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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Papa: “o poder de Jesus é o amor”

Photo by VATICAN MEDIA / AFP

Jesus bem sabe que há conflitos, opressões, inimizades. Mas Ele "dá-nos o poder de amar duma forma que nos parece sobre-humana". E o Papa explicou como fazer isso. Veja:

O Papa Francisco afirmou nesse sábado que, “no palco deste mundo, muitas vezes vemos que quanto mais se procura o poder, tanto mais ameaçada está a paz”.

No entanto, “o Messias que vem é verdadeiramente poderoso, mas não como um líder que guerreia e domina sobre os outros, mas como Príncipe da paz”, disse Francisco, em sua homilia na Santa Missa pela Paz e a Justiça, no Estádio Nacional do Bahrein.

De fato, o Papa explicou que a grandeza do poder do Senhor não se serve da força da violência, mas da debilidade do amor.

Este é o poder de Cristo: o amor. E confere também a nós o mesmo poder, o poder de amar, de amar em seu nome, de amar como Ele amou. Como? De modo incondicional: não só quando as coisas correm bem e temos vontade de amar, mas sempre; não apenas aos nossos amigos e vizinhos, mas a todos, mesmo inimigos. Sempre e a todos.

Amar sempre e amar a todos

Em seguida, o Papa explicou que as palavras de Jesus convidam-nos a amar sempre, isto é, a permanecer sempre no seu amor, a cultivá-lo e praticá-lo qualquer que seja a situação onde vivemos.

Mas atenção! O olhar de Jesus é realista; não diz que será fácil nem propõe um amor sentimental ou romântico, como se não houvesse, nas nossas relações humanas, momentos de conflito e não houvesse motivos de hostilidade entre os povos. Jesus não é utópico, mas realista: fala explicitamente de «maus» e de «inimigos».

Sabe que acontece uma luta diária entre amor e ódio, no âmbito dos nossos relacionamentos; e, dentro de nós mesmos, verifica-se dia a dia um combate entre a luz e as trevas, entre tantos propósitos e desejos de bem e aquela fragilidade pecadora que muitas vezes nos domina e arrasta para as obras do mal. Sabe também que é o que experimentamos quando, apesar de tantos esforços generosos, nem sempre recebemos o bem que esperávamos, antes, às vezes incompreensivelmente sofremos um dano. Mais, Ele vê e sofre ao contemplar, nos nossos dias e em muitas partes do mundo, exercícios do poder que se nutrem de opressão e violência, procuram aumentar o espaço próprio restringindo o dos outros, impondo o próprio domínio, limitando as liberdades fundamentais, oprimindo os mais frágeis. Concluindo, Jesus bem sabe que há conflitos, opressões, inimizades.

Que havemos de fazer quando nos encontramos em situações do gênero?

A proposta de Jesus a essa pergunta “é surpreendente, é intrépida, é audaz”. Ele pede aos seus a coragem de arriscar por algo que, na aparência, é perdedor; pede-lhes para permanecerem sempre, fielmente, no amor, apesar de tudo, mesmo perante o mal e o inimigo.

Ora a pura e simples reação humana cinge-se ao «olho por olho e dente por dente»; mas isto equivale a fazer-se justiça com as mesmas armas do mal recebido. Jesus ousa propor-nos algo de novo, diferente, impensável, algo de Seu: «Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra» (5, 39). Aqui está o que nos pede o Senhor: que não sonhemos idealisticamente com um mundo animado pela fraternidade, mas que nos comprometamos – principiando nós mesmos – a viver concreta e corajosamente a fraternidade universal, perseverando no bem mesmo quando recebemos o mal, quebrando a espiral da vingança, desarmando a violência, desmilitarizando o coração. Um eco disto mesmo, temo-lo no apóstolo Paulo quando escreve «não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (Rm 12, 21).

Assim – prosseguiu o Papa –, o convite de Jesus “não tem a ver primariamente com as grandes questões da humanidade, mas com as situações concretas da nossa vida: os nossos laços familiares, as relações na comunidade cristã, os vínculos que cultivamos no trabalho e na sociedade onde nos encontramos”.

Haverá atritos, momentos de tensão, haverá conflitos, diversidade de perspetivas, mas quem segue o Príncipe da paz deve procurar sempre a paz. E esta não se pode restabelecer se, a uma palavra ofensiva, se responde com outra pior, se a uma bofetada se responde com outra. Isto não! É preciso «desativar«, quebrar a cadeia do mal, romper a espiral da violência, deixar de guardar ressentimento, pôr fim a lamúrias e lamentos acerca da própria sorte. Há que permanecer no amor, sempre: é o caminho de Jesus para dar glória ao Deus do céu e construir a paz na terra. Amar sempre.

O segundo aspeto: amar a todos

Podemos empenhar-nos no amor, mas não basta se o circunscrevermos à esfera restrita das pessoas de quem recebemos igualmente amor, de quem nos é amigo, dos nossos semelhantes, familiares, disse o Papa.

Também neste caso, o convite de Jesus é surpreendente, porque amplia os confins da lei e do bom senso: já é difícil, embora razoável, amar o próximo, quem é nosso vizinho. Em geral, é aquilo que uma comunidade ou um povo procura fazer, para conservar a paz no próprio seio: se se pertence à mesma família ou à mesma nação, se se têm as mesmas ideias ou os mesmos gostos, se se professa o mesmo credo, é normal procurar ajudar-se e querer-se bem. Mas que sucede se, quem estava distante, vem para perto de nós, se quem é estrangeiro, diferente ou de outro credo se torna nosso vizinho de casa? Precisamente esta nação é uma imagem viva da convivência na diversidade, do nosso mundo marcado sempre mais pela migração permanente dos povos e pelo pluralismo de ideias, usos e tradições.

Então é importante acolher esta provocação de Jesus: «Se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os publicanos?» (Mt 5, 46). O verdadeiro desafio, para ser filhos do Pai e construir um mundo de irmãos, é aprender a amar a todos, mesmo o inimigo: «Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (5, 43-44). Na realidade, isto significa escolher não ter inimigos: ver no outro, não um obstáculo a superar, mas um irmão e uma irmã a amar. Amar o inimigo é trazer à terra um reflexo do Céu, é fazer descer sobre o mundo o olhar e o coração do Pai, que não faz distinções nem discrimina, mas «faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores» (5, 45).

O poder de Jesus é o amor

Nesse sentido, o Papa enfatizou que “o poder de Jesus é o amor” e Ele “dá-nos o poder de amar desta maneira, duma forma que nos parece sobre-humana”.

Na verdade, uma tal capacidade não pode ser fruto apenas dos nossos esforços; é, antes de mais nada, uma graça; uma graça que deve ser pedida com insistência: «Jesus, Vós que me amais, ensinai-me a amar como Vós. Jesus, Vós que me perdoais, ensinai-me a perdoar como Vós. Enviai sobre mim o vosso Espírito, o Espírito do amor». Peçamo-lo! Frequentemente confiamos à atenção do Senhor muitos pedidos, mas o pedido essencial para o cristão é este: saber amar como Cristo. Amar é o dom maior, e recebemo-lo quando damos espaço ao Senhor na oração, quando acolhemos a Presença d’Ele na sua Palavra que nos transforma e na revolucionária humildade do seu Pão partido. Assim, lentamente, vão caindo os muros que nos endurecem o coração e encontramos a alegria de praticar obras de misericórdia para com todos. Então compreendemos que uma vida feliz passa através das Bem-aventuranças e consiste em sermos construtores de paz (cf. Mt 5, 9).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

domingo, 6 de novembro de 2022

Os “3 convites simples” do Papa Francisco aos jovens

MARCO BERTORELLO | AFP

"Não tanto para vos ensinar qualquer coisa mas sobretudo para vos encorajar."

O Papa Francisco disse nesse sábado que, “na massa do mundo”, os jovens são “o fermento bom”.

“Como se fôsseis inquietos viajantes abertos ao inédito, vós, jovens, não temeis confrontar-vos, dialogar, «fazer barulho» e misturar-vos com os outros, tornando-vos a base duma sociedade amiga e solidária”, disse o pontífice, em discurso na Escola do Sagrado Coração em Awali, Bahrein.

A propósito disto, o Papa fez aos jovens “três convites simples, não tanto para vos ensinar qualquer coisa mas sobretudo para vos encorajar”.

1ABRAÇAR A CULTURA DO CUIDADO

Cuidar significa desenvolver uma atitude interior de empatia, um olhar atento que nos leva para fora de nós mesmos, uma presença gentil que vence a indiferença e nos impele a interessar-nos pelos outros. Este é o ponto de viragem, o início da novidade, o antídoto contra um mundo fechado que, impregnado de individualismo, devora os seus filhos; contra um mundo enclausurado pela tristeza, que gera indiferença e solidão. Deixai que vos diga: Como faz mal faz o espírito de tristeza! Tanto mal! Com efeito, se não aprendermos a cuidar daquilo que está ao nosso redor – dos outros, da cidade, da sociedade, da criação –, acabamos por transcorrer a vida como quem corre, se afadiga, faz muitas coisas, mas, no final, permanece triste e pelo simples motivo que nunca saboreou profundamente a alegria da amizade e da gratuidade, nem deu ao mundo aquele toque único de beleza que só ele ou ela, e mais ninguém, poderia dar. Como cristão, penso em Jesus e vejo que a sua ação sempre esteve animada pelo cuidado. Cuidou as relações com quantos encontrava nas casas, nas cidades e pelo caminho: fixou as pessoas nos olhos, prestou atenção aos seus pedidos de ajuda, aproximou-se e tocou com a mão as suas feridas. Vós, fixais as pessoas nos olhos? Jesus entrou na história dizendo-nos que o Altíssimo cuida de nós; lembrando-nos que, estar da parte de Deus, significa cuidar de alguém e dalguma coisa, especialmente dos mais necessitados.

Amigos, como é bom tornar-se cultores do cuidado, artistas das relações! Mas isto, como tudo na vida, requer um treino constante. Então não vos esqueçais de cuidar primariamente de vós mesmos: não tanto do exterior, como sobretudo do interior, da vossa parte mais escondida e preciosa. Qual é? A vossa alma, o vosso coração! E como se faz para cuidar do coração? Tentai escutá-lo em silêncio, criar espaços para estar em contacto com a vossa interioridade, para sentir o dom que sois, para acolher a vossa existência e não a deixar fugir de mão. Não vos aconteça ser «turistas da vida», que a olham apenas de fora, superficialmente. Mas, no silêncio, seguindo o ritmo do vosso coração, falai com Deus. Falai-Lhe de vós mesmos e também daqueles que encontrais diariamente e que Ele vos dá como companheiros de viagem. Levai à sua presença os rostos, as situações felizes e dolorosas, porque não há oração sem relações, tal como não há alegria sem amor.

E, como sabeis, o amor não é uma telenovela nem um filme romântico: amar é ter a peito o outro, cuidar do outro, oferecer o próprio tempo e os próprios dons a quem deles precisa, arriscar para fazer da vida um dom que gera nova vida. Arriscar! Amigos, por favor, nunca vos esqueçais duma coisa: sois todos – sem exceção – um tesouro, um tesouro único e precioso. Por isso, não mantenhais a vida num cofre, pensando que é melhor poupar-se e que o momento de a gastar ainda não chegou! Muitos de vós estão aqui de passagem, por motivos laborais e, frequentemente, por um prazo limitado. Mas, se vivermos com a mentalidade do turista, não agarramos o momento presente e corremos o risco de deitar fora pedaços inteiros de vida. Ao contrário, como é bom deixar agora um bom rasto no caminho, cuidando da comunidade, dos companheiros de escola, dos colegas de trabalho, da criação… A propósito, far-nos-á bem questionar-nos: Que rasto estou a deixar agora, aqui onde vivo, no lugar onde a Providência me colocou?]

2SEMEAR FRATERNIDADE

«É preciso ser-se campeão não só nos campos de jogo, mas também na vida». Campeão fora do campo. É verdade! Sede campeões de fraternidade, fora do campo. Este é o desafio de hoje para vencer amanhã, o desafio das nossas sociedades cada vez mais globalizadas e multiculturais. Vede! Todos os instrumentos e a tecnologia que a modernidade nos oferece, não bastam para tornar o mundo pacífico e fraterno. Temo-lo diante dos olhos: de facto, os ventos de guerra não se aplacam com o progresso técnico. Com tristeza constatamos que, em muitas regiões, as tensões e as ameaças aumentam e, por vezes, deflagram nos conflitos. Frequentemente, porém, isto acontece porque não se trabalha o coração, porque se deixam ampliar as distâncias em relação aos outros e, assim, as diferenças étnicas, culturais, religiosas e outras tornam-se problemas e temores que isolam, em vez de ser oportunidades para crescer juntos. E, quando se mostram mais fortes do que a fraternidade que nos une, corre-se o risco do conflito.

A vós, jovens, que sois mais diretos e mais capazes de gerar contactos e amizades, superando os preconceitos e as barreiras ideológicas, quero dizer: sede semeadores de fraternidade e recolhereis futuro, porque o mundo só terá futuro na fraternidade! É um convite que encontro no coração da minha fé. Como diz a Bíblia, «aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E nós recebemos d’Ele este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão» (1 Jo 4, 20-21). Sim! Jesus pede para nunca desligarmos o amor a Deus do amor ao próximo, fazendo-nos nós mesmos próximo de todos (cf. Lc 10, 29-37): de todos, e não só de quem nos é simpático. Viver como irmãos e irmãs é a vocação universal confiada a toda a criatura. E vós jovens – sobretudo vós –, face à tendência dominante de permanecer indiferentes e mostrar-se impaciente com os outros, até ao ponto de aprovar guerras e conflitos, sois chamados a «reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras» (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 6). As palavras não bastam; há necessidade de gestos concretos realizados no dia a dia.

Ponhamo-nos, aqui também, algumas perguntas: Estou aberto aos outros? Sou amigo ou amiga de qualquer pessoa que não faça parte do meu círculo de interesses, que tenha credo e costumes diferentes dos meus? Procuro o encontro, ou fico na minha? O caminho – assim no-lo disse Nevin, em poucas palavras – é «criar boas relações», com todos. Geralmente em vós, jovens, há um forte desejo de viajar, conhecer novas terras, ultrapassar os confins dos lugares habituais. Pois bem! Deixai que vos diga: sabei viajar também dentro de vós mesmos, alargar as fronteiras interiores, para que caiam os preconceitos sobre os outros, se restrinja o espaço da difidência, se desmoronem os recintos do medo, germine a amizade fraterna! Também aqui deixai-vos ajudar pela oração, que alarga o coração e, abrindo-nos ao encontro com Deus, ajuda-nos a ver, em quem encontramos, um irmão e uma irmã. A propósito, são belas estas palavras dum profeta: «Não foi o mesmo Deus que nos criou? Por que razão, pois, somos nós pérfidos uns para com os outros?» (Ml 2, 10). Sociedades como esta do Bahrein, com uma notável riqueza de credos, tradições e línguas diferentes, podem tornar-se «ginásios de fraternidade». Aqui estamos às portas do grande e multiforme continente asiático, que um teólogo definiu «um continente de línguas» (A. Pieris, Teologia na Ásia, Brescia 2006, 5): sabei harmonizá-las numa única língua, a língua do amor, como verdadeiros campeões de fraternidade!

3FAZER OPÇÕES NA VIDA

Como bem sabeis pela experiência de cada dia, não existe uma vida sem desafios a enfrentar. E perante um desafio, como numa encruzilhada, sempre é preciso escolher, entrar em jogo, arriscar, decidir. Mas isto requer uma boa estratégia: não se pode improvisar, vivendo só por instinto ou circunscrito a cada instante! E como se faz para preparar-se, treinar a capacidade de escolher, a criatividade, a coragem, a tenacidade? Como aperfeiçoar o olhar interior, aprender a julgar as situações, a captar o essencial? Trata-se de crescer na arte de se orientar nas escolhas, de tomar as justas direções. Por isso, o terceiro convite é fazer opções na vida, opções certas.

Tudo isto me veio em mente, ao repassar as perguntas de Merina. São interrogativos que expressam precisamente a necessidade de compreender a direção que se deve tomar na vida. És uma jovem corajosa, pelo modo como disseste as coisas! E posso contar-vos a minha experiência: era um adolescente como vós, como todos, e a minha vida era a vida normal dum rapaz qualquer. Como sabemos, a adolescência é um caminho, uma fase de crescimento, um período em que assomamos à vida com os seus aspetos por vezes contraditórios, enfrentando pela primeira vez certos desafios. Pois bem! O meu conselho, qual é? Avançar sem medo, e nunca sozinhos! Duas coisas: avançar sem medo, e nunca sozinhos! Deus não vos deixa sozinhos, mas, para vos dar uma mão, espera que Lha peçais. Acompanha-nos e guia-nos, não com prodígios e milagres, mas falando delicadamente através dos nossos pensamentos e sentimentos e também por meio dos nossos professores, dos nossos amigos, dos nossos pais e de todas as pessoas que nos querem ajudar.

Por isso é preciso aprender a distinguir a sua voz, a voz de Deus que nos fala. E como aprendemos isto? Como nos dizias tu, Merina: através da oração silenciosa, do diálogo íntimo com Ele, guardando no coração aquilo que nos faz bem e dá paz. A paz é um sinal da presença de Deus. Esta luz de Deus ilumina o labirinto de pensamentos, emoções e sentimentos em que, muitas vezes, nos movemos. O Senhor deseja iluminar a vossa inteligência, os vossos pensamentos mais íntimos, as aspirações que trazeis no coração, os juízos que amadurecem dentro de vós. Quer-vos ajudar a distinguir o essencial daquilo que é supérfluo, aquilo que é bom daquilo que faz mal a vós e aos outros, aquilo que é justo daquilo que gera injustiça e desordem. A Deus, nada é alheio de quanto nos acontece, nada! Muitas vezes, porém, somos nós a alhear-nos d’Ele, não Lhe confiando as pessoas e as situações e fechando-nos no medo e na vergonha. Assim não! Alimentemos na oração a certeza consoladora de que o Senhor vela por nós, que não dorme, mas sempre nos vê e guarda.

Amigos, jovens, esta aventura das opções, não a devemos realizar sozinhos. Por isso deixai que vos diga uma última coisa: procurai sempre – antes das sugestões da Internet – bons conselheiros na vida, pessoas sábias e fiáveis que vos possam orientar, ajudar. Primeiro, isto! Penso nos pais e professores, mas também nos idosos, nos avós e num bom acompanhante espiritual. Cada um de nós precisa de ser acompanhado no caminho da vida! Repito o que vos disse: nunca sozinhos! Precisamos de ser acompanhados no caminho da vida.

Santificar-se no peregrinar da vida

Dom José Gilson | cnbb

SANTIFICAR-SE NO PEREGRINAR DA VIDA

 

Dom José Gislon

Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus!  Neste domingo, 06 de novembro, a Igreja Católica celebra a Solenidade de todos os Santos. Esta festa tradicionalmente é marcada para o dia primeiro de novembro, antecedendo o Dia de Finados, mas, por razões pastorais e para uma melhor participação de todos, é celebrada no domingo seguinte. Essa festa nos recorda que somos chamados à santidade nesta vida.  

Mas creio que na mente e no coração, muitos podem se perguntar: Quem são os Santos? São aqueles que mantém os olhos fixos em Deus, e nos valores do Evangelho: amor, verdade, justiça, compaixão, solidariedade. Por isso, já possuem na própria alma a presença do Reino de Deus, que para os outros é somente a miragem de um sonho distante.  

O Concilio Vaticano II, 1965, no documento Lumen Gentium, número 40, diz que: “O Senhor Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição que fossem, a santidade de vida, de que ele próprio é autor e consumador: “Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste” (Mt 5,48). Enviou a todos o Espirito Santo para os mover interiormente a amarem a Deus com todo o coração, com toda alma, com toda a mente e com todas as forças (Mc 12,30) e a amarem-se uns aos outros como Cristo os amou (Jo 13,34). Os seguidores de Cristo, que Deus chamou e justificou no Senhor Jesus, não pelos seus méritos, mas por seu desígnio e sua graça, foram feitos no batismo da fé, verdadeiros filhos de Deus e participantes da natureza divina, e por isso mesmo, verdadeiramente santos. Devem, portanto, com a ajuda de Deus, conservar e aperfeiçoar na sua vida a santidade que receberam”.  

O Apóstolo São Paulo (Ef 5,3) exorta os cristãos a viverem “como convém aos santos”, a revestirem-se “como eleitos de Deus, santos e prediletos, de sentimentos de misericórdia, de benignidade, de humildade, de mansidão e de paciência” (Cl 3,12), e a fazerem servir os frutos do Espírito para a santificação (Gl 5,22; Rm 6,22). É, pois, bem claro que todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou classe, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Por esta santidade se promove, também na sociedade terrena, um teor de vida mais humano”. Portanto, “empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida da dádiva de Cristo, para alcançar esta perfeição, a fim de que, seguindo seus exemplos, tornando-se conformes à sua imagem e obedecendo em tudo a vontade do Pai, se dediquem à glória de Deus e ao serviço do próximo. Assim, a santidade do povo de Deus crescerá, oferecendo abundantes frutos, como o demonstra brilhantemente, através da história da Igreja, a vida de tantos santos e santas”.

A Igreja Católica é alheia à astronomia?

© NASA, ESA, CSA, STScI
Por Douglas Borges Cândido

Desde a antiguidade a humanidade se pergunta por três questões fundamentais: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?

As razões de nossas escolhas nem sempre conseguem ser totalmente evidenciadas. Por isso, empreender qualquer reflexão em torno da relação entre ciência e fé, entre razão e transcendência, torna-se uma tarefa complexa, pois, para além de uma relação que pode parecer desconexa, distante e obtusa, trata-se de uma série de conexões profícuas entre essas duas dimensões. Por isso, o trabalho nesse campo é, metaforicamente, quase sempre paleontológico, pois trata-se de retirar as sedimentações históricas ‘consolidadas’ para se chegar a novas e outras construções menos conhecidas ou divulgadas. Em suma, não se trata de negar ou minimizar algumas das descontinuidades históricas que ocorreram entre essas duas áreas, mas de prescindir desses pontos tão particulares para enxergarmos a pluralidade de relações amistosas entre elas. 

Desde a antiguidade a humanidade se pergunta por três questões fundamentais: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Desde então, em busca de respostas, a aventura do conhecimento humano nos legou as mais belas interpretações e avanços significativos no desenvolvimento das ciências, das tecnologias e da literatura. A intensificação do exercício de busca por respostas a essas questões se deu com a contribuição fundamental da Igreja Católica por meio da formação das primeiras universidades. São elas que passam a concentrar mestres e discípulos em busca da verdade. Desde a sua fundação, as universidades constituem-se como um espaço de conhecimento e de sentido, que estabelecem em seu âmago o convívio entre a ciência e a fé, entre a razão e a transcendência. 

Um profundo diálogo nesse sentido foi aberto com as ciências desde o Renascimento. A partir de personalidades singulares na história dos estudos astronômicos, as reflexões em torno das estrelas e dos astros deixaram de se basear em antigas concepções aristotélico-ptolomaicas, e abriram-se novas possibilidades de investigação. Essa efervescência cultural e científica dos séculos seguidos ao Renascimento, nos legou uma personalidade que, na história da astronomia, estabeleceu um profundo diálogo com a Igreja Católica. Estamos nos referindo a Galileu Galilei. Muitos tomam o ‘caso Galileu’ para reafirmar antigas e ultrapassadas posturas da Igreja em relação à ciência, sem ao menos considerarem o contexto histórico da época. Apenas como contraponto, afirma-se que o papa Urbano VIII o teria elogiado pelos seus trabalhos no campo da astronomia. Disse Urbano VIII, ao grão-duque da Toscana, que reconhecia Galileu como um homem “cuja fama brilha no céu e se espalha por todo o mundo”.  

Como expressou o filósofo Immanuel Kant, “Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre nova e crescente, quanto mais frequente e persistentemente a reflexão ocupa-se com elas: o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim”. Histórica e formalmente reconhecido pela comunidade científica, desde 1891, com a criação do Observatório do Vaticano, aprovado pelo Papa Leão XIII, a Igreja Católica tem se perguntado sobre esse céu estrelado acima de nós de um ponto de vista eminentemente científicoContrariando essa maneira estereotipada de compreender a relação entre religião e ciência, e com um sólido trabalho em torno de temas complexos, a equipe de astrônomos jesuítas que atuam no Observatório avança sobre discussões como a possibilidade de vida fora da Terra; exoplanetas; estudos sobre meteoros; o posicionamento da Igreja sobre a possibilidade de batizar extraterrestres; a descoberta de estrelas; a evolução de galáxias; entre outras pesquisas. 

A atividade que estes cientistas católicos desenvolvem promove um profundo e honesto diálogo entre esses dois campos, mostrando-nos que as verdades científicas não são irreconciliáveis com a fé. Ao contrário, a ciência tende a enriquecer-se com a dimensão do transcendente e a fé, em sua abertura ao mistério científico do universo, pode escapar de equívocos ou visões ultrapassadas sobre a Criação.

A capacidade de síntese do que queremos expressar até aqui é um dom para poucos. E essa síntese só poderia ter emergido de uma das pessoas mais brilhantes do século XX, o físico Albert Einstein. Disse ele certa vez: a ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Reflexão para o XXXII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Evangelho do domingo  (@ BAV Vat. lat. 39, f. 67v)

Os que passam pela morte ganham a filiação da Vida, de Deus, e alcançam a vida plena, sem limites, porque são filhos de Deus, da imortalidade e da plenitude do Amor.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

A Liturgia deste domingo diz que podemos viver como ressuscitados, apesar dos sofrimentos cotidianos.

Temos uma vida e a amamos muito, mesmo vivendo em situações difíceis. É bom viver!

Contudo, tendo uma vida feliz, realizada, ou ao contrário, uma vida infeliz, ela inevitavelmente terminará um dia. E aí? Diz um ditado: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”, tanto a alegria e o prazer, após terem sido vividos, são como nada. Apenas permanecem na lembrança.

Do mesmo modo, a dor, a angústia, o sofrimento, após sua vivência pelo homem, é como se nada houvesse ocorrido, apenas fica a memória. Embora saibamos que em alguns casos as recordações – positivas ou negativas – podem deixar marcas indeléveis.

E nossa vida, em todo o seu contexto, será levada ao nada?

Alguns pensadores dizem que o homem é o ser-para-o-nada.

Mas, o que diz a Sagrada Escritura?

A primeira leitura da liturgia deste XXXII Domingo do Tempo Comum, nos fala em ressurreição, mas não como a entendemos a partir de Jesus, mas como revivificação, uma continuação bastante melhorada desta vida e apenas para os justos, não para todos os homens.

No Evangelho encontramos um grupo de judeus ricos, os saduceus que negavam a ressurreição. Eles colocam uma pergunta que só faz sentido se, de fato, após a morte tivermos uma revivificação, uma continuação desta vida, tal como ela é, e não a ressurreição como professamos no Credo.

Jesus nos diz que os que passam desta vida para a eternidade são filhos de Deus, porque ressuscitam. Os que atravessaram a morte ganharam a filiação da Vida. Deus é vida e, por isso, terão a vida plena, sem limites. São filhos de Deus, da imortalidade, da plenitude do Amor.

Portanto, o modo como vivemos, como enfrentamos as coisas boas e difíceis desta vida, demonstrará nossa fé na ressurreição.

Será como uma nova gestação em que é gerado o homem espiritual, aquele que nascerá de acordo com a imagem de Deus, e, por isso, sua casa será a do Pai.

Desde agora podemos viver como ressuscitados, nos diz São Paulo na segunda leitura. Apesar dos sofrimentos cotidianos, resistamos a eles e peçamos ao Senhor que nos confirme na consolação eterna e na feliz esperança da vitória plena de Cristo.

Existe outro dito brasileiro que possui um espírito bastante cristão, no sentido de enfrentar as dificuldades e crer na mudança que sucederá aos sofrimentos: “Enfrente as quedas, não desanime, levante, sacode a poeira, dê a volta por cima!”

E para concluir com a Bíblia, podemos recordar o que nos diz o Salmo 30, 6: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria virá ao amanhecer”.

O Papa Francisco despede-se do Reino do Bahrein

O Papa Francisco se despede do Rei do Bahrein  (Vatican Media)

Francisco esteve de 3 a 6 de novembro no Reino do Bahrein. A cerimônia de despedida realizou-se na Base Aérea de Sakhir, em Awali, onde o Pontífice foi acolhido pelo rei do Bahrein, Sua Majestade Hamad bin Isa bin Salman Al Khalifa.

Vatican News

O Papa Francisco deixou o Reino do Bahrein, neste domingo (06/11), concluindo sua 39ª Viagem Apostólica Internacional. O avião papal decolou às 13h16, hora local, 7h16 no horário de Brasília.

A cerimônia de despedida realizou-se na Base Aérea de Sakhir, em Awali, onde o Pontífice foi acolhido pelo rei do Bahrein, Sua Majestade Hamad bin Isa bin Salman Al Khalifa, pelo rei herdeiro e pelo primeiro-ministro, por outros três filhos do rei e por um neto, na Sala Real onde houve um breve encontro. Estava também presente na cerimônia de despedida o Grão Imame de Al-Azhar, Muhammad Ahmad Al-Tayyeb.

A chegada o Papa Francisco ao Aeroporto Internacional de Roma/Fiumicino está prevista para às 16h locais, meio-dia em Brasília.

Foi a 39ª viagem apostólica

Esta foi a 39ª Viagem do Papa Francisco que já visitou 54 países diferentes nestes quase 10 anos de pontificado. Dentro da Itália, o Papa fez 31 visitas pastorais a 41 cidades ou vilarejos. Sua última viagem ao exterior foi ao Cazaquistão de 13 a 15 de setembro deste ano por ocasião do VII Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais.

Logotipo e lema

O logotipo da viagem foi formado pelas bandeiras do Reino do Bahrein e da Santa Sé, representadas de forma estilizada como duas mãos abertas para Deus, simbolizando também o compromisso dos povos e nações de se encontrarem num espírito de abertura, sem preconceitos, como "irmãos e irmãs". O fruto do encontro fraterno foi o dom da paz, simbolizado pelo ramo de oliveira representado no centro das "duas mãos".

sábado, 5 de novembro de 2022

“Estou com muita dor”, admite o Papa no voo para o Bahrein

MARCO BERTORELLO | AFP
Por I. Media

O Pontífice precisou quebrar o protocolo por não conseguir se locomover no avião.

No avião que deixou Roma rumo ao Bahrein nesta quinta-feira, 3 de novembro de 2022, o Papa Francisco afirmou aos jornalistas a bordo que estava com “muita dor” no joelho. Esta é a 39ª viagem apostólica internacional de Francisco, que está com 85 anos.

Depois de pouco mais de uma hora de voo, como está acostumado desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco fez questão de cumprimentar os jornalistas que o acompanhavam. No entanto, de pé, ele disse ao grupo que estava “com muita dor” e que não podia se mover pelo corredor do avião – como costuma fazer – para cumprimentar individualmente os 68 jornalistas a bordo da aeronave.

Em vez disso, ele convidou os repórteres a irem até ele. É a primeira vez que esta dinâmica acontece desde a sua primeira viagem papal, que aconteceu em 2013.

O chefe da Igreja Católica, então, permaneceu sentado e cumprimentou os jornalistas, um a um. Ele explicou a um deles que estava com dores por causa de uma sessão de fisioterapia no dia anterior.

Sempre quando viaja, o Pontífice é acompanhado por seu assistente pessoal de saúde, o enfermeiro Massimiliano Strappetti.

ANDREAS SOLARO / AFP

Dores já duram um ano

Em 25 de fevereiro de 2022, o Papa cancelou uma viagem a Florença, e a Santa Sé explicou que ele sofria de gonalgia aguda – uma inflamação do joelho.

O Papa já havia cancelado eventos antes devido à dor ciática que ele sofre há anos, mas o problema no joelho causou mais dificuldades. Francisco teve de usar cadeira de rodas em suas viagens ao Canadá e ao Cazaquistão. 

Nas últimas semanas, porém, o Pontífice parece ter recuperado um pouco de sua mobilidade, e conseguiu caminhar com a ajuda de uma bengala. No entanto, ele voltou a usar sua cadeira de rodas enquanto rezava na Santa Maria Maior na véspera desta viagem.

Viagem ao Bahrein

Em seu primeiro discurso às autoridades do país, o Papa Francisco disse que está no Bahrein como um “semeador de paz”. O Santo Padre também pediu respeito aos direitos humanos, já que o Reino do Bahrein é acusado de perseguir xiitas e violar direitos dos presos. Referindo-se à crise ambiental, o Papa Francisco também pediu dignidade dos trabalhadores nesta região do mundo onde milhões de estrangeiros estão empregados.

O Papa fará seis discursos durante a viagem de quatro dias.

Esta é a primeira vez que um papa põe os pés neste pequeno país do Golfo Pérsico, localizado entre a Arábia Saudita e o Catar. Esta 39ª viagem do Papa Francisco ao exterior é colocada sob o signo do diálogo com o Islã e da busca pela paz. O pontífice também se encontrará com a pequena comunidade católica do país.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A dignidade da família

A dignidade da família | Opus Dei

A dignidade da família

O lar deve ser a primeira e principal escola, no qual os filhos aprendem e vivem as virtudes humanas e cristãs.

13/04/2008

Ao finalizar a obra da criação do universo, no sexto dia, “formou Javé Deus ao homem do pó da terra, e insuflou-lhe no rosto alento de vida, e foi assim que o homem se tornou um ser vivo”[1]. Se em todas suas obras se havia alegrado, na formação do gênero humano Deus se regozijou sobremaneira: viu que era “muito bom” o que havia feito, testemunha a Escritura[2], como se o autor inspirado quisesse reafirmar a peculiar ação divina na criação do homem, feito à imagem e semelhança do Criador por sua alma espiritual e imortal. Não contente com isto, o Senhor conferiu-lhe gratuitamente uma participação de sua mesma vida íntima: fez dele filho seu e cumulou-o com os chamados dons preternaturais.

Para que os homens alcancem o Reino dos Céus, a Providência divina quis contar com sua livre colaboração. E para que essa colaboração na transmissão da vida não ficasse no vaivém de possíveis caprichos, o Senhor quis protegê-la mediante a instituição natural do matrimônio[3], elevado logo depois por Cristo à dignidade de sacramento.

A família — a grande família humana, e cada uma das famílias que haveriam de compô-la — é um dos instrumentos naturais queridos por Deus para que os homens cooperem ordenadamente em seu decreto Criador. A vontade de Deus de contar com a família em seu plano salvador será confirmada, com o correr dos tempos, através das distintas alianças que Javé foi estabelecendo com os antigos patriarcas: Noé, Abraão, Isaac, Jacó. Até que a promessa do Redentor recaia na casa de Davi.

Chegada a plenitude dos tempos, um anjo do Senhor anunciou aos homens o cumprimento do plano divino: nasce Jesus, em Nazaré, de Maria, por obra do Espírito Santo. E Deus provê para seu Filho uma família, com um pai adotivo, José, e com Maria, a Mãe virginal. Quis o Senhor que, também nisto, ficasse refletido o modo em que Ele deseja ver nascer e crescer seus filhos, os homens: dentro de uma instituição estavelmente constituída.

“Os diversos fatos e circunstâncias que rodeiam o nascimento do Filho de Deus acorrem à nossa recordação, e o olhar se detém na gruta de Belém, no lar de Nazaré. Maria, José, Jesus Menino, ocupam de um modo muito especial o centro de nosso coração. Que nos diz, que nos ensina a vida ao mesmo tempo simples e admirável dessa Sagrada Família?”[4]. A esta pergunta, que nos sugere São Josemaria, podemos responder com palavras do Compêndio do Catecismo, afirmando que a família cristã, à imagem da família de Jesus, é também igreja doméstica porque manifesta a natureza de comunhão e familiar da Igreja como família de Deus[5].

Pela sua missão natural e sobrenatural, pela sua origem, pela sua natureza e pelo seu fim, é grande a dignidade da família. Toda família tem una entidade sagrada e merece a veneração e solicitude de seus membros, da sociedade civil e da Igreja. Por isso, seria uma trágica corrupção de sua essência reduzi-la às relações conjugais, ou ao vínculo de sangue entre pais e filhos, ou a uma espécie de unidade social ou de harmonização de interesses particulares. São Josemaria insistia em que “devemos trabalhar para que essas células cristãs da sociedade nasçam e se desenvolvam com afã de santidade”[6].

O lar há de ser a escola primeira e principal onde os filhos aprendem e vivem as virtudes humanas e cristãs. O bom exemplo dos pais, dos irmãos e dos demais componentes do âmbito familiar, refletem-se de maneira imediata na configuração das relações sociais que cada um dos membros dessa família estabelece. Não é casual, portanto, o interesse da Igreja pelo adequado desenvolvimento dessa escola de virtudes que há de ser o lar. Mas não é este o único interesse: mediante a colaboração generosa dos pais cristãos com o desígnio divino, Deus mesmo “aumenta e enriquece sua própria família”[7], multiplica-se em número e virtude o Corpo Místico de Cristo sobre a terra, e oferece-se a partir dos lares cristãos uma oblação especialmente grata ao Senhor[8].

A realidade familiar baseia-se em direitos e deveres. Antes de tudo as obrigações: todos seus membros devem ter consciência clara da dignidade dessa comunidade que formam e da missão que está chamada a realizar. Cada um deve cumprir seus deveres com um vivo sentido de responsabilidade, à custa dos sacrifícios que sejam precisos. Quanto aos direitos, a família reclama o respeito e a atenção do Estado por um duplo título: é a família que lhe deu origem, e porque a sociedade será o que forem as famílias[9].

Para cumprir todos estes deveres, é indispensável que os membros da família tornem sobrenatural seu afeto, como a família está elevada à ordem sobrenatural. Deste amor — suave e exigente ao mesmo tempo — brotam essas delicadezas que fazem da vida de família uma antecipação do Céu. “O matrimônio baseado em um amor exclusivo e definitivo converte-se no ícone da relação de Deus com um povo, e, vice-versa, o modo de amor de Deus converte-se na medida do amor humano”[10].

Nos momentos atuais da vida da sociedade, faz-se especialmente urgente voltar a inculcar o sentido cristão no seio de tantos lares. A tarefa não é simples, mas é, sim, apaixonante. Para contribuir com esta imensa obra, que se identifica com a de voltar a dar tom cristão à sociedade, cada um há de começar por “varrer” a própria casa.

Adquire então particular importância na consecução deste projeto a educação dos filhos, aspecto fundamental da vida familiar. Para responder a este grande propósito - educar numa sociedade em boa medida descristianizada - convém recordar duas verdades fundamentais: “A primeira é que o homem está chamado a viver na verdade e no amor. A segunda é que cada homem realiza-se mediante a entrega sincera de si mesmo”[11]. Na educação estão implicados tanto os filhos como os pais, primeiros educadores, de modo que só se pode dar na “recíproca comunhão das pessoas”; o educador, de algum modo “engendra” em sentido espiritual, e segundo “esta perspectiva, a educação pode ser considerada um verdadeiro apostolado. É uma comunicação vital, que não só estabelece uma relação profunda entre educador e educando, mas que faz ambos participarem na verdade e no amor, meta final a que está chamado todo homem por parte de Deus Pai, Filho e Espírito Santo”[12].

* Artigo publicado em “Romana”, boletim da Prelazia.


[1] 1. Gn 2, 7.

[2] Cfr. Gn 1, 31.

[3] Cfr. Gn 1, 27.

[4] SÃO JOSEMARIA, É Cristo que passa, n. 22.

[5] Cfr. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 350.

[6] SÃO JOSEMARIA, Entrevistas, n. 91.

[7] CONCÍLIO VATICANO II, Const. past. Gaudium et spes, n. 50.

[8] Cfr. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 188.

[9][9] Cfr. Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 457-462.

[10] BENTO XVI, Enc. Deus caritas est, n. 11.

[11] JOÃO PAULO II, Carta às famílias (2-II-1994), n. 16

[12] Ibid.

Homilia do papa Francisco na missa do Estádio Nacional do Bahrein

O papa Francisco chega ao Estádio Nacional do Bahrein /
Vatican Media

05 Nov. 22 / 10:13 am (ACI).- Em seu terceiro dia no Bahrein, o papa celebrou missa no estádio Nacional do Bahrein. a seguir o texto completo:

O profeta Isaías diz que Deus fará surgir um Messias que «dilatará o seu domínio com uma paz sem limites» (Is 9, 6). Parece uma contradição! Com efeito, no palco deste mundo, muitas vezes vemos que quanto mais se procura o poder, tanto mais ameaçada está a paz. Ao contrário, o profeta anuncia uma novidade extraordinária: o Messias que vem é verdadeiramente poderoso, mas não como um líder que guerreia e domina sobre os outros, mas como «Príncipe da paz» (9, 5), como Aquele que reconcilia os homens com Deus e entre si. A grandeza do seu poder não se serve da força da violência, mas da debilidade do amor. Este é o poder de Cristo: o amor. E confere também a nós o mesmo poder, o poder de amar, de amar em seu nome, de amar como Ele amou. Como? De modo incondicional: não só quando as coisas correm bem e temos vontade de amar, mas sempre; não apenas aos nossos amigos e vizinhos, mas a todos, mesmo inimigos. Sempre e a todos.

Reflitamos um pouco sobre isto: amar sempre e amar a todos.

Comecemos pela primeira coisa: hoje as palavras de Jesus (cf. Mt 5, 38-48) convidam-nos a amar sempre, isto é, a permanecer sempre no seu amor, a cultivá-lo e praticá-lo qualquer que seja a situação onde vivemos. Mas atenção! O olhar de Jesus é realista; não diz que será fácil nem propõe um amor sentimental ou romântico, como se não houvesse, nas nossas relações humanas, momentos de conflito e não houvesse motivos de hostilidade entre os povos. Jesus não é utópico, mas realista: fala explicitamente de «maus» e de «inimigos» (cf. 5, 39.43). Sabe que acontece uma luta diária entre amor e ódio, no âmbito dos nossos relacionamentos; e, dentro de nós mesmos, verifica-se dia a dia um combate entre a luz e as trevas, entre tantos propósitos e desejos de bem e aquela fragilidade pecadora que muitas vezes nos domina e arrasta para as obras do mal. Sabe também que é o que experimentamos quando, apesar de tantos esforços generosos, nem sempre recebemos o bem que esperávamos, antes, às vezes incompreensivelmente sofremos um dano. Mais, Ele vê e sofre ao contemplar, nos nossos dias e em muitas partes do mundo, exercícios do poder que se nutrem de opressão e violência, procuram aumentar o espaço próprio restringindo o dos outros, impondo o próprio domínio, limitando as liberdades fundamentais, oprimindo os mais frágeis. Concluindo, Jesus bem sabe que há conflitos, opressões, inimizades.

À vista de tudo isto, eis a pergunta importante que se deve pôr: Que havemos de fazer quando nos encontramos em situações do género? A proposta de Jesus é surpreendente, é intrépida, é audaz. Pede aos seus a coragem de arriscar por algo que, na aparência, é perdedor; pede-lhes para permanecerem sempre, fielmente, no amor, apesar de tudo, mesmo perante o mal e o inimigo. Ora a pura e simples reação humana cinge-se ao «olho por olho e dente por dente»; mas isto equivale a fazer-se justiça com as mesmas armas do mal recebido. Jesus ousa propor-nos algo de novo, diferente, impensável, algo de Seu: «Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra» (5, 39). Aqui está o que nos pede o Senhor: que não sonhemos idealisticamente com um mundo animado pela fraternidade, mas que nos comprometamos – principiando nós mesmos – a viver concreta e corajosamente a fraternidade universal, perseverando no bem mesmo quando recebemos o mal, quebrando a espiral da vingança, desarmando a violência, desmilitarizando o coração. Um eco disto mesmo, temo-lo no apóstolo Paulo quando escreve «não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (Rm 12, 21).

Assim, o convite de Jesus não tem a ver primariamente com as grandes questões da humanidade, mas com as situações concretas da nossa vida: os nossos laços familiares, as relações na comunidade cristã, os vínculos que cultivamos no trabalho e na sociedade onde nos encontramos. Haverá atritos, momentos de tensão, haverá conflitos, diversidade de perspetivas, mas quem segue o Príncipe da paz deve procurar sempre a paz. E esta não se pode restabelecer se, a uma palavra ofensiva, se responde com outra pior, se a uma bofetada se responde com outra. Isto não! É preciso «desativar«, quebrar a cadeia do mal, romper a espiral da violência, deixar de guardar ressentimento, pôr fim a lamúrias e lamentos acerca da própria sorte. Há que permanecer no amor, sempre: é o caminho de Jesus para dar glória ao Deus do céu e construir a paz na terra. Amar sempre.

Passemos agora ao segundo aspeto: amar a todos. Podemos empenhar-nos no amor, mas não basta se o circunscrevermos à esfera restrita das pessoas de quem recebemos igualmente amor, de quem nos é amigo, dos nossos semelhantes, familiares. Também neste caso, o convite de Jesus é surpreendente, porque amplia os confins da lei e do bom senso: já é difícil, embora razoável, amar o próximo, quem é nosso vizinho. Em geral, é aquilo que uma comunidade ou um povo procura fazer, para conservar a paz no próprio seio: se se pertence à mesma família ou à mesma nação, se se têm as mesmas ideias ou os mesmos gostos, se se professa o mesmo credo, é normal procurar ajudar-se e querer-se bem. Mas que sucede se, quem estava distante, vem para perto de nós, se quem é estrangeiro, diferente ou de outro credo se torna nosso vizinho de casa? Precisamente esta nação é uma imagem viva da convivência na diversidade, do nosso mundo marcado sempre mais pela migração permanente dos povos e pelo pluralismo de ideias, usos e tradições. Então é importante acolher esta provocação de Jesus: «Se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os publicanos?» (Mt 5, 46). O verdadeiro desafio, para ser filhos do Pai e construir um mundo de irmãos, é aprender a amar a todos, mesmo o inimigo: «Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (5, 43-44). Na realidade, isto significa escolher não ter inimigos: ver no outro, não um obstáculo a superar, mas um irmão e uma irmã a amar. Amar o inimigo é trazer à terra um reflexo do Céu, é fazer descer sobre o mundo o olhar e o coração do Pai, que não faz distinções nem discrimina, mas «faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores» (5, 45).

Irmãos, irmãs, o poder de Jesus é o amor, e Jesus dá-nos o poder de amar desta maneira, duma forma que nos parece sobre-humana. Na verdade, uma tal capacidade não pode ser fruto apenas dos nossos esforços; é, antes de mais nada, uma graça; uma graça que deve ser pedida com insistência: «Jesus, Vós que me amais, ensinai-me a amar como Vós. Jesus, Vós que me perdoais, ensinai-me a perdoar como Vós. Enviai sobre mim o vosso Espírito, o Espírito do amor». Peçamo-lo! Frequentemente confiamos à atenção do Senhor muitos pedidos, mas o pedido essencial para o cristão é este: saber amar como Cristo. Amar é o dom maior, e recebemo-lo quando damos espaço ao Senhor na oração, quando acolhemos a Presença d’Ele na sua Palavra que nos transforma e na revolucionária humildade do seu Pão partido. Assim, lentamente, vão caindo os muros que nos endurecem o coração e encontramos a alegria de praticar obras de misericórdia para com todos. Então compreendemos que uma vida feliz passa através das Bem-aventuranças e consiste em sermos construtores de paz (cf. Mt 5, 9).

Queridos amigos, hoje quero agradecer o vosso humilde e jubiloso testemunho de fraternidade para ser, nesta terra, sementes do amor e da paz. É o desafio que o Evangelho lança diariamente às nossas comunidades cristãs, a cada um de nós. E a vós, a todos vós que viestes, a esta Celebração, dos quatro países do Vicariato Apostólico da Arábia do Norte – Bahrein, Kuwait, Qatar e Arábia Saudita – e doutros territórios do Golfo, bem como doutros países, hoje trago-vos o carinho e a solidariedade da Igreja universal, que tem os olhos postos em vós e vos abraça, que vos ama e encoraja. Que a Virgem Santa, Nossa Senhora da Arábia, vos acompanhe ao longo do caminho e vos guarde sempre no amor para com todos.

Fonte: http://www.acidigital.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF