Translate

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

CASA DO PÃO: LEGADO DO 18º CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIONAL

CNBB

CASA DO PÃO, LEGADO DO 18º CONGRESSO EUCARÍSTICO NACIONAL, É ESPAÇO DE APOIO À POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA EM RECIFE

A inauguração da Casa do Pão, marco do 18º CEN, foi realizada às 9h na sede do espaço, localizada na rua do Imperador, bairro de Santo Antônio, em Recife. A atividade inaugural ofertou um café da manhã com mil refeições para os bispos e os futuros assistidos do projeto. Os preparativos dos alimentos tiveram início às 5h30, no convento de Santo Antônio, na mesma localidade.

A feitura das refeições contou com o auxílio de 120 voluntários, que já realizam trabalhos ligados a inúmeras organizações não governamentais e à Pastoral do Povo de Rua do Regional Nordeste 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB NE2).  Para os moradores em situação de rua, o projeto Banho do Bem garantiu a higiene pessoal.

O ato inaugural contou com o pronunciamento do legado pontifício, dom António Marto, e do arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido. Na sequência, o corte simbólico da fita e o descerramento de placa concluiu a cerimônia. As mil refeições foram postas à mesa e servidas em marmitas numa estrutura que será montada no mesmo logradouro, e ofertou – entre as opções do cardápio – cuscuz, bolo, sanduiche, suco e café.

Legado de solidariedade

Espaço interno da Casa Pão. |
Fotos: Assessoria de Comunicação do 18º CEN

Espaço interno da Casa Pão. | Fotos: Assessoria de Comunicação do 18º CEN.

Na Casa Pão serão ofertados diversos serviços, tais como uma lavanderia, para que as pessoas em situação de rua possam fazer a higienização adequada das próprias roupas. Haverá vestiários com banheiros e chuveiros, para banhos dignos e área para os cuidados básicos de higiene pessoal.

O espaço ainda oferecerá atendimentos médico, psicológico e jurídico. Terá também grupos de apoio, oficinas e cursos profissionalizantes, refeitórios, além de uma capela para atividades religiosas e uma padaria, para consumo próprio e vendas dos produtos no local. A manutenção da Casa do Pão ficará a cargo de voluntários e do diaconato da Arquidiocese de Olinda e Recife, em parceria com instituições públicas e privadas.

CNBB
Com informações e fotos do 18º Congresso Eucarístico Nacional 

São Roque Gonzales

S. Roque Gonzales | arquisp
17 de novembro

São Roque Gonzales

"Matastes a quem tanto vos amava. Matastes meu corpo, mas minha alma está no céu."

Contam os escritos que estas palavras foram ouvidas pelos índios que assassinaram o missionário jesuíta Roque Gonzalez e seus companheiros, padres Afonso Rodrigues e João de Castillo, em 1628. As palavras foram prodigiosamente proferidas pelo coração de padre Roque, ao ser transpassado por uma flecha, porque o fogo não tinha conseguido consumir.

Os três padres eram jesuítas missionários na América do Sul, no tempo da colonização espanhola. Organizavam as missões e reduções implantadas pela Companhia de Jesus entre os índios guaranis do hoje chamado Cone Sul. O objetivo era catequizar os indígenas, ensinando-lhes os princípios cristãos, além de formar núcleos de resistência indígena contra a brutalidade que lhes era praticada pelos colonizadores europeus. Elas impediam que eles fossem escravizados, ao mesmo tempo que permitiam manter as suas culturas. Eram alfabetizados através da religião e aprendiam novas técnicas de sobrevivência e os conceitos morais e sociais da vida ocidental. Era um modo comunitário de vida em que todos trabalhavam e tudo era dividido entre todos. O grande sucesso fez que os colonizadores se unissem aos índios rebeldes, que invadiam e destruíam todas as missões e reduções, matando os ocupantes e pondo fim à rica e histórica experiência.

Roque foi um sacerdote e missionário exemplar. Era paraguaio, filho de colonizadores espanhóis, nascido na capital, Assunção, em 1576. A família pertencia à nobreza espanhola, o pai era Bartolomeu Gonzales Vilaverde e a mãe era Maria de Santa Cruz, que o criaram na virtude e piedade. Aos quinze anos, decidiu entregar sua vida a serviço de Deus. Ingressou no seminário e, aos vinte e quatro anos de idade, foi ordenado sacerdote. Padre Roque quis trabalhar na formação espiritual dos índios que viviam do outro lado do rio Paraguai, nas fazendas dos colonizadores.

O resultado foi tão frutífero que o bispo de Assunção o nomeou pároco da catedral e depois vigário-geral da diocese. Mas ele renunciou às nomeações para ingressar na Companhia de Jesus, onde vestiu o hábito de missionário jesuíta em 1609. Depois, passou toda a sua vida a serviço dos índios das regiões dos países do Paraguai, Argentina, Uruguai, Brasil e parte da Bolívia. Em 1611, chefiou por quatro anos a redução de Santo Inácio Guaçu. Em 1626, fundou quatro reduções: Candelária, Caaçapa-Mirim, Assunção do Juí e Caaró.

Foi na Redução de Caaró, atualmente pertencente ao Brasil, que os martírios ocorreram, em 15 de novembro de 1628. Depois de celebrar a missa com os índios, padre Roque estava levantando um pequeno campanário na capela recém-construída, quando índios rebeldes, a mando do invejoso e feiticeiro Nheçu, atacaram aquela e a vizinha Redução de São Nicolau. Mataram todos e incendiaram tudo. Padre João de Castillo morreu naquela de São Nicolau, enquanto padre Afonso Rodrigues, que ficou na de Caaró, morreu junto com padre Roque Gonzales, esse último com a cabeça golpeada a machado de pedra.

Dois dias depois, os índios rebeldes voltaram para saquear os escombros. Viram, então, que o corpo de padre Roque estava pouco queimado, então transpassaram seu coração com uma flecha. Foi aí que ocorreu o prodígio citado no início deste texto e mantido pela tradição. Eles foram beatificados pelo papa Pio XI em 1934 e canonizados pelo papa João Paulo II em 1988, em sua visita à capital do Paraguai. A festa de são Roque Gonzales ocorre no dia 17 de novembro.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

Por que a aliança de casamento ou noivado deve ser usada no quarto dedo da mão?

Tymonko Galina - Shutterstock
Por Adriana Bello

Uma explicação repleta de simbolismo espiritual.

Você já deve ter ouvido falar que as pessoas usam a aliança de casamento e/ou noivado no quarto dedo da mão (o anelar) “porque é o dedo que tem uma veia que vai direto para o coração”, ou algo do tipo.

Essa crença remonta à Roma Antiga, e foi, provavelmente, herdada dos egípcios ou gregos. Eles chamavam o vaso sanguíneo deste dedo de vena amoris (veia do amor) e acreditavam que as pessoas conectavam seu amor por meio de seus anéis que estavam neste dedo.

No entanto, o conhecimento atual da anatomia nos diz que não existe uma veia única que vá diretamente ao coração. Além disso, sabe-se que todos os dedos – não apenas o anelar – têm veias que, de uma forma ou de outra, se conectam ao coração. Entretanto, o simbolismo permaneceu ao longo do tempo.

Tente isso com seus próprios dedos

Há algum tempo li no Twitter uma mensagem do Pe. Patxi Bronchalo em que ele fala de um exercício com a aliança que ele gosta de fazer com os noivos antes do casamento. Achei muito interessante e resolvi compartilhar com vocês. Experimente fazer em casa!

Primeiramente, feche uma das mãos (ou coloque a palma da mão sobre uma superfície) e tente levantar cada dedo individualmente, um a um (levantado apenas um de cada vez), começando pelo polegar. Vou te dar um tempo para fazer isso… Pode começar!

Você conseguiu? Tenho certeza que você notou que levantar o dedo anelar foi um pouco mais difícil que os outros; talvez você nem tenha conseguido fazer isso sem outro dedo levantar junto com ele.

Pe. Bronchalo explica que o polegar é aquele que usamos para dar “positivo” ou sinalizar “negativo”, ou seja: para transmitir a ideia de que algo está certo ou errado, se gostamos ou não de alguma coisa. 

Depois tem o dedo indicador, que é aquele com o qual apontamos, acusamos alguém, e assim por diante. 

Já o dedo do meio é usado por algumas pessoas para insultar os outros. 

Vamos pular o dedo anelar por um segundo e ir para o dedo mínimo (ou mindinho), com o qual as crianças fazem suas promessas.

Então, qual seria a “função” do dedo anelar? Bem, este é o dedo fraco; não consegue nem se erguer sozinho. (…) As alianças são colocadas nesse dedo para que os esposos não se esqueçam de que é na fraqueza que mais precisam se amar”, escreve o pároco.

E você sabia que pode receber uma indulgência?

São João XXIII concedeu uma indulgência especial para quem beijar a aliança todos os dias. É uma forma de os cônjuges se lembrarem dos votos que fizeram no dia do casamento, especialmente de apoiar um ao outro em momentos de doença e dificuldades, que é quando o verdadeiro amor vem à tona.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa Paulo VI e a alegria

Papa Paulo VI | Vatican |News

“Estou cheio de consolação, estou inundado de alegria no meio de todas as tribulações” (7,3-4). Elas mostram que, mesmo entre as intempéries da vida, o verdadeiro discípulo de Cristo jamais perde a esperança, pois está inundado da alegria do Espírito Santo." (Papa Paulo VI - Exortação Apostólica Gaudete in Domino).

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini foi eleito Papa em 21 de junho de 1963, assumindo o nome de Paulo VI. Ele governou a Igreja por 15 anos, até 6 de agosto de 1978.

Montini leva a cumprimento o Concílio Vaticano II, inaugura as viagens pelo mundo a começar por Jerusalém, visita as Nações Unidas e ressalta o valor da “paz como única verdadeira linha do progresso humano”. A atualidade de seu magistério pode ser confirmada pelas contínuas referências a ele feitas pelo Papa Francisco, que o canonizou em 14 de outubro de 2018.

Em um Simpósio realizado em Milão, o cardeal Pietro Parolin afirmou que Igreja de Giovanni Battista Montini é uma Igreja que “sai de si mesma para encontrar a história”, “perita em humanidade”, que “indica a centralidade do homem e da paz”. Paulo VI - acrescentou o secretário de Estado - intuiu o processo de globalização, um “mundo sempre mais complexo” que exige o papel dos “construtores de paz”, a “colaboração entre as nações” e o “diálogo entre diferentes credos”. Ele  “alargou o olhar e o coração a todos os ângulos do mundo”, institui o Dia Mundial da Paz, reformou nesta mesma direção a diplomacia vaticana e escreveu a Carta Encíclica Populorum progressio sobre o desenvolvimentos dos povos.

Depois de 'Paulo VI no período conciliar", padre Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "Paulo VI e a alegria":

"São Paulo VI foi chamado de “o Papa do sofrimento”, dados os dissabores que enfrentou dentro e fora da Igreja na fase imediatamente seguinte ao Concílio. Nada fácil a vida de um Papa, diante de tantos propósitos de reforma preteridos pelo Concílio Vaticano II. As mudanças necessárias na Igreja fizerem muitos vacilarem na fé, havendo uma debandada muito grande de sacerdotes e religiosos. Se o Papa Paulo VI foi um homem de sofrimento, podemos dizer que Montini – o Papa Paulo VI - foi também “o Papa da verdadeira alegria que vem do Senhor”.

Para evocar o lado sereno e feliz desse Pontífice, que foi canonizado pelo Papa Francisco em 2014, desejamos lembrar aqui um documento pouco conhecido, mas de grande profundidade espiritual, que foi assinado por ele em 9 de maio de 1975. Trata-se da Exortação Apostólica Gaudete in Domino, que, em português, significa Alegrai-vos no Senhor!, escrita por Paulo VI em preparação à solenidade de Pentecostes do Ano Jubilar de 1975.

Nessa Exortação, o Santo Padre começa dizendo, com fundamento em Filipenses 4,45 e no Salmo 145,18: “Alegrai-vos no Senhor, porque Ele está perto de todos os que O invocam com sinceridade” e a partir daí vai desenvolvendo a noção da alegria cristã, que é a alegria no Espírito Santo como um dom d’Ele mesmo para cada um de nós (cf. Gl 5,22). Esta alegria como dom de Deus não raras vezes é esquecida, como se ser cristão e ser santo fosse ter cara feia e triste. Aliás, duas constatações vêm ao caso a propósito: a primeira lembra aquele dito popular, às vezes também atribuído a algum santo: “Um santo triste é um triste santo”; a segunda é a fala do Papa Francisco, no dia 1º de junho de 2013, quando diz, recordando, inclusive, Paulo VI, que “muitas vezes os cristãos têm mais cara de que estão num cortejo fúnebre do que louvando a Deus”, mas isso está errado, pois “sem a alegria, o cristão não pode ser livre, mas, ao contrário, torna-se escravo da tristeza”.

É precisamente este o ponto em que os Papas Bergoglio e Montini se encontram, uma vez que, na conclusão da Gaudete in Domino se lê: “Irmãos e filhos caríssimos: não será normal que a alegria habite dentro de nós, quando os nossos corações contemplam e descobrem de novo, na fé, os seus motivos fundamentais? E estes motivos são simples, aliás: tanto amou Deus o mundo, que lhe deu o seu Filho único. Pelo seu Espírito, a sua presença não cessa de envolver-nos na sua ternura e de nos impregnar com a sua vida; e nós caminhamos para a transfiguração ditosa das nossas existências, seguindo rumo à ressurreição de Jesus. Sim, seria muito estranho que esta Boa-Nova que provoca os aleluias da Igreja não nos deixasse com o semblante de pessoas salvas!”

Paulo VI recorda nessa exortação o Apóstolo das gentes: “Estou cheio de consolação, estou inundado de alegria no meio de todas as tribulações” (7,3-4). Elas mostram que, mesmo entre as intempéries da vida, o verdadeiro discípulo de Cristo jamais perde a esperança, pois está inundado da alegria do Espírito Santo."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

S. Agostinho | Aleteia

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 21,1-4: CCL 41,276-278)                           (Séc.V)

O coração do justo exultará no Senhor

O justo alegra-se no Senhor e nele espera; e gloriam-se todos os retos de coração (Sl 63,11). Acabamos de cantá-lo com a voz e com o coração. A consciência e a língua cristãs dizem estas palavras a Deus: Alegra-se o justo, não com o mundo, mas no Senhor. A luz nasceu para o justo, diz outro lugar, e a alegria, para os retos de coração(Sl 96,11). 

Indagas donde vem a alegria. Escutas: Alegra-se o justo no Senhor, e noutro passo: Põe tuas delícias no Senhor e ele atenderá aos pedidos de teu coração (Sl 36,4). 

Que nos é indicado? O que é doado, ordenado, dado? Que nos alegremos no Senhor. Quem é que se alegra com aquilo que não vê? Acaso vemos o Senhor? Já o temos em promessa. 

Agora, porém, caminhemos pela fé; enquanto estamos no corpo, peregrinamos longe do Senhor (2Cor 5,7.6). Pela fé, não pela visão. Quando, pela visão? Quando se realizar o que diz o mesmo João: Diletíssimos, somos filhos de Deus; mas ainda não se fez visível o que seremos. Sabemos que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal qual é (1Jo 3,2). 

Neste momento, então, será a grande e perfeita alegria, o gáudio pleno, onde já não mais teremos o leite da esperança, mas a realidade nos alimentará. Contudo, desde agora, antes que nos chegue a realidade, antes que cheguemos à realidade, alegremo-nos no Senhor. Não é insignificante a alegria trazida pela esperança, já que depois será a posse. 

Agora, amamos na esperança. Por isso, alegra-se o justo no Senhor e logo em seguida, e nele espera, porque ainda não vê. 

Todavia, possuímos as primícias do espírito, e talvez de algo mais. Aproximamo-nos de quem amamos e, embora por uma gotinha, já provamos e saboreamos aquilo que avidamente comeremos e beberemos. 

Como é que nos alegramos no Senhor, se está longe de nós? Que ele não esteja longe! A estar longe, és tu que o obrigas. Ama e aproximar-se-á; ama e habitará em ti. O Senhor está próximo, não fiques inquieto (Fl 4,5-6). Queres ver como, se amares, estará contigo? Deus é caridade (1Jo 4,8). 

Dir-me-ás: “Em teu parecer, que é caridade?” A caridade é a virtude pela qual amamos. O que amamos? O bem salutar, o bem inefável, o bem de todos os bens, o Criador. Que te deleite aquele de quem tens tudo o que te deleita. Não digo o pecado, pois só o pecado não recebes dele. Dele é que terás tudo.

Por que a Igreja Católica é Santa?

Antoine Mekary | ALETEIA
Por Prof. Felipe Aquino

A Igreja é santa pelos meios de santificação que ela oferece: a graça santificante.

Alguns confundem os pecados dos “filhos da Igreja” com “pecados da Igreja”. É dogma de fé que a Igreja não tem pecado. O Papa Paulo VI disse no Credo do Povo de Deus, que ela é “indefectivelmente Santa”. Mas, por que ela é santa?

Em primeiro lugar porque é divina, Cristo é sua Cabeça e o Espírito Santo é sua alma. O seu único Fundador é santo: Jesus Cristo, o Verbo de Deus. Ele é a fonte de toda santidade, o “único santo”[LG, 39]. Todos os outros santos chegaram à santidade porque participaram da Sua Santidade. São Paulo disse aos efésios que Cristo santificou a Igreja – “se entregou por ela para santifica-la”. “Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5, 25-27).”

Graça santificante

A Igreja é santa pelos meios de santificação que ela oferece: a graça santificante. Só quem é santa pode dar levar outros à santidade. O Papa João Paulo II disse que a Igreja existe para nos levar à santidade. É pelos Sacramentos, pela doutrina que está nos Evangelhos, pela Liturgia, etc., que a Igreja santifica. Paulo VI disse no seu Credo que ela “não possui outra vida senão a da graça”[n.19] a qual procede de seu Fundador. Por isso o nosso Catecismo afirma que: “A Igreja, unida a Cristo, é santificada por Ele; por Ele e n’Ele torna-se também santificante. Todas as obras da Igreja tendem, como seu fim, ‘à santificação dos homens em Cristo e à glorificação de Deus’. É na Igreja que está depositada ‘a plenitude dos meios de salvação’. É nela que ‘adquirimos a santidade pela graça de Deus’.”[n.824]

E a Igreja é santa também em seus membros: São Paulo chamava os cristãos de “santos”[ Cf. Rm 1,7; Rm 15,26; Rm 16,15; 1Cor 1,2; 2Cor 1,1; Ef 1,1; Fl 1,1; 1Te 5,27; Hb 3,1.]. Todo cristão que está em estado de graça assemelha-se a Cristo, e vive a santidade. E a Igreja já canonizou mais de vinte mil santos; mesmo em nossos tempos de tanto paganismo e pecado, a Igreja continua canonizando santos: João Paulo II, João XIII, José de Anchieta, Padre Pio, Madre Paulina, Santa Faustina, Edith Sthein… Continuamente o Papa proclama novos beatos e santos. Essas pessoas são o reflexo da santidade da Igreja. Ela os levou à santidade.

Virgem Maria

A santa por excelência, Santíssima, foi a Virgem Maria, isenta de toda culpa do pecado original e de toda culpa pessoal. Nela, diz o Catecismo da Igreja,  “a Igreja já atingiu a perfeição, pela qual existe sem mácula e sem ruga, nela, a Igreja é já a toda santa”[n.829]. Além de Imaculada, ela é Virgem Perpétua e Assunta ao céu de corpo e alma, porque é a Santa Mãe de Deus (Aghios Theotókos).

Ao fundar a Igreja Jesus já sabia que nela haveria pecadores como Judas. Ele comparou sua Igreja à “rede que apanha maus e bons peixes” (cf Mt 13, 47-50); ao joio no meio do trigo (cf Mt 13, 24-30); à festa de casamento onde há convidados  sem a veste nupcial (cf Mt 22, 11-14)”.

A Igreja é santa porque é a única Instituição terrena que tem uma dimensão divina. Sua substância [=natureza, essência] permanece pura. Os homens podem pecar, mas a Igreja não.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa: preocupo-me com o crescimento de polarizações e extremismos

Jornadas da Pastoral Social de Buenos Aires | Vatican News

“A polarização corrói todas as tentativas de solução e a única coisa que ela cria é desconforto e descrença. Neste contexto, é imperativo recuperar nossa capacidade de diálogo, ou seja, aproximarmo-nos, escutarmo-nos, conhecermo-nos e reconhecermo-nos mutuamente para encontrar pontos de contato que nos ajudem a transcender”. Palavras do Papa na Mensagem por ocasião das Jornadas da Pastoral Social de Buenos Aires lidas na noite de segunda-feira (14/11).

Vatican News

Por ocasião das Jornadas da Pastoral Social de Buenos Aires deste ano, o Papa escreveu uma mensagem na qual destacou que, “a polarização corrói todas as tentativas de soluções e a única coisa que ela cria é o desconforto e a descrença". Neste contexto, "é imperativo recuperar nossa capacidade de diálogo; aproximarmo-nos, escutarmo-nos, conhecermo-nos e reconhecermo-nos mutuamente para encontrar pontos de contato que nos ajudem a transcender”, pois "para nos ajudarmos mutuamente, precisamos dialogar", disse Francisco.

Encontros para discernimento

As Jornadas da Pastoral Social, são organizadas pela Arquidiocese de Buenos Aires, que comemoram seu 25º aniversário este ano, reúne vários expoentes e líderes da sociedade civil. O Papa na mensagem enfatiza também "a necessidade e a importância deste costume saudável". De fato, "nos encontros tentamos discernir o presente e nos esforçamos para imaginar um futuro possível, e isto é urgente se considerarmos a situação mundial: as guerras, com sua ameaça nuclear; a recente pandemia e suas consequências em diferentes níveis; a crise ecológica e migratória; o aumento da cultura da exploração e do desperdício... problemas aos quais as situações locais poderiam ser acrescentadas".

Sem sentido de pertença

Por trás dessas realidades, confidenciou o Pontífice, "como uma música de fundo, preocupo-me com o crescimento de polarizações e extremismos que nos impedem construir e nos encontrarmos em um ‘nós’ comum. Há tantos conflitos nos quais a retirada para as trincheiras, muitas vezes ideológica, impede que sejam resolvidos". Infelizmente, segundo o Papa, "pouco a pouco se corroeu o sentido de pertença capaz de quebrar a tirania da divisão e do confronto, para possibilitar, com todas as legítimas diferenças que possam existir, a convergência de vontades na busca do bem comum, que é muito mais do que a soma de bens individuais".

Os Santos souberam fazer a Vontade de Deus

Cléofas

Os Santos souberam fazer a Vontade de Deus

 POR PROF. FELIPE AQUINO

“O mundo passa com as suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo 2,17).

Os santos ensinam, com unanimidade, que o caminho da santidade é “fazer a vontade de Deus”. Isto nos santifica porque nos conforma com Jesus, o modelo da santidade, que, acima de tudo queria fazer a vontade de Deus em todo tempo.

A Encarnação foi a maneira que Jesus encontrou para, como homem, fazer perfeitamente a vontade de Deus, que Adão não quis fazer.

A primeira coisa que temos de compreender, e aceitar na fé, é que a vontade de Deus nem sempre, ou quase sempre, não coincide com a nossa. E aí está o primeiro passo para amar a Jesus: abdicar do que nós queremos, para fazer o que Ele quer. É o que São Paulo chamava de “a obediência da fé” (Rm 1,5) sem o quê é “impossível agradar a Deus” (Hb 11,6) já que o “justo vive pela fé” (Hab 2,4; Rm 1,17).

O profeta Isaías disse: “Meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor, mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55, 8-9).

A lógica de Deus é diferente da nossa porque Ele vê todas as coisas perfeitamente, enquanto a nossa visão é míope e limitada. É como se olhássemos a vida como um belo tapete persa, só que pelo lado do avesso.

Não podemos duvidar de que a vontade de Deus para nós seja “a melhor possível”, mesmo que nos seja incompreensível no momento.

O que mais agrada a Deus é trocarmos, consciente e livremente, a nossa vontade pela Dele, porque isto é prova de muita fé, concreta. Quando damos esse passo, Ele substitui a nossa miséria pelo seu poder. Portanto, é preciso a cada dia, a cada passo, em cada acontecimento da vida, fazer esse exercício contínuo de aceitar a vontade do Senhor, que sabe o que faz.

São Bernardo disse que “se os homens fizessem guerra à vontade própria, ninguém se condenaria”. Este é o segredo para se abandonar aos desígnios de Deus: ele é Pai, ele nos ama, ele quer só o nosso bem, por mais adversas e incompreensíveis que seja a situação que vivemos. Ele está no leme do barco da nossa vida. É preciso confiar!

Deus é o maquinista do trem da nossa vida, por isso não precisamos nos preocupar para onde ele nos leva. O salmista diz:

“Confia ao Senhor a tua sorte, espera Nele: Ele agirá” (Sl 36,5).

“Mas eu Senhor, em vós confio (…) meu destino está em vossas mãos” (Sl 30,15-16).

São Paulo insistia nisso; dar graças a Deus em tudo é o que alegra ao Senhor, pois é o melhor testemunho de fé que lhe damos. Esta atitude consciente elimina a tristeza, arranca o mau humor, a impaciência, a grosseria com os outros e a perigosa lamentação.

É nessa perspectiva que São Paulo dizia: “Ficai sempre alegres, orai sem cessar. Por tudo dar graças (…)” (1Ts 5,16).

Não seremos felizes de verdade e não teremos paz duradoura, sustentada, enquanto não nos rendermos à santa e perfeita vontade de Deus.

“Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos! (…). O Senhor está próximo! Não vos inquieteis com nada; mas apresentai a Deus todas as vossas necessidades pela oração e pela súplica, em ação de graças. Então a paz de Deus, que excede toda a compreensão, guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus” (Fl 4, 4-7).

O santo vive na paz e na perene alegria, embora caminhando sobre brasas muitas vezes. São João Bosco dizia que “um santo triste é um triste santo”, e o seu discípulo, São Domingos Sávio, dizia que a santidade consiste em “cumprir bem o próprio dever e ser alegre”.

São Paulo perguntava: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31). E o Apóstolo explicava a razão dessa esperança: “Aquele que não poupou o seu próprio Filho (…) como não nos dará com Ele todas as coisas?” (Rm 8,32).

É nessa mesma fé e esperança que o santo vive; a cada instante repetindo para si mesmo aquela palavra do Senhor: “Não vos preocupeis por vossa vida (…). Não vos aflijais, nem digais: Que comeremos? Que beberemos? (…). São os pagãos que se preocupam com tudo isso. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso” (Mt 6,25-32).

Jesus ensina o que é essencial: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça” (Mt 6,33), isto é, fazer a vontade de Deus.

Também conosco será assim; é nos momentos mais difíceis da vida, nas crises de toda espécie, que temos a oportunidade de fazer a vontade de Deus da melhor maneira; especialmente quando Deus nos pede beber o cálice da amargura. O que fazer? Correr, fugir?

A vontade do Pai deve ser perfeitamente realizada na terra como é no céu. Quando isto acontecer, então o Reino dos céus acontecerá na terra plenamente.

Na última Ceia Jesus disse a seus Apóstolos: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo 14,15).

Quem não luta para guardar os Mandamentos de Deus, não ama a Deus. É por amor a Jesus que devemos amar os Mandamentos e não pecar. Eles são o caminho da conduta moral que nos leva à perfeição querida por Deus.

Infelizmente, em nossos dias, os homens querem fazer a própria moral e não mais viver a moral que Deus nos deu. É o que nos tem dito o Papa Bento XVI, “a ditadura do relativismo”: cada um faz a moral e a doutrina que quer; como se Deus não existisse e não tivesse revelado suas leis; e quem não aceita esta “nova mentalidade” é, então, taxado de retrógrado, obscurantista e atrasado. É uma verdadeira ditadura do homem contra Deus. É como se a verdade não existisse e o bem fosse igual ao mal.

Ninguém como os santos viveram bem a vontade de Deus; então, vamos aprender com eles. Selecionamos alguns pensamentos de alguns Santos Doutores.

Ensinamentos dos Santos Doutores

· Santa Teresa de Ávila (†1582)

“É evidente que a absoluta perfeição não consiste nas alegrias interiores, nem nos grandes êxtases, visões, nem no espírito da profecia. Consiste em tornar nossa vontade de tal modo conforme a de Deus, que abracemos de todo o coração o que cremos querido por ele e que aceitemos com a mesma alegria o que é amargo e o que é doce, desde que compreendamos que Sua Majestade o quer” (Fundações, cap. 5, n.10).

· São Bernardo (†1153)

“Quando se vê uma pessoa perturbada, a causa da preocupação não é outra coisa senão a incapacidade de realizar a própria vontade”.

· Santa Catarina de Sena (†1380) – dos Diálogos com Deus:

“O que faz o homem sofrer é a vontade própria”.

“Meus servidores não sofrem, porque se despojaram da vontade própria e se revestiram da Minha”.

“Venham de onde vierem as adversidades são instrumentos Meus que fazem meus servidores padecerem no corpo; perseguidos pelo mundo nada sofrem no espírito. Identificaram-se com a Minha vontade e até se alegram em tolerar males por Mim”.

“É indispensável que considereis como elemento básico de vosso aperfeiçoamento a eliminação da vontade própria; submetendo-a a Mim, fareis um ato de desejo agradável, inflamado, infinito para Minha honra e para a salvação dos homens”.

“O homem conformado à Minha vontade é desapegado de si mesmo, vence o mundo, o demônio e a carne; ao chegar o momento da morte, seu falecimento acontece na paz”.

“Mais sofria o rico epulão com suas posses, que o pobre Lázaro com sua lepra. No rico estava acordada a vontade própria; donde procede toda a infelicidade, enquanto que em Lázaro ela morrera”.

Prof. Felipe Aquino

Santa Gertrudes, padroeira dos místicos

Public Domain
Com ACI Digital

Séculos antes que Jesus aparecesse a Santa Margarida Maria Alacoque, ela já teve experiências místicas com o Seu Sagrado Coração.

Na Igreja, são chamadas de “místicas” as pessoas que recebem de Deus o extraordinário privilégio de uma relação profunda, direta e sensível com Ele, que lhes transmite mensagens e revelações e lhes concede graças de especialíssimo fervor na vida de oração (embora, com frequência, permeado por fases de drástica aridez espiritual como provação na fé). Há também casos de místicos agraciados com dons sobrenaturais visíveis como a levitação, a bilocação, os estigmas da Paixão de Cristo, entre outros.

Não há uma “definição formal” na Igreja sobre as pessoas místicas, mas o Catecismo nos esclarece, nos seguintes números sobre a santidade cristã, que a “mística” é, basicamente, a união cada vez mais íntima com Cristo:

2014. O progresso espiritual tende para a união cada vez mais íntima com Cristo. Esta união chama-se «mística», porque participa no mistério de Cristo pelos sacramentos – «os santos mistérios» – e, n’Ele, no mistério da Santíssima Trindade. Deus chama-nos todos a esta íntima união com Ele, mesmo que graças especiais ou sinais extraordinários desta vida mística somente a alguns sejam concedidos, para manifestar o dom gratuito feito a todos. 2015. O caminho desta perfeição passa pela cruz. Não há santidade sem renúncia e combate espiritual. O progresso espiritual implica a ascese e a mortificação, que conduzem gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças: «Aquele que sobe, nunca mais pára de ir de princípio em princípio, por princípios que não têm fim. Aquele que sobe nunca mais deixa de desejar aquilo que já conhece».

A padroeira dos místicos cristãos

A Igreja também venera uma santa considerada padroeira das pessoas místicas: Santa Gertrudes, vidente do Sagrado Coração de Jesus, cuja festa litúrgica é celebrada em 16 de novembro.

VIDA RELIGIOSA – Nascida na Alemanha em 6 de janeiro de 1256, ela foi enviada aos 5 anos de idade para estudar no mosteiro beneditino de Helfta, onde sua irmã, Santa Matilde, foi abadessa e sua professora. Após tomar o hábito, na adolescência, ela se tornou amiga de Santa Matilde de Hackeborn, que, assim como ela própria, também era especial devota do Sagrado Coração de Jesus.

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS – Aliás, muitos séculos antes que Jesus aparecesse a Santa Margarida Maria Alacoque, Santa Gertrudes já teve experiências místicas com o Seu Sagrado Coração. A religiosa de comunhão frequente e vívida devoção a São José teria chegado, em duas visões, a reclinar a cabeça sobre o peito de Jesus, ouvindo as batidas do Seu Coração. Em outra visão, Santa Gertrudes perguntou a São João Evangelista, que também reclinara a cabeça junto ao Coração de Cristo durante a Última Ceia, por que ele não tinha escrito nada sobre o Coração de Jesus. O Apóstolo respondeu que a revelação do Sagrado Coração de Jesus estava reservada para tempos posteriores, quando a frieza do mundo viesse a precisar de modo especial de um reavivamento no amor.

GERTRUDE THE GREAT
PD

“REVELAÇÕES DE SANTA GERTRUDES” – Cinco livros que compõem o “Arauto da Amorosa Bondade de Deus”, também conhecidos como “Revelações de Santa Gertrudes”, são atribuídos a ela direta ou indiretamente: o primeiro volume foi escrito por amigos íntimos da religiosa, enquanto o segundo foi obra dela própria e os seguintes foram redigidos sob a sua direção. Os textos falam das suas experiências místicas e, entre outras lições, tratam da relação entre sofrimento e graça: “A adversidade é a aliança espiritual que sela os esponsais com Deus”, lê-se numa passagem. De fato, Santa Gertrudes sofreu enfermidades dolorosas durante dez anos até partir desta vida para a Casa do Pai em 17 de novembro de 1301 ou 1302. O Papa Clemente XII determinou que a sua festa litúrgica fosse celebrada em toda a Igreja.

ALMAS DO PURGATÓRIO – Em uma das suas visões, Santa Gertrudes recebeu de Jesus uma oração breve, mas muito especial: toda vez que ela a rezasse, Ele poderia libertar mil almas do purgatório. Você pode conhecer e fazer essa mesma oração:


CZY MODLITWA ZA ZMARŁYCH MA SENS

Leia também:
A oração pelas almas do purgatório revelada a Santa Gertrudes por Jesus

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Século XX: século da violência paroxística

Dom Jacinto Bergmann | CNBB

SÉCULO XX: SÉCULO DA VIOLÊNCIA PAROXÍSTICA

 

 Dom Jacinto Bergmann

Arcebispo de Pelotas (RS)

Lendo no “Livro do Sentido” do teólogo Clodovis Boff os vários pontos que ele dedica ao tema da “violência”, encontrei elementos sobre a violência paroxística presente no século passado. Dessa leitura, saiu o meu artigo de hoje. 

A dinâmica niilizante da modernidade chegou o seu ponto culminante no século XX (1900-1999). Para o Papa João Paulo II, o “século XX será considerado uma época de ataques maciços contra a vida, uma série infindável de guerras e o massacre permanente de vidas humanas inocentes”. 

  Concordando com esse juízo, muitos historiadores marcaram a fogo este século XX com definições como: “o século mais criminoso da história” (J. Delumeau); “o século mais violento da história da humanidade” (E. Hobsbawm); “o século mais cruel dos que o precederam” (A. J. Soljenitsyn); “o século das ideias assassinas” (R. Conquest); “o século do ódio” (G. Mariani); “o século do medo” (G. Pinzani); “o século do genocídio” (R. Gellately e Ben Kiernan); “o século dos gulags e dos campos de extermínio” (T. Todorov); “o século do mal” (M. Martelli); “o século das grandes catástrofes humanas” (S. Courtois); “o matadouro da história” (De Carli); “um réquiem satânico” (L. Begley). 

Na folha corrida deste século sangrento encontramos duas guerras mundiais, regimes totalitários, ideologias criminosas, revoluções endêmicas, racismo, genocídios (desde o dos armênios até os de Ruanda), gulags, campos de concentração, fornos crematórios, perseguição religiosa e destruição ecológica. Nunca na história se matou tanto! No século passado a violência atingiu níveis paroxísticos de crueldade sádica e ostensiva. Autores apresentam estatísticas que assustam: 61 milhões de mortos em guerras e 127 a 175 milhões em genocídios e outras chacinas de massa. 

Johann Baptist Metz, teólogo católico, definiu o século passado com uma “história de sofrimento e catástrofe”, pelo que “a crise de Deus”, para ele, seria “a assinatura do tempo”. Por sua vez, o teólogo Joseph Ratzinger, atual Papa Emérito Bento XVI, ainda na Páscoa de 1969, perguntava: “Não começa nosso século a ser um grande sábado santo, dia da ausência de Deus?” Seria à toa que o século passado, o mais violento da história, foi, ao mesmo tempo, o mais ateu? O niilismo religioso leva ao niilismo ético e este ao totalitarismo mortífero. 

Ademais, é preciso também dizer que este horribile saeculum, ao tempo em que viu a derrocada do ideologismo nadificante, inaugurou, em âmbito mundial, um processo decisivo de reavivamento espiritual. Como nunca a esperança entrou na pauta do dia. Foi “bom demais”, que a “estrela da esperança” ficou na terra como parabolicamente é afirmada na “Fábula da Estrela Verde”. Segue a fábula: “Havia milhares de estrelas no céu. Estrelas de todas as cores: brancas, prateadas, verdes, douradas, vermelhas e azuis. Um dia, elas procuraram Deus e lhe disseram: – “Senhor, gostaríamos de viver na terra, entre as pessoas”. – “Assim será feito”, respondeu Deus. “Conservarei todas vocês pequeninas como são vistas e podem descer para a terra”. Conta-se que naquela noite houve uma linda chuva de estrelas. Algumas se aninharam nas torres das igrejas, outras foram brincar de correr com os vaga-lumes nos campos, outras misturaram-se aos brinquedos das crianças e a terra ficou maravilhosamente iluminada. Porém, passando o tempo, as estrelas resolveram abandonar os seres humanos e voltaram ao céu, deixando a terra escura e triste. – “Por quê voltaram?”, perguntou Deus, à medida que elas chegavam ao céu. – Senhor, não nos foi possível permanecer na terra! Lá existe muita miséria e violência, muita maldade, muita injustiça…”. E Deus lhes disse: – “Claro! O lugar de vocês é aqui no céu! A terra é o lugar de passagem, daquilo que passa, daquele que cai, daquele que erra, daquele que morre, onde nada é perfeito! O céu é o lugar da perfeição, do imutável, do eterno, onde nada perece e sobretudo onde reside a glória do Altíssimo! Mesmo, assim, eu amo as pessoas”. Depois que chegaram todas as estrelas e conferindo o seu número, Deus falou de novo: – “Mas está faltando uma estrela! Perdeu-se no caminho?”. Um anjo que estava perto retrucou: – “Não Senhor, uma estrela resolveu ficar entre os homens! Ela descobriu que seu lugar é exatamente onde existe a imperfeição, onde as coisas não vão bem, onde há luta e dor!” – “Mas que estrela é essa?”, voltou a perguntar Deus. – “É a esperança, Senhor! A ‘estrela verde’! A única dessa cor!” E quando olharam para a terra, a estrela da esperança não estava só. Estava com os humanos. O planeta ficou novamente iluminado com a volta das estrelas, mas também havia a estrela da esperança no coração de cada ser humano”. 

Que essa estrela da esperança encontre ainda mais espaço no coração da humanidade neste século XXI pelo qual atualmente somos protagonistas.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF