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sexta-feira, 23 de setembro de 2022

História da Igreja: O Cisma Grego (Séc. IX e XI)

O Cisma | Cléofas

História da Igreja: O Cisma Grego (Séc. IX e XI)

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A ruptura entre bizantinos e ocidentais, que tomou sua forma definitiva no século XI, não é senão o último episódio de uma longa história ou da história das diferenças de duas mentalidades: a grega e a latina. Sobre a união na fé e no amor de Cristo, que estreitavam orientais e ocidentais, prevaleceu, infelizmente, a desunião humana natural.

Comecemos, pois, por examinar as raízes do cisma.

As diferenças entre bizantinos e latinos

1. Há uma diversidade fundamental, que se manifestava de maneiras diversas:

a) O gênio. Os gregos eram intelectuais, cultores da filosofia, das letras e das artes. A elaboração das grandes verdades da fé a respeito da SS. Trindade e de Jesus Cristo deu-se no Oriente (até o Concílio de Constantinopla III, 680/1). Por isto tendiam a desprezar os romanos e, mais ainda, os bárbaros invasores, como rudes e incultos. – Os latinos eram mais amigos da prática, da disciplina, do Direito; por isto tinham os gregos na conta de frívolos, inconstantes e tagarelas (cf. At 17,21); dizia-se no Ocidente: “Graeca fides, nulla fides”, isto é, “palavra de grego, palavra nula”. Essa diversa (índole suscitou, a partir do século V, um antagonismo crescente entre orientais e ocidentais.

b) A língua. Os primeiros documentos da Roma cristã eram redigidos em grego. Depois do século IV, porém, esta língua desaparece do Ocidente, dando lugar ao latim (= dialeto do Lácio ou da região de Roma). O latim era desprezado e desconhecido no Oriente, especialmente após o Imperador Justiniano (? 565). É de notar, por exemplo, que o arquidiácono latino Gregório (depois Papa), certamente homem de valor intelectual passou cinco anos na corte de Constantinopla como legado papal, sem aprender o grego; julgava que isto não valia a pena (fim do século VI). – Ora a ignorância mútua de línguas muito contribuiu para que as comunicações entre Oriente e Ocidente se tornassem mais raras e sujeitas a mal-entendidos; era preciso recorrer a intérpretes, que nem sempre eram fiéis (tenham-se em vista as atas do Concílio Niceno II referentes às imagens).

c) Liturgia e disciplina. Havia tradições diferentes no Oriente e no Ocidente, no tocante, por exemplo, ao calendário de Páscoa, aos dias de jejum (os latinos jejuavam no sábado; os gregos, não), à matéria da Eucaristia (pão sem fermento ou ázimo no Ocidente; pão fermentado no Oriente), ao celibato do clero, ao uso da barba (muito caro aos orientais) … Essas tradições, por não afetarem as verdades da fé, eram perfeitamente aceitáveis; haveriam, porém de tornar-se motivo de debates em tempos de controvérsia.

2. Ao lado da diversidade fundamental, levemos em consideração a mentalidade que se foi formando em Bizâncio ou o “bizantinismo”.

Em 330 Constantino transferiu a capital de Roma para Bizâncio, que ele quis chamar “a nova Roma”. Esta fora até então uma localidade insignificante, que muito sofrera por parte dos Imperadores Romanos. Do ponto de vista eclesiástico, Bizâncio também carecia de significado; a sua comunidade cristã não fora fundada por algum dos Apóstolos (como as de Jerusalém, Antióquia, Alexandria, Roma…); o primeiro bispo que se lhe conhece, Metrófanes, é do início do século IV (315-325) e sufragâneo31 do metropolita de Heracléia.

Compreende-se então que, o prestígio que Bizâncio não possuía por suas tradições, os bizantinos o quisessem obter por suas reivindicações. De modo geral, ia-se tornando difícil aos bizantinos reconhecer a autoridade religiosa de Roma, já que todo o esplendor da corte imperial se havia transferido para Constantinopla.

Acresce que os Imperadores bizantinos, herdeiros do conceito pagão de Pontifex Maximus (Pontífice Máximo no plano religioso), se ingeriam demasiadamente em questões eclesiásticas, procurando manter a Igreja oriental sob o seu controle. Os monarcas, nas controvérsias teológicas, muitas vezes favoreciam as doutrinas heréticas, contrapondo-se assim a Roma e ao seu bispo, que difundiam a reta fé. Os Patriarcas de Constantinopla, por sua vez, muito dependentes do Imperador, procuravam a preeminência sobre as demais sedes episcopais do Oriente e queriam rivalizar com o Patriarca de Roma, sucessor de Pedro, aderindo à heresia e provocando cismas: dos 58 bispos de Constantinopla desde Metrófanes até Fócio (858), um dos vanguardeiros da ruptura, 21 foram partidários da heresia; do Concílio de Nicéia I (325) até a ascensão de Fócio (858), a sede de Bizâncio passou mais de 200 anos em ruptura com Roma.

Registraram-se mesmo atos de violência cometidos por imperadores contra alguns Papas: Justino I mandou buscar à força o Papa Vigílio em Roma e quis obrigá-lo a subscrever normas religiosas baixadas pelo monarca (cerca de 550); Constante II procedeu de forma análoga contra o Papa Martinho I, que em Roma (649) se opusera à heresia monotelita, favorecida pelo Imperador; Justiniano II mandou prender em Roma o Papa Sérgio I, que não queria reconhecer inovações promulgadas pelo Concílio Trulano II (692); Leão III, iconoclasta, em 731 subtraiu a Roma a jurisdição sobre a Ilíria e sobre parte do “Patrimônio de S. Pedro” (Itália meridional).

3. O distanciamento entre orientais e ocidentais ainda foi acentuado pela criação do “Sacro Império Romano da Nação dos Francos”, cujo primeiro Imperador Carlos Magno recebeu a coroa, em 800, das mãos do Papa Leão III. – O descaso ou a hostilidade dos bizantinos associados à opressão dos lombardos no Norte da Itália, dera motivo a que os Papas se voltassem aos poucos, com olhar simpático, para o povo recém-convertido dos francos, pedindo-lhes o auxílio necessário para instaurar nova ordem de coisas no Ocidente. A entrega da coroa imperial a Carlos Magno visava a prestigiar os francos nessa sua missão. Como se compreende, em Bizâncio tal ato foi mal acolhido, os orientais julgavam que só podia haver um Império cristão, como só pode haver um Deus; o Imperador reinava em nome de Cristo e era como que o representante visível da unidade da Igreja; daí grande surpresa e escândalo quando souberam que o bispo de Roma sagrara em 800 um “bárbaro” para governar um segundo Império cristão!

Apesar de tudo, deve-se dizer que até o século IX o primado de Roma ainda era satisfatoriamente reconhecido pelos orientais. A tensão de ânimos se manifestou em termos novos e funestos sob a chefia dos Patriarcas Fócio (? 897) e Miguel Cerulário (?1059).

A ruptura sob Fócio

Em 858 foi ilegitimamente deposto por adversários políticos o Patriarca Inácio de Constantinopla. Em seu lugar, subiu à cátedra episcopal um comandante da guarda imperial, Fócio, que o Imperador favorecia. O novo prelado recebeu em cinco dias todas as ordens sacras e foi empossado, sem que a Sé estivesse vaga (pois Inácio não renunciara).

Não conseguindo impor-se ao bispo de Roma, que em 863 o declarou destituído das funções pastorais, Fócio, ainda apoiado pelo Imperador, abriu violenta campanha contra os cristãos ocidentais. A situação se tornou mais tensa pelo fato de que O Papa Nicolau I enviou missionários latinos à Bulgária, cujo rei Bóris, recém-batizado, hesitava entre a obediência a Roma e a obediência a Constantinopla. A entrada dos latinos em território tão próximo das fronteiras gregas irritou os bizantinos; a cólera chegou ao auge quando estes souberam que legados de Roma estavam a caminho de Constantinopla, onde deveriam informar o Imperador de que a Bulgária se tornara decididamente latina. Presos antes de penetrarem em território imperial, os legados do Papa foram expulsos (866); Fócio enviou uma carta aos bispos do Oriente condenando a conduta dos “ocidentais bárbaros”: além da evangelização da Bulgária, censurava-os por praticarem o jejum no sábado, celebrarem a Eucaristia com pão ázimo e,. principalmente, por terem acrescentado o Filioque ao Símbolo da Fé. Como sabemos, o credo niceno-constantinopolitano professava: “Creio no Espírito Santo, que procede do Pai… Todavia a partir de fins do século VI, a Igreja na Espanha propagou a fórmula: …que procede do Pai e do Filho (Filioque)”. Na França este acréscimo foi sendo aceito; Carlos Magno patrocinou-o. Os monges francos o cantavam no Monte das Oliveiras em Jerusalém, ainda que por isto fossem duramente atacados pelos gregos e acusados de heresia (808). 0 Papa Leão III (795-816), em atenção aos gregos, desaprovou o uso dos latinos e aconselhou os francos a deixar de o fazer; mas não foi atendido. – Ora Fócio levantou com veemência contra os ocidentais a acusação de terem alterado o Credo13.

Por conseguinte, um Concílio reunido em Constantinopla em 867 depôs Nicolau I, que morreu naquele mesmo ano, dez dias depois que o Patriarca Fócio fora destituído por uma revolução palaciana. Inácio foi recolocado na sé patriarcal. Em 869/70 celebrou-se o oitavo Concílio Ecumênico em Constantinopla, sob a direção de três legados papais; foi excomungado Fócio e a comunhão com Roma foi restabelecida. Mas de novo em 879 Fócio assumiu a sé de Constantinopla; reuniu um sínodo nesta cidade em 879/80, que rejeitou o de 869/70 e hostilizou os latinos (os gregos consideram este o oitavo Concílio Ecumênico). Fócio morreu num mosteiro em 897 ou 898. Os Patriarcas seguintes restauraram e confirmaram a união com Roma, a qual, porém, estava gravemente abalada após tantas discórdias.

A cisão definitiva em 1054

O século X foi marcado pela criação do Sacro Império Romano da Nação Germânica com a dinastia dos Otos (962) – o que muito irritou os bizantinos, que viam nesse fato a renovação do gesto de 800 (coroação de Carlos Magno Imperador). As relações com Roma eram frias; bastaria um pequeno incidente para reavivar as acusações feitas no passado. Isto, de fato, aconteceu em 1014: o Papa Bento VIII introduziu o Filioque no canto da Igreja Romana a pedido do Imperador Henrique II. O Patriarca bizantino Sérgio II reagiu propagando os escritos de Fócio sobre o assunto. Em 1043 tornou-se Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário, homem ambicioso, que deu livre curso à paixão antiromana; em 1053 mandou fechar as igrejas dos latinos em Constantinopla e confiscou os mosteiros destes; acusava-os principalmente de usar pão ázimo na Eucaristia; um dos funcionários imperiais parece ter calcado aos pés as hóstias dos “azimitas” como não consagradas. Estes fatos causaram grande agitação no Ocidente; o Cardeal Humberto da Silva Candida, erudito e talentoso, escreveu um “Diálogo”, em que refutava as objeções dos gregos e os acusava de Macedonismo (por não aceitarem o Filioque).

Todavia o Imperador bizantino Constantino IX desejava boas relações com o Papa Leão IX para que este o ajudasse a combater os normandos, que devastavam as possessões bizantinas na Itália Meridional; em resposta a uma carta do Imperador, Leão IX enviou uma legação a Constantinopla em 1054, composta pelo Cardeal Humberto da Silva Candida e por dois outros prelados. O Imperador mandou queimar um libelo acusatório anti-romano para favorecer o diálogo. Mas Miguel Cerulário se mostrou intransigente; chegou a proibir os Ocidentais de celebrar Missa em Constantinopla. A vista disto, os legados romanos reagiram com o recurso extremo: aos 16/07/1054, em presença do clero e do povo depositaram sobre o altar-mor da basílica de Santa Sofia em Constantinopla uma Bula33 de excomunhão contra Cerulário e seus seguidores; despediram-se do Imperador e tomaram o caminho de volta para Roma. – Os legados papais julgavam que, diante deste gesto, o Patriarca retrocederia. Em vão, porém. Miguel Cerulário excitou tumulto em Constantinopla contra o Imperador acusado de cumplicidade com os romanos; Constantino IX reagiu violentamente. Num Sínodo o Patriarca pronunciou o anátema sobre o Papa e seus legados e promulgou um manifesto que convidava os demais bispos do Oriente a se Ihe associarem. Na verdade, o proceder de Cerulário foi em breve imitado pelos outros bispos orientais e pelos povos evangelizados por Bizâncio (serbos, búlgaros, rumenos, russos), acarretando a grande divisão que até hoje perdura apesar das tentativas de reatamento que se deram nos séculos XIII e XV.

Quanto a Cerulário, levou sua paixão ao ponto de reivindicar para si as, insígnias imperiais; por isto em 1057 foi exilado pelo Imperador Isaac I e morreu no desterro em 1059.

Em nossos dias verifica-se que a cisão não se fundamenta apenas em motivos teológicos, mas também em razões de rivalidade cultural e política acobertadas por pretextos religiosos. A profissão do Filioque decorre de um estudo mais preciso do dogma trinitário, plenamente consentâneo com as verdades da fé; não é necessário que os orientais o introduzam no seu canto litúrgico. A excomunhão mútua de Roma a Constantinopla foi cancelada após o Concílio do Vaticano II e o caminho está aberto para bom entendimento entre orientais a latinos. Aqueles têm o título de ortodoxos, porque ficaram fiéis à reta doutrina durante as controvérsias cristológicas dos séculos V-VII.

A Santa Igreja, representada pelo sucessor de Pedro em Roma e pelos fiéis que estio em comunhão com ele, continua a ser, mesmo após a separação de Bizâncio, a depositaria junto à qual os homens encontram incontaminados os meios necessários à sua santificação.

Segurança alimentar: da cúpula da ONU, sete "linhas de ação" para superar a fome

Assembleia Geral da ONU, e, Nova York, de 12 a 27 de setembro 2022 | Vatican News

"Os sistemas alimentares e a segurança alimentar global estão em um momento crítico", dizem os líderes: pandemia, crise climática, altos preços de energia e fertilizantes e os conflitos prolongados, incluindo a invasão russa da Ucrânia, são as causas de um aumento dramático da insegurança alimentar global que só pode ser superada "trabalhando juntos para criar parcerias inovadoras no seio da comunidade global." "Mais de 200 milhões de pessoas não têm alimentos", diz presidente da União Europeia.

Vatican News

"Sete linhas de ação específicas" estão contidas na declaração que da Cúpula de segurança alimentar global à margem da sessão da Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, em andamento de 12 a 27 de setembro.

Trabalhar juntos para superar a insegurança alimentar global

"Os sistemas alimentares e a segurança alimentar global estão em um momento crítico", dizem os líderes: pandemia, a crise climática, altos preços de energia e fertilizantes e os conflitos prolongados, incluindo a invasão russa da Ucrânia, são as causas de um aumento dramático da insegurança alimentar global que só pode ser superada "trabalhando juntos para criar parcerias inovadoras no seio da comunidade global."

Entre os sete compromissos estão, em primeiro lugar, "novas doações financeiras adicionais para as principais organizações humanitárias" a fim de fornecer "assistência humanitária imediata para salvar vidas"; e, em segundo lugar, os mercados: os mercados de alimentos, fertilizantes e agrícolas devem permanecer abertos e devem ser monitorados para "garantir total transparência".

Mais de 200 milhões de pessoas não têm alimentos

Como com as vacinas em tempos de Covid, há agora a necessidade de aumentar a produção e a inovação no setor de fertilizantes, mas também há a necessidade de "acelerar os esforços para apoiar a agricultura sustentável e os sistemas alimentares, através do fortalecimento da produtividade agrícola", e trabalhar para a resiliência dos países mais afetados.

O investimento em pesquisa e tecnologia também é necessário "para desenvolver e implementar inovações agrícolas de base científica e resistentes ao clima". "Mais de 200 milhões de pessoas não têm alimentos", disse o presidente da União Europeia, Charles Michel, advertindo que "é hora de nossos compromissos políticos se tornarem ação".

(com Sir)

O livro de Josué

Sagradas Escrituras | iCatólica

O LIVRO DE JOSUÉ

Dom Carlos José

Bispo da Diocese de Apucarana – Paraná 

"Sejam praticantes da Palavra, e não apenas ouvintes, enganando vocês mesmos". (Tg 1,22)

A Bíblia continua sendo a bússola do cristão. Nela, a Palavra de Deus se atualiza para que o povo escolhido entenda que a mensagem do Criador continua sendo a mesma, para todas as gerações, de ontem, de hoje e as futuras. Indubitavelmente, a Palavra de Deus jamais passará! A ação inegável do Espírito Santo transforma a Palavra sem alterar seu sentido, atualizando-a, para o nosso entendimento em nossos dias. Esse é um dos mistérios de nossa fé! A grandeza do amor do Pai se expressa de inúmeras maneiras, muitas das quais, a mente humana não alcança. A verdade absoluta é que Deus jamais abandona seu povo, mesmo que O deixemos, Ele permanece, sempre, amando e esperando nossa volta aos seus braços. Se alcançássemos o quão maravilhoso é a pertença a Deus, jamais sairíamos dos seus braços, jamais deixaríamos o aconchego que Ele nos oferece. Infelizmente, nossa humanidade é cheia de percalços e tropeços, somos, ora dependentes demais, ora, demais autossuficientes, e nesse ir e voltar, muitos se perdem no caminho, seja pela falta de perspectivas ou mesmo por falta de conhecimento. O mês de setembro, para nós, é o mês voltado de forma especial para a Bíblia, tendo como objetivo o aprofundar e propagar os estudos bíblicos em meio às comunidades católicas, seja para um maior entendimento, ou para que se crie um hábito saudável de estudar e se familiarizar pela Palavra, que é a Voz de Deus para nós. Neste ano, escolheu-se para reflexão e estudo o livro de Josué, tendo como lema “O Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andes" (Js 1,9). Após a morte de Moisés, Josué foi escolhido por Deus para conduzir o povo à terra prometida. Ambos, Moisés e Josué, cada qual a seu tempo, viveram a experiência do encontro pessoal com o Senhor (Moisés Ex, 3,1-5 e Josué 5,13ª-14b-15), aqui percebemos a Teofania, ou seja, Deus se manifesta, outorgando pessoalmente a Josué, como fez com Moisés, a responsabilidade da condução do povo à terra prometida. Como é lindo percebermos a forma com que Deus usa as novas gerações para dar continuidade ao seu plano de salvação, mantendo seu poder Divino ao mostrar a Josué que sua missão é dar continuidade ao que Moises iniciou, mas agora com novas perspectivas e desafios, seguindo os bons exemplos de seu antecessor, porém, segundo suas próprias decisões, submetendo-se ao comando de Deus. Ao longo da caminhada, muitos foram os momentos em que, tudo o que o povo tinha, era apenas a fé, e isso os impulsionava, isso lhes bastava. Tudo o que podiam contar para continuar sua luta era a fé de que Deus lutava com eles, permanecia com eles; essa era a única e necessária certeza de que poderiam chegar à vitória: Deus estava com eles, a promessa seria cumprida. Todo o Livro de Josué enfoca a fé do povo, a certeza da presença de Deus em todas as dificuldades, lutas e provações. A travessia do Jordão, a conquista de Jericó, toda e cada batalha vencida dava ao povo a certeza de que ‘O Senhor teu Deus está contigo por onde quer que andes”. Com Josué o povo viu o cumprimento da promessa de Deus, alcançaram a terra onde corre leite e mel, não pela labuta de suas mãos, mas pelo poder que emana de Deus. Eles, em sua caminhada, escolheram a Deus. “Porém, escolhei hoje a quem quereis servir… quanto a mim, eu e minha casa serviremos ao Senhor”. (Js 24, 15). Para nós, cristãos de hoje, quem escolhemos para caminhar conosco? Num mundo tão marcado por incoerências, idolatrias, disputas de poder; onde Deus fica esquecido nos Sacrários e deixado como última opção, somos chamados, agora, a escolher com quem queremos caminhar, a quem queremos servir. Que a Senhora da Paz, a doce Virgem Maria nos ajude.

Francisco encontra os jovens neste sábado em Assis

Encontro Economia de Francisco | Vatican News

Nesta sexta-feira os jovens estão percorrendo as pegadas de São Francisco visitando os lugares onde viveu o pobrezinho de Assis. Depois os encontros em 12 aldeias sobre temáticas diversas que vão do papel da mulher na economia à sustentabilidade e meio-ambiente.

Silvonei José – Assis – Vatican News

A pequena cidade italiana da Úmbria famosa em todo o mundo pelos seus filhos prediletos Francisco e Clara, acolhe desde quarta-feira cerca de mil jovens economistas provenientes de 120 países que nos últimos dois dias participaram do evento global Economia de Francisco. Um evento desejado pelo Papa para refundar a economia com um capital de valor inestimável: o da fraternidade.

Economia de Francisco, um movimento internacional de jovens economistas, engajados num processo de diálogo inclusivo, nasceu após a carta do Pontífice, dirigida em 2019 a jovens economistas, empreendedores e empresárias de todo o mundo. Esse apelo tornou-se um processo para repensar a economia. Os dois primeiros encontros foram realizados on-line por causa da pandemia.

Este terceiro encontro, o primeiro em presença, foi aberto nesta quinta-feira de manhã. Acolhendo os jovens entre os voluntários da Economia de Francisco, a Irmã Francesca Violato, das Irmãs Franciscanas Elizabetanas de Pádua, missionária no Equador há 20 anos.

"Há um mundo que se derrama em Assis. Um mundo de jovens, apaixonados pela economia. E foi bom", explica a Irmã Francesca Violato, "vê-los chegar: não houve problema com o idioma porque o sorriso, o abraço não faltou. Uma fraternidade respirada. Nos meus olhos, tenho a imagem dos jovens que chegaram à estação: uma longa fila de jovens entusiastas".

Economia de Francisco - Assis | Vatican News

O encontro com o Papa

Nesta sexta-feira os jovens estão percorrendo as pegadas de São Francisco visitando os lugares onde viveu o pobrezinho de Assis. Depois os encontros em 12 aldeias sobre temáticas diversas que vão do papel da mulher na economia à sustentabilidade e meio-ambiente.

O Brasil está presente com cerca de 100 jovens que trouxeram para Assis as suas propostas e projetos, na tentativa de responder ao chamado de Francisco para construir outros modelos econômicos que não aposte na exploração da Mãe e Irmã Terra.

O olhar desses jovens é para este sábado, quando Francisco vem até eles em Assis, para olhar seus rostos sorridentes e estimulá-los a continuarem neste processo de transformação de uma economia que coloca a pessoa no centro de toda ação.

A presença do Papa Francisco no encontro - dizem os jovens - já nos compromete ao modelo que priorize uma economia comprometida com processos de vida.

Começa a primavera, trazendo um lembrete importante sobre ciência e fé

alefbet | Shutterstock
Por Francisco Vêneto

Uma "provoca" saudavelmente a outra a dar respostas para perguntas instigantes sobre a origem e a finalidade da ordem natural.

O Hemisfério Sul vive hoje o início da primavera, que traz um lembrete importante sobre ciência e fé.

A popular estação das flores começa oficialmente neste dia 22 de setembro, às 22h04 pelo horário de Brasília, na maior parte do território brasileiro: a exceção, naturalmente, são as porções do país que ficam no Hemisfério Norte, o que inclui a quase totalidade do Amapá e de Roraima, assim como partes do Amazonas e do Pará.

A transição para a nova estação é marcada pelo equinócio, um fenômeno que ocorre duas vezes por ano e dá início à primavera e ao outono. Em ambas as ocasiões, a luz do sol incide da mesma forma sobre os dois hemisférios, o que faz com que, nessas duas datas, os dias e as noites tenham praticamente a mesma duração de 12 horas cada. Este, aliás, é o significado da palavra equinócio, do latim “aequus” (igual) e “nox” (noite): “noites iguais”.

Primavera e ciência

A explicação para este fenômeno parte do fato de que, enquanto vai completando a sua órbita de um ano ao redor do sol, o planeta Terra também vai girando em torno do seu próprio eixo, num movimento contínuo que demora 24 horas para completar cada volta.

Acontece que o eixo da Terra tem uma inclinação de 23,5 graus em relação ao seu plano de órbita, e é dessa inclinação que derivam as estações do ano. Se o eixo estivesse a 90º ou fosse perpendicular ao plano de órbita da Terra, o nascer e o pôr-do-sol aconteceriam na mesma hora todos os dias e, por conseguinte, não existiriam diferentes estações. Por causa da inclinação do eixo da Terra, o nosso planeta fica mais “inclinado” em direção ao sol durante o verão e mais afastado dele durante o inverno.

Entretanto, nos equinócios, nenhum polo da Terra fica inclinado em relação ao sol, o que leva os raios solares a incidirem sobre a linha do Equador e a iluminarem os dois hemisférios com a mesma intensidade.

Ordem, razão e criação

Essa harmonia natural testemunhada pela ciência indica a existência de uma ordem inteligível no universo, o que, no mínimo, gera perguntas instigantes sobre até que ponto a lógica verificável e previsível do cosmo poderia ser mero resultado de puro acaso surgido do nada e por razão nenhuma.

Outra perspectiva aberta pela constatação dessa lógica da natureza é a de que ela tenha sido querida e criada por uma Inteligência Superior, o que aciona o “importante lembrete” mencionado no título desta matéria: o lembrete de que a fé e a razão dialogam continuamente, já que uma “provoca” saudavelmente a outra a dar respostas para perguntas instigantes sobre a origem e a finalidade dessa ordem natural.

A esse respeito, recomendamos o seguinte artigo sobre o assim chamado “Princípio Antrópico“: ele aborda a interessante questão de se Deus teria tido ou não escolha ao criar o universo.

Ainda envolvendo ciência, religião e primavera, não deixe de recordar como foi que surgiu o nosso atual calendário, o gregoriano, que foi implantado por um Papa há cerca de 450 anos:

Fonte: https://pt.aleteia.org/

São Pio de Pietrelcina

São Pio e Papa Francisco | ArqRio
23 de setembro

São Pio de Pietrelcina

Nasceu em 25 de maio de 1887 um dos mais conhecidos e amados santos dos últimos séculos. Com nome de Francisco, tal como aquele a quem ele santamente buscou seguir, Francisco de Assis, o filho de Grazio Forgione e Maria Giuseppa de Nunzio, desde muito jovem, tinha na Cruz do Senhor sua fortaleza, sabedoria e glória, e com tamanha humildade de discípulo quis generosamente seguir a Cristo. Segundo sua mãe, “nunca cometeu alguma falta, não tinha caprichos, sempre obedeceu” e, além disso, “a cada manhã e a cada tarde ia à Igreja visitar a Jesus e a Virgem”. Segundo padre Agostinho, um dos diretores espirituais de São Pio, com apenas cinco anos, o santo começou a viver suas primeiras experiências místicas espirituais, e os êxtases e aparições eram constantes, o que parecia absolutamente normal para o jovem Francisco.

Recebeu a primeira eucaristia e foi crismado aos 12 anos, e já aos 16, Francisco Forgione ingressou no noviciado da Ordem dos Frades Franciscanos, em Morcone, onde passou a chamar-se Frei Pio. Em 1910, São Pio foi ordenado sacerdote e por questões de saúde permaneceu em diversos conventos da província de Benevento até 1916, quando seria enviado para o convento que o acolheria até o fim da vida: San Giovanni Rotondo.

São Pio recebeu tamanhas graças durante a sua vida e fez grande esforço de manifestá-la em seu ministério para santificar a cada um de seus numerosos filhos espirituais. Costumava despertar à noite, muito antes da aurora, se dedicava à oração e com grande fervor aproveitava para visitar Jesus sacramentado durante longas horas, de onde tirava forças para atender até 14 horas de confissões diariamente e celebrar a Santa Missa. O testemunho daqueles que tinham a graça de participar do Santo Sacrifício em sua presença era de um abrasado amor a Deus e profunda piedade. Claramente, este era o ápice da espiritualidade deste simples e zeloso sacerdote que dizia: “Se fosse por mim, não desceria nunca do altar”.

O dom da ciência foi extraordinariamente manifesto em São Pio, o que o fazia enxergar claramente o arrependimento nas pessoas e levava, em algumas ocasiões, a despedi-las sem absolvição. Por vezes, revelava ele os pecados do pecador, em vista de provocar verdadeira conversão no penitente e rejeição radical ao pecado. Uma senhora testemunhou que em 1945 sua mãe a levou a San Giovanni Rotondo para que conhecesse Padre Pio pessoalmente e se confessasse com ele. Enquanto esperava a sua vez, pois tinha muita gente, pensava em tudo o que tinha que dizer ao padre. Porém, quando estava na sua presença, ficou paralisada. Padre Pio em seguida se deu conta da sua timidez e, com um sorriso, lhe disse: “Você quer que eu fale por ti?”. Ela consentiu por meio de um sinal e, depois de algum instante, ficou perplexa: “Não pude acreditar!”. Ele disse, palavra por palavra, tudo o que ela havia querido dizer-lhe. Ao se despedir dele com uma imensa alegria no coração, enquanto regressava de trem, sentiu um intenso perfume de flores do qual nunca esqueceu. Era um odor de santidade, certamente a presença de Padre Pio, e isso a encheu de felicidade.

Um dos maiores acontecimentos da sua vida aconteceu na manhã do dia 20 de setembro de 1918, enquanto rezava diante do Crucifixo do coro da velha e pequena igreja do convento. Ele recebeu os estigmas, as feridas de Jesus Crucificado, as quais eram visíveis e ficaram abertas, frescas e sangrentas por meio século. Este fenômeno extraordinário tornou a chamar, sobre o Padre Pio, a atenção de diversos médicos, estudiosos, jornalistas, e toda a gente comum que, por muitas décadas, foram a San Giovanni Rotondo para encontrar o santo frade. Numa carta ao padre Benedetto, datada de 22 de outubro de 1918, o Padre Pio narra a sua “crucifixão”:

“Meu Deus! Que confusão e que humilhação eu tenho o dever de manifestar o que Tu tendes feito nessa mesquinha criatura! […] Foi na manhã do 20 do mês passado (setembro) no coro, depois da celebração da Santa Missa, quando fui surpreendido pelo descanso do espírito, pareceu um doce sonho. Todos os sentidos interiores e exteriores, além das mesmas faculdades da alma, se encontraram numa quietude indescritível. Em tudo isso houve um silêncio em torno de mim e dentro de mim; senti em seguida uma grande paz e um abandono na completa privação de tudo e uma disposição na mesma rotina. Tudo aconteceu num instante. E em quanto isso se passava, eu vi na minha frente um misterioso personagem parecido com aquele que tinha visto na tarde de 5 de agosto. Este era diferente do primeiro, porque tinha as mãos, os pés e o peito emanando sangue. A visão me aterrorizava, o que senti naquele instante em mim não sabia dizê-lo. Senti-me desfalecer e morreria, se Deus não tivesse intervindo sustentar o meu coração, o qual sentia saltar-me do peito. A visão do personagem desapareceu e dei-me conta de que minhas mãos, pés e peito foram feridos e jorravam sangue”.

São Pio se considerava inútil, indigno dos dons de Deus, cheio de misérias, e repetia: “Quero ser apenas um pobre frade que reza”. O grande santo de Pietrelcina faleceu no dia 23 de setembro de 1968, após pedir para vestir o hábito religioso, confessar-se e renovar seus votos franciscanos. A fama de santidade e de milagres fez-se bastante presente durante toda sua vida e foi crescendo cada vez mais. Peçamos por sua intercessão a graça de tomarmos nossos sofrimentos como caminho de santificação, sendo obedientes a Deus e vigilantes na oração para alcançarmos a santidade desejada pelo Senhor:

“Fica Senhor comigo, pois é só a Ti que procuro o Teu amor, a Tua graça, a Tua vontade, o Teu coração, o Teu Espírito, porque te amo, e a única recompensa que te peço é poder amar-te sempre mais. Como este amor resoluto, desejo amar-te de todo o coração enquanto estiver na terra, para continuar a te amar perfeitamente por toda a eternidade. Assim seja”.

São Padre Pio, rogai por nós!

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

Dicas para ajudar na luta contra a depressão

Editora Cléofas

Dicas para ajudar na luta contra a depressão

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A depressão tornou-se uma verdadeira epidemia em nossos dias. Pessoas de todos os níveis sociais, de todas as idades e de todos os países, são atingidas por ela.

Mas é preciso saber de uma coisa: você não é obrigado a ser deprimido; a depressão tem cura! Não se entregue a ela como se estivesse num “beco sem saída”; ao contrário, lute para vencê-la, com a graça de Deus e a ajuda da medicina e da psicologia.

Deus ama você e tem um plano para a sua vida.

Ele não o criou para ser uma pessoa triste e derrotada, creia nisto. Jesus disse: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10), e para isto Ele aceitou até morrer dolorosamente numa cruz. Cristo quer dar a você esta vida plena e abundante. Mas é preciso fazer a sua parte, querer e lutar. A graça de Deus não dispensa a natureza, mas a supõe e a enriquece. Deus não age contra a sua liberdade e a sua vontade.

Conheça algumas atitudes importantes que você precisa ter para lutar contra a depressão com a ajuda da fé. Lógico, sem excluir a ciência, a Medicina. A ciência e a fé andam juntas!

1. Jesus Cristo é o Médico de sua alma. Vá ao Seu encontro na oração, nos Evangelhos, na Confissão e na Eucaristia. “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo” (Rm 10,13).

2. Viva no Espírito Santo. O invoque continuamente. Ponha Deus no centro do seu coração. Quem está controlando a minha vida? Quem está sentado no trono do meu coração? É Jesus ou eu?

3. Perdoar a todos os que ofenderam e rezar por cada um deles. Há alguém na vida que eu ainda não perdoei?

4. Renove sua mente com a Palavra de Deus. Memorize versículos bíblicos que lhe dão força espiritual, alegria e paz. Use os Salmos para vencer o medo e dar glória a Deus.

5. Tenha uma imagem sadia de você mesmo. Aceite-se como filho de Deus, e como Ele te fez. Nada de negativismo, pessimismo, reclamação e críticas.

6. Busque primeiro o Reino de Deus (Mt 6,33). “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mt 22,37). O resto virá por acréscimo.

7. Entregue-se a Deus, e sirva os outros. “Dai, e servos à dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordante, vos deitarão no vosso regaço” (Lc 6,38).

8. “Em todas as circunstâncias dai graças pois esta é a vontade de Deus” (1Ts 5,18). Louve a Deus em todas as circunstâncias.

9. Seja agradecido a Deus. Muitas pessoas deprimidas são mal agradecidas aos outros e a Deus.

10. “Não vos preocupeis com a vossa vida” (Mt 6,25). Faça a sua parte e deixe o resto nas mãos de Deus. Com Jesus e Maria, fique acima dos problemas, e não permita que eles sufoquem sua vida.

11. Aceite sempre a vontade de Deus. “Aceita tudo o que te acontecer” (Eclo 2,4). Diga: se assim Deus quer, eu também quero; pois é bom para mim. “Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus”. “Se Deus é por nós quem será contra nós?”. “Tudo posso Naquele que me dá forças”.

12. “Não temas, crê somente”. Deus está no comando de tudo. Em Nome de Jesus expulse o medo do seu coração.

13. Não cultivar a autopiedade. Não fique com pena de si mesmo.

14. Quando estou sofrendo, Deus está fazendo uma obra de salvação e purificação em mim. Junte às suas lágrimas e dores no cálice do sangue do Senhor.

15. Lembre-se, todo problema tem solução, e para Deus não existe beco sem saída! Paciência, tudo passa, só Deus basta.

16. “Viva um dia de cada vez”. A cada dia basta o seu mal. Não se preocupe com o futuro. Ponha-o nas mãos de Deus.

17. Controle a imaginação; não deixar que a “louca da casa” fique solta. Não sofra com aquilo que ainda não aconteceu. “Não sangrar antes do tiro”.

18. Não fique remoendo os problemas à noite. Nessa hora “o mosquito fica do tamanho de um elefante”.

19. Não deixe de trabalhar e de lutar na depressão! Nunca ficar prostrado em uma cama. Levantar-se, rezar, caminhar, fazer ginástica, ler um bom livro, sair para conversar com um amigo, socorrer um necessitado… não se entregar.

20. Reze o Terço, se consagre a Nossa Senhora, São José, aos Anjos e Santos e a seu Anjo da Guarda. Tenha sempre consigo um livro de orações e a Bíblia. Bendiga a Deus sem cessar.

Retirado do livro: “A Luta Contra a Depressão”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

O profeta da liberdade católica

Antonio Rosmini | Wikipedia
30Dias - Extraído do número 09 - 2007

O profeta da liberdade católica

Ele dialogou com os grandes homens de sua época; travou a batalha por aquele catolicismo liberal que mais tarde venceria a guerra na democracia ocidental típica da segunda metade do século XX; escreveu milhares de páginas de filosofia. Mas nada disso o teria salvo da censura, se não fossem os rosminianos

de Giuseppe De Rita

O frontispício do ensaio Das cinco chagas da
Santa Igreja
, obra publicada pela primeira vez
por Rosmini em 1846, que seria inserida
no Índice em junho de 1849

O frontispício do ensaio Das cinco chagas da Santa Igreja, obra publicada pela primeira vez por Rosmini em 1846, que seria inserida no Índice em junho de 1849

Um mestre que só seus discípulos salvaram de ser censurado na cultura e na Igreja. Esse foi o misterioso mecanismo que, um século e meio depois, levou a Igreja a decidir beatificar Antonio Rosmini.
Ao longo de sua vida, ele dialogou com os grandes homens de sua época, de Carlos Alberto a Pio IX, passando por Manzoni; travou com vigor a batalha pelo catolicismo liberal que mais tarde venceria a guerra na democracia ocidental típica da segunda metade do século XX; e, especialmente, escreveu milhares de páginas de filosofia, de cultura religiosa, de reflexão social. Mas nenhuma dessas três presenças (a amizade dos grandes homens, o fato de ter profetizado a “liberdade católica”, de ter escrito milhares de páginas) teria salvo Rosmini do esquecimento e da rejeição. Ele teve muitos inimigos, especialmente dentro da Igreja; era muito difícil, e continua a ser, entender seu pensamento; muitos, estudiosos e membros do clero, preferiram considerá-lo inteligente demais para as pobres mentes dos fiéis. Além de tudo isso, o Santo Ofício o pôs de castigo, uma circunstância que acabou por ser um bom álibi para todos.
Se ele se salvou da censura generalizada e coletiva, deve-o principalmente aos rosminianos, a seus discípulos do Instituto da Caridade, que ele criou, tenazmente fiéis a sua maneira de ser Igreja, contra todo tipo de ostracismo. Foram os rosminianos que, com suas escolas, formaram dezenas de milhares de jovens usando uma filosofia de formação de cunho personalista e liberal, implicitamente contraposta à pedagogia estatal totalizante ou à pedagogia jesuítica militante (à qual, de resto, devo minha maneira de pensar). Foram os rosminianos que continuaram com constância, durante décadas, mas sem um protagonismo público, a levantar o problema da qualidade estrutural da Igreja, propondo a leitura de As cinco chagas e, mais ainda, afirmando o primado espiritual de sua liberdade sobre o poder temporal. Foram os rosminianos que escolheram dialogar com aquela parte da elite cultural italiana que durante décadas cultivou um espírito democrático, um senso de convivência coletiva, um fôlego cotidiano de caridade espiritual; posso dar testemunho do prestígio “elitista” que cercava padre Bozzetti nos anos do pós-guerra, e muitos podem testemunhar a forte influência que Clemente Riva teve sobre uma parte importante da mais recente classe dirigente italiana.
Foram os rosminianos, portanto, teimosamente convencidos de que estavam certos, mesmo nos períodos de maior frustração, que salvaram Rosmini de um potencial (e por muitos desejado e provocado) esquecimento. Palmas, portanto, para eles. Mas palmas também para seu fundador, se é verdade que os líderes são reconhecidos por seus seguidores: no fundo, foi a profundidade de seu pensamento (inesgotável, para quem teve contato com ele) que tornou poderosa a vontade dos rosminianos de dar testemunho dele. Como dizia Buber, “é a raiz que sustenta”.
Escolher quais dos componentes dessa “raiz” têm maior importância relativa é uma coisa difícil, mas, como “diletante agregado” do mundo rosminiano, parece-me que Rosmini e os rosminianos tiveram razão a respeito de quatro grandes temas, primeiramente ao insistir neles contra tantos adversários e, além disso, fazendo que pouco a pouco penetrassem na consciência coletiva, mesmo sem um protagonismo público e midiático próprio.
O primeiro tema é o da liberdade religiosa. Depois do Concílio Vaticano II, parece uma opção óbvia. Mas olhemos para os tempos de Rosmini, quando o Estado da Igreja e o pontífice soberano ainda existiam, e ninguém certamente se escandalizava com isso, já que estava escrito no Estatuto Albertino que o catolicismo era “religião de Estado”. O único que reagiu duramente contra isso foi Rosmini, que escreveu: “A religião católica não precisa de proteções dinásticas, mas de liberdade. Precisa de que sua liberdade seja protegida, nada além disso”. A Igreja, sendo sociedade natural e espontânea, não se condensa no poder, mas infiltra-se e penetra por toda parte, como o ar e a água; só necessita não ser coagida. A fé entra nos corações sem passar por poderes de cúpula. Não foram muitos os que, nas décadas marcadas pelo Vaticano I, tiveram a coragem de fazer afirmações desse tipo.
O segundo grande tema rosminiano foi a liberdade do papado ante seu poder temporal. Em outra oportunidade lembrei uma carta de Rosmini ao cardeal Castracane, de 1848, na qual ele escrevia: “Se ocorresse a unidade federativa da Itália, o sumo pontífice seria um príncipe totalmente pacífico, e enviaria núncios para as questões espirituais; e os enviaria, ainda por cima, não aos príncipes, mas às Igrejas do mundo todo”. Ele enxergou bem, e os fatos lhe deram razão, pois correspondem hoje a essa opção, feita por ele, repito, em 1848, ou seja, mais de vinte anos antes da unificação nacional de 1870.
Os dois temas para os quais chamei a atenção até aqui (liberdade religiosa e afastamento do poder temporal) ligam-se subterraneamente a outro grande tema rosminiano: a recusa a estar sob o domínio do poder político, a grande opção que fez de Rosmini o porta-bandeira italiano do catolicismo liberal, e – se o termo não perturbar a ninguém – do catolicismo democrático. Sempre apreciei muito sua recusa a estar sob uma “autoridade que não cria sociedade, mas domínio e servidão”, até porque ligo essa frase a uma outra, que diz que “a construção da sociedade é um conjunto de ações e uma pluralidade de pessoas”, na qual se percebe o início da temática do pluralismo cultural e político e do “desenvolvimento do povo” que caracterizou a democracia italiana nas últimas décadas.

O primeiro tema é o da liberdade religiosa. Depois do Concílio Vaticano II, parece uma opção óbvia. Mas olhemos para os tempos de Rosmini, quando o Estado da Igreja e o pontífice soberano ainda existiam, e ninguém certamente se escandalizava com isso, já que estava escrito no Estatuto Albertino que o catolicismo era “religião de Estado”

Para mim, é natural e espontâneo ligar essa fé no desenvolvimento realizado por uma pluralidade de pessoas à consideração de que uma sociedade com muitos sujeitos só pode crescer, só pode explorar com serenidade todas as suas possibilidades se respeita e faz respeitar todos os direitos, que cultiva a segurança de todos os direitos, o uso livre de todos os direitos. Este, simplesmente, é o liberalismo de Rosmini, que depois criou muitos problemas a ele e a sua Congregação: a sociedade deve ser construída de modo tal que todos possam fazer uso livremente de seus direitos. E este é o conceito de bem comum que sua complexa reflexão sócio-política deixa transparecer: a subjetividade, na medida em que permanece fechada em si mesma, não é vital, mas passa a sê-lo quando entra em relação com os outros, “conspira com os outros para a criação de uma sociedade que tenha como finalidade comum o uso livre dos direitos”.
Nesta altura, dá para imaginar o quanto eu gostaria de me embrenhar pelos outros percursos que essas temáticas abrem: o valor da subjetividade individual como grande motor social, quando não se deixa tentar pelo subjetivismo ético; o valor da relação como percurso de vidas que não se fecham pondo-se a si mesmas como centro, de maneira narcisista e/ou por lendo-os e levando-os, com o tempo, a serem temas não de uma minoria rejeitada, mas de uma ala da Igreja que marcha em sua evolução histórica nos últimos cento e sessenta anos. Foram humildemente fiéis à Igreja e a seu fundador e profeta; merecem todos eles, mesmo os que já não estão entre nós, sentir como uma vitória sua o fato de terem chegado à meta da beatificação.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF