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segunda-feira, 7 de novembro de 2022

O Papa: "três guerras mundiais em um século, sejam pacifistas"!

Papa Francisco na coletiva de imprensa  (VATICAN MEDIA Divisione Foto)

No voo de retorno do Bahrein, Francisco falou sobre a Ucrânia e os muitos conflitos do mundo. Ele falou de sua amizade com o Grão Imame de Al-Azhar, da importância de dar direitos e igualdade às mulheres, dos migrantes nos navios, dos abusos de crianças. E aos católicos alemães disse: "A Alemanha já tem uma grande Igreja evangélica, eu não gostaria de ter outra".

DO VOO PAPAL

Eis a transcrição de trabalho da conversa do Papa Francisco com jornalistas no voo de retorno do Bahrein.

1) Fatema Alnajem (Bahrain News Agency)

Gostaria de lhe dizer algo antes de lhe fazer minha pergunta. O senhor tem um lugar muito especial no meu coração, não só porque visitou meu país, mas porque quando o senhor foi eleito Papa, era o dia do meu aniversário. Tenho uma pergunta: como o senhor avalia os resultados de sua histórica visita ao Reino do Bahrein e como avalia os esforços que o Bahrein está fazendo para consolidar e promover a convivência, em todos os âmbitos da sociedade, de todas as religiões, sexos e raças?

Foi uma viagem de encontro porque o objetivo era precisamente encontrar-se em diálogo inter-religioso com o Islã e em diálogo ecumênico com Bartolomeu. As ideias do Grão Imame de Al-Azhar estavam precisamente nessa direção de buscar a unidade, a unidade dentro do Islã respeitando as nouances, as diferenças, mas com unidade, unidade com os cristãos e com outras religiões, e para entrar em diálogo inter-religioso ou diálogo ecumênico é necessário ter sua própria identidade. Não se pode partir de uma identidade difusa. Eu sou islâmico, sou cristão, mas tenho esta identidade e, portanto, posso falar com identidade. Quando não se tem uma identidade própria, um pouco no ar, é um pouco difícil o diálogo porque não há um ir e um voltar e é por isso que é importante e estes dois que vieram, tanto o Grão Imame de Al-Azhar como o Patriarca Bartolomeu, têm uma grande identidade. E isso é bom.

Do ponto de vista islâmico, escutei atentamente os três discursos do Grão Imame e fiquei impressionado com a forma como ele insistiu tanto no diálogo intra-islâmico, entre vocês, não para cancelar as diferenças, mas para se entenderem e trabalhar juntos, não ser um contra o outro. Nós cristãos temos uma história um pouco feia de diferenças que nos levou a guerras religiosas: católicos contra os ortodoxos ou contra os luteranos. Agora, graças a Deus depois do Conselho, há uma aproximação e podemos dialogar e trabalhar juntos e isto é importante, um testemunho de fazer o bem aos outros. Depois os especialistas, os teólogos, discutirão coisas teológicas, mas devemos caminhar juntos como crentes, como amigos, como irmãos, fazendo o bem. Eu também fiquei impressionado com as coisas que foram ditas no Conselho de Anciãos, sobre a criação e a preservação da criação, e esta é uma preocupação comum a todos, islâmicos, cristãos, a todos.  Agora, no mesmo avião, eles vão do Bahrein ao Cairo, o Secretário de Estado do Vaticano e o Grão Imame de Al-Azhar, juntos como irmãos. Isto é algo bastante comovente. Isto é uma coisa boa. Também a presença do Patriarca Bartolomeu - ele é uma autoridade no campo ecumênico – foi muito boa. Vimos isso na função ecumênica que fizemos e nas palavras que ele também disse anteriormente. Em resumo: foi uma viagem de encontro.

Para mim, a novidade de conhecer uma cultura aberta a todos. Em seu país, há espaço para todos. Também vi, o rei me disse: aqui todos fazem o que querem, se uma mulher quer trabalhar, que trabalhe. Abertura total, assim ele me disse. Você sabe, "você trabalha".  E também a parte religiosa, a abertura. Fiquei impressionado com a quantidade de cristãos, filipinos, indianos de Kerala que estão aqui e vivem no país e trabalham no país.

Fatema Alnajem

Eles amam muito o senhor.

Esta é a ideia, encontrei uma novidade e isto me ajuda a entender e interagir mais com as pessoas. A palavra-chave é diálogo, diálogo, e para dialogar é preciso partir da própria identidade, ter identidade.

Fatema Alnajem

Obrigado, Santidade. Rezarei a Alá, o Todo-Poderoso, para abençoar o senhor com boa saúde, felicidade e uma longa vida.

Santo Padre: Sim, reze por mim, não contra (risos).

2) Imad Atrach

Santo Padre, desde a assinatura do "Documento sobre a Fraternidade humana", três anos atrás, até a visita a Bagdá e também recentemente ao Cazaquistão: este caminho está dando frutos tangíveis em sua opinião? Podemos esperar que culmine em um encontro no Vaticano? Então gostaria de agradecer ao senhor por mencionar o Líbano hoje, porque como libanês posso lhe dizer que precisamos realmente de uma viagem urgente da sua parte, também e sobretudo porque agora nem sequer temos um presidente, então peço que vá para abraçar o povo diretamente.

"Obrigado. Tenho pensado muito nestes dias - e conversamos sobre isso com o Grão Imame - sobre como surgiu a ideia do Documento de Abu Dhabi, aquele Documento que fizemos juntos, o primeiro. Ele tinha vindo ao Vaticano para uma visita de cortesia: após nosso encontro protocolar, estava quase na hora do almoço e ele estava partindo, e enquanto eu o acompanhava para despedir-me dele, perguntei-lhe: "Mas, aonde vai para almoçar? Não sei o que ele me disse. "Mas venha, vamos almoçar juntos". Foi algo que veio de dentro. Depois, sentados à mesa, ele, seu secretário, dois conselheiros, eu, meu secretário, meu conselheiro, pegamos o pão, o partimos e o demos um ao outro. Um gesto de amizade, oferecendo o pão. Foi um almoço muito agradável, muito fraternal. E no final, não sei quem teve a ideia, dissemos um para o outro: mas por que não escrevemos sobre este encontro? Assim nasceu o Documento de Abu Dhabi. Os dois secretários começaram a trabalhar, com um rascunho indo e um rascunho voltando, um rascunho indo e um rascunho voltando, e no final aproveitamos do encontro de Abu Dhabi para publicá-lo. Foi uma coisa de Deus, não se pode entender de outra forma, porque nenhum de nós tinha isto em mente. Surgiu durante um almoço amigável, e isso é uma coisa importante. Depois continuei pensando, e o Documento de Abu Dhabi foi a base da "Fratelli tutti"; o que escrevi sobre amizade humana na "Fratelli tutti" é baseado no Documento de Abu Dhabi. Acredito que não se pode pensar em tal caminho sem pensar em uma bênção especial do Senhor neste caminho. Quero dizer isto por justiça, penso que é justo que vocês saibam como o Senhor inspirou este caminho. Eu nem sabia nem mesmo qual era o nome do Grão Imame, depois nos tornamos amigos e fizemos algo como dois amigos, e agora conversamos toda vez que nos encontramos. O Documento é atual, e estamos trabalhando para torná-lo conhecido.

Depois no Líbano... O Líbano é uma dor para mim. Como o Líbano não é um país em si mesmo, um Papa disse-o antes de mim, o Líbano não é um país, é uma mensagem. O Líbano tem um significado muito grande para todos nós. E o Líbano está sofrendo neste momento. Rezo, e aproveito esta oportunidade para fazer um apelo aos políticos libaneses: deixem os interesses pessoais de lado, olhem para o país e concordem entre si. Primeiro Deus, depois a pátria, depois os interesses. Mas Deus e a pátria. Neste momento não quero dizer "salvar o Líbano" porque não somos salvadores, mas por favor, apoiem o Líbano, ajudem para que o Líbano pare esta descida, para que o Líbano recupere sua grandeza. Há meios, há a generosidade do Líbano, quantos refugiados políticos o Líbano tem! Tão generoso e está sofrendo. Aproveito esta oportunidade para pedir uma oração pelo Líbano, a oração também é uma amizade. Vocês são jornalistas, olhem para o Líbano e falem sobre isso para aumentar a conscientização. Obrigado.

3) Carol  Glatz (CNS)

Santidade, durante esta viagem ao Bahrein, o senhor falou dos direitos fundamentais, inclusive das mulheres, da sua dignidade, do direito a ter o seu espaço na esfera social e pública e encorajou os jovens a terem coragem, a fazerem barulho, a irem adiante por um mundo mais justo. Vista a situação aqui perto, no Irã, com as manifestações desencadeadas por algumas mulheres e por muitas jovens que querem mais liberdade, o senhor apoia este empenho das mulheres e dos homens que pedem para terem direitos fundamentais, que se encontram também no documento sobre a Fraternidade Humana?

Mas devemos dizer a verdade. A luta pelos direitos da mulher é uma luta contínua. Porque, em alguns lugares, a mulher consegue ter uma igualdade com os homens. Mas em outros lugares não consegue. Não? Eu me lembro nos anos 50 no meu país, quando houve a luta pelos direitos civis das mulheres, para que as mulheres pudessem votar. Porque até os anos 50 mais ou menos só os homens podiam votar no meu país. E penso nesta mesma luta nos Estados Unidos, famosa, pelo voto feminino. Mas por que – me questiono – a mulher deve lutar assim para manter os seus direitos? Há uma lenda – não sei se é uma lenda – sobre a origem das joias da mulher – talvez uma lenda – que explica a crueldade de muitas situações contra a mulher. Diz-se que a mulher carrega tantas joias porque em algum país – não lembro, talvez seja um fato histórico – havia o hábito que quando o marido se cansava da mulher, lhe dizia “vai embora!” e ela não podia voltar para pegar nada. Tinha que ir embora com aquilo que tinha consigo. E por isso acumulavam ouro para pelo menos terem alguma coisa. Dizem que esta seja a origem das joias. Não sei se é verdade ou não, mas a imagem nos ajuda.

Os direitos são fundamentais: mas por que hoje, hoje, no mundo não podemos parar com a tragédia da infibulação nas meninas? Isto é terrível. Hoje. Que exista esta prática, que a humanidade não consiga eliminar isto que é um crime, um ato criminoso!  As mulheres, segundo dois comentários que ouvi, ou são material descartável - é feio, não? - ou são “espécie protegida”. Mas a igualdade entre homens e mulheres ainda não existe universalmente, e existem esses episódios: que as mulheres são de segunda classe ou menos. Devemos continuar a lutar, porque as mulheres são um dom. Deus não criou o homem e depois lhe deu um cachorrinho para se divertir. Não. Criou os dois, iguais, homem e mulher. E aquilo que Paulo escreveu em uma das suas cartas sobre a relação homem-mulher, que hoje nos parece antiquado, naquele momento foi tão revolucionário que escandalizou sobre a fidelidade homem e mulher. (Disse): o homem cuide da mulher como da própria carne. Naquele momento, isto foi uma coisa revolucionária. Todos os direitos da mulher vêm desta igualdade. E uma sociedade que não é capaz de colocar a mulher no seu lugar não vai adiante. Temos a experiência (disto). No livro que escrevi “Voltemos a sonhar”, na parte sobre a economia por exemplo: existem mulheres economistas neste momento no mundo que mudaram a visão econômica e são capazes de levá-la avante. Porque têm um dom diferente. Sabem administrar as coisas de outro modo, que não é inferior, é complementar. Uma vez tive um colóquio com uma chefe de governo, uma grande chefe de governo, uma mãe com vários filhos que teve um sucesso muito grande em resolver uma situação muito difícil. E eu lhe disse: diga-me, senhora, como fez para resolver uma situação tão difícil?

E ela começou a mover as mãos assim, em silêncio. Depois me disse: como fazemos (nós) as mães. A mulher, para resolver um problema, tem o próprio caminho, que não é o do homem. E ambos os caminhos devem trabalhar juntos: a mulher igual ao homem trabalha pelo bem comum com aquela intuição que as mulheres têm. Vi que, no Vaticano, toda vez que uma mulher entra para fazer um trabalho no Vaticano, as coisas melhoram. Por exemplo, a vice-governadora do Vaticano é uma mulher, a vice-governadora é uma mulher e as coisas mudaram bem. No Conselho para a Economia, havia seis cardeais e seis leigos, todos homens. Mudei os leigos e coloquei um homem e cinco mulheres. E esta é uma revolução porque as mulheres sabem encontrar o caminho certo, sabem ir adiante. E agora coloquei Marianna Mazzuccato, na Pontifícia Academia para a Vida. Ela é uma grande economista dos Estados Unidos, (a coloquei) para dar um pouco de humanidade a isto. As mulheres trazem a sua contribuição. Não devem se tornar como os homens. Não. São mulheres e nós precisamos delas. E uma sociedade que cancela as mulheres da vida pública é uma sociedade que empobrece. Empobrece. Igualdade de direitos, sim. Mas também uma igualdade de oportunidades. Igualdade de (possibilidades) para ir avante, porque, do contrário, se empobrece. Creio que com isto disse aquilo que globalmente é preciso fazer. Mas ainda falta caminhar, porque existe este machismo. Eu venho de um povo machista. Os argentinos somos machistas, sempre. E isso é ruim, mas depois recorremos às mães que são aquelas que resolvem os problemas. Mas este machismo mata a humanidade. Obrigado por ter me dado a oportunidade de dizer isto, (algo) que levo muito no coração. Lutemos não só pelos direitos, mas porque é preciso ter mulheres na sociedade que nos ajudem a mudar.

4) Antonio Pelayo (Vida Nueva)

Santo Padre, a única vez nesta viagem que o senhor improvisou foi para se referir à “martirizada Ucrânia” e às “negociações de paz”. Gostaria de perguntar ao senhor se pode nos dizer algo sobre como prosseguem as negociações por parte do Vaticano e outra pergunta: o senhor falou ultimamente com Putin ou tem intenção de fazê-lo proximamente?

Bom, antes de tudo: o Vaticano está continuamente atento, a Secretaria de Estado trabalha e trabalha bem, trabalha bem. Sei que o secretário, Dom Gallagher, se move bem ali. Depois, um pouco de história. No dia sucessivo (ao início) da guerra – pensei que não se pudesse fazer algo inusual – fui à embaixada russa para falar com o embaixador, que é uma boa pessoa. Eu o conheço há seis anos, desde que chegou, um humanista. Lembro de um comentário que me fez naquela ocasião: “Nous sommes tombés dans la dictature de l’argent” (Nós caímos na ditadura do dinheiro), falando da civilização. Um humanista, um homem que luta pela igualdade. Eu lhe disse que estava disposto a ir a Moscou para falar com Putin, caso fosse necessário. Mas me respondeu muito educadamente Lavrov (o ministro das Relações Exteriores, ndr) – obrigado – (mas) naquele momento não era necessário. Mas a partir daquele momento, nos interessamos muito. Falei duas vezes por telefone com o presidente Zelensky; depois com o embaixador algumas outras vezes. E se faz um trabalho de aproximação, para buscar soluções. Também a Santa Sé faz o que deve fazer em relação aos prisioneiros, essas coisas... são coisas que sempre se fazem e a Santa Sé sempre as fez, sempre.  E (depois) a pregação pela paz. A mim impressiona – por isso uso a palavra “martirizada” para a Ucrânia – a crueldade - que não é do povo russo, talvez... porque o povo russo é um povo grande -, é dos mercenários, dos soldados que vão fazer a guerra como fazem uma aventura, os mercenários... Eu prefiro pensar assim, porque tenho uma estima muito elevada do povo russo, do humanismo russo. Basta pensar em Dostojevskij que até hoje nos inspira, inspira os cristãos a pensar o cristianismo. Tenho um grande afeto pelo povo russo e também tenho um grande afeto pelo povo ucraniano. Quando eu tinha 11 anos, havia um padre que celebrava em ucraniano e todas essas canções ucranianas eu as conheço na língua deles, porque eu as aprendi quando criança, por isso tenho um afeto muito grande pela liturgia ucraniana. Estou em meio a dois povos aos quais quero bem. Mas não só eu, a Santa Sé fez muitos encontros reservados, muitas coisas com êxito positivo. Porque não podemos negar que uma guerra no início talvez nos faça corajosos, mas depois cansa e faz mal e se vê o mal que uma guerra faz. Isso da parte mais humana, mais próxima. Depois gostaria de me lamentar, aproveitando esta pergunta: em um século, três guerras mundiais! A de 1914-1918, a de 1939-1945, e esta! Esta é uma guerra mundial, porque é verdade que quando os impérios, seja de um lado, seja do outro, se enfraquecem, precisam fazer uma guerra para se sentirem fortes e também para vender armas! Porque hoje creio que a maior calamidade que existe no mundo é a indústria das armas. Por favor! Disseram-me, não sei se é verdade ou não, que se por um ano não se produzissem armas se poderia acabar com a fome no mundo. A indústria das armas é terrível. Alguns anos atrás, três ou quatro, chegou de um país um navio repleto de armas a Gênova, e deveria passar as armas para um navio maior para levá-lo ao Iêmen. Os operários de Gênova se recusaram… Foi um gesto. O Iêmen: mais de dez anos de guerra. As crianças do Iêmen não têm o que comer. Os Rohingya, transferindo-se de um lado a outro porque foram expulsos, sempre em guerra. Em Mianmar, é terrível o que está acontecendo… Agora, espero que hoje na Etiópia algo pare, com um tratado… Mas estamos em guerra em todos os lugares e nós não entendemos isso. Agora, nos toca de perto, na Europa, a guerra russo-ucraniana. Mas está em todos os lugares, há anos. Na Síria, 12-13 anos de guerra, e ninguém sabe se há prisioneiros e o que acontece ali dentro. Depois, o Líbano, falamos desta tragédia... Eu não sei se já disse isso a vocês: quando fui a Redipuglia, em 2014, vi isso – e meu avô lutou no Piave e me contou o que acontecia ali - e aqueles túmulos de jovens... chorei, chorei, não tenho vergonha de dizer. Depois num 2 de novembro, que sempre vou ao cemitério, fui perto de Anzio e vi o túmulo daqueles jovens americanos, (mortos) no desembarque de Anzio. (Tinham) 19-20-22-23 anos e chorei, realmente, me veio do coração… E pensei nas mães quando batem à sua porta: “Uma carta para a senhora”. Abre o envelope: “Senhora, tenho a honra de lhe dizer que tem um filho herói da pátria... As tragédias da guerra. Não quero falar mal de ninguém, mas me tocou o coração: quando se recordou o desembarque na  Normandia, havia os chefes de muitos governos para celebrar. É verdade, foi o início da queda do nazismo, é verdade. Mas quantos jovens ficam na praia da Normandia? Dizem 30 mil … Quem pensa naqueles jovens? A guerra semeia tudo isto. Por isso, vocês que são jornalistas, por favor, sejam pacifistas, falem contra as guerras, lutem contra a guerra. Eu lhes peço como um irmão. Obrigado.

5) Hugues Lefevre (I. Media)

Santo Padre, esta manhã em seu discurso ao clero do Bahrein, o senhor falou sobre a importância da alegria cristã, mas nos últimos dias muitos fiéis franceses perderam essa alegria quando descobriram pela imprensa que a Igreja tinha mantido em segredo a condenação, em 2021, de um bispo, agora aposentado, que tinha cometido abuso sexual nos anos 90 quando era sacerdote. Quando esta história saiu na imprensa, cinco novas vítimas apareceram. Hoje, muitos católicos desejam saber se a cultura do sigilo da justiça canônica deve mudar e se tornar transparente (e eu) gostaria de saber se o senhor acha que as sanções canônicas devem ser tornadas públicas, obrigado.

Obrigado a você pela pergunta. Eu gostaria de começar (com) um pouco de história sobre isso. O problema do abuso sempre existiu, não apenas na Igreja, mas em todos os lugares. Vocês sabem que de 42 a 46% dos abusos sexuais ocorrem na família ou no bairro. Isto é muito grave, mas o hábito sempre foi o de encobrir. Na família ainda hoje tudo é encoberto, e até no bairro tudo é encoberto ou pelo menos a maioria dos casos. Um hábito feio que na Igreja começou a mudar quando houve o escândalo de Boston nos tempos do cardeal Law que, por causa do escândalo, renunciou. Foi a primeira vez que (um caso de abuso) saiu como um escândalo. Desde então, a Igreja tomou consciência disso e começou a trabalhar, enquanto na sociedade e em outras instituições normalmente se encobre. Quando houve o encontro dos presidentes das conferências episcopais (sobre este tema) pedi ao Unicef, a ONU as estatísticas deste (fenômeno), os dados percentuais: nas famílias, bairros, nas escolas, no esporte... e um estudo preciso foi feito incluindo também a Igreja.  Alguns dizem que somos uma pequena minoria, mas (eu digo) se fosse um único caso ainda seria trágico, porque você sacerdote tem a vocação de fazer as pessoas crescer e ao se comportar dessa maneira você as destrói. Para um sacerdote, o abuso é como ir contra a própria natureza sacerdotal e contra a própria natureza social. Por isso, é uma coisa trágica e não devemos parar, não devemos parar.

Neste despertar-se, fazer investigações e acusações, nem sempre (e em todos os lugares) foi tudo igual, algumas coisas foram escondidas. Antes do escândalo de Boston as pessoas eram deslocadas (os sacerdotes eram transferidos), agora tudo é claro e estamos avançando neste ponto. Por isso, não devemos nos surpreender que casos como este surjam. Agora me lembrei de outro caso, de outro bispo. Existem sabe? E (agora) não é fácil dizer "não sabíamos" ou "era a cultura da época e continua sendo a cultura social a de esconder". Digo-lhe isto: a Igreja está determinada sobre isso, e quero agradecer publicamente aqui o heroísmo do cardeal O'Malley, um bom frade capuchinho, que sentiu a necessidade de institucionalizar isso com a Comissão para a Proteção dos Menores que ele está realizando e isso faz bem a todos nós e nos dá coragem.

Estamos trabalhando com tudo o que podemos, mas saiba que existem pessoas dentro da Igreja que ainda não veem claramente, não compartilham. É um processo o que estamos fazendo e o estamos realizando com coragem e nem todos têm coragem; às vezes há a tentação de fazer acordo, também somos todos escravos de nossos pecados, mas a vontade da Igreja é de esclarecer tudo.  Por exemplo, nos últimos meses recebi duas queixas sobre casos de abuso que tinham sido encobertos e não julgados bem pela Igreja: pedi imediatamente um novo estudo (os dois casos) e agora um novo julgamento está sendo feito; há também isto então, a revisão de julgamentos antigos, não bem feitos (não ocorridos de maneira adequada). Fazemos o que podemos, somos todos pecadores, sabe? E a primeira coisa que temos que sentir é vergonha, a vergonha profunda disso. Eu acredito que a vergonha seja uma graça. Podemos lutar contra todos os males do mundo, mas sem a vergonha... (é inútil). Por isso, me surpreendeu que Santo Inácio nos Exercícios Espirituais, quando faz você pedir perdão por todos os pecados que cometeu, ele faz você chegar até a vergonha, e se você não tem a graça da vergonha, não pode ir adiante. Um dos insultos que temos na minha terra é "você ser um sem-vergonha" e acredito que a Igreja não pode ser "uma sem-vergonha". Ela deve se envergonhar das coisas ruins, assim como (dizer) agradecer a Deus pelas coisas boas que faz. Isto eu posso lhe dizer: (nós) temos toda a boa vontade de ir em frente, também graças à sua ajuda.

6) Vânia De Luca (Rai-Tg3)

Vossa Santidade, o senhor falou sobre os migrantes nestes dias. Quatro navios na costa da Sicília, com centenas de mulheres, homens, crianças, em dificuldade, mas nem todos podem desembarcar. O senhor teme que na Itália tenha voltado uma política de "portos fechados" da direita e como avalia a posição sobre isso de alguns países do norte da Europa? Eu queria perguntar também em geral: que impressão, que opinião o senhor tem sobre o novo governo italiano, que pela primeira vez é liderado por uma mulher?

… Eh é um desafio, é um desafio. Sobre os migrantes, o princípio: os migrantes devem ser acolhidos, acompanhados, promovidos e integrados. Se não forem feitos estes quatro passos, o trabalho com os migrantes não será bom. Acolhidos, acompanhados, promovidos e integrados, chegar ao ponto de integração. A segunda coisa que digo: todos os governos da União Europeia devem entrar de acordo sobre quantos migrantes podem receber. Pelo contrário, há quatro países que recebem migrantes: Chipre, Grécia, Itália e Espanha que são os mais próximos do Mediterrâneo, mas internamente existem alguns, como a Polônia, Belarus... mas (falando) dos grandes migrantes do mar: a vida deve ser salva. Hoje, você sabe que o Mediterrâneo é um cemitério? Talvez o maior cemitério do mundo. Acho que a última vez eu lhes disse que li um livro em espanhol chamado Hermanito, é pequeno e se lê rapidamente, acho que certamente foi traduzido para o francês e também para o italiano. Pode ser lido rapidamente em duas horas.

É a história de um menino da África, não sei se da Tanzânia ou de outro lugar, que, seguindo os passos do irmão, chegou à Espanha: sofreu cinco escravidão antes de embarcar! Muita gente, conta ele, é levada à noite para esses barcos - não para os grandes navios que têm outra função - e se não quiserem embarcar: pum, pum! E são deixados na praia. O que essas pessoas fazem é realmente uma ditadura da escravidão - e depois há o risco de morrer no mar. Se você tiver tempo, leia isso, que é importante. A política migratória deve ser acordada entre todos os países, não se pode fazer uma política sem consentimento, e a União Europeia deve assumir uma política de colaboração e ajuda, não pode deixar Chipre, Grécia, Itália e Espanha com a responsabilidade de todos os migrantes que chegam às praias. A política dos governos até agora tem sido salvar vidas, isso é verdade.

Até certo ponto isso foi feito e acredito que esse governo (italiano) tenha a mesma política. Não conheço os detalhes, mas acho que não queira ir embora, acredito que já fez desembarcar as crianças, as mães, os doentes, pelo que ouvi, pelo menos a intenção tinha. A Itália pensamos aqui... este governo não pode fazer nada sem o acordo com a Europa, a responsabilidade é europeia, e então eu gostaria de mencionar outra responsabilidade europeia sobre a África. Acredito que tenha dito isso uma das grandes mulheres estadistas que tivemos e temos, Merkel. Ela disse que o problema dos migrantes deve ser resolvido na África, mas se pensarmos na África com o lema: a África deve ser explorada, é lógico que os migrantes, as pessoas fogem daquele resultado. Devemos, a Europa deve tentar fazer planos de desenvolvimento para a África.

Pensar que alguns países da África não são donos de seu próprio subsolo, que ainda depende das potências coloniais! É hipocrisia resolver o problema dos migrantes na Europa. Devemos resolvê-los também na casa deles. A exploração das pessoas na África é terrível para essa concepção. No dia 1º de janeiro tive um encontro com estudantes universitários da África. O encontro foi o mesmo que eu tive com a Universidade Loyola dos Estados Unidos. Aqueles estudantes têm uma capacidade, uma inteligência, criticidade, vontade de seguir em frente, mas às vezes não podem por causa da força colonialista que a Europa exerce em seus governos. Se quisermos resolver definitivamente o problema dos migrantes, devemos resolvê-lo na África. Os migrantes que vêm de outras partes são menores, são menos, mas temos a África, ajudemos a África. O novo governo começa agora. Eu estou aqui: desejo-lhe o melhor. Eu desejo sempre o melhor a um governo porque o governo é para todos e desejo o melhor para que possa fazer progredir a Itália, e a todos os outros que são contrários ao partido vencedor, que colaborem com criticidade, com a ajuda, mas um governo de colaboração, não um governo onde movem o seu rosto, fazem você cair se não gostam de uma coisa ou outra. Por favor, eu em relação a isso chamo à responsabilidade. Diga-me, é justo que desde o início do século até agora a Itália tenha tido 20 governos? Vamos acabar com essas brincadeiras!

7) Ludwig Ring-Eifel (Centrum informationis Catholicum),

Também quero dizer algo pessoal antes de tudo, porque me sinto muito emocionado, porque depois de uma pausa de 8 anos estou de volta ao voo papal. Estou muito grato por estar aqui novamente....

Seja bem-vindo,

Ludwig

Muito obrigado. Nós do grupo alemão somos poucos, apenas três neste voo, pensamos: como podemos fazer uma conexão entre o que vimos no Bahrein e a situação na Alemanha. Porque no Bahrein vimos uma Igreja pequena, um pequeno rebanho, uma Igreja pobre, com muitas restrições e assim por diante, mas uma Igreja animada, cheia de esperança, que cresce. Na Alemanha, por outro lado, temos uma grande Igreja, com grandes tradições; rica, com teologia, dinheiro e tudo mais, mas perdendo trezentos mil fiéis a cada ano, que vão embora, que estão em profunda crise. Há algo a aprender com este pequeno rebanho que vimos no Bahrein para a grande Alemanha?

A Alemanha tem uma velha história religiosa. Citando Hoelderlin, direi: "muitas coisas viveram, muitas". Sua história religiosa é grande e complicada, de lutas. Eu digo aos católicos alemães: a Alemanha tem uma grande e bela Igreja Evangélica; eu não gostaria de outra, que não será (nunca) tão boa quanto essa; mas a quero católica, à católica, em fraternidade com a Evangélico. Às vezes perdemos o sentido religioso do povo, do Santo Povo fiel de Deus, e caímos em discussões de ética, discussões de conjuntura, discussões que são consequências teológicas, mas não são o núcleo da teologia. O que pensa o Santo Povo fiel de Deus? Como o povo santo de Deus se sente? Ir até ele e procurar saber como se sente, aquela religiosidade simples, que você encontra nos avós. Não estou dizendo para voltar atrás, não; mas à fonte de inspiração nas raízes.

Todos nós temos uma história de raízes de fé; até mesmo os povos a têm: reencontrá-la! Vem-me em mente a frase de Hoelderlin para nossa idade: "o homem velho deveria cumprir o que prometeu quando criança" Nós, em nossa infância... prometemos muitas coisas, muitas coisas. Agora entramos em discussões éticas, em discussões conjunturalistas, mas a raiz da religião é a bofetada no rosto que o Evangelho nos dá, o encontro com Jesus Cristo vivo: e dali as consequências, todas elas; dali a coragem apostólica, dali ir para às periferias, também as periferias morais do povo para ajudar; mas do encontro com Jesus Cristo. Se não houver o encontro com Jesus Cristo, haverá uma ética disfarçada de cristianismo. Isto é o que eu queria dizer, mas do fundo do coração. Obrigado.

(Transcrição feita pelo Dicastério para a Comunicação)

Papa: “o poder de Jesus é o amor”

Photo by VATICAN MEDIA / AFP

Jesus bem sabe que há conflitos, opressões, inimizades. Mas Ele "dá-nos o poder de amar duma forma que nos parece sobre-humana". E o Papa explicou como fazer isso. Veja:

O Papa Francisco afirmou nesse sábado que, “no palco deste mundo, muitas vezes vemos que quanto mais se procura o poder, tanto mais ameaçada está a paz”.

No entanto, “o Messias que vem é verdadeiramente poderoso, mas não como um líder que guerreia e domina sobre os outros, mas como Príncipe da paz”, disse Francisco, em sua homilia na Santa Missa pela Paz e a Justiça, no Estádio Nacional do Bahrein.

De fato, o Papa explicou que a grandeza do poder do Senhor não se serve da força da violência, mas da debilidade do amor.

Este é o poder de Cristo: o amor. E confere também a nós o mesmo poder, o poder de amar, de amar em seu nome, de amar como Ele amou. Como? De modo incondicional: não só quando as coisas correm bem e temos vontade de amar, mas sempre; não apenas aos nossos amigos e vizinhos, mas a todos, mesmo inimigos. Sempre e a todos.

Amar sempre e amar a todos

Em seguida, o Papa explicou que as palavras de Jesus convidam-nos a amar sempre, isto é, a permanecer sempre no seu amor, a cultivá-lo e praticá-lo qualquer que seja a situação onde vivemos.

Mas atenção! O olhar de Jesus é realista; não diz que será fácil nem propõe um amor sentimental ou romântico, como se não houvesse, nas nossas relações humanas, momentos de conflito e não houvesse motivos de hostilidade entre os povos. Jesus não é utópico, mas realista: fala explicitamente de «maus» e de «inimigos».

Sabe que acontece uma luta diária entre amor e ódio, no âmbito dos nossos relacionamentos; e, dentro de nós mesmos, verifica-se dia a dia um combate entre a luz e as trevas, entre tantos propósitos e desejos de bem e aquela fragilidade pecadora que muitas vezes nos domina e arrasta para as obras do mal. Sabe também que é o que experimentamos quando, apesar de tantos esforços generosos, nem sempre recebemos o bem que esperávamos, antes, às vezes incompreensivelmente sofremos um dano. Mais, Ele vê e sofre ao contemplar, nos nossos dias e em muitas partes do mundo, exercícios do poder que se nutrem de opressão e violência, procuram aumentar o espaço próprio restringindo o dos outros, impondo o próprio domínio, limitando as liberdades fundamentais, oprimindo os mais frágeis. Concluindo, Jesus bem sabe que há conflitos, opressões, inimizades.

Que havemos de fazer quando nos encontramos em situações do gênero?

A proposta de Jesus a essa pergunta “é surpreendente, é intrépida, é audaz”. Ele pede aos seus a coragem de arriscar por algo que, na aparência, é perdedor; pede-lhes para permanecerem sempre, fielmente, no amor, apesar de tudo, mesmo perante o mal e o inimigo.

Ora a pura e simples reação humana cinge-se ao «olho por olho e dente por dente»; mas isto equivale a fazer-se justiça com as mesmas armas do mal recebido. Jesus ousa propor-nos algo de novo, diferente, impensável, algo de Seu: «Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra» (5, 39). Aqui está o que nos pede o Senhor: que não sonhemos idealisticamente com um mundo animado pela fraternidade, mas que nos comprometamos – principiando nós mesmos – a viver concreta e corajosamente a fraternidade universal, perseverando no bem mesmo quando recebemos o mal, quebrando a espiral da vingança, desarmando a violência, desmilitarizando o coração. Um eco disto mesmo, temo-lo no apóstolo Paulo quando escreve «não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem» (Rm 12, 21).

Assim – prosseguiu o Papa –, o convite de Jesus “não tem a ver primariamente com as grandes questões da humanidade, mas com as situações concretas da nossa vida: os nossos laços familiares, as relações na comunidade cristã, os vínculos que cultivamos no trabalho e na sociedade onde nos encontramos”.

Haverá atritos, momentos de tensão, haverá conflitos, diversidade de perspetivas, mas quem segue o Príncipe da paz deve procurar sempre a paz. E esta não se pode restabelecer se, a uma palavra ofensiva, se responde com outra pior, se a uma bofetada se responde com outra. Isto não! É preciso «desativar«, quebrar a cadeia do mal, romper a espiral da violência, deixar de guardar ressentimento, pôr fim a lamúrias e lamentos acerca da própria sorte. Há que permanecer no amor, sempre: é o caminho de Jesus para dar glória ao Deus do céu e construir a paz na terra. Amar sempre.

O segundo aspeto: amar a todos

Podemos empenhar-nos no amor, mas não basta se o circunscrevermos à esfera restrita das pessoas de quem recebemos igualmente amor, de quem nos é amigo, dos nossos semelhantes, familiares, disse o Papa.

Também neste caso, o convite de Jesus é surpreendente, porque amplia os confins da lei e do bom senso: já é difícil, embora razoável, amar o próximo, quem é nosso vizinho. Em geral, é aquilo que uma comunidade ou um povo procura fazer, para conservar a paz no próprio seio: se se pertence à mesma família ou à mesma nação, se se têm as mesmas ideias ou os mesmos gostos, se se professa o mesmo credo, é normal procurar ajudar-se e querer-se bem. Mas que sucede se, quem estava distante, vem para perto de nós, se quem é estrangeiro, diferente ou de outro credo se torna nosso vizinho de casa? Precisamente esta nação é uma imagem viva da convivência na diversidade, do nosso mundo marcado sempre mais pela migração permanente dos povos e pelo pluralismo de ideias, usos e tradições.

Então é importante acolher esta provocação de Jesus: «Se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os publicanos?» (Mt 5, 46). O verdadeiro desafio, para ser filhos do Pai e construir um mundo de irmãos, é aprender a amar a todos, mesmo o inimigo: «Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem» (5, 43-44). Na realidade, isto significa escolher não ter inimigos: ver no outro, não um obstáculo a superar, mas um irmão e uma irmã a amar. Amar o inimigo é trazer à terra um reflexo do Céu, é fazer descer sobre o mundo o olhar e o coração do Pai, que não faz distinções nem discrimina, mas «faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores» (5, 45).

O poder de Jesus é o amor

Nesse sentido, o Papa enfatizou que “o poder de Jesus é o amor” e Ele “dá-nos o poder de amar desta maneira, duma forma que nos parece sobre-humana”.

Na verdade, uma tal capacidade não pode ser fruto apenas dos nossos esforços; é, antes de mais nada, uma graça; uma graça que deve ser pedida com insistência: «Jesus, Vós que me amais, ensinai-me a amar como Vós. Jesus, Vós que me perdoais, ensinai-me a perdoar como Vós. Enviai sobre mim o vosso Espírito, o Espírito do amor». Peçamo-lo! Frequentemente confiamos à atenção do Senhor muitos pedidos, mas o pedido essencial para o cristão é este: saber amar como Cristo. Amar é o dom maior, e recebemo-lo quando damos espaço ao Senhor na oração, quando acolhemos a Presença d’Ele na sua Palavra que nos transforma e na revolucionária humildade do seu Pão partido. Assim, lentamente, vão caindo os muros que nos endurecem o coração e encontramos a alegria de praticar obras de misericórdia para com todos. Então compreendemos que uma vida feliz passa através das Bem-aventuranças e consiste em sermos construtores de paz (cf. Mt 5, 9).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

domingo, 6 de novembro de 2022

Os “3 convites simples” do Papa Francisco aos jovens

MARCO BERTORELLO | AFP

"Não tanto para vos ensinar qualquer coisa mas sobretudo para vos encorajar."

O Papa Francisco disse nesse sábado que, “na massa do mundo”, os jovens são “o fermento bom”.

“Como se fôsseis inquietos viajantes abertos ao inédito, vós, jovens, não temeis confrontar-vos, dialogar, «fazer barulho» e misturar-vos com os outros, tornando-vos a base duma sociedade amiga e solidária”, disse o pontífice, em discurso na Escola do Sagrado Coração em Awali, Bahrein.

A propósito disto, o Papa fez aos jovens “três convites simples, não tanto para vos ensinar qualquer coisa mas sobretudo para vos encorajar”.

1ABRAÇAR A CULTURA DO CUIDADO

Cuidar significa desenvolver uma atitude interior de empatia, um olhar atento que nos leva para fora de nós mesmos, uma presença gentil que vence a indiferença e nos impele a interessar-nos pelos outros. Este é o ponto de viragem, o início da novidade, o antídoto contra um mundo fechado que, impregnado de individualismo, devora os seus filhos; contra um mundo enclausurado pela tristeza, que gera indiferença e solidão. Deixai que vos diga: Como faz mal faz o espírito de tristeza! Tanto mal! Com efeito, se não aprendermos a cuidar daquilo que está ao nosso redor – dos outros, da cidade, da sociedade, da criação –, acabamos por transcorrer a vida como quem corre, se afadiga, faz muitas coisas, mas, no final, permanece triste e pelo simples motivo que nunca saboreou profundamente a alegria da amizade e da gratuidade, nem deu ao mundo aquele toque único de beleza que só ele ou ela, e mais ninguém, poderia dar. Como cristão, penso em Jesus e vejo que a sua ação sempre esteve animada pelo cuidado. Cuidou as relações com quantos encontrava nas casas, nas cidades e pelo caminho: fixou as pessoas nos olhos, prestou atenção aos seus pedidos de ajuda, aproximou-se e tocou com a mão as suas feridas. Vós, fixais as pessoas nos olhos? Jesus entrou na história dizendo-nos que o Altíssimo cuida de nós; lembrando-nos que, estar da parte de Deus, significa cuidar de alguém e dalguma coisa, especialmente dos mais necessitados.

Amigos, como é bom tornar-se cultores do cuidado, artistas das relações! Mas isto, como tudo na vida, requer um treino constante. Então não vos esqueçais de cuidar primariamente de vós mesmos: não tanto do exterior, como sobretudo do interior, da vossa parte mais escondida e preciosa. Qual é? A vossa alma, o vosso coração! E como se faz para cuidar do coração? Tentai escutá-lo em silêncio, criar espaços para estar em contacto com a vossa interioridade, para sentir o dom que sois, para acolher a vossa existência e não a deixar fugir de mão. Não vos aconteça ser «turistas da vida», que a olham apenas de fora, superficialmente. Mas, no silêncio, seguindo o ritmo do vosso coração, falai com Deus. Falai-Lhe de vós mesmos e também daqueles que encontrais diariamente e que Ele vos dá como companheiros de viagem. Levai à sua presença os rostos, as situações felizes e dolorosas, porque não há oração sem relações, tal como não há alegria sem amor.

E, como sabeis, o amor não é uma telenovela nem um filme romântico: amar é ter a peito o outro, cuidar do outro, oferecer o próprio tempo e os próprios dons a quem deles precisa, arriscar para fazer da vida um dom que gera nova vida. Arriscar! Amigos, por favor, nunca vos esqueçais duma coisa: sois todos – sem exceção – um tesouro, um tesouro único e precioso. Por isso, não mantenhais a vida num cofre, pensando que é melhor poupar-se e que o momento de a gastar ainda não chegou! Muitos de vós estão aqui de passagem, por motivos laborais e, frequentemente, por um prazo limitado. Mas, se vivermos com a mentalidade do turista, não agarramos o momento presente e corremos o risco de deitar fora pedaços inteiros de vida. Ao contrário, como é bom deixar agora um bom rasto no caminho, cuidando da comunidade, dos companheiros de escola, dos colegas de trabalho, da criação… A propósito, far-nos-á bem questionar-nos: Que rasto estou a deixar agora, aqui onde vivo, no lugar onde a Providência me colocou?]

2SEMEAR FRATERNIDADE

«É preciso ser-se campeão não só nos campos de jogo, mas também na vida». Campeão fora do campo. É verdade! Sede campeões de fraternidade, fora do campo. Este é o desafio de hoje para vencer amanhã, o desafio das nossas sociedades cada vez mais globalizadas e multiculturais. Vede! Todos os instrumentos e a tecnologia que a modernidade nos oferece, não bastam para tornar o mundo pacífico e fraterno. Temo-lo diante dos olhos: de facto, os ventos de guerra não se aplacam com o progresso técnico. Com tristeza constatamos que, em muitas regiões, as tensões e as ameaças aumentam e, por vezes, deflagram nos conflitos. Frequentemente, porém, isto acontece porque não se trabalha o coração, porque se deixam ampliar as distâncias em relação aos outros e, assim, as diferenças étnicas, culturais, religiosas e outras tornam-se problemas e temores que isolam, em vez de ser oportunidades para crescer juntos. E, quando se mostram mais fortes do que a fraternidade que nos une, corre-se o risco do conflito.

A vós, jovens, que sois mais diretos e mais capazes de gerar contactos e amizades, superando os preconceitos e as barreiras ideológicas, quero dizer: sede semeadores de fraternidade e recolhereis futuro, porque o mundo só terá futuro na fraternidade! É um convite que encontro no coração da minha fé. Como diz a Bíblia, «aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E nós recebemos d’Ele este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão» (1 Jo 4, 20-21). Sim! Jesus pede para nunca desligarmos o amor a Deus do amor ao próximo, fazendo-nos nós mesmos próximo de todos (cf. Lc 10, 29-37): de todos, e não só de quem nos é simpático. Viver como irmãos e irmãs é a vocação universal confiada a toda a criatura. E vós jovens – sobretudo vós –, face à tendência dominante de permanecer indiferentes e mostrar-se impaciente com os outros, até ao ponto de aprovar guerras e conflitos, sois chamados a «reagir com um novo sonho de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras» (Francisco, Carta enc. Fratelli tutti, 6). As palavras não bastam; há necessidade de gestos concretos realizados no dia a dia.

Ponhamo-nos, aqui também, algumas perguntas: Estou aberto aos outros? Sou amigo ou amiga de qualquer pessoa que não faça parte do meu círculo de interesses, que tenha credo e costumes diferentes dos meus? Procuro o encontro, ou fico na minha? O caminho – assim no-lo disse Nevin, em poucas palavras – é «criar boas relações», com todos. Geralmente em vós, jovens, há um forte desejo de viajar, conhecer novas terras, ultrapassar os confins dos lugares habituais. Pois bem! Deixai que vos diga: sabei viajar também dentro de vós mesmos, alargar as fronteiras interiores, para que caiam os preconceitos sobre os outros, se restrinja o espaço da difidência, se desmoronem os recintos do medo, germine a amizade fraterna! Também aqui deixai-vos ajudar pela oração, que alarga o coração e, abrindo-nos ao encontro com Deus, ajuda-nos a ver, em quem encontramos, um irmão e uma irmã. A propósito, são belas estas palavras dum profeta: «Não foi o mesmo Deus que nos criou? Por que razão, pois, somos nós pérfidos uns para com os outros?» (Ml 2, 10). Sociedades como esta do Bahrein, com uma notável riqueza de credos, tradições e línguas diferentes, podem tornar-se «ginásios de fraternidade». Aqui estamos às portas do grande e multiforme continente asiático, que um teólogo definiu «um continente de línguas» (A. Pieris, Teologia na Ásia, Brescia 2006, 5): sabei harmonizá-las numa única língua, a língua do amor, como verdadeiros campeões de fraternidade!

3FAZER OPÇÕES NA VIDA

Como bem sabeis pela experiência de cada dia, não existe uma vida sem desafios a enfrentar. E perante um desafio, como numa encruzilhada, sempre é preciso escolher, entrar em jogo, arriscar, decidir. Mas isto requer uma boa estratégia: não se pode improvisar, vivendo só por instinto ou circunscrito a cada instante! E como se faz para preparar-se, treinar a capacidade de escolher, a criatividade, a coragem, a tenacidade? Como aperfeiçoar o olhar interior, aprender a julgar as situações, a captar o essencial? Trata-se de crescer na arte de se orientar nas escolhas, de tomar as justas direções. Por isso, o terceiro convite é fazer opções na vida, opções certas.

Tudo isto me veio em mente, ao repassar as perguntas de Merina. São interrogativos que expressam precisamente a necessidade de compreender a direção que se deve tomar na vida. És uma jovem corajosa, pelo modo como disseste as coisas! E posso contar-vos a minha experiência: era um adolescente como vós, como todos, e a minha vida era a vida normal dum rapaz qualquer. Como sabemos, a adolescência é um caminho, uma fase de crescimento, um período em que assomamos à vida com os seus aspetos por vezes contraditórios, enfrentando pela primeira vez certos desafios. Pois bem! O meu conselho, qual é? Avançar sem medo, e nunca sozinhos! Duas coisas: avançar sem medo, e nunca sozinhos! Deus não vos deixa sozinhos, mas, para vos dar uma mão, espera que Lha peçais. Acompanha-nos e guia-nos, não com prodígios e milagres, mas falando delicadamente através dos nossos pensamentos e sentimentos e também por meio dos nossos professores, dos nossos amigos, dos nossos pais e de todas as pessoas que nos querem ajudar.

Por isso é preciso aprender a distinguir a sua voz, a voz de Deus que nos fala. E como aprendemos isto? Como nos dizias tu, Merina: através da oração silenciosa, do diálogo íntimo com Ele, guardando no coração aquilo que nos faz bem e dá paz. A paz é um sinal da presença de Deus. Esta luz de Deus ilumina o labirinto de pensamentos, emoções e sentimentos em que, muitas vezes, nos movemos. O Senhor deseja iluminar a vossa inteligência, os vossos pensamentos mais íntimos, as aspirações que trazeis no coração, os juízos que amadurecem dentro de vós. Quer-vos ajudar a distinguir o essencial daquilo que é supérfluo, aquilo que é bom daquilo que faz mal a vós e aos outros, aquilo que é justo daquilo que gera injustiça e desordem. A Deus, nada é alheio de quanto nos acontece, nada! Muitas vezes, porém, somos nós a alhear-nos d’Ele, não Lhe confiando as pessoas e as situações e fechando-nos no medo e na vergonha. Assim não! Alimentemos na oração a certeza consoladora de que o Senhor vela por nós, que não dorme, mas sempre nos vê e guarda.

Amigos, jovens, esta aventura das opções, não a devemos realizar sozinhos. Por isso deixai que vos diga uma última coisa: procurai sempre – antes das sugestões da Internet – bons conselheiros na vida, pessoas sábias e fiáveis que vos possam orientar, ajudar. Primeiro, isto! Penso nos pais e professores, mas também nos idosos, nos avós e num bom acompanhante espiritual. Cada um de nós precisa de ser acompanhado no caminho da vida! Repito o que vos disse: nunca sozinhos! Precisamos de ser acompanhados no caminho da vida.

Santificar-se no peregrinar da vida

Dom José Gilson | cnbb

SANTIFICAR-SE NO PEREGRINAR DA VIDA

 

Dom José Gislon

Bispo de Caxias do Sul (RS)

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus!  Neste domingo, 06 de novembro, a Igreja Católica celebra a Solenidade de todos os Santos. Esta festa tradicionalmente é marcada para o dia primeiro de novembro, antecedendo o Dia de Finados, mas, por razões pastorais e para uma melhor participação de todos, é celebrada no domingo seguinte. Essa festa nos recorda que somos chamados à santidade nesta vida.  

Mas creio que na mente e no coração, muitos podem se perguntar: Quem são os Santos? São aqueles que mantém os olhos fixos em Deus, e nos valores do Evangelho: amor, verdade, justiça, compaixão, solidariedade. Por isso, já possuem na própria alma a presença do Reino de Deus, que para os outros é somente a miragem de um sonho distante.  

O Concilio Vaticano II, 1965, no documento Lumen Gentium, número 40, diz que: “O Senhor Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição que fossem, a santidade de vida, de que ele próprio é autor e consumador: “Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste” (Mt 5,48). Enviou a todos o Espirito Santo para os mover interiormente a amarem a Deus com todo o coração, com toda alma, com toda a mente e com todas as forças (Mc 12,30) e a amarem-se uns aos outros como Cristo os amou (Jo 13,34). Os seguidores de Cristo, que Deus chamou e justificou no Senhor Jesus, não pelos seus méritos, mas por seu desígnio e sua graça, foram feitos no batismo da fé, verdadeiros filhos de Deus e participantes da natureza divina, e por isso mesmo, verdadeiramente santos. Devem, portanto, com a ajuda de Deus, conservar e aperfeiçoar na sua vida a santidade que receberam”.  

O Apóstolo São Paulo (Ef 5,3) exorta os cristãos a viverem “como convém aos santos”, a revestirem-se “como eleitos de Deus, santos e prediletos, de sentimentos de misericórdia, de benignidade, de humildade, de mansidão e de paciência” (Cl 3,12), e a fazerem servir os frutos do Espírito para a santificação (Gl 5,22; Rm 6,22). É, pois, bem claro que todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou classe, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade. Por esta santidade se promove, também na sociedade terrena, um teor de vida mais humano”. Portanto, “empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida da dádiva de Cristo, para alcançar esta perfeição, a fim de que, seguindo seus exemplos, tornando-se conformes à sua imagem e obedecendo em tudo a vontade do Pai, se dediquem à glória de Deus e ao serviço do próximo. Assim, a santidade do povo de Deus crescerá, oferecendo abundantes frutos, como o demonstra brilhantemente, através da história da Igreja, a vida de tantos santos e santas”.

A Igreja Católica é alheia à astronomia?

© NASA, ESA, CSA, STScI
Por Douglas Borges Cândido

Desde a antiguidade a humanidade se pergunta por três questões fundamentais: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?

As razões de nossas escolhas nem sempre conseguem ser totalmente evidenciadas. Por isso, empreender qualquer reflexão em torno da relação entre ciência e fé, entre razão e transcendência, torna-se uma tarefa complexa, pois, para além de uma relação que pode parecer desconexa, distante e obtusa, trata-se de uma série de conexões profícuas entre essas duas dimensões. Por isso, o trabalho nesse campo é, metaforicamente, quase sempre paleontológico, pois trata-se de retirar as sedimentações históricas ‘consolidadas’ para se chegar a novas e outras construções menos conhecidas ou divulgadas. Em suma, não se trata de negar ou minimizar algumas das descontinuidades históricas que ocorreram entre essas duas áreas, mas de prescindir desses pontos tão particulares para enxergarmos a pluralidade de relações amistosas entre elas. 

Desde a antiguidade a humanidade se pergunta por três questões fundamentais: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Desde então, em busca de respostas, a aventura do conhecimento humano nos legou as mais belas interpretações e avanços significativos no desenvolvimento das ciências, das tecnologias e da literatura. A intensificação do exercício de busca por respostas a essas questões se deu com a contribuição fundamental da Igreja Católica por meio da formação das primeiras universidades. São elas que passam a concentrar mestres e discípulos em busca da verdade. Desde a sua fundação, as universidades constituem-se como um espaço de conhecimento e de sentido, que estabelecem em seu âmago o convívio entre a ciência e a fé, entre a razão e a transcendência. 

Um profundo diálogo nesse sentido foi aberto com as ciências desde o Renascimento. A partir de personalidades singulares na história dos estudos astronômicos, as reflexões em torno das estrelas e dos astros deixaram de se basear em antigas concepções aristotélico-ptolomaicas, e abriram-se novas possibilidades de investigação. Essa efervescência cultural e científica dos séculos seguidos ao Renascimento, nos legou uma personalidade que, na história da astronomia, estabeleceu um profundo diálogo com a Igreja Católica. Estamos nos referindo a Galileu Galilei. Muitos tomam o ‘caso Galileu’ para reafirmar antigas e ultrapassadas posturas da Igreja em relação à ciência, sem ao menos considerarem o contexto histórico da época. Apenas como contraponto, afirma-se que o papa Urbano VIII o teria elogiado pelos seus trabalhos no campo da astronomia. Disse Urbano VIII, ao grão-duque da Toscana, que reconhecia Galileu como um homem “cuja fama brilha no céu e se espalha por todo o mundo”.  

Como expressou o filósofo Immanuel Kant, “Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre nova e crescente, quanto mais frequente e persistentemente a reflexão ocupa-se com elas: o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim”. Histórica e formalmente reconhecido pela comunidade científica, desde 1891, com a criação do Observatório do Vaticano, aprovado pelo Papa Leão XIII, a Igreja Católica tem se perguntado sobre esse céu estrelado acima de nós de um ponto de vista eminentemente científicoContrariando essa maneira estereotipada de compreender a relação entre religião e ciência, e com um sólido trabalho em torno de temas complexos, a equipe de astrônomos jesuítas que atuam no Observatório avança sobre discussões como a possibilidade de vida fora da Terra; exoplanetas; estudos sobre meteoros; o posicionamento da Igreja sobre a possibilidade de batizar extraterrestres; a descoberta de estrelas; a evolução de galáxias; entre outras pesquisas. 

A atividade que estes cientistas católicos desenvolvem promove um profundo e honesto diálogo entre esses dois campos, mostrando-nos que as verdades científicas não são irreconciliáveis com a fé. Ao contrário, a ciência tende a enriquecer-se com a dimensão do transcendente e a fé, em sua abertura ao mistério científico do universo, pode escapar de equívocos ou visões ultrapassadas sobre a Criação.

A capacidade de síntese do que queremos expressar até aqui é um dom para poucos. E essa síntese só poderia ter emergido de uma das pessoas mais brilhantes do século XX, o físico Albert Einstein. Disse ele certa vez: a ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Reflexão para o XXXII Domingo do Tempo Comum - Ano C

Evangelho do domingo  (@ BAV Vat. lat. 39, f. 67v)

Os que passam pela morte ganham a filiação da Vida, de Deus, e alcançam a vida plena, sem limites, porque são filhos de Deus, da imortalidade e da plenitude do Amor.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

A Liturgia deste domingo diz que podemos viver como ressuscitados, apesar dos sofrimentos cotidianos.

Temos uma vida e a amamos muito, mesmo vivendo em situações difíceis. É bom viver!

Contudo, tendo uma vida feliz, realizada, ou ao contrário, uma vida infeliz, ela inevitavelmente terminará um dia. E aí? Diz um ditado: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe”, tanto a alegria e o prazer, após terem sido vividos, são como nada. Apenas permanecem na lembrança.

Do mesmo modo, a dor, a angústia, o sofrimento, após sua vivência pelo homem, é como se nada houvesse ocorrido, apenas fica a memória. Embora saibamos que em alguns casos as recordações – positivas ou negativas – podem deixar marcas indeléveis.

E nossa vida, em todo o seu contexto, será levada ao nada?

Alguns pensadores dizem que o homem é o ser-para-o-nada.

Mas, o que diz a Sagrada Escritura?

A primeira leitura da liturgia deste XXXII Domingo do Tempo Comum, nos fala em ressurreição, mas não como a entendemos a partir de Jesus, mas como revivificação, uma continuação bastante melhorada desta vida e apenas para os justos, não para todos os homens.

No Evangelho encontramos um grupo de judeus ricos, os saduceus que negavam a ressurreição. Eles colocam uma pergunta que só faz sentido se, de fato, após a morte tivermos uma revivificação, uma continuação desta vida, tal como ela é, e não a ressurreição como professamos no Credo.

Jesus nos diz que os que passam desta vida para a eternidade são filhos de Deus, porque ressuscitam. Os que atravessaram a morte ganharam a filiação da Vida. Deus é vida e, por isso, terão a vida plena, sem limites. São filhos de Deus, da imortalidade, da plenitude do Amor.

Portanto, o modo como vivemos, como enfrentamos as coisas boas e difíceis desta vida, demonstrará nossa fé na ressurreição.

Será como uma nova gestação em que é gerado o homem espiritual, aquele que nascerá de acordo com a imagem de Deus, e, por isso, sua casa será a do Pai.

Desde agora podemos viver como ressuscitados, nos diz São Paulo na segunda leitura. Apesar dos sofrimentos cotidianos, resistamos a eles e peçamos ao Senhor que nos confirme na consolação eterna e na feliz esperança da vitória plena de Cristo.

Existe outro dito brasileiro que possui um espírito bastante cristão, no sentido de enfrentar as dificuldades e crer na mudança que sucederá aos sofrimentos: “Enfrente as quedas, não desanime, levante, sacode a poeira, dê a volta por cima!”

E para concluir com a Bíblia, podemos recordar o que nos diz o Salmo 30, 6: “O choro pode durar uma noite, mas a alegria virá ao amanhecer”.

O Papa Francisco despede-se do Reino do Bahrein

O Papa Francisco se despede do Rei do Bahrein  (Vatican Media)

Francisco esteve de 3 a 6 de novembro no Reino do Bahrein. A cerimônia de despedida realizou-se na Base Aérea de Sakhir, em Awali, onde o Pontífice foi acolhido pelo rei do Bahrein, Sua Majestade Hamad bin Isa bin Salman Al Khalifa.

Vatican News

O Papa Francisco deixou o Reino do Bahrein, neste domingo (06/11), concluindo sua 39ª Viagem Apostólica Internacional. O avião papal decolou às 13h16, hora local, 7h16 no horário de Brasília.

A cerimônia de despedida realizou-se na Base Aérea de Sakhir, em Awali, onde o Pontífice foi acolhido pelo rei do Bahrein, Sua Majestade Hamad bin Isa bin Salman Al Khalifa, pelo rei herdeiro e pelo primeiro-ministro, por outros três filhos do rei e por um neto, na Sala Real onde houve um breve encontro. Estava também presente na cerimônia de despedida o Grão Imame de Al-Azhar, Muhammad Ahmad Al-Tayyeb.

A chegada o Papa Francisco ao Aeroporto Internacional de Roma/Fiumicino está prevista para às 16h locais, meio-dia em Brasília.

Foi a 39ª viagem apostólica

Esta foi a 39ª Viagem do Papa Francisco que já visitou 54 países diferentes nestes quase 10 anos de pontificado. Dentro da Itália, o Papa fez 31 visitas pastorais a 41 cidades ou vilarejos. Sua última viagem ao exterior foi ao Cazaquistão de 13 a 15 de setembro deste ano por ocasião do VII Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais.

Logotipo e lema

O logotipo da viagem foi formado pelas bandeiras do Reino do Bahrein e da Santa Sé, representadas de forma estilizada como duas mãos abertas para Deus, simbolizando também o compromisso dos povos e nações de se encontrarem num espírito de abertura, sem preconceitos, como "irmãos e irmãs". O fruto do encontro fraterno foi o dom da paz, simbolizado pelo ramo de oliveira representado no centro das "duas mãos".

sábado, 5 de novembro de 2022

“Estou com muita dor”, admite o Papa no voo para o Bahrein

MARCO BERTORELLO | AFP
Por I. Media

O Pontífice precisou quebrar o protocolo por não conseguir se locomover no avião.

No avião que deixou Roma rumo ao Bahrein nesta quinta-feira, 3 de novembro de 2022, o Papa Francisco afirmou aos jornalistas a bordo que estava com “muita dor” no joelho. Esta é a 39ª viagem apostólica internacional de Francisco, que está com 85 anos.

Depois de pouco mais de uma hora de voo, como está acostumado desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco fez questão de cumprimentar os jornalistas que o acompanhavam. No entanto, de pé, ele disse ao grupo que estava “com muita dor” e que não podia se mover pelo corredor do avião – como costuma fazer – para cumprimentar individualmente os 68 jornalistas a bordo da aeronave.

Em vez disso, ele convidou os repórteres a irem até ele. É a primeira vez que esta dinâmica acontece desde a sua primeira viagem papal, que aconteceu em 2013.

O chefe da Igreja Católica, então, permaneceu sentado e cumprimentou os jornalistas, um a um. Ele explicou a um deles que estava com dores por causa de uma sessão de fisioterapia no dia anterior.

Sempre quando viaja, o Pontífice é acompanhado por seu assistente pessoal de saúde, o enfermeiro Massimiliano Strappetti.

ANDREAS SOLARO / AFP

Dores já duram um ano

Em 25 de fevereiro de 2022, o Papa cancelou uma viagem a Florença, e a Santa Sé explicou que ele sofria de gonalgia aguda – uma inflamação do joelho.

O Papa já havia cancelado eventos antes devido à dor ciática que ele sofre há anos, mas o problema no joelho causou mais dificuldades. Francisco teve de usar cadeira de rodas em suas viagens ao Canadá e ao Cazaquistão. 

Nas últimas semanas, porém, o Pontífice parece ter recuperado um pouco de sua mobilidade, e conseguiu caminhar com a ajuda de uma bengala. No entanto, ele voltou a usar sua cadeira de rodas enquanto rezava na Santa Maria Maior na véspera desta viagem.

Viagem ao Bahrein

Em seu primeiro discurso às autoridades do país, o Papa Francisco disse que está no Bahrein como um “semeador de paz”. O Santo Padre também pediu respeito aos direitos humanos, já que o Reino do Bahrein é acusado de perseguir xiitas e violar direitos dos presos. Referindo-se à crise ambiental, o Papa Francisco também pediu dignidade dos trabalhadores nesta região do mundo onde milhões de estrangeiros estão empregados.

O Papa fará seis discursos durante a viagem de quatro dias.

Esta é a primeira vez que um papa põe os pés neste pequeno país do Golfo Pérsico, localizado entre a Arábia Saudita e o Catar. Esta 39ª viagem do Papa Francisco ao exterior é colocada sob o signo do diálogo com o Islã e da busca pela paz. O pontífice também se encontrará com a pequena comunidade católica do país.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF