|
(AFP or licensors) |
"Se
a pessoa teve uma vida marcada pelo bem, a beleza se refletirá na vida corporal
e também na espiritual. A pessoa pode não ser atraente no aspecto exterior, mas
é sábia naquilo que não se vê, como uma rosa perfumada e florescente."
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)
A vida cristã está rodeada por muitos desafios e
por muitas esperanças. Vivemos tempos difíceis, mas não impossíveis em que é
preciso o testemunho de uma vida ligada ao Senhor, à Igreja, à comunidade e à
sociedade. As necessidades das pessoas são muitas, porque muitas delas se
manifestam radicais em suas posições, sobretudo partidárias, de modo que é
preciso o diálogo, a paz, a caridade. Os valores humanos, comunitários e
sociais como o respeito para com o próximo, a democracia, o amor a Deus,
ajudam-nos a viver bem as relações com as pessoas no mundo de hoje e essas nos
preparam para as moradas eternas.
A vida da pessoa sábia
São Gregório de Nazianzo, bispo do século IV
afirmou a importância da pessoa viver a sabedoria das coisas com o andamento da
própria vida. Ele dizia que se a pessoa fosse jovem, seria chamada a fazer o
bem, a espalhar a paz e o amor. Através dos valores humanos e cristãos
mostraria sabedoria na flor e no vigor do corpo. Se a pessoa fosse idosa, ela
não envelhecerá no espírito, mas ela se prepararia para o momento do encontro
com o Senhor, sempre é claro com a prática de boas obras. Se a pessoa teve uma
vida marcada pelo bem, a beleza se refletirá na vida corporal e também na
espiritual. A pessoa pode não ser atraente no aspecto exterior, mas é sábia
naquilo que não se vê, como uma rosa perfumada e florescente[1].
A partilha dos bens
Se a pessoa tiver maiores condições financeiras, é
rica, é chamada a partilhar com seus bens aos mais necessitadas e assim outras
pessoas gozarão de seus bens para uma vida digna. Se a pessoa for pobre, a sua
riqueza será Deus, onde ela colocará a sua esperança para a continuidade de sua
vida. Se a pessoa sentir fome? Será nutrida como os pássaros, que vivem sem
semear e sem arar, pois a pessoa viverá tendo a confiança em Deus e sempre na
busca do alimento, como Elias disse à viúva de Sarepta em que a vasilha de
farinha não acabará e jarra de azeite não diminuirá (1 Rs 17,14)[2].
A busca da perfeição
São Gregório de Nazianzo também falou do
sentido da vida pela perfeição no sentido da injúria, objeto de perseguições. O
Senhor sustentará o fiel nos momentos mais difíceis. Se a pessoa for coberta de
injúrias, o bispo lembrou que Cristo por primeiro o foi e será para a pessoa
uma grande honra participar aos seus sofrimentos. A pessoa poderá também passar
pela cruz, mas esta é a vida que o Senhor pede de seus seguidores para assim
chegar à perfeição, à gloria da ressurreição com o Senhor[3].
A união de vida contemplativa e ativa
São Gregório ainda disse que a vida contemplativa e
a ativa andam juntas nos seguidores, seguidoras de Jesus Cristo e de sua
Igreja. É o testemunho de vida da pessoa que acredita em Deus, o adora sobre
todas as coisas e a prática de vida. Se uma vida é mais tranqüila, mais
ordenada porque ela busca a unidade com Deus, a outra é colocada à prova ou ao
confronto com a vida objetiva, é mais ativa, útil, não fugindo às tempestades.
Ele citou para isso como exemplo, São Basílio Magno que buscou esta unidade na
vida dos eremitérios com a objetividade das coisas. Ele construiu casas de retiros,
lugares onde viviam os eremitas não longe das habitações dedicadas à vida comum
e sociáveis, nem colocou um muro de separação e divisão, mas ele fez a unidade
entre as duas partes, de modo que a vida contemplativa não fosse privada da
comunidade e a vida ativa não fosse privada de contemplação. Da mesma forma
como a terra e o mar se comunicam uns com os outros da mesma forma os bens da
vida contemplativa e ativa concorrem para a única glória de Deus[4]
A felicidade e a sabedoria
Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V
afirmou que a felicidade e a sabedoria andam juntas, porque uma pessoa feliz é
também uma pessoa sábia. A sabedoria possibilita o equilíbrio no espírito para
a felicidade, para assim a pessoa não cair na vontade de domínio sobre os
outros, no orgulho, na tristeza. A felicidade vem quando o fiel tem a sabedoria[5].
O ser humano é chamado a viver o dom
de Deus em Cristo
São Leão Magno, papa, século V, afirmou que o ser
humano é chamado a acordar e reconhecer a dignidade da sua natureza. Ele
lembrou que foi feito à imagem de Deus (Gn 1,26), imagem que se em Adão foi
corrompida pelo pecado, no entanto em Cristo foi renovada (1 Cor 15,45). Ele é
chamado a usar das criaturas visíveis, como a terra, o mar, o céu, o ar, as
nascentes, os rios, tudo o que for maravilhoso nessas coisas, em louvor e à
glória do Criador. É preciso abraçar aquela luz que ilumina todo o ser humano
que vem a este mundo (Jo 1,9) e no qual a pessoa aproximando-se do Senhor
ficará iluminada e as faces não se cobrirão de vergonha (Sl 33,6)[6].
O uso das coisas criadas
São Leão Magno também afirmou que é preciso usar
bem as coisas criadas com temperança, com inteligência de toda a realidade
criada e de toda a beleza do universo em vista do louvor ao Criador. Já São
Paulo afirmou que as coisas visíveis são passageiras e aquelas que não se vêem,
são eternas (2 Cor 4,18). Por isso o fiel que nasceu pelas coisas visíveis, mas
também tem em vista aquelas futuras é chamado a dedicar-se às coisas eternas[7].
Nós somos chamados a viver a unidade na
diversidade, porque muitos são os dons ao redor do único Espírito (1 Cor 12,4).
A vida real exige muito diálogo, oração, com as divergências, para assim
superar o ódio e as falsas noticias que circulam entre as pessoas. Os padres da
Igreja também enfrentaram situações semelhantes, mas eles buscaram o diálogo
com as diferenças e assim eles e elas comunicaram o evangelho do Senhor para as
comunidades e aos povos provenientes do paganismo.
[1] Cfr. Gregorio di Nazianzo. Discorso
dopo il suo ritorno dalla campagna, 11-13. In: In: La teologia dei
padri, v. 3. Roma, Città Nuova Editrice, 1982, pg. 19.
[2] Cfr. Idem, pg. 19.
[3] Cfr. Idem, pgs. 19-20.
[4] Cfr. Idem. Discorso
funebre in lode di Basilio il Grande, 62. In: Idem, pgs. 23-24.
[5] Cfr. Agostino. La felicita, 4,33.
In: Idem, pg. 20.
[6] Cfr. Leone Magno. Sermoni, 27,6. Idem,
pg. 23.
[7] Cfr. Idem, pg. 23.