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quarta-feira, 12 de outubro de 2022

Dia das Crianças: a fé dos pequeninhos

A fé dos pequeninhos | Jovens Conectados

DIA DAS CRIANÇAS: A FÉ DOS PEQUENOS E PEQUENAS, PRESENTE E FUTURO DA IGREJA

A Igreja no Brasil celebra neste 12 de outubro a festa de Nossa Senhora Aparecida que este ano, em especial, comemora os 300 anos do encontro da imagem no Rio Paraíba do Sul (SP). Além disso, a data marca o Dia das Crianças. Pequenos e Pequenas que são o futuro, mas também são o presente da Igreja.

Elas animam, embelezam, dão vigor e são parte viva do Corpo de Cristo. É o cuidado, a acolhida e a formação que a Igreja proporciona que vai marcar o tipo de pessoa e cristãos que essas crianças serão amanhã. Por isso, é muito importante que a Igreja cuide dos pequenos sendo as Mãos de Deus na orientação e no crescimento delas em estatura, sabedoria e graça Divina.

A iniciação das crianças na Igreja se dá pelo Batismo. Mas, é na catequese que elas são inseridas na vivência da fé e dão início a uma jornada cristã. O Papa João Paulo II dizia que as crianças são os pequenos-grandes missionários. A missão que Jesus confiou aos cristãos é a de “ir e fazer discípulos entre todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-lhes a observar tudo o que vos tenho ordenado. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 19-20).

A Igreja proporciona diversas atividades, espaços iniciativas que visam a evangelização dos pequeninos como a formação da catequese e a organização de grupos como a Infância e Adolescência Missionária (IAM) que tem como finalidade suscitar o espírito missionário universal nas crianças, desenvolvendo-lhes o protagonismo na solidariedade e na evangelização e, por meio delas, em todo o Povo de Deus: “Crianças ajudam e evangelizam crianças”. São crianças em favor de outras crianças.

De acordo com a secretaria nacional da Infância e Adolescência Missionária, irmã Patrícia Souza, na obra da IAM, a criança e o adolescente assumem seu protagonismo, com a sua linguagem, característica e experiência.

“Na missão, a criança e o adolescente são capazes de evangelizar outra criança e outro adolescente, dando testemunho, fazendo sacrifício daquilo que ela tem, para ajudar aos menos favorecidos. Com isso, tornam-se seus amigos por meio da oração, do sacrifício e da própria solidariedade. Estas crianças e adolescentes evangelizadoras, são sinais para outras, em meio à globalização mundial”, destaca.

A Infância e Adolescência Missionária forma grupos de crianças e pré-adolescentes com uma média de 12 participantes entre os que desejam pertencer à IAM. A estrutura principal da obra são os grupos, cujos membros tornam-se fermento missionário na família, na escola, na comunidade eclesial e no ambiente em que vivem.

Tomando como exemplo a vida de Jesus e de seus discípulos, a Infância e Adolescência Missionária têm em Maria, a mãe de Jesus, uma fiel testemunha da autêntica ação evangelizadora. Inspira-se também em São Francisco Xavier e Santa Teresinha do Menino Jesus, Padroeiros das Missões. Ambos viveram ardentemente o carisma missionário universal, doando suas vidas pelo anúncio do Evangelho.

A psicóloga e missionária da Canção Nova, Aline Rodrigues, escreveu no artigo “Saiba a importância das crianças estarem na Igreja”, publicano no site da comunidade, que “crianças inseridas em um ambiente cristão tendem a desenvolver comportamentos mais humanizados, como compaixão, companheirismo, solidariedade, disciplina, respeito, amor fraternal, reconhecimento dos limites, clareza do certo e errado e inúmeras outras características, pois acreditam no ser humano”.

Segundo a psicóloga, os pequenos não criticam o ser humano e são capazes de amar mesmo quando são decepcionadas, o que faz toda diferença para a vida adulta.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O diário de padre Canovai, “canto dulcíssimo da Tua misericórdia”

Um retrato de padre Giuseppe Canovai [© Opera Familia Christi]
Por Revista 30Dias - 05/2010

O diário de padre Canovai, “canto dulcíssimo da Tua misericórdia”.

História de padre Giuseppe Canovai, sacerdote romano que viveu na primeira metade do século passado. Em Roma, onde passou grande parte de sua vida, ocupou cargos na Cúria e foi assistente da Fuci. No final de 1939, transferiu-se para a Argentina, como auditor da nunciatura apostólica local. Escreveu um diário, que veio a público após a sua morte: nele, anotava seus pensamentos como se fossem orações

de Paolo Mattei

“Não tem jeito: o romano é sempre assim; até as coisas dolorosas ele consegue transformar em festa. Bendito bom humor”. O jovem Giuseppe Canovai anota esse pensamento numa página de um dos muitos diários aos quais confiará seus pensamentos e observações durante quase a vida inteira. Ele escreve muito, desde menino, roubando momentos do tempo reduzido que lhe resta após os estudos e os afazeres normais do dia-a-dia. Nas primeiras décadas do século XX, mais precisamente em 1919, aos quinze anos, ele coleta também um pouco do cotidiano da cidade – “carruagens, automóveis, charretes cheias de gordas mulheres provincianas enfeitadas com colares, bondes lotados, com gente nos estribos, pendurada até do lado de fora, às vezes até no teto” –, observando a alegria do povo no meio do qual cresceu, a maneira leve como vive o dia de Finados: “Toda essa gente vai e vem movida por um pensamento piedoso [...], um pensamento caridoso, realmente cristão; por isso, não é uma gente triste, muito pelo contrário, parece que estão todos indo para uma festa, e a prova disso são as várias tabernas abertas e as carrocinhas cheias de maçãs e peras, os cartazes...”.
Essa visão da Roma do início de um mês de novembro dá também uma imagem sugestiva da história desse homem que a delineia: um padre romano e romanesco, exemplo de letícia e de vivacidade para todos os que o conheceram, que descreve seus dias com constância monástica nas páginas de seus diários (“minhas pobres notas”), traçando, assim, o retrato de uma vida que se desenrola num diálogo cotidiano com Jesus – uma vida cheia de alegrias e dificuldades, esperanças e tribulações, expectativas, incertezas, lágrimas. Muitos dos que tiveram a sorte de encontrá-lo provavelmente nem suspeitavam de que no diário íntimo mantido por aquele homem – cheio de tiradas populares espirituosas e de uma alegria contagiante – pudessem-se acumular reflexões e observações tão dramáticas em torno da própria existência. Reflexões e observações que Canovai, desde o início, confidencia a seu único grande amigo, Jesus. E que parecem uma única oração: “Senhor”, anotará em 1941, “dá-me a graça de nunca escrever coisas em que o eu encontre a satisfação da sensibilidade e da soberba; que eu escreva apenas o que eleva a ti, o que purifica e humilha, o que castiga e renova: o canto dulcíssimo da tua misericórdia”.

O clima do mundo
O filho de “seu Luigi” – empregado do Instituto Italiano de Crédito Fundiário – e de dona Egeria – de família romana e papalina, cujo pai fora decano dos “liteireiros” pontifícios – mora com os pais em via Terenzio, no bairro Prati, onde nasceu, em 27 de dezembro de 1904. Só começa a dar as caras fora de seu bairro quando se matricula no ginásio Visconti, localizado na praça do Colégio Romano, nas proximidades da Universidade da Companhia de Jesus, a Gregoriana. Sua imaginação lança-se apressada no futuro: o garoto já se vê um “homem de negócios”, que reservará sempre um tempo para “ver e conhecer o belo país em que nasci”, para aventurar-se “nas obras da pintura, da poesia, da escultura; poderei deleitar-me com a mecânica, observando seus grandes triunfos; com a arquitetura, observando as grandes maravilhas de que minha pátria é adornada. Assim vejo o meu futuro...”. Essas palavras, de uma redação da oitava série – com todas as compreensíveis nuanças de ingenuidade retórica –, são as de um estudante curioso e aberto às belezas e aos mistérios da realidade. Afinal, sua cidade é invadida todas as manhãs pelo vento do mundo, levando-lhe o eco das línguas estrangeiras dos viajantes ou o das conversas dos estudantes da Gregoriana, provenientes de vários países do globo. Entre eles, muitos padres, que logo o conquistam: “Sua missão sobrenatural, sua perfeição de caráter, [...] a maravilhosa sucessão que os une aos apóstolos e, com estes, a sua divina origem...”.
A vocação tem seus particulares expedientes para se manifestar; às vezes é lenta e discreta, às vezes rápida e despreocupada, mas tem sempre seu tempo próprio. Muitas vezes parece querer brincar de esconder com o caráter dos homens, uns fleumáticos, outros apressados, como é o caso de Giuseppe, que continua a estudar, e a peregrinar, depressa, “di prescia”, como dizem no dialeto de Roma, pelas ruas de sua amada cidade, cuja história antiga sabe contar desde pequeno com a competência de um “romanista” experiente. Completa o curso secundário em 1921 e, no ano seguinte, matricula-se em Direito, na antiga sede da Universidade Sapienza. Nas circunstâncias mais corriqueiras – o estudo e o tempo livre, que passa com seus muitos amigos, várias vezes fazendo com eles passeios nas montanhas –, abre-se aos poucos a perspectiva da vida sacerdotal, que se vai esclarecendo com o tempo nas conversas com padre Enrico Rosa, diretor da La Civiltà Cattolica, de quem recebera a Primeira Comunhão: o jesuíta será por muito tempo seu orientador espiritual. É ele quem aconselha mais repouso a esse jovem que ninguém consegue segurar, em suas iniciativas e atividades: “Hoje fui-me confessar com padre Rosa. [...] Ele me deu muitos bons conselhos, entre os quais o de escrever menos e dormir mais...”. Essa anotação está no diário de 1924, poucos meses depois da morte de seu pai, seu Luigi, que contraíra a febre espanhola em março desse mesmo ano. As dificuldades e o desconforto daqueles meses são suportados graças à proximidade de seus muitos amigos, e especialmente à “letícia proveniente sobretudo de me sentir em paz com Deus e com os amigos de Deus: essa letícia é quase, eu diria, o sinal de uma vida realmente unida a Deus; essa letícia simples e interior brilha em todos os santos: porque neles está a doce habitação de Deus”. A respeito do sacerdócio, anotará no ano seguinte: “Tenho pensado, Senhor, que a vocação [...] é uma coisa absolutamente divina, que qualquer pensamento humano ofusca e arruína; é algo que parte de ti e a ti retorna, sustentada e iluminada por tua graça; tenho pensado, enfim, que é uma coisa tua, um dom todo teu, resposta íntima de nossa alma a ti, que amorosamente nos chamas e nos convidas a seguir-te”.

Padre Canovai com alguns estudantes da Fuci, numa foto de 1937 [© Opera Familia Christi]

“Na tua vontade está a nossa paz”
A Companhia de Jesus exerce um apelo formidável sobre Giuseppe: ele deseja formar-se para o sacerdócio na ordem de Santo Inácio. Mas a situação financeira incerta depois da morte do pai e a saúde precária da mãe, que a torna necessitada de cuidados, aconselham prudência a padre Rosa, que o veria bem, mesmo assim, como futuro colaborador da La Civiltà Cattolica. Nesse meio-tempo, em 1926, ano de estudo intensíssimo, o jovem Canovai se diploma em Direito na Sapiência e em Filosofia na Gregoriana, onde, no mesmo ano, se matricula em Teologia. Padre Rosa cuida para que o Colégio Capranica seja seu seminário, de modo que possa prosseguir os estudos na Gregoriana. Entra no seminário em 1929, um ano de grandes provações: o sonho da Companhia parece virar fumaça, até pelo desacordo do cardeal vigário Basilio Pompili, que gostaria de tê-lo no seminário lateranense e permite sua entrada no Capranica de má-vontade. No mesmo período, começa a sofrer de uma úlcera no duodeno, que jamais o abandonará. Anota naquele ano: “Senhor, na paz que no fundo habita em minha alma, vejo a sombra amorosa da tua misericórdia e da tua providência. Obrigado, ó meu Deus, pela paz que hoje me concedeste, apesar da más notícias que recebi e dos problemas que prevejo encontrar. Faze, ó Senhor, que esta paz e esta paciência nunca me faltem. Sinto às vezes vacilar a minha vontade frágil, a minha confiança. Dá-me, Senhor, força e coragem, faze que contra todas as aparências humanas eu me mantenha cheio de confiança, de esperança, de alegria. Dá-me, Senhor, a tua paz, a paz da tua paciência e da tua resignação. Faze que eu esteja sempre, qualquer que seja o meu destino, igualmente contente, igualmente sereno”.
Giuseppe tentará entrar na Companhia outra vez, no ano seguinte, ainda que padre Rosa o desaconselhe a isso. Não será aceito. Mas tudo confia à vontade de Deus: “O que preparará o amanhã? Eu não sei, está em tuas mãos, meu Deus. Mas, qualquer que seja o futuro, será portador de paz, pois ‘na tua vontade está a nossa paz’”. Escreve também à mãe, agitada por já não aguentar a inércia a que a fragilidade da saúde a obriga: “Fique tranquila outra vez e reze sempre ao Senhor. Digo sempre, porque a oração deve ser ‘ininterrupta’ para ser realmente aceita pelo Senhor. Nunca devemos abandoná-la: portanto, ou rezar ou oferecer o que fazemos, ou melhor, o que temos o dever de fazer, essa é a melhor oração. E a senhora tem agora o dever de não fazer nada e de ficar tranquila, quando talvez tivesse algum ‘pretexto’ para não aderir; assim, ofereça ao Senhor o ‘não fazer nada’ e o ‘estar tranquila’, e o ofereça com muito amor e com grande simplicidade, e assim rezará ininterruptamente com a oração mais bela e mais aceita por Deus”.
São meses duros para Giuseppe, que escreve em 6 de agosto: “Passo por momentos em que o pensamento de que sou incapaz de tudo, inapto para tudo [...], de que já não há esperança nenhuma para mim me oprime de um modo absurdo e indizível. No entanto, esses são os únicos momentos em que me conheço a fundo”.

“Como é fácil sermos carregados por Ele”
“Ó Senhor, o que pode dar-te uma pessoa como eu? E dizer que os outros falam de mim como uma pessoa que pode fazer alguma coisa; eu sinto claramente, Senhor, que não poderei fazer nada, que estou acabado! Mas nem isso me abate, só tu bastas, in nomine tuo laxabo retes!”. Com essas breves notas, padre Giuseppe entrega ao Senhor seu sacerdócio: a ordenação ocorre em 3 de maio de 1931, e já no mês seguinte o padre novato é destinado a seu primeiro cargo, como escrivão da Sagrada Congregação para os Seminários e das Universidades dos Estudos. Esse trabalho também não corresponde nem um pouco a suas aspirações. Sente-se chamado ao ensino e à pregação, ministérios para os quais, segundo dizem muitos de seus conhecidos, possui uma evidentíssima propensão: “Tenho uma vida tão diferente da que sonhei, uma atividade tão distinta da que gostaria! Paciência, tu me sustentarás, ó meu Senhor, e eu te oferecei tudo!”.
Em 21 de dezembro de 1932, diploma-se em Direito Canônico: tem vinte e sete anos e quatro diplomas, uma combinação de números que sugere velocidade, a mesma com que se desloca pela cidade naqueles anos, a pé ou em seu carrinho de 500 cilindradas: “Ia sempre ‘di prescia’”, conta um dos muitos que convivem com ele nas várias ocasiões em que se dedica – depois do horário de trabalho ou durante as férias – a seu ministério predileto: a pregação. Vai aonde quer que o chamem, e o chamam a toda parte, para dar conferências sobre São Bento e São Francisco, sobre Bento XV e Belarmino, sobre Carlos Magno e Giambattista Vico; fala de apologética e teologia, de catacumbas romanas e direito, de Guerra e paz e de Papini... E ainda prega exercícios espirituais e faz exortações em todos os cantos da cidade. Com alguns amigos, começa ainda a dar forma a uma obra baseada no laicato contemplativo, a “Familia Christi”, cujo estatuto será aprovado em 1938.
Nesse meio-tempo, muda de casa, se estabelece em via Monserrato como assistente das irmãs brigidinas e é nomeado capelão de Santo Ivo, na Sapiência, sede da Universidade de Roma. Em 1937, torna-se assistente da seção romana da Federação Universitária Católica Italiana (Fuci). E também monsenhor: “E agora sou Arlequim”, ironiza, ao assumir as insígnias ligadas ao título honorífico.
As palavras do diário são um rio intermitente que corre silencioso sob o barulho do dia: “Como é fácil andar com Ele, como é fácil, carregando-O, ser carregado por Ele!” Tudo se torna mais simples quando padre Giuseppe está na companhia do destinatário de suas orações escritas, de suas “pobres notas”: “Senhor, mantém minha alma nestes desejos; sei, Senhor, que não é possível permanecer sem o perene auxílio de tua graça”. Nessas páginas anota também pensamentos para as homilias, como aqueles sobre a parábola evangélica do filho que, tendo anteriormente recusado submeter-se a uma ordem do pai, no fim obedece: “... gosto muito desse cantinho do Evangelho, porque é tão cheio de discrição, tão cheio de compaixão pela nossa fraqueza. [...] Porque é tão humano. [...] Justamente por ser tão maravilhosamente divino, parece-me que passe aí por dentro, quase despercebida, uma misteriosa complacência de Deus com as pobres resistências da natureza que se contorce em sua fraqueza antes de ceder à invasão da caridade”. Muitas vezes são breves contemplações em que prevalece a surpresa por uma beleza vislumbrada: “Como é santa a lei do Senhor! Gosto muito do longo salmo de domingo em que essa lei é glorificada de todas as formas possíveis! Mas hoje de manhã pensava especialmente neste versículo: ‘iudicia tua iucunda’. Como é deleitosa no coração a lei do Senhor! [...] E como é bom ouvir a promessa do Paráclito bem perto desse convite à observância dos preceitos. [...] Como é bom! Parece que o Senhor não pode pedir tudo isso sem prometer ajuda [...], para nos fazer entender que mesmo essa observância não será nossa, mas d’Ele, que será a difusão em nós e fora de nós do Espírito de Deus prometido”.

Padre Giuseppe Canovai no convés do navio “Oceania”, que
o levou à Argentina em dezembro de 1939 [© Opera Familia Christi]
“Con mucho gusto, Señor”
“Hoje de manhã sua excelência Montini me propôs que fosse para Buenos Aires, para ser auditor! Que triste Pentecostes! Sinto uma pena imensa. [...] Será isso mesmo que o Senhor deseja para mim?” Estamos em 27 de maio de 1939. Padre Giuseppe tem a impressão de que tudo teima em acontecer na direção contrária à de seus desejos: primeiro, a “papelada” da congregação romana, agora a proposta de Montini, substituto da Secretaria de Estado, de ir para a Argentina ser auditor da nunciatura apostólica local, onde a “papelada” será muito provavelmente ainda maior e mais chata. Ao falar com os amigos, de quem sabe que terá de se despedir para sempre, brinca com a novidade: “Agora vou ser diplomata. [...] Sabem, essa é uma vida muito ruim. [...] Porque o diplomata, coitado, vive sempre com medo do incidente, que dirá do acidente...”.
Naturalmente obedece, depois de ter-se aconselhado com alguns padres da Companhia, como Felice Cappello, e vê os primeiros raios de sol de 1940 nas costas da capital argentina. Em 1º de janeiro desse ano, desembarca no Novo Mundo.
“Diga ao Senhor uma frase que aprendi aqui e que repito ao bom Deus em meu coração todas as vezes – e não são poucas – em que tenho de fazer algo de que não gosto: ‘Con mucho gusto, Señor’.” Monsenhor Canovai estuda espanhol e o aprende depressa, até porque é chamado a pregar por toda parte na Ciudad Porteña, a pronunciar uma palavra “que não é nossa; é uma graça infinita que Deus nos conceda pronunciá-la, amá-la, venerá-la, dar a nossa vida para anunciá-la dignamente”. A vida de trabalho, essa mesma que ele considera como um “bico”, por mais que seja de um certo nível, é sempre entregue à oração: “Todo o meu dia é trabalho, e muito para a correspondência, que é intensa; oração, sobretudo adoração, e jornais. Se alguém me dissesse um dia que eu teria de ler tantos jornais!”. Sente “uma grande calma e tranquilidade; eu experimento nisso uma verdadeira e particularíssima ajuda da graça [...]. Vivo constantemente à espera da santa missa e do breviário”.
O auditor se vê muitas vezes em situação incômoda nas recepções (“onde a gente vê tanta pilantragem”, explicava antes de partir a seus amigos de Roma: “E você é obrigado a participar do beija-mão dos ministros, dos senadores, dos deputados, dos representantes, de todos os glutões internacionais...”); mas se sai muitíssimo bem, como cabe a um diplomata, embora suas anotações sejam, como sempre, cheias de apaixonada humilhação: “É doce para mim não apenas saber, mas sentir, saborear a imperfeição e a miséria de que são cheias todas as minhas obras, degustá-la até os mínimos detalhes, até o íntimo, pois então me parece que a misericórdia do perdão penetra em todas as fibras da vida e me parece que cada momento, cada instante da minha vida seja sustentado pela efusão da misericórdia”.
Tudo o que considera necessário para a sua vida, também ali, é “... bater e insistir sempre numa única coisa, a única que com certeza é boa: a comunhão amorosa e confiante, humilde e serena com a cruz do Filho de Deus”. Seu conforto é a amizade com Jesus, que o vem acompanhando até lá: “Não consigo expressar o consolo que experimentei ao sentir que celebrei a missa de um modo incomparavelmente melhor do que na minha primeira vez: depois de dez anos de infidelidade e de misérias, esse gesto de misericórdia do meu Deus pareceu uma dádiva suave de perdão e certeza da amizade divina”.
A jornada do sacerdote romano chegava à meta final, entre as orações dos que o rodeavam, e as suas, as mais simples de todas: “O que mais me comoveu”, anotara em 1941, “foi a busca de Deus na mais humilde das orações, a oração vocal [...], o Rosário, o pai-nosso, as ave-marias, repetidas aqui e ali ao longo do nosso dia, as jaculatórias que dizemos quase a meia voz quando a alma está cansada e ocupada, a via-sacra, as fórmulas das orações prediletas, que pronunciamos quase comendo as sílabas, de tanto que são conhecidas, as ladainhas da Virgem, as ladainhas dos santos, os salmos de penitência e de alegria, todas palavras santas com as quais pedimos a Deus, com as quais imploramos sua ampla descida em nosso espírito, em que a alma se abre para ser invadida, se humilha, se prostra diante de Deus para ser acolhida por sua misericórdia. Pequenas e humildes orações dos nossos lábios cansados! [...] Quando faltarem as forças para ornar a casa interior da alma e tudo estiver consumido, quando os lábios moribundos mal se puderem mover, vós, humildes irmãs menores da minha meditação secreta, vós florescereis mais uma vez em meus lábios apagados, a buscar a misericórdia de Jesus e a doçura de Maria”.

Fé e Saúde - CNBB

A força da fé | Camilianos

FÉ E SAÚDE

Dom Pedro Cipollini
Bispo de Santo André (SP)

A fé tem poder: “Quanto mais pode a fé que a força humana”, exclamava Luiz Vaz de Camões. De fato, a fé é o único abrigo, no qual pode refugiar-se o homem na neblina de sua razão, e nas calamidades de sua natureza passageira. 

Na Bíblia está escrito que “a fé é um modo de possuir o que se espera, a convicção a cerca de realidades que não se veem” (Hb 11, 1-2). Na Bíblia a fé é antes de tudo adesão à pessoa que revela, é a certeza da fidelidade e lealdade de Deus que nos fala. Isto não tem nada a ver com certa interpretação intelectualista que ensina ser a fé, aceitar uma verdade incompreensível.  

 A fé no sentido bíblico correto, deve ter em conta o aspecto de confiança e o aspecto da verdade-revelação, entre Deus e o ser humano. Quem tem fé nunca está sozinho, e quem perde a fé, não tem mais nada a perder, porque a fé é o conhecimento do significado da vida humana. 

Surpreendi-me ao ler um livro do famoso médico Dr. Kenneth H. Cooper, intitulado “É melhor acreditar” (Ed. Record, Rio, 1998), no qual ele fala das vantagens da fé para a saúde. Faz o elo entre fé e saúde, explicando por que a crença pode levar a mais saúde e boa forma, abordando o lado científico da crença: “Hoje em dia, diversos pesquisadores comprovaram que o fato de manter a mente calma e equilibrada, pela confiança num sólido sistema pessoal de crença, traz um efeito salutar para o corpo…é importante assumir um compromisso definitivo em relação ao embasamento da sua fé e depois estar prestes a agir de acordo com esse compromisso” (cf. pag 53 e 59). 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Nesta afirmação, porém, a OMS não incluiu o aspecto da fé. Por mais que haja indiferença e até desprezo por parte do meio acadêmico, que se importa sobretudo em ser “politicamente correto”, pesquisas científicas tem confirmado a importância da fé nos processos de cura. Isto porque a fé vem sempre junto com a esperança. Quando se tem fé, há esperança no tratamento, na cirurgia e em tudo o que envolve a cura. Mas acima de tudo, há confiança no poder de Deus, em dar a cura quando parece não ter mais saída. 

É frequente ouvir relatos nos quais pessoas doentes que receberam orações diárias e que rezaram pela sua cura, se restabeleceram mais depressa, precisaram menos medicamentos e tiveram menos complicações no processo de cura. Assim não é difícil a partir da prática, concluir que orar e ter fé faz parte do processo de cura.  

Acreditar no tratamento, no médico, em si mesmo e na recuperação é importante e pode ajudar a curar. Por isso o Dr. Cooper intitula o capítulo décimo quarto de seu livro: “Alimento interior: é melhor acreditar”! Ter uma fé, uma religião promove o bem-estar. Muitos médicos e eu mesmo, quando era capelão de hospital, presenciei situações de recuperação e cura que a medicina não explicava. De fato, como disse Jesus: “tudo é possível a quem tem fé”. 

Anatole France, famoso escritor francês, se sentia infeliz sem a fé e exclamava: “Não tenho fé, mas quisera tê-la. Considero a fé o bem mais precioso deste mundo”.  

Enfim é melhor acreditar!

A minha filha de 8 anos quer que eu conte ao mundo sobre este milagre

Shutterstock / Darkdiamond67
Por Michael Rennier

O que é que uma borboleta faz, afinal?

Eu cometi o erro de chamar a crisálida de casulo. “É uma crisálida, papai”, a minha filha de 8 anos corrigiu-me imediatamente. “As traças fazem casulos, mas esta é uma lagarta que se transforma numa borboleta, e ela faz uma crisálida”.

Acenei seriamente e fingi que já sabia o que ela me estava a dizer. Cá entre nós, não fazia ideia que as borboletas não saem dos casulos.

Estávamos de cócoras no jardim, de pés descalços na terra a procurar por lagartas e borboletas. Olhávamos atentamente para um vaso de salsa que minha mulher comprou, com a esperança de que algo surgisse por ali.

Testemunhar uma transformação

Há algumas semanas atrás, quando as temperaturas começaram a descer juntamente com algumas folhas, cinco lagartas subiram para a salsa e metodicamente começaram a banquetear-se com as folhas. Todas as manhãs, corríamos para fora para ver quantos centímetros tinham conseguido consumir dos caules durante a noite.

O maior desenvolvimento veio quando as lagartas deixaram de comer e se atrelaram a vários ramos verdes por pequenos arreios de seda que elas próprias fiaram. Aí balançaram, virando lentamente crisálidas. Colocamos uma proteção sobre a planta para evitar que passarinhos as comessem enquanto ali se pendurassem vulneravelmente. Embora estejam camufladas para parecerem uma folha de salsa murcha, algumas das aves mais espertas veem através do estratagema.

Estou inclinado a deixar a natureza seguir o seu curso – afinal, as borboletas conseguem de alguma forma nascer todos os anos – mas é uma hipótese que as minhas duas filhas mais novas se recusam a aceitar. Neste momento, elas estão a proteger estas crisálidas, a dar-lhes banho de pensamentos e orações, a acompanhar o seu progresso como uma mãe vigia o seu bebê para lhe abrir os olhos pela primeira vez.

A minha filha já sabe que eu sou escritor e exigiu que eu escrevesse sobre isto. A sua opinião é que o mundo precisa de saber que um milagre está a acontecer aqui mesmo no nosso quintal. Portanto, aqui estou eu, falando-vos da transformação de lagartas em borboletas.

Mas o que é que as borboletas fazem?

A poetisa Emily Dickinson diz: “A borboleta obtém/ Mas pouca simpatia”. Na sua época, os novos ingleses pensavam que as borboletas eram demasiado ostensivas, demasiado preciosas e vistosas. Eles não gostavam da cor das borboletas, pensando que as suas grandes asas translúcidas traíam uma criatura que não tem inclinação para o trabalho árduo.

Os novos ingleses, na altura, estavam apenas a algumas gerações de distância de terem feito cidades das antigas florestas de Massachusetts. Se havia algo que eles valorizavam, era o trabalho árduo. Para ser honesto, nem sequer sei qual é o trabalho de uma borboleta. As abelhas fazem mel, as formigas constroem colónias, as crianças aprendem as suas lições de história, mas o que é que uma borboleta faz?

Observando quanto esforço foi feito para criar as crisálidas, tenho um novo apreço pelo esforço que é feito para construir uma borboleta, por isso tenho de discordar da ideia de que as borboletas não sabem nada sobre trabalho árduo. O trabalho tem sido tão metódico, que tenho de admitir que é um pouco aborrecido de assistir. Todos os dias, o progresso era constante mas insignificante, uma folha comida aqui, alguns centímetros de talo de salsa consumida ali. As minhas filhas, contudo, ficaram e continuam a ficar totalmente fascinadas. Isso faz-me pensar o que eu estou a perder.

Progresso lento e constante… até à eternidade

Talvez eu, tal como os descendentes dos Puritanos, tenha falhado o ponto. A borboleta e a lagarta são a mesma criatura. Mesmo que, dia após dia, pareça que nada de mais acontece, todas as pequenas coisas se somam, todo o trabalho, o esforço, a paciência. Talvez não experimentemos mudar a forma como pensamos que o fazemos. Não é um acontecimento repentino e inesperado. Pelo contrário, é o culminar de milhares de pequenas decisões que parecem sem importância na altura, mas que, no final, equivalem a um desenrolar de uma criatura aparentemente completamente diferente.

As minhas filhas, que estão a assistir com tal intensidade, cujas bocas estão manchadas de sumo de gelado de cereja, cujos vestidos de bailarina são uma confusão de tule rasgado, que passam os seus dias a rodar em círculos no balanço, estas crianças estão a mudar. Um dia, elas serão adultas, ainda muito elas próprias, mas ainda assim, irão se tornar surpreendentemente diferentes pelo tempo e pela experiência. Cada minuto que tenho para passar com elas é um tesouro, cada uma delas dobra-se para a eternidade.

Você e eu também ainda não acabámos de mudar. Por vezes sentimo-nos encalhados, ou que as nossas ações não têm qualquer efeito. Posso garantir, no entanto, que estamos a trabalhar em grande medida. A mudança não parece estar a acontecer até que, de repente, está. Por isso, não desista.

O que é que uma borboleta faz? Estende as suas asas para voar.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A missão educativa da família (2)

Família | Opus Dei

A missão educativa da família (2)

Conversar com os filhos sobre as questões que lhes interessam, dar bom exemplo e não ter medo de influir positivamente em suas vidas, são alguns dos desafios da educação. Publicamos aqui o segundo editorial sobre este tema relativo à família.

A pessoa humana realiza-se e edifica-se a si mesma, por meio de suas livres decisões. Como é sabido, a liberdade não consiste na simples possibilidade de escolher entre duas opções, mas na capacidade de ser dono de si mesmo a fim de dirigir-se para o bem verdadeiro. Por isso, um aspecto central na educação dos filhos é precisamente formá-los para a liberdade, de maneira que queiram fazer o bem: isto é, que o queiram não só porque está mandado, mas precisamente por ser bom.

Muitas vezes, educa-se mais com aquilo que os filhos vêem e experimentam no lar – um ambiente de liberdade, de alegria, de carinho e de confiança -, do que com as palavras. Por isso, mais que transmitir, a missão educativa dos pais consiste em contagiar esse amor com a verdade, que é a chave da liberdade [1].

Desta maneira, e com a ajuda da graça de Deus, os filhos crescem com o desejo de orientar sua vida para a Verdade completa, a única capaz de dar sentido à existência e saciar os anseios mais profundos do coração do homem.

AMOR EXIGENTE

Educar para a liberdade é toda uma arte, muitas vezes nada fácil. Como assinala Bento XVI, “chegamos ao ponto talvez mais delicado da obra educativa: encontrar o equilíbrio adequado entre liberdade e disciplina. Sem regras de comportamento e de vida, aplicadas dia a dia também nas pequenas coisas, não se forma o caráter e não se prepara para enfrentar as provas, que não faltarão no futuro. Mas a relação educativa é antes de tudo encontro de duas liberdades, e a educação bem sucedida é uma formação para o uso correto da liberdade” [2].

Uma premissa útil para encarar de maneira adequada esta tarefa de conciliar exigência e liberdade é recordar que a fé e a moral cristãs são a chave da felicidade do homem. Ser cristão pode ser exigente, mas nunca é algo opressivo, mas, sim, enormemente libertador.

A meta é que, desde pequenos, os filhos experimentem no lar que o homem “não pode encontrar sua própria plenitude se não na entrega sincera de si mesmo aos demais” [3]. E que uma pessoa que vive plenamente a vida cristã não é uma “pessoa desagradável e conformista; não perde sua liberdade. Só o homem que se põe totalmente nas mãos de Deus encontra a verdadeira liberdade, a amplidão grande e criativa da liberdade do bem” [4].

A vida cristã é precisamente a única vida feliz; a única que liberta da amargura de uma existência sem Deus. Bento XVI o afirmava com grande força no início de seu pontificado: “quem deixa Cristo entrar não perde nada, nada – absolutamente nada – daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Somente com esta amizade abrem-se as portas da vida. Somente com esta amizade abrem-se realmente as grandes potencialidades da condição humana. Somente com esta amizade experimentamos o que é belo e aquilo que nos liberta, Assim, hoje, eu quisera, com grande força e grande convicção, a partir da experiência de uma longa vida pessoal, dizer a todos vocês, queridos jovens: Não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, e dá tudo. Quem se dá a Ele, recebe cem por um” [5].

Para conseguir isto, em primeiro lugar é preciso que os próprios pais “deixem transparecer” a alegria de viver coerentemente. Os pais educam fundamentalmente com sua conduta. O que os filhos e as filhas buscam em seu pai ou em sua mãe não são apenas alguns conhecimentos mais amplos que os seus, ou alguns conselhos mais ou menos certos, mas algo de maior categoria: um testemunho do valor e do sentido da vida encarnado em uma existência concreta, confirmado nas diversas circunstâncias e situações que se sucedem ao longo dos anos[6].

Os filhos devem perceber que a conduta que vêem como vida em seus pais não é um sufoco, mas fonte de liberdade interior. E os pais, sem ameaças, com sentido positivo, devem “estruturar interiormente” os seus filhos. Educá-los para esta liberdade, dando-lhes razões para que entendam a bondade daquilo que se lhes pede, para que o tornem seus.

Desta maneira se fortalece sua personalidade e crescem amadurecidos, seguros e livres. Aprendem assim a viver acima das modas, indo contra a corrente, quando for necessário. A experiência mostra que, quando os filhos já são maiores, não há nada que mais agradeçam a seus pais do que essa educação livre e responsável.

PROPOR BENS ELEVADOS

Indubitavelmente, o amor aos filhos nada tem a ver com observar uma suposta – impossível na prática – “neutralidade educativa”. De um lado, não se pode esquecer que se os pais não educam, outros o farão. Sempre, porém, hoje talvez mais que no passado, a sociedade, o ambiente e os meios de comunicação têm exercido uma influência notável, que em nenhum caso é neutra. Por outro lado, atualmente, há uma tendência a ensinar valores aceitáveis por todos: talvez positivos, porém mínimos.

Os pais devem educar, sem medo, em todos os bens que consideram essenciais para a felicidade de seus filhos. Da insistência dos pais no estudo, por exemplo, as crianças aprendem que o estudo é um bem importante em suas vidas. Da insistência amável de seus pais em que se limpem e andem arrumados, aprendem que a higiene e a apresentação não são coisas desprezíveis. Mas se os pais não insistem – acompanhando-os sempre com o exemplo e raciocinando sobre os porquês – sobre outras questões (por exemplo, ser sóbrios, dizer sempre a verdade, ser leais, rezar, frequentar os sacramentos, viver a santa pureza etc.), os filhos podem pensar intuitivamente que são bens em desuso, que nem mesmo seus pais vivem, ou que não se atrevem a propor seriamente.

Um ponto de vital importância para esta tarefa é a comunicação. Uma tentação habitual é pensar que “não entendo os jovens de hoje”; “o ambiente está muito mal”; “antes, isto não seria permitido”. A simples argumentação de autoridade pode servir em algum momento, mas acaba mostrando-se sempre insuficiente. Na educação, às vezes, é preciso argumentar com o prêmio e o castigo, mas, sobretudo, há que se falar da bondade ou da maldade dos atos, e do tipo de vida que estes atos configuram. Desta maneira facilita-se também que os filhos descubram o vínculo indissolúvel que existe entre liberdade e responsabilidade.

Raciocinar com os filhos será sempre necessário. São Josemaria o concretizava dizendo que é preciso chegar a ser amigos de seus filhos: amigos aos quais se confiam as inquietações, com quem se consulta sobre os problemas, de quem se espera uma ajuda eficaz e amável [7]. Para conseguir isso, é preciso passar tempo juntos, escutar a cada um a sós, adiantar-se para falar serenamente dos temas centrais das diferentes etapas da existência: a origem da vida, as crises da adolescência, o noivado e, sem nenhuma dúvida – porque é o mais importante -, a vocação que Deus tem prevista para cada pessoa.

Como assinala Bento XVI, “seria muito pobre a educação que se limitasse a dar noções e informações, deixando de lado a grande pergunta sobre a verdade, principalmente, acerca da verdade que pode guiar a vida” [8]. Os pais não devem ter medo de falar de tudo com seus filhos, nem de reconhecer que eles também se enganam, que erram, e que foram jovens: longe de lhes tirar a autoridade, esta confiança os torna mais aptos para sua missão educativa.

O PRIMEIRO “NEGÓCIO”

A missão educativa dos pais é uma tarefa apaixonante e uma grande responsabilidade. Os pais devem compreender a obra sobrenatural que implica a fundação de uma família, a educação dos filhos, a difusão cristã na sociedade. Desta consciência da própria missão dependem em grande parte a eficácia e o êxito de sua vida: sua felicidade [9].

Ser pais é a primeira ocupação. São Josemaria costumava dizer que os filhos são o primeiro e o melhor “negócio” dos pais: o negócio de sua felicidade, do qual tanto esperam a Igreja e a sociedade. E da mesma forma que um bom profissional mantém sempre um desejo nobre de aprender e melhorar em seu trabalho, deve-se cultivar o desejo de aprender e melhorar como esposos e pais.

Para fomentar este desejo, São Josemaria impulsionou tantas iniciativas práticas que continuam ajudando a milhares de casais em sua tarefa: cursos de orientação familiar, clubes juvenis, colégios em que os pais são os principais protagonistas etc.

Ser bons pais é todo um desafio. Não se deve esconder o esforço que supõe, mas, com a graça de Deus própria do sacramento do matrimonio e a entrega alegre e enamorada dos esposos, todos os sacrifícios se levam com gosto. A educação dos filhos não é um ofício determinado pela sorte ou pelo ambiente, mas pelo amor. Com este amor, os pais podem dirigir-se com toda confiança a Deus, de quem toma nome toda família nos céus e na terra [10], para que proteja o lar familiar e cubra com suas bênçãos os filhos.

M. Diez

[1] Cfr. Jo 8, 32.

[2] Bento XVI, Mensagem à diocese de Roma sobre a tarefa urgente da educacão, 21-01-2008.

[3] Conc. Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 24.

[4] Bento XVI, Homilia, 8-12-2005.

[5] Bento XVI, Homilia no Solene Início do Ministério Petrino, 24-04-2005.

[6] É Cristo que passa, n. 28.

[7] Ibidem, n. 27.

[8] Bento XVI, Mensagem à diocese de Roma sobre a tarefa urgente da educação, 21-01-2008.

[9] Questões Atuais do Cristianismo, n. 91. [10] Ef 3, 14.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br

Nota Oficial da Presidência da CNBB

Eleições 2022 | CNBB

CNBB LAMENTA INTENSIFICAÇÃO DA EXPLORAÇÃO DA FÉ E DA RELIGIÃO PARA ANGARIAR VOTOS NO SEGUNDO TURNO.

A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota, nesta terça-feira, 11 de outubro, na qual lamenta “a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno” das eleições deste ano. Os bispos recordam que a manipulação religiosa desvirtua valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que precisam ser debatidos e enfrentados no país.

Leia o pronunciamento na íntegra:

NOTA DA PRESIDÊNCIA

“Existe um tempo para cada coisa” (Ecl. 3,1)

Lamentamos, neste momento de campanha eleitoral, a intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno. Momentos especificamente religiosos não podem ser usados por candidatos para apresentarem suas propostas de campanha e demais assuntos relacionados às eleições. Desse modo, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lamenta e reprova tais ações e comportamentos.

A manipulação religiosa sempre desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil. É fundamental um compromisso autêntico com a verdade e com o Evangelho.

Ratificamos que a CNBB condena, veementemente, o uso da religião por todo e qualquer candidato como ferramenta de sua campanha eleitoral. Convocamos todos os cidadãos e cidadãs, na liberdade de sua consciência e compromisso com o bem comum, a fazerem deste momento oportunidade de reflexão e proposição de ações que foquem na dignidade da pessoa humana e na busca por um país mais justo, fraterno e solidário.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo 
Arcebispo de Belo Horizonte (MG)
Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre (RS)
Primeiro Vice-presidente da CNBB

Dom Mário Antonio da Silva
Arcebispo de Cuiabá (MT)
Segundo Vice-presidente da CNBB

Dom Joel Portella Amado
Bispo auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ)
Secretário-geral da CNBB

Baixe a nota na íntegra (aqui).

Na festa de Aparecida, Papa convida brasileiros a rezarem pela paz

Papa Francisco | Vatican News

Francisco citou a Padroeira do Brasil ao saudar os fiéis de língua portuguesa no final da Audiência Geral desta quarta-feira. Rezemos com os brasileiros pela paz, foi o convite do Papa.

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

No dia de Nossa Senhora Aparecida, rezemos pela paz!

Como acontece toda quarta-feira ao final da Audiência Geral, o Papa saudou os fiéis de língua portuguesa. Mas neste dia 12 de outubro, Francisco se dirigiu de modo especial aos brasileiros, na festa de sua Padroeira. 

“Hoje, celebra-se a Senhora Aparecida com tantos irmãos e irmãs que chegam em peregrinação ao seu Santuário. E ali, junto da Virgem Mãe, rezam o terço e cantam a Nossa Senhora Aparecida. Rezemos com eles pela paz e peçamos a Nossa Senhora que nos ajude a assumir o grande desejo do Pai celeste: fazer-nos participantes, a todos, da sua plenitude de vida. Deus os abençoe e Nossa Senhora os guarde.”

Os fiéis presentes na Praça São Pedro acompanharam as palavras do Pontífice com aplausos e cantando o hino "Dai-nos a bênção, ó Mãe Querida".

A inauguração da imagem de Nossa Senhora Aparecida

Perto Francisco, nos Jardins Vaticanos, há uma imagem de Nossa Senhora Aparecida que o próprio Papa inaugurou em 3 de setembro de 2016. Naquela ocasião, convidou os presentes a rezarem para que a Virgem "continue a proteger todo o Brasil, o povo brasileiro".

"Que proteja os mais pobres, os descartados, os idosos abandonados, os meninos de rua; que ampare os descartados e os que estão nas mãos dos exploradores de todo tipo; que salve o povo com a justiça social e com o amor de Jesus Cristo, seu Filho. Peçamos com amor por todo o povo brasileiro, que Ela, Mãe, abençoe. Foi encontrada pelos pobres trabalhadores: que hoje seja encontrada por todos, de modo especial por aqueles que têm necessidade de trabalho, de educação, por quantos estão privados de dignidade. Rezemos juntos: Ave Maria..."

A inauguração da imagem de Nossa Senhora Aparecida
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Nossa Senhora Aparecida

Nsa. Senhora Aparecida | arquisp
Não bastasse ser um dos maiores países católicos do planeta, o Brasil tem também um dos maiores centros de peregrinação mariana da cristandade do mundo. Trata-se, é claro, do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, São Paulo. A cidade foi batizada com o nome da Senhora, "aparecida" das águas, mas o Brasil inteiro também recebeu sua bênção desde o nascimento, graças aos descobridores e colonizadores que a tinham como advogada junto a Deus nas desventuras das expedições. A fé na Virgem Maria cresceu com os séculos e a confiança não esmoreceu, só se fortaleceu.

Em 1717, quando da visita do governador a Guaratinguetá, foi ordenado aos pescadores que recolhessem do rio Paraíba a maior quantidade possível de peixes, para que toda a comitiva pudesse ser alimentada e festejada com uma grande recepção. Todos se lançaram às águas com suas redes. Três deles, Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso, partiram juntos com suas canoas e juntos também lançaram as redes por horas e horas, sem pegar um único peixe. De repente, na rede de João Alves apareceu o corpo da imagem de uma santa. Outra vez lançada a rede, e a cabeça da imagem vem também para bordo. A partir daí, os três pescaram tanto que quase afundaram por causa da quantidade de peixes.

A pesca, milagrosa, eles atribuíram à imagem da santa. Ao regressarem foram para a casa de Filipe Pedroso e, ao limparem a imagem com cuidado, viram que se tratava de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, de cor escura. Então, cobriram-na com um manto e a colocaram num pequeno altar dentro de casa, onde passaram a fazer suas orações diárias. A novidade se espalhou e todos da vizinhança acorriam para rezar diante dela. Invocada pelos devotos como "Aparecida" das águas, durante quinze anos seguidos, a imagem ficou na casa da família daquele pescador.

A devoção foi crescendo no meio do povo e muitas graças foram alcançadas por todos aqueles que rezavam diante da imagem. Eram tantos os devotos que acorriam ao local que, em 1732, a família de Filipe construiu o primeiro oratório. Mas a fama dos prodigiosos poderes de Nossa Senhora Aparecida foi se espalhando até atingir todos os recantos do Brasil. Assim, foi necessário, então, construir uma pequena capela, em seguida uma sucessão de outras capelas cada vez maiores. Até que o local se tornou a cidade de hoje. Em 1888, houve a bênção do primeiro templo, que existe até hoje, conhecido como "Basílica Velha".

A primeira grande peregrinação de católicos "de fora", oficial e historicamente registrada, aconteceu em 1900. Eram mil e duzentos peregrinos viajando de trem desde São Paulo, liderados por seu bispo. Atualmente, são milhões de peregrinos vindos, diariamente, de todos os estados do país e de várias outras nações católicas, especialmente das Américas. A atual Catedral-Basílica de Nossa Senhora Aparecida, conhecida como "Basílica Nova", foi consagrada pessoalmente pelo papa João Paulo II, em 1980, quando de sua primeira visita ao Brasil.

Quanto ao amor do nosso povo por Maria, em 1904 a imagem foi coroada, simbolizando a elevação da Senhora como eterna "Rainha do Brasil", com todo o apoio popular. A coroa foi oferecida pela princesa Isabel. Foi também por aclamação popular e a pedido dos bispos brasileiros que, em 1930, o papa Pio XI proclamou solenemente Nossa Senhora Aparecida a "padroeira oficial do Brasil". O dia de sua festa, 12 de outubro, desde 1988 é feriado nacional.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF