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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

Santa Madalena de Nagasaki

Sta. Madalena de Nagasaki | arquisp
20 de outubro

Santa Madalena de Nagasaki

Madalena, filha de nobres e fervorosos cristãos, nasceu em 1611, num povoado muito próximo da cidade de Nagasaki, no Japão. Dizem os antigos manuscritos que era uma jovem bela, graciosa e delicada. Sua família era de fervorosos cristãos e pertencia à nobreza. Ela era muito pequena quando os seus pais e irmãos foram condenados à morte pela fé em Cristo, sendo, antes, brutalmente torturados.

Cresceu educada no seguimento de Cristo, até que, em 1624, conheceu dois agostinianos recoletos, Francisco de Jesus e Vicente de Santo Antônio. Atraída pela profunda espiritualidade dos dois missionários, que se tornaram seus orientadores, Madalena acabou sendo consagrada a Deus como terciária agostiniana recoleta. Desde então, sua roupa de nobre foi substituída pelo hábito e as únicas ocupações foram a oração, a leitura da Bíblia e o apostolado.

Eram tempos muito difíceis. A perseguição enfurecida contra os cristãos crescia a cada dia em sistemática e crueldade. Os padres Francisco e Vicente também foram martirizados. Madalena, porém, não se intimidou. Continuou firme, transmitindo coragem aos cristãos, ensinando o catecismo às crianças e pedindo esmolas e donativos aos comerciantes portugueses, para os pobres e doentes.

Em 1629, procurou refúgio nas montanhas de Nagasaki, partilhando dos sofrimentos e das agonias dessa comunidade. Encorajava para que se mantivessem fortes na fé, e recolocava no caminho do Evangelho aqueles que tinham renegado Cristo sob tortura. Levava consolo para os doentes e ainda batizava as crianças.

Diante da grande renúncia da fé pelos cristãos, aterrorizados com as torturas a que eram submetidos se não a fizessem, e ansiando por unir-se para sempre a Cristo, Madalena decidiu enfrentar os perseguidores. Vestida com o hábito, em setembro de 1634 apresentou-se aos juízes. Levava consigo apenas a Bíblia, para pregar a palavra de Jesus e meditar no cárcere. Os magistrados, admirados com sua beleza e juventude e informados que ela possuía sangue nobre, fizeram-lhe promessas de vida confortável com um vantajoso casamento. Madalena não cedeu, mesmo sabendo das horríveis torturas que sofreria.

Nos primeiros dias de outubro de 1634, foi torturada. Ficou suspensa pelos pés, com a cabeça e o peito submersos em uma fossa. Cada vez que a tiravam do suplício, era solicitada a negar a fé. Em vez disso, Madalena pronunciava os nomes de Jesus e Maria e cantava hinos de glória ao Senhor.

Resistiu a tudo durante treze dias e meio, quando as águas inundaram a fossa e Madalena morreu afogada. Depois, teve o corpo queimado e as cinzas jogadas no mar, para evitar que suas relíquias fossem guardadas pelos cristãos.

Beatificada em 1981, foi canonizada pelo papa João Paulo II em 1987. A celebração de sua memória foi marcada para o dia 20 de outubro. A Ordem Dominicana venera-a no dia 19 de novembro. Em 1989, foi proclamada padroeira da Fraternidade Secular Agostiniana Recoleta.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

A missão de Cristo é a missão da Igreja

A missão da Igreja | pnscjm
Por Revista 30Dias - 11/2007

A missão de Cristo é a missão da Igreja

Entrevista com o cardeal John Njue, arcebispo de Nairóbi, sobre a Igreja africana, que nasceu da caridade dos missionários, num continente à mercê da vontade dos países desenvolvidos.

Entrevista com o cardeal John Njue de Davide Malacaria

Ele também estava na Basílica de São Pedro em 24 de novembro. Ele também recebeu o barrete vermelho do papa Bento XVI. O novo purpurado John Njue, do Quênia, é um dos dois prelados africanos criados cardeais no último consistório. Nascido em 1944, e batizado em 1948, mudou-se para Roma, depois de estudar no seminário de Nkubu, onde estudou Filosofia na Pontifícia Universidade Urbaniana, diplomando-se em 1969. Em 1974, obteve também o diploma de Teologia na Pontifícia Universidade Lateranense. Em Roma, foi ordenado por Paulo VI, em 6 de janeiro de 1973, no 350º aniversário da instituição da Congregação para a Evangelização dos Povos. Em 1986, foi ordenado bispo da diocese de Embu, onde ficou até 2002, quando foi promovido a arcebispo coadjutor de Nyeri. Em 6 de outubro de 2007, foi nomeado arcebispo de Nairóbi. Ocupou vários cargos na Conferência Episcopal Queniana, até se tornar seu presidente. Coube a ele estar à frente do vicariato apostólico de Isiolo, na qualidade de administrador apostólico, depois do assassinato do bispo Luigi Locati, que chocou toda a Igreja Católica em 14 de julho de 2005. Um episódio que o prelado nem gosta de comentar, à espera de que a justiça siga seu curso. Encontramos o purpurado em Roma,logo após o Consistório, no mesmo dia em que morreu o arcebispo de Nyeri, dom Nicodemus Kirima, ao qual o cardeal Njue estava muito ligado afetivamente. Ele menciona o fato quase de leve, como quando alguém fala de uma coisa que deixa nas mãos de Deus.

O cardeal John Njue | 30Dias

O senhor acha que sua nomeação é também um gesto de solicitude do Santo Padre perante o continente africano?
JOHN NJUE: Recebi esta nomeação como um relâmpago num céu sereno, uma surpresa: em setembro, me informaram que seria transferido de Nyeri, onde eu era arcebispo coadjutor, para Nairóbi, e mais tarde, em 17 de outubro, recebi a nomeação a cardeal. Foi uma coisa difícil de aceitar, humanamente falando, pois não me agradava deixar meu confrade, o arcebispo de Nyeri. Era uma coisa que me custava, mas a obediência acabou por vencer em mim, pois, desde o dia em que me tornei diácono, depois sacerdote, e, depois ainda, no momento de minha ordenação episcopal, sempre tive no coração a atitude de ser aberto à vontade de Deus. Em particular à vontade de Deus que nos é revelada por intermédio da Igreja, e que a Igreja nos comunica por intermédio do Papa. Assim, aceitei com esse espírito de obediência, cheio de esperança no Senhor, que continua próximo de nós quando nos dá uma responsabilidade. Vejo essa nomeação como uma homenagem não apenas a mim, mas também à Igreja do Quênia, à Igreja da África e, também, à Igreja universal, pois, quando alguém é nomeado cardeal, torna-se quase um consultor do Santo Padre, cada um com sua responsabilidade, que recebe para o bem da Igreja. Foi por isso que aceitei. E que seja feita a vontade de Deus. Nesse sentido, eu me lembro de que, quando encontramos o Santo Padre, durante a recente visita ad limina dos bispos do Quênia, e depois, de novo, quando o encontramos como novos cardeais, ele insistiu muito nisto: devemos ser instrumentos nas mãos de Deus, para que a Igreja cresça, como quis o Senhor desde o início.
Nessa visita ad limina, de 19 de novembro passado, o Papa disse: “A comunidade [cristã] deveria estar aberta à acolhida de todos os que se arrependem de ter participado do grave pecado do aborto, e deveria guiá-los com caridade pastoral a aceitarem a graça do perdão, a necessidade da penitência e a alegria de poderem entrar mais uma vez na vida de Cristo”. Essas palavras chamaram a atenção da mídia.
NJUE: Um pecado continua a ser um pecado. Segundo o Direito, esse pecado tem como conseqüência uma excomunhão. Mas o que se condena é o ato, enquanto a pessoa continua a ser uma pessoa. Sobre a questão do aborto, a posição da Igreja me parece muito clara. Como também me parece evidente que nós, bispos, devemos estar próximos das pessoas que vivem nessa dificuldade, encorajando-as a deixar que o Senhor retome seu lugar em sua vida. É uma expressão da misericórdia de Deus. Não acho que as palavras do Papa sejam uma maneira de dizer que o aborto é um pecado soft , mas, ao contrário, acredito que foi um convite a uma pastoral da misericórdia, que reconheça como ponto central o amor de Deus por todos, sejam quais forem as situações individuais. Para que esse amor seja correspondido, é preciso que haja a conversão e, portanto, é preciso que a pessoa deixe Deus retomar seu lugar, segundo a aliança feita no dia do batismo.
Quais são, na sua opinião, as prioridades da Igreja africana, num continente atormentado pela fome e pela guerra?
NJUE: No meu modo de ver, as Igrejas na África têm uma gênese comum, tendo como origem a obra de nossos missionários. Pois, se a Igreja existe hoje na África, é graças à dedicação e à generosidade de nossos missionários e, por extensão, das Igrejas mais antigas. Agora que o número de missionários vem diminuindo em quase todos os países, parece-me que uma de nossas primeiras responsabilidades é ajudar nosso povo a tomar consciência de que é Igreja, promover sua auto-suficiência do ponto de vista da evangelização, de forma que a evangelização fique a cargo de africanos, sejam eles leigos, sejam religiosos. Que nosso povo sinta, com isso, que ele é a paróquia, que ele é a diocese e, enfim, que ele é a Igreja. Tivemos experiências muito bonitas nesse sentido: em lugares em que o povo antes vivia sempre pedindo, hoje ele é quem dá. Acho que devemos trabalhar nessa direção. Para que isso aconteça, outra prioridade é a catequese. A Igreja vive num mundo mergulhado na globalização, um fenômeno que não deixa ninguém de fora: mesmo quem não sabe inglês é influenciado por ele. Para ficarmos firmes na fé que recebemos, acho que devemos focalizar nossa obra na catequese. Outra prioridade que devemos repensar fortemente é o chamado a viver com espírito de generosidade. A África é atormentada por guerras, por catástrofes, é verdade. Mas não devemos esperar sempre que a ajuda venha de fora. Creio que somos chamados a viver um espírito de generosidade, tanto de um ponto de vista humano quanto cristão. Outra coisa muito importante a meu ver é a independência política: infelizmente, muitos de nossos países têm governos ligados, por diferentes razões, a poderes externos, que condicionam sua ação. No Quênia, nos últimos cinco anos, tivemos uma experiência positiva; o último governo buscou o bem-estar do povo, o que é testemunhado pelo tipo de financiamento da despesa pública: mais de 93% das despesas de nosso governo foram possíveis graças aos impostos pagos pelo povo. Isso a meu ver é uma coisa muito interessante, pois, limitando o financiamento externo, o governo evitou que os financiadores pudessem ditar suas condições. A questão da independência política das nações africanas é uma coisa muito importante: infelizmente, no chamado “primeiro mundo” nem todos dão possibilidade aos países em via de desenvolvimento de viverem sua identidade e dignidade. Existem compromissos demais, que impedem uma verdadeira libertação dos povos africanos. ra poder caminhar bem, creio que esse caminho para a independência política deva começar em cada país, o qual, depois, poderá compartilhar com os outros essa experiência.

Bento XVI impõe o barrete cardinalício a John Njue, a
24 de novembro de 2007

Em 27 de dezembro serão realizadas as eleições políticas no Quênia. A Igreja teve alguma influência nesse processo?
NJUE: A história do Quênia começa quando o país se torna independente da Inglaterra, em 1964. Depois da independência, não era tão fácil assim construir um Estado, ter visões concretas sobre como agir. Foi um caminho. E, por mais de quarenta anos, tivemos governos que, em vez de velar pelo bem-estar do povo, usaram o poder político para interesses próprios. Com o passar do tempo, foi ficando cada vez mais difícil para o povo aceitar isso, pois, nesse meio tempo, cresceu a exigência de um Estado realmente democrático. No meu modo de ver, foi dada uma resposta a essa exigência em 2002, com o governo instalado naquele ano. É claro que esse governo também tinha limites, mas, olhando para trás, constatamos que as coisas estão melhor do que antes. Foram lançadas as raízes, agora é preciso seguir em frente. Nestes anos tivemos dificuldades, houve um grande debate sobre o referendo para a mudança da Constituição, essa mudança foi rejeitada pelo povo, e isso porque, na minha opinião, a discussão, mais que sobre a mudança da Constituição, se desviava para questões políticas. Teremos eleições em 27 de dezembro, e nós, como bispos, temos a responsabilidade de educar o povo. Assim, publicamos uma carta pastoral pedindo ao povo que assumisse essa responsabilidade com seriedade, pois essas eleições não são uma coisa facultativa, mas uma responsabilidade, ou melhor, podemos até dizer, uma obrigação. Para que elas possam se realizar de maneira límpida, pedimos que se evite qualquer violência e que seja banida a compra e venda de votos. Além disso, pedimos aos jovens que não se deixem instrumentalizar pelos políticos. Fizemos esse apelo a todos, católicos e não católicos, exercendo o que acreditamos ser nossa responsabilidade.
Como é a relação com o islã em seu país?
NJUE: O Quênia é um país leigo, que respeita todas as religiões. Os islâmicos em nosso país constituem menos de 10% da população. Mas existem. E, para viver bem com eles, é preciso que haja um diálogo. Em nosso país, esse diálogo é uma realidade graças também ao trabalho de uma comissão interna da Conferência Episcopal que promove o diálogo com o islã e com as outras religiões. Quem causa problemas são os políticos, pois há quem queira atrair os votos dos muçulmanos com promessas perigosas. Durante a recente visita ad limina, enquanto estávamos em Roma, quisemos alertar para este perigo: ninguém deve basear sua campanha eleitoral em promessas que podem criar dificuldades para o país. Sobre questões que tocam o interesse nacional, o povo deve ser consultado.
Bem perto do Quênia, vem acontecendo o drama da Somália...
NJUE: É uma questão muito complicada. Infelizmente, o governo fechou as portas aos refugiados da Somália. Não sabemos por quê. Provavelmente possuem informações que não tornaram públicas. Pedimos explicações. Nesse meio tempo, ajudar os refugiados é difícil: só podemos ajudar, e temos ajudado, aqueles que já estão em nosso país. Nossa Cáritas procura ajudar aos muitos que ainda continuam dentro da Somália por meio dos canais humanitários que outras entidades também utilizam.
Em 24 de agosto de 2000, era encontrado morto o padre John Anthony Kaiser, religioso da Sociedade Missionária de São José de Mill Hill. Entre outras coisas, esse homicídio foi o centro de um clamor insistente por justiça da parte da Igreja do Quênia. Depois de vários expedientes utilizados principalmente para fazer crer que a morte teria sido suicídio, em agosto o tribunal competente estabeleceu que foi mesmo um homicídio.
NJUE: Esse homicídio testemunha o tormento em que estava mergulhado o Quênia antes de 2002. Padre Kaiser denunciou diversas injustiças, e acreditamos que tenha sido esse o motivo de seu assassinato. Em agosto, a corte estabeleceu que não foi suicídio, como se queria fazer crer anteriormente. Antes de ir a Roma, estive na procuradoria-geral, pois queremos saber exatamente o que aconteceu: o caso não está encerrado. É um clamor por justiça que repetimos mais uma vez, por ocasião do aniversário de sua morte.

Fiéis visitam o túmulo do padre John Anthony Kaiser
Que contribuição a Igreja africana pode dar à Igreja ocidental, e o que a Igreja ocidental pode fazer em favor da Igreja africana?
NJUE: O que a Igreja pode fazer, em primeiro lugar, é ser Igreja. E ser Igreja significa viver o que o próprio Senhor indicou no início de sua missão na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres” (Lc 4, 18). Acredito que, com essas palavras, o Senhor quisesse dizer que essa é a missão. E a missão de Cristo é a missão da Igreja. Se a Igreja não tem missionariedade, parece-me que não é mais Igreja. Está morta, é uma mera associação. Tanto a Igreja na África quanto a dos países desenvolvidos deveriam recuperar essa realidade de missão. Por isso, mesmo onde existem sacerdotes africanos, creio que seja necessário continuar a haver uma presença de missionários, pois sua missão não se esgotou de modo algum. Sua presença, mesmo mínima, deve continuar, pois representa um ponto de referência que lembra à Igreja africana de onde ela vem. Por outro lado, nós, africanos, também devemos nos tornar missionários, não apenas contribuindo para a Jornada Missionária, mas promovendo a geração de uma comunhão entre a Igreja dos países desenvolvidos e a que provém das terras de missão. Assim, daremos testemunho de uma Igreja como verdadeiro corpo de Cristo.
O senhor foi ordenado sacerdote por Paulo VI, autor da célebre frase: “A África aos africanos” ...
NJUE: Paulo VI disse essas palavras em Campala, em 1969, querendo dizer que os africanos já eram missionários de si mesmos. A meu ver, era um desafio, uma maneira de dizer: vocês já se devem ver como amadurecidos, capazes de levar adiante a obra missionária. Quando Bento XVI nos deu o barrete e o anel, foi uma experiência muito tocante, que, entre outras coisas, me fez reviver o momento de minha ordenação sacerdotal, que se deu bem aqui, em São Pedro, naquele distante 6 de janeiro de 1973. Na época, havia uma crise de vocações, mas Paulo VI nos encorajou a permanecermos unidos ao Senhor, pois dessa forma levaríamos adiante a missão que nos havia sido dada...

Formação da consciência cidadã

Ensinar cidadania com crianças | Sponte

FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA CIDADÃ

Dom Genival Saraiva
Bispo Emérito de Palmares (PE) 

Por serem educáveis, o indivíduo, no contexto em que vive, e a coletividade, conforme as circunstâncias de tempo e lugar, encontram-se sob um contínuo processo de influência, por parte de pessoas e instituições, segundo suas concepções ideológicas e padrões pragmáticos de conduta. Essa realidade é identificada na vida das pessoas e na história das civilizações, num passado mais ou menos remoto ou na atualidade, e atua, de forma determinante, no campo da formação da consciência humana, diante de situações do dia a dia, no universo social, econômico, político, religioso. Hoje, o fenômeno da comunicação online tornou-se globalizado, desconhecendo fronteiras geográficas e acontecendo num “aqui e agora” universalizado, graças à versatilidade dos meios de comunicação. Obviamente, tudo isso tem consequências favoráveis ou preocupantes, de conformidade com o “modus pensandi” e o “modus operandi” de pessoas e instituições que utilizam meios transparentes ou formas sombrias, em vista da obtenção de seus intuitos. À sua maneira, o profeta Zacarias, no seu tempo, se referiu à conduta das pessoas, em face de seus semelhantes, que Deus abençoa ou amaldiçoa: “’Falar a verdade uns aos outros e praticar a paz nos vossos tribunais e não guardar a maldade em vossos corações, uns contra os outros, nem recorrer ao juramento falso: são coisas que odeio’. (Zc 8,16-17) 

Diante do ensinamento profético e fazendo a leitura do processo eleitoral em curso, é necessário compreender o momento vivido pela sociedade que está gerando uma polarização muito acentuada entre os brasileiros, cujo perfil tem o caráter de radicalidade que não se registrou em outras eleições. Diferentemente do discurso persuasivo que “consegue convencer outras pessoas”, usa-se o discurso enganoso, intencionalmente mentiroso, tanto na apresentação de causas que não estão fundamentadas na verdade, quanto na divulgação de notícias falsas. Essa é “a maldade” referida pelo profeta Zacarias que está colocando os brasileiros “uns contra os outros”. Embora não desconhecendo expressões de intolerância, ao longo dos tempos, ante a desejada harmonia social, o bom senso e a consciência de cidadania interpelam a população brasileira, diante de extremismos ideológicos, de fundamentalismos religiosos, de sectarismos partidários. Tristemente, constata-se um patrulhamento de natureza ideológica que leva à acriticidade das pessoas, tendo como consequência uma adesão teleguiada e um controle intencional da consciência humana numa esfera sagrada como, por exemplo, a liberdade religiosa, a liberdade da manifestação da prática religiosa. Nesse conjunto de coisas, chamam a atenção a face empresarial de igrejas cristãs e o crescente envolvimento político-partidário de seus representantes. A “teologia da prosperidade”, que está na raiz desse projeto, tem como focos o acúmulo de bens materiais e a conquista do poder que, claramente, se colocam na direção contrária do serviço – “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por muitos” (Mt 20,28) e do mandado missionário – “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos” (Mt 28,19). Na verdade, esses são os traços distintivos que Jesus associou à ação de sua Igreja. A sociedade, como tal, através de suas instituições, como a Escola, e a Igreja, em particular, à luz da Palavra de Deus e da sua Doutrina Social, têm, inquestionavelmente, um lugar reconhecido na formação da consciência cidadã dos brasileiros, sempre contemplando a pluralidade e a diversidade social, sempre preservando a liberdade das pessoas. 

A formação da consciência cidadã tem como base o discernimento social e político, com absoluto respeito à liberdade individual e com forte apelo à participação democrática na construção da nacionalidade. Nesse sentido, há lugar para duas observações em relação às eleições de 2022. Por ser destoante, salta aos olhos o fato lamentável da instrumentalização da religião, da manipulação da fé dos fiéis, em vista da conquista de votos, por parte de candidatos, de grupos sectários, de federações partidárias. Em se tratando de voto facultativo, constata-se a exemplar expressão de responsabilidade cidadã, por parte de dois segmentos da sociedade: o comparecimento às urnas dos “maiores de 16 e menores de 18 anos” e dos “maiores de 70 anos”. Esses dois fatos deixam lições que não podem ser esquecidas pela população: o primeiro é condenado pela “sã consciência” e o segundo é sinal de maturidade política.

JMJ Lisboa: reunião de preparação em Fátima. Farrell: "Construamos pontes"

JMJ Lisboa 2023 | Vatican News

O prefeito do Dicastério para Leigos, Família e Vida participa da sessão de abertura dos dias de preparação para o evento de 2023, que vai até o dia 19 de outubro. Reunidas as equipes de todas as direções do Comitê organizador local, os representantes das Conferências episcopais e das Pastorais juvenis de todo o mundo, movimentos e congregações.

Salvatore Cernuzio – Vatican News
“Que a próxima JMJ seja um espaço aberto onde os jovens possam encontrar Cristo e encontrar n’Ele a sua vocação de vida. Que esta JMJ seja um novo começo para muitos de nós e para a sociedade”. O cardeal Kevin Farrell expressa um duplo desejo pela Jornada Mundial da Juventude que - após um adiamento de um ano devido à pandemia global do Coronavírus - se realizará em Lisboa de 1º a 6 de agosto de 2023. O cardeal, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, abriu esta segunda-feira, 17 de outubro, em Fátima, o encontro preparatório internacional que se realizará até 19 de outubro, sede do conhecido santuário mariano, destino de milhares de peregrinos. Todos os delegados das Conferências Episcopais para a Pastoral juvenil, movimentos e associações participam do encontro preparatório – pela primeira vez desde 2019 no Panamá. Cerca de 300 pessoas de mais de cem países.

Primeiro "cara a cara" após a pandemia

Para Farrell, esta é uma ocasião "especial", sendo o primeiro "cara a cara entre os delegados da Pastoral juvenil" após a última reunião ocorrida online em novembro de 2020. "Agora, aqui em Fátima, o verdadeiro encontro, a experiência de uma Igreja mundial em movimento e a oração comum são novamente possíveis", disse o cardeal, exortando os presentes, vindos "de muitas nações e culturas diferentes", para "construir pontes entre vocês": "Façamos deste encontro presencial um sinal de construção de pontes entre nações e culturas. É isso que as Jornadas Mundiais da Juventude representam desde o seu início. Esta mensagem nunca é antiga e hoje é muito necessária”.

O cardeal Kevin Farrell (Vatican Media)

Igreja a caminho

O encontro, disse Farrell, é o encontro de uma "única Igreja universal em movimento", segundo o desejo do Papa Francisco de "uma Igreja sinodal". O cardeal encorajou todos a se prepararem para a JMJ em seu próprio país e em seu próprio movimento, deixando "os próprios jovens serem os protagonistas". “Eles terão grandes ideias criativas sobre como moldar a peregrinação da JMJ”, disse.
Os frutos "pequenos e escondidos"

O chefe do Dicastério também lembrou os "esforços organizativos e logísticos" que "o maior evento juvenil do mundo" sempre exige: são necessários, mas "seus frutos estão em outro nível". Frutos muitas vezes "escondidos e pequenos", como "a escuta silenciosa do chamado de Cristo ao serviço sacerdotal e à vida consagrada", "os primeiros vislumbres ternos de um futuro matrimônio", "os apelos dos necessitados e da criação que movem os jovens a levantar e agir". Estes são "todos os movimentos que vêm de Cristo", disse Farrell.

O purpurado concluiu exortando a formar "uma forte comunidade de oração neste lugar especial" que é Fátima e a abrir-se nestes dias do encontro preparatório "às inspirações do Espírito Santo".

Os dias em Fátima

Os dias de preparação para a JMJ têm lugar no Centro Pastoral Paulo VI. Como referido, estão reunidas as equipes de todas as direções da Comissão organizadora local da JMJ Lisboa 2023, bem como representantes das Conferências episcopais e Pastoral juvenil de todo o mundo, movimentos e congregações. "O encontro - informa um comunicado - visa dar a conhecer a organização da JMJ em Lisboa 2023, partilhando a cultura e identidade do país e cidade que vai acolher o próximo encontro mundial de jovens com o Papa".

O encontro internacional preparatório é sempre realizado em duas edições: a primeira em Roma, como encerramento da JMJ e lançamento da próxima; a segunda cerca de um ano antes de cada evento, no país ou na mesma cidade onde será realizado.

São Paulo da Cruz

S. Paulo da Cruz | bispado
19 de outubro

São Paulo da Cruz

Profundo devoto da Sagrada Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, fundador das Congregações dos Padres e das Irmãs Passionistas.

Origens

Paulo Francisco Nasceu em 03 de janeiro de 1694 na cidade de Ovada, que fica na região norte da Itália. Foi o segundo dentre 16 filhos. Filho de família nobre, de boa posição social, embora sem possuir fortuna. Seu pai era comerciante e vivia de viagens. Quando jovem, Paulo passou a ajudar o pai nas viagens. Sua família era católica, piedosa e praticante. Por isso, desde criança, Paulo dedicava-se à leitura de livros sobre a vida dos santos e sentia-se especialmente atraído pela vida dos eremitas. Dedicava-se também à oração e à penitência. Sempre que podia, ia à igreja para rezar o terço. Conseguiu unir vários amigos para meditarem sobre a Paixão de Cristo. Todas essas experiências ajudaram a amadurecer sua vocação para a vida religiosa.

Eremita e pregador

Ao completar dezenove anos, o jovem Paulo foi tocado por uma pregação de seu pároco e  decidiu entregar sua vida totalmente a Deus. Sua família aceitou com alegria. A princípio, ele foi viver como eremita em lugares distantes dos centros urbanos. Mantendo sempre um diálogo com seu bispo, este o autorizou a fazer pregações aos fins de semana. Assim, ele procurava ir aos povoados pregar para o povo e falar sobre a Paixão de Nosso Senhor.

Os frutos apareceram

Muitas conversões aconteceram quando as pessoas ouviam as pregações do “irmão” Paulo Francisco falando tão ardorosamente sobre a Paixão de Cristo. Muitos corações se voltaram para Deus. Ele passou a ser conhecido como um missionário, um porta voz de Deus. Dessa maneira, foi amadurecendo em seu coração o sonho de iniciar uma comunidade religiosa dedicada a valorizar a Paixão de Cristo, razão de nossa salvação.

Fundador da Congregação dos Padres Passionistas

Vendo os frutos de seu trabalho missionário, o bispo ordenou-o sacerdote. O ministério sacerdotal abriu para ele novos horizontes de apostolado. Por isso, muitos jovens aderiram ao seu trabalho missionário e passaram a ser seus discípulos. Assim, obedecendo ao impulso que o Espírito de Deus lhe dava, o Padre Paulo partilhou com o bispo seu sonho de fundar uma Congregação religiosa dedicada a valorizar no coração dos fiéis o amor à Paixão de Cristo. O bispo lhe deu total apoio e foi à Santa Sé pedir autorização do Papa. O Papa autorizou e o Padre Paulo da Cruz, como passou a ser chamado, fundou a Congregação dos Passionistas, recebendo um grupo de primeiros noviços.

Ramo feminino

Vendo os frutos reluzentes que a Congregação nascente fazia brotar no coração dos fiéis, padre Paulo sentiu no coração a necessidade de fundar também o ramo feminino de Passionistas, dedicadas a uma vida contemplativa e de oração pela missão dos padres. Assim nasceu a Congregação das Irmãs Passionistas.

Penitência, sacrifícios e milagres

São Paulo da Cruz nunca abandonou a vida de oração, sacrifícios e penitências. Usava sempre o hábito preto de sacerdote adornado com uma cruz branca que lembrava sua missão de pregar sobre a Paixão de Cristo. Além disso, dedicou-se ele a escrever várias obras que ajudaram a muitos na fé. Muitos foram os doentes curados milagrosamente após a oração de São Paulo da Cruz. Ele sempre atribuía essas curas á Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo e à Virgem das Dores.

Morte

Tendo chegado aos 78 anos, depois de uma vida inteira dedicada à evangelização, já desenganado, pediu a bênção do Papa Pio VI. Este, chamou-o até Roma. Com sacrifício, São Paulo foi, melhorou e viveu por mais três anos. Faleceu em 1775, aos 81 anos vendo os frutos de sua missão começarem a se espalhar pelo mundo. Em seus escritos e exemplos, insistiu que as comunidades Passionistas nunca deixassem de ser lugares que promoviam a experiência de Deus e ensinassem os caminhos da oração profunda.

Oração a São Paulo da Cruz

“Glorioso e Eterno Deus, que conferistes a São Paulo da Cruz a graça das grandes iniciativas cristãs, fazendo-o fundador dos Padres Passionistas, concedei-nos a graça de sermos sempre diligentes e fiéis para as coisas de Deus. Isto vos pedimos por Cristo Nosso Senhor. Amém. São Paulo da Cruz, rogai por nós!”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

O outro padroeiro do Brasil: São Pedro de Alcântara

CC | São Pedro de Alcântara dá a comunhão a Santa Teresa de Ávila
Por Francisco Vêneto

Sim, temos um especial (e desconhecido) intercessor além de Nossa Senhora Aparecida.

Muitos brasileiros não sabem, mas o Brasil tem outro padroeiro oficial além de Nossa Senhora Aparecida – e ele também é celebrado liturgicamente em outubro: o dia 19 marca a memória litúrgica de São Pedro de Alcântara, um frade franciscano nascido espanhol e cuja vida se caracterizou pela penitência e pelas mortificações.

Seu sobrenome vem da cidade onde nasceu em 1499, Alcântara. Cultivador da oração desde pequeno, Pedro descobriu a vocação quando estudava na Universidade de Salamanca. Embora o pai desejasse que ele seguisse carreira na área de Direito, o jovem decidiu entrar na ordem dos franciscanos.

Pedro recebeu a ordenação sacerdotal e era reconhecido como exemplo de vida de oração, desapego material e firme domínio de si, já que exercitava com disciplina o jejum e as mortificações, além de usar um hábito surrado e dormir poucas horas por noite. Foi superior em vários conventos, sempre testemunhando estrita conformidade com as regras da comunidade. Suas orações incentivaram muitos à conversão.

Para que os religiosos se aprofundassem cada vez mais na oração e na disciplina, São Pedro de Alcântara fundou o ramo franciscano de “estrita observância”, também chamados de “alcantarinos”. Teve amigos como os santos Francisco de Borja e Teresa de Ávila, de quem, aliás, foi diretor espiritual e apoiador nas reformas da ordem carmelita.

São Pedro de Alcântara morreu em 1562, aos 63 anos, ajoelhado, pronunciando as palavras do Salmo 121:

“Que alegria quando me disseram: Vamos subir à casa do Senhor”.

Santa Teresa De Ávila declarou ter recebido uma visão de São Pedro de Alcântara após a sua morte, ocasião em que o santo lhe teria dito:

“Felizes sofrimentos e penitência na terra, que me valeram tão grandes recompensas no céu”.

São Pedro de Alcântara, o “outro” padroeiro do Brasil

Mas se ele nunca sequer chegou perto do Brasil presencialmente, como foi que São Pedro de Alcântara veio a se tornar padroeiro do país?

Notável pregador, o frade havia sido também o confessor do rei de Portugal dom João III, vindo a se tornar, depois, o santo de devoção da Família Real. É por isso, inclusive, que o nome de Pedro de Alcântara foi escolhido para batizar os dois futuros imperadores do Brasil: dom Pedro I e dom Pedro II.

E foi dom Pedro I quem solicitou ao Papa Leão XII que São Pedro de Alcântara fosse proclamado Padroeiro do Brasil, o que aconteceu em 1826.

Mesmo com a proclamação de Nossa Senhora Aparecida como a padroeira nacional, São Pedro de Alcântara também continua sendo honrado como especial patrono da nossa terra junto a Deus.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

terça-feira, 18 de outubro de 2022

O que é a Lectio Divina?

Lectio Divina | Canção Nova

O que é a Lectio Divina?

Pe. Demétrio Gomes

A Lectio Divina vem do latim e tem como significado, “leitura divina”, “leitura espiritual” ou ainda “leitura orante da Bíblia”, é um alimento necessário para a nossa vida espiritual. A partir desta oração, conscientes do plano de Deus e a sua vontade, pode-se produzir os frutos espirituais necessários para a salvação. A Lectio Divina é deixar-se envolver pelo plano da Salvação de Deus. Os princípios da Lectio Divina foram expressos por volta do ano 220 e praticados por monges católicos, especialmente as regras monásticas dos santos: Pacômio, Agostinho, Basílio e Bento. Santa Terezinha Do Menino Jesus dizia, em período de aridez espiritual, que quando os livros espirituais não lhe diziam mais nada, ela busca no Evangelho o alimento de sua alma.

A Lectio Divina tradicionalmente é uma oração individual, porém, pode-se fazê-la em grupo. O importante é rezar com a Palavra de Deus lembrando o que dizem os bispos no Concílio Vaticano II, relembrando a mais antiga tradição católica, que conhecer a Sagrada Escritura é conhecer o próprio Cristo. Monges diziam que a Lectio Divina é a escada espiritual dos monges, mas é também de todo o cristão. O Papa Bento XVI fez a seguinte observação num discurso de 2005: “Eu gostaria, em especial recordar e recomendar a antiga tradição da Lectio Divina, a leitura assídua da Sagrada Escritura, acompanhada da oração que traz um diálogo íntimo em que a leitura, se escuta Deus que fala e, rezando, responde-lhe com confiança a abertura do coração”.

O Concílio Vaticano II, em seu decreto Dei Verbum 25, ratificou e promoveu com todo o peso de sua autoridade, a restauração da Lectio Divina, que teve um período de esquecimento por vários séculos na Igreja. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, que, pela freqüente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (Fl 3,8). Porquanto “ignorar as Escrituras é ignorar a Cristo” (São Jerônimo, Comm. In Is., prol).

A prática cristã ancestral de Oração Centrante tem suas raízes e é alimentada pela oração de escuta da Palavra de Deus na Sagrada Escritura, especialmente nos Evangelhos e Salmos. Por isso, faço este convite a você que ainda não faz a Lectio Divina para ter este profundo alimento espiritual e quem faz   desejo os votos de perseverança. A Lectio Divina possui os seguintes passos: comece invocando o Espírito Santo fazendo esta oração: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor. – Enviai o vosso Espírito, e tudo será criado; e renovareis a face da terra. Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com as luzes do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas e gozemos sempre da sua consolação. Por Cristo Senhor nosso. Amém”. A Lectio possui quatro passos: 1- Lectio (Leitura); 2- Meditatio (Meditação); 3- Oratio (Oração) e 4- Contemplatio (Contemplação).

Quanto à leitura, Leia, com calma e atenção, um pequeno trecho da Sagrada Escritura (aconselha-se que nas primeiras vezes utilize-se os textos dos Evangelhos). Leia o texto quantas vezes forem necessárias. Procure identificar as coisas importantes desta perícope: o ambiente, os personagens, os diálogos, as imagens usadas, as ações. É importante que identificar tudo com calma e atenção, como se estivesse vendo a cena. A leitura é o estudo assíduo das Escrituras, feito com aplicação de espírito. À leitura, eu escuto: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8). Eis uma palavra curta, mas cheia de suaves sentidos para o repasto da alma. Ela oferece como que um cacho de uva. A alma, depois de o examinar com cuidado, diz em si mesma:Pode haver aqui algum bem, voltarei ao meu coração e tentarei, se possível, entender encontrar esta pureza. Pois é preciosa e desejável tal coisa, cujos possuidores são ditos bem-aventurados, e à qual se compromete a visão de Deus, que é a vida eterna, e que é louvada por tantos testemunhos da Sagrada Escritura. Eis uma palavra curta, mas cheia de suaves sentidos para o repasto da alma. Ela oferece como que um cacho de uva. A alma, depois de o examinar com cuidado, diz em si mesma: Pode haver aqui algum bem, voltarei ao meu coração e tentarei, se possível, entender encontrar esta pureza. Pois é preciosa e desejável tal coisa, cujos possuidores são ditos bem-aventurados, e à qual se compromete a visão de Deus, que é a vida eterna, e que é louvada por tantos testemunhos da Sagrada Escritura.

Quanto à Meditatio, começa, então, diligente meditação. Ela não se detém no exterior, não pára na superfície, apóia o pé mais profundamente, penetra no interior, perscruta cada aspecto. Considera atenta que não se disse: Bem-aventurados os puros de corpo, mas, sim, “os puros de coração”. Pois não basta ter as mãos inocentes de más obras, se não estivermos, no espírito, purificados de pensamentos depravados. Isso o profeta confirma por sua autoridade, ao dizer: Quem subirá o monte do Senhor? Ou quem estará de pé no seu santuário? Aquele que for inocente nas mãos e de coração puro (Sl 24,3-4). Depois de ter refletido sobre esses pontos e outros semelhantes no que toca à pureza do coração, a meditação começa a pensar no prêmio: Como seria glorioso e deleitável ver a face desejada do Senhor, mais bela do que a de todos os homens (Sl 45,3), não mais tendo a aparência como que o revestiu sua mão, mas envergando a estola da imortalidade, e coroado com o diadema que seu Pai lhe deu no dia da ressurreição e de glória, o dia que o Senhor fez (Sl 118,24).

Quanto à Oratio, toda boa meditação desemboca naturalmente na oração. É o momento de responder a Deus após havê-lo escutado. Esta oração é um momento muito pessoal que diz respeito apenas à pessoa e Deus. Não se preocupe em preparar palavras, fale o que vai no coração depois da meditação: se for louvor, louve; se for pedido de perdão, peça perdão; se for necessidade de maior clareza, peça a luz divina; se for cansaço e aridez, peça os dons da fé e esperança. Enfim, os momentos anteriores, se feitos com atenção e vontade, determinarão esta oração da qual nasce o compromisso de estar com Deus e fazer a sua vontade. Vendo, pois, a alma que não pode por si mesma atingir a desejada doçura de conhecimento e da experiência, e que quanto mais se aproxima do fundo do coração (Sl 64,7), tanto mais distante é Deus (cf. Sl 64,8), ela se humilha e se refugia na oração. E diz: Senhor, que não és contemplado senão pelos corações puros, eu procuro, pela leitura e pela meditação, qual é, e como poder ser adquirida a verdadeira doçura do coração, a fim de por ela conhecer-te, ao menos um pouco.

Quanto ao último passo à Contemplatio, Desta etapa a pessoa não é dona. É um momento que pertence a Deus e sua presença misteriosa, sim, mas sempre presença. É um momento no qual se permanece em silêncio diante de Deus. Se ele o conduzirá à contemplação, louvado seja Deus! Se ele lhe dará apenas a tranqüilidade de uns momentos de paz e silêncio, louvado seja Deus! Se para você será um momento de esforço para ficar na presença de Deus, louvado seja Deus!

Portanto, diante deste patrimônio da nossa Igreja que é este método de Oração da Lectio Divina, desejo a todos que ao lerem este artigo comecem a tomar gosto pela Leitura Orante da Palavra de Deus, pois, nós sabemos que a oração é um dos alimentos da alma que obtemos forças para enfrentar tantas adversidades em nossa caminhada. Que Deus os abençõe nesta nova etapa espiritual.

Pe. Jair Cardoso Alves Neto (Arquidiocese de Cuiabá).

Reflexões marianas e patrísticas para o Círio de Nossa Senhora de Nazaré

Círio de Nossa Senhora de Nazaré | diocesedemaraba

"São Cirilo de Alexandria, bispo no século V afirmou que do momento em que a Virgem santa gerou fisicamente segundo a pessoa do Verbo de Deus unida à carne, as pessoas observam que Maria é também mãe de Deus. Como Ele era Deus desde toda a eternidade, o Verbo era Deus (Jo 1,1), sendo Criador do mundo, co-eterno com o Pai. Mas pelo fato de que unia a si mesmo a pessoa à natureza humana, assim ele submeteu-se ao nascimento físico pelo seio materno."

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Os círios que estamos realizando nos levam a Mãe do Filho de Deus. O clima é festivo, com muita alegria e amor. A invocação à Maria conduza os pedidos de todas as pessoas a Jesus. Os círios são momentos de graças, de muitas bênçãos de Deus através de Maria. Eles tomam conta de nossa realidade familiar, comunitária, social. Através dos meios de comunicação social, vemos as entrevistas que falam de Maria, da imagem de Nossa Senhora de Nazaré nas comunidades, nas ruas, nos carros, e também os cartazes nas portas, ou nos comércios, outdoors. É círio outra vez.

O tema refletido

O Círio de Nossa Senhora de Nazaré de Marabá, neste ano, teve como tema: Maria, Mãe Educadora do Amor. O tema está ligado à Campanha da Fraternidade 2022 que diz: “Fala com sabedoria e ensina com amor” (Pr 31,26). Maria foi escolhida para ser a Mãe do Salvador, do Redentor. Ela disse sim ao plano de Deus. Maria é a serva do Senhor (Lc 1,38).. Ela foi percebida como a nova Eva, que foi obediente à Palavra do Salvador, como dizia Santo Ireneu de Lião[1].

Ela é Mãe porque gerou na carne o Filho de Deus, igual a nós em tudo, menos o pecado (Hb 4,15). Ela é chamada de Educadora porque ela educou o seu Filho na vida, na participação nas sinagogas e nas festas anuais do povo de Israel. É do amor. Tudo é feito com amor, porque a educação é realizada no amor em vista da superação da violência, da superioridade com os outros, do respeito com as pessoas, no amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. O tema da educação é aprofundado pelo fato de que essa inicia em casa, é dado na escola, na comunidade e na sociedade como fala o Pacto educativo do Papa Francisco. A seguir ver-se-á considerações a respeito dos padres da igreja em relação à Maria, mãe do Filho de Deus na carne.

O nascimento de Cristo Jesus

São Cirilo de Alexandria, bispo no século V afirmou que do momento em que a Virgem santa gerou fisicamente segundo a pessoa do Verbo de Deus unida à carne, as pessoas observam que Maria é também mãe de Deus. Como Ele era Deus desde toda a eternidade, o Verbo era Deus (Jo 1,1), sendo Criador do mundo, co-eterno com o Pai. Mas pelo fato de que unia a si mesmo a pessoa à natureza humana, assim ele submeteu-se ao nascimento físico pelo seio materno. Ele veio para abençoar o início de nossa existência, a natureza criada pelo Senhor[2].

A maravilha de seu nascimento

É fundamental ainda perceber neste autor a maravilha do nascimento de Jesus, pois aquele que nasceu da Virgem era do ponto de vista exterior, homem, mas intimamente, verdadeiro Deus. Ele teve o seu nascimento em uma virgem sendo a sua mãe. Ele sendo Deus, destinou a si, revestindo-se da humanidade, na plenitude dos tempos, uma maneira de nascer diversa daquele de outras pessoas. Ela foi chamada de Mãe de Deus e Virgem Mãe[3].

O motivo por Maria ser bem-aventurada

Santo Agostinho, bispo de Hipona, nos séculos IV e V teve presentes as palavras do Senhor ao ser questionado sobre quem seriam a sua mãe, os irmãos, disse Jesus que eram todos aqueles que fazem a vontade do Pai de Jesus que está nos céus, de modo a ser irmão, irmã, e mãe em Cristo Jesus (Mt 12, 46-50). Maria fez a vontade do Pai, sendo ela, berm-aventurada, não somente pelo fato de ela ter gerado na carne o Filho de Deus, mas ela fez a vontade de Deus. Em outra passagem, o bispo de Hipona falou da manifestação de uma pessoa que disse que era bem-aventuradada o ventre que o carregou (Lc 11,27), de modo que disse Jesus bem-aventurados antes aqueles que ouvem a palavra de Deus e a observam (Lc 11,27-29). Santo Agostinho especificou que Maria no falar de Jesus era bem-aventurada porque ouviu e observou a Palavra de Deus[4].

O sentido de ser chamada Maria, Mãe de Deus

São Vicente de Lérins, bispo no século V, afirmou que Maria é mãe de Deus, porque no Verbo foi unido Deus ao ser humano. A partir desta unidade as propriedades da carne foram atribuídas ao ser humano. Assim o Filho do homem desceu do céu (Jo 3,13) e o Senhor da majestade foi crucificado na terra (1 Cor 2,8). Assim Maria é Mãe de Deus no sentido de que nela cumpriu-se a união pessoal única e singular como o Verbo na carne é carne, assim o seu ser humano em Deus é Deus[5].

As reflexões a respeito de Maria colocam a sua importância em comunhão com o nascimento de Jesus, o seu Filho, de modo a ser chamada Mãe de Deus. O fato é a sua unidade com a realidade humana na qual Maria gerou na carne o Filho de Deus. Maria, Mãe educadora do amor possibilite a importância da educação na família, na comunidade e na sociedade. Todas as pessoas são chamadas a viver o amor de Deus, em Jesus Cristo, no Espírito Santo através de Maria.

[1] Cfr. Ireneu de Lião, III, 22,4. Paulus, SP, 1995, pgs. 351-352.

[2] Cfr. Cirillo di Alessandria. Lettera a Nestorio, 2. In: La teologia dei padri, v. 2. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pg. 160.

[3] Cfr. Cirillo di Alessandri. Contro coloro che non riconoscano che Maria è Madre de Dio, 4, In: Idem, pg. 161.

[4] Cfr. Agostino. Commento al Vangelo di san Giovanni, 10,3. In: La teologia dei padri, v. 2, In: Idem, pg. 161.

[5] Cfr. Vincenzo de Lérins. Commonitorio, 15. In: Idem, pgs, 159-160.

Nossa Senhora, a mulher humilde e grandiosa em Lucas

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Por Vanderlei de Lima

Que Nossa Senhora, em sua humilde grandeza, interceda a Deus por todos nós.

São Lucas, o evangelista da misericórdia, pode, a justo título, ser considerado o pai da Mariologia, dado o modo como trata Maria nos capítulos 1 e 2 do seu Evangelho.

Ele inicia os seus relatos com o anúncio de dois nascimentos – o de João Batista (1,5-25) e o de Jesus (1,26-38) – para, em seguida, descrever esses nascimentos (1,57-2,52). Não nos esqueçamos também de que, no final do capítulo 1, aparece a visita de Maria a Isabel e o Magnificat (vv. 39-56). Mais: tanto João (1,58-80) quanto Jesus (2,1-20) são circuncidados e crescem. Jesus ainda surge, no templo, aos doze anos (2,41-52).

Esses relatos nos trazem algumas importantes lições, pois realçam ser Cristo maior que João e Nossa Senhora mais importante que Zacarias e Isabel, os pais de João: a) Zacarias é irrepreensível (1,6), mas Maria é plena de graça (1,28-30). Está em foco a Lei de Moisés, em Zacarias, e a Graça divina, em Maria, segundo Jo 1,17. b) Zacarias sofre punição por interrogar o anjo (1,18), já Maria pode indagá-lo (1,34). c) o anúncio do anjo a Zacarias termina com o silêncio imposto pelo mensageiro de Deus; Maria, ao contrário, no final do anúncio, se entrega à vontade do Pai (1,38). d) Isabel dá ação de graças (1,25), mas só a Virgem Santíssima exulta no Magnificat (1,47-55). Como se vê, são oito quadros que, segundo os antigos (7+1), indicam a perfeição (cf. Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Curso de Mariologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1997, p. 13).

Chama também a atenção, em Lucas, as referências às Escrituras: 1) Daniel 9,24-26, trata das 70 semanas. Ora, em Lc 1,26-36, há referência ao sexto mês (180 dias), em 2,7, narra-se o nascimento do Senhor nove meses depois do anúncio (270 dias) e, em 2,22, o menino-Deus é apresentado no templo (40 dias). Deste modo, 180+270+40 = 490 dias ou 70 semanas. 2) Jesus entra no templo de Jerusalém para realizar a obra de Deus como Lhe é atribuída pelo profeta Malaquias 3,1-4. Nota-se ainda que há correspondência entre Ml 2,6-3,1 e Lc 1,16-17: João é o precursor e Jesus é Deus. 3) Já Sofonias 3,14-18 tem sua repercussão em Lc 1,28-33: Maria é a filha de Sião por excelência; nela Deus feito homem faz Sua morada. Ela O concebe, gesta e dá à luz. O menino que nasce é mais do que um messias; é Deus, o rei teocrático salvador do seu povo; 4) 2 Samuel 7,12-16 ressoa outrossim em Lc 1,32-33, uma vez que, no A.T., Natã prometeu a Davi, num trono firme e eterno, um descendente. 5) Êxodo 40,35 tem sua aplicação em Lc 1,35, pois Maria é a Arca da Aliança ou o tabernáculo do Altíssimo que visita Isabel (cf. 2Sm 6,2-11).

Aqui um problema se impõe: a genealogia de Lucas (3,23-38) é diferente da de Mateus (1,1-17). Dom Estêvão Bettencourt nos socorre. Nota ele que “São José terá sido filho de Jacó, mas haverá sido adotado por Heli, de modo a também ser considerado filho desse varão. Ora, São Mateus ter-nos-ia transmitido os ascendentes de José por via de seu pai real, enquanto São Lucas haveria seguido a linha do pai adotivo de José” (Parábolas e páginas difíceis do Evangelho. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 1991, p. 155). 

Mais: “Enquanto a lista de Mateus situa Jesus unicamente no interior do povo de Israel, a de Lucas marca a sua ligação com toda a humanidade” (A. George. Leitura do Evangelho segundo Lucas. São Paulo: Paulinas, 1982, p. 24). Bento XVI ressalta ainda que Gabriel não saúda a Virgem com o Shalom (A paz esteja contigo), do hebraico, mas com o grego Khaire (Alegra-te ou Ave). “Nessa palavra do anjo, abre-se imediatamente também a porta para os povos do mundo; tem-se uma alusão à universalidade da mensagem cristã” (A infância de Jesus. São Paulo: Planeta, 2012, p. 30-31).

Por fim, cabe notar que a Virgem Maria é a pessoa mais elogiada na Bíblia. De fato, em Lc 1,28, ela é Kecharitoméne (repleta do favor divino); em 1,29, o Senhor está com Ela; em 1,35, o Espírito Santo virá sobre Ela; em 1,42, é a mais bendita entre todas as mulheres; em 1,43, Maria é mãe de Deus (Kyrios); n’Ela foram realizadas grandes coisas (1,49), por isso, as gerações a chamarão de bem-aventurada (1,48). 

Que Nossa Senhora, em sua humilde grandeza, interceda a Deus por todos nós. Amém.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF