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domingo, 11 de setembro de 2022

Entidades pró-vida lançam manifesto por voto contra o aborto e a destruição da família

Imagem ilustrativa / Unsplash
Por Natalia Zimbrão

SÃO PAULO, 09 set. 22 / 11:38 am (ACI).- A Comissão Regional da Defesa da Vida (CRDV) do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou um manifesto pelo voto pró-vida e pró-família. Segundo o coordenador da comissão, Roberto Vertamatti, a iniciativa “surgiu da preocupação de que grande parte dos cristãos, ainda que defendam e respeitem a vida, não têm uma consciência clara de que isso tem a ver com as eleições”.

O documento é intitulado “Apelo a todos os brasileiros – A vida humana, a família e a democracia estão em perigo”. Até o momento, conta com o apoio de 26 entidades pró-vida e pró-família de todo o Brasil. Segundo Vertamatti outras instituições devem se somar ao manifesto. “Nós só incluímos [o nome da instituição] após a adesão clara do organismo a partir da sua direção”, disse à ACI Digital.

Vertamatti ressaltou que, na hora de votar, o cristão não pode se deixar guiar “pela opção do aborto, da morte”. “Isso é muito claro no Catecismo da Igreja Católica, na tradição da Igreja de que a vida é o maior bem que nós temos”.

O Catecismo da Igreja Católica afirma que “a vida humana deve ser respeitada e protegida, de modo absoluto, a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento da sua existência, devem ser reconhecidos a todo o ser humano os direitos da pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo o ser inocente à vida”.

“A Igreja afirmou, desde o século I, a malícia moral de todo o aborto provocado. E esta doutrina não mudou. Continua invariável. O aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, é gravemente contrário à lei moral”, continua o Catecismo.

O Catecismo diz ainda que “o inalienável direito à vida, por parte de todo o indivíduo humano inocente, é um elemento constitutiva da sociedade civil e da sua legislação”. Citando a instrução Domun vitae, da Congregação para a Doutrina da Fé, de 1987, o Catecismo diz ainda que “os direitos inalienáveis da pessoa deverão ser reconhecidos e respeitados pela sociedade civil e pela autoridade política. Os direitos do homem não dependem nem dos indivíduos, nem dos pais, nem mesmo representam uma concessão da sociedade e do Estado. Pertencem à natureza humana e são inerentes à pessoa, em razão do ato criador que lhe deu origem. Entre estes direitos fundamentais deve aplicar-se o direito à vida e à integridade física de todo ser humano, desde a concepção até à morte”.

O coordenador da CRCD disse que a intenção com o manifesto “não é indicar em quem votar, mas indicar em quem não votar, porque não concorda com o que defende a Igreja Católica, é completamente a antítese do que diz a nossa doutrina”.

Para Vertamatti, “hoje, a questão da vida e da família estão intimamente ligadas. A destruição da vida implica na destruição da família e a destruição da família implica na destruição da vida”.

No documento, a comissão quis apresentar para o eleitor um “pequeno histórico” do que acontece no Brasil “desde a década de 1980, com alguns pontos principais que estão encaminhando para a situação de hoje” em relação ao aborto e aos ataques à famíliam disse Vertamatti. “Nós quisemos, de uma forma educativa, mostrar o caminho: olha o que está acontecendo, é por aí que temos que verificar, buscar as origens e, partir daí, votar conscientemente”.

Entre alguns fatos em favor do aborto no Brasil destacados pelo manifesto está, por exemplo, a inauguração em 1989 do “primeiro serviço de abortos em caso de estupro”, no hospital do Jabaquara, pela então prefeita de São Paulo (SP) Luiza Erundina (PT), atual candidata a deputada federal pelo Psol. “Outros grandes hospitais seguiram este mau exemplo”, afirma o texto. Nesta época, “o aborto em caso de estupro era praticado somente até a 12ª semana de gestação e eram exigidos o exame de corpo de delito e o Boletim de Ocorrência (B.O.)”.

Em 1998, lembra o documento, o ministro da Saúde José Serra, do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), “publicou a 1ª Norma Técnica sobre o aborto em caso de estupro, estendendo esta prática até à 20ª semana de gestação e eliminando a exigência do exame de corpo de delito”.  Atualmente, Serra é candidato a deputado federal pelo PSDB.

Candidato à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), governou o país por dois mandatos, entre 2003 e 2011. Neste período, “facilitou-se ainda mais o acesso à prática do aborto em caso de estupro”, diz o manifesto. Recorda que o ministro da Saúde Humberto Costa publicou a 2ª Norma Técnica, que “eliminou também a necessidade de apresentação do B.O” em caso de estupro para a prática do aborto. Lembra ainda que no ano de 2007, “em seu Terceiro Congresso Nacional, o PT aprovou a legalização do aborto como programa de partido, sendo o primeiro partido no Brasil a assumir oficialmente este programa”.

Já em 2013, no governo da também petista Dilma Rousseff foi apresentado no Congresso “o Projeto de Lei PLC 03/2013 que ‘dispõe sobre a atenção obrigatória e integral de pessoas em situação de violência sexual’”. O projeto foi sancionado por Dilma como lei 12.845/2013, apelidada como Lei Cavalo de Troia. “Além de obrigar todos os hospitais da rede pública ao atendimento às vítimas de violência sexual, este atendimento deve ser feito de forma “integral”, expressão ambígua que inclui também o aborto”, diz o manifesto. Ressalta ainda que na lei o aborto é “apresentado como ‘profilaxia da gravidez’, como se a gravidez fosse uma doença”.

Esta lei, porém, “não é aplicada porque falta aprovar o financiamento”. Diversos projetos para criar o “Fundo Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres” já foram apresentados, apelidados de “abortodutos”. Segundo o manifesto da Comissão do Sul 1, “quando os deputados contrários ao aborto colocaram como condição que o dinheiro do Fundo não pudesse ser utilizado, direta ou indiretamente, para procedimentos de aborto, os abortistas retiraram os vários projetos”. O último projeto apresentado sobre este tema é o PL 4251/2021, que “deu ao fundo o nome de ‘Promulher’”.

O documento da Comissão do Regional Sul 1 cita também alguns ataques à família neste período. Recorda que, em 2019, o então presidente Lula “sancionou o Plano Nacional de Direitos Humanos III, e colocou como uma de suas metas a ‘Desconstrução da Heteronormatividade’, ou seja, configurações familiares constituídas por lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT) devem ter os mesmos direitos das famílias constituídas por um homem e uma mulher, inclusive com relação a adoção de filhos”. “Trata-se da destruição da família”, diz a CRCD. Além disso, em 2011, o STF, “interpretando arbitrariamente a Constituição Federal, equipara a união homossexual ao ‘status’ da família normalmente constituída”.

“Por isso recomendamos encarecidamente a todos os cidadãos brasileiros, em consonância com o art. 5º da Constituição Federal, que defendam a inviolabilidade da vida humana, independentemente de suas convicções ideológicas ou religiosas, que nas próximas eleições, deem o seu voto somente a candidatos e partidos políticos contrários ao aborto e à destruição da família. Assim salvaremos também a democracia”, conclui o manifesto.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Papa: deixar-se inquietar por quem se afastou, como Deus que sofre quando nos afastamos

Papa: deixar-se inquietar por quem se afastou | Vatican News

"Recordemo-nos: Deus sempre nos espera de braços abertos, qualquer que seja a situação de vida em que nos perdemos. Como diz um Salmo, ele não adormece, ele sempre vela por nós."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Um Deus com coração de pai e mãe, que sofre quando nos distanciamos dele, quando nos perdemos, mas que continuamente vela por nós, espera o nosso retorno para nos ter em seus braços.

Jesus fazendo a refeição com os pecadores: escândalo para fariseus e escribas, ao mesmo tempo a revelação de que Deus "não exclui ninguém, deseja todos em seu banquete, porque ama a todos como filhos". 

Três parábolas da misericórdia que resumem o coração do Evangelho: Deus é Pai e vem nos procurar sempre que nos perdemos.

Inspirado no Evangelho de Lucas da liturgia do dia, o Papa convidou os milhares de peregrinos e turistas reunidos na Praça São Pedro para o Angelus dominical - a também a nós -, a prestar atenção na "inquietação pela falta", aspecto comum aos protagonistas das parábolas: um pastor que procura a ovelha perdida, uma mulher que encontra a moeda perdida e o pai do filho pródigo.

Os três - explicou Francisco - se fizessem alguns cálculos, poderiam ficar tranquilos: "ao pastor falta uma ovelha, mas tem outras noventa e nove; à mulher uma moeda, mas tem outras nove; e também o Pai tem outro filho, obediente, a quem se dedicar. Por que pensar no outro que se foi, para viver uma vida desregrada?" Mas em seus corações, "existe uma inquietação por aquilo que falta: a ovelha, a moeda, o filho que foi embora."

“Quem ama se preocupa com aqueles que faltam, sente saudades de quem está ausente, procura quem se perdeu, espera por quem se afastou. Porque quer que ninguém se perca.”

Irmãos e irmãs - disse o Papa - Deus é assim:

Ele não fica "tranquilo" se nos afastamos d'Ele, ele sofre, treme no seu íntimo; e sai a nossa procura, até que nos traga de volta em seus braços. O Senhor não calcula as perdas e os riscos, tem um coração de pai e de mãe, e sofre com a falta dos filhos amados. "Mas por que sofre se este filho é um desgraçado, se foi embora? Sofre, sofre. Deus sofre com a nossa distância e, quando nos perdemos, espera o nosso retorno. Recordemo-nos: Deus sempre nos espera, Deus sempre nos espera de braços abertos, qualquer que seja a situação de vida em que nos perdemos. Como diz um Salmo, ele não adormece, ele sempre vela por nós.

Como costuma fazer em suas reflexões, o Papa faz o convite para olharmos para nós mesmos e nos perguntarmos:

Imitamos o Senhor nisso, ou seja, temos a inquietação pela falta? Temos saudades de quem está ausente, dos que se afastaram da vida cristã? Carregamos essa inquietação interior ou permanecemos calmos e imperturbáveis ​​entre nós? Em outras palavras, quem falta em nossas comunidades, realmente nos faz falta ou fazemos de conta e não toca o coração? Quem falta na minha vida, realmente faz falta? Ou estamos bem entre nós, tranquilos e felizes em nossos grupos -"não, vou a um grupo apostólico, muito bom...-, sem nutrir compaixão por quem está distante? Não se trata somente de estar “aberto aos outros”, é Evangelho! O pastor da parábola não disse: "Já tenho noventa e nove ovelhas, quem me faz ir procurar a perdida, a perder tempo?" Ao invés disso Ele foi.

Neste sentido, a exortação a fazermos uma reflexão sobre nossas relações:

Eu rezo por quem não acredita, por quem está longe, por quem está amargurado? Atraímos os distantes pelo estilo de Deus, este estilo de Deus que é proximidade, compaixão e ternura? O Pai pede que estejamos atentos aos filhos que mais lhe fazem falta. Pensemos em alguém que conhecemos, que está ao nosso lado e que talvez nunca tenham ouvido alguém dizer: “Sabe? Tu és importante para Deus”. "Mas, por favor, eu estou em situação irregular, fiz isto errado, mais isso.". Tu és importante para Deus: dizer isso. Tu não o buscas, mas Ele te busca.

Deixemo-nos inquietar, que sejamos homens e mulheres de coração inquieto, deixemo-nos inquietar por estas interrogações e rezemos a Nossa Senhora, mãe que não se cansa de nos procurar e de cuidar de nós, seus filhos.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

24º Domingo do Tempo Comum – Ano C

Volta do Filho Pródigo | Ujucasp

ANO C
24º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Tema do 24º Domingo do Tempo Comum

A liturgia deste domingo centra a nossa reflexão na lógica do amor de Deus. Sugere que Deus ama o homem, infinita e incondicionalmente; e que nem o pecado nos afasta desse amor…
A primeira leitura apresenta-nos a atitude misericordiosa de Jahwéh face à infidelidade do Povo. Neste episódio – situado no Sinai, no espaço geográfico da aliança – Deus assume uma atitude que se vai repetir vezes sem conta ao longo da história da salvação: deixa que o amor se sobreponha à vontade de punir o pecador.
Na segunda leitura, Paulo recorda algo que nunca deixou de o espantar: o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Esse amor derrama-se incondicionalmente sobre os pecadores, transforma-os e torna-os pessoas novas. Paulo é um exemplo concreto dessa lógica de Deus; por isso, não deixará de testemunhar o amor de Deus e de Lhe agradecer.
O Evangelho apresenta-nos o Deus que ama todos os homens e que, de forma especial, Se preocupa com os pecadores, com os excluídos, com os marginalizados. A parábola do “filho pródigo”, em especial, apresenta Deus como um pai que espera ansiosamente o regresso do filho rebelde, que o abraça quando o avista, que o faz reentrar em sua casa e que faz uma grande festa para celebrar o reencontro.

LEITURA I – Ex 32, 7-11.13-14

MENSAGEM

O tema fundamental que o texto nos propõe gira à volta da resposta de Deus ao pecado do Povo.
A primeira parte (vers. 7-10) descreve o pecado do Povo e uma primeira reação de Deus. Perante a ausência de Moisés no monte sagrado, o Povo constrói um bezerro de oiro. O bezerro de ouro não pretende ser um novo deus, mas uma imagem de Jahwéh (“este é o teu Deus, Israel, que te fez sair da terra do Egito” – vers. 8); de qualquer forma, o Povo “desviou-se do caminho” que Deus lhe havia ordenado, pois infringiu o segundo mandamento do Decálogo (segundo o qual, Israel não devia fazer imagens de Jahwéh: por um lado, o não representar Deus permitia salvaguardar a transcendência de Jahwéh, já que a “imagem” era uma definição de Deus e Deus não pode ser definido pelo homem; por outro lado, a luta contra os deuses e cultos pagãos era impossível se não se proibiam também os seus símbolos e imagens). O pedido de Deus a Moisés (“agora deixa-Me; a minha cólera vai inflamar-se contra eles e destruí-los-ei; mas farei de ti uma grande nação” – vers. 10) pode ser posto em paralelo com a promessa a Abraão de Gn 12,2: Deus fala de tudo recomeçar com Moisés, como fez com Abraão.
Na segunda parte (vers. 11-14), descreve-se a intercessão de Moisés e a misericórdia de Deus. O texto começa com a referência a Moisés que “deitou água na fervura” (literalmente: “acalmou a face de Deus” – vers. 11a). As palavras de intercessão de Moisés (vers. 11b-13) não fazem referência aos méritos do Povo, mas à honra de Deus e à sua fidelidade às promessas assumidas para com o Povo no âmbito da aliança.
A resposta final de Deus (vers. 14) põe em relevo a sua misericórdia. Não são os méritos do Povo que sustêm o castigo; mas é o amor de Deus, a sua lealdade aos compromissos, a sua “justiça” (que é misericórdia, ternura, bondade) que acabam por triunfar. O amor infinito de Deus pelo seu Povo acaba sempre por falar mais alto do que a sua vontade de castigar os desvios e infidelidades.

LEITURA II – 1 Tim 1, 12-17

MENSAGEM

No texto que nos é proposto, Paulo recorda, agradecido, a sua história de vocação. O apóstolo afirma que recebeu de Cristo o seu ministério; e proclama que isso se deve, não aos seus méritos, mas à misericórdia de Deus.
Paulo tem consciência do seu passado de perseguidor violento da Igreja de Cristo. É verdade que Paulo atuou dessa forma por ignorância; no entanto, isso não o exime de culpa… Apesar desse passado duvidoso, Deus, na sua bondade, cumulou-o da sua graça.
Paulo reconhece que Cristo “veio ao mundo para salvar os pecadores”, entre os quais Paulo se inclui. Pelo exemplo de Paulo, fica evidente a misericórdia e a magnanimidade de Deus, que se derrama sobre todos os homens, sejam quais forem as faltas cometidas. A partir deste exemplo, todos os homens são convidados a tomar consciência da bondade de Deus e a responder-lhe da mesma forma que Paulo: com o dom da vida e com o empenho sério no testemunho desse projeto de amor que Deus tem para oferecer. O profundo reconhecimento que Paulo sente diante da misericórdia com que Deus o distinguiu leva-o a um canto de louvor que, neste texto, apresenta contornos litúrgicos (“ao rei dos séculos, Deus imortal, invisível e único, honra e glória pelos séculos dos séculos, amém” – vers. 17).

EVANGELHO – Lc 15, 1-32

MENSAGEM

As três parábolas da misericórdia pretendem, portanto, justificar o comportamento de Jesus para com os publicanos e pecadores. Elas definem a “lógica de Deus” em relação a esta questão.

A primeira parábola (vers. 4-7) é a da ovelha perdida. Trata-se de uma parábola que, lida à luz da razão, é ilógica e incoerente, pois não é normal abandonar noventa e nove ovelhas por causa de uma; também não faz sentido todo o espalhafato criado à volta de um facto banal como é o reencontro com uma ovelha que se extraviou… Nesses exageros e nessas reações desproporcionadas revela-se, contudo, a mensagem essencial da parábola… O “deixar as noventa e nove ovelhas para ir ao encontro da que estava perdida” mostra a preocupação de Deus com cada homem que se afasta da comunidade da salvação; o “pôr a ovelha aos ombros” significa o cuidado e a solicitude de Deus, que trata com cuidado e com amor os filhos que se afastaram e que necessitam de cuidados especiais; a alegria desproporcionada do pastor que encontrou a ovelha mostra a alegria de Deus, sempre que encontra um filho que se afastou da comunhão com Ele.
A segunda parábola (vers. 8-10) reafirma o ensinamento da primeira. O amor misericordioso e constante de Deus busca aquele que se perdeu e alegra-se quando o encontra. A imagem da mulher preocupada, que varre a casa de cima a baixo, ilustra a preocupação de Deus em reencontrar aqueles que se afastaram da comunhão com Ele. Também aqui há, como na parábola anterior, a referência à alegria do reencontro: essa alegria manifesta a felicidade de Deus diante do pecador que volta.
A terceira parábola (vers. 11-32) apresenta o quadro de um pai (Deus), em cujo coração triunfa sempre o amor pelo filho, aconteça o que acontecer. Ele continua a amar o filho rebelde e ingrato, apesar da sua ausência, do seu orgulho e da sua autossuficiência; e esse amor acaba por revelar-se na forma emocionada como recebe o filho, quando ele resolve voltar para a casa paterna. Esta parábola apresenta a lógica de Deus, que respeita absolutamente a liberdade e as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para buscar a felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar, a esperar ansiosamente o regresso do filho, preparado para o acolher com alegria e amor. É essa a lógica que Jesus quer propor aos fariseus e escribas (os “filhos mais velhos”) que, a propósito dos pecadores que tinham abandonado a “casa do Pai”, professavam uma atitude de intolerância e de exclusão.
O que está, portanto, em causa nas três parábolas da misericórdia é a justificação da atitude de Jesus para com os pecadores. Jesus deixa claro que a sua atitude se insere na lógica de Deus em relação aos filhos afastados. Deus não os rejeita, não os marginaliza, mas ama-os com amor de Pai… Preocupa-se com eles, vai ao seu encontro, solidariza-Se com eles, estabelece com eles laços de familiaridade, abraça-os com emoção, cuida deles com solicitude, alegra-Se e faz festa quando eles voltam à casa do Pai. Esta é a forma de Deus atuar em relação aos seus filhos, sem excepção; e é essa atitude de Deus que Jesus revela ao acolher os pecadores e ao sentar-Se com eles à mesa. Por muito que isso custe aos fariseus, essa é a lógica de Deus; e todos os “filhos de Deus” devem acolher esta lógica e atuar da mesma forma.
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
LISBOA – Portugal

Fonte: www.dehonianos.org

sábado, 10 de setembro de 2022

Por que sou católico?

Rede Vida
Por que sou católico?

Veritatis Splendor - 18 de dezembro de 2010 

A dificuldade em explicar por que eu sou católico é que há dez mil razões para isso, todas se resumindo a uma única: o catolicismo é verdadeiro. Eu poderia preencher todo o meu espaço com sentenças separadas, todas começando com as palavras, “É a única coisa que …” Como, por exemplo, (1) É a única coisa que previne um pecado de se tornar um segredo. (2) É a única coisa em que o superior não pode ser superior; no sentido da arrogância e do desdém. (3) É a única coisa que liberta o homem da escravidão degradante de ser sempre criança. (4) É a única coisa que fala como se fosse a verdade; como se fosse um mensageiro real se recusando a alterar a verdadeira mensagem. (5) É o único tipo de cristianismo que realmente contém todo tipo de homem; mesmo o respeitável. (6) É a única grande tentativa de mudar o mundo desde dentro; usando a vontade e não as leis; etc.

Ou posso tratar o assunto de forma pessoal e descrever minha própria conversão; acontece que tenho uma forte impressão de que esse método faz a coisa parecer muito menor do que realmente é. Homens muito melhores, em muito maior número, se converteram a religiões muito piores. Preferiria tentar dizer, aqui, coisas a respeito da Igreja Católica que não se podem dizer mesmo sobre suas mais respeitáveis rivais. Em resumo, diria apenas que a Igreja Católica é católica. Preferiria tentar sugerir que ela não é somente maior que eu, mas maior que qualquer coisa no mundo; que ela é realmente maior que o mundo. Mas, como neste pequeno espaço, disponho apenas de uma pequena seção, abordarei sua função como guardiã da verdade.

Outro dia, um conhecido escritor, muito bem informado em outros assuntos, disse que a Igreja Católica é uma eterna inimiga das novas idéias. Provavelmente não ocorreu a ele que sua própria observação não é exatamente uma nova idéia. É uma daquelas noções que os católicos têm de refutar continuamente, porque é uma idéia muito antiga. Na realidade, aqueles que reclamam que o catolicismo não diz nada novo, raramente pensam que seja necessário dizer alguma coisa nova sobre o catolicismo. De fato, o estudo real da História mostrará que isso é curiosamente contrário aos fatos. Na medida em que as idéias são realmente idéias, e na medida em que tais idéias são novas, os católicos têm sofrido continuamente por apoiarem-nas quando elas são realmente novas; quando elas eram muito novas para encontrar alguém que as apoiasse. O católico foi não só o pioneiro na área, mas o único; e até hoje não houve ninguém que compreendesse o que se tinha descoberto lá.

Assim, por exemplo, quase duzentos anos antes da Declaração de Independência e da Revolução Francesa, numa era devotada ao orgulho e ao louvor aos príncipes, o Cardeal Bellarmine e Suarez, o Espanhol, formularam lucidamente toda a teoria da democracia real. Mas naquela era do Direito Divino, eles somente produziram a impressão de serem jesuítas sofisticados e sanguinários, se insinuando com adagas para assassinarem os reis. Então, novamente, os casuístas das escolas católicas disseram tudo o que pode ser dito e que constam de nossas peças e romances atuais, duzentos anos antes de eles serem escritos. Eles disseram que há sim problemas de conduta moral, mas eles tiveram a infelicidade de dizê-lo muito cedo, cedo de dois séculos. Num tempo de extraordinário fanatismo e de uma vituperação livre e fácil, eles foram simplesmente chamados de mentirosos e trapaceiros por terem sido psicólogos antes da psicologia se tornar moda. Seria fácil dar inúmeros outros exemplos, e citar o caso de idéias que são ainda muito novas para serem compreendidas. Há passagens da Encíclica do Papa Leão sobre o trabalho [conhecida como Rerum Novarum, publicada em 1891] que somente agora estão começando a ser usadas como sugestões para movimentos sociais muito mais novos do que o socialismo. E quando o Sr. Belloc escreveu a respeito do Estado Servil, ele estava apresentando uma teoria econômica tão original que quase ninguém ainda percebeu do que se trata. E então, quando os católicos apresentam objeções, seu protesto será facilmente explicado pelo conhecido fato de que católicos nunca se preocupam com idéias novas.

Contudo, o homem que fez essa observação sobre os católicos quis dizer algo; e é justo fazê-lo compreender muito mais claramente o que ele próprio disse. O que ele quis dizer é que, no mundo moderno, a Igreja Católica é, de fato, uma inimiga de muitas modas influentes; muitas delas ainda se dizem novas, apesar de algumas delas começarem a se tornar um pouco decadentes. Em outras palavras, na medida em que diz que a Igreja freqüentemente ataca o que o mundo, em cada era, apóia, ele está perfeitamente certo. A Igreja sempre se coloca contra a moda passageira do mundo; e ela tem experiência suficiente para saber quão rapidamente as modas passam. Mas para entender exatamente o que está envolvido, é necessário tomarmos um ponto de vista mais amplo e considerar a natureza última das idéias em questão, considerar, por assim dizer, a idéia da idéia.

Nove dentre dez do que chamamos novas idéias são simplesmente erros antigos. A Igreja Católica tem como uma de suas principais funções prevenir que os indivíduos comentam esses velhos erros; de cometê-los repetidamente, como eles fariam se deixados livres. A verdade sobre a atitude católica frente à heresia, ou como alguns diriam, frente à liberdade, pode ser mais bem expressa utilizando-se a metáfora de um mapa. A Igreja Católica possui uma espécie de mapa da mente que parece um labirinto, mas que é, de fato, um guia para o labirinto. Ele foi compilado a partir de um conhecimento que, mesmo se considerado humano, não tem nenhum paralelo humano.

Não há nenhum outro caso de uma instituição inteligente e contínua que tenha pensado sobre o pensamento por dois mil anos. Sua experiência cobre naturalmente quase todas as experiências; e especialmente quase todos os erros. O resultado é um mapa no qual todas as ruas sem saída e as estradas ruins estão claramente marcadas, todos os caminhos que se mostraram sem valor pela melhor de todas as evidências: a evidência daqueles que os percorreram.

Nesse mapa da mente, os erros são marcados como exceções. A maior parte dele consiste de playgrounds e alegres campos de caça, onde a mente pode ter tanta liberdade quanto queira; sem se esquecer de inúmeros campos de batalha intelectual em que a batalha está eternamente aberta e indefinida. Mas o mapa definitivamente se responsabiliza por fazer certas estradas se dirigirem ao nada ou à destruição, a um muro ou ao precipício. Assim, ele evita que os homens percam repetidamente seu tempo ou suas vidas em caminhos sabidamente fúteis ou desastrosos, e que podem atrair viajantes novamente no futuro. A Igreja se faz responsável por alertar seu povo contra eles; e disso a questão real depende. Ela dogmaticamente defende a humanidade de seus piores inimigos, daqueles grisalhos, horríveis e devoradores monstros dos velhos erros. Agora, todas essas falsas questões têm uma maneira de parecer novas em folha, especialmente para uma geração nova em folha. Suas primeiras afirmações soam inofensivas e plausíveis. Darei apenas dois exemplos. Soa inofensivo dizer, como muitos dos modernos dizem: As ações só são erradas se são más para a sociedade. Siga essa sugestão e, cedo ou tarde, você terá a desumanidade de uma colméia ou de uma cidade pagã, o estabelecimento da escravidão como o meio mais barato ou mais direto de produção, a tortura dos escravos pois, afinal, o indivíduo não é nada para o Estado, a declaração de que um homem inocente deve morrer pelo povo, como fizeram os assassinos de Cristo. Então, talvez, voltaremos às definições da Igreja Católica e descobriremos que a Igreja, ao mesmo tempo que diz que é nossa tarefa trabalhar para a sociedade, também diz outras coisas que proíbem a injustiça individual. Ou novamente, soa muito piedoso dizer, Nosso conflito moral deve terminar com a vitória do espiritual sobre o material. Siga essa sugestão e você terminará com a loucura dos maniqueus, dizendo que um suicídio é bom porque é um sacrifício, que a perversão sexual é boa porque não produz vida, que o demônio fez o sol e a lua porque eles são materiais. Então, você pode começar a adivinhar a razão de o cristianismo insistir que há espíritos maus e bons; e que a matéria também pode ser sagrada, como na Encarnação ou na Missa, no sacramento do casamento e na ressurreição da carne.

Não há nenhuma outra mente institucional no mundo que está pronta a evitar que as mentes errem. O policial chega tarde, quando ele tentar evitar que os homens cometam erros. O médico chega tarde, pois ele apenas chega para examinar o louco, não para aconselhar o homem são a como não enlouquecer. E todas as outras seitas e escolas são inadequadas a esse propósito. E isso não é porque elas possam não conter uma verdade, mas precisamente porque cada uma delas contém uma verdade; e estão contentes por conter uma verdade. Nenhuma delas pretende conter a verdade. A Igreja não está simplesmente armada contra as heresias do passado ou mesmo do presente, mas igualmente contra aquelas do futuro, que podem estar em exata oposição com as do presente. O catolicismo não é ritualismo; ele poderá estar lutando, no futuro, contra algum tipo de exagero ritualístico supersticioso e idólatra. O catolicismo não é ascetismo; ele, repetidamente no passado, reprimiu os exageros fanáticos e cruéis do ascetismo. O catolicismo não é mero misticismo; ele está agora mesmo defendendo a razão humana contra o mero misticismo dos pragmatistas. Assim, quando o mundo era puritano, no século XVII, a Igreja era acusada de exagerar a caridade a ponto da sofisticação, por fazer tudo fácil pela negligência confessional. Agora que o mundo não é puritano mas pagão, é a Igreja que está protestando contra a negligência da vestimenta e das maneiras pagãs. Ela está fazendo o que os puritanos desejariam fazer, quando isso fosse realmente desejável. Com toda a probabilidade, o melhor do protestantismo somente sobreviverá no catolicismo; e, nesse sentido, todos os católicos serão ainda puritanos quando todos os puritanos forem pagãos.

Assim, por exemplo, o catolicismo, num sentido pouco compreendido, fica fora de uma briga como aquela do darwinismo em Dayton. Ele fica fora porque permanece, em tudo, em torno dela, como uma casa que abarca duas peças de mobília que não combinam. Não é nada sectário dizer que ele está antes, depois e além de todas as coisas, em todas as direções. Ele é imparcial na briga entre fundamentalistas e a teoria da Origem das Espécies, porque ele se funda numa origem anterior àquela Origem; porque ele é mais fundamental que o Fundamentalismo. Ele sabe de onde veio a Bíblia. Ele também sabe aonde vão as teorias da Evolução. Ele sabe que houve muitos outros evangelhos além dos Quatro Evangelhos e que eles foram eliminados somente pela autoridade da Igreja Católica. Ele sabe que há muitas outras teorias da evolução além da de Darwin; e que a última será muito provavelmente eliminada pela ciência mais recente. Ele não aceita, convencionalmente, as conclusões da ciência, pela simples razão de que a ciência ainda não chegou a uma conclusão. Concluir é se calar; e o homem de ciência dificilmente se calará. Ele não acredita, convencionalmente, no que a Bíblia diz, pela simples razão de que a Bíblia não diz nada. Você não pode colocar um livro no banco das testemunhas e perguntar o que ele quer dizer. A própria controvérsia fundamentalista se destrói a si mesma. A Bíblia por si mesma não pode ser a base do acordo quando ela é a causa do desacordo; não pode ser a base comum dos cristãos quando alguns a tomam alegoricamente e outros literalmente. O católico se refere a algo que pode dizer alguma coisa, para a mente viva, consistente e contínua da qual tenho falado; a mais alta consciência do homem guiado por Deus.

Cresce a cada momento, para nós, a necessidade moral por tal mente imortal. Devemos ter alguma coisa que suportará os quatro cantos do mundo, enquanto fazemos nossos experimentos sociais ou construímos nossas Utopias. Por exemplo, devemos ter um acordo final, pelo menos em nome do truísmo da irmandade dos homens, que resista a alguma reação da brutalidade humana. Nada é mais provável, no momento presente, que a corrupção do governo representativo solte os ricos de todas as amarras e que eles pisoteiem todas as tradições com o mero orgulho pagão. Devemos ter todos os truísmos, em todos os lugares, reconhecidos como verdadeiros. Devemos evitar a mera reação e a temerosa repetição de velhos erros. Devemos fazer o mundo intelectual seguro para a democracia. Mas na condição da moderna anarquia mental, nem um nem outro ideal está seguro. Tal como os protestantes recorreram à Bíblia contra os padres e não perceberam que a Bíblia também podia ser questionada, assim também os republicanos recorreram ao povo contra os reis e não perceberam que o povo também podia ser desafiado. Não há fim para a dissolução das idéias, para a destruição de todos os testes da verdade, situação tornada possível desde que os homens abandonaram a tentativa de manter uma Verdade central e civilizada, de conter todas as verdades e identificar e refutar todos os erros. Desde então, cada grupo tem tomado uma verdade por vez e gastado tempo em torná-la uma mentira. Não temos tido nada, exceto movimentos; ou em outras palavras, monomanias. Mas a Igreja não é um movimento e sim um lugar de encontro, um lugar de encontro para todas as verdades do mundo.

Fonte:

CHESTERTON, G.K. Por que sou católico. Chesterton Brasil. [Traduzido por Antonio Emilia Angueth de Araujo]. Disponivel em: http://www.chestertonbrasil.org/ Acesso em: 17 dezembro 2010.

https://www.veritatis.com.br/

A Igreja que nasceu antes da Bíblia

A Bíblia Sagrada | Editora Cléofas
Por Prof. Felipe Aquino

Durante 1500 anos a Igreja Católica conservou as Sagradas Escrituras e a transmitiu a seu povo através das Missas.

“Recebereis uma força, a força do Espírito Santo que virá sobre vós; e sereis então minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria, até as extremidades da terra” (At 1,8).

Diante desta passagem podemos nos perguntar: “– Jesus deixou algo escrito?” Ele disse: “sobre a Bíblia edificareis a minha Igreja?” Não! Cristo fundou a Igreja sobre a vida e o testemunho dos apóstolos. Por esse motivo, não podemos afirmar que somos uma “religião do livro” – apesar de alguns estudiosos das religiões nos considerarem assim. Somos uma “religião do testemunho”.

Os livros contidos na Bíblia servem para nos relatar fatos e verdades de fé. “Diante daquilo que acabei de ler, como deve ser a minha atitude para com Deus e os meus irmãos?”. É para que façamos este tipo de confronto conosco mesmo que as Sagradas Escrituras existem. Servem para mudar a nossa vida (ação transformadora). Mas nem sempre estes textos sagrados existiram. Vejamos como se formou este conjunto de textos sagrados, para que compreendamos a essência da Palavra de Deus.

Comecemos pelo período em que alguns livros foram escritos. É importante saber que o escrito mais antigo do Novo Testamento é 1Tessalonicenses – redigido por volta do ano 51 d.C., quando Paulo se encontrava na Acaia (cf. At 18,12). É importante começarmos por este exemplo apenas para demonstrar que a Bíblia não segue uma ordem cronológica; o primeiro livro do Novo Testamento não foi o Evangelho de Mateus. Além disso, Paulo morreu e provavelmente não viu sequer um Evangelho escrito. Os fatos sobre a vida de Jesus que este incansável apóstolo tanto pregava foram-lhe relatados de maneira oral.

A Igreja, portanto, não nasceu da Bíblia, mas o contrário. Ela não precisou esperar vinte anos após a morte de Jesus para que começasse a nascer (com a carta de São Paulo citada acima). Ela já estava aí. E, além disso, havia entre os cristãos um código de conduta, uma certa tradição, que consistia em dizer com fidelidade quem era Jesus Cristo.

O último livro do Novo Testamento a ser escrito foi o Apocalipse, escrito por São João por volta do ano 100 d.C., quando este se encontrava exilado na ilha de Patmos. Nesta altura da História ainda não havia Bíblia, apesar de todos os seus livros já estarem escritos. Isto porque, quando São Paulo, São João, São Judas Tadeu escreveram suas cartas eles não sabiam que estavam escrevendo partes do Novo Testamento. Os cristãos ainda precisavam escolher quais seriam os escritos que iriam compor as Escrituras Sagradas.

A decisão do Cânone Bíblico, isto é, dos livros que iriam compor as Sagradas Escrituras demorou cerca de 200 anos. Um tempo relativamente longo. Mas a Igreja não resolveu cruzar os braços e esperar esse tempo todo para então afirmar: “Pronto! Agora somos Igreja”. Ela já era antes das Escrituras existirem.

Por volta dos anos 70 d.C. surgem os evangelhos sinóticos e, aos 100 d.C., o evangelho de São João. Não somos nem capazes, muitas vezes, de lembrarmos o que comemos ontem no almoço, como é então que 70, 100 anos depois as pessoas ainda lembravam de detalhes da fala e da vida de Jesus Cristo? Somente por obra do Espírito Santo. O que nos faz crer que a Bíblia foi inspirada por Deus.

Além de toda essa dificuldade ainda havia hereges que queriam reduzir o Novo Testamento a pouquíssimos livros, já outros queriam fazer um apanhado com mais de 40 livros – como era o caso dos gnósticos. Coube, então, aos bispos da Santa Igreja o papel de discernir quais escritos falavam de Cristo com autenticidade e quais eram apócrifos. Portanto, o Espírito deveria inspirar quem escrevia e quem lia. Cada novo escrito que chegava ao conhecimento dos bispos era como uma maçaneta nova, caso o prelado tivesse a chave, a autenticidade da porta seria provada.

Passaram-se muitos anos e já havia Bíblia em muitos lugares. Era por volta do ano de 1500. Neste período nasceu a Reforma Protestante. Para Martinho Lutero, foi fácil afirmar que sola scriptura (somente a Escritura) é fundamento para a verdade de fé, quando vivia na época da imprensa e podia fazer tiragem de cópias e distribuir Bíblia a quem quisesse.

Durante 1500 anos a Igreja Católica conservou as Sagradas Escrituras e a transmitiu a seu povo através das Missas, isto porque nem todos tinham condições de ter a Bíblia em casa. Esta era escrita em pergaminho (feito com pele de carneiro), com uma tinta especial e através de um monge que escrevia à mão a Bíblia inteirinha. Agora, imagine o preço de um produto como esse! Era caríssimo! Por isso, só era reservada a mosteiros, catedrais e bibliotecas ricas.

Mas a Santa Igreja, em sua grande sabedoria, jamais deixou de transmitir Jesus Cristo, a Palavra de Deus, o Verbo Encarnado às pessoas. Mesmo quando a Bíblia ainda nem estava escrita. Sempre foi possível falar de Jesus. Daquele homem que tocou a vida de muitas pessoas ao longo de dois mil anos.

A Palavra de Deus não é a Bíblia, é Jesus, vivo e ressuscitado. Não é um livro onde aprendemos uma doutrina. Nem mesmo um livrinho de histórias. Quando lemos sobre Jesus na Celebração Eucarística trazemos Cristo à assembleia e não apenas um saber milenar. Da mesma maneira que ele vem em forma de pão a nós, também vem em forma de palavra.

Fr. Thiago Pereira, SCJ

Fonte: https://cleofas.com.br/

Os “falsos perdões” que impedem a reconciliação do casal

Olena Yakobchuk - Shutterstock
Por Marzena Devoud

Na vida conjugal o amor sem conflito é uma doce ilusão. A regra de ouro é buscar o perdão, a fim de que as frustrações não se transformem em bombas-relógio...

A vida de um casal, por trás de um belo sorriso, às vezes esconde fragilidades que esmaltam o cotidiano de um e de outro. São desentendimentos, discussões e aborrecimentos que irrompem, arrastando os cônjuges para um certo isolamento. 

Todos os casais, mais cedo ou mais tarde serão confrontados com a questão do perdão, seja por uma pequena indelicadeza ou uma ferida muito mais profunda. E nunca é tarde demais para perdoar. “Mesmo que o desejo de perdoar às vezes se depare com emoções como raiva, desejo de vingança ou exasperação. Mesmo que o caminho possa ser mais ou menos longo e árduo, dependendo das feridas e dos recursos internos de cada um, o perdão é acessível a todos. Todos têm a oportunidade de trilhar o caminho do perdão”, explica Mathilde de Robien, autora de Se pardonner, chemins de réconciliation pour les couples (“Perdoar: caminho de reconciliação para casais”) e jornalista da Aleteia.

“Falsos perdões”

Se há perdões pequenos e grandes, ordinários e extraordinários, há também os “falsos perdões”. Ao querer perdoar rápido demais ou pela metade, perdemos o perdão real. Não recebemos seu poder libertador, aquele que nos permite recriar o relacionamento, reconstruir o vínculo rompido, restaurar a confiança. “O conflito permanece aberto, não resolvido e é material para uma nova disputa. Velhos desentendimentos, rancores e decepções podem ressurgir mais tarde e distorcer o relacionamento do casal, enquanto o problema pode ser resolvido no presente”, continua Mathilde de Robien. 

Mas, concretamente, como são esses “falsos perdões”? Abaixo, a autora os explica.

1PERDÃO “TROMPE L’OEIL”

O perdão trompe-l’oeil sistematicamente minimiza ou nega o erro ou a injúria. Acontece com todos. É o famoso “OK, tá perdoado, vamos mudar de assunto”. Mas, na verdade, a pessoa não quer reconhecer a mágoa, e permanecer em negação não permite o perdão pleno e sincero. A absolvição, portanto, não é possível para aquele que pede perdão.

2PERDÃO MAGNÂNIMO

Aqui está um “falso perdão” que desculpa tudo, não importa o “valor” do mal praticado ou da injúria. “Sim, ele me traiu com uma amiga, mas errar é humano. Além disso, foi em um contexto particular. Qualquer um poderia ter caído nessa”. Esse excesso de benevolência não corresponde à gravidade da situação e não permite que a verdade seja dita.

3PERDÃO DEVEDOR

Outro falso perdão é o perdão “devedor”, que não apaga completamente a ofensa. Esse tipo de perdão deixa o outro em dívida com o ofendido. “Eu te perdoo, mas terei dificuldade em esquecer o que aconteceu”. Esse perdão pela metade, um dia, voltará à mesa.

4PERDÃO HEROICO

Esse falso perdão é egocêntrico: não precisa do pedido de perdão do ofensor para perdoar. Ele está acima de tudo, inclusive do ofensor. É o conhecido “passei a esponja”, que significa: “Não preciso de você, nem do seu remorso, o herói sou eu.”

5PERDÃO ARROGANTE

Finalmente, há o perdão “arrogante”. É o: “Eu sou muito melhor que você, eu te perdoo”. Muitas vezes, a pessoa se sente humilhada e se defende da vergonha de ter sido traída ao infligir isso ao outro.

Perdão, caminho para uma nova luz

Ao contrário do que acontece com os “falsos perdões”, perdoar é definitivamente “rasgar a página em que se registrou com má-fé ou raiva a conta devedora do próximo”, disse o padre Henri Caffarel. É mudar o olhar para adotar um olhar de amor. 

Para São Paulo, o perdão é parte integrante do amor cristão. É essencial em qualquer relacionamento normal entre duas pessoas que se amam.

“É maravilhoso poder dizer a nós mesmos que, falhos, finitos e imperfeitos, somos criados à imagem de Deus e, portanto, capazes de perdoar. Temos essa capacidade, como seres humanos, de empreender um caminho de reconciliação para renovar nosso amor pelo outro”, conclui Mathilde de Robien.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Os ’10 mandamentos’ do miserável

Nsa. Senhora de Las Lajas | Guadium Press
Já sabemos que o pior pecado é o do orgulho, do qual vêm os outros. Contra o orgulho, nada melhor do que se sentir miserável.

Redação (08/09/2022 19:03Gaudium Press) O pior pecado é o orgulho, do qual vêm os outros. Esse foi o pecado de satanás, atrás do qual caiu a terceira parte das legiões angelicais. Foi o pecado dos nossos primeiros pais, que queriam “ser como os deuses”, acreditando na falsa promessa da serpente.

Para combater o orgulho, uma das maiores vacinas é sentir-se miserável, ou seja, fraco e necessitado de toda a ajuda de Deus. Vejamos alguns dos que poderiam ser os ‘mandamentos’ do miserável:

O miserável amará o Senhor seu Deus de todo o coração, porque sabe que tudo o que tem vem d’Ele. Ele sabe que o bem que existe em si é devido à bondade divina, e que o mal, esse sim lhe pertence. E procura permanecer nesse amor, nessa restituição e nessa gratidão, em todos os momentos.

2. O miserável terá Maria como canal necessário, como medianeira, intercessora, como sua Mãe. O miserável sabe que é muito pequeno para pedir uma audiência direta com Deus, e prefere que a Soberana Rainha Mãe, que também é sua Mãe, seja quem interceda junto ao Redentor para obter os muitos favores de que necessita para esta vida e alcançar a eternidade feliz.

O miserável, embora conheça experimentalmente sua miséria, saberá que sua natureza decaída é orgulhosa, e por isso pede à Mãe de Misericórdia uma consciência constante e renovada de sua miséria, para que não se torne orgulhoso.

O miserável não se chocará com o título de ‘escravo’, que São Luís Maria de Montfort dá aos perfeitos devotos de Nossa Senhora. Ele sabe que nesta entrega total de amor do escravo à sua Senhora, ele é o mais beneficiado, pois com total flexibilidade secundará os desejos d’Ela e assim Ela viverá nele.

O miserável não se surpreenderá nem mesmo com seu pecado, porque embora tenha o horror ao pecado do verdadeiro filho de Deus, sabe que de sua natureza debilitada e corrompida o que resulta é iniquidade e, portanto, em quedas, longe de ficar angustiado ou desanimado, ele procurará rapidamente recompor sua união com Deus, buscando o auxílio da graça.

O miserável ​​não buscará a fortaleza humana, nem acreditará que a prática da virtude reconstituirá sua força natural, mas sempre se sentirá fraco, necessitado do auxílio divino, e da consciência de sua real fraqueza clamará a Deus, para ajudá-lo em todas as suas lutas e levá-lo ao céu.

O miserável não será uma ilha no meio do grande oceano, e embora saiba a necessidade de retiro e recolhimento dos sentidos para entrar em contato com Deus, também sabe que precisa de seus irmãos, porque Deus normalmente quer a salvação no meio da comunidade, onde ele deverá realizar apostolado, e de onde também chegarão a ele luzes e notas da voz de Deus.

O miserável procurará ser exímio na virtude da Confiança, porque está bem ciente de que quem confia obtém de Deus e de sua Mãe a virtude e a proteção, e sabe que os únicos que não confiam são aqueles que acreditam que são ‘colossos’, os ‘fortes’, aqueles que no final não atingem a meta. A pessoa miserável confia em meio à tragédia, às contrariedades, até mesmo nas quedas, confia no Amor de Nossa Senhora e se deixa amar por Ela. O miserável sabe “que Deus dispõe todas as coisas para o bem daqueles que o amam” (Rm 8,28).

O miserável viverá a “infância espiritual” dia após dia, ou seja, sente-se fraco diante das grandes provações, também das pequenas, mas sabe que, implorando e confiando na graça de Deus, poderá superar os obstáculos, grandes ou pequenos, que Deus quer permitir em sua vida diária neste mundo. Ele sabe que deve pedir o “pão nosso de cada dia”, tanto material como espiritual, e que com este pão, com este leite materno, oferecido por Deus aos filhos espirituais, poderá enfrentar as lutas permitidas por Deus. O miserável está atento à voz de Deus em seu dia a dia, e procurará seguir essa voz e não suas próprias opiniões.

O miserável apreciará a oração e procurará ser um homem de oração. Ele sabe que Deus não lhe deve nada, mas a Ele deve tudo. E que também pode obter de Deus tudo o que realmente necessita se dirigir a Ele e a sua Mãe pela oração. O miserável oferece suas orações por meio de Maria, porque sabe que sua oração vale pouco diante do Onipotente, mas também sabe que Deus não despreza as súplicas intercedidas por sua Mãe.

Por Saul Castiblanco

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF