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terça-feira, 6 de setembro de 2022

Ecclesia Trinitate - Igreja da Trindade

"A Igreja procede da Santíssima Trindade enquanto tem nascido da mesma 
comunhão do Deus"

"A Igreja da Trindade (Ecclesia de Trinitate) não só expressa a origem da Igreja a partir da Trindade, senão que indica também a continua participação da Igreja no mistério da vida da Trindade."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

"Para perscrutar o mistério da Igreja, é conveniente meditar primeiro sobre a sua origem no desígnio da Santíssima Trindade e sobre a sua progressiva realização na história."

“«O eterno Pai, que pelo libérrimo e insondável desígnio da sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens participação da vida divina», para a qual a todos convida em seu Filho: «E, aos que creem em Cristo, decidiu convocá-los na santa Igreja». Esta «família de Deus» constituiu-se e realizou-se gradualmente ao longo das etapas da história humana, segundo as disposições do Pai: de facto, a Igreja «prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na antiga Aliança, foi constituída no fim dos tempos, e manifestada pela efusão do Espírito Santo, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos (CIC 759).”

Em sua última reflexão: "O mistério do Filho na sua Igreja", padre Gerson Schmidt* nos recordou que "a redenção do Filho se perpetua nas ações da Igreja. Quando a Igreja atua, é Cristo quem opera, por obra do Espírito, a salvação entre nós". E "pela força do Evangelho rejuvenesce a Igreja e renova-­a continuamente e leva­-a à união perfeita com o seu Esposo. Porque o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: ‘Vem’!". Dando sequência a sua exposição sobre este tema, o sacerdote gaúcho nos fala hoje sobre "A Igreja da Trindade":

"Já apontamos aqui que Deus Pai tem a iniciativa da Igreja, pois tem criado o mundo para salvar-nos em Cristo e, portanto, por meio da Igreja. Nenhum cristão julga que o concílio Vaticano II tenha inventado o Mistério da Santíssima Trindade e muito menos alterado esse mistério tão rico, profundo e importante da doutrina da Igreja, presente desde os primórdios. O concílio de modo algum poderia acrescentar ou diminuir algum dos preciosos predicados da Trindade. O mistério da Santíssima Trindade é, de alguma maneira, insondável e permanecerá imutável por todos os séculos. Deus é imutável. É consenso entre os teólogos, porém, que o concilio Vaticano II trouxe o Mistério da Santíssima Trindade para o centro das atenções: “centro na vida de cada fiel, batizado em nome do Pai, e do filho e do Espírito Santo; centro da liturgia, garantindo que toda ela se dirige ao Pai, pelo filho no Espírito Santo; centro da teologia, com destaque em todos os seus tratados; e acima de tudo, centro da Igreja que, a partir dele, passou a ser chamada Igreja da SS. Trindade”[1].

Mas antes do Concílio Vaticano II, o Mistério da Trindade parecia de fato insondável, impenetrável, como se permanecesse, como a palavra mesmo diz, um “mistério”, um segredo ininteligível, inatingível, incapaz do ser humano poder entender, adentrar e mergulhar. Não poderíamos falar desse mistério, não nos era dado desvendá-lo nem entender sua profundidade. Após o concílio não só afloraram obras sobre cada uma das pessoas divinas, como também tratados sobre a presença trinitária na vida cristã e no mundo. E por isso também a relação da Trindade com o mistério da Igreja.

O teólogo canonista Dom Dadeus Grings, hoje arcebispo emérito da Arquidiocese de Porto Alegre, escrevia assim em uma de suas inúmeras cartilhas pastorais, falando sobre os desafios do concílio Vaticano II: “A Trindade tornou-se, por assim dizer, acessível e íntima de cada fiel. O concílio indubitavelmente a trouxe para o centro da vida e das considerações cristãs. Algo semelhante aconteceu com a Igreja. Mas com algumas diferenças marcantes. O concílio Vaticano II pode ser definido como concílio não só da Igreja, mas também sobre a Igreja. Não só a tirou dos tratados da teologia fundamental, como sociedade perfeita e embasamento da teologia dogmática, mas a passou decididamente para a própria teologia dogmática, como mistério de salvação. Não só limitou a estudar mais a fundo a natureza da Igreja como tal, mas também trabalhou para sua reforma. Ou melhor, dentro da atual técnica da renovação, na Igreja não se efetua propriamente uma reforma como um restauro, o que equivale a torná-la como realmente é e era. O Papa João XXIII, ao convocar o Concílio, falava de uma atualização, ou melhor ainda, de uma ventilação que dispersasse o mofo acumulado ao longo dos séculos”[2].

A Igreja procede da Santíssima Trindade enquanto tem nascido da mesma comunhão do Deus Trino que tem querido estender sua comunhão com os homens. “A Igreja tem nascido do amor do Pai eterno, tem sido fundada no tempo pelo Filho e é vivificada continuamente pelo Espírito”[3]. A maior parte dos tratados clássicos da Igreja não sublinhavam essa conexão com a Trindade, que aparecia na maioria dos casos como uma realidade inatingível e insondável, quando na realidade a salvação cristã nasce dela e culmina nela. A Igreja da Trindade (Ecclesia de Trinitate) não só expressa a origem da Igreja a partir da Trindade, senão que indica também a continua participação da Igreja no mistério da vida da Trindade. A Igreja é ícone da Trindade, como afirmam alguns teólogos[4], no sentido que é uma imagem que participa na vida trinitária que dela vive. “A Igreja é a presença viva da Trindade no tempo pela missão do Filho e do Espírito Santo. Por isso, a unidade das pessoas divinas é para a Igreja a origem, o modelo e o fim de sua existência”[5]."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
_____________

[1] GRINGS, Dadeus. Os desafios do Concílio Vaticano II – Cartilha da Fé Conciliar. Editora Pe. Réus, 2013, Porto Alegre, p.35.

[2] Idem, p.35-36.

[3] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p. 19.

[4] B. FORTE, La Iglesia de la Trinidad, 51ss.

[5] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p. 20.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Diocese da Holanda suspende obrigatoriedade da Missa dominical

Guadium Press
Face à falta de sacerdotes, a diocese holandesa de Roermond decidiu suspender a obrigatoriedade da Missa dominical nas paróquias de Limburgo.

Redação (04/09/2022 09:45, Gaudium Press) A diocese holandesa de Roermond suspendeu a obrigatoriedade da Missa semanal.

O vigário geral da diocese, Monsenhor René Maessen, redigiu uma carta às paróquias informando que a Missa dominical não é mais obrigatória para os fiéis da diocese..

As paróquias da província de Limburgo não podem mais garantir a celebração semanal da Eucaristia. É essa a triste conclusão da diocese de Roermond face à falta de clero.

O principal motivo é a falta de celebrantes. A falta de pessoas nas equipes paroquiais e, até mesmo, a falta de fiéis é outra realidade não menos preocupante.

A carta relata ainda o alto custo do aquecimento a gás e da eletricidade em comparação com o pequeno número de pessoas que frequentam as Missas.

“Embora as razões financeiras nunca devam ser um item principal em questões pastorais, elas também não podem ser desconsideradas”, explicou o vigário geral.

O comunicado do vigário geral deixa claro, entretanto, que as paróquias só devem adotar a medida caso não haja outra solução.

Contudo, a decisão pode representar “um primeiro passo rumo ao fechamento de uma igreja”, explicou Maessen.

Com efeito, o número reduzido de sacerdotes e fiéis é uma realidade antiga na Holanda. Em algumas regiões do país, é comum que fiéis de várias paróquias diferentes se congreguem para uma celebração em comum da Missa dominical. (FM)

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Leigos holandeses pedem ajuda ao Papa

© ServizioFotograficoOR/CPP
<span class="standardtextnolink">December 2, 2013 : Pope Francis pose with the
Bishops of the Episcopal Conference of the Netherlands during their visit &quot;
ad limina Apostolorum&quot; in the Vatican.<br /> EDITORIAL USE ONLY.
NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS.</span>
IHU - Publicado em 04/12/13

Cerca de 1.300 paróquias serão extintas, milhares de edifícios eclesiásticos serão demolidos.

Por Marco Tosatti, em Vatican Insider. Tradução do Cepat.

Nesta segunda (02-12) o Papa recebeu em visita “ad Limina” os bispos da Holanda. A reunião, inicialmente marcada para a quinta-feira, 5 de dezembro, foi antecipada. Durante a semana, também se realizada a reunião, a segunda, entre os oito cardeais conselheiros do Papa para a reforma da Cúria, de forma que a carga de trabalho é tanta que não será possível conceder aos bispos holandeses um encontro individual com o Pontífice.

Paralela à visita em Roma, houve uma marcante iniciativa por parte dos milhares de católicos holandeses, que emitiram um comunicado e prepararam um documento dirigido ao Papa Francisco, intitulado “Ad Limina Apostolorum”. A situação da Igreja na Holanda (foto), difícil há décadas, parece viver uma nova crise que provoca “preocupações” em relação à “direção alarmante que a Igreja holandesa, tomada por dificuldades, tem tomado nos últimos anos”, escrevem os leigos.

Muitos deles participam ativamente nos setores científicos, acadêmicos, técnicos e no mundo dos negócios e percebem que atualmente a fé “católica, a cultura, seu patrimônio e sua herança, correm o risco de se perderem para sempre”. A impressão é de que a Igreja do país “está à deriva”, desta forma, decidiu-se lançar esta iniciativa, sem precedentes desde os tempos do Concílio Vaticano II. “Dois grupos de leigos decidiram unir suas forças, resolutos a se fazer escutar à luz de um novo curso de ‘discernimento, purificação e reforma’, como destacava a ‘Evangelii gaudium’”.

Assim, a Bezield Verband Utrecht (BVU), que tem mais de 4.000 associados e muito mais seguidores, como pode ser observado revisando as visitas que recebe em seu sítio, se uniu ao “Professorsmanifest” (PM). Este último é uma plataforma acadêmica que compreende mais de 60 professores de todas as universidades holandesas. “Há duas semanas, o grupo, em um gesto que pretende demonstrar seu constante apoio ao Papa, mostrou-se de acordo em trabalhar com a BVU na preparação de um amplo relatório intitulado ‘Ad Limina Apostolorum’”.

O relatório foi enviado ao Pontífice. Nele os leigos acusam os bispos de “terem escolhido se retirar de suas obrigações e responsabilidades com seu rebanho, citando uma longa lista de obstáculos sociais que são impasses ou que não se quer enfrentar”. Em particular, parece alarmante, segundo os leigos, o programa de suspensão das paróquias, fechamentos, vendas de bens eclesiásticos e Igrejas. Os bispos querem criar novas mega-paróquias chamadas “Centros eucarísticos”, dirigidos por “equipes de administradores” nomeados pelos bispos com um sacerdote. Estas mega-paróquias também serão chamadas de “lugares de esperança”.

Cerca de 1.300 paróquias serão extintas, milhares de edifícios eclesiásticos serão demolidos. “Há uma percepção generalizada – escrevem os leigos – de que estas ações são conduzidas com a ausência dos procedimentos prescritos relacionados com a alienação dos bens temporais, estabelecidos pelo código da Igreja”. Estas medidas foram tomadas contra a vontade dos paroquianos, muitos dos quais sentem “terem sido marginalizados e privados de seus direitos em suas próprias Igrejas”. De acordo com sua opinião, que pode ser lida nos documentos, os bispos são responsáveis por aplicar uma política de “secularização agressiva”.

E esta política, indica o relatório, teria nascido devido a uma “cultura do medo” que desmoraliza os crentes e ameaça a fé. A conclusão: “unidos, juntos na fé em Cristo e na devoção à Igreja católica universal, estamos determinados a parar a tendência de fazer calar a fé, para restaurar uma ordem justa na Igreja”. Por isso, propôs-se encontrar uma solução aos problemas com um diálogo aberto, objetivo, honesto e verdadeiro.

(IHU)

Não houve conspiração para matar o papa, isso foi inventado, diz sobrinho de João Paulo I

João Paulo I durante a oração do Ângelus no Vaticano /
Sentinelle del mattino International (CC-BY-SA 2.0)

Roma, 05 set. 22 / 01:05 pm (ACI).- Edoardo Luciani, sobrinho do papa João Paulo I que foi beatificado ontem (4), rechaçou a  história de que o papa foi envenenado no Vaticano e afirmou que seu tio morreu de forma natural.

Falando ao jornal The Daily Compass, Luciani comentou que seu tio “tinha que morrer jovem e pela graça de Deus ele sobreviveu porque sua vida tinha um propósito no plano de Deus, ele morreu da mesma forma, Deus o chamou”.

João Paulo I morreu em 28 de setembro de 1978, apenas 33 dias depois de sua eleição. “Alguns dizem que ele teve um infarto, mas ele nunca teve problemas cardíacos, seu coração era forte", disse o sobrinho.

Sobre "os boatos de que ele havia sido envenenado (risos) isso também foi inventado", destacou Edoardo Luciani.

Luciani contou que o bispo emérito de Cloyne, Irlanda, dom John Magee, “que era secretário particular do meu tio e o primeiro a pedir ajuda depois que a freira que lhe levava o café da manhã o encontrara morto”, contou-lhe qual seria a origem desta história falsa.

“Ele me disse que uma vez estava no aeroporto e encontrou David A. Yallop”, o autor de Em nome de Deus: uma investigação em torno do assassinato do papa João Paulo I, publicado em 1984 pela editora Record.

"A história do envenenamento nasceu dele", de Yallop, por isso dom Magee "perguntou-lhe onde havia obtido as provas das acusações que fez em seu livro".

Segundo Luciani, Yallop respondeu “você também tem que inventar alguma coisa quando escreve um livro para vender”.

O sobrinho de João Paulo I disse então que “as pessoas têm uma imaginação fértil, não houve conspiração. Ele morreu naturalmente."

A vida de João Paulo I "foi um milagre"

O sobrinho de João Paulo I também disse que a vida de Albino Luciani “foi um milagre e sempre foi um sinal da Providência para nós. Na época em que ele nasceu nem todas as crianças sobreviviam, muitas morriam”.

Albino Luciani nasceu em 17 de outubro de 1912 na cidade de Canale d'Agordo, na Itália. Foi batizado no mesmo dia por uma senhora chamada Maria Fiocco, ante "o perigo iminente de morte", diz o site da Santa Sé.

“Meu tio pertencia ao grupo daqueles que costumam morrer muito novos. Sua saúde era frágil e não havia os medicamentos que temos agora. Ele sofria de pneumonia e pleurisia e passava períodos no hospital. A saúde dele o afetou por toda a vida”, disse Edoardo Luciani.

Quando são João XXIII foi eleito “papa, ele disse que queria nomear bispo a Albino. Ele recebeu uma carta desaconselhando sua ordenação por motivos de saúde. Apesar dessa recomendação, ele foi ordenado”.

Albino Luciani foi nomeado bispo de Vittorio Veneto em 15 de dezembro de 1958, recebendo a consagração episcopal apenas 12 dias depois, em 27 de dezembro. O próprio são João XXIII o consagrou bispo.

Edoardo Luciani disse finalmente sobre João Paulo I que “sua vida é um testemunho de como os planos de Deus desafiam a lógica humana”.

"Sua vida é um testemunho vivo de que o que parece impossível para o homem é possível para Deus".

Fonte: https://www.acidigital.com/

Setembro amarelo: é tempo de acolher e amar a sua alma

Ylanite Koppens | Pexels CC0
Por Talita Rodrigues

Suicídio nada mais é do que a perda de sentido e de propósito diante da vida. É preciso, portanto, ficarmos atentos aos seus sinais.

No Brasil, o “setembro amarelo” é um mês dedicado à disseminação de informações, a fim de prevenir o suicídio.

Suicídio, de fato, nada mais é do que a perda de sentido e de propósito diante da vida. É preciso, portanto, ficarmos atentos aos seus sinais, inclusive, observar se eles atingem quem está próximo de você.

Pensamentos: Pensamentos remoídos obsessivamente, sem esperança e concentração são um dos primeiros indícios do suicida, assim como enxergar a vida como algo sem sentido ou propósito;

Humor: Alterações extremas no humor podem sinalizar emoções suicidas. Excesso de raiva, sentimento de vingança, ansiedade, irritabilidade e sentimentos intensos de culpa ou vergonha são sinais aos quais você deve ficar atento.

Avisos: Frases como “a vida não vale a pena”, “estou tão sozinho que queria morrer” ou “você vai sentir a minha falta” estão diretamente ligadas a pensamentos sobre a morte. Se a pessoa se sente um fardo, busque ajuda;

Desapego: Caso você perceba que a pessoa está começando a “fechar pontas soltas”, doar seus pertences e até visitar vários entes queridos, faça uma intervenção o mais rápido possível;

Irresponsabilidade: Comportamentos irresponsáveis e perigosos, sem medir as consequências, como o uso excessivo de álcool e drogas, direção imprudente e sexo sem proteção são indícios de que a pessoa já não dá a importância devida a própria vida;

Mudança na rotina: Todo mundo tem um lugar que gosta de frequentar em especial, então repare em mudanças extremas na rotina. Caso a pessoa pare de ir a locais que sempre gostou de visitar, tome uma medida o mais rápido possível. Abandonar atividades que lhe davam prazer é um grande sinal de alerta.

Todo mundo tem um lugar que gosta de frequentar em especial, então repare em mudanças extremas na rotina. Caso a pessoa pare de ir a locais que sempre gostou de visitar, tome uma medida o mais rápido possível. Abandonar atividades que lhe davam prazer é um grande sinal de alerta.

Fique atento: paciência e diálogos salvam vidas. Portanto, se você sente ou percebe os aspectos citados acima, busque ajuda!

É tempo de acolher e de amar a sua alma. 

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Fonte: https://pt.aleteia.org/

Santa Francisca Rubatto: testemunho feminino do franciscanismo moderno

A Ir. Maria Francisca de Jesus, fundadora das Irmãs Terciárias Capuchinhas
de Loano | Vatican News

A Irmã Francesca Rubatto - uma migrante, uma religiosa, uma irmã entre as irmãs, a primeira santa do Uruguai - "ao final da sua vida consumida pela caridade e pelo amor a Jesus e aos pobres".

Sebastián Sansón Ferrari

«Sede irmãs do povo» — escrevia Santa Francisca Rubatto (no século, Anna Maria), primeira santa do Uruguai — às religiosas da Congregação das Irmãs Capuchinhas. Nascida a 14 de fevereiro de 1844 em Carmagnola, na Itália, foi canonizada pelo Papa Francisco no domingo, 15 de maio de 2022. Este foi o espírito que inspirou a sua vida e apostolado em Montevidéu, capital do Uruguai, onde escolheu viver desde 1892 até à sua morte em 1904. Com efeito, no seu testamento deixou a seguinte disposição escrita: «Que o meu corpo seja sepultado entre os meus amados pobres».

O site da Congregação que fundou afirma que ela «deu ao franciscanismo uma versão feminina moderna» e também que «constitui uma das maiores figuras do franciscanismo feminino atual. Precisamente como São Francisco de Assis, Madre Francisca encontrou Cristo nos pobres e no sofrimento, e viveu uma experiência autêntica da pobreza da Virgem», acrescenta-se na página web.

«Foi irmã entre irmãs, mais do que madre fundadora, e viveu um zelo missionário e um desejo de martírio tão profundos que a acompanharam até ao fim da sua vida, consumida pela caridade e pelo amor a Jesus e aos pobres».

Fundada a 23 de janeiro de 1885, agora a Congregação está presente na Itália, Uruguai, Argentina, Brasil, Peru, Etiópia, Eritreia, Quénia e Malawi com escolas, paróquias onde trabalham as suas religiosas e obras de assistência às pessoas mais necessitadas.

Uruguaia por adoção e decisão

Quando chegou ao Uruguai, escolheu a área de La Teja, Belvedere, Paso de la Arena e Barra de Santa Lucía, que na época era uma terra deserta. Santa Francisca misturava-se com o povo, inclusive com os trabalhadores que iam ao matadouro aos domingos de manhã, e apanhava o comboio com eles às 4h da madrugada. Entre outras coisas, foi capaz de intuir a necessidade de roupas e alimentos da população e, com uma visão profunda, decidiu que um grupo das suas religiosas vivesse no bairro de Belvedere, onde se encontra o santuário onde hoje repousam os seus despojos.

Madre Rubatto realizou um louvável trabalho de promoção e evangelização: fez com que as meninas aprendessem uma profissão para ganhar a vida, a fim de não depender das suas famílias. Ensinou-lhes a ler, escrever, coser, tecer, bordar, mas também lhes deu uma formação religiosa. Mais tarde, as oficinas fundadas por Francisca tornaram-se grandes institutos, como a escola e o liceu de San José de la Providencia, em Montevidéu, ou a escola de San Francisco de Asís, em Rosário e Buenos Aires, Argentina.

Uma das caraterísticas distintivas de Santa Francisca foi a sua disponibilidade para aceitar a chamada de Deus nos desafios que a realidade lhe apresentava e para agir em conformidade, comentou o padre Carlo Calloni, postulador da causa de canonização, à Rádio Vaticano-Vatican News. Por exemplo, quando tinha quarenta anos, foi-lhe oferecida a direção de uma obra em Loano, diocese de Génova. O convite veio de forma estranha, de acordo com a maneira humana de pensar: «Uma pedra caiu de um andaime e ela socorreu o pedreiro ferido e, ao mesmo tempo, recebeu a chamada de um capuchinho, padre Angelico de Sestri Ponente, que lhe ofereceu o cargo de diretora», recordou o postulador. Mais tarde, Madre Rubatto analisou a proposta com o seu diretor espiritual e decidiu aceitar.

A arte da disponibilidade

Um aspeto pouco conhecido de Santa Francisca foi a sua proximidade a Dom Bosco. A família salesiana no Uruguai aprofundou a questão e explicou a influência decisiva do “Sacerdote e Mestre da Juventude” sobre Santa Francisca.

Santa Francisca e São João Bosco

Segundo uma publicação dos salesianos no Uruguai, o currículo da nova santa revela «um vínculo forte e decisivo com Dom Bosco». Anna Maria, escreveram, chegou a Turim em 1862, depois de ter perdido quase toda a sua família, e estabeleceu-se na casa da sua irmã mais velha, casada, e depois foi trabalhar com uma rica condessa. «Era o tempo em que Dom Bosco trabalhava nos seus oratórios e ela decidiu colaborar com ele com a discrição, prudência, amabilidade e ternura que sempre a caracterizaram», acrescentaram.

As profecias de Dom Bosco, frisam os salesianos, foram plenamente realizadas e Anna Maria incorporou vários elementos do Sistema preventivo na própria missão, como desejo de ajudar os jovens mais abandonados para os educar e promover, a fim de dar dignidade às suas vidas.

O facto de Madre Rubatto ser conhecida como «a primeira santa do Uruguai» inspira-se na definição cunhada pelo Papa João Paulo II, quando durante a beatificação, a 10 de outubro de 1993, disse: «Hoje saudamo-la como a primeira beata do Uruguai».

A primeira santa do Uruguai

João Paulo II acrescentou na homilia:

«A Igreja saúda-te, Irmã Maria Francisca de Jesus, Fundadora das Irmãs Terciárias Capuchinhas de Loano, que fizeste da tua existência um serviço contínuo aos últimos, testemunhando o amor especial que Deus tem para com os pequeninos e humildes. Seguindo fielmente as palavras de Francisco, apaixonado pela pobreza evangélica, aprendeste não só a servir os pobres, mas também a te tornares pobre, e indicaste às tuas filhas espirituais esta especial forma de evangelização. Com o crescimento do Instituto, esta intuição inicial tornou-se um profundo impulso missionário que te guiou, a ti e ao teu trabalho na América Latina, onde algumas das tuas filhas espirituais selaram com o sacrifício da vida aquele serviço aos pobres, que constituem o carisma confiado à tua Congregação em benefício de toda a Igreja».
Projetos fundados pela santa do Uruguai:
As atividades no Quênia | Vatican News
As crianças no projeto na África | Vatican News
Com um grupo na Etiópia | Vatican News
As crianças no projeto na África | Vatican News
As atividades no Perú | Vatican News
Mais projetos da fundadora | Vatican News
As irmãs de Madre Rubatto | Vatican News
Foto na Missa de canonização de Santa Francisca | Vatican News
O Santuário de Santa Francisca Rubatto | Vatican News

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Dia da Amazônia

CNBB

EM CARTA, PRESIDENTES DA COMISSÃO PARA A AMAZÔNIA DA CNBB E DA REPAM-BRASIL APONTAM QUE É “TEMPO DE SONHAR UMA POLÍTICA PARA O BEM COMUM NA AMAZÔNIA” 

Neste dia 5 de setembro, data que marca a celebração do Dia da Amazônia, o arcebispo de Manaus (AM) e presidente da Comissão Episcopal Especial para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cardeal Leonardo Ulrich Steiner, e o bispo da prelazia de Marajó (PA) e presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), dom Evaristo Pascoal Spengler, publicaram a carta: “Tempo de Sonhar uma política para o bem comum na Amazônia”.

No texto, os presidentes da Comissão para a Amazônia da CNBB e da REPAM-Brasil afirmam que “a insaciedade voraz do capital declara sua marcha extrativista e decreta seu avanço rumo à última fronteira da expansão de uma “economia que mata” (cf. EG 53), alicerçada nos grandes projetos predatórios e suicidas, que contaminam e destroem as fontes da vida, secam os rios, aquecem o ar, prejudicam a agricultura familiar, expulsam comunidades, perseguem lideranças e povos, concentram gente em cidades insustentáveis e adoecidas”.

O texto aponta, ainda que, cresce a fome entre a população enquanto grãos, minérios e riquezas são exportados. A violência socioambiental, alimentada pela impunidade, torna mais profunda a desigualdade, causa de dor, sofrimento e morte dos amazônidas. “Está declarada, também, a emergência climática na Amazônia e no Planeta. Assombra-nos as perspectivas fundadas no conhecimento científico de chegarmos a um ponto de irreversibilidade do processo predatório nos territórios amazônicos”, aponta o documento.

A carta aponta que o primeiro passo para a “política melhor”, na Amazônia e no Brasil, é reconquistar o compromisso com um projeto comum (cf. FT, Cap. 5), que reúna todos os povos e integre os/as excluídos/as, no campo, na floresta e na cidade. Essa tarefa compete a todos, particularmente, aos políticos e aos que exercem cargos públicos.

“Comprometidos com a defesa da vida, da dignidade e da cultura dos povos da Amazônia, nós, em nome dos bispos da Amazônia legal brasileira manifestamos nosso repúdio às lideranças políticas, em todas as esferas de poder, que defendem ou promulgam projetos de morte na Amazônia, como a concentração e grilagem da terra, a liberalização do garimpo, a mineração em terras indígenas, o marco legal. Apoiar lideranças que agem assim é tornar-se cúmplice de sua abominável prática”, diz um trecho.

Conheça a íntegra do documento:
“Tempo de Sonhar uma política para o bem comum na Amazônia”

Meditações sobre a Ressurreição (Parte VIII)

Ressuscitou | comshalom

8. SÃO PAULO, MESTRE DA LUTA ESPIRITUAL

Um olhar humilde e agradecido

            São Paulo, no final da primeira Carta aos Coríntios, após falar das diversas aparições de Cristo e evocar o seu encontro com Jesus ressuscitado às portas de Damasco, diz com humildade: E, por último de todos, apareceu também a mim, como a um abortivo. Porque sou o menor dos Apóstolos, e não sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus… (1 Cor 15,8-9).

                       São Paulo é uma testemunha excepcional da Ressurreição de Jesus. Para ele, o fato decisivo, que transformou toda a sua vida, foi o encontro pessoal que teve com Cristo ressuscitado às portas de Damasco (At 9,1ss.).

            Paulo, por mais que passassem os anos, nunca se esquecia de que fora um perseguidor dos cristãos, de quem Jesus teve misericórdia, e de que Cristo o escolheu, sem mérito algum da sua parte, para fazê-lo Apóstolo. Não se sentia digno disso. Comparando-se com os outros Apóstolos, via-se a si mesmo como um aborto, como o mais indigno… Ele mesmo dirá que Deus escolheu o que é fraco no mundo para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível no mundo, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. Assim, nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus (1 Cor 1,27-29).

            É importante ter presente essa sua declaração, totalmente sincera, de ser nada, último, para avaliar melhor o que afirma a seguir, após aquelas palavras: não sou digno de ser chamado apóstolo.  Textualmente, diz: Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que Ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo (1 Cor 15-10). Não parece que agora, de repente, Paulo fica orgulhoso, convencido e arrogante, ao dizer: Tenho trabalhado mais do que todos eles, do que todos os outros Apóstolos…? Que significa isso?

            Significa que São Paulo era humilde de verdade, e não de fachada: porque a humildade é a verdade – como gostava de lembrar Santa Teresa de Ávila –, e São Paulo não se gaba de nada. Está feliz de poder louvar a Deus que, com a sua graça o tornou, mesmo sendo o menor, capaz de trabalhar por Cristo com uma eficácia inexplicável, enorme. Ele agradece, comovido, e sabe bem que tudo é puro dom de Deus: Pela graça de Deus sou o que sou… Tenho trabalhado…, não eu, mas a graça de Deus comigo. Fica bem claro.

A humildade e a esperança 

            Estamos aqui perante um paradoxo, que faz parte da essência da vida cristã, ainda que pareça um contra-senso. O paradoxo é que, ao mesmo tempo que – com muita humildade – devemos considerar que não somos capazes de fazer nada, devemos esforçar-nos e trabalhar como quem é capaz de tudo, porque confiamos na graça que Deus nos dá. Toda a vida cristã – toda a santidade – consiste em saber conjugar a graça de Deus e a nossa correspondência, a humildade com a luta cheia de esperança.

             O próprio Jesus, por meio da comparação da videira e das varas, nos disse que, por nós mesmos, somos incapazes da fazer nada, nada que tenha valor aos olhos de Deus, nada que santifique, nada que valha para a vida eterna.: Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer (Jo 15,5)

            São Paulo estava tão consciente disso que podia escrever, falando da sua vocação de Apóstolo:  Deus fez brilhar a sua luz [a luz da fé] em nossos corações, para que irradiássemos o conhecimento do esplendor de Deus, que se reflete na face de Cristo [para que déssemos a conhecer a luz da verdade de Cristo]. Porém –continua -, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário vem de Deus e não de nós (2 Cor 4,6-7). Sem a graça, Paulo sabe que não tem nada, não pode nada e não é nada. Isto ele sentiu-o, de uma maneira muito especial, num momento dramático de sua vida.

“Basta-te a minha graça”: as fontes da graça

            Abrindo a alma aos coríntios, o Apóstolo conta-lhes que houve um momento em que quase se desesperou. A par de muitas graças de Deus, experimentou também muitas limitações, dificuldades e sofrimentos. De modo especial, o fez sofrer um tipo de fraqueza física ou de doença, que nós não conhecemos exatamente, mas que a ele o apavorava, porque achava que ia impedi-lo de continuar a trabalhar no apostolado. Como sofria! Era um desespero! Comparava esse mal a um anjo de Satanás, que me esbofeteia, para me livrar do perigo da vaidade. E dizia: Três vezes roguei ao Senhor que o apartasse de mim. Mas Ele me disse: “Basta-te a minha graça, porque é na fraqueza que se revela totalmente a minha força” …  Portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo (2 Cor, 12,7-9).

            Bem claramente se vê a consciência que tinha de que, sem a graça de Deus, não podia nada. Sentia-se um zero absoluto. Que fazia, então? Porventura ficava passivo, esperando que a graça descesse do Céu sobre ele? Não. Fazia duas coisas, que todos os cristãos deveríamos fazer. Primeira: procurava constantemente a graça nas suas fontes Segunda: lutava com todas as suas energias para corresponder às graças que Deus lhe concedia. É muito bonito e ilustrativo recordar algumas das recomendações que fazia aos seus discípulos, porque refletem o que acabamos de lembrar.

             Numa das suas primeiras cartas, dizia aos tessalonicenses: Vivei sempre contentes. Orai sem interrupção…orai também por nós (1 Tes 5,16-17.25). Sentia a necessidade da oração constante, sem pausas, lembrando-se de que Deus vincula muitas das suas graças à oração – Pedi e recebereis! (Mt 7,7) , e que o próprio Cristo tinha insistido na necessidade de orar sempre e não desfalecer (Lc 18,1). Também dizia aos filipenses: Não vos inquieteis com coisa alguma! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças (Fil 4,6). E, aos romanos: Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração (Rm 12,12). Tinha a certeza de que, com a oração, tudo se alcança de Deus, tudo o que nos é necessário para vivermos como bons filhos de Deus e para superar o que nos quer afastar dessa vida santa.

            Na mesma carta aos romanos, Paulo usa uma expressão muito sugestiva. Compara a oração a uma grande arma de combate: Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e do amor que é dado pelo Espírito Santo, combatei comigo, dirigindo as vossas orações a Deus por mim (Rm 15,30)O Catecismo da Igreja pode falar, por isso, do “combate da oração” (n. 2725). 

            A oração é tão importante, tão fundamental, que Santo Afonso Maria de Ligório chegava a dizer: Quem reza certamente se salva; quem não reza certamente se condena.

            Além dessa insistência na necessidade da oração, São Paulo afirma também, de uma maneira impressionante, que os que desprezam a graça da Comunhão, por tratarem com desrespeito a Eucaristia, por comungarem mal, ficam doentes espiritualmente e morrem, perdem a vida divina: Esta é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos (1 Cor 11,30)Lembrava-se muito bem de que Jesus afirmara taxativamente, falando da Eucaristia: Este é o pão que desceu do céu… Quem come deste pão viverá eternamente, Se não comerdes a carne do Filho do Homem…não tereis a vida em vós mesmos (Jo 6, 51 e 53).

            Ao lado dessa exortação a tirar forças desse alimento eucarístico, que é o próprio Cristo, São Paulo não deixava de recordar aos fiéis a necessidade de estar em estado de graça para comungar; algo que é extremamente importante lembrar nos dias de hoje: Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Aquele que o come e o bebe indignamente, sem distinguir o Corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação (1 Cor 11, 27-29). É forte, mas a Igreja sempre fez eco a essas palavras inspiradas pelo Espírito Santo: Examine-se cada um a si mesmo… E, se reconhecer que está afastado de Deus por algum pecado grave, um pecado mortal, vá confessar-se quanto antes e, sem dúvida, confesse antes de comungar.   

            O ensinamento de São Paulo deixa bem claro que, para vivermos bem a vida dos filhos de Deus, precisamos absolutamente da graça divina – da graça do Espírito Santo – que conseguimos por meio dos sacramentos – especialmente da Penitência e da Eucaristia –, e por meio da oração e do amor a Deus com que fazemos as coisas. Essas são as três grandes fontes da graça: os Sacramentos, a eficácia impetratória da oração e o mérito sobrenatural das boas obras realizadas por amor a Deus.

A luta ascética do cristão 

            Estivemos vendo a necessidade da graça. Vamos considerar agora o segundo “pólo” do paradoxo de que falávamos acima: a necessidade de lutarmos sinceramente para corresponder à graça que Deus nos dá.

            Sobre essa segunda “necessidade” – a necessidade de lutar, além de rezar – , São Paulo é mestre, e mestre genial. Já recordamos que ele dizia, após considerar-se nada: Mas, pela graça de Deus sou o que sou, e a graça que Ele me deu não tem sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado – tenho lutado – mais do que todos eles. Esse homem de garra fala sempre da luta do cristão como de um desafio otimista, como de uma competição atlética ou esportiva. Como nos faz bem lembrar-nos disso e decidir-nos também nós a ser “lutadores” – no esforço por melhorar – , cheios de otimismo e espírito esportivo. Não vemos que é assim que se manifesta a nossa esperança na graça de Deus? Se não tivéssemos essa confiança na ajuda de Deus, não lutaríamos, largaríamos tudo.

            Vamos, pois, meditar sobre um par de trechos dos mais “esportivos” de São Paulo. Podemos começar com aquele que fala do estádio olímpico.  São Paulo está escrevendo aos coríntios (que, por sinal, lhe deram muito trabalho), e diz-lhes: Nas corridas de um estádio, todos correm, mas bem sabeis que um só recebe o prêmio. Correi, pois, de tal maneira que o alcanceis… Assim corro eu, mas não sem rumo certo. Dou golpes [aqui pensa nos pugilistas], mas não no ar… (1 Cor 9,24-27).

             Quantas sugestões não contêm essas palavras! Não é verdade que, muitas vezes, nos sentimos espiritualmente parados, estagnados? Os nossos defeitos, em vez de diminuir, parece que aumentam. Não falo agora dos que se despreocupam da perfeição cristã, e só querem saber da “boa vida”. Estou pensando em gente que tem fé, que tem amor a Deus, e que desejaria melhorar. Mas, apesar da boa vontade, percebe que não avança nem um milímetro; pelo contrário, parece que a cada dia recua um pouco . E assim passam os anos, e aumenta o desânimo. E a esperança, onde fica? Parece que não existe. Mas, como pode existir se rezamos pouco, e não lutamos esportivamente, a sério, como os atletas no estádio?

            Poucos podem dizer que, para ganhar mais fé, mais paciência, mais compreensão, mais ordem, mais formação, mais constância, mais generosidade com o próximo, mais qualidade e profundidade na oração e no trabalho…, poucos podem dizer – insisto – que fazem o que diz São Paulo, ou seja, que lutam com a garra de um campeão no estádio olímpico. Para isso, precisariam ter metas concretas de oração e de luta, e não só boa vontade e bons sentimentos. Deveriam determinar-se e dizer: “Eu me proponho isto, a partir de amanhã: aquela oração, aquele esforço, e aquela mudança de atitude; não quero ficar dando golpes no ar (muito sentimento, muitas palavras vãs e pouco sacrifício)”. Deveriam evitar, além disso, correr sem rumo, ou seja, deveriam procurar ter uma orientação, uma direção espiritual que lhes facilitasse traçar roteiros, concretizar um plano de vida; que acompanhasse a aceleração da sua “corrida”, e os ajudasse a retificar e a aprender com os erros, como faz o treinador com os atletas… Sim.  Quantos há que possam dizer que fazem o que Paulo recomenda? Poucos. Muito poucos. Somos comodistas. Não gostamos dos nossos defeitos, mas conformamo-nos com eles. Não lutamos como Paulo pedia a Timóteo: Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna! …Nenhum atleta será coroado, se não tiver lutado segundo as regras… (1 Tim 6,12 e 2 Tim 2,5).

             Paulo podia pedir isso a Timóteo –e a todos os fiéis –porque ele o praticava. É tocante a “confissão” que faz na Carta aos Filipenses. Depois de falar das suas ânsias de conhecer mais e mais a Cristo e de experimentar o poder da sua ressurreição, diz que luta para conquistar Cristo, e explica como é essa luta: Não pretendo dizer que já alcancei esta meta e que cheguei à perfeição. Não. Mas empenho-me em conquistá-la, uma vez que também eu fui conquistado por Jesus Cristo. Consciente de não tê-la ainda conquistado, só procuro isto: prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus me chama em Jesus Cristo (Fil 3,10-14).

             Bastaria que cada um de nós meditasse devagar essas palavras, para perceber que nelas se encerra um magnífico programa de luta – de vida – cristã. Um programa que poderíamos resumir assim: Se confiarmos na graça de Deus – no auxílio do Espírito Santo -, nunca iremos sentir-nos “satisfeitos” (“não pretendo ter alcançado a meta”); nunca iremos parar de nos propormos novas metas de melhora (“olhando para a frente”); nunca iremos olhar com desânimo para os nossos fracassos e erros, já perdoados por Deus (“esquecendo o que fica para trás”), mas continuaremos a esforçar-nos com alegria e otimismo renovados em cada instante (“atirando-me ao que resta para a frente”).

             Como animam essas palavras! Basta meditá-las um pouco, para nos sentirmos dispostos a não abandonar a luta – as batalhas que Deus nos pede – por maiores que sejam as dificuldades.

             Essa é a grande lição ascética de São Paulo: se formos humildes, se confiarmos totalmente em Deus, se perseverarmos na oração e na prática dos Sacramentos, se encararmos a luta com otimismo e espírito esportivo, Deus fará com que a nossa vida na terra seja uma caminhada feliz, que sempre progride – por mais que esteja pontilhada de quedas – e que desembocará na alegria inefável da meta, do prêmio celeste, ao qual Deus nos chama.

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF