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domingo, 4 de setembro de 2022

Francisco na beatificação de João Paulo I: transmitiu a bondade do Senhor

Beatificação do Papa João Paulo I | Vatican News

“Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado”. Palavras do Papa Francisco na homilia da Santa Missa de Beatificação do Papa João Paulo I, neste domingo, 4 de setembro.

Jane Nogara - Vatican News

Na manhã deste domingo, 4 de setembro, foi realizada a Santa Missa com o Rito de Beatificação do Papa João Paulo I na Praça São Pedro no Vaticano. Na sua homilia, o Papa Francisco comentou o Evangelho do dia recordando das exigências de Jesus para segui-lo perguntando-se o significado das suas advertências.

Seguir Jesus

Refletindo as palavras de Jesus o Papa disse: “Em primeiro lugar, vemos muitas pessoas, uma multidão numerosa que segue Jesus”. “Nos momentos de crise pessoal e social em que estamos mais expostos a sentimentos de ira ou temos medo de qualquer coisa que ameaça o nosso futuro, ficamos mais vulneráveis e assim, na onda da emoção, confiamo-nos a quem com sagácia e astúcia sabe cavalgar esta situação, aproveitando-se dos temores da sociedade e prometendo ser o ‘salvador’ que resolverá os problemas, quando, na realidade, o que deseja é aumentar a sua popularidade e o próprio poder”. Porém Francisco adverte: “O Evangelho diz-nos que Jesus não procede assim. O estilo de Deus é diferente, porque não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca Se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a Si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas”, frisa ainda.

O discernimento

“Assim, em vez de Se deixar atrair pelo fascínio da popularidade, pede a cada um para discernir cuidadosamente os motivos por que O segue e as consequências que isso acarreta.”

“Com efeito – continua Francisco - pode-se seguir o Senhor por várias razões, e algumas destas –admitamo-lo – são mundanas: por trás duma fachada religiosa perfeita pode-se esconder a mera satisfação das próprias necessidades, a busca do prestígio pessoal, o desejo de aceder a um cargo, de ter as coisas sob controle, o desejo de ocupar espaço e obter privilégios, a aspiração de receber reconhecimentos, e muito mais. Isso acontece hoje entre os cristãos. Mas não é o estilo de Jesus; nem pode ser o estilo do discípulo e da Igreja”. Segui-Lo, continua, “significa ‘tomar a própria cruz’ (Lc 14, 27): como Ele, carregar os pesos próprios e os alheios, fazer da vida um dom, não uma posse, gastá-la imitando o amor magnânimo e misericordioso que Ele tem por nós”.

Ponderando em seguida: “Para o conseguir, porém, é preciso olhar mais para Ele do que para nós próprios, aprender o amor que brota do Crucificado”. Citando João Paulo I disse, nós mesmos “somos objeto, da parte de Deus, dum amor que não se apaga”. “Não se apaga: nunca se eclipsa da nossa vida, resplandece sobre nós e ilumina até as noites mais escuras”. "Amar, ainda que custe a cruz do sacrifício, do silêncio, da incompreensão, da solidão, da contrariedade e da perseguição".

Citando ainda o novo Beato esclareceu:

“Se queres beijar Jesus crucificado, não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor. O amor até ao extremo, com todos os seus espinhos: e não as coisas a meio, as acomodações ou a vida tranquila.”

Ainda falando do amor ou do medo de nos perdermos, renunciarmos a dar-nos, ou deixar inacabadas as coisas, Francisco recorda que se fizermos assim: “Acabamos por viver a meias: sem nunca dar o passo decisivo, sem levantar voo, sem arriscar pelo bem, sem nos empenharmos verdadeiramente pelos outros.

Viver plenamente o Evangelho

“Jesus pede-nos isto: vive o Evangelho e viverás a vida, não a meias, mas até ao fundo. Sem cedências.”

“Irmãos, irmãs, o novo Beato viveu assim: na alegria do Evangelho, sem cedências, amando até ao extremo. Encarnou a pobreza do discípulo, que não é apenas desapegar-se dos bens materiais, mas sobretudo vencer a tentação de me colocar a mi mesmo no centro e procurar a glória própria. Ao contrário, seguindo o exemplo de Jesus, foi pastor manso e humilde. Considerava-se a si mesmo como o pó sobre o qual Deus Se dignara escrever. Nesta linha, exclamava: ‘O Senhor tanto recomendou: sede humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: ‘somos servos inúteis’”.

Por fim Francisco concluiu a homilia recordando:

Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com um rosto alegre, sereno e sorridente, que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, que não é bravia nem impaciente, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado, caindo no 'retrocedismo'. Rezemos a este nosso pai e irmão e peçamos-lhe que nos obtenha 'o sorriso da alma'; aquele transparente, aquele que não engana: o sorriso da alma, servindo-nos das suas palavras, peçamos o que ele próprio costumava pedir: 'Senhor, aceitai-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas fazei que me torne como Vós desejais'”.

XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano C

Presbíteros

Homilia de D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB – XXIII Domingo do Tempo Comum – Ano C

Carregar a cruz atrás do Cristo

Lc 14,25-33               

Caríssimos irmãos e irmãs,

Para este domingo a Liturgia da Palavra nos convida a tomar consciência do quanto é exigente seguir o Senhor.  O tema principal que sobressai nas leituras bíblicas é o da primazia do Criador em nossa vida. Já na primeira leitura, tirada do Livro da Sabedoria (cf. Sb 9,13-9), nos sugere indiretamente o motivo desta primazia absoluta de Deus: nele encontramos respostas para as perguntas do homem de todos os tempos que procura a verdade acerca da Divindade e de si mesmo. Sem Deus ficamos enfraquecidos e, sem a oração, isto é, sem a união interior com Ele, nada podemos fazer, como disse claramente Jesus aos seus discípulos durante a Última Ceia (cf. Jo 15,5).

No trecho evangélico temos o caminho a ser percorrido por cada seguidor de Jesus. Ele próprio apresenta as condições necessárias aos seus discípulos: amá-lo mais do que qualquer outra pessoa e mais do que a própria vida; carregar a própria cruz e segui-lo, renunciando a tudo o que possui. É o que ele diz: “Se alguém vem a mim, mas não se desapega de seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs e até da sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (v. 26). E continua: “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo” (v. 27).

Para compreender estas palavras de Jesus é preciso lembrar que o Evangelista São Lucas escreveu o seu Evangelho num contexto de perseguições. Alguns cristãos preferiam morrer a renegar a sua fé. Outros esquivavam, procurando salvar os seus bens, a família e a própria vida. O Evangelista São Lucas quis, não tanto condenar estas fraquezas na fé, mas apresentar um encorajamento àqueles que se mantinham firmes na fé, até à morte. Eram esses, os mártires, os que seguem Jesus até no mistério da sua morte na cruz.

Para sermos discípulos de Jesus, nada podemos antepor ao nosso amor por Ele, devemos carregar também a nossa própria cruz e segui-lo. Jesus bem sabe qual é o caminho que o Pai lhe pede para percorrer: o caminho da cruz, do sacrifício de si mesmo pelo perdão dos nossos pecados. A obra de Jesus é precisamente uma obra de misericórdia, de perdão, de amor.

E este perdão universal e esta misericórdia passam através da cruz. Mas Jesus conta com os seus discípulos para que possam continuar a missão que o Pai lhe confiou.  E Ele dirá aos seus seguidores: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós… Àqueles que perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados” (Jo 20,21.22). O discípulo de Jesus renuncia a todos os bens porque encontrou em Cristo o Bem maior e reconhece nos outros bens um valor menor, tais como, os vínculos familiares e as outras relações.

Lembremos que em todos os séculos o Senhor chamou homens e mulheres para que o seguissem.  Eles deixaram tudo e tornaram, no mundo, um sinal luminoso do amor de Deus.  Basta pensar em pessoas como São Lourenço, Santa Luzia, São Bento, São Francisco de Assis, Santa Clara, Santo Inácio de Loyola, Santa Teresa de Ávila e muitos outros. Todos eles souberam deixar tudo, para estar à disposição de todos.

Para explicar esta exigência, Jesus usa duas parábolas: a da torre para construir e a do rei que vai para a guerra. Esta segunda parábola diz: “Qual o rei que, ao sair para guerrear com outro, não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, enquanto o outro rei ainda está longe, envia mensageiros para negociar as condições de paz” (Lc 14,31-32). Trata-se de uma parábola, mas, na verdade, existe uma guerra mais profunda que todos nós devemos combater. É a decisão forte e corajosa de renunciar ao mal e às suas seduções e escolher o bem. Esta guerra deve ser contra o mal, contra o ódio, a violência, ao erro e ao pecado.

Apenas o amor de Deus nos torna livres e isto constitui o centro da mensagem que o Senhor nos quer comunicar no trecho evangélico, aparentemente tão severo deste domingo. Com a sua palavra Ele afirma que podemos contar com o seu amor, o amor de Deus feito homem. Reconhecer isto é a sabedoria da qual nos falou a primeira leitura.

Inspirados na Carta de São Paulo a Filêmon (cf. Fm 9-10.12-17), que a liturgia da Palavra nos faz ler na segunda leitura, que é a mais breve de todas as cartas de São Paulo. Endereçada a Filêmon, aparentemente um membro destacado da Igreja de Colossos, São Paulo trata da questão de Onésimo, escravo de Filêmon, que havia fugido da casa do seu senhor. Ao encontrar-se com Paulo, ligou-se a ele e, com este convívio, transmitiu-lhe a fé, fazendo-o cristão e, ao mesmo tempo, seu colaborador.

No entanto, a situação podia tornar-se delicada, pois, de acordo com o princípio legal, ao dar guarda a um escravo fugitivo, Paulo poderia ser cúmplice de uma grave infração ao direito privado. Enfim, Onésimo corria o risco de ser preso, devolvido ao seu senhor e severamente castigado. É neste contexto que Paulo resolve enviar Onésimo a Filêmon, levando consigo uma carta, onde explica a Filêmon a situação e intercede pelo escravo fugitivo, pedindo que o receba, já não como escravo, mas como um irmão em Cristo. E insinua que, sendo possível, lhe devolva Onésimo, já que ele vem sendo de grande utilidade para Paulo. É um significativo texto, carregado de sentimentos fraternos.

A nova fraternidade cristã supera a separação entre escravos e livres e insere na história um episódio de promoção da pessoa que levará à abolição da condição de escravo de Onésimo.  Desta experiência particular de São Paulo com Onésimo, entendemos o impulso da promoção humana dado pelo Cristianismo ao caminho da civilização, do perdão, do amor e da fraternidade entre as pessoas.

Para Paulo, o amor deverá ser a suprema e insubstituível norma que dirige e condiciona as palavras, os comportamentos, as decisões. Ora, o amor tem consequências bem práticas, que os membros da comunidade cristã não podem esquecer. Implica ver em cada homem um irmão, independentemente do seu estatuto social. Todos são “filhos de Deus” e irmãos em Cristo. A conversão ao amor exige o reconhecimento da igualdade fundamental de todos os homens.  A partir do amor, devemos descobrir que todos são filhos do mesmo Deus e irmãos em Cristo; a partir do amor, o escravo descobre a afirmação clara da sua dignidade de homem. É esta a questão fundamental que o texto nos apresenta.

E a Eucaristia que estamos a celebrar é o Sacramento do amor, que nos recorda o essencial: a caridade e o amor de Cristo que renova os homens e o mundo. Sentimos estas manifestações nas expressões de São Paulo na Carta a Filêmon. Nesta pequena carta sente-se de fato toda a mansidão e ao mesmo tempo o poder irresistível da caridade, que é a principal força propulsora para o verdadeiro desenvolvimento de cada pessoa e também da humanidade. Portanto, devemos sempre lembrar do mandamento antigo e sempre novo: “Amai-vos uns aos outros como o Cristo nos amou” (Jo 13,34). 

Peçamos a Maria que nos ensine a colocar em prática os ensinamentos de seu Filho Jesus, para que possamos segui-lo todos os dias e, iluminados pelo Espírito Santo, sejamos no mundo, seus discípulos e testemunhas do amor e da misericórdia de Deus.  Assim seja.

Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ

sábado, 3 de setembro de 2022

Meditações sobre a Ressurreição (Parte VII)

Ressuscitou | comshalom

7. AMOR NO CÉU E MISSÃO NA TERRA

Um olhar para o futuro 

No final do seu Evangelho, São João transcreve o diálogo tocante que Cristo manteve com Pedro:

– Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?

            – Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo!

Repetindo três vezes a sua declaração de amor, Pedro reparou as suas três negações. Depois disso, Jesus confirmou-o na sua missão de pastor supremo da Igreja e continuou caminhando e conversando com ele pela margem do lago de Genesaré.

Num dado momento, inesperadamente, o Senhor parou e fitou Pedro nos olhos. Antecipando a perspectiva do seu futuro, disse-lhe: Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais jovem, cingias-te e ias para onde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres”. Por estas palavras, indicava o gênero de morte com que ele havia de glorificar a Deus. E depois de assim ter falado, acrescentou: “Segue-me!” (Jo 21, 15-19).

Assim foi. Durante a perseguição do imperador Nero, Pedro foi preso em Roma pelo “crime” de ser cristão, e, amarrado como um bandido, levaram-no ao patíbulo, onde o crucificaram. O Apóstolo, cheio da fé e da fortaleza que o Espírito Santo lhe infundia, padeceu e morreu serenamente, e – segundo a tradição – teve o detalhe delicado de pedir que o crucificassem de cabeça para baixo, pois se considerava indigno de morrer como o seu Senhor Jesus.

Uma primeira mensagem 

Prestando atenção a essa profecia de Jesus, reparamos que nela há duas mensagens. Uma encerra-se no modo em que Jesus alude à morte. A outra, no É modo como alude ao sofrimento, à Cruz. Detenhamo-nos um pouco em ambas. Desde já, é importante perceber que Jesus fala da morte e da dor com tanta naturalidade que é evidente que não pensa que nenhuma das duas seja uma coisa terrível, ruim. Isso faz pensar.

Mensagem sobre a morte. A própria naturalidade – naturalidade séria e grave, mas serena – com que Jesus fala da morte revela que, para Nosso Senhor, a morte não é nem uma tragédia nem o fim de tudo. Ele mesmo dissera que morrer é chegar passar para a casa do Pai (Cf. Jo 14,2). Quer dizer que a vida nesta terra é apenas um caminho – bem curto, por sinal – ; deve ser uma passagem que encaminha para a meta definitiva, que é o Céu, a união plena e feliz com Deus e o convívio com os amigos de Deus por toda a eternidade. Este é o verdadeiro fim e destino do homem.

Isso é algo que Pedro, sob a luz da fé e a graça do Espírito Santo, compreendeu muito bem, como se reflete nesse trecho da sua primeira carta aos fiéis cristãos: Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo! Na sua grande misericórdia, ele fez-nos renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma viva esperança, para uma herança incorruptível, incontaminável e imarcessível, reservada para vós nos céus. (1 Pedr 1,3-4).

E, na segunda carta, falando da vocação cristã, diz com serena clareza: Portanto, irmãos, cuidai cada vez mais de assegurar a vossa vocação [...]. Assim vos será aberta largamente a entrada no Reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pedr 1,10-11).

O triunfo, a realização autêntica da vida é a salvação eterna, é ser santo, é ir para o Céu. Que adianta – dizia Jesus – alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder a sua alma (Mat 16,26)

             Sem olhar para a vida eterna, todas as grandezas e conquistas deste mundo são pó e vento que passa. Mais ainda, uma vida carregada de “realizações”, mas virada de costas para Deus, é como um navio ricamente equipado, que navega com cargas valiosíssimas, mas não tem destino, não chegará a porto algum; seu destino consistirá em girar no redemoinho e afundar no abismo.

Uma segunda mensagem 

A segunda mensagem é a serenidade com que Jesus fala da dor – do martírio de Pedro – como de um bem, considerando-o como um modo de amar e de glorificar a Deus (Cf. Jo 21, 19).

O próprio Pedro chegará a ver o sofrimento, sob a luz poderosa da fé e do amor, como um verdadeiro tesouro. Àqueles cristãos do século primeiro, perseguidos de morte pelo Imperador (muitos foram queimados vivos como tochas, quando Nero incendiou Roma), escrevia-lhes dizendo que seus padecimentos eram a prova a que é submetida a vossa fé, mais preciosa do que o ouro perecível (1 Ped 1,7). E exortava-os deste modo: Alegrai-vos de ser participantes dos sofrimentos de Cristo, para que vos possais alegrar e exultar no dia em que for manifestada a sua glória (1 Ped 4,13). Referindo-se ainda a Jesus, acrescentava com palavras tocantes: Este Jesus vós o amais, sem o terdes visto; credes nele sem o verdes ainda, e isto é para vós a fonte de uma alegria inefável e gloriosa (1 Ped 1,8).

Ao meditar nessa fé dos que conheceram Cristo e os Apóstolos, causam-nos imensa pena aqueles que são incapazes de entender a grandeza do fim sobrenatural da nossa vida – Deus, o amor que dá sentido a tudo, o Céu – e vivem exclusivamente atrás do prazer, da ambição e da vaidade: balões ocos, furados, que a morte vai queimar. Só a alma iluminada pela luz do Espírito Santo pode compreender o paradoxo, incompreensível para um materialista, de que amar a Cruz – a Cruz-amor de Cristo e do cristão – é o segredo para se ser feliz, não só no Céu, mas já antes na terra. Mas este é um tema bem profundo, que agora ultrapassa a nossa reflexão [2]. Falta-nos ainda acompanhar a parte final do diálogo entre Cristo e Pedro que estamos meditando.

Uma passagem alegre e fecunda

Depois das palavras sobre o futuro de Pedro, houve mais um diálogo interessantíssimo. O apóstolo Pedro, voltando-se para trás, viu que o seguia aquele discípulo que Jesus amava – João, o narrador destas cenas – . Vendo-o, Pedro perguntou a Jesus: “Senhor, e este? Que será dele?” Jesus não lhe quis satisfazer a curiosidade, e respondeu-lhe de um modo aparentemente seco: “Que te importa…? Tu, segue-me!” (Jo 21,20-22)

Digo que é aparentemente seco, porque, entre Pedro e Jesus, havia uma confiança grande e afetuosa, difícil para nós de calibrar. Podemos, contudo, imaginar Nosso Senhor com um sorriso meio brincalhão, dizendo a Pedro algo assim: “Estamos falando agora é da tua vida, da tua missão e da tua entrada no Céu, não da vida dos outros. Cada filho de Deus tem a sua tarefa, a sua vocação própria. Deixa João tranqüilo. É claro que também tenho uma missão reservada para ele, e não é nada pequena (de fato João viveu até cerca dos cem anos, cuidou de Nossa Senhora, difundiu a fé entre milhares de pessoas, escreveu o quarto Evangelho e três Epístolas que fazem parte da Bíblia… nada menos!). Mas o que interessa é que tu, Pedro, cumpras a tua missão pessoal. Por isso, te digo: Tu segue-me!

Com certeza, estas palavras – Tu, segue-me! – provocaram um sobressalto no coração de Pedro, pois fora com esses mesmos termos que Jesus o chamara, três anos antes, à beira do mesmo lago onde agora estavam, para se tornar o seu apóstolo. O coração de Pedro deve ter acelerado. As lembranças do dia da vocação devem ter-lhe voltado à memória, rodando com a nitidez de um filme colorido.

Na realidade, havia uma correspondência significativa – querida por Cristo – entre aquele dia, já remoto, do primeiro chamado e esse dia do encontro com o Ressuscitado. No dia da sua vocação, Jesus, antes de comunicar-lhe a chamada, fez o prodígio da primeira pesca milagrosa, que São Lucas descreve no capítulo quinto, e à qual já nos referimos.  Naquele dia, após o milagre, Pedro jogou-se aos pés do Senhor, e este disse-lhe: “Não temas; de agora em diante serás pescador de homens” (Lc 5, 10). Era uma definição simbólica da vocação do apóstolo, e é também uma definição da vocação apostólica do cristão: Vinde após mim, e eu farei de vós pescadores de homens (Mat 4,19).

A Igreja nos ensina que todos os batizados temos uma vocação divina e uma missão a realizar no mundo. Deus chama-nos a todos para sermos pescadores de homens. Não podemos ficar pensando apenas na nossa santificação, na nossa salvação. Não é cristão ficar fechado nas preocupações e sonhos pessoais. Estamos chamados por Deus a envolver afetuosamente os outros – respeitando-lhes sempre a liberdade – nas “redes” da nossa caridade, do nosso amor fraterno, desse amor que deseja para todos o maior bem, isto é, trazê-los para junto de Cristo, tal como os Apóstolos puseram aos pés de Jesus os centos e cinquenta e três peixes grandes. Peixes que o próprio Jesus fez questão de que simbolizassem as almas: farei de vós pescadores de homens!

Perguntemo-nos, à vista disso, quantos parentes, amigos, colegas, conhecidos já levamos nós aos pés de Cristo, à alegria de se encontrarem com o olhar de Cristo, com a palavra de Cristo, com o Coração de Cristo; à felicidade de descobrirem junto de Jesus o amor que não acaba e que dá o sentido à vida?

O mar da Galiléia, para nós, é o mundo, e o “Pedro” atual, o Papa, no caso João Paulo II, posto ao leme da barca da Igreja, nos deu como lema – para o novo milênio – as mesmas palavras com que Jesus mandou Pedro pescar, naquele encontro do dia da vocação: –Duc in altum! – Mar adentro! Deus quer que recristianizemos o mundo! 

Por incrível que pareça, Deus, que é tudo e fez tudo, quer contar conosco para estender pelo mundo os frutos da Redenção que Cristo conquistou para nós na Cruz, ao preço do seu Sangue. Ele quer que o Reino de Deus também “dependa de nós”: do nosso exemplo, do nosso empenho em difundir a doutrina cristã, do nosso apostolado pessoal, feito com a palavra compreensiva, com a confidência amiga, com o conselho leal.

“Mar adentro! Sigamos em frente, com esperança! – escreveu João Paulo II na Carta sobre o novo milênio – Diante da Igreja – dizia – abre-se um novo milênio como um vasto oceano onde aventurar-se com a ajuda de Cristo […]. O mandato missionário introduz-nos no terceiro milênio, convidando-nos a ter o mesmo entusiasmo dos cristãos da primeira hora; podemos contar com a força do mesmo Espírito que foi derramado no Pentecostes e nos impele hoje a partir de novo sustentados pela esperança que não nos deixa confundidos (Rom 5,5)”.

Cheio de um santo otimismo, o mesmo Papa, na sua Carta sobre o Rosário, escrevia que o Cristianismo, “passados dois mil anos, nada perdeu do seu frescor original, e sente-se impulsionado pelo Espírito de Deus a “fazer-se ao largo” – mar adentro! – para reafirmar, melhor, para “gritar” Cristo ao mundo como Senhor e Salvador, como “caminho, verdade e vida” , como “o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização”.

Concluamos esta reflexão. A vida tem como meta, certamente, o Céu. Mas, antes de chegarmos ao Céu, é preciso que arregacemos as mangas e realizemos muitas coisas na terra. Sobretudo, é preciso que ajudemos muitos a encontrarem e amarem a Deus, porque Cristo nos deu essa missão no mundo e confia em nós.

[2]  Cf. F.Faus: A sabedoria da Cruz, Ed. Quadrante, São Paulo 2001

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Estudo indica que casamentos mais humildes podem ser mais duradouros

Halfpoint | Shutterstock
Beautiful wedding couple is enjoying wedding
Por Octavio Messias

10% dos casais cujas festas superaram R$ 140 mil se divorciaram em menos de três anos.

Quando se pensa em casar, um dos principais empecilhos é de ordem financeira, uma vez que um casamento com festa completa para muitos convidados chega a ultrapassar o valor de um apartamento. E o tamanho do investimento financeiro no matrimônio não necessariamente corresponde à felicidade do casal. É o que mostra um estudo inglês encomendado pela Marriage Foundation: casais que optam por uma cerimônia simples têm estatisticamente mais chances de permanecerem juntos. 

Dos entrevistados que tiveram casamentos que custaram mais do que 20 mil libras (ou 140 mil reais), 10% deles se divorciaram em menos de três anos. Ou seja, gastaram tanto com a festa que esqueceram que teriam o resto da vida juntos.

Já entre os que tiveram cerimônias para 10 convidados ou menos, 34% só se divorciou depois de uma década (o que é mais do que o dobro do tempo médio de casamento do total da amostra). “Os dados endossam pesquisas anteriores dos EUA, sugerindo que casamentos caros podem ser ruins por causa do endividamento”, diz o diretor do estudo, Harry Benson. 

MOTIVOS CERTOS

Não é uma festa de arromba para centenas de convidados e com investimento de centenas de milhares de reais que faz um casamento dar certo. O que faz um casal permanecer junto ao longo de muitos anos é o amor entre os seus membros, o desejo de manter uma família, o respeito, a cumplicidade, a parceria, a afinidade, a intimidade, o entendimento, o companheirismo, projetos compartilhados e planos de construir uma vida juntos, o compromisso perante Deus. Valores financeiros (além do básico para viver bem) não entram, ou ao menos não deveriam entrar, nessa equação. 

De modo que, além do endividamento, que com certeza pode abalar a estabilidade de qualquer pessoa e, portanto, de qualquer casal, vale também considerar que talvez muita gente se case pelos motivos errados, seja por interesse financeiro, por carência, para sair da casa dos pais, para realizar o sonho infantil de viver um dia de príncipe ou princesa ou seja qual for a comodidade. O casamento pode ser fonte de grande felicidade e, talvez até mesmo por isso, requer cuidado, trabalho e manutenções constantes. 

Não se casa por nenhum outro motivo fora o cônjuge e o próprio casamento em si. E quando essa escolha é acertada, o tamanho da cerimônia e o número de convidados são o que menos importa. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Os enganos da avareza

Editora Cléofas

Os enganos da avareza

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Certa vez o Papa João Paulo II disse que o pecado original tirou os nossos olhos de Deus e os voltou para as criaturas. Isto é, deixamos de buscar em Deus toda a nossa felicidade para busca-la nas criaturas. Mas, essas, porque estão abaixo de nós, não podem satisfazer a nossa sede de felicidade; somente Aquele que está acima de nós.

Toda a luta espiritual consiste nisso: voltar os olhos para Deus. Santo Agostinho dizia: “Não andes averiguando quanto tens, mas o que tu és”. Esse é o caminho de começo da volta. Temos a experiência de que nada é suficiente para quem não põe limite em seus caprichos. Quanto mais temos mais queremos; a sede é insaciável. Quem não se controla diante daquilo que é lícito, acaba sucumbindo naquilo que é ilícito.

Um velho professor nos dizia que ser rico não é ter muito, mas precisar de pouco. Se aprendemos a nos contentar com aquilo que é suficiente para vivermos, veremos que de pouco necessitamos. Santo Agostinho disse que o rico enche a bolsa de moedas e a alma de preocupações. Ele dizia que o homem fica acabrunhado sob o fardo da avareza; transpira ao peso de sua carga, arfa e padece fome. Trabalha como louco para afinal, tornar seu fardo mais pesado.

Por outro lado, não devemos abraçar a pobreza por amor à pobreza; pois isso é miséria. Devemos abraçar a pobreza por amor de nossa liberdade. Tudo que excede o necessário oprime e não eleva, pesa e não honra.

Santa Catarina disse no “Diálogo” que o cristão que possui bens, deve fazê-lo na humildade, sem orgulho, como coisa emprestada, não própria. Deus nos dá os bens para o uso. Não é pecado ter bens. Todas as coisas são boas e foram feitas por Deus para a utilidade dos homens. O errado e que faz sofrer é o apego.

O grande Doutor São Bernardo, ensina que “o avarento está sempre faminto como um mendigo, nunca chega a ficar satisfeito com os bens que deseja. O pobre, como senhor de tudo, os despreza, pois não deseja nada”.

De fato, não é fácil viver de acordo com esses pensamentos; mas é o caminho da volta dos olhos para Deus. Peçamos a sua graça; pois Santo Agostinho disse que “aquilo que pode parecer impossível à nossa natureza, é possível à graça de Deus”. Com ela, e disposição, voltaremos os olhos novamente para Deus. E seremos felizes!

Prof. Felipe Aquino

Astro de “Game of Thrones” se casa em cerimônia discreta na Irlanda

Patsy Lynch | Twitter | Fair use
Por Cerith Gardiner

A celebração foi bem intimista e aconteceu em uma modesta paróquia: "Foi comovente e maravilhosa", declarou o ator Jack Gleeson.

Jack Gleeson, que interpretou o repugnante Joffrey Baratheon em Game of Thrones, apareceu pela última vez na série sofrendo uma morte horrível no dia de seu casamento. Felizmente, seu matrimônio na vida real foi bem diferente!

O ator, de 30 anos, casou-se recentemente com Roisin O’Mahony em uma cerimônia simples e intimista em uma pequena igreja da Irlanda.

O padre Patsy Lynch, que celebrou o matrimônio, declarou que a simplicidade do dia e o foco na união das famílias contribuíram para um casamento particularmente maravilhoso.

O sacerdote também explicou que o casal pretende fazer uma segunda cerimônia na Inglaterra, mas as núpcias irlandesas foram “uma celebração incrível. Todo mundo estava muito à vontade relaxado. Guardarei muitas lembranças deste dia especial.”

Gleeson também compartilhou com o padre a sua alegria com casamento: “Jack me mandou uma mensagem esta manhã para dizer que foi uma cerimônia maravilhosa e comovente”, declarou o Pe. Lynch ao Irish Independent.

O casamento aconteceu na Igreja do Sagrado Coração de Glen em Ballinskelligs, na Irlanda. O casal escolheu a igreja modesta porque eles têm uma ligação próxima com Ballinskelligs e fazem parte da comunidade.

O ator, que estudou teologia e filosofia na Trinity College de Dublin, não está nas redes sociais e costuma se manter fora dos holofotes. De fato, um casamento discreto é uma pausa bem-vinda de algumas das grandes extravagâncias que vemos em Hollywood. Sobre isso, o Pe. Lynch comentou em reportagem do site 365 Days of Dave:

“É assim que os casamentos deveriam ser, não esses negócios caros e luxuosos que deixam os casais pedindo milhares de euros emprestados para pagar. Um casamento não é um show para sua paróquia, é sobre duas famílias se unindo para construir uma família maior, é amor, não um filme.”

Esperamos que a união do Sr. e da Sra. Gleeson inspire outros a se concentrarem nos aspectos mais significativos de uma cerimônia de casamento, que vão muito além do luxo.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Bispos brasileiros aprovam nova tradução do Missal Romano

Foto: Divulgação/CNBB.
As correções realizadas nos termos gramaticais, em algumas páginas, foram mostradas aos Bispos por membros da Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos.

São Paulo – Aparecida (02/09/2022 10:04, Gaudium Press) Durante o penúltimo dia de trabalhos da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o episcopado brasileiro aprovou a segunda parte da tradução do Missal Romano. A votação dos Bispos contou com 269 votos favoráveis, seis abstenções e três votos negativos.

Correções gramaticais e diagramação

As correções realizadas nos termos gramaticais, em algumas páginas, foram mostradas aos Bispos por membros da Comissão Episcopal para os Textos Litúrgicos. Além disso, foram reconsiderados alguns trechos do texto e a proposta de diagramação, que foi modificada para estar em apenas uma página.

Considerações finais

Segundo o presidente da Comissão para a Liturgia da CNBB, Dom Edmar Peron, “o Missal fez um longo caminho” com muitas contribuições a partir das sugestões feitas que serão incorporadas ao texto já diagramado pela Edições CNBB. “Agora, é concluir as considerações, passar o texto à Editora da CNBB e só depois enviar para a Santa Sé”, explicou. (EPC)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

“MENSAGEM DA CNBB AO POVO BRASILEIRO SOBRE O MOMENTO ATUAL”

CNBB

BISPOS REUNIDOS NA 59ª ASSEMBLEIA GERAL DA CNBB DIVULGARAM A “MENSAGEM DA CNBB AO POVO BRASILEIRO SOBRE O MOMENTO ATUAL”

Os 292 bispos católicos do Brasil reunidos na 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) desde o último domingo, 28 de agosto, divulgaram na manhã desta sexta-feira, 2 de setembro, “a mensagem da CNBB ao povo brasileiro sobre o momento atual”.

Reunidos, em colegialidade e comunhão, os bispos católicos se dirigem na mensagem aos homens e mulheres de boa vontade. “Nossas alegrias e esperanças, tristezas e angústias (cf. Gaudium et Spes, 1) são as mesmas de cada brasileira e brasileiro. Com esta mensagem, queremos falar ao coração de todos”, escreveram.

Na mensagem, os bispos afirmam que “nossa fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade concretas. O compromisso com a promoção, o cuidado e a defesa da vida, desde a concepção até o seu término natural, bem como, da família, da ecologia integral e do estado democrático de direito está intrinsicamente vinculado à nossa missão apostólica. “Todas as vezes que esses compromissos têm sido abalados, não nos furtamos em levantar nossa voz”, afirmaram.

Brasil: país envolto em crise complexa e sistêmica

Os pastores reconhecem o tempo difícil pelo qual o povo brasileiro e o país atravessam. “Nosso País está envolto numa complexa e sistêmica crise, que escancara a desigualdade estrutural, historicamente enraizada na sociedade brasileira. Constatamos os alarmantes descuidos com a Terra, a violência latente, explícita e crescente, potencializada pela flexibilização da posse e porte de armas que ameaçam o convívio humano harmonioso e pacífico na sociedade. Entre outros aspectos destes tempos estão o desemprego e a falta de acesso à educação de qualidade para todos”, pontuaram.

A fome, para os bispos do Brasil, é certamente o mais cruel e criminoso deles, “pois a alimentação é um direito inalienável’ (cf. Papa Francisco, Fratelli Tutti, 189). A mensagem reforça os dados do relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2022), que aponta que a quantidade de brasileiras e brasileiros que enfrentam algum tipo de insegurança alimentar ultrapassou a marca de 60 milhões.

Além destes problemas, no documento os bispos fazem uma contundente defesa da democracia brasileira: “Como se não bastassem todos os desafios estruturais e conjunturais a serem enfrentados, urge reafirmar o óbvio: Nossa jovem democracia precisa ser protegida, por meio de amplo pacto nacional. Isso não significa somente ‘um respeito formal de regras, mas é o fruto da convicta aceitação dos valores que inspiram os procedimentos democráticos […] se não há um consenso sobre tais valores, se perde o significado da democracia e se compromete a sua estabilidade’” – (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 407).

Os bispos reforçaram ainda a preocupação com a manipulação religiosa e a disseminação de fake News que têm o poder de desestruturar a harmonia entre pessoas, povos e culturas, colocando em risco a democracia. “A manipulação religiosa, protagonizada por políticos e religiosos, desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com o Evangelho e com a verdade”, afirmaram.

O documento afirma que as tentativas de ruptura da ordem institucional, veladas ou explícitas, buscam colocar em xeque a lisura desse processo, bem como, a conquista irrevogável do voto.  “Pelo seu exercício responsável e consciente, a população tem a capacidade de refazer caminhos, corrigir equívocos e reafirmar valores. Reiteramos nosso apoio incondicional às instituições da República, responsáveis pela legitimação do processo e dos resultados das eleições”.

Na mensagem, os bispos conclamam, mais uma vez, toda a sociedade brasileira a participar ativa e pacificamente das eleições, escolhendo candidatos e candidatas, para o executivo (presidente e governadores) e o legislativo (senadores e deputados federais, estaduais e distritais), que representem projetos comprometidos com o bem comum, a justiça social, a defesa integral da vida, da família e da Casa Comum.

Conheça a íntegra da a Mensagem da CNBB ao povo brasileiro sobre o momento atual.

São Gregório Magno

S. Gregório Magno | Pantokrator
03 de setembro
São Gregório Magno

Origens

Gregório nasceu no ano 540, numa importante família de sobrenome Anícia, em Roma. Sua família era tradicional na alta corte romana. Além disso, era rica, poderosa e influente. Gregório viveu e foi educado num ambiente cristão. Tanto que Silvia, sua mãe e duas tias irmãs de seu pai, Emiliana e Tarsila, são santas. Essas três mulheres foram as grandes responsáveis pela formação cristã e cultural de Gregório. Seu pai se chamava Gordianus e participava ativamente do governo de Roma. Tinha sido senador e prefeito.

Prefeito de Roma

Para se ter uma ideia da influência da família de Gregório em Roma, sabe-se que, quando seu pai faleceu, Gregório era o prefeito da cidade, tendo apenas trinta e três anos. Porém, mesmo com toda influência e poder, o jovem Gregório não abandonou a fé e a prática cristã aprendida em seu lar. Estamos no tempo “pós Constantino”, o imperador que fez do cristianismo a religião oficial do império romano. E, justamente pelo fato de ser cristão, Gregório buscou ser um prefeito justo, contra a corrupção, austero, fazendo uma política que fosse boa para os interesses públicos, jamais agindo por interesses próprios.

Beneditinos

No tempo em que Gregório era prefeito de Roma, um grupo importante de monges beneditinos refugiou-se na cidade. Eles fugiam do Mosteiro de Montecassino, o primeiro mosteiro fundado por São Bento, pois este mosteiro tinha sido invadido pelos longobardos. Gregório doou a eles um grande palácio que ficava na colina chamada Célio. Lá, eles fundaram o Mosteiro de Santo André. Depois que os monges se instalaram e começaram sua vida monástica, São Gregório passou a frequentar o local participando dos momentos de oração e vida comunitária com os monges. Essa proximidade fez desabrochar sua vocação para a vida monástica.

Monge

Terminando sua missão como prefeito de Roma, São Gregório ingressou no Mosteiro de Santo André e se fez monge Beneditino. Anos depois, viria a afirmar que este “tempo de monge” foi a melhor época de sua vida, pois dedicou-se ao silêncio, à oração, à meditação da Palavra de Deus e às leituras sagradas. Porém, disse Jesus que “uma lâmpada não é acesa para ser colocada debaixo da mesa”.

Diplomata e defensor da fé

Assim, por causa de toda a formação e experiência política que tivera, o Papa Pelágio enviou-o para uma grande e difícil missão diplomática e religiosa na cidade de Constantinopla. Na missão, combateu heresias que ameaçavam a pureza da fé cristã usando palavras de Jesus contidas no Novo Testamento. Nesse tempo em Constantinopla São Gregório escreveu uma enorme parte de sua obra literária.

Abade

Terminada a missão em Constantinopla, São Gregório foi chamado a voltar para Roma. Ao voltar, foi eleito abade do Mosteiro de Santo André. Nessa missão, ele ficou famoso por sua dedicação, por sua caridade e também pela austeridade e firmeza com que conduzia o mosteiro. Conta-se que ele chegava a ser duro com aqueles que se desviavam do caminho, porém, misericordioso.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

A doença espiritual que muita gente tem e não sabe

unsplash / Niklas Hamann
Por Steve Robinson

A cada post que lemos nas redes sociais a nossa alma é assaltada com uma tentação recorrente.

“Não se apresse em aceitar a ofensa de outra pessoa”, disse-me um sábio há mais de 40 anos, muito antes de a internet existir. Eu havia me envolvido emocionalmente em um assunto que tinha mais história por trás dele do que fora divulgado. 

Seu conselho parece particularmente relevante para nossa atual cultura de “indignação” nas redes sociais, que são alimentadas por nossa capacidade de divulgar ofensas ao mundo com apenas um clique.

O corolário disso é que, a cada dia, temos a capacidade de ver e ouvir sobre dezenas de situações ofensivas e questões que exigem de nós uma reação do tipo: curti, estou triste, bravo etc.

E há ainda a caixa de comentários vazia, chamando-nos para uma opinião, uma palavra sábia, uma demonstração de solidariedade, um julgamento, uma condenação, uma réplica inteligente ou condescendente, uma palavra final triunfante!

Dessa forma, a internet nos dá uma onisciência e uma plataforma que antes estavam disponíveis apenas para Deus. E a cada post que lemos, nossas almas são assaltadas repetidamente com uma tentação recorrente: curtir ou compartilhar. Fazendo isso, você será como Deus, distinguindo o bem do mal.

Uma sedução sutil

A sedução é sutil tanto para o ofendido quanto para os defensores do ofendido. Um pode se ofender (facilmente) e o outro pode se juntar (facilmente) a ele. Em ambos os casos incidem doenças espirituais.

Precisamos ficar atentos aos likes, às brigas, discórdias e turbulências. Estes são sintomas de orgulho, ego e escravidão às “paixões”. A escravidão às paixões resulta na falta de discernimento e na incapacidade de estabelecer limites espirituais e emocionais nos relacionamentos. 

É necessário saber se estamos assumindo uma causa justa e defendendo os fracos ou se estamos sendo atraídos pela indignação disfuncional e passional de outra pessoa por sua percepção de ser menosprezada, insultada, marginalizada, perseguida ou atacada. Então, mesmo que tenhamos discernido corretamente, devemos decidir se nossa resposta é sábia, útil e necessária. 

Como começamos a nos livrar de nosso vício de ser “como Deus”?

Aqui estão algumas coisas para você se perguntar antes de responder à ofensa de outra pessoa nas redes sociais (algumas delas se sobrepõem):

  • Eu sei o suficiente?

Não sei dizer quantas vezes recebi mensagens privadas dizendo: “Então, este é o resto da história”, depois de responder a uma postagem. “Quem advoga sua causa, por primeiro, parece ter razão; sobrevém a parte adversa, que examina a fundo” (Provérbios 18,17).

  • O que eu tenho a ganhar respondendo isso?

Um mergulho profundo em seu ego é o começo da sabedoria.

  • Que diferença a MINHA resposta fará? Ela é necessária?

Especialmente nas mídias sociais, onde cada comentário adicional geralmente é apenas uma repetição de respostas, do tipo: “eu também”.

  • Isso me envolve publicamente de uma forma que eu DEVO declarar uma posição ou opinião para o mundo ver? 
  • O que está me obrigando a responder a isso? Por que me sinto obrigado a expressar minha opinião?
  • O que está acontecendo em minha alma neste momento? Sinto paz ou alguma perturbação?

Pessoalmente, eu (tento) nunca pressionar o “ENVIAR” quando estou em um estado de perturbação. 

  • Qual é a pior coisa que vai acontecer se eu não responder agora, ou nunca? E, “Qual é a melhor coisa que acontecerá se eu postar esta resposta”?

Se pudermos ser honestos conosco mesmos, talvez isso nos ajude a dar um passo atrás de brincar de Deus e um passo à frente para sermos mais piedosos em nossa presença na mídia social.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF