Padre Licio de Araújo Vale | Vatican News |
O
suicídio é a terceira causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil.
Padre Licio de Araújo Vale, especialista no tema do suicídio e perdas, destaca
neste artigo a urgência no cuidado nas famílias. O Brasil é o 4º país com maior
índice de suicídio no mundo, atualmente; de acordo com a OMS. Mortes poderiam
ser evitadas se as pessoas recebessem atenção qualificada.
Padre Lício de Araújo Vale – Diocese de São Miguel
Paulista - SP
O suicídio na adolescência é um assunto que precisa
ser debatido com urgência. Afinal, o suicídio é um fenômeno social presente
desde o início da história associado a uma série de fatores psicológicos,
culturais, morais, socioambientais, econômicos entre outros fatores. Trata-se
de um grave problema de saúde pública. Podemos dizer que há uma endemia (os
números só crescem), diferente de uma epidemia (onde os números crescem, o
poder público age e os números diminuem) silenciosa e silenciada. Entretanto,
os suicídios podem ser evitados e prevenidos, com base em evidências e intervenções
de baixo custo.
Então, o que podemos fazer para mudar estes
índices? Qual o papel dos pais, educadores e amigos para evitar essas
tragédias?
O primeiro e grande passo é a conscientização sobre
o assunto.
O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens
de 15 a 19 anos, no Brasil, perdendo apenas para violência. Ele é um fenômeno
complexo. É o final de um processo que vai se instalando na vida da pessoa,
composto por 3 etapas: os pensamentos recorrentes de tirar a vida, os planos e
as tentativas de suicídio (que chamamos habitualmente de comportamento
suicida).
As três principais características das pessoas que
tentam o suicídio, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são:
Ambivalência: a
pessoa oscila e vive um conflito entre o desejo de viver e o desejo de morrer.
Anseio de sair da dor e do sofrimento e encontrar na morte uma única
alternativa ou forma mais rápida e eficaz para fugir dessa situação de
angústia.
Impulsividade: a
tentativa de suicídio é o ato de executar o plano que a pessoa traçou para pôr
fim a sua vida e é um ato impulsivo desencadeado por sentimentos negativos que
podem ser temporários. É por isso que em prevenção de suicídio a gente trabalha
com a frase: “NÃO TOME UMA DECISÃO DEFINITIVA PARA UM PROBLEMA TEMPORÁRIO.
Rigidez: as
pessoas que tentam suicídio possuem pensamentos fixos e constantes sobre
suicídio, e encaram esta como única alternativa para enfrentar e resolver o
problema.
Entretanto, vale um alerta: A PESSOA QUE SE MATA, NÃO QUER ACABAR COM SUA
VIDA, MAS COM SUA DOR QUE LHE É INSUPORTÁVEL.
O suicídio é influenciado por diversos fatores. A
depressão é um dos principais determinantes para o comportamento suicida e para
ação efetiva (tentativas) entre adolescentes como em jovens.
Situações que envolvem violência física, homofobia,
consumo abusivo de álcool e uso de drogas contribuem para aumentar a
vulnerabilidade dos adolescentes e jovens para o suicídio. Sentimentos de não
pertencimento, como a exclusão e não aceitação de si mesmo por parte do próprio
adolescente, jovem, sua família e ou seus amigos são fatores que também
aumentam o risco de suicídio.
Nos adolescentes dentre os principais determinantes
para o suicídio também podem contribuir: indiferença, omissão dos pais sobre
suas ações e emoções, violência familiar, cyberbullying e bullying. Contudo, o
suicídio pode ser prevenido! E só pode ser prevenido se formos capazes de
conhecer o fenômeno para acolher a dor dos outros e colaborar na prevenção.
Qual o papel da família nos cuidados a saúde
mental?
Em relação à saúde mental,
a família permanece como protagonista na promoção de fatores de
proteção e redução dos fatores de risco às condições psicológicas de seus
membros, crianças ou adultos.
Por este motivo, promova na sua casa momentos de
conversa, exclua o sentimento de individualismo, substituindo-os por
autoconhecimento. Escolha um dia da semana qualquer e um espaço de tempo, não
superior a uma hora para vocês conversarem com seus filhos. Durante esse
período desligue a televisão, assim como o rádio, tablets e smarthphones.
Faça desse tempo um momento de “bate-papo” espontâneo, onde pais, filhos e,
eventualmente, outros parentes ou amigos que moram na casa, estejam
periodicamente se reunindo para conversarem. Falem da vida, do trabalho, da
escola, dos amigos, das coisas que amam, dos sonhos que acalentam.
Muitos pais, quando vem seus filhos num estado de
desesperança, os incentivam a tentar mais, a pensar positivo, dizendo que assim
irão superar os problemas. Essa atitude pode fazer mais mal do que bem e não é recomendada
por especialistas. Para que o diálogo tenha efeito positivo, você precisa estar
aberto à escuta.
Também não se deve evitar menosprezar a dor alheia.
Esses tipos de atitudes podem significar para o seu filho que o pai/mãe não é
capaz de entender pelo que ele está passando. Consequências comuns desse
sentimento de incompreensão é a baixa autoestima, o isolamento e o corte de
diálogo.
O importante é tentar mostrar saídas e manter o
diálogo sempre aberto. Enxergando que pode haver saída para o seu problema,
estando ou não em boa saúde mental, os jovens encontrarão mais motivos para
viver e menos para terminar com a vida. Veja algumas dicas para enfrentar essa
situação:
- Não tenha medo de falar sobre o assunto,
especialmente se notar os sinais de alerta.
- Não recrimine pelo que ele (a) tem a dizer
— se suas angústias forem tratadas como “bobagens” —, o adolescente se sentirá
ainda pior.
- Permita que ele se sinta acolhido.
- Procure ajuda de um psicólogo ou
psiquiatra.
- Incentive hábitos que favoreçam o bem-estar
para afastar a depressão e ansiedade do cotidiano.
O melhor caminho para os pais, é a sua presença na
vida do seu filho, tentar fazer atividades com seus filhos, entrar no mundo
deles, pois se isso for feito, talvez o suicídio não seja uma opção, o
adolescente precisa entender que os pais são pessoas que eles podem contar,
pois o apoio familiar é crucial para a decisão de o adolescente tentar ou não o
suicídio.
“A vida é a melhor a melhor escolha” é o tema da
Campanha do Setembro Amarelo 2.022.
A grande maioria das mortes por suicídios podem ser
evitadas e o diálogo, sobretudo familiar é o melhor jeito de fazer isso. Se
você ou alguém que você conhece está em sofrimento mental e ou emocional, peça
ajuda.