínheis falando pelo caminho, e por que estais tristes?.        O diálogo que se travou é digno de ser meditado. Primeiro, como pessoas frustradas, os discípulos respondem  de mau humor, num tom ríspido: Um deles, chamado Cléofas, respondeu-lhe: “És tu acaso o único forasteiro em Jerusalém que não sabe o que nela aconteceu nestes dias?”… É como se dissesse, meio admirado e meio irritado: “Todo o mundo sabe. Onde é que você vive? Só você está por fora?”

Que ironia! Dirigem-se rudemente a Jesus, lançando lhe em rosto a sua ignorância a respeito da tragédia… do próprio Jesus! Tudo isso chegaria a ser cômico, se não fosse dramático. Mas nosso Senhor, como em todas as cenas da ressurreição, mostra-se especialmente afável e bem-humorado para com eles. Ousaria dizer que é até propositadamente divertido. Fazendo-se de ingênuo, pergunta-lhes “Que foi? Que houve?… Assim quer ajudá-los a abrir o coração, como, aliás, Ele deseja fazer conosco sempre que nos vê desanimados ou tristes: “Eu estou aqui – diz-nos -. Fala comigo”.

E eles abriram-se mesmo. Despejaram o vinagre da sua decepção. Falaram ao caminhante desconhecido sobre um tal Jesus de Nazaré, profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo, comentando os acontecimentos trágicos da quinta e da sexta-feira santas, e contaram-lhe como tinha acabado pregado na Cruz. Depois, confessaram a sua tremenda frustração: Nós esperávamos que fosse ele quem havia de restaurar Israel, e agora, além de tudo isso, já é o terceiro dia que estas coisas aconteceram.

Um erro de esperança

Esse era o mal que lhes corroía a alma: Nós esperávamos. Tinham colocado toda a sua esperança no Senhor. Tinham apostado nele. Por isso o haviam seguido, por isso tinham abandonado os seus planos pessoais, o aconchego do lar, tudo, jogando a vida numa só carta: a esperança de que Jesus fosse o poderoso Rei-Messias anunciado pelos Profetas, que triunfaria sobre todos os inimigos e se assentaria no trono do Reino de Israel, restabelecendo-o para sempre. Ninguém lhes tinha contado ainda que, em plena Paixão, Jesus declarara inequivocamente a Pilatos: O meu Reino não é deste mundo…

No entanto, eles, quase com certeza, já lhe tinham  ouvido dizer: O Reino de Deus está dentro de vós…  E também tinham escutado muitas das parábolas do Reino, que falavam, por meio de expressivos simbolismos, não de um reino terreno, político, mas de um Reino de graça, de paz e de amor que cresce dentro dos corações, nas famílias, nas sociedades, como o trigo que germina de noite e de dia; como o grão de mostarda que é pequenino e se torna árvore alta; como o fermento invisível que a mulher põe na massa de farinha e acaba fermentando-a toda… Ou como um Pai que perdoa o filho fugitivo, e um Pastor  que procura a ovelha perdida e que é, ao mesmo tempo, o Rei-Deus que nos convida a participar do seu banquete de amor eterno…

Poderíamos definir com exatidão o engano dos discípulos de Emaús – igual ao de muitos atuais discípulos de Cristo – como um grande “erro de esperança”. Aí esteve a sua falha. Tinham esperança, sim, mas era uma “esperança equivocada”, não era a virtude cristã da esperança. Em conseqüência, estavam irremediavelmente fadados à decepção e ao fracasso, como quem dispara uma flecha para o alvo errado, ou dirige um veículo fora da estrada, que, quanto mais rápido vai, mais perto está do desastre.

Assim são muitas mulheres e muitos homens de hoje. O seu mal é a visão deturpada da esperança: esperam o que não devem, e esperam mal. Os exemplos são inúmeros: falsas esperanças amorosas, falsas esperanças profissionais, falsas esperanças de glória e triunfo, falsa confiança nas riquezas…

Onde está o erro? A resposta é simples. Espera mal quem espera qualquer coisa diferente da Vontade de Deus a seu respeito, qualquer coisa – por grande e empolgante que seja – que esteja fora dos planos que Deus preparou e deseja para ele. Então, acontece a essas pessoas  o que Jesus dizia aos fariseus: Frustraram o desígnio de Deus a seu respeito (Lc 10,30). A vida deles tornou-se um plano divino traído, frustrado, que Deus não pode reconhecer como seu, e tem que lhes dizer: Não vos conheço (Mt 25,12).

É importante perceber que as pessoas não ficam frustradas “principalmente” por não terem alcançado os seus desejos, os seus sonhos. Na realidade, muitas das piores frustrações são as daqueles que alcançaram mesmo esses desejos e sonhos (“Já estou na faculdade, já tenho emprego, já me casei, já sou rico”), mas depois percebem que nada disso os preenche, não lhes traz a felicidade. Homens e mulheres ficam frustrados “principalmente” porque – sem sequer darem por isso – não atingem o ideal para o qual foram criadas por Deus, ou seja, por não terem sido fiéis à sua vocação de filhos de Deus, e por isso – desculpem a expressão rude – a vida delas, em vez de alcançar o desenvolvimento e maturidade de um filho que cresce, foi como um aborto. Fora do que Deus espera de nós, tudo é um triste aborto provocado… por nós!

Pensemos, por exemplo, nos casamentos fracassados. A maioria deles afundou-se porque marido e mulher “esperaram mal”. O que é que espera a maioria dos noivos, quando vão para o casamento? Sem dúvida, amar e ser felizes. Mas amar, como? Serem felizes, como? Muitos só pensam em  “receber” do outro muito carinho, paciência, compreensão, todo o aconchego para se “sentirem bem” realizando os seus próprios gostos e caprichos, os seus prazeres, e até as suas manias. Poucos pensam em dar e dar-se generosamente para o bem do outro e dos filhos, em construir uma família com abnegação generosa e desprendimento alegre, felizes por fazerem felizes os demais. Ou seja, não pensam no verdadeiro amor, no autêntico amor-doação, no único que pode trazer a felicidade.

Por isso, quando chega a hora da verdade e aparecem as dificuldades inevitáveis – essas com as quais Deus conta para nos purificar e amadurecer –, não compreendem que essas dificuldades são apelos para se darem  mais, para amarem mais, para dialogarem mais, e não para irritações, más caras, resmungos e gritos; que é a hora da compreensão, e não a da imposição; que é a hora de escutar com humildade, e não de “ter razão”…. Infelizmente, não entendem nada disso. E, então, tudo vai por água abaixo. Não foram ao casamento preparados para o verdadeiro amor, mas para “consumir” satisfações (como “consomem” os outros prazeres da vida). É natural que acabem dizendo,  como os discípulos de Emaús: “Nós esperávamos outra coisa”…

É preciso abrir os olhos da alma, com a ajuda de Deus, e compreender que a vida não é uma laranja para chupar e cuspir, que os outros não são cana de açúcar para tirar o caldo e jogar fora o bagaço, que Deus não é um “seguro protetor de egoísmos”, e que os outros não são “bens desfrutáveis”. Viver e ser feliz é coisa infinitamente maior do que “usufruir”! 

A virtude da esperança

Qual é, então, a verdadeira esperança cristã? É a confiança firme, nascida da fé viva que nos diz que viveremos envoltos no amor de Deus aqui na terra – em todas as circunstâncias e vicissitudes de cada dia – e, depois, eternamente no Céu. Tudo o que conduz a isso é bom. Tudo o que afasta disso é mau. Tudo o que conduz a isso acaba em felicidade – já aqui na terra -, e tudo o que afasta disso acaba em tristeza, e até – Deus não o permita – pode acabar em tormento eterno.

É muito claro o que diz o Catecismo da Igreja Católica sobre a esperança: “A esperança é a virtude teologal pela qual desejamos como nossa felicidade o Reino dos Céus e a Vida Eterna, pondo a nossa confiança nas promessas de Cristo e apoiando-nos não em nossas forças próprias, mas no socorro da graça do Espírito Santo… A virtude da esperança responde à aspiração de felicidade colocada por Deus no coração de todos os homens; assume as esperanças que inspiram as atividades dos homens; purifica-as para ordená-las ao Reino dos Céus; protege contra o desânimo; dá alento em todo o esmorecimento; dilata o coração na expectativa da bem-aventurança eterna. O impulso da esperança preserva do egoísmo e conduz à felicidade do amor” (nn. 1817 e 1818). São textos preciosos, que daria para meditar durante horas.

A grande lição dos discípulos de Emaús

Voltando para a cena dos discípulos de Emaús, vale a pena prestar atenção ao que Cristo lhes disse, quando terminaram o seu desabafo de desiludidos. Nosso Senhor começou a falar-lhes de modo claro, incisivo, sem rebuços, com palavras que tiveram o efeito de lancetar-lhes o tumor de ceticismo que lhes corroía o coração: Ó gente insensata e lenta de coração para acreditar em tudo o que anunciaram os profetas! Porventura não era necessário que o Cristo sofresse estas coisas e assim entrasse na sua glória?” E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas, explicava-lhes o que dele se achava dito em todas as Escrituras”, ou seja, as inúmeras profecias que falavam da sua Paixão. Jesus desvendou-lhes, assim, com um jato de luz divina, o plano da Trindade para a salvação do mundo, uma salvação que havia de ser realizada pelo máximo ato de Amor imaginável: a entrega do Filho de Deus na Cruz para a redenção dos nossos pecados.

Foi na Cruz, com efeito, onde o Filho de Deus – Deus feito Homem, encarnado por nós – atingiu o limite máximo do Amor, e com esse amor ilimitado, envolveu, compensou, purificou e superou todos os nossos desamores, todos os nossos pecados. Como fruto deste seu sacrifício, derramou sobre nós a graça do Espírito Santo – o fogo do Amor divino em pessoa –, e abriu-nos de par em par  as portas do Céu.

Quer dizer que o que Cléofas e o companheiro lamentavam como uma desgraça (a paixão e morte de Cristo), foi, na realidade,  a maior maravilha de toda a história da humanidade, o maior bem do mundo, o maior motivo de alegria de todos os séculos! Insensatos! – disse-lhes Jesus. Sim, insensatos os que não vêem isso e vão atrás de sombras e aparências falsas!

Enquanto Jesus ia falando pelo caminho, os corações dos dois caminhantes foram mudando. Um calor novo os invadiu, uma faísca de esperança se acendeu neles.  Aproximaram-se da aldeia para onde iam, e Jesus fez como se quisesse passar adiante. Mas eles forçaram-no a parar: “Fica conosco, já é tarde e o dia declina”..

É uma bela oração para nós fazermos, quando começarmos a sentir a proximidade de Jesus: “Fica conosco!  Não nos deixes, queremos estar contigo, queremos ter-te como amigo, queremos abrir-te a alma. Fica!”  E, além do mais, bem que percebemos que já se nos faz tarde, que a vida passa, que a vida acaba, sim, já é tarde e o dia declina. Olha, Senhor, que gastamos boa parte deste “dia”, que é a vida, entre falsas esperanças e verdadeiras frustrações. Precisamos de Ti. Por favor, fica, que só em Ti se acha a esperança…

Com Cristo, o coração arde 

Então – continua a contar São Lucas –, entrou com eles, e aconteceu que, estando sentados à mesa, ele tomou o pão, abençoou-o, partiu-o e serviu-lho. Então se lhes abriram os olhos e o reconheceram…, mas ele desapareceu. Diziam então um ao outro: “Não é verdade que o nosso coração ardia dentro de nós enquanto ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”

Tudo, nessa belíssima cena dos discípulos de Emaús, é espelho e modelo para nós. Bem dizia São Josemaría Escrivá: “Caminho de Emaús, caminho da vida”… Quando nos entristecer a falta de sentido de tantas coisas, e sobretudo, quando nos acabrunharem as decepções que parecem amontoar-se e afogar a esperança, façamos como os discípulos de Emaús:

Primeiro, abramos a alma a Deus (às vezes, a melhor maneira de abri-la é fazer uma confissão muito sincera).

Depois, escutemos as suas palavras, meditemos a Sagrada Escritura – especialmente os Evangelhos – com calma, com carinho, deixando que as Palavras de Deus penetrem na alma como a chuva na terra. Elas nos mostrarão que o que nos parece ruim muitas vezes é bom, que a Cruz – que julgamos ser uma porta que se nos fecha e nos deixa num beco sem saída – na realidade é uma porta que se abre, para que entremos num mundo melhor, de mais amor, de mais bondade, de mais pureza, de mais virtude.

Em terceiro lugar, acolhamos Jesus em casa, na casa da nossa alma, recebendo-o sempre dignamente na Eucaristia, na Comunhão, que é a união com Deus mais íntima que a criatura humana pode ter nesta terra: Jesus em nós, Jesus alimento nosso, Jesus sangue do nosso sangue e vida da nossa vida!

E por fim, a alegria. O coração desanimado, que estiolava e murchava, agora arde dentro de nós, e inflama-nos com uma nova esperança. Vemos um novo sentido para a vida, iluminada pela fé e o amor de Cristo, e temos necessidade de correr ao encontro dos outros, para contagiá-los com a nossa esperança, como fizeram os discípulos de Emaús depois que Jesus os deixou.

Lição de fé, lição de amor, lição de esperança. Vêm a calhar palavras com

que São Josemaria começava uma homilia sobre a esperança: “Há já bastantes anos, com a força de uma convicção que crescia de dia para dia, escrevi: Espera tudo de Jesus; tu nada tens, nada vales, nada podes. Ele agirá, se nele te abandonares. Passou o tempo, e essa minha convicção tornou-se ainda mais vigorosa, mais funda. Tenho visto, em muitas vidas, que a esperança em Deus acende maravilhosas fogueiras de amor, com um fogo que mantém palpitante o coração, sem desânimos, sem decaimentos, embora ao longo do caminho se sofra, e às vezes se sofra deveras”[ii].

Isto foi o que aconteceu com os discípulos de Emaús. Com o coração inflamado pela esperança, desfizeram o caminho dos desertores, voltaram a reunir-se com os Apóstolos e as santas mulheres no Cenáculo e participaram da alegria que – no meio ainda de sombras e hesitações – começava a alastrar-se entre eles e que anunciava, mesmo que muitos ainda não o percebessem plenamente e estivessem ainda atingidos pelo temor, um futuro de esperança pelos séculos dos séculos, até ao fim do mundo: “O Senhor ressuscitou verdadeiramente!…”  Esta é a grande verdade! A esperança cristã acabava de nascer com a ressurreição de Cristo, e já não morreria nunca mais.

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[i] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, n. 313

[ii] Amigos de Deus, n. 205

Fonte: https://presbiteros.org.br/

A promoção humana e a família em diálogo com a doutrina social da Igreja

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Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Os mais fortes vínculos afetivos e espirituais se consolidam na constituição de uma família.

Conheci recentemente um programa de promoção humana e enfrentamento à pobreza que me chamou a atenção não só pela eficiência e alcance mundial (conta com 400 organizações parceiras, distribuídas em 50 países, que vão dos ricos Estados Unidos e Canadá até os pobres Mali e Nigéria), mas também por sua evidente afinidade com a doutrina social da Igreja. Chama-se “Semáforo de Eliminação da Pobreza” e foi criado pela Fundação Paraguaya, uma organização originada, como o nome já diz, no Paraguai.

O programa chama-se “semáforo” porque utiliza uma metodologia de fácil execução, na qual as famílias avaliam 50 indicadores de sua vida usando as três cores do semáforo (vermelho, para a situação mais crítica, amarelo e verde). Feita a avaliação, são identificados objetivos que as famílias podem buscar alcançar, naquelas dimensões em que se sentem mais fragilizadas, e estratégias de apoio que podem ser adotadas por empresas, associações e governos para apoiar essas famílias na consecução desses objetivos.

A ampla difusão do programa é um atestado indireto de sua eficácia, mas gostaria de sublinhar alguns aspectos da doutrina social da Igreja que ficam evidenciados por uma proposta como essa. Talvez não tenhamos condições ou interesse de aderir a esse programa, mas não podemos deixar de considerar esses aspectos listados a seguir em qualquer situação que nos defrontemos com os desafios da promoção humana.

1. A promoção humana é um processo integral e que deve ser escolhido pela pessoa e não imposto a ela

A doutrina social da Igreja consagrou a expressão da Populorum progressio (PP 14, 42) “todos os homens e o homem todo”, para caracterizar o desenvolvimento humano como processo integral.  Os 50 indicadores estão agrupados em seis dimensões (renda e emprego; saúde e meio ambiente; habitação e infraestrutura; educação e cultura; organização e participação; interioridade e motivação) que permitem uma visão integral da situação das famílias. Programas de promoção muitas vezes se focam numa única dimensão (renda, educação, habitação, etc.) e com isso tem uma eficiência menor do que aquela que se pode alcançar com uma visão integral.

As dimensões podem parecer divididas em nossos modelos conceituais, mas estão sempre integradas na realidade. Melhorar a educação é importante, mas será muito mais eficiente se o jovem encontrar emprego adequado depois de completar seus estudos. Se existem problemas de infraestrutura urbana que afetam a saúde e a habitação das pessoas, a sua participação política será fundamental para que o poder público cumpra com suas obrigações. A interioridade e a motivação vão ser fundamentais em qualquer esforço que a família faça para alcançar seus objetivos.

Além disso, quando uma visão integral da realidade é apresentada, as pessoas podem escolher quais desafios desejam enfrentar primeiro, segundo suas prioridades e suas aptidões – desafios que podem não ser aqueles que o poder público ou as organizações sociais espontaneamente priorizariam.

2. A responsabilidade pessoal deve ser acionada num processo de promoção humana

A pessoa humana é protagonista de sua vida (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI 105-107), o que implica em liberdade, responsabilidade e motivação. É verdade que a pobreza é um problema estrutural das sociedades e que as pessoas, com raras exceções, são mais vítimas do que artífices de sua pobreza. Contudo, sem esforço e motivação, uma pessoa dificilmente conseguirá superar os obstáculos a seu desenvolvimento – e quanto maiores os obstáculos, mais esforço e motivação serão necessários. Por isso, uma consideração apenas estrutural, por mais correta que seja, não é eficiente num programa de promoção humana.

A motivação sempre se origina na vida interior da pessoa. Não se trata de querer que as pessoas tenham a nossa fé ou mesmo uma religião – ainda que tenhamos de reconhecer que, quando se trata de interioridade, ninguém tem a expertise acumulada ao longo dos séculos pelas grandes religiões. Os indicadores tomados no programa são bastante pragmáticos, associados á autoconfiança, ao empreendedorismo e ao equilíbrio afetivo-emocional, mas permitem que o sujeito tome consciência de sua responsabilidade pessoal e se motive para vencer os desafios que tem a frente.

3. A família é a primeira, mais fundamental e eficiente agente da promoção humana

A proposta do “Semáforo de eliminação a Pobreza” avalia e compromete a família e não apenas o indivíduo. Isso é fundamental tanto por razões existências e afetivas quanto por aspectos operacionais. Não à toa, a doutrina social da Igreja considera a família como “célula vital da sociedade” (cf. CDSI 209ss).

Do ponto de vista existencial e afetivo, é na família que a pessoa toma consciência de si mesmo, descobre quem é, exercita seus primeiros relacionamentos com os demais. Por outro lado, os mais fortes vínculos afetivos e espirituais se consolidam na constituição de uma família. Em nenhuma outra dimensão da existência o ser humano faz um investimento afetivo tão grande quanto na família. Naturalmente, é nela que iremos encontrar as motivações e as recompensas pelo esforço realizado na superação dos desafios que o mundo nos impõe.

Por outro lado, tanto pela força quanto pela efetividade e permanência de seus vínculos, a família é o apoio mais próximo e concreto com o qual cada pessoa conta para vencer os desafios da vida. Desde educar uma criança até cuidar de um ancião moribundo, toda a atividade de cuidado ou de promoção da pessoa será realizada com mais facilidade dentro de uma família do que fora dela.

4. Uma proposta de solidariedade e subsidiariedade

Bento XVI, na Caritas in veritate, lembra que “a subsidiariedade sem a solidariedade decai no particularismo social, a solidariedade sem a subsidiariedade decai no assistencialismo que humilha o sujeito necessitado” (CV 58). A importância da solidariedade na promoção humana é evidente e está naturalmente implicada no programa do “Semáforo”, na medida que empresas, associações e governos se organizam para dar o apoio necessário às famílias.

O conceito de subsidiariedade é menos conhecido e não tão intuitivo. Propõem justamente que as instâncias com mais poder e recursos devem subsidiar (isso é, ajudar) e não dirigir a promoção humana e o desenvolvimento tanto das pessoas quanto dos grupos sociais. Por tudo o que foi dito acima, fica claro, portanto, que o “Semáforo de Eliminação da Pobreza” é tanto solidário quanto subsidiário.

No Brasil

Entre nós, o “Semáforo” já está sendo aplicado no sul do Brasil (com o nome de Programa “Despertar”) pelo Banco da Família, e agora passará também a ser desenvolvido pelo Instituto Polaris (com o nome de Programa “Empresa sem pobreza”) no Sudeste do Brasil.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

XXI Domingo do Tempo Comum - Ano C

Uma mulher vestida de sol | comshalom

XXI Domingo do Tempo Comum

Palavra do Pastor

Dom Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

Uma Mulher vestida de Sol

A imagem da Mulher vestida de sol remete ao mistério que celebramos na solenidade da Assunção da Virgem Maria. Esta verdade de fé foi definida por Pio XII, em 1950, mas já estava presente na tradição da Igreja, no seu patrimônio de fé: “A imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha da culpa original, terminando o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. Para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte (…)” (Pio XII, Munificentissimus Deus).

A Igreja, quando olha para a glória da Mãe de Deus, vê preanunciado aquilo que também ela espera para si. O Livro do Apocalipse (11, 19; 12, 1.3-6.10) apresenta a imagem da mulher que aparece no céu, vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas. Esta mulher representa a Igreja e também a bem-aventurada Virgem Maria. A Constituição sobre a Igreja do Vaticano II, no capítulo VIII, nos 63 – 64, desenvolve esta analogia entre Maria e a Igreja. O mistério de Maria está intimamente unido ao mistério da Igreja. Maria é virgem e mãe; a Igreja, pela pregação e pelo batismo, gera para a vida imortal os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus. A Igreja é a virgem que, íntegra e puramente, guarda a fé dada pelo Esposo. A constituição dogmática Lumem Gentium, 64, afirma que a Igreja, “imitando a Mãe de seu Senhor, pela virtude do Espírito Santo, conserva virginalmente uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma sincera caridade”.

No Evangelho encontramos o mistério da visitação (Lc 1, 39 – 56). Maria que sobe apressadamente à região montanhosa para visitar Isabel. Esta atitude de Maria convida nossas comunidades de discípulos missionários a envolverem-se com a mística própria de Lucas (1, 39-45): a visita de Maria à sua prima Isabel. Esta cena revela o encontro da promessa e da realização salvadora de Deus.  As duas alianças se complementam designando e apontando alegremente que o Fruto bendito do seio de Maria é a esperança agora realizada. Zacarias, Isabel, João e Maria atualizam a esperança “esperante”, ativa, profética, alegre e cantante dos feitos de Deus na vida do seu povo: “Veio em socorro de Israel seu servo lembrado de sua bondade” (Lc 1, 54).

Esta cena do Evangelho relembra a toda a Igreja o caminho da missão, do colocar-se à disposição na realização da vontade de Deus. A Igreja, olhando para a pressa de Maria, encontra a sua vocação, a sua missão. Ela existe para evangelizar, para levar Jesus. Esta é a sua mística.

Maria inspira o caminho de uma Igreja onde todos caminham apressadamente para a missão, onde todos são missionários. Os missionários (as) são portadores da bondade, da proximidade de Deus que Maria viveu e transmitiu. Eles são testemunhas vivas da esperança de que nosso Deus vem ao nosso encontro. A atitude de saída, de encontro, de diálogo, de serviço, de anúncio, de testemunho de comunhão, de visitação que leva Jesus Cristo e Seu projeto de salvação é Missão. O Missionário leva a Esperança que vem da fé, e esta Esperança é Cristo, revelador do Amor do Pai.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF