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sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Segunda Pregação do Advento 2022 com Fr. Raniero Cantalamessa

Fr. Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap.  (Vatican Media)

O texto integral da segunda pregação do Advento 2022 para a Cúria Romana do Frei Raniero Card. Cantalamessa, OFMCap , na Sala Paulo VI na manhã desta sexta-feira (09/12).

https://youtu.be/8i_gobi1c8k

A PORTA DA ESPERANÇA

Segunda Pregação do Advento de 2022

Vivendo a esperança

“Ó portas, levantai vossos frontões! Elevai-vos bem mais alto, antigas portas, a fim de que o Rei da glória possa entrar” (Sl 24,7). Tomamos este versículo do salmo como fio condutor das meditações do Advento, entendendo por portas a serem abertas as das virtudes teologais: fé, esperança e caridade. O templo de Jerusalém – lemos nos Atos dos Apóstolos – tinha uma porta chamada “Porta Formosa” (At 3,2). O templo de Deus, que é o nosso coração, também tem uma porta “formosa”, e é a porta da esperança. É esta a porta que hoje queremos buscar abrir a Cristo que vem.

Qual é o objeto próprio da “esperança”, que em cada Missa proclamamos estar “vivendo”? Para nos dar conta da novidade absoluta trazida por Cristo neste campo, é preciso situar a revelação evangélica no pano de fundo das crenças antigas sobre o além.

Sobre este ponto, também o Antigo Testamento não tinha uma resposta para dar. Sabe-se que, apenas por volta do seu fim, tem-se alguma afirmação explícita sobre uma vida após a morte. Antes, a crença de Israel não diferia daquela dos povos vizinhos, especialmente daqueles da Mesopotâmia. A morte põe fim à vida para sempre; todos terminam, bons e maus, em uma espécie de lúgubre “fossa comum” que, em outros lugares, chama-se Arallu e, na Bíblia, o Sheol. Não diversa é a crença dominante no mondo greco-romano contemporâneo do Novo Testamento. Ele chama aquele triste lugar de sombras Infernos, ou Hades.

A grande coisa que distingue Israel de todos os demais povos é que ele continuou, apesar de tudo, a crer na bondade e no amor do seu Deus. Não atribuiu a morte, como faziam os babilônios, à inveja da divindade que reserva somente para si a imortalidade, mas sim ao pecado do homem (Gn 3), ou simplesmente à própria natureza mortal. Em certos momentos, o homem bíblico não calou, é verdade, o próprio desconcerto diante de uma sorte que parecia não fazer qualquer distinção entre justos e pecadores. Jamais, contudo, Israel chegou à rebelião. Em alguns orantes bíblicos, ele parece ser propenso a desejar e entrever a possibilidade de uma relação com Deus além da morte: um ser “resgatado da mão da morte” (Sl 49,16), “estar com Deus sempre” (Sl 73,23) e “delícia eterna e alegria ao seu lado” (Sl 16,11).

Quando, pelo final do Antigo Testamento, esta espera, amadurecida no subsolo da alma bíblica, finalmente virá à luz, não se exprime, à maneira dos filósofos gregos, como sobrevivência da alma imortal que, liberada do corpo, volta ao mundo celeste da qual provém. Em harmonia com a concepção bíblica do homem, como unidade inseparável de alma e corpo, a sobrevivência consiste na ressurreição – corpo e alma – da morte (Dn 12,2-3; 2Mc 7,9).

Jesus trouxe à sua luz, de imediato, esta certeza e – o que mais conta –, após tê-la anunciada em parábolas e sentenças (como aquela em resposta aos Saduceus sobre a mulher de sete maridos: Mt 22,30) –, deu a prova irrefutável disso, ele próprio ressurgindo da morte. Depois dele, para o crente, a morte não é mais uma aterrissagem, mas uma decolagem!

O mais belo dom e a mais preciosa herança que a Rainha da Inglaterra Elizabeth II deixou à sua nação e ao mundo, após 70 anos de reinado, foi a sua esperança cristã na ressurreição dos mortos. No rito fúnebre, assistido ao vivo por quase todos os poderosos da Terra e, pela televisão, por centenas de milhões de pessoas, foram proclamadas, por sua vontade expressa, na primeira leitura, as seguintes palavras de Paulo:

A morte foi tragada pela vitória; onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Ora, o aguilhão da morte é o pecado e a força do pecado é a Lei. Graças sejam dadas a Deus que nos dá a vitória por Nosso Senhor, Jesus Cristo (1Cor 15,54-57).

E, no Evangelho, sempre por sua vontade, as palavras de Jesus:

Na casa de meu Pai há muitas moradas... E depois que eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que, onde eu estiver, estejais vós também (Jo 14,2-3).

A esperança, virtude ativa

Justamente porque estamos ainda imersos no tempo e no espaço, faltam-nos as categorias necessárias para representarmos em que consistiria esta “vida eterna” com Deus. É como tentar explicar o que é a luz a alguém que nasceu cego. São Paulo se limita a dizer:

Semeado na desonra, ressuscita na glória,
semeado na fraqueza, ressuscita no poder;
semeia-se um corpo animal,
ressuscita um corpo espiritual (1Cor 15,43-44).

A alguns místicos, foi dado experimentar, já nesta vida, algumas gotas do oceano infinito de alegria que Deus preparou para os seus; mas todos, unanimemente, afirmam que não se pode dizer nada sobre isso com palavras humanas. O primeiro deles é ele mesmo, o Apóstolo Paulo. Ele confia aos Coríntios ter sido arrebatado, quatorze anos antes, ao “terceiro céu”, no paraíso, e ter ouvido “palavras inefáveis, que homem nenhum é capaz de falar” (2Cor 12,2-4). A recordação que essa experiência deixou nele é perceptível no que escreve em outra ocasião:

O que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem entrou no coração do ser humano, é o que Deus preparou para os que o amam (1Cor 2,9).

Mas deixemos de lado o que será no além (sobre o qual podemos dizer tão pouco) e voltemos ao hoje da nossa vida. Refletir sobre a esperança cristã significa refletir sobre o sentido último da nossa existência. Uma coisa é comum a todos: o desejo de viver e viver “bem”. Porém, assim que se busca entender o que se compreende por “bem”, logo se visualizam duas classes de pessoas: aquelas que pensam apenas no bem material e pessoal e aquelas que pensam também no bem moral e de todos, o chamado “bem comum”.

Em relação aos primeiros, o mundo não mudou muito desde o tempo de Isaías e de São Paulo. Ambos referem o ditado que corria ao seu tempo: “Comamos e bebamos, pois amanhã morreremos” (Is 22,13; 1Cor 15,32). Mais interessante é buscar entender aqueles que se propõem – ao menos como ideal – a “viver bem” não apenas material e individualmente, mas também moralmente e junto com os outros. Existem sites na internet em que se entrevistam pessoas idosas sobre como, chegando ao crepúsculo, avaliam a vida que viveram. São, em geral, homens e mulheres que viveram uma vida rica e digna, a serviço da família, da cultura e da sociedade, mas sem qualquer referência religiosa. É patética a tentativa de fazer acreditar que são felizes por terem vivido assim. A tristeza de terem vivido – e em breve não viver mais! –, escondida pelas palavras, gritava pelos olhos.

Santo Agostinho expressou o cerne do problema: “Para que serve viver bem, se não se pode viver sempre?”[1]. Antes dele, Jesus dissera: “Que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a arruinar-se a si mesmo?” (Lc 9,25). Eis onde se insere – e em que difere – a resposta da esperança teologal. Ela nos assegura que Deus nos criou para a vida, não para a morte; que Jesus veio para nos revelar a vida eterna e nos dar a garantia dela com a sua ressurreição.

Uma coisa deve ser enfatizada, para não cair em um perigoso equívoco. Viver “sempre” não se opõe ao viver “bem”. A esperança da vida eterna é o que a torna bela, ou ao menos aceitável, também a vida presente. Todos, nesta vida, temos a nossa parte de cruz, crentes ou não. Mas uma coisa é sofrer sem saber para que fim, e outra, sofrer sabendo que “os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que há de ser revelada em nós” (Rm 8,18).

Dar a razão da esperança

A esperança teologal tem um papel importante a desempenhar em relação à evangelização. Um dos fatores determinantes da rápida difusão da fé, nos primórdios do cristianismo, foi o anúncio cristão de uma vida após a morte infinitamente mais plena e mais alegre daquela terrena.

O imperador romano Adriano construíra para si, em várias partes do mundo, mansões espetaculares e preparara para si como mausoléu aquele que agora é o Castelo de Santo Ângelo, perto daqui. Próximo da morte, escreveu uma espécie de epitáfio para a sua tumba. Falando à sua alma, nele a exortava a dar um último olhar às belezas e aos deleites deste mundo, pois –dizia –, “estás prestes a descer a lugares incolores, árduos e despojados”[2]. O Hades! Pode-se imaginar o choque espiritual que devia provocar, em uma atmosfera como esta, o anúncio de uma vida infinitamente mais plena e mais luminosa daquela que se deixava com a morte. Explica-se assim por que a ideia e os símbolos da vida eterna são tão frequentes nas sepulturas cristãs das catacumbas.

Na Primeira Carta de São Pedro, a atividade da Igreja ao exterior, isto é, a propagação da mensagem, é apresentada como um “dar a razão da esperança”: “Santificai o Senhor Jesus Cristo em vossos corações e estai sempre prontos a dar a razão da vossa esperança a todo aquele que a pedir”. (1Pd 3,15-16). Lendo as narrativas sucessivas à Páscoa, tem-se a sensação de que a Igreja nasce de uma palavra de ordem de “esperança viva” (1Pt 1,3) e, com esta esperança, moveram-se à conquista do mundo.

Também hoje temos necessidade de uma regeneração da esperança, se quisermos empreender uma nova evangelização. Não se faz nada sem esperança. Os homens vão aonde se respira ar de esperança e fogem de onde não percebem a presença dela. A esperança é aquela que dá a coragem aos jovens para formar uma família ou seguir uma vocação religiosa e sacerdotal, é aquela que os mantém longe da droga e de semelhantes rendições ao desespero.

A Carta aos Hebreus compara a esperança a uma âncora: “É para nós como uma âncora da alma, segura e firme” (Hb 6,18-19). Segura e firme, porque lançada à eternidade. Mas temos também uma outra imagem da esperança, em certo sentido, oposta: a vela. Se a âncora é o que dá ao barco a segurança e a mantém firme em meio às ondulações do mar, a vela é, ao invés, o que a faz caminhar e avançar no mar. Ambas estas coisas faz a esperança com o barco da Igreja.

Quanto ao passado, hoje estamos em uma situação de vantagem em relação à esperança. Não devemos mais passar o nosso tempo em defender a esperança cristã dos ataques externos; podemos, então, fazer a coisa mais útil e frutuosa, que é aquela de proclamá-la, oferecê-la e irradiá-la no mundo. Fazer da esperança um discurso não tanto apologético, porém mais kerigmático.

Vejamos ao que aconteceu a propósito da esperança cristã há mais de um século nesta parte. Antes, houve o ataque frontal contra ela da parte de homens como Feuerbach, Marx, Nietzsche. A esperança cristã foi, em muitos casos, o objetivo direto da crítica deles. Vida eterna, além, paraíso: todas estas coisas eram vistas como a projeção ilusória dos desejos e necessidades insatisfeitos do homem neste mundo, como um “desperdiçar no céu os tesouros destinados à terra”. Os cristãos buscavam defender o conteúdo da esperança cristã, frequentemente, com um maldisfarçado desconforto. A esperança cristã estava “em minoria”. Raramente se falava e se pregava sobre a vida eterna.

Após ter demolido a esperança cristã, a cultura ateia marxista não demorou a se dar conta de que não podiam deixar as pessoas humanas sem esperança. E eis que inventou o “Princípio esperança”[3]. Com ele, a cultura marxista não pretendia ter demolido a esperança cristã, mas, pior, ter ido além dela e ser a sua legítima herdeira. Para o autor do “Princípio esperança” (princípio, note-se bem, não virtude), é certo que a esperança é vital para o homem. Ela é real e tem uma saída, que é “a revelação do homem oculto”, ou seja, de possibilidades ainda latentes da humanidade. A manifestação do Filho do homem, Cristo, é substituída pela manifestação do homem oculto, a parusia é substituída pela utopia.

Por cerca de duas décadas, lembro-me, não se falava de outra coisa nas universidades e, a muitos cristãos, não parecia real que houve alguém do outro lado que aceitasse assumir seriamente a esperança e instaurar um diálogo. Ainda mais porque a inversão era tão sutil e a linguagem, frequentemente semelhante. A pátria celeste se tornava a “pátria da identidade”; não o lugar onde o homem finalmente vê Deus face a face, mas onde vê o verdadeiro homem, no qual se tem então a identidade perfeita entre o que pode ser e o que é. A chamada “teologia da esperança” nasceu em resposta a este desafio, por vezes aceitando, infelizmente, a sua configuração. O que menos se percebe em todos estes escritos é justamente o que Pedro chama de “esperança viva” (1Pd 1,3), o tremor da esperança. Não vida, mas ideologia.

Agora, dizia eu, a situação mudou em parte. A tarefa que temos à frente, em relação à esperança, não é mais a de defendê-la e de justificá-la filosófica e teologicamente, mas de anunciá-la, de mostrá-la e de doá-la a um mundo que perdeu o sentido da esperança e afunda sempre mais em um pessimismo e niilismo, que é o verdadeiro “buraco negro” do universo.

Gaudium et spes

Um modo de tornar ativa e contagiante a esperança é aquele formulado por São Paulo quando diz que “a caridade tudo espera” (1Cor 13,7). Isto vale não apenas para a pessoa individualmente, mas também para o conjunto da Igreja. A Igreja tudo espera, tudo crê, tudo suporta. Ela não pode se limitar em denunciar as possibilidades de mal que há no mundo e na sociedade. Não se deve certamente negligenciar o temor do castigo e do inferno e deixar de alertar as pessoas sobre as possibilidades de mal que uma ação ou uma situação comporta, como as feridas provocadas ao ambiente. A experiência, porém, demonstra que se consegue mais por via positiva, insistindo sobre as possibilidades de bem; em termos evangélicos, pregando a misericórdia. Talvez jamais o mundo moderno tenha se mostrado tão bem-disposto para com a Igreja e tão interessado em sua mensagem, como nos anos do Concílio. E o motivo principal é que o Concílio dava esperança.

Mas, deste modo, não nos expomos – pergunta-se – a sermos desiludidos e parecermos ingênuos? Esta é a grande tentação contra a esperança, sugerida pela prudência humana, ou pelo medo de sermos desmentidos pelos fatos, e é o que está acontecendo, em parte, também em relação ao Concílio. Como se o ter ousado falar de “alegria e esperança” (gaudium et spes) tivesse sido uma ingenuidade, da qual devamos até mesmo nos envergonhar um pouco. É o que muitos pensaram do Papa João quando do seu anúncio do Concílio.

Devemos retomar a palavra de ordem de esperança iniciada pelo Concílio. A eternidade é uma medida muito ampla; ela nos permite esperar de todos, não abandonar ninguém sem esperança. O Apóstolo dava aos cristãos de Roma o mandato para abundar na esperança. “Que o Deus da esperança – escrevia – vos encha de toda alegria e paz em vossa fé. Assim, vossa esperança abundará, pelo poder do Espírito Santo (Rm 15,13).

A Igreja não pode oferecer ao mundo melhor dom do que lhe dar esperança; não esperanças humanas, efêmeras, econômicas ou políticas, sobre as quais ela não tem uma competência específica, mas esperança pura e simples, aquela que, mesmo sem saber, tem por horizonte a eternidade e por fiador Jesus Cristo e a sua ressurreição. Será então esta esperança teologal a servir de estímulo a todas as demais esperanças humanas legítimas. Quem viu um médico visitar um doente grave, sabe que o maior alívio que pode lhe proporcionar, melhor do que todos os remédios, é dizer-lhe: “O médico espera; tem boas esperanças para você!”.

A esperança, assim entendida, transforma tudo o que toca. O seu efeito é maravilhosamente descrito na seguinte passagem de Isaías:

            Até os adolescentes se afadigam e cansam, 
            e mesmo os jovens às vezes tropeçam!
            Aqueles, porém, que esperam no Senhor,
            renovam suas forças,
            criam asas como de águia,
            correm e não se afadigam,
            caminham e não se cansam (Is 40,30-31).

Deus não promete tirar os motivos do cansaço e da exaustão, mas dá esperança. A situação em si permanece a que era, mas a esperança dá a força para se elevar acima dela. No Apocalipse, lê-se que “quando viu que tinha sido lançado à terra, o dragão começou a perseguir a mulher que tinha dado à luz o menino. Mas a mulher recebeu as duas asas da grande águia e voou para o deserto, para o lugar onde é alimentada” (Ap 12,13-14). A imagem das asas da águia se inspira claramente no texto de Isaías. Por isso, ocorre-nos dizer que à Igreja inteira foram dadas as grandes asas da esperança, para que com elas possa, toda vez, escapar dos ataques do mal, superar de imediato as dificuldades.

“Levanta-te e anda!”

A porta do templo, chamada “Porta Formosa”, é conhecida pelo milagre que ocorreu junto dela. Um coxo era colocado diante dela para pedir esmola. Um dia, passaram aí Pedro e João e sabemos o que aconteceu. O coxo, curado, pôs-se em pé e, finalmente, quem sabe depois de quantos anos que lá permanecia abandonado, atravessou também ele aquela porta e entrou no templo, lê-se, “saltando e louvando a Deus” (At 3,1-9).

Algo do tipo poderia ocorrer também a nós em relação à esperança. Também nós nos encontramos, frequentemente, espiritualmente, na posição do coxo no limiar do templo: inertes, apáticos, como se paralisados diante das dificuldades. Mas eis que a divina esperança nos passa ao lado, levada pela palavra de Deus, e diz também a nós, como Pedro ao coxo: “Levanta-te e anda!”. E nós nos colocamos em pé e finalmente entramos, no vivo da Igreja, prontos para assumir, de novo e alegremente, tarefas e responsabilidades. São os milagres cotidianos da esperança. Ela é realmente uma grande taumaturga, uma grande operadora de milagres; reergue milhares de coxos, milhares de vezes.

Além do que para a evangelização, a esperança é de auxílio em nosso caminho pessoal de santificação. Ela se torna, em quem a exerce, o princípio do progresso espiritual. Permite descobrir sempre novas “possibilidades de bem”, sempre algo que pode ser feito. Não deixa que nos acomodemos na apatia e na melancolia. Quando você se sente tentado a dizer a si mesmo: “Não há mais nada a fazer”, eis que a esperança aparece e lhe diz: “Reze!”. Você responde: “Mas eu rezei!”, e ela: “Reze ainda!”. E também caso a situação se tornasse dura ao extremo e tal que pareça não haver mais nada mesmo a fazer, eis que a esperança lhe indica ainda uma tarefa: suportar até o fim e não perder a paciência, unindo-se a Cristo na cruz. O Apóstolo, ouvimos, recomenda “abundar na esperança”, mas logo acrescenta como isso se torna possível: “pelo poder do Espírito Santo”. Não pelos nossos esforços.

O Natal pode ser a ocasião para uma mexida de esperança. O grande poeta moderno das virtudes teologais, Charles Péguy, escreveu que Fé, Esperança e Caridade são três irmãs, duas maiores e uma menor. Caminham pela estrada de mãos dadas: as duas maiores, Fé e Caridade, aos lados, e a menina Esperança, ao centro. Todos, ao vê-las, pensam que são as duas maiores que levam a pequenina no centro. Errado! É ela quem leva tudo”[4]. Pois se vem a faltar a esperança, tudo para.

Se quisermos dar um nome próprio a esta criança, não podemos chamá-la senão de Maria, aquela que aqui – diz outro grande poeta das virtudes teologais, Dante Alighieri –, “para a humanidade”, é “viva fonte de esperança”[5].

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Tradução de Fr. Ricardo Farias

[1] Cf. Agostinho, Comentário ao Evangelho de João, 45,2 (Quid prodest bene vivere si non datur semper vivere?).

[2] Citado em M. Yourcenar, Memórias de Adriano, tr. it. L. Storoni Mazzolani, Einaudi, Torino 1988.

[3] Cf. Ernst Bloch, Il principio speranza, 3 voll., Berlino 1954-1959.

[4] Cf. Ch. Péguy, Le porche de la deuxième vertu, Œuvres poétiques complètes, Gallimard, Paris 1975, pp. 534-539.

[5] Cf. Dante Alighieri, Paraíso XXXIII,12.

São Juan Diego Cuauhtlatoatzin

S. Juan Diego Cuauhtlatoatzin | diocesedeblumenau
09 de dezembro
São Juan Diego Cuauhtlatoatzin

Origens

Juan Diego era um índio Asteca, da região da atual cidade do México. Seu nome Asteca era Cuauhtlatoatzin, cujo significado é “águia que fala”. Juan Diego é seu nome cristão. Ele nasceu no ano 1474 no bairro da colina de de Tlayacac, que ficava ao norte da Cidade do México. Juan Diego pertencia à casta mais inferior no império Asteca. Contudo, não era escravo. Era um camponês que se dedicava, também, à manufatura de esteiras. Era casado, vivia bem com sua mulher, porém não tiveram filhos.

Encontro com a fé cristã

Juan Diego acolheu a fé cristã atraído pela postura e ensinamentos dos franciscanos que chegaram no México no ano 1524. Ele tinha, então, 50 anos quando foi batizado, juntamente como sua esposa. No batismo, receberam os nomes cristãos de João Diego e Maria Lúcia. Juan Diego era dedicado e piedoso, homem de oração e penitências. Caminhava vinte e dois quilômetros para ouvir a Palavra de Deus, indo de sua vila até à Cidade do México.

Morte da esposa

Maria Lúcia, esposa de Juan Diego, faleceu no ano 1529 por causa de uma doença. Então, ele decidiu ir morar com um tio seu. Assim, a distância de sua nova casa até à igreja diminuiu para quatorze quilômetros. Desde então, ele passou a fazer essa caminhada todos sábados e domingos, saindo sempre antes do amanhecer, para ouvir a Palavra de Deus. Juan Diego caminhava sempre descalço e, nas manhãs mais frias, usava uma veste de tecido grosso extraído das fibras de um cacto. Tal veste, parecida com um manto, chamava-se tilma ou, também, ayate. Era uma vestimenta dos pobres, da classe social de Juan Diego.

Primeiro encontro com Nossa Senhora de Guadalupe

No dia 9 de dezembro de 1531, quando Juan Diego caminhava de madrugada para ir à igreja, cerca das três horas e trinta, estando ele entre sua vila e o monte Tepeyac, aconteceu a primeira aparição da Virgem de Guadalupe. No local conhecido hoje como "Capela do Cerrinho", Nossa Senhora apareceu e falou com Juan Diego na sua língua nativa dizendo: "Juan Dieguito", "o mais humilde de meus filhos", "meu filho caçula".

O pedido da Virgem Maria

Nossa Senhora incumbiu Juan Diego de levar um pedido dela ao bispo franciscano Dom João de Zumárraga. O pedido era para que fosse construída uma igreja naquele mesmo lugar em que a Virgem aparecera a Juan Diego. O bispo, porém, não acreditou na palavra do pobre e humilde Juan Diego. Em outra aparição, Nossa Senhora pediu que Juan Diego insistisse. Obediente, no dia seguinte, um domingo, Juan Diego voltou e falou com o bispo. O bispo, por sua vez, exigiu que Juan trouxesse provas concretas da tal aparição.

Humildade e milagre

O pobre Juan Diego voltou desanimado e evitou passar pelo local onde tinha visto a Virgem Maria, temendo ser repreendido por ela. Na terça-feira seguinte, dia 12 de dezembro, ele teve que ir à cidade novamente buscar ajuda para seu tio que estava muito doente. E, mais uma vez, evitou passar pelo mesmo caminho, fugindo da Virgem Maria. Porém, Nossa Senhora lhe apareceu mesmo assim. Juan Diego, então, contou a ela as decepções com o bispo e disse que não queria mais fazer tal serviço. A Mãe, porém, o consolou dizendo: “Filhinho querido, não estou eu contigo? Eu, que sou tua mãe?” Ao ouvir essas palavras, Juan Diego sentiu seu coração se fortalecer novamente.

Um pedido de Maria e os milagres começam a acontecer

Nossa Senhora, pediu, então, que Juan Diego fosse colher flores no monte Tepeyac. Era inverno, não nascia flores nessa época. Apesar disso, Juan Diego obedeceu. Assim, no alto do monte, em pleno inverno, ele encontrou belas flores. Admirado, colheu, colocou-as no seu manto e foi até Nossa Senhora. A Mãe pediu para que Juan Diego levasse aquelas flores ao bispo Dom Zumarraga como prova da aparição. 

O manto milagroso

Diante do bispo, o pobre Juan Diego abriu seu manto. Nesse momento, as flores caíram e, no tecido rústico do manto, apareceu a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Nesse mesmo instante, seu tio disse ter recebido a visita da Virgem Maria e ficou curado. São Juan Diego tinha, na ocasião, cinquenta e sete anos de idade.

De marginalizado a evangelizador

O bispo, maravilhado e arrependido, acreditou nas palavras do pobre Juan Diego e começou a tomar as providências para a construção da capela pedida por Nossa Senhora. Depois do milagre de Guadalupe, São Juan Diego passou a viver numa sala que ficava ao lado da capela onde se depositou por um tempo a sagrada imagem. Passou suas propriedades e negócios para seu tio e dedicou o resto de sua vida à propagação das aparições aos seus irmãos nativos, que passaram a se converter aos milhares. Demonstrou tão profundo amor à Eucaristia que o bispo lhe deu uma permissão especial para comungar o Corpo de Cristo três vezes na semana. Tal permissão era raríssima naquela época.

Imagem milagrosa

A imagem milagrosa de Nossa Senhora de Guadalupe já perdura mais de 450 anos sem explicação plausível. A tilma onde a imagem está não dura mais do que 20 anos. Esta, no entanto, já dura séculos. Enfrentou incêndios e até explosões, sem sofrer um dano sequer. Estudos recentes atestam que não há nenhuma tinta impressa na tilma e não se sabe como a imagem se forma. Um oftalmologista examinou os olhos de Nossa Senhora, na imagem, ampliando centenas de vezes. Na ampliação ele descobriu que os olhos da Virgem mostram o momento exato em que Juan Diego abriu o manto e a imagem apareceu. A cena aparece nos olhos da Virgem como nos olhos de um ser humano. Já existem livros e mais livros e vários estudos científicos sobre os mistérios da imagem da Virgem de Guadalupe. E a mãe de todos os Homens escolheu aquele que se julgava “as fezes do povo”, como ele mesmo repetiu várias vezes, para revelar ao mundo seu amor pela humanidade.

Morte

Juan Diego morreu de morte natural em 30 de maio de 1548. Tinha setenta e quatro anos. O papa João Paulo II celebrou sua canonização no ano 2002. Na ocasião instituiu sua a festa litúrgica para o dia 9 de dezembro. Este foi o dia da primeira aparição de Nossa Senhora de Guadalupe. O Papa elogiou a fé simples de São Juan Diego e exaltou-o como modelo de humildade para todos.

Oração a São Juan Diego

“Ditoso São Juan Diego, índio bondoso e cristão, nós te suplicamos que acompanhes a Igreja peregrina, para que seja cada dia mais evangelizadora e missionária. Encoraja os Bispos, sustenta os presbíteros, suscita novas e santas vocações, ajuda todas as pessoas que entregam a sua própria vida pela causa de Cristo e pela difusão do seu Reino. Amém. São Juan Diego, rogai por nós.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

O Papa e a sucessão apostólica

Crédito: Cléofas

O Papa e a sucessão apostólica

 POR PROF. FELIPE AQUINO

São Cipriano (+258), bispo de Cartago, defensor da unidade da Igreja:

O Senhor diz a Pedro: “Eu te digo que és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus”. O Senhor edifica a sua Igreja sobre um só, embora conceda igual poder a todos os apóstolos depois de sua ressurreição, dizendo: “Assim como o Pai me enviou, eu os envio. Recebei o Espírito Santo, se perdoardes os pecados de alguém, ser-lhes-ão perdoados, se os retiverdes, ser-lhes-ão retidos. No entanto, para manifestar a unidade, dispõe por sua autoridade a origem desta mesma unidade partindo de um só. Sem dúvida, os demais apóstolos eram como Pedro, dotados de igual participação na honra e no poder; mas o princípio parte da unidade para que se demonstre ser única a Igreja de Cristo… Julga conservar a fé quem não conserva esta unidade da Igreja? Confia estar na Igreja quem se opõe e resiste à Igreja? Confia estar na Igreja, quem abandona a cátedra de Pedro sobre a qual está fundada a Igreja?” (Sobre a Unidade da Igreja).

Santo Irineu (+202):

“Porque é com essa Igreja (de Roma), em razão de sua mais poderosa autoridade de fundação, que deve necessariamente concordar toda igreja, isto é, que devem concordar os fiéis procedentes de qualquer parte, ela, na qual sempre, em benefício dos que procedem de toda parte, se conservou a Tradição que vem dos apóstolos” (Contra as Heresias).

São Pedro Crisólogo (+450):

“No interesse da paz e da fé não podemos discutir sobre questões relativas à fé sem o consentimento do Bispo de Roma”.

São João Crisóstomo (+407), bispo de Constantinopla:

“Pedro, na verdade, ficou para nós como a pedra sólida sobre a qual se apoia a fé e sobre a qual está edificada a Igreja. Tendo confessado ser Cristo o Filho de Deus vivo, foi-lhe dado ouvir: “Sobre esta pedra – a da sólida fé – edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18).

Tornou-se enfim Pedro o alicerce firmíssimo e fundamento da Casa de Deus, quando, após negar a Cristo e cair em si, foi buscado pelo Senhor e por ele honrado com as palavras: “apascenta as minhas ovelhas” (Jo 21,15s). Dizendo isto, o Senhor nos estimulou à conversão, e também a que de novo se edificasse solidamente sobre Pedro aquela fé, a de que ninguém perde a vida e a salvação, neste mundo, quando faz penitência sincera e se corrige de seus pecados” (Haer. 59,c,8).

Eusébio de Cesareia (+340):

“Pedro e Paulo, indo para a Itália, vos transmitiram os mesmos ensinamentos e por fim sofreram o martírio simultaneamente” (História Eclesiástica, II 25,8)

Observação: A História da Igreja, desde cedo, mostra que os sucessores de São Pedro em Roma fizeram uso da sua jurisdição. Por exemplo na questão da data da festa da Páscoa, no século II, alguns cristãos da Ásia Menor não queriam seguir o calendário de Roma; o Papa São Victor (189-199) ameaçou-os de excomunhão (cf. Hist. Ecles. Eusébio V 24, 9-18). Ninguém contestou o Bispo de Roma, o Papa; e parecia claro a todos os bispos que nenhum deles podia estar em comunhão com a Igreja universal (já chamada de católica) sem estar em comunhão com a Igreja de Roma. Isto mostra bem o primado de Pedro desde o início da Cristandade.

Papa Pio XII – Encíclica Mystici Corporis Christi:

“Há os que se enganam perigosamente, crendo poder se ligar a Cristo, cabeça da Igreja, sem aderir fielmente a seu Vigário na terra. Porque suprimindo esse Chefe visível, quebrando os laços luminosos da unidade, eles obscurecem e deformam o Corpo místico do Redentor a ponto de ele não poder ser reconhecido e achado dentro dos homens, procurando o porto da salvação eterna”.

SOBRE A SUCESSÃO APOSTÓLICA

São Clemente de Roma (+102), Papa (88-97):

“Os apóstolos foram mandados a evangelizar pelo Senhor Jesus Cristo. Jesus Cristo foi enviado por Deus. Assim, Cristo vem de Deus e os apóstolos de Cristo. Essa dupla missão se sucede em boa ordem, por vontade de Deus. Assim, tendo recebido instruções, e estando plenamente convencidos pela ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, e confirmados na fé pela palavra de Deus, saíramos Apóstolos a anunciar, na plenitude do Espírito Santo, a boa nova da aproximação do reino de Deus. Iam pregando por campos e cidades, batizavam os que obedeciam o desígnio de Deus, e iam estabelecendo aos que eram as primícias dentre eles como bispos e diáconos dos futuros fiéis, depois de prová-los no Espírito Santo. E isto não era novidade, pois desde muito tempo estava escrito de tais bispos e diáconos” (n. VI).

“Renunciemos, portanto, às nossas vãs preocupações e voltemos à gloriosa e veneranda regra de nossa Tradição” (n. VII).

“Para que a missão a eles [apóstolos] confiada fosse continuada após a sua morte, impuseram a seus colaboradores imediatos, como que por testamento, o múnus de completar e confirmar a obra iniciada por eles, recomendando que atendessem a todo o rebanho no qual o Espírito Santo os colocara para apascentar a Igreja de Deus. Constituíram, pois, tais varões e em seguida ordenaram que, quando eles morressem, outros homens íntegros assumissem o seu ministério” (Carta aos Coríntios 42,44).

“Também os nossos Apóstolos sabiam, por Nosso Senhor Jesus Cristo, que haveria contestações a respeito da dignidade episcopal. Por tal motivo e como tivessem perfeito conhecimento do porvir, estabeleceram os acima mencionados e deram, além disso, instruções no sentido de que, após a morte deles outros homens comprovados lhes sucedessem em seu ministério. Os que assim foram instituídos por eles, ou mais tarde por outros homens iminentes com a aprovação de toda a Igreja, e serviram de modo irrepreensível ao rebanho de Cristo com humildade, pacífica e abnegadamente, recebendo por longo tempo e da parte de todos o testemunho favorável, não é justo em nossa opinião que esses sejam depostos de seu ministério” (Cor 42, 1-3).

Essas palavras de São Clemente, discípulo de São Paulo como confirma a tradição, é da maior importância, pois nos mostram que foi desejo expresso dos Apóstolos que assim acontecesse a sucessão apostólica. É por isso que após a morte de São Pedro, a Igreja de Roma elegeu o seu sucessor, São Lino, depois Santo Anacleto, etc.

Tertuliano, Bispo de Cartago (+202):

“(…) Foi inicialmente na Judeia que [os apóstolos] estabeleceram a fé em Jesus Cristo e fundaram igrejas, partindo em seguida para o mundo inteiro a fim de anunciarem a mesma doutrina e a mesma fé. Em todas as cidades iam fundando igrejas das quais, desde esse momento, as outras receberam o enxerto da fé, semente da doutrina, e ainda recebem cada dia, para serem igrejas. É por isso mesmo que serão consideradas como apostólicas, na medida em que forem rebentos das igrejas apostólicas.

É necessário que tudo se caracterize segundo a sua origem. Assim, essas igrejas, por numerosas e grandes que pareçam, não são outra coisa que a primitiva Igreja apostólica da qual procedem. São todas primitivas, todas apostólicas e todas uma só. Para atestarem a sua unidade, comunicam-se reciprocamente na paz, trocam entre si o nome de irmãs, prestam-se mutuamente os deveres da hospitalidade: direitos todos esses regulados exclusivamente pela tradição de um mesmo sacramento.

A partir daí, eis a prescrição que assinalamos. Desde o momento em que Jesus Cristo, nosso Senhor, enviou os apóstolos para pregarem, não se podem acolher outros pregadores senão os que Cristo instituiu. Pois ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho tiver revelado.

E qual a matéria da pregação, isto é, o que lhes tinha revelado o Cristo?

Aqui ainda assinalo esta prescrição: para sabê-lo é preciso ir às igrejas fundadas pessoalmente pelos apóstolos, por eles instruídas tanto de viva voz quanto pelas epístolas depois escritas.

Nestas condições, é claro que toda doutrina de acordo com essas igrejas apostólicas, matrizes e fontes originárias da fé, deve ser considerada autêntica, pois contém o que tais igrejas receberam dos apóstolos – apóstolos de Cristo e Cristo de Deus. Ao contrário, toda doutrina deve ser pré-julgada como proveniente da mentira se se opõe à verdade dos apóstolos, de Cristo e de Deus.

Resta, pois, demonstrar que nossa doutrina, cuja regra formulamos acima, procede da tradição dos apóstolos e, por isso mesmo, as demais procedem da mentira. Nós estamos em comunhão com as igrejas apostólicas, se nossa doutrina não difere da sua: eis o sinal da verdade” (Da Prescrição dos hereges, XIII-XX).

Retirado do livro: “Escola da Fé – Vol. I – A Sagrada Tradição”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.

A Doutrina Católica do Batismo Infantil

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A Doutrina Católica do Batismo Infantil

Karl Keating, Catholic Answers
Tradução: Rondinelly Ribeiro

Fonte: www.veritatis.com.br

Algumas igrejas protestantes, principalmente as fundamentalistas, criticam a prática da Igreja Católica de batizar crianças. Para eles, o batismo é reservado apenas para adultos e crianças mais crescidas, pois este deve ser administrado apenas após a evidência do “nascer de novo” – isto é, após a pessoa “aceitar Jesus como único Senhor e salvador”. No instante desta “aceitação”, a pessoa “nasce de novo” e se torna cristão, um dos eleitos, e sua salvação está garantida, para sempre. Só então se segue o batismo, já que este não possui poder salvífico algum. Na verdade, quem morre antes que seja batizado, mas depois de ter “aceitado” Jesus, vai para o paraíso de qualquer forma.

Da forma como estes protestantes entendem, o batismo não é um sacramento (no real sentido da palavra) mas um ordenança. De forma alguma transmitiria a graça que está simbolizando. Para eles, é apenas um manifestação pública da conversão de alguém. Pelo fato de somente adultos ou crianças maiores poderem se converter, o batismo é negado às crianças que ainda não alcançaram a “idade da razão” (em torno dos sete anos). A maioria destes fundamentalistas bíblicos afirmam que durante os anos anteriores à idade da razão, os bebês e as crianças menores estão automaticamente salvas. Assim que determinado indivíduo alcança a tal idade, deve “aceitar” Jesus para alcançar o paraíso.

Desde os tempos do Antigo Testamento, a Igreja Católica entendeu o batismo de forma diferente, ensinando que este é um sacramento que traz consigo diversas coisas, a primeira das quais é a remissão dos pecados, tanto o pecado original como o pecado atual – apenas o pecado original no caso dos bebês e crianças pequenas, pois são incapazes de pecado atual – quando o batizado for adolescente ou adulto.

Pedro explica o que no ocorre no batismo quando diz, arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo (At 2,38). Porém, ele não faz restrição a este ensinamento apenas aos adultos. Ele acrescenta, pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus (v.39). E também lemos, Levanta-te. Recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados, invocando o seu nome (At 22,16). Este mandamento é universal, não restrito a adultos. Além do mais, estes versículos tornam clara a necessária conexão entre o batismo e a salvação, uma conexão explicitamente mencionada por Pedro, que diz, esta água prefigurava o batismo de agora, que vos salva também a vós, não pela purificação das impurezas do corpo, mas pela que consiste em pedir a Deus uma consciência boa, pela ressurreição de Jesus Cristo (1Pd 3,21).

Cristo chama todos ao batismo

Apesar de os protestantes fundamentalistas modernos serem os principais opositores do batismo de crianças, esta heresia não é nova. Na idade média, alguns grupos começaram a rejeitar o pedobatismo, como os Cátaros e Valdenses. Mais tarde, os Anabatistas (re-batizadores) deram prosseguimento a esta corrente doutrinária, afirmando que crianças são incapazes de receber o batismo validamente. Porém, a Igreja Cristã historicamente sempre sustentou que as leis de Cristo se aplicam às crianças da mesma forma como aos adultos, pois Cristo disse que ninguém poderá entrar no céu a menos que tenha renascido pela água e pelo Espírito (Jo 3,5). Suas palavras devem ser aplicadas a todos aqueles que desejem ter direito ao seu reino. Ele também defendeu este direito mesmo às crianças, deixai vir a mim estas criancinhas e não as impeçais, porque o Reino dos céus é para aqueles que se lhes assemelham (Mt 19,14).

Lucas nos dá mais detalhes sobre esta bela passagem das Escrituras. Trouxeram-lhe também criancinhas, para que ele as tocasse. Vendo isto, os discípulos as repreendiam. Jesus, porém, chamou-as e disse: Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas (Lc 18,15-16).

Os protestantes afirmam que estas passagens não se aplicam a crianças mais jovens e a bebês pois a passagem implica que as crianças a que Cristo está se referindo são aquelas que podem ir até ele por si mesmas (algumas traduções trazem “soltem as criancinhas para que venham a mim”, o que dá a entender que elas poderiam fazer isso por si próprias). Os fundamentalistas, então, concluem que a passagem se aplica somente às crianças que são capazes de andar, e, presumivelmente, capazes de cometer pecados. Mas o texto de Lc 18,15 diz Trouxeram-lhe também criancinhas (do grego proseferon de auto kai ta brephe). A palavra grega brephe significa “bebês, crianças nos primeiros anos de vida” – crianças completamente incapazes de chegar até Cristo por si mesmas e que não possuem a capacidade de fazer uma decisão consciente de “aceitar Jesus como seu Senhor e salvador”. Este é precisamente o problema. Os fundamentalistas refutam a possibilidade de conceder o batismo a crianças porque elas não possuem ainda a capacidade de fazer uma escolha consciente, como esta, por exemplo. Mas notem que Jesus diz por que o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas [referindo-se justamente a estas crianças que estavam sendo levadas a ele por suas mães/responsáveis]. O Senhor não exigiu que elas fizessem uma escolha consciente. Disse que elas são precisamente o tipo de pessoa que pode vir até Ele e receber o reino. Então com que bases, pergunta-se aos protestantes fundamentalistas, os bebês e as crianças jovens deveriam ser excluídas do sacramento do batismo? Se Jesus disse Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, por que impedi-las negando-as o batismo?

Em lugar da Circuncisão

Além disso, Paulo nota que o batismo substitui a circuncisão (cf. Cl 2,11-12). Nesta passagem, ele se refere ao batismo como “circuncisão de Cristo” e “circuncisão não feita por mão de homem”. Usualmente, somente crianças eram circuncidadas sob a Antiga Lei; a circuncisão de adultos era rara, pois eram poucos os convertidos ao judaísmo. Se Paulo quisesse excluir as crianças, não teria escolhido a circuncisão como paralelo do batismo.

Esta comparação entre quem poderia receber o batismo e a circuncisão é muito apropriada. No Antigo Testamento, se alguém quisesse se tornar judeu, deveria crer no Deus de Israel, e ser circuncidado. No Novo Testamento, se alguém quisesse se tornar cristão, deveria crer em Deus e em Seu Filho Jesus, e ser batizado. No Antigo Testamento, aqueles nascidos em lares judeus poderiam ser circuncidados em antecipação à fé judaica na qual iriam crescer e praticar. Da mesma forma, no Novo Testamento, aqueles nascidos em lares cristãos poderiam ser batizados em antecipação à fé cristã na qual iriam crescer e praticar. O caminho é o mesmo: se alguém é adulto, deverá proclamar a fé para ser aceito entre os membros; porém se este alguém é uma criança que ainda não possui faculdades para proclamar a fé, a ele será conferido o rito para aceitação entre os membros sabendo que será nesta fé que irá crescer. Esta é a base da referência de Paulo ao batismo como sendo uma “circuncisão de Cristo” – ou seja, o equivalente cristão da circuncisão.

Somente adultos eram batizados?

Os fundamentalistas relutam em admitir que a Escritura em lugar algum restringe o batismo a adultos, mas quando pressionados, acabam admitindo. Eles concluem que mesmo que o texto não explicite esta idéia, existem significados que suportam esta visão. Naturalmente, as pessoas cujos batismos são lidos na Escritura (e alguns são identificados individualmente) eram adultos, mas porque foram convertidos como adultos. Isto faz muito sentido, pois o cristianismo estava apenas em seu começo. Não existia ainda uma “população cristã”, com crianças educadas em lares cristãos, etc.

Mesmo nos livros do Novo Testamento escritos mais tardiamente no primeiro século, nós nunca – nem mesmo uma vez – vemos uma criança crescida em lar cristão sendo batizada apenas após fazer a tal “decisão” por Cristo. De preferência, sempre se assumiu que as crianças nascidas em lares cristãos já eram cristãs, pois já haviam sido “batizadas em Cristo” (Rm 6,3). Se o batismo de crianças não fosse o costume, deveria haver referências de filhos de pais cristãos sendo aceitos na Igreja apenas após chegarem à idade da razão, mas não há nenhuma referência a isso na Bíblia.

Referências Bíblicas?

Mas, alguém poderia perguntar, a Bíblia diz que bebês e crianças menores podem ser batizadas? As evidências são claras. No Novo Testamento lemos que Lídia foi convertida pela pregação de Paulo e que foi batizada juntamente com a sua família (At 16,15). O carcereiro a quem Paulo e Silas converteram foi batizado naquela noite juntamente com sua família, então, naquela mesma hora da noite, ele cuidou deles e lavou-lhes as chagas. Imediatamente foi batizado, ele e toda a sua família (v. 33). Em sua saudação aos coríntios, Paulo recorda, aliás, batizei também a família de Estéfanas (1Cor 1,16).

Em todos estes casos, lares e famílias inteiras foram batizadas. Isto significa mais do que apenas o cônjuge, pois as crianças também estavam incluídas. Se o texto de Atos fizesse referências apenas ao carcereiro e à sua esposa, porque não lemos “foi batizado, ele e sua esposa”? Portanto, suas crianças também deveriam estar incluídas. O mesmo se aplica aos demais batismos semelhantes citados na Escritura.

Devemos admitir que é impossível conhecer a idade exata das crianças; poderiam ser crianças que já passaram da idade da razão, mas também poderiam ser bebês ou crianças menores, mais jovens. É mais provável que habitassem tanto crianças mais novas como mais velhas, e certamente haveria crianças que ainda não alcançaram a idade da razão nestes e tantos outros lares que foram batizados, especialmente se considerarmos que a sociedade da época não se preocupava com métodos de controle de natalidade. Além do mais, dado o caminho para o entendimento de batismo em lares inteiros, se houvesse exceção a esta regra (as crianças), deveria estar explícita.

Padres e Concílios

A doutrina da Igreja Católica de hoje sempre foi a mesma adotada desde o início do cristianismo. Orígenes, por exemplo, escreveu no terceiro século que “de acordo com o costume da Igreja, o batismo é conferido às crianças” [Homilia a Leviticus 8:3:11, (244 d.C.}]. O Concílio de Cartago, em 253, condenou a doutrina de que o batismo das crianças deveria ser adiado até os oito anos de idade. Mais tarde, Santo Agostinho ensinou que “O costume da madre Igreja de batizar crianças certamente não deve ser zombado…nem que esta tradição seja algo que não dos apóstolos” [Interpretação Literal do Gênesis 10:23:39 (408 d.C.)]

Sem chance para “invenção”

Nenhum dos pais ou Concílios da Igreja disse que esta prática era contrária às Escrituras ou à Tradição. Concordavam que o batismo de crianças era uma prática costumeira e apropriada desde os tempos da Igreja primitiva; a única incerteza parecia ser quando – exatamente – a criança deveria ser batizada. Mais evidências de que o batismo de crianças era uma prática aceita na Igreja primitiva é o fato de que se o batismo infantil fosse contrário às práticas religiosas dos primeiros cristãos, porque não possuímos nenhum documento, nenhum, de escritores cristãos que reprovem esta prática?

Entretanto os protestantes fundamentalistas buscam ignorar os escritos dos primitivos cristãos que claramente legitimam o batismo infantil. Tentam se refugiar apelando para a história de que o batismo requer fé e, pelo fato de as crianças serem incapazes de terem fé, não podem ser batizadas. É verdade que Cristo deu instruções sobre a fé atual de adultos convertidos (Mt 28,19-20), mas a sua lei geral sobre a necessidade do batismo (cf. Jo 3,5) não coloca restrições aos sujeitos ao batismo. Apesar de as crianças estarem incluídas na lei que Ele estabeleceu, existem exigências da lei que elas ainda não podem cumprir por causa de sua idade. Não se pode esperar que sejam instruídos e tenham fé se ainda são incapazes de receber alguma instrução ou manifestar a fé. O mesmo é verdadeiro para a circuncisão, a fé em Deus era necessária para que o adulto a recebesse, mas não se fazia necessária aos filhos dos judeus.

Além do mais, a Bíblia nunca diz “a fé em Cristo é necessária à salvação, com exceção das crianças”, mas simplesmente diz “a fé em Cristo é necessária à salvação”. Mesmo os protestantes fundamentalistas devem admitir que aqui há uma exceção às crianças a menos que desejem condenar todas as crianças automaticamente ao inferno. Desta forma, os próprios protestantes fazem uma exceção às crianças em relação à necessidade da fé para alcançar a salvação. Eles, dessa forma, criticam o católico por fazer a mesma exceção para o batismo, especialmente se, como cremos, o batismo for um instrumento para a salvação.

Torna-se aparente, então, que a posição fundamentalista acerca do batismo infantil de fato não é conseqüência de críticas bíblicas, mas da idéia protestante da salvação. Na realidade, a Bíblia indica que as crianças podem, e devem, ser batizadas, pois elas também podem herdar o Reino dos Céus. Além disso, o testemunho e a prática das primeiras comunidades devem silenciar de uma vez por todas os que criticam a prática da Igreja Católica de batizar crianças. A Igreja apenas dá continuidade à tradição estabelecida pelos primeiros cristãos, que atenderam as palavras de Jesus, Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas (Lc 18,16)

Voluntários que conversam de graça na rua, um remédio para a solidão

New Africa | Shutterstock
Por Dolors Massot

Este movimento já conta com voluntários em vários países. Infelizmente, hoje em dia a solidão já começa a afetar os países em desenvolvimento, e não apenas os países ricos, como há pouco tempo… Veja:

Quem diz que a mídia e as redes sociais geraram uma grande sociabilidade global não conhece Adrià Ballester. Este jovem de Barcelona dedica-se a falar de pessoa a pessoa. Ele monta duas cadeiras na rua, senta-se em uma delas e coloca uma placa convidando qualquer um que queira sentar-se e conversar.

Adrià faz isso porque percebeu que há muitas pessoas que não têm ninguém com quem conversar, mesmo que vivam cercadas por outras pessoas nas ruas e praças. As multidões não implicam em contato. E a conversa é essencial, vital.

O Free Conversations Moviment

Assim, em 2017, este jovem de 28 anos começou algo que hoje é o Free Conversations Moviment. Ele o faz para combater o “processo de desumanização e isolamento de um sistema social que quebra a conexão humana pessoal básica e a substitui por uma ilusão de hiperconectividade global, muitas vezes enganadora”, como ele explica. Desta forma, o “crescimento dos valores de humanidade” será alcançado.

Não foi algo programado, mas o fato é que Adrià foi seguido por outras quatro pessoas nas mais diversas partes do mundo: da Cidade do México a Hong Kong, passando por Toronto (Canadá) ou Equador, onde uma jovem mulher coordena os “conversadores” da América Latina. Na Espanha, há outros “conversadores” em Barcelona e na Galiza.

Você pode ver algumas imagens do movimento aqui:

© @freeconversation | The Free Conversations Movement em ação
© @freeconversation | Conversando nas ruas
© @freeconversation |  Em qualquer parte do mundo
© @freeconversation Voluntariado
© @freeconversation | Em Barcelona
© @freeconversation | Combatendo a solidão
© @freeconversation | Duas cadeiras bastam
© @freeconversation | O voluntário espera quem quiser conversar
© @freeconversation | Voluntariado com forma de caridade
© @freeconversation | Movimento está crescendo no mundo
Cada voluntário, dez conversas por semana

O movimento já realizou mais de 1.500 conversas. A média é de cerca de 10 conversas por voluntário por semana.

Agora é uma ONG. Cresceu, tem um voluntário que é responsável pelo marketing na França, outro que faz o design gráfico do site… Adrià dá seu dinheiro para a manutenção do site e esta é uma forma permanente de aumentar o número de conversadores.

Toca o coração

Gaal Cohen, por exemplo, de Guadalajara (México), leu um artigo em “La Vanguardia” em 2019 e aderiu ao movimento. Ele dedica à iniciativa as manhãs de sexta-feira. O jornal de Barcelona dedicou-lhe novamente um artigo em junho passado e Gaal explicou o que dá sentido a este projeto: “Toca verdadeiramente o coração”. Em seu caso, a prefeitura de Guadalajara está ciente desta aventura e a apoia.

Um remédio para muitos

Visitar idosos e pessoas que estão sozinhas em residências ou lares de idosos pode ser difícil, especialmente devido às medidas de segurança tomadas nesses lugares, mas a rua pode ser um ponto de encontro ao ar livre e com a proximidade do coração. Esse é o maior presente e o melhor remédio para muitas pessoas que são vítimas da solidão.

A ideia de Adrià é também uma reflexão sobre como podemos melhorar nossa sociedade. Tudo isso pode começar estabelecendo laços com nossos vizinhos: uma saudação, uma genuína preocupação pelos outros, um gesto altruísta graças ao qual a outra pessoa descobre que existe para os outros…

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF