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terça-feira, 30 de agosto de 2022

Humildade

Humildade | Catequizar

HUMILDADE 

 

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RS)

A Palavra de Deus da liturgia dominical orienta-nos a refletir e rezar a virtude da humildade. (Eclesiástico 3,19-21.30-31, Salmo 67(68), Hebreus 12, 18-19-22-24, Lucas 14, 1.7-14). O Catecismo da Igreja Católica define a virtude como “uma disposição habitual e firme para praticar o bem. Permite à pessoa não somente praticar atos bons, mas dar o melhor de si mesma. A pessoa virtuosa tende para o bem com todas as suas forças sensíveis e espirituais; procura o bem e opta por ele em atos concretos. Confere facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa. Homem virtuoso é aquele que livremente pratica o bem”. 

O que significa a humildade? A palavra humildade evoca sentimentos diversos e contrastantes. Pode ser sinônimo de servilismo, incapacidade, baixeza, incompetência. Também significa uma virtude nobre e sábia. Os textos bíblicos citados orientam a compreensão cristã de humildade. O livro de Eclesiástico olha a vida humana sob a ótica da sabedoria ensinada a partir das Escrituras e recomenda vivamente. “Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor”. Os ensinamentos tem por denominador o “amor pela humildade”. O texto inicia com apelativo “filho” que na linguagem sapiencial cria uma relação de familiaridade. A pessoa que possui a sabedoria pode transmiti-la à pessoa que deseja acolhê-la.  

No Evangelho Lucas encontramos Jesus como um peregrino e um hóspede. Todas os lugares que visita e é acolhido se tornam oportunidade e vitrine para o seu magistério. No texto de hoje, o lugar é a refeição na casa do chefe dos fariseus. Os fariseus, diversas vezes, foram os críticos mais contundentes das palavras e das ações de Jesus. Mesmo assim, ele não faz dificuldade para aceitar convites, porque é livre e aberto ao diálogo, não se rege por preconceitos e nem se fecha diante dos conflitos anteriores. Mesmo naquela refeição, “eles o observavam”. Mas também Jesus observa o que acontecia, notando que os convidados disputavam os primeiros lugares. O olhar atento desencadeia o ensinamento sobre a humildade.  

A parábola que Jesus conta não pretende ensinar etiqueta, nem falar somente para aquela refeição. Os ensinamentos dele sempre pretendem ter validade eterna e universal. Por isso, se concentra sempre no essencial das coisas e das situações, não se preocupa com as coisas marginais e secundárias. Na parábola acentua que a definição do local onde o convidado ficará sentado é da responsabilidade de quem convidou e não de quem foi convidado. Quem convidou julga a importância do convidado e fá-lo sentar-se no lugar adequado. Inicialmente a parábola passa a impressão de não ter ligação com Deus, mas a conclusão dela aponta claramente que quem avalia é Deus. “Porque quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado”. Não cita explicitamente Deus, porém poder-se-ia ler: “Deus o exaltará”, “Deus o humilhará”.  

O que significa humildade? Na compreensão cristã é preciso ir ao encontro de Cristo e ver como viveu e explicou a humildade. Ela tem a haver com Deus como causa exemplar e origem. Deus é aquele que em Cristo presta tanta atenção ao homem, ao ponto de estar disposto a dar tudo. Jesus está pronto a morrer por todos os homens. Humildade tornar-se assim uma virtude divina antes de ser humana. Por isso Jesus pode dizer: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29). 

Humildade é, antes de tudo, o reconhecimento da grandeza de Deus e a necessidade de relacionar-se sempre com ele. Daí deriva o justo modo de relacionar-se com os outros, sem servil submissão em relação aos poderosos, nem orgulhosa superioridade em direção aos mais simples. Humildade é atenção a todos, disponibilidade ao serviço. Humildade é o justo conhecimento de si para ocupar exatamente o próprio lugar na história oferecendo o próprio contributo para o desenvolvimento do homem.

As melhores maneiras de ajudar os idosos a conviver mais pacificamente com a tecnologia

Shutterstock | StockLite
Por Cerith Gardiner

Se for difícil viver em uma sociedade que está se tornando cada vez mais “inteligente”, os idosos poderão sentir que não há lugar para eles.

A velocidade com que a sociedade avançou em termos de tecnologia é bastante impressionante. Se você pensar bem, o fato de podermos ir a uma loja e nem precisar sacar nossa carteira para pagar é algo com o qual não poderíamos sonhar apenas algumas décadas atrás.

Hoje, os pagamentos sem contato se tornaram, praticamente, a norma. Também estamos vivendo em um mundo em que, quando você está doente, não precisa ir ao médico, pois as consultas on-line se tornaram uma solução que economiza tempo. E quanto ao setor bancário? Bem, as agências estão fechando a uma velocidade impressionante, e se você tiver um problema, terá que passar por uma infinidade de pessoas nos call centers para resolver.

Sou uma mulher de meia-idade bastante experiente em tecnologia. Porém, às vezes ainda me sinto frustrada com a falta de interação física. Embora eu me maravilhe com a forma como esses desenvolvimentos tecnológicos são tão práticos e eficientes em termos de tempo, também gostaria que pudéssemos voltar a usar dinheiro, conversar com o pessoal do caixa e realmente ver um médico pessoalmente.

Os idosos e a tecnologia

Recentemente, também percebi como todas essas mudanças são assustadoras para meus pais idosos (não que eles quisessem admitir isso!). 

Por exemplo: meu pai, que tem 80 anos, ficou particularmente frustrado quando não conseguiu completar seu check-in no aplicativo da companhia aérea. Eu tentei ajudá-lo e não consegui. Meu filho, de 23 anos, também tentou e falhou miseravelmente. Foi a minha irmã que conseguiu. E, no momento em que resolvemos o problema, o voo dele estava quase para decolar. Este sistema supostamente rápido e fácil de usar, sem dúvida, fez com que sua pressão arterial aumentasse, algo que poderia ser letal em sua idade.

Depois fui fazer compras com minha mãe. Quando chegou a hora de pagar, ela teve que ir a um autoatendimento. Ela se mostrou um pouco confusa diante da máquina, mas orgulhosamente disse que já a tinha utilizado antes. No entanto, a máquina se recusou a registrar alguns de seus itens e minha mãe ficou em pânico. Ela sentiu a pressão das pessoas esperando na fila e também se sentiu um pouco idiota.

Conhecimento e habilidade

Assegurei a ela que esse tipo de coisa acontecia comigo o tempo todo e que teríamos que esperar por ajuda. Mais uma vez, ela ficou agitada e envergonhada por sua considerada falta de conhecimento ou habilidade com a tecnologia.

Esse incidente também me deixou bastante irritada. Minha mãe é uma mulher inteligente, que conseguiu acompanhar algumas mudanças tecnológicas. Ela domina o uso de seu smartphone e pode navegar nas compras on-line como uma profissional. No entanto, esse pequeno incidente a fez se sentir mal.

Claro que eu assegurei a ela que isso não era uma coisa de idade. Também apontei que as habilidades práticas que ela adquiriu como dona de casa com nove filhos causariam inveja na minha geração. Parece que hoje valorizamos a tecnologia acima da maioria das coisas, e isso parece minimizar os esforços e talentos das gerações anteriores.

Minha preocupação adicional é que, à medida que a sociedade avança, as gerações mais velhas se sentirão cada vez mais isoladas. Se for difícil viver em uma sociedade que está se tornando cada vez mais “inteligente”, os idosos poderão sentir que não há lugar para eles.

Felizmente, existem maneiras de ajudar nossos cidadãos mais velhos. Aqui estão apenas algumas delas:

Observe

Fique atento: quando você estiver fora de casa e vir um idoso lutando com a tecnologia, ofereça-lhe uma mão amiga.

Mantenha seus entes queridos atualizados

Se você tem familiares mais velhos, reserve um tempo para tentar ensinar-lhes alguns fundamentos de tecnologia. Mas atenção: não seja muito detalhista e vá no ritmo deles.

Matricule-os em alguns cursos

Existem alguns centros comunitários que oferecem aulas para idosos, a fim de ajudá-los a aprender mais sobre as tecnologias. Se seu ente querido puder, incentive-o a se inscrever!

Acompanhe-os

Se você sabe que seu ente querido idoso vai às compras em um horário regular, organize-se para ir com ele, se puder. Você será uma força tranquilizadora se as coisas não saírem conforme o planejado. 

Uma das atividades mais frustrantes e demoradas é qualquer coisa que envolva papelada, embora hoje em dia os órgãos governamentais prefiram que todas as informações sejam enviadas eletronicamente – o que abre uma outra caixa de Pandora. Então seja uma mão amiga para os idosos.

Peça-lhes ajuda

A maioria das pessoas gosta de se sentir útil. Este é especialmente o caso dos idosos. Em idades mais avançadas, eles tendem a pensar que são apenas um fardo pesado. Portanto, reserve um tempo para pedir-lhes conselhos ou ajuda, mesmo que você realmente não precise. Uma das coisas que minha mãe adora é quando eu pergunto a ela como tirar uma mancha teimosa da roupa ou peço-lhe para compartilhar alguns conselhos de culinária.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

São Félix e Santo Adauto

SS. Félix e Adauto | arquisp
30 de agosto

São Félix e Santo Adauto

Poucos são os registros encontrados sobre Félix e Adauto, que são celebrados juntos no dia de hoje. As tradições mais antigas dos primeiros tempos do cristianismo narram-nos que eles foram perseguidos, martirizados e mortos pelo imperador Diocleciano no ano 303.

A mais conhecida diz que Félix era um padre e tinha sido condenado à morte por aquele imperador. Mas quando caminhava para a execução, foi interpelado por um desconhecido. Afrontando os soldados do exército imperial, o estranho declarou-se, espontaneamente, cristão e pediu para ser sacrificado junto com ele. Os soldados não questionaram. Logo após decapitarem Félix, com a mesma espada decapitaram o homem que tinha tido a ousadia de desafiar o decreto do imperador Diocleciano.

Nenhum dos presentes sabia dizer a identidade daquele homem. Por isso ele foi chamado somente de Adauto, que significa: adjunto, isto é "aquele que recebeu junto com Félix a coroa do martírio".

Ainda segundo as narrativas, eles foram sepultados numa cripta do cemitério de Comodila, próxima da basílica de São Paulo Fora dos Muros. O papa Sirício transformou o lugar onde eles foram enterrados numa basílica, que se tornou lugar de grande peregrinação de devotos até depois da Idade Média, quando o culto dedicado a eles foi declinando.

O cemitério de Comodila e o túmulo de Félix e Adauto foram encontrados no ano de 1720, mas vieram a ruir logo em seguida, sendo novamente esquecidos e suas ruínas, abandonadas. Só em 1903 a pequena basílica foi definitivamente restaurada.

Esses martírios permaneceram vivos na memória da Igreja Católica, que dedicou o mesmo dia a são Félix e santo Adauto para as comemorações litúrgicas. Algumas fontes, mesmo, dizem que os dois santos eram irmãos de sangue.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

Cardeal Sérgio da Rocha: a dimensão de serviço é fundamental para a Cúria Romana

Cardeal Sergio da Rocha, arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil - foto arquivo

Um encontro para refletir sobre a última Constituição Apostólica do Papa Francisco: Praedicate Evangelium. Esse é o propósito do encontro que nos dias 29 e 30 de agosto, na Sala do Sínodo, reúne todos os cardeais da Igreja, também os eméritos.

Padre Modino - CELAM

Um dos presentes no encontro no Vaticano, que reúne todos os cardeais da Igreja, também os eméritos é o arcebispo de Salvador de Bahia, Dom Sérgio da Rocha, que vê esse momento como “muito especial, de vivência da colegialidade entre nós bispos, mas muito atentos, muito em sintonia com a missão da Igreja no mundo inteiro”. O Primaz do Brasil lembra que “o Papa Francisco tem falado muito em sinodalidade e naturalmente em colegialidade episcopal”, destacando que é um momento “de vivência da própria sinodalidade entre os cardeais, que somos os primeiros a estar em sintonia com o Papa Francisco e a valorizar sempre mais essa proposta do caminhar juntos nas várias instâncias da própria Igreja”.

O cardeal da Rocha reconhece que “sempre se espera por reformas ou por iniciativas que expressem mudanças de ordem prática, mas acima de tudo é necessário acolher o Espírito da própria constituição, da própria proposta para a Cúria Romana, que é justamente de comunhão, de serviço e missão”. Ele insiste na necessária “vivência da comunhão, vivência da missão numa atitude permanente de serviço, de Igreja servidora e solidária”. Nesse sentido, dom Sergio afirma que isso tem que ser assumido pela Cúria Romana “em seu dia a dia e nas suas estruturas, aquilo que se quer para toda a Igreja, que nós sejamos mesmo uma Igreja que promova sempre mais, vivencie sempre mais a comunhão, essa dimensão do serviço, os que estão atuando na Cúria Romana são servidores e hoje servidoras da Igreja, e é claro, em vista da missão da Igreja”.

O arcebispo de Salvador não hesita em dizer que “essa dimensão de serviço, de missão, são fundamentais para a Cúria Romana, assim como para o conjunto da Igreja”. Estamos diante de um convite do Papa, também para a Cúria, que “quer incluir nessa perspectiva sinodal o conjunto da Igreja”. O propósito do Papa, segundo o Primaz do Brasil, é “tornar a Cúria Romana sempre mais participativa em relação à diversidade, à pluralidade da Igreja no mundo”. Ele destaca a importância de “que a Cúria conte cada mais com a diversidade de vocações e ministérios, mas também com a diversidade regional, a pluralidade de expressões da Igreja no mundo, já que nós temos tido um esforço muito bonito do Papa em trazer para a Cúria Romana, representantes da Igreja nos vários continentes”.

Dom Sérgio da Rocha insiste em que “a catolicidade da Igreja, na sua essência mais genuína, exige esta pluralidade da Igreja na sua atuação”. Ele diz que “aqueles que atuam na Cúria, podem expressar bem melhor e cumprir bem melhor a realidade pluriforma da própria missão da Igreja no mundo, sempre buscando aquilo que é essencial, aquilo que nos une como Igreja. Mas sem dúvida que essa representação contando sobretudo hoje com a presença de mulheres, é fundamental”.

O purpurado coloca como exemplo o Dicastério para os Bispos, do qual faz parte, mostrando sua alegria e felicitando o Papa Francisco “pela escolha de mulheres para integrar o próprio dicastério”, algo que considera de grande relevância, diante desta “tarefa muito exigente que é a do Dicastério dos Bispos”.

Uma diversidade que se faz presente no Colégio Cardinalício, que “ajuda a nós cardeais, porque é muito importante que cada cardeal tenha também outras perspectivas, conheça ou ouça a respeito de outras realidades da Igreja no mundo para poder ajudar melhor ao Papa no nosso serviço à Igreja”, ressalta Dom Sérgio. Ele destaca que “nós cardeais somos servidores da Igreja, em primeiro lugar ao serviço do próprio Papa, daquilo que o Papa define como serviço para cada cardeal”.

Essa presença de cardeais das mais diferentes regiões do mundo, aqueles que muitas vezes chamam de periféricos, de regiões com uma importância que se considera secundária na geopolítica atual mundial, o Papa ao fazer isso, diz o Arcebispo de Salvador, “está não só valorizando a Igreja que está presente no mundo inteiro, nos diferentes contextos socioculturais, mas também com isso a Igreja local, através de seus cardeais possa contribuir melhor com o Colégio Cardinalício, mas sobretudo com o Papa, de quem nós estamos ao serviço”.

Ele vê como sinal de esperança essa pluralidade de origens dos próprios cardeais, algo que “tem um significado eclesiológico muito bonito, enquanto expressão da catolicidade da Igreja, essa pluralidade de origens dos próprios bispos, mas também tem uma dimensão pastoral, de ordem prática, de que com essa presença plural a Igreja possa realizar cada vez melhor a sua missão buscando sim a unidade, mas sempre respeitando a pluralidade dos contextos onde a missão acontece”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Ser cardeal significa ser servidor do povo de Deus, diz dom Paulo Cezar

O arcebispo de Brasília, cardeal Paulo Cezar Costa / Daniel Ibáñez (ACI Prensa)
Por Almudena Martínez-Bordiú | ACI Prensa

BRASILIA, 30 ago. 22 / 09:13 am (ACI).- Paulo Cezar Costa, nomeado cardeal pelo papa Francisco no consistório no último sábado, explicou que ser cardeal “significa ser servidor do povo de Deus”.

O novo cardeal do Brasil disse à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, que um cardeal “é um homem que olha para Jesus Cristo, o servidor, o grande exemplo para todos nós”.

“Ele também é aquele que busca servir, doar sua vida na Igreja e dar sua vida ao povo de Deus”, disse. "É isso que procuro e gostaria de ser, um servidor do povo de Deus".

Cardeal Paulo Cezar Costa

Dom Paulo César Costa nasceu em Valença (RJ) em 20 de julho de 1967. Foi ordenado sacerdote em 5 de dezembro de 1992. É doutor em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

Como sacerdote, foi vigário paroquial, pároco, diretor e professor do Departamento de Teologia da PUC-Rio, reitor do seminário e diretor do Instituto de Filosofia e Teologia Paulo VI em Nova Iguaçu (RJ).

Em 2010 foi nomeado bispo. Sua ordenação episcopal foi em 5 de fevereiro do mesmo ano. Na CNBB atuou como membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé de 2011 a 2015.

Em 22 de junho de 2016, o papa Francisco o nomeou, aos 48 anos, o sétimo bispo de São Carlos, sucedendo dom Paulo Sérgio Machado, que renunciou aos 70 anos, em 16 de dezembro de 2015, após ser preso por dirigir embriagado.

Em 20 de abril de 2020, o papa Francisco o nomeou membro da Pontifícia Comissão para a América Latina e, no dia 4 de julho seguinte, também o nomeou membro do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Dom Costa também foi membro do grupo de bispos consultivos do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) e, em 21 de outubro de 2020, o papa Francisco o nomeou arcebispo metropolitano de Brasília aos 53 anos.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Cardeal Paulo Cezar Costa: Arcebispo de Brasília

Captura de tela: Vaticaqn News

Cardeal Paulo Cezar Costa: Arcebispo de Brasília é criado Cardeal em Celebração no Vaticano

Na manhã deste sábado (27/08), Sua Santidade Papa Francisco, presidiu o Consistório público para a criação de 20 novos cardeais para a Santa Igreja de Deus, dentre eles, o Arcebispo Metropolitano de Brasília, o agora Cardeal, Dom Paulo Cezar Costa. A celebração aconteceu na Basílica de São Pedro, no Vaticano, com presença de mais de 7 mil fiéis, segundo informações do Vatican News, e transmissão pelas mídias sociais e emissoras de rádio e TV católicas.

A cerimônia foi iniciada com a procissão de entrada dos cardeais eleitos acompanhados de seus secretários que os ajudaram na cerimônia. Acompanhou o Cardeal Paulo Cezar neste ofício Padre Rodolfo Faria, do clero da Diocese de São Carlos, da qual Dom Paulo foi Bispo diocesano durante alguns anos.

No início da celebração, o Prefeito do Dicastério para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Cardeal Arthur Roche, saudou o Santo Padre, em nome dos novos cardeais. O Evangelho proposto para a ocasião, foi o de Lucas 2, 49-50, do qual, o Santo Padre pronunciou sua homilia a qual apresentamos uma tradução não oficial abaixo.

O Papa então leu a fórmula da criação e proclamou solenemente os nomes dos novos cardeais, anunciando sua ordem presbiteral ou diaconal. Ao Cardeal Paulo Cezar Costa foi dado o título de Cardeal-presbítero de São Bonifácio e Santo Aleixo no Monte Aventino, título que já foi dos Cardeais brasileiros Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti (1905-1930), Sebastião Leme da Silveira Cintra (1933-1942), Jaime de Barros Câmara (1946-1971), Avelar Brandão Vilela (1973-1986), Lucas Moreira Neves (1988-1998) e Eusébio Oscar Scheid (2003-2021). Em breve, o Cardeal Paulo Cezar tomará posse de sua sede cardinalícia, sendo sinal de sua ligação com a Igreja em Roma.

O Rito contou com a profissão de fé dos novos Cardeais perante o povo de Deus e o juramento de fidelidade e obediência ao Papa Francisco e seus sucessores. Os novos cardeais, de acordo com a ordem de criação, ajoelharam-se diante do Santo Padre que lhes impôs o solidéu e o barrete cardinalício, deu-lhes o anel de cardeal e designou a cada um uma igreja em Roma como sinal de participação no cuidado pastoral do Papa na Cidade, entregando-lhes a Bula de criação de um cardeal e atribuição do Título ou Diaconia.

Após a entrega da Bula de criação de um cardeal e atribuição do Título ou Diaconia, o Santo Padre Francisco trocou o abraço da paz com cada novo Cardeal. Aqueles que acompanharam a transmissão pelos meios de comunicação, puderam perceber que, ao entregar as insígnias a Dom Paulo Cezar, Papa Francisco deve-se conversando e rindo com ele durante longos estantes, mostrando sua proximidade com o Arcebispo da Capital Federal que foi um dos organizadores da JMJ 2013 que aconteceu no Rio de Janeiro.

No final do Consistório Ordinário Público para a criação de novos Cardeais, o Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, foi diante do Santo Padre, leu a “Peroratio” e apresentou brevemente as biografias dos dois bem-aventurados. Então o Papa, depois de ter expressado a avaliação dos votos, decretou que os Beatos sejam inscritos no Registro dos Santos no domingo, 9 de outubro de 2022.

A Missa de Acolhida do Cardeal Paulo Cezar Costa acontecerá no próximo sábado (03/09), às 9h30, na Catedral Metropolitana de Brasília.

Dom Paulo | Setor de Comunicação/arqbrasilia

Integra da Homilia do Santo Padre – Tradução não-oficial

Esta frase de Jesus, bem no meio do Evangelho de Lucas, atinge-nos como uma flecha: “Vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (12.49).

No caminho com os discípulos para Jerusalém, o Senhor faz um anúncio em estilo profético típico, usando duas imagens: fogo e batismo (cf. 12, 49-50). O fogo deve trazê-lo ao mundo; batismo terá que recebê-lo Ele mesmo. Tomo apenas a imagem do fogo, que aqui é a chama poderosa do Espírito de Deus, é o próprio Deus como “fogo devorador” (Dt 4,24; Hb 12,29), Amor apaixonado que purifica, regenera e transfigura tudo. Este fogo – como aliás também o “batismo” – revela-se plenamente no mistério pascal de Cristo, quando Ele, como coluna ardente, abre o caminho da vida através do mar escuro do pecado e da morte.

No entanto, há outro fogo, o das brasas. Encontramo-lo em João, no relato da terceira e última aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos, no lago da Galileia (cf. 21, 9-14). Este pequeno fogo foi aceso pelo próprio Jesus, perto da praia, enquanto os discípulos estavam nos barcos e puxavam a rede cheia de peixes. E Simão Pedro chegou primeiro, nadando, cheio de alegria (cf. v. 7). O fogo do carvão é suave, escondido, mas dura muito tempo e é usado para cozinhar. E ali, na margem do lago, ele cria um ambiente familiar onde os discípulos desfrutam, maravilhados e emocionados, a intimidade com seu Senhor.

Nos fará bem, queridos irmãos e irmãs, neste dia, meditarmos juntos a partir da imagem do fogo, em sua dupla forma; e à sua luz rezar pelos Cardeais, de modo particular por vós, que nesta mesma celebração recebe a sua dignidade e tarefa.

Com as palavras registradas no Evangelho de Lucas, o Senhor nos chama novamente a nos colocarmos atrás dele, a segui-lo no caminho de sua missão. Uma missão de fogo – como a de Elias -, tanto pelo que veio fazer como pelo modo como o fez. E para nós, que na Igreja fomos tirados do meio do povo para um ministério de serviço especial, é como se Jesus estivesse entregando a tocha acesa, dizendo: Tomai, “como o Pai me enviou, também estou enviando vós” (Jo 20, 21). Assim, o Senhor quer comunicar-nos a sua coragem apostólica, o seu zelo pela salvação de cada ser humano, ninguém excluído. Ele quer comunicar-nos a sua magnanimidade, o seu amor sem limites, sem reservas, sem condições, porque a misericórdia do Pai arde no seu coração. É o que arde no coração de Jesus: a misericórdia do Pai. E dentro deste fogo há também a misteriosa tensão, própria da missão de Cristo, entre a fidelidade ao seu povo, à terra das promessas, àqueles que o Pai lhe deu e, ao mesmo tempo, abertura a todos os povos – aquela universal tensão -, no horizonte do mundo, nas periferias ainda desconhecidas.

Este fogo poderoso é o que anima o apóstolo Paulo no seu incansável serviço ao Evangelho, na sua “corrida missionária” guiada, sempre impulsionada pelo Espírito e pela Palavra. É também o fogo de tantos missionários que experimentaram a cansativa e doce alegria de evangelizar, e cuja própria vida se tornou evangelho, porque foram antes de tudo testemunhas.

Este, irmãos e irmãs, é o fogo que Jesus veio “lançar sobre a terra”, e que o Espírito Santo acende também no coração, nas mãos e nos pés daqueles que o seguem. O fogo de Jesus, o fogo que Jesus traz.

Depois há o outro fogo, o das brasas. O Senhor também quer comunicar isto a nós, porque como Ele, com mansidão, fidelidade, proximidade e ternura – este é o estilo de Deus: proximidade, compaixão e ternura – podemos fazer com que muitos gozem da presença de Jesus vivo no meio de nós. Uma presença tão evidente, mesmo no mistério, que não há necessidade de perguntar: “Quem é você?”, porque o próprio coração diz que é Ele, é o Senhor. Este fogo arde de modo particular na oração de adoração, quando estamos em silêncio perto da Eucaristia e saboreamos a humilde, discreta, oculta presença do Senhor, como um fogo de brasas, para que esta mesma presença se torne alimento para o nossa quotidiana vida.

O fogo das brasas faz-nos pensar, por exemplo, em São Carlos de Foucauld: na sua longa permanência num ambiente não cristão, na solidão do deserto, centrando tudo na presença: a presença do vivo Jesus, na Palavra e na Eucaristia, e a sua própria presença fraterna, amiga e caridosa. Mas também nos faz pensar naqueles irmãos e irmãs que vivem a consagração secular no mundo, alimentando o fogo baixo e duradouro no local de trabalho, nas relações interpessoais, nos encontros das pequenas fraternidades; ou, como sacerdotes, num ministério perseverante e generoso, sem clamor, entre o povo da paróquia. Um pároco de três paróquias, aqui na Itália, me disse que tinha muito trabalho. “Mas você é capaz de visitar todas as pessoas?” eu disse. “Sim, eu conheço todo mundo!” – “Mas você sabe o nome de todos?” – “Sim, até os nomes dos cães das famílias”. Este é o fogo brando que leva o apostolado à luz de Jesus. E então, não é o fogo das brasas que aquece todos os dias a vida de tantos esposos cristãos? Santidade conjugal! Reavivada com uma oração simples, “caseira”, com gestos e olhares de ternura, e com o amor que acompanha pacientemente as crianças no seu caminho de crescimento. E não nos esqueçamos do fogo de carvão guardado pelos idosos – são um tesouro, o tesouro da Igreja – o coração da memória, tanto na família como no âmbito social e civil. Como é importante este braseiro de velhos! Famílias se reúnem em torno dele; permite que você leia o presente à luz de experiências passadas e faça escolhas sábias.

Caros irmãos Cardeais, na luz e no poder deste fogo caminha o Povo santo e fiel, do qual fomos atraídos, daquele povo de Deus, e ao qual fomos enviados como ministros de Cristo Senhor. O que esse fogo duplo de Jesus, o fogo impetuoso e o fogo brando, diz a você e a mim em particular? Parece-me que nos lembra que um homem de zelo apostólico é animado pelo fogo do Espírito para cuidar corajosamente das coisas grandes como das pequenas.

Um Cardeal ama a Igreja, sempre com o mesmo fogo espiritual, tanto nas grandes questões como nas pequenas; tanto encontrando os grandes deste mundo – ele deve fazê-lo, muitas vezes – quanto os pequenos, que são grandes diante de Deus. , os novos horizontes da Europa após a guerra fria – e Deus me livre que a miopia humana feche novamente aqueles horizontes que Ele abriu! Mas, aos olhos de Deus, são igualmente valiosas as visitas que ele fazia regularmente aos jovens detidos em uma prisão juvenil em Roma, onde era chamado de “Don Agostino”. Fez a grande diplomacia – o martírio da paciência, esta era a sua vida – juntamente com a visita semanal a Casal del Marmo, com os jovens. E quantos exemplos desse tipo poderiam ser dados! Lembro-me do Cardeal Van Thuân, chamado a pastorear o Povo de Deus em outro cenário crucial do século XX, e ao mesmo tempo animado pelo fogo do amor de Cristo para cuidar da alma do carcereiro que vigiava a porta da sua cela. Essas pessoas não tinham medo do “grande”, do “máximo”; mas também levava o “pequeno” de cada dia. Depois de uma reunião em que o Cardeal Casaroli informou a São João Paulo II de sua última missão – não sei se na Eslováquia ou na República Tcheca, um desses países, falava-se de alta política – e quando ele estava saindo o Papa chamou-o e disse-lhe: “Ah, Eminência, uma coisa: continuas a ir ter com esses jovens presos?” – “Sim” – “Você nunca os abandona!”. A grande diplomacia e a pequena coisa pastoral. Este é o coração de um sacerdote, o coração de um Cardeal.

Queridos irmãos e irmãs, voltemos com o olhar para Jesus: só Ele conhece o segredo desta humilde magnanimidade, desta força mansa, desta universalidade atenta ao detalhe. O segredo do fogo de Deus, que desce do céu, iluminando-o de um extremo ao outro e que cozinha lentamente a comida das famílias pobres, dos migrantes ou dos sem-abrigo. Jesus quer lançar este fogo sobre a terra hoje também; ele quer acendê-lo novamente nas margens de nossas histórias diárias. Ele nos chama pelo nome, cada um de nós, ele nos chama pelo nome: não somos um número; olha-nos nos olhos, cada um de nós, olhe-nos nos olhos, e pergunta-nos: tu, o novo Cardeal – e todos vós, irmãos Cardeais -, posso contar convosco? Essa pergunta do Senhor.

E não quero ficar sem uma lembrança do cardeal Richard Kuuia Baawobr, bispo de Wa, que ontem, ao chegar a Roma, passou mal e foi hospitalizado por um problema cardíaco e, creio, fizeram uma operação, algo do gênero. Oramos por este irmão que deveria estar aqui e está internado. Obrigado.

Fonte da Homilia: Vatican News

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Martírio de São João Batista

Martírio S. João Batista | arquisp
20 de agosto

Martírio de São João Batista

A festa da natividade de são João Batista ocorre no dia 24 de junho. Ela faz parte da tradição dos cristãos como esta que celebramos hoje, do martírio de são João Batista. No calendário litúrgico da Igreja, esta comemoração iniciou na França, no século V, sendo introduzida em Roma no século seguinte. A origem da comemoração foi a construção de uma igreja em Sebaste, na Samaria, sobre o local indicado como o do túmulo de são João Batista.

João era primo de Jesus e foi quem melhor soube levar ao povo a palavra do Mestre. Jesus dedicou-lhe uma grande simpatia e respeito, como está escrito no evangelho de são Lucas: "Na verdade vos digo, dentre os nascidos de mulher, nenhum foi maior que João Batista". João Batista foi o precursor do Messias. Foi ele que batizou Jesus no rio Jordão e preparou-lhe o caminho para a pregação entre o povo. Não teve medo e denunciou o adultério do rei Herodes Antipas, que vivia na imoralidade com sua cunhada Herodíades.

A ousadia do profeta despertou a ira do rei, que imediatamente mandou prendê-lo. João Batista permaneceu na prisão de Maqueronte, na margem oriental do mar Morto, por três meses. Até que, durante uma festa no palácio daquela cidade, a filha de Herodíades, Salomé, instigada pela ardilosa e perversa mãe, dançou para o rei e seus convidados. A bela moça era uma exímia dançarina e tinha a exuberância da juventude, o que proporcionou a todos um estonteante espetáculo.

No final, ainda entusiasmado, o rei Herodes disse que ela poderia pedir o que quisesse como pagamento, porque nada lhe seria negado. Por conselho da mãe, ela pediu a cabeça de João Batista numa bandeja. Assim, a palavra do rei foi mantida. Algum tempo depois, o carrasco trazia a cabeça do profeta em um prato, entregando-a para Salomé e para sua maldosa mãe. O martírio por decapitação de são João Batista, que nos chegou narrado através do evangelho de são Marcos, ocorreu no dia 29 de agosto, um ano antes da Paixão de Jesus.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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Meditações sobre a Ressurreição (Parte V)

Ressuscitou | comshalom

5. ROTINA E AMOR

Um trabalho cansativo e inútil

Há uma cena encantadora, no final do Evangelho de São João (Jo 21, 1 ss.), que hoje nos vai ajudar a meditar sobre a nossa vida, a pensar diante de Deus, concretamente, no sentido do nosso dia-a-dia, que tantas vezes nos parece monótono e cinzento.

Trata-se de uma cena de pesca, de um fato que aconteceu depois da ressurreição de Cristo, quando os Apóstolos, a pedido de nosso Senhor, já tinham subido de Jerusalém para a Galileia. Lá, certo dia, se encontravam juntos cinco deles (Pedro, Tomé, Bartolomeu ou Natanael, Tiago e João e outros dois cujo nome não se menciona). Estavam novamente à beira do lago de Genesaré, palco que fora do seu trabalho profissional e também lugar de encontros inesquecíveis com Jesus.

Estava caindo a tarde. Pedro, então, disse aos outros: Vou pescar, e assim o fizeram: Partiram e entraram na barca. Naquela noite, porém, não pescaram nada.

Após uma noite de esforços inúteis – lançar a rede, recolhê-la vazia! -, estavam voltando para a praia em silêncio, como antigamente já lhes acontecera (cf. Lc 5, 5), e seus corações estavam tão cinzentos como a cor das nuvens do ante-amanhecer.

O coração inundado pela neblina cinza e triste de um trabalho inútil!  Essa é a cor de muitos corações, quando sentem o peso da rotina dos dias: sempre o mesmo trabalho, sempre os mesmos lugares, sempre as mesmas caras, sempre o mesmo trânsito, sempre as mesmas reclamações da mulher, sempre os mesmos mutismos e alheamentos do marido, e os mesmos problemas dos filhos, e a mesma dor de coluna, e a mesma falta de dinheiro… E isso, um dia e outro dia, e um mês e outro mês, e um ano e outro ano… As pessoas sentem-se envolvidas por essa rotina como por um gás asfixiante, e pode chegar um momento muito perigoso, que é quando pensam: “Não aguento mais, isto não é vida”.

A solução será “mudar”? 

Muitos acham, então, que a solução consiste em “mudar” (mudar de cidade, mudar de mulher ou de marido, mudar de trabalho, mudar de religião, mudar os hábitos certos e passar a ter vida desregrada). Ou então “desligam” de tudo e de todos, e passam a viver num mundo de sonhos, de fantasias (divagações de Internet e tv), de saudades…, que, por serem evasões, facilmente desembocam na pior fuga, na alienação completa do álcool e das drogas.

Santo Agostinho, o coração inquieto que não se conformava com as coisas confusas e medíocres, dizia: “Eu temia tanto como à morte ficar preso pelo hábito rotineiro” (Et tamquam mortem reformidabam restringi a fluxu consuetudinis). Mas não resolveu o problema fugindo, e sim arrependendo-se dos seus pecados e procurando Deus com toda a sua alma.

Todos deveríamos ter pavor tanto da rotina asfixiante como da falsa solução da fuga… Porque o problema da rotina –contrariamente ao que a maioria pensa – não está na repetição monótona das ações e das circunstâncias externas, mas na falta de renovação do nosso coração, do nosso modo de ver e amar as coisas e as pessoas. O mal está exclusivamente dentro de nós, gostemos ou não de reconhecer isso.

É muito sugestiva, a respeito disso, aquela história que conta Chesterton sobre o inglês que se sentia entediado de morar sempre na mesma ilha, e por isso foi à procura de outra terra, a terra dos seus sonhos. Viajou muito. Todos os países aonde aportava não o satisfaziam. Já se estava cansando de tanto viajar, quando avistou uma terra que o atraiu extraordinariamente. Aproximou-se dela, desembarcou, começou a internar-se no território e logo chegou, cheio de entusiasmo, à conclusão: “Esta é a terra dos meus sonhos, a que sempre andei procurando!” Ao perguntar a um dos habitantes onde estava, este respondeu-lhe: “Na Inglaterra”.

Algo de parecido acontece conosco. Não precisamos ir atrás de outras “ilhas”. Basta ficarmos na nossa – na nossa vida real – , mas vendo-a e vivendo-a com frescor de novidade. Isto é o que Jesus nos ensina. Voltemos, então, à nossa cena de pesca.

 Jesus na luz do amanhecer 

O Evangelho, após falar da pesca falha, continua a contar:  Ao romper o dia, Jesus apresentou-se na margem, mas os discípulos não o reconheceram. Jesus disse-lhes então: “Rapazes, tendes alguma coisa que comer”.  É tocante verificar que Jesus ressuscitado apresenta-se aos Apóstolos humano, afetuoso, familiar, não com uma majestade gloriosa e distante. Fala familiarmente: Rapazes! Pergunta se têm algo que se possa comer. Ele quer mostrar-nos que, depois da ressurreição (agora, portanto!), deseja viver junto de nós como um amigo muito próximo, compreensivo, humano, inseparável…

Mas, como acontece conosco, sucedeu que os discípulos, com uma grande miopia espiritual, não perceberam que Jesus estava lá, sempre junto deles, e continuaram soturnos e tristonhos. Dá para imaginar o tom de aborrecimento com que devem ter respondido, incomodados, a Jesus: -” Não! Não temos nada para comer”. E acho que nosso Senhor – rei e senhor de toda a alegria – divertiu-se, humana e “divinamente”, quando lhes disse: Lançai a rede ao lado direito da barca e encontrareis. Aconteceu o que já dá para imaginar: uma pesca milagrosa, abundantíssima. Lançaram a rede e, devido à grande quantidade de peixes, já não tinham forças para a arrastar.  Jesus não faz as coisas pela metade…

Ao ver aquele milagre, João disse a Pedro: “É o Senhor!” João, o discípulo amado, foi o primeiro a ter sensibilidade para perceber que aquele desconhecido era Jesus, e avisou o “patrão” da barca, Pedro. E o bom Pedro, o Pedro emotivo e impulsivo que todos conhecemos, “deu uma de Pedro”: Simão Pedro, ao ouvir que era o Senhor, apertou o cinto da túnica, porque estava sem mais roupa, e lançou-se à água. Não pôde esperar que a barca chegasse à terra. Lançou-se de cabeça à água, ansioso por chegar a Jesus quanto antes! Pouco depois chegaram os outros na barca, arrastando a rede cheia.

E o que encontraram? Vamos prestar bem atenção. Vocês acham que encontraram um Jesus hierático, sentado numa cátedra de marfim, dizendo-lhes: “Vamos deixar-nos de coisas banais, materiais, agora que me reconheceram, e vamos falar do que importa: de coisas celestiais, de coisas elevadas, só das coisas espirituais, as únicas que contam”? Vocês acham que foi assim? É claro que não! Todos sabemos que foi bem diferente. Vejamos o que diz o Evangelho.

            Ao saltarem em terra, viram umas brasas preparadas e um peixe em cima delas, e pão. Disse-lhes Jesus: “Trazei aqui alguns dos peixes que agora apanhastes… E depois: Vinde comer. E pronto! Lá ficaram sentados em roda, à volta da fogueirinha que o próprio Jesus acendera, sentindo o cheiro delicioso de peixe fresco assado – que Jesus já tinha começado a preparar, muito diligentemente, com as suas próprias mãos –, e repartindo pedaços de pão e comendo como uma alegre turma de amigos em piquenique de “feriadão” …

Jesus ama o “trivial cotidiano” 

Jesus fez questão de valorizar, de mostrar como é importante o “trivial cotidiano”. Eu tenho um conhecido que até chorava de emoção ao pensar nesta cena: “Você – dizia – não percebeu como é maravilhoso? Cristo farofeiro! O Filho de Deus, farofeiro!”

Esse meu amigo se alegrava justamente ao perceber o carinho com que Cristo vê e valoriza a nossa vida diária, as pequenas coisas da vida,  que às vezes nos parecem tão longe dos grandes ideais, e concretamente tão longe do ideal cristão de Amor e de santidade…E esquecemos que Jesus passou trinta anos vivendo com amor a “rotina dos dias”, no lar de Maria e José, tendo uma vida normal, discreta e simples, de família, de trabalho…, sendo, como se lê no Evangelho,  o carpinteiroo filho do carpinteiro… E aquilo era a “vida do Deus feito homem”, cheia, portanto, de grandeza divina, de santidade. Com ela estava nos redimindo, estava nos salvando.

Se refletirmos um pouco, perceberemos que esta cena de Cristo que pesca juntamente com os discípulos, e prepara o almoço, e toma a refeição com os amigos, e conversa com eles à beira do lago é um símbolo do que deveria ser cada um dos nossos dias. Também nós podemos acordar cada manhã (pensemos na manhã da segunda-feira mais cinzenta de todas), e – se nos tivermos lembrado de rezar e oferecer o nosso dia a Deus – , poderemos ver, com a luz da fé, que Jesus está junto de nós e nos diz: “Vamos começar o dia juntos, vamos trabalhar juntos, vamos tratar bem os outros, vamos fazer do “trivial cotidiano” uma aventura de Amor…”.

Seria tão bom que conseguíssemos ser cristãos que rezam, que se lembram com fé de Deus durante o dia inteiro! Bastaria, para isso, às vezes, trazer um crucifixo no bolso, ou um terço, e rezar as orações que amamos, também pela rua; e dizer muitas breves jaculatórias – do tipo “Jesus, eu te amo! Jesus, dá-me um coração como o teu!” – no trânsito, e ao iniciar uma tarefa, e ao morder os lábios para não xingar ou resmungar ou falar mal dos outros…. Se conseguíssemos conversar com Cristo até dos detalhes mais triviais, com certeza se acenderia uma luz nova no nosso coração e, com essa luz, veríamos de uma maneira “nova” todas as coisas que, com Ele, nunca ficam gastas, puídas, aborrecidas e rotineiras. Entenderíamos então por que Jesus nos diz: Eis que eu faço novas todas as coisas (Ap 21,5).

O “santo do cotidiano” 

Há uma doutrina cristã maravilhosa, que São Josemaría Escrivá, como instrumento de Deus, proclamou com uma clareza e uma força tão grandes, que acendeu chamas de alegria e de amor em milhares de pessoas comuns – cristãos “vulgares” – em todo o mundo. A missão que Deus lhe confiou consistia em contribuir para que os cristãos comuns, que vivem no meio do mundo, compreendessem “que a sua vida, tal como é, pode vir a ser ocasião de encontro com Cristo: quer dizer, que é um caminho de santidade e de apostolado. Cristo está presente em qualquer tarefa humana honesta: a vida de um simples cristão – que talvez a alguns pareça vulgar e acanhada – pode e deve ser uma vida santa e santificante”.

E como conseguir viver esse ideal? São Josemaría mostrava o caminho: “Fazei tudo por amor –dizia -. Assim não há coisas pequenas: tudo é grande. – A perseverança nas pequenas coisas, por Amor, é heroísmo”.  E aplicava esta doutrina – que é inspirada no Evangelho e em São Paulo (se não tiver amor, nada me aproveita…: 1 Cor,13,3) – a todas as coisas cotidianas boas e normais: podemos sorrir, por amor, quando não temos vontade mas os outros precisam de “caras sorridentes”; podemos acabar, por amor, um trabalho que gostaríamos de interromper por cansaço; podemos colocar a roupa no seu lugar, oferecendo esse sacrifício a Deus, em vez de jogá-la em cima da cama ou no chão; podemos rezar as orações que nos propusemos, ainda que nos custe concentrar-nos, porque não queremos furtar a Deus, com desculpas de cansaço (que não teríamos para um jogo de futebol ou para assistir à telenovela)  esses momentos que são para Ele…

São Josemaria Escrivá, quando estava nesta terra, ajudava as pessoas – e também agora continua a ajudá-las lá do Céu– a converter, com a graça de Deus, todos os momentos e circunstâncias da vida em ocasião de amar e de servir, com alegria e com simplicidade, e iluminar assim os caminhos da terra com o resplendor da fé e do amor. Para os que se propõem seriamente viver assim, a rotina é impossível. O amor e o desejo de servir fazem ver tudo como uma oportunidade única, inédita, de dar (amar é dar) algo a Deus e aos nossos irmãos. Feito com carinho, tudo se faz “novo” …

Lembro-me agora de um episódio de faz muitos anos. Fui certa vez comprar figuras de presépio a um artesão – um artista de verdade –, e lhe pedi uma figura igual a outra que ele tinha lá numa prateleira do ateliê. Disse-me rotundamente que não. Perguntei: “Mas não conserva o molde?” Ao ouvir essas palavras, levantou-se indignado, como se eu o houvesse ofendido, e gritou: “Molde! …Molde! Eu não tenho molde. Cada figura é única e irrepetível” … Se cada dia nosso fosse assim, sem “molde” rotineiro, sem ser uma “peça em série” , que maravilha…!

Neste sentido é que Mons. Escrivá dizia: - “Não esqueçam nunca: há algo de santo, de divino, escondido nas situações mais comuns, algo que a cada um de nós compete descobrir… Deus espera-nos cada dia: no laboratório, na sala de operações de um hospital, no quartel, na cátedra universitária, na fábrica, na oficina, no campo, no seio do lar e em todo o imenso panorama do trabalho”. “A vocação cristã consiste em transformar em poesia heroica a prosa de cada dia”.

E, ao falar disso, insistia com especial ênfase na santificação do trabalho. Incutia nas almas o ideal de realizar o trabalho por amor a Deus e com o empenho de servir ao próximo: trabalho bem feito, acabado, caprichado nos detalhes, digno de ser colocado no altar do coração e oferecido juntamente com Jesus-Hóstia na Santa Missa. Toda a vida do cristão se converteria assim numa Missa. É a isso que todos nós deveríamos aspirar.

Já imaginou como tudo mudaria se, ao terminar cada um dos nossos dias e fazer a nossa oração da noite, pudéssemos dizer:  – «Amanhã vou começar um outro dia, uma nova etapa da minha “vida diária”. Mas agora já não vou encará-lo aborrecido, suspirando e dizendo: “mais um”. Não! Ajudado por Deus, vou entrar nele com a luz que Jesus acendeu no meu coração, e direi, com alegria: “Hoje começa mais um dia, novinho em folha, por estrear. Hoje se me apresenta mais uma ocasião de amar e de servir. Vou me esforçar – rezando, mantendo o mais possível a presença de Deus – por conseguir que o meu amor introduza belas novidades, atitudes renovadoras, na minha rotina de todos os dias”.

Fonte: https://presbiteros.org.br/



Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF