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“Sem o Espírito não há Igreja, pois é ele que a cria e recria em Cristo." Vatican News |
"Somos
diferentes, na variedade das qualidades e dos dons. O Espírito distribui-os com
criatividade, sem rebaixar nem nivelar. E, a partir desta diversidade, constrói
a unidade. Assim procede desde a criação, porque é especialista em transformar
o caos em cosmo, em criar harmonia. Ele é especialista em criar as
diversidades, as riquezas; cada um com a sua, diversa. Ele é o criador desta
diversidade e, ao mesmo tempo, é Aquele que harmoniza, que dá harmonia, e dá
unidade na diversidade."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“Igreja,
comunhão viva na fé dos Apóstolos que ela transmite, é o lugar do nosso
conhecimento do Espírito Santo: nas Escrituras, que Ele inspirou; na Tradição,
de que os Padres da Igreja são testemunhas sempre actuais; no Magistério da
Igreja, que Ele assiste; na liturgia sacramental, através das suas palavras e
dos seus símbolos, em que o Espírito Santo nos põe em comunhão com Cristo; na
oração, em que Ele intercede por nós; nos carismas e ministérios, pelos quais a
Igreja é edificada; nos sinais de vida apostólica e missionária; no testemunho
dos santos, nos quais Ele manifesta a sua santidade e continua a obra da
salvação. (CIC 688)”
"Ninguém pode dizer "Jesus é o
Senhor" a não ser pela ação do Espírito Santo» (1Cor 12, 3).
«Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: "Abbá! Pai!'» (Gl
4, 6). Este conhecimento da fé só é possível no Espírito Santo. Para
estar em contato com Cristo, é preciso primeiro ter sido tocado pelo Espírito
Santo. É Ele que nos precede e suscita em nós a fé. Em virtude do nosso
Batismo, primeiro sacramento da fé, a Vida, que tem a sua fonte no Pai e nos é
oferecida no Filho, é-nos comunicada, íntima e pessoalmente, pelo Espírito
Santo na Igreja (CIC 683).
Depois de ter falado em nosso último programa sobre
"O mistério do Espírito na Igreja", padre Gerson
Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "O Espírito Santo no Mistério
da Igreja":
"Falamos no aprofundamento anterior que o
Concilio Vaticano II pôs em relevo a missão e atuação do Espírito Santo,
outrora esquecidas nos tratados teológicos e na eclesiologia. O teólogo Bueno
escreveu que uma Igreja sem o Espírito Santo seria reduzida a máquina de poder
e o Espírito sem a Igreja ficaria a uma teoria humana escrava das
circunstâncias históricas[1].
Recordemos aqui o que Atenágoras de Atenas escreveu
já no segundo século: “Sem o Espírito Santo, Deus está distante, Cristo
permanece no passado, o Evangelho uma letra morta, a Igreja uma simples
organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um
arcaísmo, e a ação moral um agir de escravos. Mas no Espírito Santo o cosmos é
enobrecido pela geração do Reino, o Cristo ressuscitado faz-se presente, o
Evangelho faz-se força do Reino, a Igreja realiza a comunhão trinitária, a
autoridade transforma-se em serviço, a liturgia é memorial e antecipação, a
ação humana torna-se divina”.
Na Solenidade de
Pentecostes de 2019, o Papa Francisco parafraseou essas palavras
dizendo assim, referindo-se ao Espírito Santo: “É paz na ansiedade, confiança
no desânimo, alegria na tristeza, juventude na velhice, coragem na prova. É Ele
que, no meio das correntes tempestuosas da vida, mantém firme a âncora da
esperança. Como nos diz hoje São Paulo, é o Espírito que nos impede de recair
no medo, fazendo-nos sentir filhos amados (cf. Rm 8, 15). É o Consolador, que
nos transmite a ternura de Deus. Sem o Espírito, a vida cristã desfia-se, privada
do amor que tudo une. Sem o Espírito, Jesus permanece um personagem do passado;
com o Espírito, é pessoa viva hoje. Sem o Espírito, a Escritura é letra morta;
com o Espírito, é Palavra de vida. Um cristianismo sem o Espírito é um
moralismo sem alegria; com o Espírito, é vida”.
E concluía ainda o Papa: “Mas, sem o Espírito, a
Igreja é uma organização, a missão é propaganda, a comunhão é um esforço. E
tantas Igrejas fazem ações programáticas neste sentido de planos pastorais, de
discussões sobre todas as coisas. Parece ser aquele o caminho a nos unir, mas
este não é o caminho do Espírito, é o caminho da divisão. A primeira e a
derradeira necessidade da Igreja é o Espírito (cf. São Paulo VI, Catequese na
Audiência Geral de 29/XI/1972). Ele «vem aonde é amado, aonde é convidado,
aonde é esperado» (São Boaventura, no Sermão para o IV Domingo depois da
Páscoa). De fato, sem o Espírito Santo, Deus está distante, Cristo é do
passado, o Evangelho é letra morta, a Igreja é uma simples organização, a
autoridade é dominação, a missão é propaganda, o culto é evocação, o agir
cristão é uma moral de escravos. Mas, com o Espírito Santo e no Espírito Santo,
o Universo é elevado e clama pelo Reino de Deus, a presença do Cristo
Ressuscitado é reconhecida, o Evangelho é vida e poder, Igreja significa
comunhão trinitária, a autoridade é um serviço libertador e redentor, a missão
um Pentecostes, a Liturgia é memorial e antecipação do mistério, o agir humano
é divinizado[2].
“Sem o Espírito não há Igreja, pois é ele que a
cria e recria em Cristo. Para São Paulo, a Igreja, como Igreja particular ou
Igreja universal (Ef 2,17-22), é edificação do Espírito”[3].
Disse Santo Irineu que, tal qual o Verbo, o Espírito Santo, existia desde toda
a eternidade e ambos são como as mãos de Deus com as quais o Pai modela todas
as coisas. É bela essa comparação de Santo Irineu que usa esse símbolo de que o
Pai se utilizou das duas mãos para modelar o universo: o Filho e o Espírito
Santo.""
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de
janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é
graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
_______________
[1] E. BUENO, Eclesiología, Madrid,
1998.
[2] Cf. Ignazio
Hazim, La resurrezione e l’uomo d’oggi - Ed. Ave, Roma, 1970,
pp. 25-26.