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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

A bebê que ia morrer, mas fez um médico mudar de opinião sobre o aborto

SURAKIT SAWANGCHIT | Shutterstock
Por Mar Dorrio

O impactante testemunho dos pais que, durante a gravidez, ficaram sabendo que a filhinha que eles tanto esperavam não tinha grandes chances de sobreviver. Eles contam o que aconteceu com a pequena Elisa e a mudança que ela provocou em um dos médicos.

Elisa era o terceiro bebê que Patricia e Antón estavam esperando, em uma casa onde duas irmãs mais velhas estavam prontas para recebê-la com beijos.

Entretanto, na terceira ecografia, todos os sonhos da família foram um pouco abreviados, porque os médicos lhes disseram que algo não estava certo. Eles viram algo anormal na translucência nucal, algo associado à doença cardíaca ou a uma variação cromossômica. E, após alguns testes, deram o diagnóstico: síndrome de Edwards ou trissomia do 18. Trata-se de uma condição não compatível com a vida.

Mas era absolutamente claro para os pais de Elisa que sua filhinha morreria sozinha quando os portões do céu estivessem prontos para recebê-la.

Entretanto, eles não conseguiram entender porque deixaram esta decisão para o céu e não para a terra, “economizando” tempo, sofrimento e um resultado inevitável. Mas Elisa, com sua curta vida, veio para nos ensinar a confiar no céu e em suas maneiras de fazer as coisas.

Ogros e fadas madrinhas

Os ogros e as fadas madrinhas desta história usavam casacos brancos. O primeiro disse ao casal que, se a bebê nascesse ali, não faria parte de seus protocolos, então eles não fariam nada por ela.

Parece inacreditável que, hoje, uma mãe tenha que ouvir estas palavras. Mas aconteceu.

Graças a Deus, que faz mágica com linhas tortas, Elisa desenvolveu uma condição cardíaca muito complexa: a tetralogia de Fallot.

O cardiologista explicou-lhes que havia muito poucas chances de ela sobreviver. Mas ele também lhes disse que já tinha outros casos como este que em que os pacientes conseguiram superar a doença. Assim, graças ao cardiologista, eles chegaram ao Hospital da Maternidade e da Criança em La Coruña, onde estavam as fadas madrinhas da história de Elisa.

As palavras daquele médico

Lá, com muito medo após a experiência anterior, a mãe se encontrou com o chefe dos recém-nascidos. Uma luz de esperança se acendeu. “Foi incrível, desde o primeiro minuto! Ele me deixou claro que minha filha não era um coração, ela não era uma trissomia, ela era Elisa, um bebê, e que eles iriam lhe dar o melhor durante o tempo que ela estivesse conosco”, disse Patricia.

Ela prossegue: “Estas palavras foram realmente uma carícia para a alma, em comparação com as ameaças dos ogros ferozes que nos disseram que não iriam fazer nada por ela. Os ogros não me diziam nada sobre o que viam nas ecografias, não me mostravam a tela e, como era um caso raro, enchiam o consultório de residentes”.

Mas vamos voltar às fadas nesta história…

Cuidados paliativos: um tratamento personalizado

“Na segunda reunião, esteve presente a pediatra de cuidados paliativos. Há poucas destas fadas madrinhas. Quando entrou na sala, ela estava totalmente informada sobre nossa família: sabia os nomes das irmãs da bebê, sabia onde vivíamos, nossa situação, tratamento absolutamente personalizado. Ela nos explicou, da maneira mais carinhosa que pôde, as opções que tínhamos: ‘Há possibilidades de não chegarmos até o parto. Se conseguirmos, ela provavelmente não sobreviverá, e se conseguir, ela sobreviverá por alguns minutos'”, disse Patrícia.

Elisa venceu todas as probabilidades. Ela nasceu em 20 de março. Foi o primeiro bebê com trissomia do cromossomo 18 a nascer neste século neste hospital, uma instituição de referência na Espanha. As pessoas ficaram surpresas quando a viram: ela era muito pequena, mas muito, muito bonita.

A consulta de alta foi muito importante, como narra a mãe:

“Mais do que nos dar conselhos sobre como cuidar de Elisa em casa, falamos sobre como ela iria morrer. Eles me explicaram como ia ser. O médico me disse: ‘Sua filha vai morrer da doença cardíaca, não da trissomia. A morte vai ser muito doce, não se preocupe. Mas cabe a você escolher como deseja que sejam esses momentos finais. Se você quiser chamar a ambulância e levá-la ao hospital quando ela começar a ficar doente, os médicos não poderão fazer nada, porque não há nada que eles possam fazer. Mas eles terão que ativar um protocolo e a separarão de você, de modo que você não poderá acompanhar sua filha em seus últimos momentos. Por outro lado, se você vir que ela está morrendo e quiser acompanhá-la e ficar com ela até o final, é melhor não ativar todos esses protocolos”. Por mais difícil que pareça, para mim foi o melhor conselho que me foi dado. Fui capaz de fazer uma escolha consciente. Caso contrário, não sei o que eu teria feito.”

No sábado, 22 de junho, percebi que as coisas estavam começando a dar errado. Quando a enfermeira do atendimento a cuidados paliativos em domicílio me chamou e me perguntou se estava tudo bem, eu sabia que não estava, mas eu disse que sim, porque sabia que queria acompanhá-la até o fim, que queria ser aquela que, de um braço para o outro, a passava para sua Mãe do Céu”.

E assim Elisa morreu, como o pequeno fósforo: devagar, suavemente, gentilmente.

O médico que os atendeu admitiu que, até conhecer Elisa, sempre recomendou a interrupção da gravidez em tais casos. A pequena Elisa ensinou ao médico – agora chefe dos cuidados neonatais no Hospital Infantil de La Coruña – que sempre há outro caminho.

Durante o pouco tempo que viveu, Elisa recebeu muito carinho da família.
Patricia Criscuolo
Fonte: https://pt.aleteia.org/

Hoje é celebrada santa Bibiana, padroeira dos que sofrem de epilepsia e dores fortes

Santa Bibiana | ACI Digital
02 de dezembro

REDAÇÃO CENTRAL, 02 Dez. 22 / 09:20 am (ACI).- A Igreja Católica celebra hoje (2) santa Bibiana, virgem e mártir romana do tempo do imperador romano Juliano II, o Apóstata (século IV). Santa Bibiana é a padroeira dos epilépticos e intercessora contra a dor física, principalmente aquelas relacionadas à cabeça, e é invocada quando alguém sofre convulsões.

Um sério revés

Os cristãos chamavam Juliano de 'apóstata' porque quando subiu ao poder rompeu com o regime estabelecido por seu predecessor, Constantino, que oficializara o cristianismo com o Edito de Milão, e por ter renegado publicamente o cristianismo, declarando-se pagão.

O sucessor de Constantino tentou restabelecer os antigos cultos do império e iniciou uma nova perseguição.

Bibiana

Pouco se sabe sobre a vida de santa Bibiana, mas seu nome está registrado no Liber Pontificalis ou Livro dos Pontífices, onde consta que o papa são Simplício (século V) ordenou a construção de uma basílica dedicada a ela em Roma, onde suas relíquias repousam até hoje.

Santa Bibiana nasceu por volta do ano 347 no ambiente sereno de uma família cristã. Seus pais eram Flaviano, prefeito de Roma, e Dafrosa, uma mulher pertencente à nobreza romana. Bibiana tinha uma irmã chamada Demétria.

Provada na dor

Com a ascensão de Juliano II ao poder em 361, Flaviano, pai de Bibiana e fervoroso cristão, foi deposto de seu cargo e Aproniano, um pagão muito próximo do novo imperador, foi nomeado em seu lugar.

O prefeito, forçado a retirar-se da vida pública, dedicou-se então a cuidar dos necessitados e perseguidos, além de garantir que os cristãos sacrificados no martírio pudessem sempre ter um enterro digno, de acordo com o mandato da caridade cristã.

Assim que Aproniano soube dessa tarefa assumida por seu antecessor, mandou matá-lo.

Após a morte de Flaviano, Dafrosa e suas duas filhas se desfizeram de seus bens e foram viver na clandestinidade. As três ficaram escondidas, dedicadas à oração constante e vivendo com modéstia. Os tempos eram ruins e tinham que estar preparadas para enfrentar o que viesse.

"Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra" (Gn 4,10)

Apesar do esforço para permanecerem escondidas, as mulheres foram encontradas e obrigadas a renunciar à fé em Cristo. Como se recusaram a fazê-lo, Aproniano executou Dafrosa primeiro, que foi decapitada em 6 de janeiro de 362.

Depois, o prefeito fez uma nova tentativa de forçar Bibiana e Demétria à apostasia. Ele as trancou em uma cela sem nenhuma comida. Demétria morreu de fome antes que pudesse ser submetida a outra provação.

Bibiana foi levada à presença de Aproniano que, para enfraquecer sua vontade, mandou-a para um prostíbulo para ser prostituída. O plano fracassou, pois nenhum homem conseguiu tocá-la. Aproniano ordenou, então, que Bibiana fosse atada a uma coluna e flagelada até a morte.  

Coroada por Cristo

Cheia de chagas por todo o corpo, Bibiana entregou sua alma a Deus no altar do martírio, por amor à fé. Embora os soldados tenham jogado seu corpo aos cães, um grupo de cristãos o resgatou e o sepultou junto aos túmulos de seus pais e de sua irmã, bem perto da casa onde ela havia morado.

Pouco tempo depois, quando terminou a perseguição, os cristãos fizeram do lugar um local de culto, onde iam rezar. Décadas depois, o papa Simplício ordenou a construção in situ da atual basílica dedicada à santa, que fica no Monte Esquilino.

Fonte: http://www.acidigital.com/

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Da Grécia Antiga: 3 peneiras para crianças (e adultos) não serem fofoqueiros

sanjagrujic | Shutterstock
Por Cerith Gardiner

O conselho de Sócrates tem mais de 2.000 anos, mas continua valendo até hoje.

As fofocas existem desde tempos imemoriais. A única diferença em relação a hoje em dia é que agora existem mais maneiras ainda de espalhá-las. E, como sabemos, espalhar fofocas não é só insensível e desnecessário: pode ser altamente danoso.

Isto é especialmente verdadeiro para os adolescentes, que, ao serem vítimas de fofocas e bullying, podem cair na depressão e até mesmo no extremo do suicídio.

Para ajudar a cortar o mal pela raiz, precisamos encorajar os nossos filhos a não serem fofoqueiros de modo algum. É claro que isto pode e deve ser feito mediante o bom exemplo, mas também podemos recorrer aos conselhos de Sócrates, o filósofo grego nascido quase 500 anos antes de Cristo.

Redes sociais em todo o mundo têm compartilhado um relato em que Sócrates estabelece um sistema de três peneiras para determinar se vale ou não a pena divulgar determinadas notícias.

A conversa de Sócrates com seu interlocutor teria sido assim:

– Antes de contar qualquer coisa sobre os outros, é bom parar para filtrar o que se quer com isso. Eu o chamo de teste das três peneiras. A primeira peneira é a VERDADE. Você já verificou se o que vai me dizer é verdadeiro?

– Não, acabei de ouvir.

– Muito bem! Portanto, não sabe se é verdade. Continuemos com a segunda peneira, a da BONDADE. O que você quer me dizer sobre o meu amigo é bom?

– Ah, não, pelo contrário!

– Então você quer me contar coisas ruins sobre ele, mas nem sequer tem certeza de que são verdadeiras? Talvez ainda possa passar pelo teste da terceira peneira, a da UTILIDADE. Será que vai ser útil que eu saiba o que você vai me dizer sobre este amigo?

– Não, com certeza não vai.

– Então, o que você ia me dizer não é verdade, não é bom e não é útil. Por que razão, então, você queria me contar isso?

Não temos como saber se a conversa sobre as três peneiras foi literalmente essa, mas é um guia simples e muito útil para as crianças – e para os adultos – avaliarem as próprias palavras.

Aliás, o Papa Francisco também já fez inúmeras recomendações para todos nós não sermos fofoqueiros:

“As fofocas são uma coisa ruim. No começo pode até parecer agradável e divertido, mas no final enche os nossos corações de amargura e nos envenena”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Atitudes no tempo do advento para a pessoa cristã: vigiar e orar

Advento, cujo significado refere-se a suplica por uma ajuda ao 
Senhor Jesus Cristo, para viver o seu amor | Vatican News 

"Os Padres da Igreja elaboraram reflexões sobre o tempo do Advento, de modo que é fundamental aprofundar-se em alguns pontos de suas doutrinas em vista da realidade atual. Eles seguiram as palavras do Senhor sobre a necessidade de vigiar e de orar, para que assim o nascimento do Senhor encontrasse os seus discípulos com ações que glorificassem a Deus e também preparassem as suas comunidades, ao encontro definitivo com Ele."

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

O tempo do advento aponta para o santo Natal, o nascimento de Jesus Cristo na realidade humana. É um tempo especial, espécie de vento novo, que traz a novidade da vida sobre a morte, da alegria sobre a tristeza, pois o Senhor Jesus quer nascer nos corações das pessoas e do mundo. Advento é uma palavra latina: adventus-us, cujo significado é chegar, vinda, período de paz, preparação ao natal[1]. Seguidora do Senhor, a Igreja ouve a palavra de Cristo em referência ao vigiar e orar (cfr. Mt 26,41) para que este tempo seja cheio de graça, de paz e de amor para a chegada do Senhor nos corações humanos, na vida familiar, comunitária e social.

Os padres da Igreja elaboraram reflexões sobre o tempo do advento, de modo que é fundamental aprofundar-se em alguns pontos de suas doutrinas em vista da realidade atual. Eles seguiram as palavras do Senhor sobre a necessidade de vigiar e de orar, para que assim o nascimento do Senhor encontrasse os seus discípulos com ações que glorificassem a Deus e também preparassem as suas comunidades, ao encontro definitivo com Ele.

A espera pela vinda de Cristo

Santo Efrém, padre da Igreja, século IV, da Síria, afirmou que os justos e os profetas esperaram a vinda de Cristo, porque eles acreditavam que Ele revelar-se-ia nos seus dias, assim também no atual momento cada fiel deseja recebê-lo, cada um no seu próprio tempo, do momento que ele não manifestou o dia da sua vinda. Ele fez isso, porque as pessoas não se detivessem somente ao fato e à hora, sendo ele poderoso nos tempos e nos momentos. Ele deu importância aos seus sinais, às suas palavras de vigiar e de orar para que assim todas as gerações e todos os tempos acreditassem que a sua vinda viria no seu tempo tendo uma espera frutuosa de obras boas para a sua chegada[2].

A revelação dada aos seres humanos

A Carta a Diogneto, escrito do séculos II, afirmou que nenhuma pessoa viu, nem conheceu a Deus, mas ele próprio se revelou aos seres humanos (Jo 1,18). Deus e Criador do universo, que fez todas as coisas e as estabeleceu em ordem mostrou-se amigo de todas as pessoas, paciente e amoroso, porque somente ele é bom. Quando por meio do Filho amado revelou e manifestou o que tinha estabelecido desde o princípio, concedeu às pessoas participar dos seus benefícios e compreender coisas que nunca se teriam jamais esperado, o seu amor para com a humanidade[3].

A importância do óleo nas virgens previdentes pela vinda do noivo, Jesus

O personagem Pseudo Macário, padre do deserto, final do século IV, falou da importância de levar consigo o óleo como as virgens previdentes fizeram em vista da demora da chegada do noivo, do Senhor Jesus, para não cair no erro das imprevidentes que não levaram o óleo consigo de modo que não puderam entrar na sala de festa do noivo, no Reino de Deus (Mt 25,1-13). As virgens previdentes acolheram nas vasilhas o óleo, a graça do Espírito Santo, as obras de caridade, e assim entraram com o esposo na sala nupcial, no céu, enquanto as outras, fechadas na sua natureza, não vigiaram e nem se preocuparam de fazer obras de caridade, de colocar óleo nas vasilhas, vivendo uma vida desligada da doação, do amor. Elas foram excluídas da sala nupcial do Reino, porque elas não foram agradáveis ao esposo celeste, o Senhor e nem se preocuparam do óleo, numa vida desligada do amor aos outros e a Deus. Mas aquelas que se dedicaram ao Senhor, à Igreja foram agradáveis ao esposo espiritual, do Espírito do Senhor com o óleo de exultação[4].

A importância da vigilância

Hesíquio Presbítero, século V, afirmava que a vigilância é uma atitude do coração, estranha a todo o pensamento, mas que invoca Cristo Jesus, Filho de Deus. A vigilância é o concentração de uma forma contínua do pensamento e assunção de uma atitude de estar à porta do coração, um modo de viver, como o advento, cujo significado refere-se a súplica por uma ajuda ao Senhor Jesus Cristo, para viver o seu amor. A oração precisa da vigilância como a chama tem a necessidade da lâmpada para dar a luz[5].

As lamparinas acesas: obras de caridade

São Cipriano, bispo de Cartago, do século III, afirmou a necessidade na pessoa de ter as lamparinas acesas com práticas de obras de caridade assim como no tempo dos apóstolos, pois as pessoas vendiam os seus bens, ofereciam aos apóstolos os lucros da venda dos seus bens para que tudo fosse distribuído aos pobres (cfr. At 2,42-44).

As pessoas são chamadas a vigiar no sentido do cumprimento dos preceitos do Senhor, para estar sempre prontos de modo que quando Ele vier e bater ao coração, logo a porta será aberta. Bem-aventuradas as pessoas que o Senhor à sua chegada, encontrará vigilantes (cfr. Lc 12,35-37). O fato é que o Senhor encontre os seus discípulos com as luzes acesas quando chegar no dia da partida. A luz da pessoa brilhe sobre suas boas obras e ilumine o caminho para a luz do eterno esplendor. A Igreja espera com zelo e vigilância a vinda improvisada do Senhor, através dos mandamentos e preceitos do Senhor, para que assim o fiel não seja pego de surpresa pelo sono enganador do demônio, mas ele reine como servo vigilante do Cristo Senhor, triunfante[6].

A vida presente é uma viagem

São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, séculos IV e V, afirmou que os fiéis que seguem o Senhor são caminhantes e peregrinos, porque a vida presente é uma viagem. É impossível dizer que a pessoa tenha esta ou aquela cidadania, pois nesta vida não há nenhuma cidadania, mas a pessoa a terá somente nos céus. O fato é que a realidade presente é um caminho. Muitos vão acumulando dinheiro, outros guardam ouro e jóias, sabendo que a vida do fiel é uma pousada de modo que a pessoa não se apegue demais nela, porque tudo passa e a vida do fiel leve-a na cidade do alto[7].

A atitude da pessoa cristã

São Basílio, bispo de Cesaréia, do século IV tinha presente o agir do cristão que consiste na fé através do amor (cfr. Gl 5,6). Este Padre da Igreja levantou perguntas, o que seria próprio do amor, senão aquele de guardar os mandamentos de Deus com o fim de dar glória ao Senhor. O que é o amor ao próximo? É a não busca das coisas próprias, mas aquelas daquele que se ama (cfr. 1 Cor 13,5) em benefício da alma e do corpo. O cristão é chamado a amar os outros, assim como Cristo os amou (cfr. Ef 5,2). É ver sempre o Senhor diante do próximo (cfr. Sl 15, 16,8). É próprio do cristão, vigiar todo o dia e toda hora (cfr. Mt 25,13) e de estar pronto a cumprir perfeitamente aquilo que é agradável a Deus (cfr. Mc 13,34), sabendo também que na hora, em que a pessoa não pensar, o Senhor virá[8]

O tempo do advento visa obras de caridade

São Gregório Magno, papa de 590 a 604, afirmou que o tempo do advento impulsiona as pessoas a fazer obras boas de caridade. O que será a pastagem das ovelhas se não a alegria interior de um paraíso verdejante? Será a passagem dos eleitos e das eleitas à presença da face de Deus, no qual o coração se nutre do alimento da verdadeira vida. O Papa convidou os fiéis para que buscassem estas pastagens, onde os participantes se alegrarão com a reunião festiva de tantos eleitos e eleitas. Esta alegria de quem participará à festa seja para todos um convite. O Papa tinha presentes à necessidade de acender o fogo na alma das pessoas para que fosse reavivada a fé nas coisas que sempre se acreditou, o desejo humano seja inflamado pelas realidades celestes. É preciso amar a Deus e às pessoas em tal modo que o desejo humano é a unidade com a pátria celeste[9].

O advento é um tempo de preparação ao santo natal em vista do nascimento do Senhor Nosso Jesus Cristo na realidade humana. Ele alude à primeira vinda do Salvador, mas também a segunda vinda para as nossas vidas, de modo que é preciso viver o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A alusão é dada também à vida eterna, preparada neste mundo por obras de caridade, de modo que é preciso vigiar e orar.

[1] Cfr. Avvento. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 157.

[2] Cfr. Efrem Siro. Commento sul Diatessaron, 18,17. In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa, a cura di Giovanna della Croce, presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, pg. 380.

[3] Cfr. A Carta a Diogneto, 8, 5-11. In: Padres Apologistas. São Paulo, Paulus, 1995, pgs. 25-26

[4] Cfr. Pseudo-Macario, Omelie 4,5-6. In: Nuove Letture dei giorni, testi dei padri d´oriente e d´occidente per tutti i tempi liturgiciScelta a cura dei fratelli e delle sorelle della Comunità di Bose. Magnano (BI), Edizioni QIQAJON, Comunità di Bose, 2012, pgs. 17-18.

[5] Cfr. Esichio Presbitero, A Teodulo 5-6, 14-18, 102, In: Idem, pgs. 18-19.

[6] Cfr. Cipriano di Cartago, L´Unità della Chiesa, 26-27. In: Idem, pgs. 13-14. Ver também: Cipriano de Cartago. Unidade da Igreja, 26-27. SP, Paulus, 2016, pgs. 154-155.

[7] Cfr. Giovanni Crisotomo, Omelia su Eutropio2,5-6. In: Idem, pgs. 14-15.

[8] Cfr. Basilio di Cesarea, Regole morali80,22. In: Idem, pgs. 15-16.

[9] Cfr. Gregorio Magno, Omelie sui vangeli I, 14,5-6. In: Idem, pgs. 20-21.

Pronunciamento de Dom Alberto Arcebispo de Belém

Dom Alberto Taveira | arquidiocesedebelem

Pronunciamento de Dom Alberto Arcebispo de Belém

 

Na manhã de hoje, 30 de novembro, o Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, tornou público o comunicado que recebeu do Dicastério para a Doutrina da Fé, órgão máxima da Igreja Católica para julgamentos de denúncias contra o clero, que após uma longa investigação de denúncia contra o Arcebispo de Belém, ocorridas no ano de 2020, enfim chegou a conclusão com a afirmação de sua inocência, e que tal decisão torna o processo encerrado de forma definitiva.

Trata-se de dois processos que ocorreram de forma paralelas e independentes, que surgiram por meio de denúncias caluniosas no ano de 2020, tanto no Ministério Público do Estado do Pará, quanto para Santa Sé. O primeiro encerrou ainda em 2021, e o segundo, constituído pela Santa Sé, encerrou no dia 28 de outubro de 2022, porém, só no último dia 26 de novembro que o Arcebispo recebeu o documento declarando o processo encerrado definitivamente.

Veja o pronunciamento do Arcebispo na íntegra:

“Humilhai-vos, pois, debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele vos exalte no tempo oportuno. Confiai-lhe todas as vossas preocupações, porque ele tem cuidado de vós.” (1Pd 5, 6-7).

Caríssimos Irmãos e irmãs,

Por graça da misericórdia de Deus fui constituído Arcebispo de Belém, Igreja que me acolheu de coração e braços abertos, desde a minha posse. Durante estes anos, muitas alegrias e esperanças, assim como muitas experiências da Cruz e da dor, vividas com serenidade, debaixo do manto protetor da Virgem Maria. Vim para servir por obediência, tenho me esforçado para ser desapegado e esvaziado de mim mesmo, para que, em plena fidelidade a Cristo, esta Igreja que vive em Belém, pastores e fiéis, continue a ser obediente ao mandato missionário de Cristo, “para a vida do mundo” (Cf. Jo 6,51), e o amor, fruto da verdade crucificada, faça ressuscitar todos nós da morte do nosso pecado, de nossas misérias pessoais e sociais, de nossas injustiças e maldades.

Hoje tenho o dever de dirigir-me a todos com imensa alegria e gratidão no coração, após o encerramento do doloroso processo suscitado por acusações feitas contra a minha pessoa. Há pouco mais de um ano tive a alegria de receber a decisão de arquivamento de todos os procedimentos levados a efeito junto às autoridades públicas competentes, após uma longa e dolorosa investigação, na qual foram ouvidas muitas pessoas, com a comprovação da falta de provas contra mim.

Entretanto, foi iniciado um processo canônico na Santa Sé, em decorrência das acusações a ela enviadas, o que motivou o adiamento dos esclarecimentos que agora faço. No dia 28 de outubro de 2022, foi assinada a sentença definitiva por parte do Colégio Judicante constituído no Brasil pela Sé Apostólica. Para honra e glória de Deus, os juízes chegaram à conclusão de não haver qualquer indício de culpabilidade nos meus atos. No último dia 26 de novembro, recebi o documento, confirmando a sentença assinada aqui no Brasil e declarando encerrado definitivamente o referido processo movido contra mim, dando-me a liberdade de dirigir minhas palavras de gratidão a todos.

Estes últimos dois anos foram de muito sofrimento, profunda oração e perseverante confiança na Providência Divina e na justiça de Deus, como foi demonstrado na análise, conclusão e declaração da minha inocência ante as calúnias levantadas contra a minha honra. Está assim concluído definitivamente o processo na esfera canônica, perante o Tribunal da Igreja.

Quero agradecer-lhes, porque durante este período muitos estiveram rezando e acreditando fielmente na verdade inspirada por Deus. Foram milhares de mensagens que recebi de tantos lugares do Brasil e do mundo de carinho e muitas orações. Rezem comigo em Ação de Graças por este momento que Deus preparou de forma especial para nós.

Também quero pedir-lhes que rezem pelas pessoas que utilizaram de tamanha maldade contra nossa Igreja. Deus lhes conceda o perdão e a paz, e a todos nós, a maturidade espiritual para sermos capazes de sempre preservar a Caridade e a Comunhão Fraterna.

Que Nossa Senhora de Nazaré nos fortaleça cada vez mais na missão.

Dom Alberto Taveira Corrêa

Arcebispo Metropolitano de Belém

Papa a Bartolomeu I: somos chamados a restabelecer a unidade entre os cristãos

O Pontífice com o Patriarca de Constantinopla em imagem de
arquivo, no Vaticano (2021)  (Vatican Media)

Francisco envia mensagem ao Patriarca Ecumênico, por ocasião da festa de Santo André nesta quarta-feira (30), recordando o santo padroeiro da Igreja de Constantinopla e irmão de Pedro. Ao final da Audiência Geral, o Papa também saudou Bartolomeu I, rezou pela unidade da Igreja e por um mundo sem guerras.

Andressa Collet - Vatican News

Já é tradição neste 30 de novembro, por ocasião da festa litúrgica do Apóstolo André, o Papa Francisco se dirigir à Igreja em Constantinopla que tem como padroeiro justamente "o primeiro chamado, irmão de Pedro". Em mensagem enviada nesta quarta (30) a Bartolomeu I, o Pontífice exortou o compromisso mútuo pelo "pleno restabelecimento da comunhão" entre os cristãos, através de "um exame comum" caracterizado não pela polêmica, mas pelo diálogo inter-religioso.

O compromisso de todo cristão

Já no início da mensagem, o Papa recordou que "mais uma vez" está sendo representado nas celebrações de Santo André em Fanar, em Instambul, por uma delegação da Igreja de Roma. Francisco, assim, enviou "sinceras orações" e assegurou o "afeto fraterno" do Pontífice ao Patriarca Ecumênico e à Igreja confiada a seus cuidados que participa da Divina Liturgia na Igreja Patriarcal de São Jorge. Um encontro, entre as duas Igrejas - de Roma e de Constantinopla -, disse o Pontífice, que expressa "a profundidade dos laços que nos unem e um sinal visível da esperança que alimentamos de uma comunhão cada vez mais profunda":

"O pleno restabelecimento da comunhão entre todos os que acreditam em Jesus Cristo é um compromisso irrevogável para cada cristão, já que a "unidade de todos" (cf. Liturgia de São João Crisóstomo) não é apenas a vontade de Deus, mas também uma prioridade urgente no mundo atual. De fato, o mundo de hoje está precisando muito de reconciliação, fraternidade e unidade. A Igreja, portanto, deveria brilhar como "sinal e instrumento da união íntima com Deus e da unidade de toda a raça humana" (Lumen gentium, n. 1)."

Os caminhos para a unidade

Uma atenção, reforçou o Papa em mensagem a Bartolomeu I, que precisa continuar a ser dada devido às razões históricas e teológicas que estão na origem das divisões das duas Igrejas que, graças a Deus e "à oração e à caridade fraterna", não estão resignadas a experiências passadas e presentes para que, no tempo de Deus, possam permitir de "nos reunir em torno da mesma mesa eucarística". Francisco chamou de "um exame comum" que deve ser desenvolvido num espírito que não seja "polêmico e nem apologético, mas caracterizado por um diálogo genuíno e abertura recíproca":

"Devemos também reconhecer que as divisões são o resultado de ações e atitudes lamentáveis que impedem a ação do Espírito Santo, que guia os fiéis à unidade na diversidade legítima. Daqui decorre que somente o crescimento em santidade de vida pode levar a uma unidade autêntica e duradoura. Somos, portanto, chamados a trabalhar pelo restabelecimento da unidade entre os cristãos não apenas através de acordos assinados, mas também através da fidelidade à vontade do Pai e do discernimento dos sussurros do Espírito."

Ao caminhar em direção a esse objetivo, acrescentou o Papa, já existem muitas áreas onde a Igreja Católica e o Patriarcado Ecumênico estão trabalhando juntos. Uma delas e "a mais fecunda dessa cooperação, é o diálogo inter-religioso", ao recordar com gratidão na mensagem, o recente encontro no Reino do Bahrein, por ocasião do fórum sobre o tema. E Francisco finalizou, escrevendo:

"O diálogo e o encontro são o único caminho para superar os conflitos e todas as formas de violência. A esse respeito, confio à misericórdia de Deus Todo-Poderoso aqueles que perderam a vida ou ficaram feridos no recente ataque na sua cidade, e rezo para que Ele converta os corações daqueles que promovem ou apoiam essas más ações."

A saudação na Audiência Geral

O Papa também fez menção à festa de Santo André ao final da Audiência Geral desta quarta-feira (30), na Praça São Pedro, quando novamente recordou que uma delegação da Santa Sé participa das celebrações na Turquia:

“Que a intercessão dos Santos irmãos apóstolos Pedro e André permita logo à Igreja de gozar plenamente da sua unidade e conceda paz ao mundo inteiro, especialmente neste momento à querida e martirizada Ucrânia, sempre no nosso coração e nas nossas orações.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Charles de Foucauld

S. Charles de Foucauld | formacao.cancaonova
01 de dezembro
São Charles de Foucauld
Por Rodrigo Luiz dos Santos

Papa recorda 100 anos do assassinato de Charles de Foucauld

Assaltantes mataram o sacerdote Charles de Foucauld, porque queriam roubar o ‘tesouro’ do qual ele tanto falava.

Papa Francisco recordou, na Missa desta quinta-feira, 1º de dezembro, os cem anos do assassinato de Charles de Foucauld. O Santo Padre ressaltou o testemunho de vida desse sacerdote que tanto bem fez à Igreja. Sua beatificação foi realizada por Bento XVI em 2005.

Francisco rezou para que o beato nos abençoe e nos ajude a caminhar na pobreza, na contemplação e no serviço aos pobres.

Quando morei em Roma, entre os anos de 2002 e 2007, tive contato com a história desse homem santo, especialmente por meio das Irmãzinhas de Jesus, que vivem uma vida muito simples na periferia de Roma. Foi assim que conheci mais sobre Charles de Foucauld e sobre a oração composta por ele, que está no fim deste texto.

Nascido na França, em 1858, Carlos de Jesus perdeu os pais quando tinha seis anos. Na juventude, entrou para o exército, mas foi despedido por indisciplina. A partir disso, começou a viajar pelo norte da África como explorador. Era descrente de tudo, mas acabou encontrando a fé no confessionário.

Dessa maneira, Charles de Foucauld descobriu que Deus é misericordioso e, sem saber, era o que ele sempre buscava. Tornou-se padre e viveu no deserto em meio aos árabes. Anunciou o Evangelho vivendo a pobreza radical. Era mais pobre que os pobres do Saara.

Carlos era amigo dos tuaregues, um povoado constituído por pastores seminômades, agricultores e comerciantes, a maioria muçulmanos. Foi morto por assaltantes que queriam descobrir o tesouro do qual ele tanto falava. Não compreenderam que o tesouro estava no sacrário: era Jesus na Eucaristia, o centro de sua vida.

Espero que você, ao rezar a Oração de Abandono, faça uma bela experiência de liberdade interior com o amor de Deus:

“Meu Pai,
Eu me abandono a Ti.
Faz de mim o que quiseres.
O que fizeres de mim,
Eu Te agradeço.

Estou pronto para tudo, aceito tudo.
Desde que a Tua vontade se faça em mim
E em tudo o que Tu criastes,
Nada mais quero, meu Deus.

Nas Tuas mãos entrego a minha vida.
Eu Te a dou, meu Deus,
Com todo o amor do meu coração,
Porque Te amo
E é para mim uma necessidade de amor dar-me,
Entregar-me nas Tuas mãos sem medida
Com uma confiança infinita
Porque Tu és…
Meu Pai!”

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Fazer exame de consciência para chegar à vontade de Deus , diz Papa

Papa na Audiência geral dessa quarta-feira, 30 de novembro de 2022/
Foto: via REUTERS

QUARTA-FEIRA, 30 DE NOVEMBRO DE 2022

Consolação autêntica foi o tema da Audiência Geral de hoje; Papa disse que é importante fazer o exame de consciência diário: “O que aconteceu no meu coração?”

Da Redação, com Vatican News

“A consolação autêntica” foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira, 30, realizada na Praça São Pedro. Na ocasião, refletindo sobre o discernimento, tomou como base a passagem dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola que trata dos pensamentos bons e ruins.

“Se nos pensamentos tudo é bom, o princípio, o meio e o fim, e se tudo está orientado para o bem, este é um sinal do anjo bom. Por outro lado, pode ser que no decurso dos pensamentos se apresente algo mau, ou que distraia, ou menos bom do que aquilo que antes a alma se propusera fazer, ou algo que debilite a alma, que a torne inquieta, que a ponha em agitação e lhe tire a paz, a tranquilidade e a calma que antes tinha: então, este é um sinal claro de que tais pensamentos vêm do espírito maligno”.

O Pontífice sublinhou que existe uma verdadeira consolação, que foge de outras que podem supostamente ser e não são. Com isso, afirmou a necessidade de se entender bem o percurso da consolação, para onde vai, para onde leva e se chegar a algo que não é bom, não se trata de algo verdadeiro.

O princípio do pensamento

“O que significa que o princípio está orientado para o bem? Por exemplo, tenho o pensamento de rezar, e observo que se acompanha ao afeto pelo Senhor e pelo próximo, convida a realizar gestos de generosidade, de caridade: é um bom princípio. No entanto, pode acontecer que aquele pensamento surja para evitar um trabalho ou uma tarefa que me foi confiada: sempre que devo lavar a louça ou limpar a casa, vem-me uma grande vontade de começar a rezar! A oração não é uma fuga dos nossos afazeres; pelo contrário, é uma ajuda para realizar o bem que somos chamados a praticar, aqui e agora. Isto a propósito do princípio”, disse.

O Santo Padre ainda explicou que Santo Inácio dizia que o princípio, o meio e o fim devem ser bons. “O princípio é este: tenho vontade de rezar para não lavar a louça. Então, primeiro, lava a louça e depois vai rezar”, frisou.

O meio do pensamento

Na catequese, o tradicional giro de papamóvel na Praça São Pedro,
momento de saudar os fiéis / Foto: REUTERS/Guglielmo Mangiapane

Explicando ainda sobre as partes do pensamento e a verdadeira consolação, Francisco deteve-se no meio, o que vem depois do que já foi começado anteriormente.

Trazendo a figura do fariseu que tende a agradar a si mesmo com a oração e a desprezar o outro com um animo ressentido e azedo, o Papa apontou ser sinais de que o espírito maligno utilizou aquele pensamento como chave de acesso para entrar no coração de quem reza. Francisco acenou que esse tipo “de oração termina mal”, pois é “uma consolação de rezar para se sentir como um pavão diante de Deus. Este é um meio que não funciona”.

O fim da oração 

Explicando sobre o fim da oração, o Pontífice disse que é o lugar onde chega o pensamento. “Pode acontecer que eu trabalhe arduamente por uma obra boa e meritória, mas isto impele-me a deixar de rezar, descubro-me cada vez mais agressivo e zangado, considero que tudo depende de mim, a ponto de perder a confiança em Deus. Evidentemente, aqui há a ação do espírito maligno. Eu começo a rezar e na oração me sinto onipotente. Portanto, examinar bem o percurso dos próprios sentimentos, e o percurso dos bons sentimentos, da consolação a partir do momento que eu quero fazer alguma coisa”.

Segundo o Papa, “o estilo do inimigo”, do demônio, é o estilo que consiste em apresentar-se de maneira sorrateira e disfarçada: começa a partir daquilo que é mais querido e depois, pouco a pouco, atrair a si: “o mal entra secretamente, sem que a pessoa perceba. E, com o passar do tempo, a suavidade torna-se dureza: aquele pensamento revela-se pelo que realmente é”.

A importância do exame de consciência 

Francisco disse ser indispensável esse exame de consciência sobre a origem e a verdade dos próprios pensamentos. Por tratar-se de um convite para o aprendizado diante das experiências para não continuar repetindo os mesmos erros.  

“Quanto mais nos conhecemos, mais sentimos por onde entra o espírito maligno, as suas senhas, as portas de entrada do nosso coração, que são os pontos onde somos mais sensíveis, de modo a prestar-lhes atenção no futuro. Cada um de nós sabe onde está os pontos mais sensíveis, os pontos mais frágeis da própria personalidade e dali entra o maligno e nos leva para a estrada errada, ou nos tira da estrada certa”.

O Papa frisou que é importante fazer “o exame de consciência diário: antes de terminar o dia, parar. Se perguntar, o que aconteceu no meu coração? Cresceu ou foi uma estrada na qual passou de tudo? Trata-se do precioso esforço de reler a experiência sob um ponto de vista particular. É importante compreender o que aconteceu, é sinal de que a graça de Deus age em nós, ajudando-nos a crescer em liberdade e consciência. Não estamos sozinhos, o Espírito Santo está conosco”.

Antes de concluir, o Papa disse que a consolação autêntica é uma espécie de confirmação de que foi cumprido o que Deus quer de nós, que os seus caminhos foram percorridos nas estradas da vida, da alegria, da paz. “Com efeito, o discernimento não é simplesmente sobre o bem, nem sobre o máximo bem possível, mas sobre o que é um bem para mim aqui e agora: é nisto que sou chamado a crescer, colocando limites a outras propostas, atraentes, mas irreais, para não ser enganado na busca do verdadeiro bem”.

O Santo Padre finalizou sua reflexão acreditando ser preciso aprender a ler no livro do coração o que aconteceu durante o dia. “Façam isso. São apenas dois minutos, mas garanto a vocês que lhes fará bem”.

Três homens, um leme e o nosso Natal

Os três homens migrantes que passaram 11 dias sentados no leme de um 
petroleiro | Vatican News

Os migrantes sobreviveram onze dias de navegação, escondidos em um navio petroleiro.

ANDREA TORNIELLI

Falta menos de um mês para o Natal e a notícia dos três homens que passaram onze dias sentados no leme de um petroleiro que deixou a Nigéria e aportou nas Ilhas Canárias parece ter pouco a ver com isso. Mesmo assim a história emblemática dos três imigrantes, que milagrosamente sobreviveram ao frio, à água, ao sol e à desidratação, amontoados no recesso da popa do navio em contato com a água, é impressionante. Porque não podemos deixar de pensar no destino da família de Nazaré, um ícone para cada refugiado, migrante ou deslocado. O Deus cristão que se fez Homem, junto com Maria e José, foi um migrante e refugiado no Egito. Essa família teve que fugir para o Egito para escapar das cimitarras dos sicários de Herodes prontos para matar Jesus. Aquela família conheceu o exílio, a precariedade, os riscos da viagem, a distância de casa.

Não sabemos o que levou os três homens para a desesperada aventura de fugir na popa de um navio em pleno Atlântico agarrando-se ao enorme leme do petroleiro. Podemos apenas imaginar que a situação em que viviam os fez preferir o risco de serem engolidos pelo abismo ou de morrerem de fome, como acontece com tantos outros em suas mesmas condições.

Também foi relatado que os três homens, após receberem atendimento médico em Las Palmas, serão deportados à Nigéria por serem "passageiros clandestinos". A imagem que os retrata, desidratados e fracos sentados na lâmina do petroleiro, impressionou o mundo inteiro, e nos ajuda a não esquecê-los e a não nos esquecermos dos muitos migrantes que todos os dias desafiam as águas do grande cemitério chamado Mediterrâneo em busca de um porto seguro, fugindo da fome, da carestia, da miséria e das guerras. Seria um presente de Natal inesperado se eles pudessem ficar na na Europa. A Fundação italiana Casa dello Spirito e delle Arti está se mobilizando para tornar este sonho realidade.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF