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terça-feira, 13 de setembro de 2022

Empresários vão para o céu? Papa cita 3 condições

Black Salmon - Shutterstock
Por Francisco Vêneto

Francisco também distinguiu entre dois tipos de empresários: os mercenários e os que seguem o exemplo do Bom Pastor.

O Papa Francisco citou 3 condições para que os empresários cheguem ao céu. Ele as apresentou nesta segunda-feira, 12, durante uma audiência com membros da Confederação Geral da Indústria Italiana, conhecida como Confindustria.

Francisco descreveu os empresários como “componentes essenciais na construção do bem comum, motor primário do desenvolvimento e da prosperidade”.

O Papa ainda distinguiu entre dois tipos de empresários: os que são mercenários e os que seguem o exemplo do Bom Pastor. Estes últimos “sofrem o mesmo sofrimento que seus trabalhadores” e “não fogem diante dos muitos lobos que os espreitam”.

Deixando claro que é perfeitamente possível “ser empresário e seguidor de Cristo”, Francisco propôs esta reflexão:

“Quais são as condições para que um empresário possa entrar no Reino dos Céus?”

E ele próprio mencionou três delas:

1 | Partilhar

“A primeira é partilhar. A riqueza, por um lado, ajuda muito na vida; mas também é verdade que muitas vezes a complica: não só porque pode se tornar um ídolo e um patrão implacável que consome toda a sua vida dia após dia”.

Francisco destacou dois exemplos de como a partilha pode se concretizar:

  • mediante a geração de empregos, principalmente para os jovens;
  • mediante o correto pagamento dos impostos justos, que, a seu ver, “não devem ser vistos como usurpação”, mas sim como “coração do pacto social”.

2 | Incluir

O Papa afirmou:

“Temos que destacar o papel positivo que as empresas desempenham na realidade da migração, favorecendo a integração construtiva e valorizando as capacidades indispensáveis para a sobrevivência da empresa no contexto atual. Ao mesmo tempo, é preciso reiterar fortemente o ‘não’ a ​​qualquer forma de exploração das pessoas e negligência com a sua segurança”.

3 | Trabalhar

Francisco observou:

“Uma das graves crises do nosso tempo é a perda de contato dos empresários com o trabalho: à medida que crescem, a vida se desenvolve em escritórios, reuniões, viagens, convenções, e eles não frequentam mais os locais de operações e as fábricas. Eles esquecem o ‘cheiro’ do trabalho. Todo trabalhador depende de seus empresários e diretoria, e também é verdade que o empresário depende de seus trabalhadores, da sua criatividade, do seu coração e da sua alma: depende do seu ‘capital’ espiritual”.

Conclusão

O Papa finalizou constatando:

“Os grandes desafios da nossa sociedade não serão superados sem bons empresários. Sem novos empreendedores, a terra não resistirá ao impacto do capitalismo [selvagem] e deixaremos as gerações futuras com um planeta muito ferido, talvez inabitável. O que fizemos até agora não é suficiente: ajudemos juntos a fazer mais”.

Fonte:  https://pt.aleteia.org/

São João Crisóstomo

S. João Crisostomo | arquisp
13 de setembro

São João Crisóstomo

João Crisóstomo foi um grande orador do seu tempo. Todos os escritos dizem que multidões se juntavam ao redor do púlpito onde estivesse discursando. Tinha o dom da oratória e muita cultura, uma soma muito valiosa para a pregação do cristianismo.

João nasceu no ano 309, em Antioquia, na Síria, Ásia Menor, procedente de família muito rica considerada pela sociedade e pelo Estado. Seu pai era comandante de tropas imperiais no Oriente, um cargo que cedo causou sua morte. Mas a sua mãe, Antusa, piedosa e caridosa, agora santa, providenciou para o filho ser educado pelos maiores mestres do seu tempo, tanto científicos quanto religiosos, não prejudicando sua formação.

O menino, desde pequeno, já demonstrava a vocação religiosa, grande inteligência e dons especias. Só não se tornou eremita no deserto por insistência da mãe. Mas, depois que ela morreu, já conhecido pela sabedoria, prudência e pela oratória eloqüente, foi viver na companhia de um monge no deserto durante quatro anos. Passou mais dois retirado numa gruta sozinho, estudando as Sagradas Escrituras e, então, considerou-se pronto. Voltou para Antioquia e ordenou-se sacerdote.

Sua cidade vivia a efervescência de uma revolta contra o imperador Teodósio I. O povo quebrava estátuas do imperador e de membros de sua família. Teodósio, em troca, agia ferozmente contra tudo e contra todos. Membros do senado estavam presos, famílias inteiras tinham fugido e o povo só encontrava consolo nos discursos e pregações de João, chamado por eles de Crisóstomo, isto é,: "boca de ouro". Tanto que foi o incumbido de dar à população a notícia do perdão imperial.

Alguns anos se passaram, a fama do santo só crescia e, quando morreu o bispo de Constantinopla, João foi eleito para sucedê-lo. Constantinopla era a grande capital do Império Romano, que havia transferido o centro da economia e cultura do mundo de então para a Ásia Menor. Entretanto para João era apenas um local onde o clero estava mais preocupado com os poderes e luxos terrenos do que os espirituais. Lá reinavam a ambição, a avareza, a política e a corrupção moral. Como bispo, abandonou, então, os discursos e dispôs-se a enfrentar a luta e, como conseqüência, a perseguição.

Arrumou inimigos tanto entre o clero quanto na Corte. Todos, liderados pela imperatriz Eudóxia, conseguiram tirar João Crisóstomo do cargo, que foi condenado ao exílio. Mas essa expulsão da cidade provocou revolta tão intensa na população que o bispo foi trazido de volta para reassumir seu cargo. Entretanto, dois meses depois, foi exilado pela segunda vez. Agora, já com a saúde muito debilitada, ele não resistiu e morreu. Era 14 de setembro de 407.

Sua honra só foi limpa quando morreu a família imperial e voltou a paz entre o clero na Igreja. O papa ordenou o restabelecimento de sua memória. O corpo de João Crisóstomo foi trazido de volta a Constantinopla em 438, num longo cortejo em procissão solene. Mais tarde, suas relíquias foram trasladadas para Roma, onde repousam no Vaticano. Dos seus numerosos escritos destacasse o pequeno livro "Sobre o sacerdócio", um clássico da espiritualidade monástica. São João Crisóstomo é venerado um dia antes da data de sua morte, em 13 de setembro, com o título de doutor da Igreja, sendo considerado um modelo para os oradores clérigos.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

Mas o que é que o Papa Francisco vai fazer no Cazaquistão?

Photo by ARIS MESSINIS / AFP
Por Camille Dalmas

O Papa Francisco está de visita ao Cazaquistão de 13 a 15 de Setembro, a sua 38ª viagem fora da Itália. Embora o Papa a tenha apresentado como uma "viagem tranquila", os riscos envolvidos nesta viagem são significativos. Aqui estão algumas explicações.

Ao deslocar-se ao Cazaquistão de 13 a 15 de Setembro, o Papa Francisco é o segundo pontífice a visitar esta vasta república da Ásia Central depois de João Paulo II em 2001. Guerra na Ucrânia, diálogo com os ortodoxos e relações com a China: embora o Papa tenha apresentado esta viagem como uma “viagem tranquila”, as questões envolvidas são significativas.

1DIÁLOGO ENTRE AS RELIGIÕES TRADICIONAIS

O coração da visita do Papa Francisco a Nur-Sultan, a cidade onde ele ficará durante toda a sua estadia no Cazaquistão, é a sua participação num grande encontro inter-religioso organizado pelo governo. Inspirado nas reuniões de Assis e apoiado pela Santa Sé desde o seu lançamento em 2003, o Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais é fruto do desejo do ex-Presidente Nur-Sultan Nazarbayev de promover um diálogo entre os líderes religiosos para os exortar a trabalhar em conjunto pela paz e tolerância. O Papa, um convidado especial no encontro, deverá proferir dois discursos e encontrar-se com outros líderes.

O tema escolhido pela organização do Congresso – construir um mundo pós-pandémico – ecoa diretamente uma reflexão desenvolvida pelo Papa na encíclica Fratelli tutti em 2020 – e em muitos textos subsequentes. Na sua encíclica, o pontífice explicou que a crise era um indicador da necessidade de construir uma sociedade mais fraterna para a humanidade. Para alcançar esta fraternidade universal, apostou na coexistência de religiões orientadas para a paz e o desenvolvimento comum.

O Papa Francisco voltará também a encontrar-se em Nur-Sultan com uma pessoa que inspirou a sua encíclica, o grande imã de Al Azhar Ahmed al-Tayyeb. Com este último, assinou o Documento sobre a Fraternidade em 2019 em Abu Dhabi, um texto que encoraja a cooperação harmoniosa das religiões em prol da paz. Como o evento é organizado por um país secular mas predominantemente muçulmano (70%), acolhe importantes representantes muçulmanos de todo o mundo, com os quais o Papa também poderá encontrar-se no dia 14 de Setembro.

2A SOMBRA DA GUERRA NA UCRÂNIA

A cimeira será marcada pela notória ausência do Patriarca de Moscou, Kirill, que tinha sido anunciado como participante mas que finalmente abandonou a viagem. O projeto de um encontro entre o Papa Francisco e o chefe da Igreja Ortodoxa Russa, o segundo desde o encontro histórico em Havana, Cuba em 2016, falhou mais uma vez, após um projeto abortado em Jerusalém em Junho passado.

O encontro com Kirill continua a ser um “desejo” do Papa, assegura o chefe do Gabinete de Imprensa da Santa Sé Matteo Bruni. O Papa Francisco participará na reunião juntamente com uma delegação da Igreja Ortodoxa Russa. Poderiam esperar-se intercâmbios entre membros das delegações católica e moscovita, disse uma fonte do Vaticano.

Mesmo que o avião de Francisco evite voluntariamente sobrevoar a Ucrânia e a Rússia – acrescentando assim uma hora extra ao programa – a questão da promoção da paz na Ucrânia deveria ser um tema importante para o pontífice. As suas palavras serão de qualquer modo particularmente ouvidas neste país que, para além de uma grande população de língua russa e ortodoxa russa, é o lar de uma minoria ucraniana e nomeadamente de uma pequena comunidade greco-católica.

3PRESENÇA NO LOCAL DO PRESIDENTE CHINÊS

Le président chinois Xi Jinping lors de son arrivée à Hong Kong, 30 juin 2022.
Selim CHTAYTI / POOL / AFP

A 14 de Setembro, enquanto o Papa Francisco participará na reunião inter-religiosa, o Presidente Xi Jinping fará a sua primeira viagem ao estrangeiro desde o final de 2019 para Nur-Sultan. A proximidade geográfica dos dois homens, que nunca se encontraram – como nenhum papa e líder chinês antes deles – é uma coincidência preocupante que vários meios de comunicação social não deixaram de destacar.

A Santa Sé, quando questionada sobre a oportunidade de uma reunião, manteve o anunciado programa do pontífice, que não inclui um intercâmbio com o Chefe de Estado chinês. Pequim não comunicou sobre a presença dos dois homens no mesmo dia em Nur-Sultan.

A falta de uma reunião, porém, diz muito sobre o estado das relações entre a China e a Santa Sé. Pequim não parece mais interessado numa reunião do que em Março de 2019, quando Xi Jinping visitou o Presidente italiano Sergio Mattarella em Roma, mas ignorou os apelos do Secretário de Estado Pietro Parolin, que manteve a “porta aberta” ao líder chinês. Contudo, a questão da renovação do acordo pastoral celebrado entre a China e a Santa Sé em 2018, que permite a nomeação de bispos tanto pelo Papa como pelo governo chinês, deve ser resolvida em Outubro. Neste contexto, qualquer possibilidade de interacção, mesmo a um nível inferior – por exemplo entre membros das delegações chinesa e vaticana – será acompanhada com grande atenção no Cazaquistão.

4UMA VISITA PASTORAL AO CORAÇÃO DA ÁSIA

Shutterstock

No Cazaquistão, o Papa Francisco também entrará em contato com uma das pequenas comunidades cristãs que ele visitou frequentemente nas suas viagens anteriores. A comunidade neste grande país da Ásia Central tem uma história particular, porque é principalmente o resultado de deportações. Estas foram realizadas primeiro pelos czares e depois, de forma mais maciça, pelo regime soviético, e diziam respeito às populações alemãs, polacas, ucranianas e bálticas que se encontravam em território russo na altura.

Embora muitos destes católicos exilados tenham regressado a casa após a queda do Muro de Berlim, um número permaneceu no Cazaquistão e forma a pequena população católica atual. O Vaticano estima que existem hoje 125.000 católicos, cerca de 1% da população do Cazaquistão. Com 81 paróquias, 6 bispos, mais de 100 padres e 138 religiosos, é um pequeno núcleo do catolicismo que ainda vive no coração da estepe. A Igreja Católica no Cazaquistão também dirige cinco escolas, dois lares de idosos, dois dispensários médicos e três orfanatos.

A boa relação entre o Vaticano e o governo cazaque assegura que a comunidade coexista em harmonia com outras religiões, especialmente com o Islã. A Igreja está a mostrar um certo dinamismo: os bispos cazaques juntaram-se recentemente a outros na região para formar uma conferência da Ásia Central – Uzbequistão, Turquemenistão, Quirguizistão, Mongólia, etc. – a fim de dar um novo ímpeto à sua presença.

5A INEVITÁVEL QUESTÃO DA SAÚDE DO PAPA

Como em todas as viagens, a saúde de Francisco será atentamente observada pelos jornalistas que o acompanham. O Papa foi submetido a uma grande operação ao seu cólon em Julho de 2021 com a remoção de 30 cm de intestino – intervenção da qual afirma ter se recuperado – mas sofre de fortes dores no joelho há vários meses – mencionou uma fratura – ao ponto de já não poder mover-se sem uma bengala e, na maioria das vezes, prefere uma cadeira de rodas.

A organização da viagem foi adaptada, como foi no Canadá, ao problema de mobilidade do Papa: ele continua a utilizar o avião da ITA Airways utilizado em Julho passado, o que é mais conveniente para a instalação do pontífice. O “tempo de recuperação” também foi incluído no programa, que está muito menos ocupado do que estava no início do pontificado. A viagem também deve ser menos cansativa do que outras, uma vez que o Papa não deixará a capital do Cazaquistão.

A Santa Sé já relatou um detalhe interessante sobre a viagem: o Papa não deveria ter de entrar ou sair do avião através de um elevador no Aeroporto Internacional de Nur-Sultan, como costuma fazer. Uma “passarela” deveria permitir-lhe participar numa cerimónia de boas-vindas no aeroporto, não na pista.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Mas o que é que o Papa Francisco vai fazer no Cazaquistão?

Papa Francisco no Ângelus / Vatican Media

Vaticano, 12 set. 22 / 01:58 pm (ACI).- “Neste momento de oração, desejo recordar a irmã Maria de Coppi, missionária comboniana, morta em Chipene, Moçambique, onde serviu com amor durante quase sessenta anos. Que o seu testemunho dê força e coragem aos cristãos e a todo o povo moçambicano”, disse o papa Francisco ontem (11), depois de rezar o Ângelus junto com milhares de pessoas na praça de São Pedro, no Vaticano.

Irmã Maria de Coppi, de 84 anos, foi morta em 6 de setembro em um ataque terrorista.

O arcebispo de Bolonha, Matteo cardeal Zuppi, manifestou, na qualidade de presidente da Conferência Episcopal Italiana, suas profundas condolências em nome de todos os bispos italianos e rezou pela "paz e reconciliação" neste país.

“Lamentamos outra irmã que com simplicidade, dedicação e silêncio ofereceu sua vida por amor ao Evangelho”, disse o cardeal sobre a irmã Luisa Dell'Orto, morta em 25 de junho no Haiti.

"Que seu sacrifício seja uma semente de paz e reconciliação em uma terra que, após anos de estabilidade, volta a ser assolada pela violência, causada por grupos islâmicos que passaram anos semeando terror e morte em grandes áreas do norte do país", lamentou Zuppi.

“O meu pensamento, em nome das igrejas da Itália, vai para os familiares e irmãs combonianas, para o padre Lorenzo e padre Loris e para todos os missionários que permanecem em tantos países para testemunhar o amor e a esperança”, disse o cardeal.

Zuppi convidou a lembrar deles em nossas orações e que “os cerquemos de solidariedade porque eles caminham conosco e nos ajudam a chegar às periferias a partir das quais podemos entender quem somos e escolher como ser discípulos de Jesus”.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A Igreja no Cazaquistão

Catedral em Nur-Sultan  (PAVEL MIKHEYEV) | Vatican News

O nascimento do Cazaquistão independente em 1991 representou uma reviravolta também para a pequena Igreja Católica local. A primeira etapa dessa mudança foi o estabelecimento de relações diplomáticas da ex-República Soviética com a Santa Sé, em 17 de outubro de 1992, seguido, em 24 de setembro de 1998, pela assinatura de um acordo entre que garantiu à Igreja Católica a liberdade de realizar atividades sociais, educativas, assistência, de saúde, ter acesso aos meios de comunicação social, etc.

Vatican News

Nesta terça-feira, 13 de setembro, com a viagem ao Cazaquistão, o Papa Francisco deu início à 38 Viagem Apostólica de seu Pontificado. É o segundo Pontífice a visitar o país após São João Paulo II em 2001.

O pequeno rebanho de fiéis católicos - menos de 1% dos 19 milhões de habitantes do Cazaquistão, 70% dos que são de fé muçulmana, enquanto 26% são cristãos, predominantemente ortodoxos - é pastoreado por 6 bispos, 78 sacerdotes diocesanos, 26 sacerdotes religiosos. No país não existem Institutos Seculares, mas conta com a atuação de 18 missionários leigos e 50 catequistas.

Em relação às vocações, preparam-se para o sacerdócio 1 seminarista menor e 7 seminaristas maiores.

A Igreja no país é responsável por 3 escolas maternas e primárias, com 35 estudantes, uma escola média e secundária, com 150 estudantes e uma escola superior, com 7 estudantes.

Ademais, administra 2 ambulatórios, 2 casas para idosos, inválidos e desfavorecidos, 3 orfanatrófios, 2 consultórios familiares, 1 centro especial de educação e reeducação social, além de 33 outras instituições.

Os fiéis católicos estão distribuídos em 4 dioceses (Arquidiocese de Maria Santíssima em Astana - Nur-Sultan), a Diocese da Santíssima Trindade em Almaty, a Diocese de Karaganda e a Administração Apostólica de Atyrau) para um total de 70 paróquias, e são assistidos por cem sacerdotes.

As origens

As origens da Igreja Católica no atual Cazaquistão remontam a século XIII. De fato, em 1253 São Luís, Rei da França, enviou alguns missionários nesta para este território para que de lá pudessem chegar à Mongólia. 25 anos mais tarde, em 1278, o Papa Nicolau III confiou toda a missão na região da Ásia Central aos franciscanos.

Por volta da metade do século XIV, na cidade de Almalyk, os frades construíram um pequeno convento e uma catedral. Naquela época, o Papa João XXII enviou ao Khan de Ciagatai uma carta na qual agradecia por sua benevolência para com os cristãos que viviam em seu reino. No entanto, em 1340 começaram as primeiras perseguições, e dos cristãos da região não se teve mais notícia até metade do século XIX, quando o território cazaque estava sob o domínio do Império Russo.

Século XX

O início do século XX testemunhou a chegada dos primeiros católicos, em parte como soldados do exército russo, e em parte como exilados, deportados, prisioneiros de guerra, ou como colonos voluntários e refugiados.

Muitos refugiados e prisioneiros de guerra de fé católica chegaram ao Cazaquistão durante a Primeira Guerra Mundial tanto que, em 1917, a paróquia de Pietropavlovsk tinha cerca de 5 mil fiéis, enquanto a de Kustanai somava mais de 6.000. Outros católicos de várias nacionalidades vieram como deportados ao longo das sete décadas do regime soviético.

A Igreja do Cazaquistão após o fim da URSS

O fim da União Soviética e o consequente nascimento do Cazaquistão independente em 1991, determinou um ponto de virada também para a pequena Igreja Católica local. A primeira etapa fundamental dessa mudança foi o estabelecimento de relações diplomáticas da ex-República Soviética com a Santa Sé, em 17 de outubro de 1992, seguido, em 24 de setembro de 1998, pela assinatura de um importante acordo entre as duas partes que garante à Igreja Católica a liberdade de realizar suas atividades sociais, educativas, assistência social e de saúde, ter acesso aos meios de comunicação social e garantir seus fiéis a assistência espiritual em estabelecimentos de saúde e prisões. 

Trata-se de dois eventos que marcaram o início de um caminho de colaboração bilateral frutífera, em particular na frente do diálogo inter-religioso. Prova disso foram as três visitas oficiais ao Vaticano do ex-presidente Nursultan Nazarbayev (realizadas em 1998 para a assinatura do referido acordo com a Santa Sé, em 2003 e 2009), mas sobretudo pela Viagem Apostólica de São João Paulo II (22-25 de setembro de 2001), a primeira visita de um Pontífice a um país da Ásia Central.

Uma visita realizada significativamente sob o lema "Amai-vos uns aos outros", para enfatizar a harmonia das relações existentes entre seus múltiplos componentes étnicos e religiosos. Esses aspectos foram enfatizados várias vezes pelo Papa polonês que no encontro na Universidade Eurásia de Astana, descreveu o Cazaquistão como uma "terra de encontro, de troca, de novidade; terra que estimula em cada um o interesse por novas descobertas e induz a viver a diferença não como uma ameaça, mas como um enriquecimento”.

A este mesmo desejo de promover os valores de convivência e diálogo entre povos e as fés contra qualquer tentativa de instrumentalizar a religião para fins políticos inspirou o "Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais", iniciativa lançada em 2003 em Astana (agora Nur-Sultan) pelo ex-presidente Nazarbayev, após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, na esteira do "espírito de Assis", a cidade onde São João Paulo II inaugurou em 1986 o primeiro encontro inter-religioso pela paz.

Desde então, o encontro é realizado a cada três anos na capital cazaque (a última edição, a sexta, foi realizada em 2018 com o tema "Líderes religiosos por um mundo seguro") com a participação de uma delegação vaticana, que contribuiu para consolidar as cordiais relações de colaboração entre o Cazaquistão e a Santa Sé na promoção do diálogo inter-religioso. Uma contribuição reconhecida em 6 de fevereiro de 2013 quando uma delegação cazaque, liderado pelo presidente do Senado em visita ao Vaticano por ocasião do décimo aniversário da instituição do "Congresso Inter-religioso", condecorou os cardeais Jean-Louis Tauran e Giovanni Lajolo, além de monsenhor Khaled Akasheh, oficial do então Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso.

Essa cordialidade de relações foi confirmada em 2017 por ocasião da Exposição Internacional de Astana (9 de junho a 10 de setembro) dedicada ao tema "Energia Futura", em que a Santa Sé participou com um pavilhão "Energia para o bem comum: cuidar da nossa casa comum".

No Dia Nacional da Santa Sé na Expo, em 2 de setembro, o Papa Francisco enviou uma mensagem, na qual recordava “o hábito do diálogo e concertação entre as religiões “consolidade em um país” tão rico etnicamente, culturalmente e espiritualmente".

De 30 de agosto a 4 de setembro o cardeal Peter K.A. Turkson, então prefeito de Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, esteve na capital cazaque para participar de alguns eventos ligados à Expo, incluindo uma conferência inter-religiosa no Palácio da Paz e o Reconciliação. Ao final dos trabalhos, foi emitida uma declaração conjunta, na qual se reiterava que "a energia não é um bem criado pelo homem, mas um recurso confiado a nós por Deus Criador para o bem de toda a família humana. Ela não deve, portanto, ser explorada indiscriminadamente, mas com um discernimento inspirado pela busca do bem comum da humanidade".

As relações entre a Santa Sé e o governo cazaque receberam um ulterior impulso em outubro de 2020, quando o atual Dicastério para o Diálogo Inter-religioso e o Centro cazaque para o Desenvolvimento do Diálogo Inter-religioso e Inter-civil "Nursultan Nazarbayev" (NJSC) assinaram um Memorando de Intenções com o objetivo de abrir “novas oportunidades e formas mais promissoras de implementar projetos comuns, para promover o respeito e o conhecimento entre os representantes das diversas religiões”.

A liberdade de culto, promovida pelo ex-presidente Nazarbayev, também foi impulsionada por seu sucessor Kassym-Jomart K. Tokayev, mesmo no contexto de uma nova Lei de 2011 que proíbe todas as atividades religiosas não registradas, para prevenir o eventual nascimento ou atuação de grupos radicais islâmicos violentos. Nesse contexto a Igreja local pôde continuar a exercer livremente suas atividades, como estabelecido pelo acordo de 1998.

Entre estas, aquelas sociais realizadas em especial pela Caritas Cazaquistão, que desde 1997 está na linha de frente da assistência às faixas mais pobres da população. Atualmente, suas iniciativas incluem, entre outras coisas, serviços sociais em todo o país; a gestão de alguns orfanatos e a assistência aos doentes de AIDS.

Uma pequena minoria

Os católicos são menos de 1% dos 19 milhões de habitantes do Cazaquistão, 70% dos que são de fé muçulmana, enquanto 26% são cristãos, predominantemente ortodoxos. Há algum tempo, as comunidades católicas eram formadas por diferentes grupos étnicos, sobretudo por ex-deportados do regime soviético, mas após a independência muitos deles retornaram aos seus respectivos países de origem e ainda hoje, devido à situação econômica, esse fenômeno migratório continua.

Arquidiocese de Maria Santíssima

A Arquidiocese de Maria Santíssima em Astana (antigo nome da capital do país) foi ereta em 17 de maio de 2003. No passado - a partir de 7 de julho de 1999 - era a Administração Apostólica de Astana. Antes ainda, a partir de 13 de abril de 1991, foi a Administração Apostólica do Cazaquistão.

A Metropolia abrange uma área de 576.400 quilômetros quadrados, onde vivem 4.042.364 habitantes, dos quais 54.000 católicos, distribuídos em 34 paróquias, 48 igrejas, atendidos por 19 sacerdotes diocesanos, 16 sacerdotes regulares diocesanos. A Arquidiocese tem 1 seminarista nos cursos filosófico e teológico, 19 membros de institutos religiosos masculinos; 68 membros de institutos religiosos femininos; 4 institutos de ensino; 2 instituições de caridade. No ano passado foram ministrados 145 batismos.

O arcebispo é Dom Tomash Bernard Peta, nascido em Inowrocław, Arquidiocese de Gniezno, em 20 de agosto de 1951; ordenado em 5 de junho de 1976; eleito para a Igreja titular de Benda em 15 de fevereiro de 2001; consagrado em 19 março de 2001; promovido em 17 de maio de 2003.

O Cazaquistão que acolhe o Papa

Vista do aérea do Palácio da Independência em Nur-Sultan | Vatican News

Localizado ao longo da antiga rota da seda que ligava a China ao Oriente Médio e o Mediterrâneo, o território do Cazaquistão foi historicamente habitado por povos nômades e hoje sua população inclui mais de 100 nacionalidades e diferentes etnias.

Vatican News

Localizado na Ásia Central, sem nenhum acesso ao mar, o Cazaquistão faz fronteira com a Rússia a norte e oeste, com a China a leste, e com o Quirguistão, Uzbequistão e Turcomenistão ao sul. Na sua parte mais ocidental faz parte geograficamente do continente europeu. A extensão da nação é notável: de leste a oeste se estende por 3.000 km, e de norte a sul por 1.700 km.

A paisagem é dominada pela estepe que se estende do Mar Cáspio ao Lago Balhas, um lago muito grande (18.200 km2) de água doce na parte ocidental e salgada na parte oriental, localizado na parte sudeste do país.

Grande parte de seu território é plano e montanhoso-desértico ou semidesértico, e uma grande área ao redor do Mar Cáspio está abaixo do nível do mar (-132 m no ponto mais baixo). O país também tem algumas cadeias de montanhas nas fronteiras orientais com a Rússia e a China e perto do Quirguistão. Precisamente no ponto de encontro das três nações se eleva o Khan Tengri (7.010 m) na cadeia de Tian Shan, o maior pico cazaque.

Entre os principais cursos de água encontramos o Irtysh, o Ishim, o Syrdarja e o Ural. Este último deságua no Mar Cáspio, o maior lago do planeta, que banha o Cazaquistão na parte nordeste. O clima é continental árido, com verões muito quentes e invernos rigorosos.

Capital: Nur-Sultan (1.184.500 hab.)
Superfície: 2.724.900 km2
População: 18.756.000 hab. (estimativa de 2021)
Densidade pop.: 7 habitantes/Km²
Idioma: cazaque, russo (oficiais)
Principais grupos étnicos: cazaques (63%), russos (24%), uzbeques (3%), ucranianos (2%)
Religião: muçulmanos (70%), católicos (0,01%), cristãos (26%), não religiosos (3%)
Forma de governo: República Presidencial
Unidade monetária: tenge cazaque (1 EUR = 475,45 KZT)

Membro de organizações internacionais: CSI, BERD, OCI, OCS, ONU, OSCE, observador da OEA, UEE, OMC

Com uma extensão de 2,97 milhões de km2, aproximadamente igual à da Europa Ocidental, e uma população de pouco menos de 19 milhões, o Cazaquistão é o nono país mais vasto do mundo. Localizado ao longo da antiga rota da seda que ligava a China ao Oriente Médio e o Mediterrâneo, o território do Cazaquistão foi historicamente habitado por povos nômades e hoje sua população inclui mais de 100 nacionalidades e diferentes etnias.

Seu nome significa "Terra dos Cossacos" (cazaques), termo de origem turcica que significa precisamente 'nômade', em referência às populações organizadas em comunidades militares que habitavam as estepes da Ásia central ao sul da Rússia e parte do território da atual Ucrânia.

Os russos começaram a avançar na estepe cazaque nos séculos XVIII e meados do século XIX, governando todo o Cazaquistão como parte do Império Russo até a Revolução Bolchevique de 1917.

Parte da República Soviética do Turquestão de 1917 a 1925 e República autônoma a partir de 1926, em 1936 o Cazaquistão torna-se uma República da URSS da qual obteve a independência em 1991 após a dissolução desta última, passando a fazer parte da recém-formada Comunidade de Estados Independentes (CEI).

A década de 90 assistiu à progressiva concentração do poder nas mãos do presidente Nursultan Nazarbayev, um funcionário do antigo regime soviético que permaneceu no comando do país até 2019, ano em que entregou a presidência a Kassym-Jomart K. Tokayev. Se no plano interno Nazarbayev havia conduzido uma política autoritária, no plano internacional havia realizado uma política externa multidirecional com o objetivo de criar e manter boas relações com os países vizinhos, em particular a Rússia e a China, e com os Estados mais distantes, como o Irã, a Turquia, mas também a União Européia e os Estados Unidos.

Após a melhora, a partir da segunda metade da década de 1990, das relações com o Irã, Turquia e China, o Cazaquistão consolidou as relações com os vizinhos Quirguistão e Uzbequistão. Mas o principal aliado político continuou sendo a Rússia, país com o qual tem uma relação de parceria econômica no seio da União Econômica da Eurásia (UEE), que também inclui Belarus, Armênia e Quirguistão, e de colaboração militar, no âmbito da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), à qual aderem os mesmos países.

A promoção dessa política externa multidirecional finalmente se fortaleceu nos últimos anos, pelo aprofundamento das relações bilaterais com a República Popular da China, com a qual, em 1998, resolveu as disputas fronteiriças sobre o Cazaquistão Leste e na região de Almaty. Superada a desconfiança ligada à política de Pequim na Ásia Central, o governo cazaque de fato iniciou uma crescente cooperação com o vizinho, tanto em matéria comercial e energética, como em relação à segurança.

Na economia, Nazarbayev havia iniciado um processo de privatização dos ricos recursos minerais do país, mas a persistência de graves dificuldades econômicas e a concentração da riqueza nas mãos de um pequeno segmento da população mantinham a tensão social elevada. Tensões que eclodiram no início de 2022 em protestos violentos em todo o país desencadeados pelo alto preço do gás, e que foram resolvidos em poucos dias após a intervenção do exército e das tropas da CSTO lideradas por Moscou e o promessa de reformas para combater a corrupção generalizada.

Contornada a crise, o presidente Tokayev iniciou um trabalho de renovação de as estruturas sociais, tentando libertar-se do pesado legado do longo regime de Nursultan Nazarbayev. Em 5 de junho, um referendo aprovou por ampla maioria uma nova Constituição aprovada pelo Parlamento em 27 de março, que deveria abrir uma maior participação dos cidadãos a nível nacional e local, em particular através dos “conselhos sociais” (obščestvennye sovety). Tokayev também parece empenhado em um novo rumo nas relações com a Rússia conforme indicado pela sua posição na Cúpula Econômica Internacional de São Petersburgo em junho de 2022, no qual afirmou que seu país apoia a integridade território territorial da Ucrânia e não reconhece as regiões separatistas pró-Rússia ocupadas pelo tropas de Moscou.

O Papa Francisco chegou ao Cazaquistão

Vista de Nur-Sultan, capital do Casaquistão | Vatican News

Serão três dias em Nur-Sultan, no coração da Ásia, para participar do Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais.

Silvonei José - Vatican News

O Papa Francisco chegou ao Cazaquistão. O avião que transportava o Pontífice pousou no aeroporto de Nur-Sultan, capital do país às 13h20, hora de Roma. Na acolhida oficial, o Pontífice teve um breve encontro com o Presidente da República Kassym-Jomart Tokayev, a quem fará uma visita de cortesia no Palácio Presidencial, imediatamente após a cerimônia de boas-vindas. Em seguida, no Salão de Concertos Qazaq, Francisco se encontrará com as autoridades do país, a sociedade civil e o corpo diplomático.

Serão três dias em Nur-Sultan, no coração da Ásia, para participar do Congresso dos Líderes das religiões mundiais e tradicionais. Uma oportunidade, como disse no Angelus de domingo passado, para dialogarmos como irmãos, animados pelo desejo comum de paz, de que o nosso mundo tem sede. A decolagem de Roma-Fiumicino foi às 7h36. Aos jornalistas da comitiva os votos de um bom trabalho.

Acolhida ao Santo Padre por parte do presidente cazaque

Uma pomba, um ramo de oliveira, as mãos dos "mensageiros da paz e da unidade" unidas. No logotipo e no lema as palavras-chave da 38ª Viagem Apostólica do Papa Francisco, que começou na manhã desta terça-feira, 13, e que o verá até 15 de setembro na Ásia Central, Cazaquistão, uma antiga República Soviética ao longo da antiga Rota da Seda, espremida entre a China e a Rússia, encruzilhada de diferentes culturas, credos e grupos étnicos. A ocasião é a participação no VII Congresso dos Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais, para reafirmar a contribuição positiva das fés para a harmonia entre os povos. Mas o Pontífice também vai para encontrar, animar e renovar na fé a pequena comunidade católica local, menos de 1% dos 19 milhões de habitantes, mas apreciada, num contexto religioso-cultural muito diversificado.

A partida e os primeiros compromissos

Por volta das 6h30, o Papa se transferiu de carro da Casa Santa Marta para o aeroporto de Roma-Fiumicino, onde embarcou em um Airbus A330 da ITA Airways. O avião decolou às 7h36, com destino a Nur-Sultan, a futurista capital cazaque conhecida até março de 2019 como Astana, com destino ao aeroporto internacional.

Cerca de 6h30 horas de voo, durante as quais o Airbus sobrevoará Itália, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Bulgária, Turquia, Geórgia, Azerbaijão.

Ao deixar a Itália, o Papa enviou um telegrama ao presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, no qual dirige a seu “cordial saudação ao Chefe de Estado e a todos os italianos, que acompanho com votos de serenidade e harmonia. oração a Deus pelo bem e progresso de toda a nação”.

Como em todas as viagens, Francisco saudou os cerca de 80 jornalistas que o acompanham na viagem: 'Bom dia, muito obrigado pela sua presença e pela sua ajuda nesta viagem', afirmou. "Desejo-lhes uma boa viagem e um bom trabalho! Falaremos quando voltarmos, obrigado e tenham um bom dia".

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Pastor manso, pó sobre o qual Deus se dignou escrever

João Paulo I | L'oservatore Romano

06 setembro 2022

«Rezemos a este nosso pai e irmão», para que «possa obter para nós “o sorriso da alma”, aquele transparente, que não engana», pedindo «com as suas palavras, o que ele próprio costumava pedir: “Senhor, aceita-me como sou, com as minhas faltas, com os meus defeitos, mas faz-me ser como me desejas”». Esta foi a exortação com que o Papa Francisco concluiu a homilia na missa de beatificação do seu predecessor João Paulo I, celebrada na praça de São Pedro na manhã de domingo, 4 de setembro.

Jesus vai a caminho de Jerusalém e, como diz o Evangelho de hoje, «seguiam com Ele grandes multidões» (Lc 14, 25). Caminhar com Ele significa segui-lo, isto é, tornar-se discípulo. E, contudo, a estas pessoas o Senhor faz um discurso pouco atraente e muito exigente: não pode ser seu discípulo quem não O ama mais do que aos seus entes queridos, quem não carrega a sua cruz, quem não renuncia aos bens terrenos (cf. 14, 26-27.33). Porque é que Jesus dirige tais palavras à multidão? Qual é o significado das suas advertências? Tentemos responder a estas questões.

Em primeiro lugar, vemos muitas pessoas, uma multidão numerosa que segue Jesus. Podemos imaginar que muitos ficaram fascinados pelas suas palavras e maravilhados com os gestos que realizava; e, por isso, terão visto n’Ele uma esperança para o próprio futuro. Que teria feito qualquer outro mestre de então, ou — podemos ainda interrogar-nos — que faria um líder astuto ao ver que as suas palavras e o seu carisma atraíam as multidões e faziam crescer o consenso no seio delas? Como sucede hoje, especialmente nos momentos de crise pessoal e social em que estamos mais expostos a sentimentos de ira ou temos medo de qualquer coisa que ameaça o nosso futuro, ficamos mais vulneráveis e assim, na onda da emoção, confiamo-nos a quem com sagacidade e astúcia sabe cavalgar esta situação, aproveitando-se dos temores da sociedade e prometendo ser o «salvador» que resolverá os problemas, quando, na realidade, o que deseja é aumentar a sua popularidade e o próprio poder, a sua própria imagem, a própria capacidade de controlar as coisas.

O Evangelho diz-nos que Jesus não procede assim. O estilo de Deus é diferente. É importante compreender o estilo de Deus, compreender como age Deus. Deus age segundo um estilo, e o estilo de Deus é diverso do estilo de tais pessoas, porque Ele não instrumentaliza as nossas necessidades, nunca se aproveita das nossas fraquezas para se engrandecer a si mesmo. A Ele, que não nos quer seduzir com o engano nem quer distribuir alegrias fáceis, não interessam as multidões oceânicas. Não tem a paixão dos números, não busca consensos, nem é um idólatra do sucesso pessoal. Pelo contrário, parece preocupar-se quando as pessoas o seguem com euforia e fáceis entusiasmos. Assim, em vez de se deixar atrair pelo fascínio da popularidade — porque a popularidade fascina — pede a cada um para discernir cuidadosamente os motivos por que o segue e as consequências que isso acarreta. De facto, naquela multidão havia muitos que talvez seguissem Jesus, porque esperavam que Ele fosse um chefe que os libertaria dos inimigos, alguém que conquistaria o poder e o partilharia com eles; ou então alguém que, realizando milagres, resolveria os problemas da fome e das doenças. Com efeito, pode-se seguir o Senhor por várias razões, e algumas destas — admitamo-lo — são mundanas: por trás de uma fachada religiosa perfeita pode-se esconder a mera satisfação das próprias necessidades, a busca do prestígio pessoal, o desejo de aceder a um cargo, de ter as coisas sob controle, o desejo de ocupar espaço e obter privilégios, a aspiração de receber reconhecimentos, e muito mais. Ainda hoje sucede isto entre os cristãos. Mas este não é o estilo de Jesus; nem pode ser o estilo do discípulo e da Igreja. Se alguém segue Cristo movido por tais interesses pessoais, enganou-se no caminho.

O Senhor pede um comportamento diferente: segui-lo não significa entrar na corte, nem participar num cortejo triunfal, nem mesmo garantir-se um seguro de vida. Pelo contrário, significa «tomar a própria cruz» (Lc 14, 27): como Ele, carregar os pesos próprios e os pesos alheios, fazer da vida um dom, não uma posse, gastá-la imitando o amor magnânimo e misericordioso que Ele tem por nós. Trata-se de opções que comprometem a totalidade da existência; por isso, Jesus deseja que o discípulo nada anteponha a este amor, nem sequer os afetos mais queridos ou os bens maiores.

Para o conseguir, porém, é preciso olhar mais para Ele do que para nós próprios, aprender o amor que brota do Crucificado. N’Ele vemos um amor que se dá até ao fim, sem medida nem fronteiras. A medida do amor é amar sem medida. Nós mesmos — dizia o Papa Luciani — «somos objeto, da parte de Deus, de um amor que não se apaga» (Angelus, 10 de setembro de 1978). Não se apaga: nunca se eclipsa da nossa vida, resplandece sobre nós e ilumina até as noites mais escuras. Ora, olhando para o Crucificado, somos chamados às alturas daquele amor: somos chamados a purificar-nos das nossas ideias erradas sobre Deus e dos nossos fechamentos, a amá-lo a Ele e aos outros, na Igreja e na sociedade, incluindo aqueles que não pensam como nós e até os próprios inimigos.

Amar, ainda que custe a cruz do sacrifício, do silêncio, da incompreensão, da solidão, da contrariedade e da perseguição. Amar assim, inclusive a este preço, porque — dizia o Beato João Paulo — se queres beijar Jesus crucificado, «não o podes fazer sem te debruçares sobre a cruz e deixar que te fira algum espinho da coroa, que está na cabeça do Senhor» (Audiência geral, 27 de setembro de 1978). O amor até ao extremo, com todos os seus espinhos: e não as coisas a meio, as acomodações ou a vida tranquila. Se não apontarmos para o alto, se não arriscarmos, se nos contentarmos com uma fé superficial, somos — diz Jesus — como quem deseja construir uma torre, mas não calculou bem os meios para a fazer: «assenta os alicerces» e, depois, «não a pode acabar» (Lc 14, 29). Se, por medo de nos perdermos, renunciamos a dar-nos, deixamos inacabadas as coisas — os relacionamentos, o trabalho, as responsabilidades que nos estão confiadas, os sonhos, e até a fé — então acabamos por viver a meias. E quantas pessoas vivem a meias! Também nós muitas vezes temos a tentação de viver a meias, sem nunca dar o passo decisivo (isto é viver a meias), sem levantar voo, sem arriscar pelo bem, sem nos empenharmos verdadeiramente pelos outros. Jesus pede-nos isto: vive o Evangelho e viverás a vida, não a meias, mas até ao fundo. Vive o Evangelho, vive a vida, sem cedências.

Irmãos, irmãs, o novo Beato viveu assim: na alegria do Evangelho, sem cedências, amando até ao extremo. Encarnou a pobreza do discípulo, que não é apenas desapegar-se dos bens materiais, mas sobretudo vencer a tentação de me colocar a mi mesmo no centro e procurar a glória própria. Ao contrário, seguindo o exemplo de Jesus, foi pastor manso e humilde. Considerava-se a si mesmo como o pó sobre o qual Deus Se dignara escrever (cf. A. LUCIANI/JOÃO PAULO I, Opera Omnia, Pádua 1988, vol. II , 11). Nesta linha, exclamava: «O Senhor tanto recomendou: sede humildes! Mesmo que tenhais feito grandes coisas, dizei: “somos servos inúteis”» (Audiência geral, 6 de setembro de 1978).

Com o sorriso, o Papa Luciani conseguiu transmitir a bondade do Senhor. É bela uma Igreja com o rosto alegre, o rosto sereno, o rosto sorridente, uma Igreja que nunca fecha as portas, que não exacerba os corações, que não se lamenta nem guarda ressentimentos, que não é bravia nem impaciente, não se apresenta com modos rudes, nem padece de saudades do passado, caindo no retrogradismo. Rezemos a este nosso pai e irmão e peçamos-lhe que nos obtenha «o sorriso da alma», um sorriso transparente, que não engana: o sorriso da alma. Servindo-nos das suas palavras, peçamos o que ele próprio costumava pedir: «Senhor, aceitai-me como sou, com os meus defeitos, com as minhas faltas, mas fazei que me torne como Vós desejais» (Audiência geral, 13 de setembro de 1978). Amém!

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF