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A fé | Cléofas |
A fé que salva uma nação
POR PROF. FELIPE AQUINO
É necessário que hoje surjam novos
“Macabeus”; não para defender a Lei de Deus e da Igreja com as armas do
passado, mas com as de hoje!
Umas das páginas mais emocionantes da
Bíblia é a narração dos livros de Macabeus, que descreve a resistência dessa
família judaica contra a imposição que o rei pagão sírio Etíoco Epifanes IV
quis submeter Israel, profanando o Templo de Jerusalém, com aquilo que o
profeta Daniel chamou de “abominação da desolação”. Este rei tinha dominado
Jerusalém depois de saqueá-la e matar muita gente. Derramaram sangue inocente e
profanaram o Santuário. “Seu templo ficou desolado como um deserto, seus dias
de festa se transformaram em dias de luto, seus sábados, em dias de vergonha, e
sua glória em desonra” (1 Mac 1,39).
E o rei quis implantar a todo custo o
paganismo em Israel, forçando o povo de Deus a viver segundo os costumes
pagãos, helênicos. Toda esta bela narrativa pode ser vista nos dois livros de
Macabeus.
Muitos judeus abandonaram a Lei de
Deus; assim foram narrados os acontecimentos:
“Afastaram-se da aliança com Deus,
para se unirem aos estrangeiros e venderam-se ao pecado… Muitos de Israel
adotaram a sua religião, sacrificando aos ídolos e violando o sábado… Por
intermédio de mensageiros, o rei enviou a Jerusalém e às cidades de Judá,
cartas prescrevendo que aceitassem os costumes dos outros povos da terra, suspendessem
os holocaustos, os sacrifícios e as libações no Templo, violassem os sábados e
as festas, profanassem o Santuário e os santos, erigissem altares, templos e
ídolos, sacrificassem porcos e animais imundos, deixassem seus filhos
incircuncidados e maculassem suas almas com toda sorte de impurezas e
abominações, de maneira a obrigarem-nos a esquecer a Lei e a transgredir as
prescrições. Todo aquele que não obedecesse à ordem do rei seria morto.
Foi nesse teor que o rei escreveu a todo o seu reino; nomeou comissários para
vigiarem o cumprimento de sua vontade pelo povo e coagirem as cidades de Judá,
uma por uma, a sacrificar. Houve muitos dentre o povo que colaboraram com eles
e abandonaram a lei. Fizeram muito mal no país. Ofereciam sacrifícios diante
das portas das casas e nas praças públicas, rasgavam e queimavam todos os
livros da lei que achavam; em toda parte, todo aquele em poder do qual se
achava um livro do testamento, ou todo aquele que mostrasse gosto pela Lei,
morreria por ordem do rei. Com esse poder que tinham, tratavam assim, cada mês,
os judeus que eles encontravam nas cidades e, no dia vinte e cinco do mês,
sacrificavam no altar, que sobressaía ao altar do templo. As mulheres, que
levavam seus filhos a circuncidar, eram mortas conforme a ordem do rei, com os
filhos suspensos aos seus pescoços. Massacravam-se também seus próximos e os
que tinham feito a circuncisão” (1 Mac 1,1-62).
Quando leio e medito essas passagens,
fico vendo o que acontece em nosso país hoje, que parece sofrer algo
semelhante, embora de maneira diferente; uma nação cristã, que nasceu sob o
signo da Cruz e da santa Missa (Terra de Santa Cruz!), mas que hoje vê as
santas Leis de Deus profanadas, não por um rei estranho, mas pelos seus
próprios filhos. Seus Representantes legais e judiciais aprovam leis iníquas e
imorais, que contradizem a santa vontade de Deus: Aborto, eutanásia, suicídio
assistido, inseminação artificial, manipulação e morte de embriões humanos,
casamento de pessoas de mesmo sexo, uniões “conjugais” escandalosas, divórcio,
uniões livres, camisinha, pílula abortiva do dia seguinte, pornografia,
nudismo, prostituição profissional…
Mas, como sempre, houve aqueles
judeus que não se renderam; mas enfrentaram os incrédulos: “Numerosos foram os
israelitas que tomaram a firme resolução de não comer nada que fosse impuro, e
preferiram a morte antes que se manchar com alimentos; não quiseram violar a
santa Lei e foram trucidados. Caiu assim sobre Israel uma imensa cólera” (1 Mac
1,62-64).
Que testemunho maravilhoso, por
exemplo, daquela mãe que preferiu ver seus sete filhos serem martirizados
diante dela do que renegar a Lei de Deus. Um deles disse ao carrasco, prestes a
dar o último suspiro: “Maldito, tu nos arrebatas a vida presente, mas o Rei do
universo nos ressuscitará para a vida eterna, se morrermos por fidelidade às
suas leis” (2 Mac 7, 9). Disse o escritor sagrado que:
“Particularmente admirável e digna de
elogios foi a mãe que viu perecer seus sete filhos no espaço de um só dia e o
suportou com heroísmo, porque sua esperança repousava no Senhor. Ignoro,
dizia-lhes ela, como crescestes em meu seio, porque não fui eu quem vos deu nem
a alma, nem a vida, e nem fui eu mesma quem ajuntou vossos membros. Mas o
criador do mundo, que formou o homem na sua origem e deu existência a todas as
coisas, vos restituirá, em sua misericórdia, tanto o espírito como a vida, se
agora fizerdes pouco caso de vós mesmos por amor às suas leis” (v.20-23).
E diante da ousadia diabólica do rei
Antíoco, surgiu uma família corajosa, os Macabeus, que não se renderam e
expulsaram os inimigos e Israel no poder de Deus. O patriarca Matatias,
sacerdote, enfrentou os infiéis. Diante do convite dos delegados do rei, para
que ele apostatasse e recebesse as benesses do rei, Matatias foi corajoso:
“Ainda que todas as nações,
incorporadas no império do rei, passem a obedecer-lhe, abandonando a religião
de seus antepassados e submetendo-se aos decretos reais, eu, meus filhos e meus
irmãos, continuaremos seguindo a aliança de nossos pais. Deus nos guarde de
abandonarmos sua Lei e seus mandamentos. Não atenderemos às ordens do rei e não
nos desviaremos de nossa religião nem para a direita nem para a esquerda” (Mac
2, 19-22). E Matatias saiu gritando em alta voz pela cidade: “Quem tiver amor
pela Lei e quiser conservar a aliança, venha e siga-me!” (v.20-27).
Em suas mãos a campanha teve pleno
êxito, de modo que a Lei foi defendida contra os pagãos e seus reis, e não permitiram
que o pecador triunfasse (47-48). Morrendo Matatias, seus filhos, chefiados por
Judas Macabeus, continuaram a luta por Deus. “Quanto a vós, meus filhos, sede
corajosos e destemidos em observar a Lei, porque por ela chegareis à glória”
(v. 64). E Judas continuou a luta heroica do pai: “Percorreu as cidades
expulsando de Judá os ímpios, desviando assim de Israel a cólera divina” (1 Mac
3, 8).
Diante daquele exército numeroso dos
gentios, Judas disse aos que os temiam: “É fácil, respondeu Judas, a um punhado
de gente fazer-se respeitar por muitos; para o Deus do céu não há diferença
entre a salvação de uma multidão e de um punhado de homens, porque a vitória no
combate não depende do número, mas da força que desce do céu… O próprio Deus os
esmagará aos nossos olhos. Não os temais” (v.18-22).
O lema de Judas era esse: “Levantemos
nossa pátria de seu abatimento e lutemos por nosso povo e nossa religião”
(V.43)… “é preferível morrer no combate, que ver nosso povo perseguido e
profanado nosso Santuário. Que se faça somente a vontade de Deus!” (V.59-60).
Diante dos inimigos, na hora do
combate, disse Judas: “Gritemos agora para o céu para que ele se apiede de nós,
que se lembre da Aliança com nossos antepassados e queira hoje esmagar esse
exército aos nossos olhos” (1 Mac 4,10). “Travou-se a batalha, mas os inimigos,
derrotados, puseram-se em fuga através da planície” (v. 14). “E assim venceram
os inimigos. Judas e seus irmãos disseram então: Eis que nossos inimigos estão
aniquilados; subamos agora a purificar e consagrar de novo os lugares santos”
(v. 36).
Jesus disse: “Quem der testemunho de
mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que
está nos Céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o
negarei diante de meu Pai que está nos Céus” (Mt 10,32-33). Negar a Lei de Deus
e da Igreja, deixar de lutar contra a sua abolição, é negar Jesus Cristo.
É necessário que hoje surjam novos
“Macabeus”; não para defender a Lei de Deus e da Igreja com as armas do
passado, mas com as de hoje, as da democracia: nas ruas, nos parlamentos, nas
escolas, nas rádios, nos jornais, nas TVs, nas revistas, nas catequeses, nas
igrejas, nos grupos de oração, nas famílias, em toda parte. “Mutatis mutandis”
(mudando o que deve ser mudado), a batalha é a mesma; Deus é o mesmo; suas Leis
sagradas dadas por Cristo à Igreja são as mesmas, e não podem ser abolidas. Que
ninguém se omita; é Deus quem nos dará a vitória, Ele não perde batalhas quando
os seus servos não desistem de lutar e não se omitem na hora da luta, diante
dos infiéis.
A batalha já começou há tempos; se
não quisermos ver nossos filhos e netos afogados em práticas pagãs, enfrentemos
esse combate.
Prof. Felipe Aquino