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domingo, 20 de novembro de 2022

Francisco: a África não deve ser explorada, mas promovida

Papa Francisco na Sala Paulo VI | Vatican News

O Pontífice encontrou na manhã deste sábado (19) a comunidade missionária "Médicos com a África - Cuamm" pelos 70 anos de vida. Na Sala Paulo VI, Francisco pediu a valorização do "capital intelectual" dos jovens do continente. E anunciou que, "se Deus quiser", visitará o Sudão do Sul no início de 2023.

Alessandro Di Bussolo - Vatican News

Um obrigado pelo compromisso de estar "com a África", que "não deve ser explorada, deve ser promovida" e um convite para seguir pioneiros corajosos como a freira idosa que o Papa conheceu na República Centro-Africana em 2015 e que ainda, no Congo, faz o parto de bebês como parteira; e para valorizar o "capital intelectual" dos jovens africanos que querem viver "um futuro como protagonistas" em seus países de origem. É um discurso apaixonado, uma expressão do seu amor pelo continente africano no qual anunciou que vai viajar ao Sudão do Sul no início de 2023, aquele que Francisco dirige a mais de 7 mil médicos e voluntários do Cuamm. Recebidos na Sala Paulo VI na manhã deste sábado (19) pelo aniversário de 70 anos, que caiu no auge da pandemia, da comunidade missionária fundada na cidade italiana de Pádua como um "colégio para receber jovens estudantes africanos de medicina".

Estar com a África é ser pela África

Após a saudação do bispo da cidade do Vêneto, dom Claudio Cipolla, o Papa ressaltou que a dos Médicos com a África - Cuamm é "a melhor atitude"...

Porque há na imaginação, no inconsciente coletivo, essa atitude feia: a África é para ser explorada. E contra isso, o "não, estar com a África" de vocês. Assim, estar com a África é ser pela África.

Apoiar o "capital intelectual" dos jovens africanos

É assim que Francisco define o de Cuamm, hoje liderado por Dante Carraro, "um caminho de partilha e serviço" que desde 1950 "atravessou quase todo o continente africano para levar assistência médica, sempre com vistas ao desenvolvimento e favorecendo a formação do pessoal local". E enfatiza a necessidade de ajudar a desenvolver o valioso "capital intelectual" do continente.

Há um mês, mais ou menos, tive um encontro com estudantes universitários de toda a África, via zoom. Fiquei surpreso com a capacidade intelectual desses jovens, homens e mulheres. Por favor, que não se percam; ajudem-nos a progredir, a avançar porque a África não deve ser explorada, deve ser promovida.

Muitas pessoas no mundo não têm assistência médica

O Pontífice lembra que o primeiro compromisso dos Médicos com a África é dar aos nossos irmãos necessitados "o pão cotidiano", como pedimos a Deus no "Pai Nosso". E esse "pão" também é saúde.

A saúde é um bem primordial, como o pão, como a água, como a casa, como o trabalho. Vocês se comprometem para que não falte o pão cotidiano para tantos irmãos e irmãs que hoje, no século XXI, não têm acesso aos cuidados de saúde normais e básicos. É vergonhoso: a humanidade não é capaz de resolver isso, mas é capaz de levar adiante a indústria de armas que destrói tudo. Bilhões são gastos em armas, ou outros enormes recursos são queimados na indústria da efêmera e da evasão.

Caros países como República Centro-Africana e Sudão do Sul

Infelizmente no mundo, comenta o Papa Francisco, "muitos homens e mulheres recebem apenas as migalhas" deste pão, porque nasceram em certos lugares do mundo. E ele pensa "em tantas mães, que não podem ter um parto seguro e às vezes perdem suas vidas; ou em tantas crianças, que morrem já na primeira infância". 

O Papa, então, recorda países africanos "particularmente queridos", como a República Centro-Africana, onde foi em 2015 para abrir a Porta Santa, em Bangui, e o Sudão do Sul "onde, se Deus quiser, eu irei no início do próximo ano". Países que são "muito pobres e frágeis, que o mundo considera importantes apenas para os recursos a serem explorados e que o Senhor, em vez disso, considera como seus amados, nos quais Ele vos envia para serdes bons samaritanos, testemunhas do seu Evangelho".

Não tenham medo de enfrentar desafios difíceis, de intervir em lugares remotos marcados pela violência, onde as populações não têm a possibilidade de se curar. Estejam com eles! Se levar anos de trabalho, se houver decepções e fracassos para alcançar resultados, não se desanimem. Perseverem com serviço persistente e diálogo aberto a todos como ferramentas para a paz e a resolução de conflitos.

Colaboração com Igrejas, governos e congregações missionárias

O Papa então enfatiza que o estar com a África do Cuamm é também "colaboração com as Igrejas locais e com as instituições dos países onde atua, sempre com o objetivo de compartilhar e promover o povo da África", e o encoraja "a continuar trabalhando junto às congregações religiosas missionárias, generosamente engajadas no setor da saúde na África". Unindo forças e "apoiando a inovação social inspirada no Evangelho, explorando também novas formas de financiamento de serviços de saúde para os mais pobres".

A África está retrocedendo, a pobreza está pior

Olhando para a pandemia de Covid, "a guerra e a grave crise internacional" que estão colocando todos sob tensão, Francisco também lembra as condições de seca, vistas no Quênia, que também se torna "uma tragédia mental". Dramas que na África têm "consequências dramáticas" porque "as populações já são muito pobres e há uma falta de sistemas de proteção social".

A África está retrocedendo e a pobreza está piorando. Os preços dos alimentos estão subindo em todos os lugares, levando à fome e à desnutrição; o transporte médico está bloqueado devido ao custo excessivo do combustível; medicamentos e suprimentos médicos estão em falta em todos os lugares. É uma "guerra" oculta, que ninguém fala e parece não existir, e que em vez disso tem um impacto mais severo, especialmente sobre os mais pobres.

Deem voz à África, para agitar a consciência do mundo

O Pontífice pede, portanto, que o Senhor, ajude a África e aqueles que trabalham para os africanos, a atravessar esta "noite" com coragem, olhando para "aqueles pequenos rebentos de esperança que já vislumbramos e dos quais vocês mesmos são testemunhas".

Agradeço vocês por serem uma voz do que a África está vivendo; por trazer à tona os sofrimentos escondidos e silenciosos dos pobres que encontram em seu compromisso diário. E peço-lhes que continuem a dar voz à África, ao que não se vê, às suas lutas e esperanças, para agitar a consciência de um mundo às vezes focalizado demais em si mesmo e pouco no outro. O Senhor ouve o grito do seu povo oprimido e nos pede para sermos artesãos de um novo futuro, humildes e tenazes, com os mais pobres.

Valorizar o "tesouro" dos jovens africanos

Finalmente, o convite para ter "atenção especial aos jovens" da África: para favorecer o emprego, pois eles estão ansiosos para "viver o próprio futuro como protagonistas sobretudo em seus países de origem". E o Papa Francisco recorda novamente a emoção do encontro via zoom com os jovens africanos, sua "inteligência e inquietação".

Ajudem-nos a avançar: são um tesouro, são muito inteligentes, mas não os deixe sentir que seus projetos não podem ir adiante por causa das condições geográficas, sociais, econômicas que os bloqueiam - ou culturais, aliás.

Intercâmbios educacionais entre jovens italianos e africanos

As novas gerações, ele continua, podem criar "novas pontes entre a Itália e a África". E isto acontece "quando os jovens se encontram, confrontam-se e se abrem para o mundo sem medos e sem preconceitos".

Vocês podem envolver as universidades nesta aventura, de modo que os cursos de formação, pesquisa e inovação previstos para jovens italianos também sejam dirigidos à juventude africana. É nesse intercâmbio que se constrói líderes capazes de orientar os processos de desenvolvimento humano integral.

O encontro com a freira "corajosa" há 50 anos no Congo

O Papa conclui com a imagem do encontro em Bangui, em 2015, com a freirinha há mais de 50 anos na África, na República Democrática do Congo, que como parteira fez mais de 2 mil partos, e adotou legalmente uma órfã - como uma "freira corajosa".

Ela ainda vive, ainda vive, lá na República Democrática do Congo, ainda com a canoa todos os sábados, vai às compras em Bangui e retorna. Ela continua a ser parteira. Uma vida escondida para dar vida. Eu só quero deixar esta fotografia. Pensemos nos muitos e muitas que, como esta freira, passaram suas vidas na África para ajudar a criar os africanos. Sigam em frente, sejam corajosos com esses pioneiros que temos diante de nós.

Campanha Evangelizar 2022

Campanha Evangelizar 2022 | CNBB

INSPIRADA PELA FRATELLI TUTTI, A “CAMPANHA PARA A EVANGELIZAÇÃO 2022” VAI INCENTIVAR A CULTURA DO ENCONTRO

No próximo domingo, 20 de novembro, data em que a Igreja celebra Cristo Rei, também tem início a Campanha para Evangelização 2022 promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e pelas dioceses e Igrejas particulares da Igreja no Brasil. Com o tema “Evangelizar: graça e missão que se dá no encontro”, a iniciativa busca mobilizar os católicos para a corresponsabilidade na sustentação das atividades evangelizadoras da Igreja e tem como ponto alto a coleta realizada nas comunidades, no 3º Domingo do Advento, este ano, nos dias 10 e 11 de dezembro.

O tema desta edição está em sintonia com o 3º Ano Vocacional celebrado pela Igreja no Brasil de 20 de novembro de 2022 a 26 de novembro de 2023, com o tema “Vocação: Graça e Missão”. A reflexão proposta para esta Campanha para a Evangelização recorda que evangelizar é a vocação da Igreja e, nela, a vocação de cada batizado, discípulo missionário de Jesus Cristo. “Essa vocação é dom e compromisso, ou seja, é graça e missão, a qual se realiza no encontro interpessoal, intercomunitário, intergeracional, etc.”, destaca um trecho do texto-base.

Promover a cultura do encontro

“Neste Tempo do Advento, no qual se realiza o tempo forte da Campanha para a Evangelização, Deus vem ao nosso encontro e renova a nossa esperança de um mundo novo. Queremos, portanto, convidar todos os cristãos e demais pessoas de boa vontade a intensificar: o encontro com a Palavra; o encontro com o Cristo-Pão; o encontro com os irmãos que sofrem; e o encontro missionário”, lê-se no texto-base.

Assim, de acordo com a reflexão apresentada, a Igreja no Brasil vai reavivar os quatro pilares da ação evangelizadora — Palavra, Pão, Caridade e Ação Missionária — propostos pelas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE, 2019-2023). Desta forma, espera-se dos cristãos católicos a tomada de consciência de que não existe evangelização sem encontro interpessoal.

“A partir deste encontro, entenderemos igualmente que precisamos mais do que nunca nos comprometer com a obra evangelizadora, deixando-nos encontrar, saindo ao encontro do outro e promovendo a cultura do encontro”.

As reflexões sobre o tema proposto no texto-base da campanha também retomam explicações do Papa Francisco para edificar a cultura do encontro, em especial a partir de trechos da encíclica Fratelli Tutti, sobre a amizade e a paz social.

A Campanha

A Campanha da Evangelização foi criada pela CNBB em 1998 e busca mobilizar os católicos para que assumam a corresponsabilidade na sustentação das atividades evangelizadoras da Igreja. Ela ocorre a partir do Domingo de Cristo Rei, neste ano em 20 de novembro, até o 3º Domingo do Advento, celebrado neste ano em 11 de dezembro.

A distribuição dos recursos é feita da seguinte forma: 45% do montante arrecadado permanecem na diocese para subsidiar a ação missionária, evangelizadora e pastoral da própria Igreja local; 20% do total arrecadado são encaminhados para os regionais da CNBB, com a mesma finalidade, sustentar as estruturas regionais de evangelização; e os demais 35% destinam-se à CNBB nacional, de forma a garantir iniciativas e estruturas evangelizadoras em todo o Brasil, especialmente nas regiões mais carentes.

Ações financiadas

Os recursos da Coleta para a Evangelização garantem que a Igreja no Brasil dê continuidade ao anúncio e testemunho do Evangelho desde as áreas missionárias até às periferias das grandes cidades, passando pelas ações pastorais e pela articulação das comunidades eclesiais missionárias, além de contribuir para a manutenção da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Uma dessas iniciativas financiadas é organização da Ação Solidária Emergencial “É tempo de cuidar”, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Cáritas Brasileira, em parceria com a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), o Movimento de Educação de Base (MEB) e a Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (Anec). Com um alcance de mais de 1,1 milhão de pessoas beneficiadas, foram arrecadados em recursos financeiros mais de R$ 4,5 milhões e distribuídos cerca de 5,9 milhões de quilos de alimentos.

O balanço aponta ainda que as populações em situação de vulnerabilidade receberam 713 mil refeições prontas, 675 mil peças de roupas e calçados, além de 405 mil kits de higiene pessoal e 409 mil equipamentos de proteção individual. Outra iniciativa em âmbito nacional que tem como foco lutar e proteger as mais diversas formas de vida, é o Pacto pela Vida e pelo Brasil.

Contribuiu ainda na viabilização de importantes publicações como Estudo 114 da CNBB – Em 2021, foi publicado o Estudo 114 da CNBB: “E a Palavra habitou entre nós” (Jo 1,14) – Animação Bíblica da Pastoral a partir das comunidades eclesiais missionárias, do “Celebrar em Família” subsídio que foi ofertado, durante a pandemia, pela Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O material começou a ser elaborado e disponibilizado para download diante da necessidade de isolamento social para enfrentar a pandemia do novo coronavírus.

Saiba mais:
Peças de comunicação da Campanha para a Evangelização (cnbb.org.br)

Do Opúsculo sobre a oração, de Orígenes, presbítero

Cristo Rei do Universo | liturgiadashoras

Do Opúsculo sobre a oração, de Orígenes, presbítero

(Cap. 25: PG 11, 495-499)  (Séc. III)

Venha o teu reino

Reino de Deus, conforme as palavras de nosso Senhor e Salvador, não vem visivelmente, nem se dirá: Ei-lo aqui ou ei-lo ali; mas o reino de Deus está dentro de nós (cf. Lc 16,21), pois a palavra está muito próxima de nossa boca e em nosso coração (cf. Rm 10,8). Donde se segue, sem dúvida nenhuma, que quem reza pedindo a vinda do reino de Deus pede – justamente por ter em si um início deste reino – que ele desponte, dê frutos e chegue à perfeição.

Pois Deus reina em todo o santo e quem é santo obedece às leis espirituais de Deus, que nele habita como em cidade bem administrada. Nele está presente o  Pai e, junto com o Pai reina Cristo na pessoa perfeita, segundo as palavras: Viremos a ele e nele faremos nossa morada  (Jo 14,23).

Então o reino de Deus, que já está em nós, chegará por nosso contínuo adiantamento à plenitude, quando se completar o que foi dito pelo Apóstolo: sujeitados todos os inimigos, Cristo entregará o reino a Deus e Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos(cf. 1 Cor 15,24.28). Por isto, rezemos sem cessar, com aquele amor que pelo Verbo se faz divino; e digamos a nosso Pai que está nos Céus: Santificado seja teu nome, venha o teu reino (Mt 6,9-10).

É de se notar também a respeito do reino de Deus: da mesma forma que não há participação da justiça com a iniquidade nem sociedade da luz com as trevas nem pacto de Cristo com Belial. (cf. 2 Cor 6,14-15), assim o reino de Deus não pode subsistir junto com o reino do pecado.

Por conseguinte, se queremos que Deus reine em nós, de modo algum reine o pecado em nosso corpo mortal (Rm 6,12), mas mortificaremos nossos membros que estão na terra (cf. C1 3,5) e produzamos fruto no Espírito. Passeie, então, Deus em nós como em paraíso espiritual, e reine só ele, junto com seu Cristo; e que em nós se assente   à destra de sua virtude espiritual, objeto de nosso desejo. Assente-se até que seus inimigos todos que existem em nós sejam reduzidos a escabelo de seus pés (S1 98,5), lançados fora todo principado, potestade e virtude.

Tudo isto pode acontecer a cada um de nós e ser destruída a última inimiga, a morte (1 Cor 15,26). E Cristo diga também dentro de nós: Onde está, ó morte, teu aguilhão? Onde está, inferno, tua vitória? (1 Cor 15,55;cf. Os 13,14)Já agora, portanto, o corruptível em nós se revista de santidade e de incorruptibilidade, destruída a morte, vista a imortalidade paterna (cf. 1 Cor 15,54), para que, reinando Deus, vivamos dos bens do novo nascimento e da ressurreição.

Pastoral Afro-brasileira e o Dia da Consciência Negra

CNBB

PASTORAL AFRO-BRASILEIRA DIVULGA MENSAGEM PARA CELEBRAÇÃO DO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Em 20 de novembro, o Brasil recorda a memória de Zumbi dos Palmares, símbolo da resistência negra na luta pela libertação. Desde 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial batizou a data como o Dia Nacional da Consciência Negra em substituição ao 13 de Maio, que é considerado como o Dia das Raças.

Para colaborar com a reflexão nesta data, a Pastoral Afro-brasileira da CNBB divulgou uma mensagem, na qual recorda os desafios e a luta contra a escravidão moderna, e em prol da cidadania dos afrodescendentes.

A seguir, a íntegra do texto:

20 de novembro: Dia da Consciência Negra

Aos poucos os eventos gaúchos atraíram a atenção da mídia nacional e de grupos negros de outros Estados, que também passaram a adotar o 20 de novembro. Finalmente, em 1978, o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial adotou a data, batizando-a de Dia Nacional da Consciência Negra. Mais recentemente os poderes públicos abraçaram a ideia, dando origem ao feriado de amanhã, celebrado em muitas cidades do País.

Em uma dissertação de mestrado apresentada no programa de pós-graduação em história da PUC de Porto Alegre, o jornalista negro Deivison Moacir Cezar de Campos sugere que os rapazes do Palmares foram subversivos. Porque fizeram um contraponto ao discurso oficial do regime militar, que exaltava as igualdades proporcionadas pela democracia racial e via no debate sobre o tema um fator de distúrbio. “Eles buscavam o reconhecimento das diferenças étnicas e das condições desiguais de acesso à cidadania e a integração socioeconômica”, diz a tese. E mais: “Colocaram-se contra o oficialismo ao defenderem a substituição de 13 de Maio, o Dia das Raças, pelo 20 de Novembro, Dia do Negro; ao proporem uma revisão da historiografia; ao afirmarem um herói não reconhecido.”

Hoje, muitas conquistas das comunidades negras estão presentes em nossa sociedade. Existem desafios que vamos enfrentando com participação de grupos organizados ou não. A Pastoral Afro-brasileira, presente em todo o Brasil, celebra, mas também está empenhada em enfrentar os desafios presentes no mundo.  A Escravidão hoje atinge 29 milhões de trabalhadores em todo o mundo. Um relatório recém-divulgado pela fundação Walk Free aponta que 29 milhões de pessoas no mundo ainda trabalham sob o regime de escravidão.

Para o cientista político Leonardo Sakamoto, que é coordenador da ONG Repórter Brasil e membro da Comissão Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, a escravidão ocorre quando a dignidade ou a liberdade são aviltadas. Condição degradante é aquela que rompe o limite da dignidade. São negadas a essas pessoas condições mínimas mais fundamentais, colocando em risco a saúde e a vida.

A Mauritânia ocupa o primeiro lugar do ranking de escravidão global, que analisou 162 países e leva em consideração o casamento infantil e os níveis de tráfico humano. Haiti, Paquistão e Índia vêm em seguida. No Brasil, 125 anos após a abolição da escravatura, milhares de pessoas ainda são submetidas a trabalhos em situação degradante. No entanto, há avanço na erradicação da prática. A primeira política de contenção do trabalho escravo é de 1995 e, de lá para cá, 45 mil pessoas foram libertadas de locais onde havia exploração desumana da mão de obra. Tramita no Congresso Nacional uma Proposta de Emenda Constitucional para endurecer a lei. É a PEC do Trabalho Escravo e prevê o confisco de imóveis em que o trabalho escravo for encontrado e sua destinação para reforma agrária ou para o uso habitacional urbano.

Lucrativa, a escravidão moderna movimenta mais de US$ 32 bilhões, segundo a Organização Internacional do Trabalho. Estimativas da OIT também apontam que há 5,5 milhões de crianças escravas no mundo.

Como muito bem falou o Papa João Paulo II, aos afro-americanos, em 1992, em Santo Domingo: “A estima e o cultivo dos vossos valores Afro-americanos, enriquecerão infalivelmente a Igreja.”

Em outras palavras, a novidade que a Igreja quer e merece é a inclusão em sua Ação Evangelizadora, das riquezas culturais e espirituais que emanam do Patrimônio africano e afrodescendente.

O processo de Cidadania do povo negro é uma dimensão essencial da vida e da Missão da Nossa Igreja Católica Apostólica Romana. A Igreja Católica no Brasil, fiel à missão de Jesus Cristo, está presente nesses importantes acontecimentos por meio de seus representantes e de suas orações. Exorta a todo o Povo de Deus a colocar-se a serviço da vida e da esperança, “acolher, com abertura de espírito as justas reivindicações de movimentos – indígenas, da consciência negra, das mulheres e outros – (…) e empenhar-se na defesa das diferenças culturais, com especial atenção às populações afro-brasileiras e indígenas” (CNBB, Doc. 65, nº 59).

Pastoral Afro-brasileira da CNBB

Esses três santos dedicaram a vida a proteger e evangelizar os negros

Santa Rosa de Lima / Charles de Foucauld / São Pedro Claver

REDAÇÃO CENTRAL, 20 Nov. 22 / 08:00 am (ACI).- Hoje (20), é comemorado Dia Nacional da Consciência Negra. A seguir, a vida de três santos católicos que dedicaram suas vidas a proteger e a evangelizar os escravos negros na América e na África.

Santa Rosa de Lima

A primeira santa do continente americano, padroeira da América, das Índias e das Filipinas, dedicou especial atenção à evangelização de índios e negros durante sua vida, entre o final do século XVI e o início do século XVII.

Em seu livro Hechos de los Apóstoles de América, publicado pela editora Gratis Date, o padre José María Iraburu recorda que a caridade de santa Rosa de Lima, leiga dominicana, "deu atenção preferencial à evangelização dos índios e negros”.

“E não podendo realizá-lo pessoalmente, contribuiu com suas orações e sacrifícios, além de arrecadar esmolas para que pudessem ser formados seminaristas pobres”, disse.

São Pedro Claver, o "escravo dos escravos"

Nascido em 1580 em Verdú, Espanha, são Pedro Claver, padre jesuíta, viveu a maior parte de sua vida e morreu em Cartagena das Índias, Colômbia, cuidando e evangelizando negros que foram levados para o continente americano como escravos.

Cartagena das Índias foi no século XVII um dos principais portos de entrada de escravos trazidos para os territórios hispânicos.

O site da Companhia de Jesus, jesuítas, lembra que “com a ajuda de catequistas poliglotas, são Pedro Claver abordou em todos os navios negreiros que entravam no porto”.

Nos navios, com a ajuda de intérpretes, atendia os negros, alimentava, curava e evangelizava.

Ao fazer os votos perpétuos na Companhia de Jesus, são Pedro Claver assinou: Petrus Claver, aethiopum semper servus, que poderia ser traduzido como "Pedro Claver, escravo dos negros para sempre".

Estima-se que ele tenha batizado e evangelizado mais de 300 mil escravos durante as quatro décadas que viveu em Cartagena das Índias.

São Charles de Foucauld

O francês são Charles ou Carlos de Foucauld, canonizado em 15 de maio de 2022, via a escravidão como uma "monstruosidade" e passou seus anos como eremita na África libertando e evangelizando escravos nas mãos dos nômades tuaregues na virada do século XX.

René Bazin, o primeiro biógrafo de Charles de Foucauld, cita-o comprometendo-se a "trabalhar com todas as nossas forças para abolir a escravidão".

Fonte: http://www.acidigital.com/

Rei pobre

Jesus Cristo: Rei pobre | cebi

REI POBRE

 

 Dom Lindomar Rocha Mota

Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Nas proximidades em que Cristo é celebrado Rei do universo, o Papa Francisco avizinhou-lhe o dia do pobre. Parece contraditório, mas em Deus não há contradição. Como no infinito tudo se conecta, o início é igual ao fim. A estética da realeza, que já vinha mudando desde o Antigo Testamento, assumiu forma definitiva em Jesus Cristo. Da beleza e esplendor dos palácios marfíneos à própria beleza de Davi foi superada nos contornos descaracterizados do Servo que nos apresenta Isaias 53. 

Rei sem beleza, que muitos vieram ver, é a novidade gritante da escatologia profética. A condição estética da antiga realeza não vale mais, pois como continua nos informando Isaias 53,2 “Ele não tinha aparência (eídos) nem beleza (kállos) para atrair o nosso olhar, nem simpatia (dóxa) para que pudéssemos apreciá-lo.  

A entrada neste novo feitio produz violência ao conceito e ao sentido, mas não nega o desejo e a busca, pois, mesmo sem eídos, dóxa e kállos, todos desejam alcançar sua incalculável riqueza (Ef 3,8). 

A realeza de Jesus é outro tipo de advento. É outro modo pelo qual o belo contamina o mundo e ultrapassa o domínio das formas e da atração visual. 

O mundo do Novo Testamento é totalmente desprovido do “belo” ostensivo, como ressalta Gehard Nebel, em seu Das Ereignis des Schönen: “Davi e Salomão eram grandes reis, mas a arte busca sempre sua identificação com o poder da história terrena. Os galileus, entre os quais o Verbo de Deus se fez carne, são provincianos, sem grande cultura […], onde é impossível que o belo pudesse significar um grande advento”.  

A compreensão do belo sem o poder é alargada e se encontra com o desejo iminente dos Gregos que pediram: «Senhor queremos ver Jesus». Assim, é supriminda a contradição entre o Antigo e o Novo Testamento. É clara a expressão: «queremos ver!». Ela é um imperativo e serve para interpretar o que significaria beleza neste novo sentido. O kállon em seu autônomo modo de existir funda um novo estilo na apresentação de Jesus, capaz de atrair os olhares humanos e dos anjos, pois, como continua São Paulo aos Efésios: “os principados e autoridades no céu doravante, conhecem, graças a Igreja, a multiforme sabedoria de Deus”. O Rei pobre é novidade extraordinária que a Igreja revela até mesmo aos anjos. 

A transcendência do belo, produtor de interesse para os sentidos, evolui no pensamento cristão até aos nossos dias. Essa transcendência encontra uma ordem simétrica na evolução que vai das coisas belas à alma bela e avança na tradição latina, onde o belo é o constitutivo do ser, e não a forma. A atração é pela existência – razão pela qual o ser perfeitamente humano de Jesus atrai todos os olhares. 

Se continuarmos, entretanto, a buscar na evolução e o alargamento de kallòn, veremos o seu encostamento a ayatón, isto é, o belo e o bem; refletindo sobre a imagem bela nos colocamos em relação com a capacidade de fazer o bem, e deduzimos que o bem se torna visível, como beleza, naquele que está disposto ao amor. Em circunstâncias precisas, de fato, o belo é o bem, e sendo assim a procura por Jesus evoca uma realeza para além da disposição formal de uma pessoa. É a procura dAquele que é coligado com a prática do bem e o próprio Bem. Portanto, a identificação da Realeza de Jesus sobre todo o universo, com o pobre que se encontra entre os últimos de seus semelhantes, é adorável e real.

Reflexão para a Solenidade de Cristo Rei do Universo - Ano C

Evangelho do domingo - Jesus Cristo | Vatican News

O Evangelho nos fala que Cristo não só reuniu o Povo de Deus disperso, mas veio salvar o que estava perdido, isto é, convertendo os corações ao Pai, mostrando que ele é um rei que reina nos corações das pessoas, que essa é sua verdadeira vitória, que ele é o rei do amor, da paz, da vida!

Padre Cesar Agusuto, SJ – Vatican News

A primeira leitura nos fala da proclamação de Davi como rei de Israel. Mas por que ele foi feito rei? Qual sua autoridade? Ao governar a tribo de Judá, Davi mostrou sua grandeza. Agora as tribos de Israel querem seu governo. Isso nos mostra que, por detrás de um povo unido está a lucidez e o temor de Deus de um grande líder. A autoridade de Davi estava no estabelecimento da justiça, da paz, da segurança e pela convivência com os diferentes.

Neste domingo celebramos Jesus Cristo, Rei do Universo. Como será, como é a realeza de Cristo? Como a de Davi? Com essa autoridade? Sim e muito mais.  Davi foi um leve sinal do Rei Jesus Cristo. O Evangelho nos fala que Cristo não só reuniu o Povo de Deus disperso, mas veio salvar o que estava perdido, isto é, convertendo os corações ao Pai, mostrando que ele é um rei que reina nos corações das pessoas, que essa é sua verdadeira vitória, que ele é o rei do amor, da paz, da vida!

A cena do Calvário, onde sobre a cabeça de Jesus, pregado na cruz, está também pregado nela uma taboazinha onde se lê: Jesus Nazareno, Rei dos Judeus, nos mostra alguns diálogos entre o Senhor e dois bandidos. Sim, o Senhor, rei do Universo está sendo supliciado como um bandido, no meio de bandidos, por pessoas que se diziam cumpridoras da justiça.

Para um dos malfeitores, Jesus é um derrotado e incapaz de realizar o maior desejo deles, escapar daquele suplício. Para o outro, não. Em meio a tantas desilusões, decepções e desesperanças surge um sentimento de esperança. Crê no poder de Jesus. Não olha para seu passado de crimes, de pecados e nem se deixa impressionar pela fragilidade de seu ilustre companheiro de sorte. Ao contrário, é o único a reconhecer-se pecador e a professar sua fé em Jesus. “Jesus, lembra-te de mim quando entrares no teu reino”. Ele não pede perdão, não procura justificativas, mas confessa-se pecador e professa sua fé no poder amoroso do Rei Jesus. Na nossa vida, o importante não é ficarmos olhando para o nosso passado, para o que fizemos, mas reconhecermo-nos pecadores e cremos na misericórdia e no poder de Jesus. Isso basta!

Por seu lado, Jesus age como agiu o pai do “filho pródigo”. Imediatamente o Senhor, sem palavras de correção e, muito menos de condenação, diz: “...ainda hoje estarás comigo no Paraíso”. Ele não deixa seus súditos passarem vergonha!

Ele nos amou e continua nos amando. É o rei do amor! Como cidadãos do Reino de Cristo somos levados a viver no Amor. Como nos dizem as Sagradas Escrituras, o amor de Cristo nos impele a que nos amemos uns aos outros, como o Senhor nos amou.

Vivamos como cidadãos do Reino de Cristo, praticando a justiça, o amor, a paz e o perdão.

sábado, 19 de novembro de 2022

««Porque Choras?» (Jo 20,13)»

Captura: YouTube

««Porque Choras?» (Jo 20,13)»

13 De Novembro De 2022 | By Ecclesia

Que chorem os que não têm a esperança da ressurreição; não é a vontade de Deus que lhes tira essa esperança, mas a dureza daquilo em que acreditam. Tem de haver uma diferença entre os servos de Cristo e os pagãos. E essa diferença é a seguinte: estes choram os seus julgando-os mortos para sempre; desse modo, não conseguem pôr fim às suas lágrimas, não encontram descanso para a tristeza. […] Mas para nós, servos de Deus, a morte não é o fim da existência, mas apenas o fim da nossa vida. Dado que a nossa existência será restaurada por uma condição melhor, que a chegada da morte varra, portanto, todas as lágrimas. […]

A nossa consolação será tanto maior quanto acreditamos que as boas ações que fazemos terão grandes recompensas depois da morte. Os pagãos têm a sua consolação: para eles a morte é um repouso para todos os males. Como pensam que os seus mortos estão privados de fruir da vida, pensam também que ficam privados da faculdade de sentir e libertos da dor das duras e contínuas tribulações que se sofrem nesta vida. Nós, porém, assim como devemos ter um espírito mais elevado por causa da recompensa esperada, devemos também suportar melhor a dor graças a essa consolação. […] Os nossos mortos não foram enviados para longe de nós, mas apenas antes de nós; a morte não os tragará, a eternidade recebê-los-á.  

Santo Ambrósio de Milão (c. 340-397)
Sobre a morte de seu irmão, I, 70-71
Fonte: Evangelho Cotidiano

Fonte: https://www.ecclesia.org.br/

Das Cartas de São Roque González, presbítero

SS. Roque, Afonso Rodrigues e João Castillo | liturgiadashoras

Das Cartas de São Roque González, presbítero

(Lit. Annuae P. Rochi González pro anno 1615 [s. d.] datae ad P. Provincialem Petrum Oñate. Ed. [in lingua hispanica] in: Documentos para la Historia Argentina, vol.20, Buenos Aires 1920, pp. 24-25)            (Séc.XVII)

Espero que esta cruz seja o princípio
para se levantarem muitas outras

Voltando pouco depois para lá encontrei um local onde podia ficar: uma pequena choupana perto do rio; e, passado algum tempo, ofereceram-me uma palhoça maior. Dois meses mais tarde, o Padre Reitor enviou o Padre Diogo de Boroa. Este chegou finalmente na segunda-feira de Pentecostes. Com muita consolação considerávamos como o amor de Deus nos juntava naquelas terras tão longínquas. Dividimos entre nós o limitado espaço da nossa morada, com um tabique feito de canas. Ao lado tínhamos uma capela, pouco maior que o próprio altar em que celebrávamos a Missa. Por eficácia deste supremo e divino sacrifício, em que Cristo se ofereceu ao Pai na Cruz, começou ele a triunfar ali, pois os demônios que antes costumavam aparecer a estes índios não se atreveram a aparecer mais, como testemunhou algum deles. Resolvemos continuar na mesma palhoça, embora tudo nos faltasse. O frio era tanto que nos custava adormecer. O alimento também não era melhor: milho ou farinha de mandioca, que é a comida dos índios; e porque começamos a buscar pelos bosques umas ervas de que se alimentam os papagaios, com este apelido nos chamavam.

Prosseguindo as coisas deste modo, e temendo os demônios que, se a Companhia de Jesus entrasse nestas regiões, eles perderiam em breve o que por tanto tempo tinham possuído, começaram a espalhar por todo o Paraná que nós éramos espiões e falsos sacerdotes, e que trazíamos a morte em nossos livros e imagens. Divulgou-se isto a tal ponto que, estando o Padre Boroa a explicar aos índios os mistérios da nossa fé, eles temiam aproximar-se das sagradas imagens, com receio de algum contágio mortífero. Mas estas ideias foram-se desfazendo pouco a pouco, sobretudo quando viram com os próprios olhos que os nossos eram para eles como verdadeiros pais, dando-lhes de bom grado quanto tinham em casa e assistindo-os nos seus trabalhos e enfermidades, de dia e de noite, auxiliando-os não só em proveito das suas almas, o que é certamente mais importante, mas também dos seus corpos.

E assim, quando vimos consolidar-se o amor dos índios para conosco, pensamos em construir uma igreja, que, embora pequena e modesta e coberta com palha, apareceu a esta gente miserável como um palácio real, e ficam atônitos quando levantam os olhos para o teto. Ambos tivemos de trabalhar com barro para fazer o reboco e para ensinar os indígenas a fazer tijolos. Deste modo conseguimos ter a igreja pronta para o dia de Santo Inácio do ano passado de 1615. Neste dia celebramos lá a primeira missa e renovamos os nossos votos. Houve ainda outros ritos festivos, quanto era possível segundo a pobreza do lugar. Também quisemos organizar umas danças, mas estes rapazes são tão rudes que não conseguiram aprendê-las. Levantamos depois uma torre de madeira e pusemos nela um sino que a todos encheu de admiração, pois nunca tinham visto nem ouvido semelhante coisa. Também foi ocasião de grande devoção uma cruz que os próprios indígenas levantaram: tendo-lhes nós explicado por que razão os cristãos adoram a cruz, eles se ajoelharam conosco para adorá-la. Desconhecida até agora nestas terras, espero em nosso Senhor que esta cruz seja o princípio para se levantarem muitas outras.

Por que nunca devemos ir para a cama zangados: a explicação esclarecedora de São Bento

Gorodenkoff | Shutterstock
Por Marzena Devoud

Se hoje a ciência o confirma, São Bento já tinha compreendido isso há mais de quinze séculos, justificando este conselho com uma explicação particularmente luminosa. Confira aqui:

Talvez já o tenha ouvido antes: é melhor não ir para a cama zangado com alguém próximo de si. Se deixar arrastar uma briga antes de ir dormir, isso criará um ressentimento mais duradouro. Embora os pesquisadores de hoje confirmem que o sono desempenha de fato um papel na ancoragem de sentimentos negativos no cérebro, São Bento, monge nascido há quinze séculos, já tinha dado este conselho, com uma explicação muito mais profunda e esclarecedora.

Voltar à paz antes do pôr-do-sol

Quando começou a fundar mosteiros na Itália, nomeadamente o de Subiaco e Monte Cassino em 529, São Bento notou a falta de regras comuns que estabelecessem uma disciplina de vida para os irmãos. Por volta de 530, decidiu escrever a Regra para guiar os seus discípulos e orientar a sua espiritualidade: marcos que ele próprio seguiu pela primeira vez. Entre uma longa lista de conselhos espirituais expressos, chamados “instrumentos para agir bem”, São Bento dá este: em caso de conflito, é preciso respeitar esta regra de “pôr-se em paz antes do pôr-do-sol quando se tem tido um desacordo”. Porque este gesto de oferecer e receber perdão permite redescobrir uma relação de verdade, e aprender a amar e a ser amado.

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Como toda a vida, a vida monástica de clausura não carece de aborrecimentos e frustrações diárias. Face a estas dificuldades na gestão da interioridade, estes poucos “instrumentos para agir bem” recomendados pelo famoso santo são preciosos:

“Não preferir nada ao amor de Cristo”
“Não queira ser chamado de santo antes de ser um; primeiro torne-se um”
“Nunca perca a esperança na misericórdia de Deus”
“Volte à paz antes que o sol se ponha”

Este último conselho concreto foi retomado à sua maneira pelo Papa Francisco em 2013: “pode acontecer de os pratos voarem, palavras fortes são trocadas, mas meu conselho é não terminar o dia sem fazer as pazes”. E ao falar aos religiosos na Catedral de São Rufino em Assis, Francisco voltou a um tema próximo do seu coração: o de “reconhecer os próprios erros e pedir perdão, mas também aceitar as desculpas dos outros perdoando-as”. Ele dirigiu este apelo tanto ao clero como às famílias. “Nunca terminem o dia sem fazer as pazes”, recomendou ele.

Viver cada dia como se fosse o último

Mas o perdão não é uma coisa fácil, por vezes mesmo para além do reino das possibilidades. Para praticá-lo, São Bento dá este conselho que muda radicalmente a perspectiva: “Vive cada dia como se tivesses a morte diante dos teus olhos, e um dia terás razão”. Segundo ele, para se conseguir uma vida feliz, é preciso ter o cuidado de conduzi-la bem, amando-a no essencial. E para entrar na vida eterna, como o monge escreveu no seu Prólogo:

O Senhor diz: Quem deseja a Vida? Quem deseja a felicidade? Se ouvires, responda: “eu…”.

Assim, é apropriado viver cada dia como se fosse o último, lembrando sempre que a graça é dada a todos. E quando é dada, conduz a pessoa “com um coração expandido, à doçura indizível do amor”. “E alcançará”, conclui a Regra.

Como São Bento assinala, o pôr-do-sol simboliza a passagem da morte e da escuridão para a ressurreição de Cristo. “Desejar a vida eterna com todo o ardor espiritual”, para ele, significa estar constantemente orientado para o objetivo final: ‘ter a ameaça de morte diante dos olhos todos os dias’, pensar que esta vida tem um fim, permite viver plenamente a partir de agora, na sua essência.

Adotar um olhar de amor

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Perdoar e estar em paz é definitivamente “rasgar a página em que se escreveu com malícia ou raiva a conta contra o seu vizinho”, disse o Padre Henri Caffarel, fundador das Equipes de Notre-Dame. Perdoar é finalmente mudar a visão de um sobre o outro a fim de adotar uma visão do amor. É o momento do despojamento total. Perdoar é encontrar em Cristo, aquele que morreu perdoando os seus tormentos, a energia para falar do fundo do seu coração uma verdadeira palavra que liberta e abre à reparação, ao amor verdadeiro e ao eterno.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF