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sábado, 12 de novembro de 2022

O continente africano, “pulmão” espiritual da humanidade

Fiéis africanos [© M.Merletto/Nigrizia]
Revista 30Dias - 10/2011

O continente africano, “pulmão” espiritual da humanidade.

Benim. A segunda visita pastoral de Bento XVI à África.

Reflexões do cardeal Robert Sarah

pelo cardeal Robert Sarah

Bento XVI durante a viagem a Camarões e Angola, em março de 2009;
o Papa retorna ao continente africano em viagem apostólica ao Benim,
de 18 a 20 de novembro de 2011 [© Osservatore Romano]

A África se sente realmente honrada por esta segunda visita pastoral do Santo Padre, o papa Bento XVI, que logo irá ao Benim. Essa visita pastoral, sem a menor dúvida, deverá encorajar o continente africano a tomar nas mãos, de modo responsável, o seu destino, deverá encorajá-lo enquanto atravessa tantas provações, consolidar a fé dos cristãos e chamar a atenção da Igreja para a sua tarefa missionária. A África está plenamente aberta a Cristo. Deu um grande passo na direção de Jesus Cristo. No início do século XX não havia mais que dois milhões de católicos em toda a África. Hoje o continente possui 147 milhões deles, com uma quantidade impressionante de vocações à vida sacerdotal e religiosa, e muitas conversões ao cristianismo. Mas amplas regiões não conhecem ainda “o Evangelho de Deus” (Mc 1,14).

O primeiro Sínodo, sobre “A Igreja na África e sua missão evangelizadora”, e o segundo Sínodo do continente, sobre “A Igreja na África a serviço da reconciliação, da justiça e da paz”, enfrentaram com muita seriedade e trabalho as questões básicas que preocupam e atormentam toda a Igreja e os povos africanos: a evangelização; a inculturação; a Igreja “família de Deus”; o diálogo como “forma de ser do cristão dentro de sua comunidade, como também com os outros crentes”; a justiça e a paz; a reconciliação; a influência maciça e poderosa da mídia na evolução cultural, antropológica, ética e religiosa das nossas sociedades. Essas questões importantes foram estudadas e discutidas num clima de fé e oração, examinadas com humilde obediência à Palavra de Deus e sob a luz sempre acesa do Espírito, que nos acompanha ao longo da história.

Tenho confiança de que com a paciência, a determinação, a força da fé, e com a ajuda de Deus, o continente africano conhecerá a paz, a reconciliação, uma maior justiça social, e poderá contribuir para reencontrar os valores humanos, religiosos e éticos, a sacralidade e o respeito à vida desde a concepção até a morte natural, a grandeza do matrimônio entre homem e mulher, o significado e a nobreza da família, que as sociedades modernas – sobretudo ocidentais, enfraquecidas pela “apostasia silenciosa” – “desconstroem” e tornam desfocados e inconsistentes. Poderá contribuir para reencontrar a Deus, o sentido do sagrado e a realidade do pecado, em suas formas individuais e sociais.

Além de seus fabulosos recursos naturais, o continente africano possui uma extraordinária riqueza humana. Sua população é jovem e em constante crescimento. A África é uma terra fecunda em vida humana. Infelizmente, apesar das riquezas naturais e humanas, é tragicamente ferida pela pobreza, pela instabilidade e por desordens políticas e econômicas. Conhece ainda os efeitos da dominação, do desprezo, do colonialismo, um fenômeno que – embora aparentemente concluído no plano político – não está extinto de modo algum: hoje é mais sutil e dominante do que nunca. Em razão das fraquezas tecnológicas, econômicas e financeiras da África, os poderosos e astutos especialistas do mundo econômico organizaram o saque e a exploração anárquica de suas riquezas naturais, sem nenhum benefício para os povos do continente. A África é pobre e sem dinheiro, mas compra armas com seus recursos naturais para iniciar guerras fomentadas com a cumplicidade de certos líderes africanos corruptos, desonestos e que não se importam com os atrozes sofrimentos de seus povos, continuamente refugiados e em fuga diante da violência, dos conflitos sanguinolentos e da insegurança.

É preciso, todavia, agradecer a Deus. Hoje a África, em seu conjunto, parece viver uma certa calma em comparação com as agudas tensões que marcaram o continente nas últimas duas décadas. Ainda que em alguns lugares a paz e a segurança das populações continuem ainda frágeis e ameaçadas, é perceptível uma evolução real para a pacificação. Uma vez terminada – ou quase – a guerra, é preciso agora empreender o caminho da reconciliação. O segundo Sínodo sobre a África chegou no momento certo para recordar aos cristãos que eles devem ser artífices de paz e de reconciliação. Para ajudar a África a enfrentar esse imenso desafio e essa difícil batalha contra a pobreza, pelo desenvolvimento econômico e por uma existência humanamente mais digna e mais feliz em que a Igreja deve colaborar com outras instituições, o Santo Padre, papa Bento XVI, volta à África com o objetivo de reafirmar aos africanos toda a sua confiança em sua capacidade de sair autonomamente dessa longa e penosa crise socioeconômica e política por meio do trabalho, da unidade e da comunhão de intenções, e lembrar aos cristãos da África que Deus nos reconciliou com Ele por intermédio de Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação (cf. 2Cor 5,18). O Santo Padre estimulará as energias do continente africano e, como um pai, estimulará os africanos a sair da “reserva” e a entrar nos grandes circuitos mundiais para afirmar-se e manifestar publicamente os valores culturais e as inestimáveis qualidades humanas e espirituais que podem oferecer à Igreja e a toda a humanidade.

A cerimônia de abertura da 2ª Assembleia Especial para a África do Sínodo
dos Bispos, Basílica de São Pedro, 4 de outubro de 2009 [© Paolo Galosi]

É claro que hoje a maior parte da África está fora dos grandes circuitos mundiais. É facilmente deixada de lado, marginalizada. A África é um elo negligenciável da corrente mundial, diante de um mundo totalmente controlado pelas nações ricas e poderosas dos pontos de vista econômico, tecnológico e militar. Todos os exércitos dos países ocidentais estão alinhados quase inteiramente nos países pobres da Ásia e da África, para bombardear e destruir edifícios, milhares e milhares de vidas humanas inocentes, para – dizem – manter a paz e promover a democracia. O Iraque e a sua população estão destruídos e Saddam Hussein foi morto. Bin Laden foi assassinado e lançado no mar. Muammar Kadafi foi simplesmente eliminado com outros membros de sua família, e fizeram desaparecer sua lembrança entre as areias do deserto. A Costa do Marfim era um país em boas condições do ponto de vista econômico. Agora foi quebrado em dois e destruído... Não quero defender esses personagens e suas ações, que certamente devem ser execrados e condenados mil vezes. Mas é bárbaro e imperdoável que potências civis se aliem e tratem assim seres humanos criados à imagem de Deus. E, se essas pessoas foram bandidos e ditadores para seus povos, por que temer que seus túmulos se tornem lugares de peregrinação? O mesmo destino talvez espere outros chefes de Estado!

Não sei o que Deus pensa, em seu silêncio, de tanta crueldade. O Seu coração, provavelmente, se entristece. Desculpem-me este parêntese. Deve deixar de acontecer que o dinheiro e o poder se tornem os deuses do mundo e que a eles sejam oferecidas vidas humanas em sacrifício. A verdade terá de triunfar. Só Deus é a primeira e a maior verdade. Sem verdade, o homem não pode perceber o sentido da vida; deixa então campo aberto para o mais forte (cf. Bento XVI, Jesus de Nazaré. Da entrada em Jerusalém à Ressurreição). A lei do mais forte, a violência e as guerras deste mundo são o grande problema e a grande ferida da nossa humanidade nos dias de hoje!

O continente africano foi esquecido dos homens, mas não de Deus, que prefere de modo evidente os pequenos, os pobres e os fracos. Já o papa João Paulo II disse, em 1995, que “a África atual pode ser comparada àquele homem que descia de Jerusalém para Jericó; ele cai nas mãos dos salteadores que, depois de o despojarem e encherem de pancada, o abandonaram, deixando-o meio morto (cf. Lc 10,30-37). A África é um continente onde inumeráveis seres humanos – homens e mulheres, crianças e jovens – jazem, de algum modo, prostrados à margem da estrada, doentes, feridos, indefesos, marginalizados e abandonados. Têm extrema necessidade de bons samaritanos que venham em sua ajuda” (Ecclesia in Africa, nº 41). Por isso, fortalecidos por sua fé em Jesus Cristo, os bispos da África confiaram seu continente a Cristo Senhor, o verdadeiro Bom Samaritano, convencidos de que só Ele, por meio do seu Evangelho e da sua Igreja, pode salvar a África de suas dificuldades atuais e curá-la de seus muitos males.

Jesus Cristo, o seu Evangelho e a sua Igreja são a esperança da África, e a África é o futuro do mundo. Os últimos papas pensam nela dessa forma, na interpretação que dou de suas palavras. E creio que seu ponto de vista mereça crédito, pois assim se expressaram no exercício de sua função profética.

No Antigo Testamento, os profetas tinham por missão ler, interpretar e comentar a história e os eventos sociopolíticos e religiosos, não só do povo de Israel, mas também dos povos vizinhos. Certamente hoje os papas, sucessores de Pedro, continuam esse ministério profético para ler, analisar e interpretar a história da Igreja e as vicissitudes humanas, religiosas e sociopolíticas do mundo.

E o que dizem da África os últimos papas? Expressam com clareza o que é a África aos olhos de Deus e a sua missão presente e futura no mundo.

Paulo VI diante do monumento aos
mártires ugandenses, Namugongo,
2 de agosto de 1969. Montini foi o
primeiro papa a visitar a África

[© Pepi Merisio]

Como declarou Paulo VI em Campala, em julho de 1969: “Nova Patria Christi, Africa. A nova Pátria de Cristo é a África”. Deus sempre teve uma atenção especial à África, fazendo-a participar da salvação do mundo. De fato, foi o continente africano que “acolheu o Salvador do mundo quando era menino e teve de se refugiar com José e Maria no Egito para salvar a vida da perseguição do rei Herodes” (cf. Bento XVI, Homilia na Santa Missa para a conclusão da 2ª Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, 25 de outubro de 2009). E depois foi um africano, um certo Simão originário de Cirene, o pai de Alexandre e Rufo, que ajudou Jesus a carregar a Cruz (cf. Mc 15,21).

Em 1995, o beato papa João Paulo II escrevia na Ecclesia in Africa: “‘Eis que eu te gravei nas palmas das minhas mãos’ (Is 49,15-16). Sim, nas palmas das mãos de Cristo, trespassadas pelos cravos da crucifixão! O nome de cada um de vós, africanos, está escrito nestas mãos” (Ecclesia in Africa, nº 143).

E Bento XVI, em sua homilia de abertura da 2ª Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, em 4 de outubro de 2009, diz: “A África é depositária de um tesouro inestimável para o mundo inteiro: o seu profundo sentido de Deus [...]. A África representa um imenso ‘pulmão’ espiritual para esta humanidade em crise de fé e de esperança. Mas este pulmão também pode adoecer. E atualmente pelo menos duas perigosas patologias estão a ameaçá-lo: antes de tudo, uma doença já comum no Ocidente, isto é, o materialismo prático, aliado ao pensamento relativista e niilista”.

Daí a importância e a urgência de uma mais profunda evangelização das mentalidades, dos costumes e das culturas africanas, um trabalho intenso de aprofundamento e apropriação da fé e dos mistérios cristãos. A formação do coração, que permite estabelecer laços de íntima amizade com Cristo e favorece uma intensa vida de oração e encontros frequentes e pessoais com Deus, deverá ser promovida e fortalecida. Para chegar a isso, temos a ajuda, o apoio e o encorajamento dos modelos africanos de santidade que somos chamados a imitar: os mártires São Carlos Lwanga e companheiros, o beato Cipriano Miguel Tansi, Santa Josefina Bakhita, Santa Clementina Anuarite, mártir, etc. Mas temos também um outro grande modelo cristão e um grande africano que acaba de voltar para a casa do Pai: o venerado cardeal Bernardin Gantin.

Era um homem de Deus, um grande homem de oração, atento a Deus e aos homens, e de uma delicada humildade. Eis o que recomendava: “Sejam ordenados os seus dias, unindo o repouso ao trabalho; ouçam o Senhor e também os homens, e depois rezem. Rezem sobretudo por meio do sinal vivo da Eucaristia, que é o momento divino do maior amor de Deus pela humanidade” (homilia para uma ordenação sacerdotal, 19 de novembro de 2005). A oração era o eixo da sua vida. Disse um dia a um jovem padre: “Meu filho, temos de rezar muito. Temos de rezar pedindo perdão por tudo o que poderíamos ter feito, mas não pudemos realizar. [...] Oração, oração; sim, oração antes de mais nada e unicamente. [...] À medida que aumentam as tarefas e as responsabilidades, a oração deverá fazer-se mais intensa, mais longa, mais insistente”. Ela deve-nos unir mais a Deus, que age por meio das nossas pessoas. E, já no fim da vida, o cardeal o testemunhou, dizendo: “Prometi ao papa João Paulo II consagrar o tempo da minha aposentadoria ao recolhimento, à escuta e à oração” (bodas de ouro episcopais, Ouidah, 3 de fevereiro de 2007).

O cardeal Bernardin Gantin era um fiel e afetuoso servidor de Deus, da Igreja e do Papa. Um homem de grande fé, totalmente embebido do Amor de Cristo. Submissão, fidelidade e amor pela Igreja e pelo Papa, era assim que vivia o seu dom e o seu humilde serviço a Deus, que lhe concedera a graça do sacerdócio. Como cardeal, definiu desta forma essa honra e esse privilégio: “O que é um cardeal da Igreja, senão um servidor, ministro do Papa, disponível, semelhante à dobradiça de uma porta, segundo a definição de seu étimo latino ‘cardo’, sempre feliz e grato por ter sido escolhido unicamente para servir” (homilia pelos trinta anos de cardinalato, Cotonou, 27 de junho de 2007). E acrescentava: “Todo o meu amor cristão se resume nestas simples palavras: Deus, Jesus Cristo, o Papa, a Virgem. Realidades supremas que Roma me fez descobrir, amar e servir. Por isso, jamais poderemos agradecer o bastante ao Senhor”.

O cardeal Bernardin Gantin foi, assim, também um grande africano. Apesar dos seus trinta anos a serviço da Igreja universal, em Roma, continuou sendo imperturbavelmente um africano autêntico, simples, humilde, respeitador de todos, sem pompa, desejoso sobretudo de aprofundar a cada dia o seu amor e a sua amizade com Cristo e de tornar seu serviço à Igreja e ao Papa cada vez mais verdadeiro, total e humilde.

Gantin com João Paulo I, em 28 de setembro de 1978
[© Foto Felici]

Foi uma ponte sólida e segura entre a África e a Santa Sé. Foi um digno filho da Igreja. Foi um digno e nobre representante da África diante dos outros continentes e povos do mundo. Eis o que Bento XVI disse dele: “A sua personalidade, humana e sacerdotal, constituía uma síntese maravilhosa das características da alma africana com as que são próprias do espírito cristão, da cultura e da identidade africana com os valores evangélicos. Foi o primeiro eclesiástico africano que ocupou cargos de altíssima responsabilidade na Cúria Romana, e desempenhou-os sempre com aquele típico estilo humilde e simples” (Homilia na missa em sufrágio pelo cardeal Bernardin Gantin, 23 de maio de 2008).

Tive o privilégio de conhecer o cardeal Gantin em 1971. Ele era então secretário da Congregação para a Evangelização dos Povos (Propaganda Fide). E eu, estudante em Roma. O meu bispo, sua excelência dom Raymond-Marie Tchidimbo, arcebispo de Conakry, na Guiné, estava na prisão. A Igreja da Guiné atravessava a tormenta da perseguição sob o regime revolucionário de Sékou Touré. Eu, portanto, já não tinha bispo e perdera todos os contatos com o meu país e a minha família. Assim, dom Bernardin, na época, era para mim bispo, pai, conselheiro. A sua humildade, a sua simplicidade e a sua delicadeza me marcaram profundamente. Tinha um afeto imenso por mim e eu por ele. Considerava-me como seu filho, seu prosseguimento, seu rebento. Um dia, durante uma recepção na embaixada de Senegal na Santa Sé, organizada em sua homenagem por ocasião de sua volta definitiva ao Benim, disse falando de mim: “Eu hoje sou como uma bananeira. A bananeira, depois que deu fruto, é cortada e morre. Mas, antes de morrer, dá logo um grande número de rebentos que tomam o seu lugar. Eis o meu rebento”. Reconheço que diante das imensas qualidades do cardeal eu não sou mais que um rebento amarrotado, pobre e sem grande valor. Mas tenho orgulho de tê-lo tido como pai e que ele tenha-me considerado seu filho espiritual.

Dirigindo-se ao Benim, Bento XVI faz uma visita à África inteira, para confirmar sua fé, despertar sua esperança e a confiança em seu futuro, um futuro luminoso porque está nas mãos de Deus. O Santo Padre dará à Igreja que está na África um novo impulso missionário e um dinamismo novo a serviço do Evangelho, da reconciliação, da justiça e da paz. Mas, se vai ao Benim, é também o cardeal Gantin, esse homem “cheio de espírito e sabedoria”, esse grande servidor de Deus, da Igreja e do papa, que Bento XVI desejará venerar, indo recolher-se por alguns momentos diante de seu túmulo. Merece a amizade e a atenção do Papa.

Que esta segunda visita pastoral do Santo Padre possa reforçar e tornar mais filial e mais afetuosa a devoção e a fidelidade de toda a Igreja da África ao Sucessor de Pedro, como foi a devoção e a fidelidade do venerado cardeal Bernardin Gantin.
Crianças congolesas e ruandesas recebem alimentos dos soldados
das Nações Unidas perto da aldeia de Kimua, no Congo Oriental

[© Associated Press/LaPresse]
O cardeal Bernardin Gantin em visita ao seminário de Ouidah,
no Benim, seu país natal, no qual voltou a viver em 2002 depois
de deixar o cargo de decano do Sacro Colégio
João Paulo II em Dacar, durante a viagem apostólica ao Senegal,
à Gâmbia e à Guiné, em fevereiro de 1992 [© AFP/Getty Images]

Da Encíclica Ecclesiam Dei, de Pio XI, papa

Papa Pio XI | arsenalcatolico

Da Encíclica Ecclesiam Dei, de Pio XI, papa

(AAS 15[1923], 573.576-577)            (Séc.XX)

Derramou o seu sangue pela unidade da Igreja

A Igreja de Deus por admirável desígnio foi constituída de forma a ser, na plenitude dos tempos, semelhante a imensa família, abraçando a totalidade do gênero humano; e, por dom de Deus, sabemos ser ela visível não só por suas notas principais, como também pela unidade universal.

De fato, Cristo Senhor não apenas confiou somente aos apóstolos o dom que ele próprio recebera do Pai, ao dizer: Todo o poder me foi dado no céu e na terra; ide, pois, ensinai a todos os povos (Mt 28,18-19); mas também quis que o grupo dos apóstolos fosse em sumo grau um colégio só, duplamente ligado por estreito vínculo: intrinsecamente pela mesma fé e caridade, infundida em nossos corações pelo Espírito Santo(cf. Rm 5,5); extrinsecamente, pelo governo de um só sobre todos, ao entregar o principado a Pedro qual perpétuo princípio e visível fundamento da unidade.

Para que se mantivesse para sempre esta unidade e concórdia, Deus de suma providência consagrou-a com o sinete da santidade e do martírio.

Este grande louvor obteve-o o arcebispo de Polock, Josafá, de rito eslavônio oriental; com toda a razão o saudamos como honra insigne e coluna dos eslavos orientais. Com efeito, mal se encontra quem tenha mais ilustrado o nome deles ou servido melhor a sua salvação, que este pastor e apóstolo, mormente ao derramar o sangue pela unidade da santa Igreja. Além disto, sentindo-se divinamente impelido à reintegração universal na unidade santa, compreendeu que a melhor contribuição a dar seria guardar o rito oriental eslavônio e o monaquismo basiliano na unidade da Igreja universal.

Entrementes, solícito em primeiro lugar pela união de seus concidadãos com a cátedra de Pedro, buscava por toda a parte com empenho todos os argumentos que pudessem promovê-la ou confirmá-la. De modo especial, folheava assiduamente os livros litúrgicos usados pelos orientais e pelos dissidentes, segundo as ordenações dos santos padres. Preparado tão diligentemente, iniciou o trabalho de refazer a unidade, com tanto vigor e suavidade e com tanto êxito, que pelos próprios adversários foi chamado de “raptor de almas”.

Repam: o grito pela Amazônia à COP27

As queimadas na Amazônia em registro de agosto de 2020 
(AFP or licensors)

"Sem a Amazônia, não há vida nem humanidade possível", alerta a Repam reunida em Manaus através do Núcleo de Direitos Humanos para a realização do Comitê Ampliado.

Vatican News

O grito pela Amazônia à COP27 foi lançado pela Rede Eclesial Pan-Amazônica através do Núcleo de Direitos Humanos, com base no território e nos povos que habitam este território amazônico. Ele o faz desde Manaus, a maior cidade do território amazônico, onde está sendo realizado o Comitê Ampliado. Algo que é visto como um momento para “seguir gritando junto com o Papa Francisco, por seu sonho de uma Amazônia que luta por seus direitos, os direitos dos mais esquecidos (mulheres, homens e crianças, camponeses, indígenas, ribeirinhos e quilombolas) para que sua voz seja ouvida e sua dignidade respeitada".

Um grito que denuncia que "se encontram numa corrida desenfreada rumo à morte”. Uma situação que "exige mudanças radicais e urgentes, caso contrário terá consequências catastróficas para todo o planeta", denunciando abertamente que "sem a Amazônia, não há vida nem humanidade possível".

Querida Amazonia

Por esta razão, as palavras do Papa Francisco em Querida Amazonia são lembradas, onde ele afirma que a humanidade sempre tem a possibilidade de superar "as diferentes mentalidades de colonização para construir redes de solidariedade e desenvolvimento; o desafio é assegurar uma globalização na solidariedade, uma globalização sem marginalização". E junto com isto, também no número 17 deste documento pontifício, ele afirma que caminhos como a COP, tratados como Escazú, não serão "para devolver aos mortos a vida que lhes foi negada, nem para compensar os sobreviventes daqueles massacres, mas ao menos para hoje sermos todos realmente humanos".

Diante desta realidade, eles lançam um Grito pela Amazônia, denunciando que "os consensos políticos de nossos países e governos não podem mais permanecer como letra morta com total indolência e sem qualquer garantia ou justiça". Um grito que diz basta e que um mundo que promove os direitos humanos de forma eficaz, que inclua culturas, espiritualidades, justiça ancestral e que não desenraize pessoas e povos, especialmente os jovens, se torna uma realidade.

Um mundo onde são tomadas medidas urgentes que não prejudicam os direitos humanos dos povos da Amazônia e deixam milhares de pessoas sem meios de subsistência e sem futuro. Um mundo que tem como protagonistas os verdadeiros sábios e sábias sobre a água, a terra, as árvores e as plantas; homens e mulheres aos quais temos uma dívida. É por isso que a situação atual é definida como uma injustiça e um crime, diante do qual gritamos aos governos reunidos na COP27 que o futuro de centenas de milhares de meninas e meninos está em jogo, o futuro não só da Amazônia, mas de toda a humanidade.

Colaboração: Repam

Como crescer na virtude da caridade

CameraCraft / Shutterstock
Por Francisco Luís, pelo Hozana

Não podemos esperar que nos sintamos preparados para sair ao encontro do outro.

É muito comum falarmos ou ouvirmos sobre a necessidade de ajudar os mais pobres, de fazer caridade para atender as pessoas mais necessitadas, contudo, poderíamos fazer uma pergunta: será que toda forma de ajuda aos pobres é caridade?

Em um primeiro momento poderia parecer que sim, mas se buscamos entender o que significa realmente a caridade pensaríamos diferente. A palavra caridade vem da palavra amor. Aqui precisamos entender o amor que tem sua origem em Deus, que é AMOR em sua essência. 

Este amor divino foi depositado nos corações daqueles que se abriram a receber esse dom. Portanto, é certo afirmar que a caridade, em sua expressão máxima, só é possível com a graça divina. Só podemos fazer o bem porque Deus nos dá a graça de fazê-lo. E por que isso é importante? Porque nos ajuda a entender que a caridade é uma virtude e, portanto, um dom. E mais ainda, um hábito.

Caridade: presente de Deus

Quando falamos que se trata de um dom, estamos afirmando que é um presente de Deus para o homem, que por si mesmo não seria capaz de fazer o bem. Quando falamos que se trata de um hábito, estamos falando que ela precisa crescer em nosso coração. Deus nos deposita a semente da caridade, mas nós precisamos cultivá-la para que possa crescer e dar frutos. E como podemos fazer isso? 

Precisamos colocar este dom em prática. Primeiramente, fazendo com que ele brote em nosso coração e o faça arder em desejo de transmitir este amor para as outras pessoas. Se não temos a caridade em nosso coração, de nada vale sair para levá-la aos outros, pois ninguém pode dar aquilo que não tem. 

Quanto mais nosso coração está inflamado de amor a Deus, mais nos entregamos nas obras de caridade aos mais necessitados. Basta olhar a vida dos santos para comprovar esse fato. Se não temos o amor de Deus em nosso coração, poderemos até fazer boas obras, mas elas não passarão de um assistencialismo, uma ajuda que não consegue chegar até o profundo de coração daqueles que a recebem. 

Ir ao encontro do outro

Se entendêssemos isso, passaríamos mais tempo orando e pedindo a Deus que faça crescer em nós esse dom da caridade. Mas não basta somente orar. O segundo passo é sair de nosso comodismo e ir ao encontro daqueles que mais precisam. Para isso, não é preciso muita coisa, basta ter um coração disposto. 

Podemos começar tímidos, com medo de tocar na ferida daqueles que estão abandonados, sem saber o que dizer ou como agir. Mas aqui é onde entra o segredo dos santos: eles sentiram que Deus os impulsionava a sair ao encontro dos mais pobres e, sem mesmo entender, saíram de suas comodidades e buscaram responder a esse apelo divino. Foram aprendendo com o tempo, enfrentando dificuldades, mas sempre permanecendo fiéis. Este era o seu segredo. 

Não podemos esperar que nos sintamos preparados para então sair ao encontro do outro. É preciso sair e deixar que Deus nos conduza neste caminho. Podemos começar fazendo poucas coisas e Deus nos dará a graça de ir crescendo na virtude da caridade a cada dia.

Só precisamos estar abertos a isso. Se estamos dispostos, Deus usará de nós para ir ao encontro daqueles que mais precisam. 

Nada de medo

Não precisamos ter medo. Ele está conosco e quer nos ensinar este caminho. Este amor aos pobres, que se traduz como caridade, só é possível quando deixamos Ele agir em nós. É o que de mais valioso podemos oferecer aos pobres, coisa que nenhuma ONG poderia oferecer. 

Cabe a nós, como cristãos, amar com um amor divino aos pobres, assim como fazia Jesus, que era capaz de, não somente curar as pessoas fisicamente, mas integralmente, em todo o seu ser. Isso é o que Ele pede a nós: grita aos nossos ouvidos que sejamos santos para transformar a realidade na qual vivemos. Somos uma resposta para o mundo de hoje. Busquemos crescer no amor a Deus e ao próximo. Sejamos fiéis a Ele, e poderemos amar com o coração de Jesus. 

No próximo dia 13 de novembro celebraremos o VI Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco. Este ano, o encontro traz como tema: “Jesus Cristo fez-Se pobre por vós” (cf. 2 Cor 8, 9). Aprendendo dEle a ser expressão da verdadeira caridade, convidamos você a fazer conosco o mini retiro: “Crescendo na virtude da caridade”, disponível no Hozana. Clique aqui para participar.

Francisco  Luís, missionário da Aliança de Misericórdia atualmente na Venezuela, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

À espera de um novo amanhecer

Foto: Unsplash.com/Tim Trad

À espera de um novo amanhecer

Do Haiti, uma das periferias humanas mais sofridas, emanam vozes de esperança na garganta de sua extraordinária juventude.

por redação

O Haiti é uma nação centro-americana com pouco mais de 11.4 milhões de habitantes (2020) em um território de 27.540 Km². O país está localizado em uma ilha do Atlântico, chamada Hispaniola, que divide com a República Dominicana. O lado haitiano é uma região castigada por desastres naturais, caos políticos intermináveis, corrupção epidêmica, ditaduras sangrentas, crises econômicas e sanitárias, extrema pobreza, incluindo também o recente assassinato de um presidente.

O país ainda se recupera de um terremoto de magnitude 7.3 na escala Richter, que ocorreu perto da sua capital, Porto Príncipe, em janeiro de 2010, deixando um rastro de 300 mil mortos, mais de 900 mil imóveis arruinados, dezenas de milhares de feridos, quase 1,5 milhão de desabrigados, incluindo orfandade por todo lado. Entre as duas dezenas de brasileiros mortos pelo terremoto estava a médica sanitarista Zilda Arns, criadora da Pastoral da Criança, uma organização de assistência à infância.

Cenários desconcertantes

A destruição que se seguiu ao desastre natural afetou uma situação socioeconômica já comprometida, que deixou os sobreviventes sem serviços e bens essenciais: água, eletricidade, instalações de saúde. Um cenário ainda considerado de alta emergência, tendo em vista não apenas outros terremotos ocorridos entre 2014 e agosto passado, seguidos de rapinagem de gangues criminosas, mas também por forte instabilidade política após o assassinato do presidente Jovenel Moïse em sua casa, na madrugada de 7 de julho de 2021.

“É incrível como este país não consegue encontrar um pouco de descanso”, diz Maurizio Barcaro, missionário leigo há muitos anos em Porto Príncipe, a quem a Fundação PIME ajuda através de projetos de apoio à distância para crianças.

Do abalo sísmico de magnitude 7.2, que fez tremer o coração do Caribe em agosto de 2021, resultaram perto de 2.500 mortos, milhares de soterrados ou desabrigados e incontáveis desmoronamentos de imóveis no Haiti. Desta vez, as cidades de Cayes e Jérémie, no sudeste do país, foram as mais afetadas, e pequenas cidades como Maniche e Aquin, que já são normalmente de difícil acesso pelas estradas vicinais. Alguns dias depois do abalo sísmico, o país foi “lavado” pelo furacão Grace, que produziu enchentes e mais deslizamentos de terra.

Foto: Pixabay.com/msjennm

A aurora no horizonte

“É como se a natureza ou os acontecimentos não nos deixassem descansar”, declarou Dieunord Saint Louis, diretor-clínico de um hospital no sudeste do Haiti, após o recente abalo sísmico de 2021. Dieunard prossegiu: “Mas, em meio a tudo isto muitos de nós têm fé. Parece que é da nossa cultura. Mesmo que a noite seja muito escura, esperamos que o dia vá chegar.”

Com ele concorda o citado acima Maurízio Barcaro:

"Meu respeito por este povo aumenta dia a dia. Os haitianos passam de um teste para outro com muita coragem e dignidade. Choram, se desesperam, mas só o suficiente; depois tiram a “poeira” de seus ombros e a vida continua”.

Daí o desafio: fazer da ilha um posto avançado de esperança, depois de ter chegado mais uma vez ao fundo do poço.

A esperança, sempre

Uma ONG italiana chamada Fundação Francesca Rava ajuda a infância em condições de miséria e alimenta projetos e atividades de sensibilização sobre direitos das crianças pelo mundo. Sua atuação é nas periferias do mundo, como o Haiti, onde atua há décadas. Sua atual presidente é Mariavittoria Rava. Ela diz:

“Os sinais dos terremotos que pareciam destruir um país inteiro são carregados em seus corpos pelos membros mais jovens da população. Crianças que em 2010 perderam membros, braços, pernas, agora são jovens andando de muletas. Indivíduos que têm mais dificuldade em sobreviver em um país que já sobrecarrega todos os seus habitantes. Mas as feridas aparecem apenas de relance, mesmo nas ruas onde ainda são visíveis escombros e prédios destruídos”.

Foto: Pixabay.com/georgephoto

Mas, na escuridão de tanta devastação, brilha a capacidade desta população de se levantar novamente: “O Haiti tem uma população maravilhosa - conclui Mariavittoria -. É composta por muitos jovens que têm uma grande vontade de fazer a diferença. Crianças que vieram da rua, que de potenciais criminosos, tornaram-se médicos, enfermeiros, pequenos empresários, hoje produzem painéis solares, pão, massas, aram terras e cultivam árvores frutíferas. É um país e uma população que finalmente merecem paz e ordem, mesmo contando com uma intervenção de fora que dê apoio concreto".

Texto completo publicado na Revista Mundo e Missão edição 262. Gostou da matéria? Assine a revista!

Fonte: https://www.editoramundoemissao.com.br/

Arcebispo de Brasília celebra Missa pelo VI Dia Mundial dos Pobres

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Arcebispo de Brasília celebra Missa pelo VI Dia Mundial dos Pobres

O 6º Dia Mundial dos Pobres será realizado, este ano, no dia 13 de novembro de 2022. Para celebrar a data, no dia 12 de novembro, o Cardeal Arcebispo de Brasília, Dom Paulo Cezar, presidirá a Santa Missa no Setor Comercial Sul, região de Brasília onde diversas pessoas em situação de vulnerabilidade se encontram.

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostram que somente em 2015, o país tinha 101.854 pessoas em situação de rua. Com a crise do país, é possível que o número de pessoas em situação de rua já seja bem superior.

Para motivar a reflexão, o Papa Francisco, em sua carta pelo dia mundial dos pobres deste ano, escolheu o texto bíblico “Jesus Cristo fez-se pobre por vós” (cf. 2 Cor 8, 9). No texto, Francisco enfatiza: “A pobreza que mata é a miséria, filha da injustiça, da exploração, da violência e da iníqua distribuição dos recursos. É a pobreza desesperada, sem futuro, porque é imposta pela cultura do descarte que não oferece perspectivas nem vias de saída”.

A história da Jornada Mundial dos Pobres

No dia 20 de novembro de 2016, na conclusão do Ano Santo Extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco instituiu o Dia Mundial dos Pobres. Na mensagem de lançamento ele disse: “Este dia pretende estimular, em primeiro lugar, os crentes, para que reajam à cultura do descarte e do desperdício, assumindo a cultura do encontro. Ao mesmo tempo, o convite é dirigido a todos, independentemente da sua pertença religiosa, para que se abram à partilha com os pobres em todas as formas de solidariedade, como sinal concreto de fraternidade”.

No Brasil, nos primeiros anos, a CNBB confiou à Cáritas Brasileira a animação e a mobilização do Dia Mundial dos Pobres. A entidade, nesse período, já realizava a Semana da Solidariedade – para pensar e agir por um país justo, fraterno, igualitário, solidário e amoroso, por ocasião de seu aniversário de fundação, 12 de novembro de 1956. A partir da III Jornada Mundial dos Pobres as Pastorais e Organismos Sociais ligados à Cepast-CNBB, assumiram coletivamente a animação e mobilização do Dia Mundial dos Pobres.

Confira a carta na íntegra 

Serviço:

Missa pelo VI Dia Mundial dos Pobres

Dia: 12 de novembro

Horário: 19h

Local: Setor Comercial Sul – Quadra 5 – perto do Posto Policial

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL - CNBB

Capa da publicação. | Capa e diagramação: Osmar Koxne

COMISSÃO DA CNBB LANÇA CADERNO PARA ESTIMULAR AÇÕES DE ENFRENTAMENTO AO TRÁFICO DE PESSOAS NO BRASIL

 

A Comissão Episcopal Pastoral Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou a cartilha “Nas trilhas do enfrentamento ao tráfico de pessoas” que pode ser acessada gratuitamente.

Trata-se, segundo o bispo da prelazia de Marajó no Pará e presidente da Comissão, dom Evaristo Pascoal Spengler, de uma ferramenta para ajudar no enfrentamento ao tráfico humano.

“A cartilha visa conscientizar, animar e fortalecer as ações existentes na Igreja no Brasil, em conjunto com a sociedade civil e organismos envolvidos nesta causa, como por exemplo a Rede Um Grito pela Vida, a Associação Brasileira de Defesa da Mulher e da Infância e da Juventude (Asbrad), a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e os núcleos de Enfrentamento, entre outros”, disse.

O caderno apresenta, além de conceitos e modalidades do tráfico de pessoas, indicações para uma cultura do cuidado e segue o método “ver, julgar e agir”. Enriquecido com ilustrações para facilitar a compreensão, é um instrumento par auxiliar no alerta, na conscientização e no enfrentamento do tráfico.

O subsídio faz parte das ações que mobilizam as pastorais, movimentos, coletivos e organizações que atuam nos processos de formação para enfrentar o Tráfico de Pessoas no Brasil e deve fortalecer as redes de enfrentamento, sobretudo neste cenário em que o país atravessa de crises social, política e econômica.

O tráfico de pessoas no mundo e no Brasil

Indicadores da Organização Nações Unidas (ONU) apontam que anualmente 50 milhões de pessoas são vítimas da escravidão moderna. O Tráfico de Pessoas que se expandiu no século 21, é considerado o terceiro maior comércio ilícito no mundo, ficando atrás apenas do tráfico de drogas e do tráfico de armas.

No Brasil, o número de pessoas aliciadas aumentou consideravelmente em razão da pandemia da Covid-19 e da crise econômica que se alastra pelo país, sobretudo com as pessoas em maior situação de vulnerabilidade social.

O Papa Francisco tem frisado que o tráfico de pessoas é consequência do individualismo, do egocentrismo e das atitudes que consideram os outros numa perspectiva meramente utilitária. Desde a criação da Comissão para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB, em 2016, a Igreja tem avançado em articulações de combate e prevenção em todo país. Esta cartilha é um dos frutos deste trabalho.

A publicação está dentro do planejamento da Comissão em fortalecer o enfrentamento ao tráfico de pessoas junto às Pastorais Sociais e aos regionais da CNBB. A Comissão está à disposição para colaborar na assessoria e processo de articulação da temática. É só fazer contato através do e-mail: traficohumano@cnbb.org.br.

Acesse no link abaixo:
Trilhas do Enfrentamento do Tráfico de Pessoas
A publicação pode também ser adquirida na Edições CNBB.

Por que tudo nesta vida acaba?

Cléofas

Por que tudo nesta vida acaba?

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Acho que você já perguntou por que tudo nesta vida é precário. A cada dia é preciso renovar uma série de procedimentos: dormir, tomar banho, alimentar-nos, renovar o desodorante vencido, a roupa suja, etc... Tudo é precário, nada é duradouro, tudo deve ser repetido.

A própria manutenção da vida depende do bater interminável do coração e do respirar contínuo dos pulmões. Todo o organismo repete sem cessar suas operações para a vida se manter. Tudo é transitório; nada eterno. Toda criança se tornará um dia adulta e, depois, idosa. Toda flor que se abre logo estará murcha, Todo dia que nasce logo se esvai… e assim tudo passa, tudo é transitório, Por que será? Qual a razão de nada ser duradouro? Compra-se uma camisa nova, e logo já está surrada; compra-se um carro novo, e logo ele estará bastante rodado e vencido por novos modelos…

Na verdade Deus dispôs tudo de modo que nada fosse sem fim aqui nesta vida. Por amor e bondade. Qual seria o desígnio de Deus nisso?

A razão profunda dessa realidade e que Deus nos quer dizer que esta vida é apenas uma “passagem”, um aperfeiçoamento, em busca de uma vida duradoura, eterna, perene, muito melhor, onde a felicidade não se acaba e não diminui. O Céu! O Pai quer dar ao filho o que tem de melhor.

Em cada flor que murcha e em cada homem que falece, sinto Deus nos dizer: “Não se prendam a esta vida transitória. Preparem-se para aquela que é eterna, muito melhor, onde tudo será duradouro, e nada precisará ser renovado dia a dia. Não haverá mais choro e nem lágrimas”.

E isto mostra-nos também que a vida está em nós, mas não é nossa. Quando vemos uma bela rosa murchar, é como se ela estivesse nos dizendo que a beleza está nela, mas não lhe pertence. Quando vemos uma bela mulher envelhecer, é como se dissesse, a beleza está em mim, mas não me pertence… Não adianta querermos construir o céu aqui nesta terra. A matéria não é Deus; ela foi criada; e tudo que foi criado um dia se acaba.

Ainda assim, mesmo com essa lição permanente que Deus nos dá, muitos de nós somos levados a viver como aquele homem rico da parábola narrada por Jesus, que abarrotou seus celeiros de víveres e disse à sua alma: “Descansa, come, bebe e regala-te” (Lc 12,19). Insensato!

A efemeridade das coisas nos ensina que aquilo que não passa, que não se esvai, que não morre, é aquilo de bom que fazemos para nós mesmos e, principalmente, para os outros. Os talentos multiplicados no dia a dia, a perfeição da alma buscada na longa caminhada de uma vida de meditação, de oração, de piedade, essas são as coisas que não passam, que o vento do tempo não leva e que, finalmente, nos abrirão as portas da vida eterna e definitiva, quando “Deus será tudo em todos” (cf. I Cor 15,28).

Aqueles que não creem na eternidade jamais se conformarão com a precariedade desta vida terrena, pois sempre sonharão com a construção do céu nesta terra. Isso é impossível. Só com os olhos no céu podemos viver bem na terra.

Retirado do livro: “Entrai pela Porta Estreita”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

Uma breve história dos católicos e da direita

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Por Henri Quantin

Deus não é nem de direita nem de esquerda, mas, para os católicos, as consequências políticas da fé nem sempre são as mesmas. O escritor Henri Quantin leu o recém-lançado "À direita do Pai", uma história da relação entre a direita e o catolicismo na França desde 1945 - uma influência que entrou na "era da minoria" e cuja análise de experiência pode ser um instrumento precioso para o discernimento.

Confessemos que a questão de saber se Deus é de direita ou de esquerda, quando colocada seriamente, sempre nos pareceu incongruente. A mesma perplexidade nos perpassa quando estendemos a questão à Igreja ou ao Evangelho. É uma estranha inversão, tanto na ordem temporal como na ordem de prioridades, pretender submeter o Absoluto a critérios relativos, o Eterno ao transitório, o Todo-Poderoso às potências de um dia. Seria melhor perguntar o que há de evangélico num programa de direita ou de esquerda. André Frossard propôs uma linha de pensamento estimulante quando escreveu que o problema é que a esquerda não acredita no pecado original e que a direita dificilmente acredita na redenção. No plano político, este desvio teológico foi mais interessante do que o final feliz retórico esperado para a pergunta “Deus é de direita ou de esquerda?”: nem um, nem o outro.

Setenta e cinco anos de engajamentos

Por outro lado, enraizada na História, a questão das consequências políticas que os católicos puderam tirar da sua fé é fascinante. Além disso, dá uma ideia mais precisa da Encarnação do que as reflexões sobre o partido a que Jesus teria aderido. “À direita do Pai“, o grande volume recentemente publicado, em francês, pela Seuil, editado por Florian Michel e Yann Raison du Cleuziou, fornecerá informações valiosas a todos aqueles que sentem que os sucessos e decepções dos seus predecessores podem ajudá-los a discernir a legitimidade das suas batalhas terrenas e a pertinência dos seus meios de luta. Que predecessores? “Os católicos e a direita de 1945 aos nossos dias”, informa o subtítulo desse estudo inigualável – que, aliás, cumpre integralmente a sua promessa, uma vez que até as eleições presidenciais francesas de 2022 são analisadas.

Não é inútil ter em mente pelo menos os grandes momentos deste panorama de mais de setenta e cinco anos de engajamentos, ou desengajamentos, de católicos situados do centro-direita à extrema-direita do espectro político. De 1945 a 1958, a libertação e as suas consequências viram na Europa “a revanche dos democratas-cristãos”. Entre 1958 e 1974, os autores perguntam se a Quinta República, na França, era “moderna e católica”. De 1974 a 1997, os católicos de direita parecem hesitar entre a modernização e a restauração. Desde 1997, entraram na “era da minoria”.

O Absoluto e o relativo

Não se precisa ser historiador ou sequer fanático pela história para mergulhar nesse trabalho, quer se leia em profundidade, quer se passeie pelas suas páginas simplesmente conforme a própria curiosidade. Como é que a visão do comunismo dividiu os católicos no pós-guerra? Por que é que Pio XII foi saudado como santo quando morreu em 1958? Quais foram as etapas da ascensão da “geração João Paulo II”? Qual é a diferença entre os protestos contrários às novas leis sobre união civil [na França] e as mobilizações contra a equiparação da união homossexual ao casamento? Estas são apenas algumas das muitas perguntas sobre as quais o volume refresca a nossa memória, nos esclarece e nos explica, oferecendo ainda a todos os católicos de direita uma oportunidade para questionar a tendência a transformar em Absoluto o que é relativo (e relativo obviamente não significa anedótico).

O leitor também pode fazer um uso mais leve do livro, notadamente graças ao dicionário temático das “culturas da direita católica”, ao final do volume. É possível sorrir, por exemplo, diante da sociologia de Loden (ver sua “metafísica”, segundo uma observação de Jean Sévillia) e sucumbir a uma doce nostalgia perante a excelente evocação da literatura juvenil de Florian Michel. Mesmo que tal leitura não seja suficiente para conduzir o leitor à direita celestial do Pai, ela tem, entre outros interesses, o de lembrar que o cristão não pode negligenciar a História, assim como tampouco pode divinizá-la. Se usar a História para substituir a Deus é a especialidade de um marxismo assassino, abandoná-la revela um espiritualismo que faz pouco caso da Encarnação.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: a vocação ao sacerdócio é um dom que Deus dá à Igreja e ao mundo

Papa Francisco com os participantes do Curso para Reitores e Formadores de
Seminários da América Latina | Vatican News

Ao receber em audiência os participantes do Curso para Reitores e Formadores de Seminários da América Latina, Francisco ressaltou que é "necessária uma formação de qualidade para aqueles que serão a presença sacramental do Senhor no meio de seu rebanho" e que "os formadores educam com suas vidas, mais do que com suas palavras".

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta quinta-feira (10/11), na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Curso para Reitores e Formadores de Seminários da América Latina.

Segundo o Pontífice, "toda formação sacerdotal, especialmente a dos futuros pastores, está no centro da evangelização, uma vez que nas próximas décadas serão eles que animarão e guiarão o santo Povo de Deus, para que possa ser em Cristo sacramento ou sinal e instrumento de união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano".

É necessária uma formação de qualidade

O Papa disse que é "necessária uma formação de qualidade para aqueles que serão a presença sacramental do Senhor no meio de seu rebanho, alimentando-o e cuidando dele com a Palavra e com os Sacramentos". A esse propósito, Francisco sublinhou que a Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, "O dom da vocação presbiteral", preserva a grande contribuição dada pela Exortação Apostólica Pastores dabo vobis "depois da 8ª Assembleia Geral Ordinária dos Bispos que abordou o tema: "A formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais". Este ano, celebra-se o 30° aniversário de publicação por São João Paulo II da Exortação apostólica Pastores dabo vobis.

Segundo o Pontífice, "essa exortação oferece explicitamente uma visão antropológica integral, que leva em conta, de forma simultânea e equilibrada, as quatro dimensões presentes na pessoa do seminarista: humana, intelectual, espiritual e pastoral". Por outro lado, a Ratio fundamentalis reafirma a perspectiva do Papa Bento XVI, que com o motu proprio Ministrorum institutio "destacou que a formação dos seminaristas continua, de forma natural, na formação permanente de sacerdotes, ambos constituindo uma única realidade".

A formação sacerdotal tem um caráter comunitário

O Papa disse ainda que a atual Ratio fundamentalis descreve o processo de formação dos sacerdotes, desde os anos de seminário, como única, integral, comunitária e missionária.

A este respeito, enfatizou que a formação sacerdotal "tem um caráter eminentemente comunitário desde sua origem; a vocação para ao sacerdócio é um dom que Deus dá à Igreja e ao mundo, um caminho para santificar-se e santificar os outros que não deve ser seguido de maneira individualista, mas sempre tendo como referência uma porção concreta do Povo de Deus".

Segundo o Papa, um dos desafios mais importantes que as casas de formação sacerdotal enfrentam hoje "é o de serem verdadeiras comunidades cristãs, o que implica não só um projeto formativo coerente, mas também um número adequado de seminaristas e formadores que garantem uma experiência realmente comunitária em todas as dimensões da formação. Uma tarefa que os bispos devem assumir sinodalmente, em particular no nível de conferências episcopais regionais ou nacionais, tarefa para a qual vocês são chamados a colaborar com lealdade e proatividade".

“Para isso, queridos sacerdotes formadores, é necessário renunciar à inércia e ao protagonismo e começar a sonhar juntos, não lamentando o passado, não sozinhos, mas unidos e abertos ao que o Senhor deseja hoje como formação para as próximas gerações de presbíteros inspirados pelas diretrizes atuais da Igreja.”

Francisco disse ainda que a missão dos reitores e formadores de seminários "não é de formar "super-homens" que pretendem saber e controlar tudo e ser autossuficientes; pelo contrário, é formar homens que sigam humildemente o processo escolhido pelo Filho de Deus, que é o caminho da Encarnação".

A dimensão humana da formação sacerdotal não é, portanto, uma mera escola de virtudes, de crescimento da personalidade ou de desenvolvimento pessoal, mas implica também e sobretudo um amadurecimento integral da pessoa fortalecida pela graça de Deus que, levando em conta os condicionamentos biológicos, psicológicos e sociais de cada um, é capaz de transformá-los e elevá-los, especialmente quando a pessoa e as comunidades se esforçam para colaborar com ela de forma transparente e verdadeira. Em última análise, as motivações vocacionais autênticas, ou seja, o seguimento do Senhor e a instauração do Reino de Deus, são a base de um processo humano e espiritual.

Os formadores educam com suas vidas

Segundo o Papa, "uma das tarefas mais importantes no processo de formação de um sacerdote é a leitura gradual e religiosa de sua própria história". De acordo com Francisco, "é preciso estar conscientes do impacto formativo que a vida e o ministério dos formadores exercem sobre os seminaristas. Os formadores educam com suas vidas, mais do que com suas palavras".

De acordo com Francisco, "um dos indicadores de maturidade humana e espiritual é o desenvolvimento e a consolidação da capacidade de escuta e da arte do diálogo, que estão naturalmente ancorados a uma vida de oração, onde o sacerdote dialoga com o Senhor todos os dias, mesmo nos momentos de aridez e confusão".

Por fim, o Papa ressaltou que a formação sacerdotal tem como instrumento privilegiado o acompanhamento formativo e espiritual dos seminaristas, a fim de lhes assegurar uma vasta e variada ajuda da comunidade de formadores, apoiada por sacerdotes de diferentes idades e diferentes sensibilidades, segundo as competências específicas de cada um deles. Também contribuem no acompanhamento formativo outras pessoas que ajudem os seminaristas em seu crescimento humano e espiritual.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF