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sábado, 17 de setembro de 2022

Entrevista coletiva do papa Francisco no voo de volta do Cazaquistão

Papa Francisco no voo de volta do Cazaquistão / Rudolf Gherig (EWTN)

Vaticano, 16 set. 22 / 10:54 am (ACI).- O papa Francisco deu uma entrevista coletiva em italiano aos jornalistas o acompanharam no voo papal de volta de sua viagem ao Cazaquistão.

Matteo Brunni, Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé

Boa noite a todos. Obrigado Santidade e obrigado por este momento junto aos jornalistas que o acompanharam nestes dias. Como sempre, há perguntas para o senhor e podemos começar com elas.

Papa Francisco

Bom dia e muito obrigado pela sua companhia e por seu trabalho. Foram dias intensos, muito obrigado. Gostaria de cumprimentar Stefania Falasca que hoje faz aniversário. Quantos são Stefania, 37? Não sei se são 36 ou 37.

Matteo Brunni

38 como como as viagens, Santidade.

Papa Francisco

Depois vamos apagar as velinhas, quando chegar o bolo. E, agora, as perguntas.

Matteo Brunni

Então, podemos começar com a dra. Zhanat Achmetova da Agência de Televisão do Cazaquistão.

Zhanat Akhmetova, TV AGENCY KHABAR

Bom dia Santo Padre. Muito obrigado por sua visita ao Cazaquistão, qual é o resultado de sua visita, às origens de nosso povo, o que o inspirou?

Papa Francisco

Para mim foi também uma surpresa. Porque eu realmente da Ásia Central - exceto pela música de Borodin - não sabia de nada. Foi uma surpresa encontrar os representantes dessas nações.

E também o Cazaquistão foi realmente uma surpresa porque eu não esperava que fosse assim. Eu sabia que é um país, é uma cidade, que se desenvolveu bem, com inteligência. Mas encontrar, após trinta anos desde a independência, tal desenvolvimento, eu não esperava.

Então, um país tão grande, com dezenove milhões de habitantes... Inacreditável. Muito disciplinado, e bonito. Com muitas belezas: a arquitetura da cidade bem equilibrada, bem disposta.

Uma cidade moderna, uma cidade que eu diria talvez "do futuro". Foi isso que me impressionou tanto: o desejo de avançar não apenas na indústria, no desenvolvimento econômico e material, mas também no desenvolvimento cultural. Foi uma surpresa que eu não esperava.

Depois o Congresso... uma coisa muito importante. Está em sua sétima edição. O que significa que se trata de um país com visão, que faz dialogar aqueles que normalmente são descartados. Porque existe uma concepção progressiva do mundo para o qual a primeira coisa a ser descartada são os valores religiosos.

É um país que se apresenta ao mundo com tal proposta... já fez sete vezes, é maravilhoso! Então, se houver tempo, eu voltarei a falar sobre este encontro inter-religioso. A senhora pode se orgulhar do seu país, da sua pátria.

Matteo Brunni

Obrigado Sua Santidade, a segunda pergunta vem de Rudiger Kronthaler da televisão alemã.

Rudiger Kronthaler, ARD

Santo Padre obrigado por sua mensagem de paz, eu sou alemão como se pode ouvir do meu sotaque. Meu povo é responsável por milhões de mortes há oitenta anos. Gostaria de fazer uma pergunta sobre a paz, já que meu povo é responsável por milhões de mortes. Nós aprendemos na escola que nunca se deve usar armas, nunca a violência: a única exceção é a autodefesa. Na sua opinião, neste momento é preciso dar armas à Ucrânia?

Papa Francisco

Essa é uma decisão política, que pode ser moral, moralmente aceita, se for feita de acordo com as condições de moralidade, que são muitas, e então podemos falar sobre isso.

Mas pode ser imoral se for feito com a intenção de provocar mais guerra ou vender as armas ou descartar as armas de que não preciso mais. A motivação é a que em grande parte qualifica a moralidade deste ato.

Defender-se não é somente lícito, mas também uma expressão de amor à Pátria. Aquele que não se defende, aquele que não defende algo, não ama, enquanto aquele que defende, ama.

Aqui se toca uma outra coisa que eu disse em um de meus discursos, ou seja, que se deve refletir mais sobre o conceito de guerra justa. Porque hoje todos falam de paz.

Há tantos anos, há setenta anos as Nações Unidas falam de paz, fazem tantos discursos sobre a paz. Mas quantas guerras estão acontecendo neste momento? A que o senhor mencionou, Ucrânia-Rússia, agora Azerbaijão e Armênia, que parou um pouco porque a Rússia saiu como garante, garante da paz aqui e faz guerra lá... Depois há a Síria, dez anos de guerra, o que está acontecendo lá que não para a guerra? Que interesses movem estas coisas?

Depois há o Chifre da África, depois o norte de Moçambique ou a Eritréia e uma parte da Etiópia, depois Myanmar com este povo sofredor que tanto amo, o povo Rohingya que gira, gira e gira como um cigano e não encontra paz.

Mas estamos em uma guerra mundial, por favor...

Lembro de uma coisa pessoal, quando criança, eu tinha nove anos de idade. Lembro-me de ouvir o alarme do maior jornal de Buenos Aires: naquela época, para festejar ou dar más notícias, soava o alarme - agora já não soa mais - e podia ser ouvido em toda a cidade.

A mãe disse: "O que está acontecendo?" Estávamos em guerra, no ano de 1945. Uma vizinha veio até a casa e disse: "O alarme soou..." e chorava: "a guerra acabou!"

E via mamãe e a vizinha chorando de alegria porque a guerra acabou, em um país sul-americano, tão distante! Estas mulheres sabiam que a paz é maior que todas as guerras e choravam de alegria quando a paz foi feita. Eu não me esqueço disso.

Eu me pergunto: não sei se hoje estamos com um coração educado para chorar de alegria quando vemos a paz. Tudo mudou. Se você não faz guerra, você não é útil! Depois há a fábrica de armas.

Este é um negócio assassino. Alguém que entende de estatísticas me disse que se você parasse de fabricar armas por um ano se resolveria toda a fome do mundo... Eu não sei se é verdade ou não. Mas fome, educação... nada, não se pode porque tem que se fazer armas.

Em Gênova, há alguns anos, há três ou quatro anos, chegou um navio carregado de armas que deveriam ser transferidas para um navio maior que estava indo para a África, perto do Sul do Sudão.

Os trabalhadores das docas não quiseram fazer isso, e isso lhes custou, mas disseram: "Eu não colaboro". É uma anedota, mas que nos faz sentir uma consciência de paz.

O senhor falou de sua pátria. Uma das coisas que aprendi de vocês é a capacidade de arrepender-se e pedir perdão pelos erros da guerra. E também, não apenas de pedir perdão, mas de pagar pelos erros da guerra: isto diz bem de você. É um exemplo que se deveria imitar.

A guerra em si é um erro, é um erro!

E nós neste momento estamos respirando este ar: se não há guerra, parece que não há vida. Um pouco confuso, mas já disse tudo o que queria dizer sobre a guerra. Mas o direito à defesa, sim, mas usá-lo quando necessário.

Matteo Brunni

Obrigado Santidade. A seguinte pergunta será feita por Sylwia Wysocka da Agência de Imprensa Polonesa

Sylwia Wysocka, PAP

Santo Padre, o senhor disse: não podemos jamais justificar a violência. Tudo o que está ocorrendo na Ucrânia agora é pura violência, morte, destruição total por parte da Rússia.

Nós, na Polônia, temos uma guerra tão próxima de nossas portas, com dois milhões de refugiados. Gostaria de perguntar se o senhor acha que existe uma linha vermelha além da qual não se deveria dizer: estamos abertos ao diálogo com Moscou. Porque muitos têm dificuldade de entender esta disponibilidade. E eu também gostaria de perguntar se a próxima viagem será para Kiev.

Papa Francisco

Vou responder isso, mas prefiro que as perguntas sobre a viagem sejam feitas primeiro...

Acho que é sempre difícil entender o diálogo com os Estados que iniciaram a guerra, e parece que o primeiro passo foi dado de lá, daquele lado. É difícil, mas não devemos descartar isso, devemos dar a oportunidade de diálogo a todos, a todos!

Porque há sempre a possibilidade de que no diálogo se possam mudar as coisas, e também oferecer outro ponto de vista, outro ponto de consideração. Não excluo o diálogo com qualquer potência, seja em guerra, que seja o agressor... às vezes o diálogo se deve fazer assim, mas se deve fazer, 'tem mau cheiro', mas tem que ser feito.

Sempre um passo à frente, uma mão estendida, sempre! Porque, ao contrário, fechamos a única porta racional para a paz. Às vezes não aceitam o diálogo: que pena! Mas o diálogo deve ser sempre feito, pelo menos oferecido, e isto faz bem para quem o oferece; faz respirar.  

Matteo Brunni

Obrigado. A seguinte pergunta é de Loup Desmond de la Croix.

Loup Besmond de Senneville, LA CROIX

Santidade, muito obrigado por estes dias na Ásia Central. Durante esta viagem muito se falou de valores e de ética, em particular durante o Congresso Inter-religioso foi evocada, por parte de alguns líderes religiosos, a perda do Ocidente por causa da sua degradação moral. Qual é a sua opinião sobre isto? O senhor considera que o Ocidente se encontra em um estado de perdição, ameaçado pela perda de seus valores?

Refiro-me particularmente ao debate sobre a eutanásia, sobre o fim da vida, um debate que ocorreu na Itália, mas também na França e na Bélgica.

Papa Francisco

É verdade que o Ocidente, de modo geral, no momento não está no nível mais alto de exemplaridade. Não é uma criança de primeira comunhão, não realmente. O Ocidente tomou caminhos errados, pensemos por exemplo na injustiça social que existe entre nós, há países que se desenvolvem um pouco na justiça social, mas penso no meu continente, a América Latina que é Ocidente. Pensemos também no Mediterrâneo, que é Ocidente: hoje é o maior cemitério, não da Europa, mas da humanidade.

Como o Ocidente se perdeu a ponto de esquecer de acolher, quando, na verdade, precisa de pessoas. Quando se pensa no inverno demográfico que temos: precisamos de pessoas: tanto na Espanha - na Espanha sobretudo - também na Itália há cidadezinhas vazias, apenas vinte velhinhas, e nada mais.

Mas por que não se faz uma política ocidental onde os imigrantes sejam incluídos com o princípio de que o imigrante deve ser acolhido, acompanhado, promovido e integrado?

Isto é muito importante, integrar, mas em vez disso "não", deixa-se tudo vazio. É uma falta de compreensão dos valores, considerando que o Ocidente viveu esta experiência, somos países que migraram. No meu país - que acredito sejam 49 milhões de habitantes atualmente - temos uma porcentagem de menos de um milhão de nativos, todos os outros têm raiz migrante. Todos: espanhóis, italianos, alemães, eslavos poloneses, da Ásia Menor, libaneses, todos... Ali o sangue se misturou e esta experiência nos ajudou muito.

Também, por razões políticas, a situação não está boa nos países latino-americanos, mas creio que a migração deve ser levada a sério no momento, porque eleva o valor intelectual e cordial do Ocidente.

Enquanto que, com este inverno demográfico, para onde estamos indo? O Ocidente está em decadência neste ponto, está decaindo, está perdido....

Pensemos no lado econômico: é muito bem feito, mas pensemos no espírito político e místico de Schuman, Adenauer, De Gasperi, esses grandes: onde estão hoje?

Existem grandes políticos, mas não conseguem levar a sociedade adiante. O Ocidente precisa falar, respeitar a si mesmo, e depois há o perigo do populismo. O que acontece neste tipo de estado sociopolítico? Nascem os messias: os messias dos populismos. Estamos vendo como nascem os populismos, creio que mencionei algumas vezes aquele livro de Ginzberg, Síndrome 1933: ele conta exatamente como nasceu o populismo na Alemanha após a queda do governo de Weimar.

Os populismos nascem assim: quando há um nível com poucas forças, e alguém promete o messias. Acredito que nós, ocidentais, não estamos no mais alto nível para ajudar outros povos, será que estamos em decadência? Talvez, sim, mas temos que retomar os valores, os valores da Europa, os valores dos pais fundadores que fundaram a União Europeia, os grandes. Não sei, um pouco confuso, mas acho que respondi.

Loup Besmond de Senneville, LA CROIX

E sobre a eutanásia?

Papa Francisco

Matar não é humano, ponto final. Se se mata com motivação, sim... no fim mata-se cada vez mais e mais. Matar, deixemos isso para os animais.

Matteo Brunni

A próxima pergunta é de Giacomo Scaramuzzi de La Repubblica.

Giacomo Scaramuzzi

Gostaria de voltar a esta última pergunta: em seus discursos, o senhor sublinhou muito a conexão entre valores, valores religiosos e a vivacidade da democracia. O que o senhor acha que falta para o nosso continente, a Europa? O que deveria aprender de outras experiências?

E, se me permite, acrescentaria uma coisa: dentro de poucos dias na Itália haverá um exercício democrático, ou seja, eleições, e será formado um novo governo. Quando o senhor se encontrar com o próximo primeiro-ministro ou primeira-ministra, quais serão os seus conselhos? Na sua opinião, quais são as prioridades para a Itália, quais são suas preocupações, que riscos devem ser evitados?

Papa Francisco

Acho que já respondi sobre isso na minha última viagem. Conheci dois presidentes italianos, do mais alto nível: Giorgio Napolitano e o atual. Grandes. Mas os outros políticos eu não conheço.

Na minha última viagem, perguntei a um de meus secretários quantos governos a Itália já teve neste século: vinte. Não consigo explicar.

Eu não condeno nem critico, simplesmente não consigo explicar. Se os governos mudam tanto assim, há muitas perguntas a serem feitas. Porque hoje ser um político, um grande político, é um caminho difícil.

Um político que se coloca em jogo pelos valores da pátria, os grandes valores, e não se coloca em jogo por interesses, pelo cargo, as mordomias... Os países, entre eles a Itália, devem procurar grandes políticos, aqueles que têm a capacidade de fazer política, o que é uma arte. A política é uma nobre vocação.

Creio que um dos papas, não sei se Pio XII ou são Paulo VI, disse que a política é uma das mais altas formas de caridade.

Temos que lutar para ajudar nossos políticos a manter o nível da alta política, não da política de baixo nível que não ajuda em nada e que, ao invés disso, empobrece o Estado.

Hoje, a política nos países da Europa deveria assumir abertamente o problema, por exemplo, do inverno demográfico, o problema do desenvolvimento industrial, do desenvolvimento natural, o problema dos migrantes... A política deveria enfrentar os problemas seriamente para poder avançar.

Estou falando da política em geral. Quanto à política italiana eu não entendo: somente o fato de vinte governos em vinte anos, é um pouco estranho, mas cada um tem sua própria maneira de dançar o tango... pode-se dançar de uma maneira ou de outra e a política é dançada de uma maneira ou de outra.

Matteo Brunni

A Europa deve receber ajuda de outros continentes? De suas experiências?

Papa Francisco

A Europa deve receber experiências de outras partes, algumas serão melhores, outras não servirão. Mas deve ser aberta, todos os continentes devem ser abertos à experiência dos outros.

Matteo Brunni

A próxima pergunta é de Elise Harris Allen, de Crux

Elise Allen CRUX

Obrigada por estar conosco nesta noite. Ontem no Congresso o senhor falou sobre a importância da liberdade religiosa, como o senhor sabe, no mesmo dia chegou à cidade o presidente da China onde há muito tempo existe uma grande preocupação com este assunto, especialmente agora com o processo que está em andamento contra o cardeal Zen. O senhor considera o processo contra ele uma violação da liberdade religiosa?

Papa Francisco

Para entender a China precisa-se de um século, e nós não vivemos um século. A mentalidade chinesa é uma mentalidade rica e quando fica um pouco doente, perde sua riqueza, é capaz de cometer erros. Para entender, escolhemos o caminho do diálogo, abertos ao diálogo.

Há uma comissão bilateral Vaticano-Chinesa que está indo bem, lentamente, porque o ritmo chinês é lento, eles têm uma eternidade para ir adiante: é um povo com uma paciência infinita. Partindo das experiências que tivemos em precedência: pensemos nos missionários italianos que foram para lá e foram respeitados como cientistas; pensemos também hoje, muitos sacerdotes ou crentes que foram chamados pelas universidades chinesas porque isso dá valor à cultura.

Não é fácil entender a mentalidade chinesa, mas ela deve ser respeitada, eu sempre a respeito. E aqui no Vaticano há uma comissão de diálogo que está indo bem, o cardeal Parolin a preside e no momento ele é o homem que mais sabe sobre a China e o diálogo chinês.

É uma coisa lenta, mas estão sendo dados passos adiante. Não me agrada descrever a China como antidemocrática por ser um país muito complexo... Sim, é verdade que há coisas que nos parecem antidemocráticas, isso é verdade. O cardeal Zen vai a julgamento nestes dias, se não me engano.

E ele diz o que sente, e pode-se ver que ali há limitações. Mais do que qualificar, porque é difícil, não me agrada qualificar, são impressões, tento apoiar o caminho do diálogo. Com o diálogo se esclarecem muitas coisas e não apenas da Igreja, também de outros setores, por exemplo a extensão da China, os governadores das províncias são todos diferentes, há culturas muito diferentes dentro da China, é um gigante, entender a China é algo gigantesco.

Mas não devemos perder a paciência, é preciso ãh, é preciso muito ter paciência, mas devemos ir em frente com o diálogo, eu tento me abster de qualificá-la... mas vamos em frente.

Elise Allen

O senhor pôde se encontrar com o presidente da China Xi Jinping nestes dias?

Papa Francisco

Ele estava em visita de Estado lá, mas eu não o vi.

Matteo Brunni

A próxima pergunta é de Maria Angeles Conde Mir de Rome Reports.

Maria Angeles Conde Mir, ROME REPORTS

Na declaração que assinaram (no Congresso, ndr), todos os líderes sublinham um apelo aos governos e organizações internacionais a fim de que sejam protegidas as pessoas perseguidas por causa de sua etnia ou religião. Infelizmente, isso é o que está acontecendo na Nicarágua. Sabemos que o senhor falou sobre isso em 21 de agosto, durante o Ângelus. Mas talvez possa acrescentar algo mais para o povo católico, especialmente na Nicarágua.

Depois outra coisa. Vimos isso bem nesta viagem. Gostaríamos de saber se depois dessa viagem o senhor poderá retomar a viagem à África que foi adiada, e se há outras viagens programadas.

Papa Francisco

Todas as notícias sobre a Nicarágua são claras. Há diálogo. Foi falado com o governo, há diálogo. Isso não quer dizer que se aprova tudo o que o governo faz ou que se desaprova tudo. Não. Há diálogo e é preciso resolver os problemas.

Neste momento existem problemas. Espero pelo menos que as irmãs de Madre Teresa retornem. Essas mulheres são boas revolucionárias, mas do Evangelho!

Não fazem guerra contra ninguém. Na verdade, todos nós precisamos dessas mulheres. Este é um gesto que não se entende.

Mas esperamos que voltem e que o diálogo possa continuar. Mas nunca parar o diálogo. Existem coisas que não são compreendidas. Colocar um núncio na fronteira é uma coisa grave diplomaticamente.

O núncio é uma pessoa boa que agora foi nomeado para outro lugar. Essas coisas são difíceis de entender e até de engolir. Mas, na América Latina há de um lado ou de outro situações desse tipo.

Quanto às viagens: é difícil. O joelho ainda não se curou. É difícil, mas a próxima a farei (refere-se a um projeto de viagem ao Bahrein para novembro próximo, ndr). Depois, eu falei outro dia com o monsenhor Welby (arcebispo primaz anglicano de Cantuária, ndr) e vimos como uma possibilidade fevereiro para ir ao Sudão do Sul. Se eu for ao Sudão do Sul, também irei ao Congo. Estamos tentando. Devemos ir os três juntos: o chefe da Igreja da Escócia, monsenhor Welby e eu. Tivemos um encontro via zoom outro dia sobre isso.

Alexey Gotovskiy, EWTN

Obrigado Santo Padre por visitar nosso país. Gostaria de perguntar: para os católicos que vivem no Cazaquistão, onde o contexto é predominantemente muçulmano, como a evangelização pode ser realizada neste contexto? Há algo que o inspirou vendo os católicos no Cazaquistão?

Papa Francisco

Inspirado, não sei, mas fiquei feliz hoje na catedral ao ver os católicos tão entusiasmados, felizes, alegres. Esta é a impressão sobre os católicos cazaques.

Depois, a convivência com os muçulmanos: é algo sobre o qual se está trabalhando e estamos avançando, não apenas no Cazaquistão. Pensemos em algum país do norte da África, há uma bela convivência... no Marrocos, por exemplo.

No Marrocos há um diálogo bastante bom. Detenho-me no encontro religioso (o Fórum desses dias, ndr). Alguém criticava e me dizia: isso é fomentar, fazer crescer o relativismo. Nada de relativismo! Cada um expressou sua opinião, todos respeitaram a posição do outro, mas se dialoga como irmãos. Porque se não há diálogo, há ignorância ou guerra.

Melhor viver como irmãos, temos uma coisa em comum, somos todos humanos. Vivamos como humanos, bem educados: o que você pensa, eu o que penso? Vamos chegar a um acordo, vamos conversar, nos conhecer. Muitas vezes essas guerras mal-entendidas "de religião" acontecem por falta de conhecimento.

E isso não é relativismo, eu não renuncio à minha fé se falo com a fé de outro, pelo contrário. Eu honro minha fé porque outro a escuta e eu escuto a dele. Fiquei muito admirado que um país tão jovem, com tantos problemas – o clima, por exemplo – foi capaz de fazer sete edições de um encontro desse tipo: um encontro mundial, com judeus, cristãos, muçulmanos, religiões orientais...

Na mesa se via que todos conversavam e se ouviam com respeito. Esta é uma das coisas boas que seu país fez. Um país assim, digamos, no canto do mundo, faz uma convocação desse tipo.

Essa é a impressão que me deu. Depois, a cidade é de uma beleza arquitetônica de primeira categoria, e também me impressionaram as preocupações do presidente do Senado: ele levava adiante esse encontro, mas depois encontrou um tempo para me apresentar um cantor jovem, que você deve conhecer... esse jovem aberto à cultura. Eu não esperava isso e fiquei feliz de conhecê-lo.

Rudolf Gehrig, EWTN

Santo Padre, muitas Igrejas na Europa, como a alemã, sofrem graves perdas de fiéis, os jovens não parecem mais intressados em ir à missa. Quanto o senhor está preocupado com essa tendência e o que quer fazer?

Papa Francisco

É em parte verdade, em parte relativo. É verdade que o espírito de secularização, do relativismo, questiona essas coisas, é verdade.

O que se deve fazer, antes de tudo, é ser coerente com a própria fé. Pensemos: se você é um bispo ou um padre que não é coerente, os jovens têm olfato... e então tchau! Quando uma Igreja, seja ela qual for, em algum país ou em um setor, pensa mais no dinheiro, no desenvolvimento, nos planos pastorais e não na pastoral, e se vai para aquele lado, isso não atrai as pessoas.

Quando escrevi a carta ao povo alemão dois anos atrás, houve pastores que a publicaram e a divulgaram de pessoa a pessoa. Quando o pastor está próximo do povo, ele diz: o povo deve saber o que o papa pensa. Acredito que os pastores devem continuar indo em frente, mas se perderam o cheiro das ovelhas e as ovelhas perderam o cheiro dos pastores, não se vai adiante.

Às vezes - estou falando de todos, em geral, não só da Alemanha – se pensa como renovar, como tornar a pastoral mais moderna: isso é bom, mas sempre que esteja nas mãos de um pastor.

Se a pastoral está nas mãos dos "cientistas" da pastoral, que opinam aqui e dizem o que deve ser feito lá... (não se vai adiante, ndr). Jesus fez a Igreja com pastores, não com líderes políticos. Ele fez a Igreja com gente ignorante, os doze eram um mais ignorante que o outro e a Igreja foi adiante. Por que? Pelo olfato do rebanho com o pastor e do pastor com o rebanho. Esta é a maior relação que vejo quando há uma crise num lugar, numa província... Eu me pergunto: o pastor está em contato, está próximo ao rebanho? Esse rebanho tem um pastor? O problema são os pastores. Sobre isso me permito sugerir a você a ler o comentário de santo Agostinho sobre os pastores. Lê-se em uma hora, mas é uma das coisas mais sábias que foram escritas para os pastores e com isso você pode qualificar este ou aquele pastor. Não se trata de modernizar: certamente é preciso atualizar-se com métodos, isso é verdade, mas se falta o coração do pastor, nenhuma pastoral funciona. Nenhuma.

(Transcrição aos cuidados do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé).

Fonte: https://www.acidigital.com/

Padre Lício: Suicídio na adolescência é coisa séria!

Padre Licio de Araújo Vale | Vatican News

O suicídio é a terceira causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil. Padre Licio de Araújo Vale, especialista no tema do suicídio e perdas, destaca neste artigo a urgência no cuidado nas famílias. O Brasil é o 4º país com maior índice de suicídio no mundo, atualmente; de acordo com a OMS. Mortes poderiam ser evitadas se as pessoas recebessem atenção qualificada.

Padre Lício de Araújo Vale – Diocese de São Miguel Paulista - SP

O suicídio na adolescência é um assunto que precisa ser debatido com urgência. Afinal, o suicídio é um fenômeno social presente desde o início da história associado a uma série de fatores psicológicos, culturais, morais, socioambientais, econômicos entre outros fatores. Trata-se de um grave problema de saúde pública. Podemos dizer que há uma endemia (os números só crescem), diferente de uma epidemia (onde os números crescem, o poder público age e os números diminuem) silenciosa e silenciada. Entretanto, os suicídios podem ser evitados e prevenidos, com base em evidências e intervenções de baixo custo.

Então, o que podemos fazer para mudar estes índices? Qual o papel dos pais, educadores e amigos para evitar essas tragédias?

O primeiro e grande passo é a conscientização sobre o assunto.

O suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos, no Brasil, perdendo apenas para violência. Ele é um fenômeno complexo. É o final de um processo que vai se instalando na vida da pessoa, composto por 3 etapas: os pensamentos recorrentes de tirar a vida, os planos e as tentativas de suicídio (que chamamos habitualmente de comportamento suicida).

As três principais características das pessoas que tentam o suicídio, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são:

Ambivalência: a pessoa oscila e vive um conflito entre o desejo de viver e o desejo de morrer. Anseio de sair da dor e do sofrimento e encontrar na morte uma única alternativa ou forma mais rápida e eficaz para fugir dessa situação de angústia.

Impulsividade: a tentativa de suicídio é o ato de executar o plano que a pessoa traçou para pôr fim a sua vida e é um ato impulsivo desencadeado por sentimentos negativos que podem ser temporários. É por isso que em prevenção de suicídio a gente trabalha com a frase: “NÃO TOME UMA DECISÃO DEFINITIVA PARA UM PROBLEMA TEMPORÁRIO.

Rigidez: as pessoas que tentam suicídio possuem pensamentos fixos e constantes sobre suicídio, e encaram esta como única alternativa para enfrentar e resolver o problema.

Entretanto, vale um alerta: A PESSOA QUE SE MATA, NÃO QUER ACABAR COM SUA VIDA, MAS COM SUA DOR QUE LHE É INSUPORTÁVEL.

O suicídio é influenciado por diversos fatores. A depressão é um dos principais determinantes para o comportamento suicida e para ação efetiva (tentativas) entre adolescentes como em jovens.

Situações que envolvem violência física, homofobia, consumo abusivo de álcool e uso de drogas contribuem para aumentar a vulnerabilidade dos adolescentes e jovens para o suicídio. Sentimentos de não pertencimento, como a exclusão e não aceitação de si mesmo por parte do próprio adolescente, jovem, sua família e ou seus amigos são fatores que também aumentam o risco de suicídio.

Nos adolescentes dentre os principais determinantes para o suicídio também podem contribuir: indiferença, omissão dos pais sobre suas ações e emoções, violência familiar, cyberbullying e bullying. Contudo, o suicídio pode ser prevenido! E só pode ser prevenido se formos capazes de conhecer o fenômeno para acolher a dor dos outros e colaborar na prevenção.

Qual o papel da família nos cuidados a saúde mental?

Em relação à saúde mental, a família permanece como protagonista na promoção de fatores de proteção e redução dos fatores de risco às condições psicológicas de seus membros, crianças ou adultos.

Por este motivo, promova na sua casa momentos de conversa, exclua o sentimento de individualismo, substituindo-os por autoconhecimento. Escolha um dia da semana qualquer e um espaço de tempo, não superior a uma hora para vocês conversarem com seus filhos. Durante esse período desligue a televisão, assim como o rádio, tablets e smarthphones. Faça desse tempo um momento de “bate-papo” espontâneo, onde pais, filhos e, eventualmente, outros parentes ou amigos que moram na casa, estejam periodicamente se reunindo para conversarem. Falem da vida, do trabalho, da escola, dos amigos, das coisas que amam, dos sonhos que acalentam.

Muitos pais, quando vem seus filhos num estado de desesperança, os incentivam a tentar mais, a pensar positivo, dizendo que assim irão superar os problemas. Essa atitude pode fazer mais mal do que bem e não é recomendada por especialistas. Para que o diálogo tenha efeito positivo, você precisa estar aberto à escuta.

Também não se deve evitar menosprezar a dor alheia. Esses tipos de atitudes podem significar para o seu filho que o pai/mãe não é capaz de entender pelo que ele está passando. Consequências comuns desse sentimento de incompreensão é a baixa autoestima, o isolamento e o corte de diálogo.

O importante é tentar mostrar saídas e manter o diálogo sempre aberto. Enxergando que pode haver saída para o seu problema, estando ou não em boa saúde mental, os jovens encontrarão mais motivos para viver e menos para terminar com a vida. Veja algumas dicas para enfrentar essa situação:

- Não tenha medo de falar sobre o assunto, especialmente se notar os sinais de alerta.

-  Não recrimine pelo que ele (a) tem a dizer — se suas angústias forem tratadas como “bobagens” —, o adolescente se sentirá ainda pior.

-  Permita que ele se sinta acolhido.

-  Procure ajuda de um psicólogo ou psiquiatra.

-  Incentive hábitos que favoreçam o bem-estar para afastar a depressão e ansiedade do cotidiano.

O melhor caminho para os pais, é a sua presença na vida do seu filho, tentar fazer atividades com seus filhos, entrar no mundo deles, pois se isso for feito, talvez o suicídio não seja uma opção, o adolescente precisa entender que os pais são pessoas que eles podem contar, pois o apoio familiar é crucial para a decisão de o adolescente tentar ou não o suicídio.

“A vida é a melhor a melhor escolha” é o tema da Campanha do Setembro Amarelo 2.022.

A grande maioria das mortes por suicídios podem ser evitadas e o diálogo, sobretudo familiar é o melhor jeito de fazer isso. Se você ou alguém que você conhece está em sofrimento mental e ou emocional, peça ajuda.

Sacerdote, palestrante, escritor, membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio.

Hallel 2022 de Brasília (DF)

Hallel Brasília (DF) | Facebook

Hallel 2022 acontecerá no dia 17 de setembro na Capital Federal

Um dos maiores festivais de música católica da América Latina volta a acontecer em Brasília após três anos de espera. Há mais de 20 anos presente na capital, a XXIII edição do Hallel em Brasília (DF) acontecerá no dia 17 de setembro das 9h às 21h, no Pavilhão de Exposições do Parque da Cidade. Diversas bandas católicas irão se revezar nos palcos e módulos espalhados pelo evento. O festival ocorre em várias cidades do Brasil e tem como objetivo evangelizar de forma inovadora por meio da música. Neste ano, o evento contará com grandes nomes do cenário católico como Tony Allysson, Missionário Shalom, Ir. Kelly Patrícia, Fraternidade São João Paulo II, Eliana Ribeiro e Ministério Adoração e Vida. O evento também valoriza a produção local da cidade e abre espaço para bandas brasilienses e do entorno do Distrito Federal em espaços como o módulo dos músicos que receberá a Comunidade Católica Novo Ardor, Rafatrix, Hodie, Voz Eterna, Missão Band-Aid, Boy e Michele Abrantes.

Acolhendo o chamado do Papa Francisco, que convida os fiéis a irem de encontro com os mais necessitados, nesta edição, a organização pede ao público que a entrada ao evento seja feita mediante a doação
de um quilo de alimento não perecível, à exceção de sal e fubá. Todo o material arrecadado será doado a instituições da cidade. Apesar de ter como público alvo os jovens, o festival possui atividades para pessoas de todas as idades como Módulo da Pessoa Idosa, um espaço que aborda temas sobre como envelhecer com saúde física e mental, e o Hallelzinho, local voltado para crianças de até 12 anos com atividades lúdicas voltadas para a educação religiosa. Muito mais que música Além de muita música de qualidade, o evento proporciona ao público espaços de debates, partilhas e conhecimento.

Temas como sexualidade, fé e política, dentre outros, serão discutidos nos módulos. Haverá também a Praça Vocacional, espaço que reúne grupos, comunidades, congregações e movimentos, dando a oportunidade ao
público de conhecer a realidade e os carismas da Igreja de Brasília. No palco principal, a abertura do evento acontecerá às 9h00 com adoração seguida da oração do terço com o Exército de São Miguel. Às
18h00, as apresentações musicais terão uma pausa para a celebração da Santa Missa presidida pelo Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar e retomam às 19h30. A previsão é que o evento encerre às 21h30.

Hallel Brasília | arqbrasilia
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Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Comunismo, esquerda, direita e eleições

Lais Monteiro | Shutterstock
Por Vanderlei de Lima

Quando um clérigo troca o Evangelho pela política partidária (de esquerda, de centro ou de direita), ele expulsa o povo da Igreja.

Recebemos um artigo sem título, mas cheio sofismas. Sofisma é um raciocínio que, sob aparência de verdade, esconde um erro em virtude do qual se torna falso.

O texto trata de esquerda e direita, do comunismo, do capitalismo e da consciência humana. Diz, com palavras fortes, que a Igreja não é de esquerda ou de direita. Mais: “‘Católico não pode ser de esquerda!’ Onde está escrito isso? Então quer dizer que todos devem ser de direita? Onde está escrito isso também?”. 

A tendenciosidade do artigo – sempre à esquerda – parece clara, não? Todavia, de modo geral, ele está, neste ponto, próximo da verdade. A Igreja, por ser católica (do grego, katholikos), isto é universal, não se apequena, pois, num partido, parte do todo (cf. Gaudium et spes n. 75-76). O amor da mãe Igreja se estende, portanto, sem distinção alguma, a cada filho: da direita, da esquerda ou do centro. Destes o texto não tratou, mas é útil inclui-los aqui, pois muito se fala em “centrão” ou “terceira via”.

Isso posto, o artigo afirma: “A igreja condena o comunismo? Sim, condena. E o faz dentro de um contexto muito específico: Primeira e Segunda Guerras Mundiais e Guerra Fria. Para ser mais precisa: rechaça, com todas as letras, o materialismo ateu de todas as eras. A instituição também denunciou os males do capitalismo em várias ocasiões. Essa divinização do mercado e a lógica do lucro, que não condizem, em nada, com os princípios do catolicismo. João Paulo II chegou a dizer que esse sistema também havia contribuído com a degradação da Europa, para termos uma noção”. 

Aqui, já temos o sofisma. Ele cai por terra, no entanto, com a lembrança de um ponto básico da Doutrina Social da Igreja: o comunismo é “intrinsecamente perverso” (Pio XI.  Divini Redemptoris, n. 58; cf. Puebla, n. 543-544), isto é, mal em si mesmo. Não pode, de modo algum, conciliar-se com o Evangelho (cf. Pio XI. Quadragesimo Anno, n. 117; Paulo VI, Ecclesiam Suam, n. 105; João Paulo II, Centesimus Annus, n. 26 etc.); já o capitalismo, de si, não é mau se respeita a dignidade humana ou, na linguagem do Papa Francisco, se é “inclusivo” (Francisco, Aos membros do Conselho para um Capitalismo Inclusivo, 11/11/2019; cf. Pio XI. Quadragesimo anno, n. 101, e Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 512). Por isso, a Igreja não o denuncia em si, mas apenas ataca seus exageros. Mais: o artigo é contraditório, pois ou a Igreja condenou o comunismo apenas “dentro de um contexto muito específico” (1), ou “rechaça, com todas as letras, o materialismo ateu de todas as eras”, portanto também em 2022 e aí se inclui, por certo, o comunismo (2) ou para o texto só o capitalismo selvagem seria materialista e ateu, o que, como vimos, é falso (3). Logo, a repulsa ao comunismo é sempre válida. O Papa Francisco, por exemplo, afirmou: “Nunca compartilhei a ideologia marxista, porque ela é falsa” (ACI Digital, 05/03/2014, online).

Dito isso, em contrário da Igreja, o artigo parece mostrar-se relativista aos escrever que “nenhum partido consegue (nem conseguirá) corresponder integralmente aos princípios católicos. A própria Igreja, que não é ingênua, admite isso. Então, o que fazer? Apelar para a consciência. Votar não pensando somente em si, mas no coletivo, evitando essa idolatria partidária. Por isso, como católicos, não devemos aceitar nenhuma espécie de terrorismo eleitoral que nos force a sacralizar projetos de poder, pelo simples fato de que a Igreja Católica não o faz”. 

Outro sofisma: o verdadeiro católico é, sim, livre para votar em partidos de direita, de esquerda ou de centro, desde que eles respeitem os princípios da fé e da moral católica: por exemplo, a vida desde a concepção até o seu fim natural e digam não ao aborto e à eutanásia (cf. Congregação para a Doutrina da Fé. Nota doutrinal…, 24/11/2002). Aqui, está a linha tênue entre agradar a Deus ou aos homens da política partidária (cf. At 5,29).

Finalizando, quando um clérigo troca o Evangelho pela política partidária (de esquerda, de centro ou de direita), ele expulsa o povo da Igreja. Todavia, não é com sofismas ou fake news que se muda isso, mas apenas com a verdade (Jo 8,32).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa Francisco chega a Roma: concluída a viagem ao Cazaquistão

Papa Francisco com o presidente Tokayev  (Vatican Media)

Concluiu-se a 38ª viagem apostólica de Francisco, realizada de 13 a 15 de setembro no país asiático, por ocasião do VII Congresso de Líderes Mundiais e Religiões Tradicionais. O Papa chegou a Roma às 20h01, hora local.

Silvonei José – Vatican News

A 38ª Viagem Apostólica do Papa Francisco que o levou ao Cazaquistão e que teve início na terça-feira (13/09), se concluiu no início da noite desta quinta-feira, dia 15, hora de Roma. O avião papal tocou terra às 20h01, depois de percorrer 5.200 Km em pouco mais de 7 horas de voo. A chegada foi no aeroporto de Fiumicino. Depois Vaticano.

“Mensageiros de paz e de unidade”, foi o lema da viagem. No Cazaquistão o Papa Francisco falou de religião, de liberdade religiosa e de desafios entre os quais a pobreza, a paz, o acolhimento fraterno e a Casa Comum.

Num dos discursos aos presentes no VII Congresso de Líderes Mundiais e Religiões Tradicionais Francisco afirmou que a religião não desestabiliza a sociedade moderna.

Disse ainda que o mundo espera de nós o exemplo de almas despertas e mentes límpidas, espera uma religiosidade autêntica. “Chegou a hora – continuou – de despertar daquele fundamentalismo que polui e corrói toda a crença, chegou a hora de tornar límpido e compassivo o coração. Mas é hora também de deixar apenas aos livros de história os discursos que por demasiado tempo, aqui e noutras partes, inculcaram suspeitas e desprezo a respeito da religião, como se esta fosse um fator desestabilizador da sociedade moderna”.

“Portanto precisamos de religião para responder à sede de paz do mundo e à sede de infinito que habita o coração de cada homem”

Francisco afirmou ainda que  “condição essencial para um desenvolvimento verdadeiramente humano e integral “é a liberdade religiosa. Irmãos, irmãs, somos criaturas livres”. E, com ênfase Francisco, disse: “A liberdade religiosa constitui um direito fundamental, primário e inalienável, que é preciso promover em todos os lugares e que não se pode limitar apenas à liberdade de culto. De fato, é direito de cada pessoa prestar testemunho público da sua própria crença: propô-lo, sem nunca o impor”.

Ao falar sobre os efeitos da pandemia sobretudo nos países pobres Francisco vou a afirmar que “o maior fator de risco do nosso tempo continua a ser a pobreza. Enquanto continuarem a assolar disparidades e injustiças, não poderão cessar os vírus piores do que a Covid, ou seja, os do ódio, da violência, do terrorismo”.

E salientando o desafio que a paz nos apresenta hoje reafirmou que “se o Criador, a quem dedicamos a existência, deu origem à vida humana, como podemos nós – que nos professamos crentes – consentir que a mesma seja destruída? E como podemos pensar que os homens do nosso tempo – muitos dos quais vivem como se Deus não existisse – estejam motivados para se comprometer num diálogo respeitoso e responsável, se as grandes religiões, que constituem a alma de tantas culturas e tradições, não se empenham ativamente pela paz?”.

“Nunca justifiquemos a violência. Não permitamos que o sagrado seja instrumentalizado por aquilo que é profano. O sagrado não seja suporte do poder, e o poder não se valha de suportes de sacralidade!”

“Deus é paz, e sempre conduz à paz, nunca à guerra.

O VII Congresso de Líderes Mundiais e Religiões Tradicionais concluiu-se com a leitura da Declaração Final, que reafirmou o valor do Documento sobre a Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Coexistência Comum. Na sua despedida no aeroporto de Nur-Sultan o Papa foi recebido pelo presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart K. Tokayev. Na Sala VIP do Terminal Presidencial, realizou-se um breve encontro privado. O Chefe de Estado presenteou o Papa com uma “dombra”, o instrumento musical tradicional do Cazaquistão, ao qual o Pontífice se referiu em seu primeiro discurso público.

Em seguida depois da Guarda de Honra e a saudação das respectivas Delegações, o Papa embarcou num Airbus A330 da Ita Airways para retornar à Itália. Durante o voo realizou-se a programada a coletiva de imprensa com os cerca 80 jornalistas presentes.

O tweet de @Pontifex e o telegrama para o presidente

Deixando o Cazaquistão, o Papa escreveu expressou em seu tweet @Pontifex, gratidão ao povo do país asiático: "Agradeço-lhes pela acolhida recebida e pela oportunidade de passar estes dias de diálogo fraterno junto com os líderes de muitas religiões. Que o Altíssimo abençoe a vocação de paz e unidade do #Cazaquistão".

No telegrama enviado ao presidente do Cazaquistão, Kassym-Jomart Tokayev, o Papa expressou mais uma vez sua gratidão pela hospitalidade durante sua estada no país. "Asseguro minhas orações por vossa excelência e todos os seus cidadãos", escreveu Francisco.

Telegramas aos presidentes dos demais países sobrevoados

Ao presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, Francisco enviou saudações e disse rezar por ele e todo o povo. À presidente da Geórgia, Salome Zurabishvili, ao presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, e ao presidente da Bulgária, Rumen Radev, o Papa assegurou suas orações e invoca abundantes bênçãos de Deus para essas nações.

Francisco enviou saudações também ao presidente de Montenegro, Milo Đukanović, e a todo o povo, invocando sobre todos "as bênçãos dividas da paz".

Saudações também foram enviadas ao presidente da Bósnia e Herzegovina, Šefik Džaferović, ao presidente da Croácia, Zoran Milanović, e seus cidadãos, com garantia de suas orações.

Por fim, o Papa saudou o presidente italiano, Sergio Mattarella, recordando que foi ao Cazaquistão como "peregrino da paz", agradecendo a Deus pela oportunidade que teve de "encontrar as autoridades e o povo de um país antigo e contribuir para a construção de um mundo mais estável e pacífico". Francisco renovou ao presidente e ao povo italiano, suas sinceras saudações e sua bênção paterna.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF