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segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Cientistas não conseguem explicar por que o manto de Guadalupe não se decompôs

Osservatore Romano / AFP
Por Philip Kosloski

Após quase 500 anos, a "tilma" com a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe continua perfeitamente preservada, embora seja feita de fibras vegetais que só poderiam ter resistido durante poucos anos.

A“tilma” utilizada por São Juan Diego, isto é, o manto com que ele se protegia e sobre o qual ficou impressa inexplicavelmente a imagem milagrosa de Nossa Senhora de Guadalupe, está em exposição no México há quase 500 anos e não mostra sinais de decomposição.

Este fato surpreende os cientistas que o analisam, porque a “tilma” foi feita com fibras de agave, uma planta da família botânica do sisal e da iúca, e, portanto, só poderia ter resistido durante poucos anos.

Dr. Aldofo Orozco explicou a situação no Congresso Mariano Internacional sobre Nossa Senhora de Guadalupe em 2009.

“Todos os tecidos semelhantes à ‘tilma’ que foram expostos no ambiente úmido e salino dos arredores da Basílica duraram no máximo dez anos (…) A ‘tilma’ original ficou exposta durante aproximadamente 116 anos sem nenhum tipo de proteção, recebendo toda a radiação infravermelha e ultravioleta das dezenas de milhares de velas próximas e exposta ao ar úmido e salino da região do santuário”.

Além disso, o manto de Guadalupe sofreu diversos tratamentos altamente prejudiciais, como o derramamento acidental de um solvente de ácido nítrico a 50% em 1785 – e, sem qualquer explicação plausível, saiu ilesa do incidente.

A “tilma” sobreviveu até a um atentado a bomba contra a basílica em 1921: tudo ao seu redor ficou seriamente danificado, mas a “tilma” novamente saiu intacta.

O Dr. Orozco resume: a preservação da “tilma” é um fato que simplesmente “vai além de qualquer explicação científica“.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Trinta anos do Catecismo da Igreja Católica, "depósito da fé"

São João Paulo II e Joseph Ratzingel: apresentação do Catecismo
da Igreja Católica

O Catecismo da Igreja Católica foi publicado por São João Paulo II, após seis anos de intensos trabalhos de uma Comissão presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger. Em 2018, o Papa Francisco fez uma mudança sobre a “inadmissibilidade da pena de morte”.

Michele Raviart – Vaticano News

Em 7 de dezembro de 1992, São João Paulo II apresentava, solenemente, o novo “Catecismo da Igreja Católica”, que está completando trinta anos, explicando seu objetivo específico: "ele expõe os conteúdos da fé, de modo coerente com a verdade bíblica, com a genuína tradição da Igreja e em particular com os ensinamentos do Concílio Vaticano II; põe em evidência o fundamento e essência do anúncio cristão, com o intuito de expor, mediante uma linguagem mais sensível às exigências do mundo de hoje, a perene verdade católica".

Obra presidida pelo cardeal Ratzinger

O texto do “Catecismo da Igreja Católica”, um trabalho que durou seis anos, foi realizado, sob a direção do cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, por uma Comissão de doze cardeais e bispos e uma Comissão editorial de sete bispos diocesanos, especialistas em teologia e catequese. Após uma consulta dos bispos, teólogos e exegetas do mundo inteiro, a Comissão redigiu um texto, ponto de referência para a transmissão da fé católica, dividido em três partes: "Profissão de Fé", "Celebração da o mistério cristão", "A vida em Cristo e Oração cristã". Trata-se, segundo São João Paulo II, de “um verdadeiro dom, profundamente enraizado na Sagrada Escritura e na Tradição apostólica”, mas também “dirigido ao futuro e a todos, porque coloca ao centro Jesus Cristo, Senhor de todos”.

Processo da publicação

A ideia de estabelecer um “ponto de referência” do anúncio profético e catequético teve início em 1985, a pedido dos Padres Sinodais, recebidos pelo Papa, por ocasião dos vinte anos da conclusão do Concílio Vaticano II. No ano seguinte, em 1986, iniciaram-se os trabalhos das Comissões sobre o texto, aprovado por São João Paulo II, em 25 de junho de 1992, promulgado na Constituição “Fidei depositum”, mas publicado, definitivamente, com a Carta apostólica “Laetamur Magnopere”, em 15 de agosto de 1992.

A fé, resposta significativa à experiência humana

Vinte e cinco anos após a “Fidei depositum”, em 11 de outubro de 2017, o Papa Francisco recordou a importância do “Catecismo da Igreja Católica”, fruto do Concílio e do desejo de São João XXIII, “por sua capacidade de apresentar, com uma linguagem renovada, a beleza da fé em Jesus Cristo; um instrumento importante, não apenas porque apresenta aos cristãos os ensinamentos de todos os tempos, para crescer na compreensão da fé, mas também e, sobretudo, porque pretende aproximar os nossos contemporâneos, com os seus problemas novos e diversos, à santa Igreja, comprometida em apresentar a fé à existência humana, como resposta significativa, neste momento histórico particular”.

Mudança sobre a pena de morte, em 2018

Naquela ocasião, o Papa Francisco expressou seu desejo de rever o artigo 2267º, sobre a pena de morte, que não estava excluída do ensinamento tradicional da Igreja. Em uma passagem, inserida no novo texto, reescrito em 2018, o Pontífice afirmou: “A pena de morte é inadmissível, porque atenta contra a inviolabilidade e a dignidade da pessoa”. Durante muito tempo, - lê-se no Catecismo – “o recurso à pena de morte, pelas legítimas autoridades, depois de um julgamento regular, foi considerada uma resposta adequada à gravidade de alguns crimes e um meio aceitável, apesar de extremo, para a tutela do bem comum”. Mas, “hoje, vigora, cada vez mais, a consciência de que não se perde a dignidade da pessoa, nem mesmo depois de ter cometido crimes gravíssimos”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Nossa Senhora de Guadalupe

Nossa Senhora de Guadalupe | arquisp
12 de dezembro

Nossa Senhora de Guadalupe

Como toda aparição de Nossa Senhora, a que é venerada hoje é emocionante também. Talvez esta seja uma das mais comoventes, pelo milagre operado no episódio e pela dúvida lançada por um bispo sobre sua aparição a um simples índio mexicano.

Tudo se passou em 1531, no México, quando os missionários espanhóis já haviam aprendido a língua dos indígenas. A fé se espalhava lentamente por essas terras mexicanas, cujos rituais astecas eram muito enraizados. O índio João Diogo havia se convertido e era devoto fervoroso da Virgem Maria. Assim, foi o escolhido para ser o portador de sua mensagem às nações indígenas. Nossa Senhora apareceu a ele várias vezes.

A primeira vez, quando o índio passava pela colina de Tepyac, próxima da Cidade do México, atual capital, a caminho da igreja. Maria lhe pediu que levasse uma mensagem ao bispo. Ela queria que naquele local fosse erguida uma capela em sua honra. Emocionado, o índio procurou o bispo, João de Zumárraga, e contou-lhe o ocorrido. Mas o sacerdote não deu muito crédito à sua narração, não dando resposta se iria, ou não, iniciar a construção.

Passados uns dias, Maria apareceu novamente a João Diogo, que desta vez procurou o bispo com lágrimas nos olhos, renovando o pedido. Nem as lágrimas comoveram o bispo, que exigiu do piedoso homem uma prova de que a ordem partia mesmo de Nossa Senhora.

Deu-se, então, o milagre. João Diogo caminhava em direção à capital por um caminho distante da colina onde, anteriormente, as duas visões aconteceram. O índio, aflito, ia à procura de um sacerdote que desse a unção dos enfermos a um tio seu, que agonizava. De repente, Maria apareceu à sua frente, numa visão belíssima. Tranqüilizou-o quanto à saúde do tio, pois avisou que naquele mesmo instante ele já estava curado. Quanto ao bispo, pediu a João Diogo que colhesse rosas no alto da colina e as entregasse ao religioso. João ficou surpreso com o pedido, porque a região era inóspita e a terra estéril, além de o país atravessar um rigoroso inverno. Mas obedeceu e, novamente surpreso, encontrou muitas rosas, recém-desabrochadas. João colocou-as no seu manto e, como a Senhora ordenara, foi entrega-las ao bispo como prova de sua presença.

E assim fez o fiel índio. Ao abrir o manto cheio de rosas, o bispo viu formar-se, impressa, uma linda imagem da Virgem, tal qual o índio a descrevera antes, mestiça. Espantado, o bispo seguiu João até a casa do tio moribundo e este já estava de pé, forte e saudável. Contou que Nossa Senhora "morena" lhe aparecera também, o teria curado e renovado o pedido. Queria um santuário na colina de Tepyac, onde sua imagem seria chamada de Santa Maria de Guadalupe. Mas não explicou o porquê do nome.

A fama do milagre se espalhou. Enquanto o templo era construído, o manto com a imagem impressa ficou guardado na capela do paço episcopal. Várias construções se sucederam na colina, ampliando templo após templo, pois as romarias e peregrinações só aumentaram com o passar dos anos e dos séculos.

O local se tornou um enorme santuário, que abriga a imagem de Nossa Senhora na famosa colina, e ainda se discute o significado da palavra Guadalupe. Nele, está guardado o manto de são João Diego, em perfeito estado, apesar de passados tantos séculos. Nossa Senhora de Guadalupe é a única a ser representada como mestiça, com o tom de pele semelhante ao das populações indígenas. Por isso o povo a chama, carinhosamente, de "La Morenita", quando a celebra no dia 12 de dezembro, data da última aparição.

Foi declarada padroeira das Américas, em 1945, pelo papa Pio XII. Em 1979, como extremado devoto mariano, o papa João Paulo II visitou o santuário e consagrou, solenemente, toda a América Latina a Nossa Senhora de Guadalupe.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

domingo, 11 de dezembro de 2022

Como são belas as tuas moradas

A crucifixão de Jesus, capela X, detalhe | 30Dias
Revista 30Dias - 12/2004

A introdução do suplemento sobre os santuários lombardos publicado na Itália por 30Dias, escrita pelo Prefeito da Biblioteca Ambrosiana, de onde foi extraído o artigo sobre Ossúcio


de Gianfranco Ravasi

A disputa de Jesus no Templo de Jerusalém, capela V.
A capela compreende vinte estátuas modeladas por
Agostino Silva

Montevécchia: não é um topônimo que lembra uma castelã idosa, mas, mais refinadamente, é a corrupção do latim tardio mons vigiliae, o monte da sentinela, da vigília. A essa colina que domina toda a planície e deixa ao fundo piscarem as luzes de Milão, eu subo pelo menos duas vezes por ano, para a grande vigília pascal e para a missa da meia-noite de Natal. Essa é a minha “Montanha Sagrada” lombarda, ligada às lembranças da minha infância, na região da Briança, às minhas primeiras orações elevadas do santuário mariano erguido sobre aquele monte, ao final de uma ladeira de degraus cortada pela metade pelo círculo de uma via-sacra feita em rocha, de grande incisividade figurativa.
Eu quis voltar a subir idealmente essa colina, desco­nhecida para a maior parte dos leitores, porque estou convencido de que todos têm uma sua “Montanha Sagrada”, ainda que menor, à qual se aninham lembranças e talvez ainda esperanças. Estou certo, além disso, de que muitos leitores lombardos encontrarão nos belíssimos retratos que se seguem (são verdadeiras pinturas, que seguem o modelo daquelas que os pintores paisagistas do Grand e Petit Tour dos séculos passados aprontavam em seus álbuns) o santuário “deles” ou, como me aconteceu, os lugares sagrados mais caros da Lombardia. Sim, pois é difícil que um milanês não tenha subido ao menos uma vez pela esplêndida estrada, “entalhada em forma de livro na rocha”, que conduz à Montanha Sagrada de Varese.
Ele há de lembrar as paradas naquelas catorze capelas dedicadas aos mistérios do Rosário (uma delas com um toque de Guttuso), para concluir o percurso orante no santuário, último mistério mariano, coroado de espiritualidade pela presença contígua do mosteiro das Romitas ambrosianas, também a seu modo sentinelas com suas horas ritmadas pela pureza absoluta do canto firme da liturgia ambrosiana. É igualmente difícil que um lombardo não saiba o que é o santuário de Tirano. Claro, talvez muitas vezes tenha apenas passado ao lado desse imponente edifício sagrado de soberba fachada bramantesca e admirável e solene campanário: em seu carro estavam os esquis que indicavam uma outra meta, os campos de neve de Bórmio ou do Stélvio.
No entanto, talvez uma vez há de ter aparecido no interior daquele templo majestoso e terá ouvido ou lido a história daquela aparição muito campestre ocorrida às primeiras luzes da aurora de um domingo de setembro de 1504, uma história, entre outras, passada àquele delicioso Livro dos milagres escrito num italiano todo mesclado de dialeto valtelinense. Talvez tenha ouvido evocar aquele terrível “matadouro sagrado”, expressão de um duelo no qual se entrelaçavam fé e política. Mas em nossos dias há de ter também descoberto que os ritos satânicos, celebrados naquela época nessas terras de bruxas e feiticeiras, e condenados por São Carlos Borromeu, são tudo menos o achado de um paleolítico espiritual: a não muitos quilômetros de Tirano, em Quiavena, o martírio de irmã Maria Laura Mainetti, que todos conhecem, traz ainda o estigma daquele mesmo culto blasfemo, absurdo e sangüinário.
Como acontece comigo, muitos lombardos escolhem para suas férias de verão ou para o fim de semana as margens encantadoras do lago de Como. É claro que os guias turísticos remetem aos grandes hotéis ou às mansões patrícias já desabitadas, enquanto a fofoca jornalística leva a acampar fora da mansão de George Clooney para ver nem que seja sua silhueta por trás da janela escurecida de uma Mercedes a toda velocidade, quase como se fosse uma nova aparição “leiga”. Giuseppe Frangi, ao contrário, escolheu subir até aquela inesquecível tribuna natural na qual se ergue o santuário de Ossúcio, com sua doce Nossa Senhora de mármore cândido e com o Menino brincando com um passari­nho, mas também com o itinerário constelado de capelas, lotadas por pelo menos duzentas e trinta estátuas, com figuras de personagens “de papo inchado”, sinal de um realismo gerado por uma síndrome endêmica do passado, com seis cavalos, nove animais variados e muitas cenas vivazes.
Mas há uma surpresa nessa seleção de montanhas sagradas. Penso que muitos, como eu, ficarão surpresos com uma meta muito mais “escondida e apartada” que é proposta nesse dossiê. A colina santa de Cerveno é, de fato, desconhecida para a maioria, no entanto, por meio da representação que Frangi nos oferece, temos a oportunidade de um encontro extraordinário. É o encontro com a via-sacra de madeira de Beniamino Simoni, um artista do povo dotado de uma genialidade figurativa própria, que não escapou ao “olhar febril” de Giovanni Testori. A esperança de hoje é ver peregrinos e visitantes se dirigirem a essa cidadezinha dos arredores de Bréscia, até hoje marginalizada, para lá descobrir o frêmito que todas as Montanhas Sagradas conseguem gerar na alma.
Comecei evocando um santuário da região de Leco, Montevécchia. Gostaria de concluir esta breve viagem a alguns montes santos com palavras que todos conhecem: “Adeus, montanhas que nascem das águas, e elevadas ao céu, picos desiguais, conhecidos daquele que cresceu entre vós e impressos em sua mente, não menos que o aspecto de seus familiares...”. Quem não se lembra desse adeus apaixonado aos montes de Leco que Manzoni deixou em Os noivos? É claro que essas montanhas são o Resegone, as Grinhas e as alturas do lago de Leco. No entanto, experimenta-se com maior razão essa sensação de nostalgia quando, da paz e do silêncio de um santuário posto sobre uma Montanha Sagrada, se desce até o barulho e o frenesi dos vales e da planície urbana. É a mesma nostalgia que experimentava o antigo judeu quando deixava o monte santo de Sião, “altura estupenda, alegria de toda a terra” e, com o Salmista, proclamava uma bem-aventurança e uma promessa: “Felizes os que habitam em tua casa, eles te louvam sem cessar. Felizes os homens cuja força está em ti, e que guardam as peregrinações no coração” (Sl 84,5-6).

TEOLOGIA: Comunhão no Amor

Crédito: Ecclesia

Matta el Meskin:

Comunhão no Amor

trad.: Pe. José Artulino Besen*

A nossa comunhão é com o Pai
e com o seu Filho Jesus Cristo. 1Jo 1,3

V. Natal: o Cristo da História, um Cristo Vivente

E vós, quem dizeis que eu sou?...
Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.

(Mt 16,15-16).

Conteúdo:

V.1 Os Evangelhos, obra do Espírito Santo

V.2 Os Evangelhos são livros de fé 

V.3 Cristo e a revelação do Reino 

O nascimento de Cristo, sua morte e ressurreição, são acontecimentos sobrenaturais que ultrapassam em muito sua dimensão histórica, e é por isso que seu impacto direto sobre toda a humanidade superou qualquer critério da lógica humana. Quanto à autoridade de Cristo, é suficiente pensar naquilo que os discípulos afirmaram após a ressurreição, prestando seu testemunho no processo movido pelos escribas e anciãos dos judeus: Em nenhum outro há salvação; nenhum outro nome foi dado aos homens abaixo do céu pelo qual possamos ser salvos (At 4,12).

Por isso, devemos prestar a máxima atenção quando o evangelho nos narra a vida de Jesus Cristo. O que lemos no evangelho segundo Mateus e segundo Lucas, sobre o nascimento humano que acontece no coração da história, é situado por João num contexto divino que transcende a história, pois aquilo que para Mateus e Lucas é o nascimento do menino Jesus, para João é a encarnação da Palavra existente desde o princípio.

Analogamente, para sua morte: enquanto os três evangelhos sinóticos oferecem a narração do ponto de vista da história individual e humana de Jesus, o quarto evangelho deles se destaca para elevá-la além do nível de uma história individual, e nela revela o mistério da redenção divina que abraça toda a humanidade:

Os pontífices e os fariseus convocaram o Conselho e disseram: Que faremos? Este homem multiplica os milagres. Se o deixarmos proceder assim, todos crerão nele, e os romanos virão e arruinarão a nossa cidade e toda a nação. Um deles, chamado Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano, disse-lhes: Vós não entendeis nada! Nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça toda a nação? E ele não disse isso por si mesmo, mas, como era o sumo sacerdote daquele ano, profetizava que Jesus haveria de morrer pela nação e não somente pela nação, mas também, para que fossem reconduzidos à unidade os filhos de Deus dispersos (Jo 11, 47-52) O céu e a terra, o tempo e a eternidade se unem.

Podemos perceber, exatamente no coração do evangelho, como a história e a eternidade se misturaram numa assombrosa sintonia. A história é e permanece história: ela descreve apenas o passado com seus acontecimentos, concluídos e passados, gravados nos dias, nos meses e nos anos. O homem sempre julgou inconcebível a eventualidade de que num dia  a história e a eternidade pudessem misturar-se. Naquele tempo, na pessoa de Jesus Cristo, a história ganhou a força de ficar em pé, viva e doadora de vida, poderosa na sua eficácia, entrecruzada com as profundezas do próprio Deus e da eternidade, pronta para transportar o passado mortal do ser humano a uma vida eterna e imortal, nada menos do que isso.

A história - o tempo - era o destino em que toda a história de cada criatura era obrigada a se aprisionar, pois era criada, vivia e morria. Foi assim até que - na plenitude do tempo - nasce, num dia, num mês e num ano preciso da história, um menino chamado Jesus; ele foi registrado como um cidadão normal nos registros do recenseamento imperial. Há dois mil anos de distância desse nascimento e de acordo com aquilo que é indicado nos evangelhos, acontecimentos claros demonstraram com insistência e com sinais evidentes que naquele lugar e naquele menino era inaugurada uma nova história da humanidade. Um mistério que engloba também o céu e suas criaturas e se dilata até a eternidade de Deus.

Eis o testemunho do evangelho segundo Lucas:

Havia naquela região alguns pastores que faziam vigília de noite guardando o seu rebanho. Um anjo do Senhor apresentou-se diante deles e a glória do Senhor os envolveu de luz. Eles foram tomados de grande temor, mas o anjo lhes disse: Não tenhais medo, eis que eu vos anuncio uma grande alegria, que será para todo o povo: hoje nasceu para vós, na cidade de Davi, um salvador, que é o Cristo Senhor. Isso vos servirá de sinal: encontrareis um menino envolto em faixas, e jaz numa manjedoura. E imediatamente apareceu com o anjo uma multidão do exército celeste que louvava Deus e dizia: “Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama. (Lc 2, 8-14) 

Este acontecimento celeste foi a primeira violação aberta dos limites impostos ao espaço da humanidade e à sua capacidade de narrar a história segundo o nível do tempo. A violação, da  parte dos anjos, do campo visível e auditivo do homem, é algo que originariamente não pertencia à história ou à capacidade receptiva humana. É evidente que o recém-nascido é de tal condição que, uma vez descido ao nível humano e terreno na manjedoura de Belém, imediatamente abriu-se  uma brecha rumo à condição divina e celeste; isso não fica sem efeito no mais alto dos céus.

Aqui, o anjo desempenhou uma missão particularíssima: aparece como um evangelista a serviço dos seres humanos e assim - com base nas ordens recebidas de Deus - encarregou-se de recordar a cada um a importância deste dia na história da humanidade: dia de “grande alegria”, pela qual todos poderão alcançar sua felicidade na terra. Na ótica divina, de fato, o dia da natividade de Cristo representa o nascimento do Salvador.  Aqui, o anjo entra pela primeira vez na história como um cronista, ao mesmo tempo, porém, revelando o valor deste momento, valor escondido na natureza daquele que nasceu: não é um dia à maneira dos homens, mas é “dia de salvação”,  “grande alegria”, “comprazimento nos homens”.  Com o nascimento deste menino salvador, terminaram os dias de dor e iniciaram os da bem-aventurança.  Pôs-se fim ao tempo da desobediência do homem, e teve início o da glorificação de Deus da parte dos homens na terra e dos anjos no céu, ambos no mesmo plano!  Apesar de que o “hoje” da saudação do anjo possa fazer pensar num ponto de partida temporal, trata-se do início de uma época pós-histórica: é a história da salvação eterna, a história da alegria divina que devia ser lançada na terra para jamais ser arrebatada do coração do homem.

 Deste modo, a violação do mundo humano da parte dos anjos e da multidão dos exércitos celestes é, na realidade, o prelúdio do ingresso do homem no mundo celeste, no mundo dos anjos e de  Deus na pessoa daquele que nasceu para transcender os limites do tempo e do espaço. Em outras palavras, o nascimento de Cristo foi o início de uma reconciliação entre dois mundos: de um lado Deus e os seus anjos e de outro, o homem e seus sofrimentos; foi o ponto de partida da revelação daquilo que está nos céus e a manifestação do invisível. É a partir da natividade que os evangelistas iniciaram a narração da história de Cristo. Mas eles narraram a história de Deus, não a do homem; narraram a realização das promessas eternas de Deus, feitas nos tempos antigos e realizadas no tempo estabelecido em Jesus Cristo seu Filho, oferecido pelo próprio Deus à nossa terra numa carne semelhante à nossa. Sua vinda tinha sido anunciada por todos os profetas nas santas Escrituras que o Espírito tinha gravado nos corações dos homens e mulheres de fé, de modo a serem conservadas e guardadas com cuidado através da sucessão dos séculos, até o dia da aparição de Cristo.

A história de Cristo é a história de Deus com relação à salvação humana, Cristo é a Palavra de Deus para o homem, como se lê na Carta aos hebreus: Nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho (Hb 1,2).

Mesmo que a história da vida de Cristo salvador possa parecer uma história narrada no tempo sob a forma de acontecimentos delimitados pelo tempo e pelo espaço, na verdade, é a manifestação de Deus na verdadeira natureza do gênero humano, a manifestação do céu na terra, da eternidade na plenitude do tempo.

V.1 Os Evangelhos, obra do Espírito Santo

Os evangelhos parecem uma narração escrita por quatro pessoas empenhadas em fazer uma pesquisa sobre tudo o que aconteceu. Mas o Espírito Santo que inspirou os evangelistas enquanto os deixava descrever Cristo segundo aquilo que tinham visto, experimentado ou observado, exercia ao mesmo tempo o próprio controle sobre cada coisa vista ou vivida. Deste modo, vinculava-os à sua fonte divina com alusões sutis e com explicações: assim, o Espírito revelava o mistério da eternidade através da história, o mistério do invisível no visível e o mistério da divindade na carne. Assim o evangelho revela infalivelmente a excepcionalidade da pessoa de Cristo. De modo algum é difícil, mesmo para gente simples e sem instrução, perceber espiritualmente este dado. Uma pessoa assim transcende a história, vai além dos acontecimentos e das circunstâncias referidas nos evangelhos, permanece sempre viva e eficaz porque cada linha do evangelho a revela como a pessoa do Filho do Deus vivente.

O Espírito Santo agiu de modo a transmitir a experiência dos evangelistas e sua compreensão espiritual com a mesma inefável alegria com que, pessoalmente, tinham acolhido a mensagem: por esse motivo confiou-lhes as mais profundas verdades da fé. O evangelista João revela-nos a autenticidade do sentimento de que era possuído enquanto escrevia o evangelho:

Aquilo que era desde o princípio, aquilo que nós ouvimos, aquilo que nós vimos com nossos olhos, aquilo que nós contemplamos e aquilo que nossas mãos tocaram, o Verbo da vida (pois a vida fez-se visível, nós a vimos e disso damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava junto do Pai e a nós fez-se visível), aquilo que vimos e ouvimos, nós o anunciamos também a vós, para que também vós estejais em comunhão conosco. A nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo. Essas coisas vos escrevemos, a fim de que a nossa alegria seja perfeita. (1Jo 1,1-4).

O leitor do evangelho deve aderir com toda confiança ao Espírito que inspirou o texto e nunca perder, de jeito algum, este elemento em seu caminho da história para a eternidade, em sua passagem do visível ao invisível; de outro modo, desanimaria nas peripécias da história, pondo-se a procurar entre os mortos aquele que está vivo! (cf. Lc 24,5)

É absolutamente impossível - conforme toda a tradição evangélica - que alguém possa reconhecer Cristo como Senhor se não for por obra do Espírito Santo. Analogamente, Cristo não pode revelar-se a alguém a não ser por meio do Pai que está nos céus. Este dado nos revela as dimensões da profunda, substancial e infinita relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, não só em sua entidade pessoal, mas também em relação à possibilidade de sua manifestação: Deus pode ser revelado somente em sua totalidade.

A encarnação, seu nascimento e ingresso na substância da história humana, puseram o evangelho em condição de movimentar-se entre a história e a eternidade, tornando verossímil um mistério que se situa além da razão. Este acontecimento torna Deus acessível ao conhecimento humano após o isolamento, o exílio, a separação e também a hostilidade em que todos viveram, distantes do único santo, absoluto e incognoscível Deus.

Não nos esqueçamos de que o encontro entre a eternidade e a história, vivido de modo realístico e sensível, nunca conhecera precedente. No nascimento de Jesus, Deus se revelou pessoalmente; o invisível tornou-se visível e o incognoscível fez-se conhecer numa fúlgida manifestação da glória de Deus.

Mas, é necessário não se esquecer de que, todo aquele que se aproxima dos evangelhos num nível de investigação puramente histórica, que faz de Cristo o objeto de suas pesquisas, perguntas e análises, ignora um outro elemento fundamental na aproximação desse livro. Os evangelistas escreveram seus textos mantendo o olhar fixo em Cristo como Senhor e Deus, que os olhos de seu coração contemplavam como vivente. Deste modo, o evangelho tomou forma em suas mãos: não como uma descrição meticulosa de um determinado acontecimento que teve como protagonista um homem chamado Jesus, mas - pelo contrário - como testemunho de uma realidade viva que tinha tocado seus olhos e coração (a realidade do Senhor Jesus Cristo, o Filho do Deus vivente que enchera seu ser, seus sentimentos e sua fé) e que tinham registrado na memória com absoluta fidelidade e precisão. Assim, estavam em condições de demonstrar aos crentes que Jesus, o Cristo vivente que ressuscitara dos mortos na glória, sem dúvida alguma era Deus; exatamente ele, o mesmo Jesus que nascera em Belém, vivera em Nazaré, pregara na Galiléia e fora crucificado em Jerusalém. 

V.2 Os Evangelhos são livros de fé 

É indispensável que o leitor dos evangelhos coloque diante de seus olhos esta realidade vivente, antes de mergulhar na mensagem contida naqueles textos: desta maneira a história se transfigurará diante dele. Os evangelhos, antes de serem livros de história, são livros de fé! Por isso, a fé na pessoa de Jesus Cristo revela todos os mistérios do evangelho e resolve todos os problemas históricos postos por uma narração escrita há dois mil anos. Constatamos assim, e o podemos constatar diariamente, que o evangelho é revelado com maior profundidade, graça e discernimento aos corações simples que possuem uma fé firme.

O evangelho, porém, não revela a verdade como uma hipótese global que deva ser aceita ou refutada em bloco. Pelo contrário, dirige-se a cada coração de modo específico e pessoal, a cada ser humano revelando a verdade num modo adequado à sua estatura espiritual, ao nível de sua fé, ao seu grau de aceitação da verdade, num fluxo contínuo de revelação que cresce com o crescer da fé e com o passar do tempo.

É oportuno que o leitor do evangelho se aproxime da verdade nele contida na ótica e no espírito do evangelista, de modo a receber as palavras do Espírito nele contidas. Não é nossa intenção tornar mais árdua a missão do leitor: pelo contrário, estamos oferecendo a chave de leitura do mistério do evangelho. Se o leitor obedece ao Espírito do evangelho, empenha-se em aceitá-lo e submete a própria mente à verdade, a verdade se transfigurará diante dele, tornando-se igual àquela contemplada pelo evangelista. Assim, o leitor será investido do sopro do Espírito do evangelho e de seu fluir inefável, que o levarão com a mente e o coração diretamente da palavra ao face a face com a pessoa de Jesus Cristo.

Deste modo se realiza o milagre do evangelho: Então abriu-lhes a mente à inteligência das Escrituras (Lc 24,45). Aqui a história é transfigurada e Cristo é manifestado como Deus pelo testemunho do Espírito em nossos corações.

Partindo desse ponto (da atenção à mente do evangelista e de uma livre submissão ao Espírito Santo que dirige as palavras e lhes confere forma), nos encaminhamos à indispensável atenção às palavras do próprio Cristo, por ele pronunciadas e reiteradas com calma e firmeza: da pura e simples atenção do coração por essas palavras, nós podemos perceber a pessoa do próprio Cristo. Em cada palavra e em cada frase, Cristo realmente se pronunciava a si mesmo!

Cada vez que temos o ouvido atento à sua proclamação da relação que o liga com Deus, tornamo-nos conscientes, de modo certo e seguro, do mistério de sua eterna qualidade de Filho de Deus. Ouçamos sua voz: O meu Pai que está nos céus (Mt 7,21; 10,32; 12,50; 18, 10.19; etc.), O meu Pai celeste o fará (Mt 18,35), Eu devo ficar na casa de meu Pai (Lc 2,49), O meu Pai trabalha sempre e eu também trabalho (Jo 5,17), Meu Pai que mas deu (Jo 10,29), Fiz-vos ver muitas boas obras da parte de meu Pai (Jo 10,32), Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor (Jo 15,1), Abbá, Pai (Mc 14,36). Aqui podemos perceber - absolutamente sem dificuldade - que a relação entre Cristo e Deus é eterna e ultrapassa sua condição humana, e que indubitavelmente existia antes de seu nascimento em Belém.

As palavras dos evangelistas revelam de per si grandeza de ânimo, mas deixam transparecer - com evidência extrema - que a magnanimidade de quem as pronunciou é ainda maior. O alcance teológico evidenciado pelos termos usados é sério e profundo, mas o leitor ou o ouvinte não tem nenhuma dificuldade para perceber que a mente que os elaborou e pronunciou possui uma profundidade e uma seriedade ainda maiores. A audácia da expressão nos trechos citados ultrapassa qualquer compreensão, mas trata-se de uma audácia confiante e humilde que leva a lógica à aceitação, sem esforço, de que Cristo não está dizendo outra coisa que a verdade, manifestando-se a si mesmo com autoridade, sem fingimento algum. Realmente, o Cristo que fala no evangelho fala de si mesmo, da verdade, de Deus! Cristo é a Palavra de Deus!

Cristo imprimiu fortemente na mente de seus discípulos esta verdade (a sua eterna qualidade de Filho de Deus) de tal modo que todos pudessem nela colher o mistério de sua ligação pessoal com o Pai, mistério que deveria revelar-se como o caminho que nEle nos faz mais próximos de Deus, Pai também nosso.  

V.3 Cristo e a revelação do Reino   

Cristo também insiste num outro fato de extrema importância: a manifestação do reino de Deus e a relação que este possui com a sua vinda em nosso mundo. Cristo iniciou sua pregação dirigindo ao mundo estas palavras: Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo! (Mt 4,17), e com elas referia-se a si mesmo. Durante sua vida terrena, empenhou-se em salientar com força que o reino de Deus já tinha iniciado, já tinha vindo, era iminente. Ele proclamou que a sua vinda ao mundo era a inauguração do tempo do reino de Deus, e indicou com sua encarnação e nascimento o autêntico ingresso da humanidade na esfera do reino de Deus. Isso significa, portanto, o ingresso de todos aqueles que estão nele unidos pela fé, como salientaram os anjos na noite de seu nascimento: Glória a Deus no mais alto dos céus e paz na terra aos homens que ele ama! (Lc 2,14). A iniciação da terra e do homem na esfera do reino e da paz de Deus, aqui significa a irrupção do reino de Deus no mundo dos homens.

Cristo continuará a insistir nisso até o dia de sua crucificação, quando estava diante de Pilatos: Pilatos lhe disse: Então tu és rei? Respondeu Jesus: Tu o dizes: Eu sou rei. Para isso nasci e para isto vim ao mundo (Jo 18,37).

Somente quando nos recordamos de que ele estava diante de Pilatos é que nós percebemos a gravidade e a enormidade da acusação legalmente levantada por Pilatos contra ele para crucificá-lo, porque tinha declarado: Eu sou rei.

Não nos esqueçamos de que Cristo afirmou a sua qualidade real tendo diante de si a cruz, enquanto os soldados se apressavam em crucificá-lo e já estava cheio e preparado o cálice da amargura! Como podemos esquecer o dorso nu, o chicote para a flagelação, a cabeça açoitada e suja de cuspe? Diante de tudo isso estava Jesus: ouvimo-lo ainda repetir: Eu sou rei. Para isso nasci e para isso vim ao mundo! E agora, por um instante fechemos os olhos, de novo imaginemos esta cena e escutemos atentamente para ouvi-lo pronunciar a solene declaração com sua voz firme. Neste ponto, um sentimento de fé nos invade e nos permite compreender que ele é verdadeiramente o Filho de Deus e que o seu reino é um reino eterno, que jamais será derrotado e que não é deste mundo. Se o reino de Deus entrou em nosso mundo através do nascimento de Cristo, é graças à sua morte que entramos no reino de Deus nos céus.

Voltemos agora ao nosso ponto de partida: estamos novamente em Belém, numa humilde casa alugada por José após o nascimento de Jesus. Maria está sentada, tendo ao colo o menino Jesus, com quase dois anos. É tarde, e a escuridão cobre a casa e a cidade. Imprevisivelmente aparece uma luz semelhante ao clarão de um relâmpago que inunda o campo e a casa. José precipita-se para fora e vê uma estrela extraordinariamente luminosa que parou exatamente sobre a casa, como se quisesse assinalar com seus raios o lugar onde se encontra o menino. José logo percebe que a estrela indica uma revelação; mal tinha entrado em casa para dizê-lo a Maria e ouve um grande tumulto na rua e à entrada da casa. Sai e vê uma cena singular: uma caravana de camelos enfeitados com muitos bordados é conduzida por um grupo de servidores e transporta alguns homens idosos, cujo aspecto revela uma condição elevada e rica: são príncipes orientais. Descem e suas faces irradiam alegria e simpatia, apesar do cansaço da longa viagem. Dão um passo em frente e perguntam a José: “Está em casa um menino de quase dois anos? Foi anunciado pelo céu, sua mãe é uma virgem e dele falaram os profetas!” Com um sinal, José pede silêncio e com pressa os conduz para dentro de casa, onde estão o menino e sua mãe. Com grande espanto vê o rosto do menino resplandecer como se um raio da estrela tivesse atravessado a parede e pousasse em sua face; a mãe é envolvida pela luz, como se os céus se tivessem aberto.

Os magos, homens sábios, prostram-se e ficam diante do menino, cantando uma doce melodia, com uma incrível veneração, enquanto que suas faces irradiam alegria e doces lágrimas escorrem por suas barbas brancas, fazendo-as resplandecer de luz.

Depois se aproximam do menino, cada príncipe tendo à mão um presente. O primeiro se prostra e abre o cofre: ouro trabalhado, semelhante àquele com que se ornamentam  as coroas reais. O segundo se ajoelha e tem às mãos uma caixa de incenso de delicioso perfume: espalha-o nas mãos do menino, que assim aparece como um sacerdote que traz uma mensagem. Chega depois o terceiro, e também ele se prostra: tem em mãos uma enorme quantidade de mirra, como aquela usada para o Senhor no dia de sua sepultura; talvez seja a mesma, por ele conservada com cuidado, para o dia de sua paixão!

Não posso não maravilhar-me com esses magos e por seus presentes, e ainda mais com aquele que os enviou, guiando-os até Belém!

Ainda uma vez estamos diante do Espírito que fala, mas sem servir-se de palavras. O ouro nas mãos dos magos nada mais é do que dinheiro, riqueza, bom augúrio ou presente, mas segundo o Espírito é um ato de coroação real, com a qual o menino era coroado desde o berço, para que fosse sempre reconhecida a verdadeira realeza de Cristo. Não o tínhamos escutado dizer diante de Pilatos: Eu sou rei. Para isso nasci e para isso vim ao mundo (Jo 18,37)?

O evangelho e seu conteúdo me inspiram temor: sua conclusão se orienta para iluminar o início, e este dirige a própria luz, viva e penetrante, até a conclusão da narração.

Assim, o Espírito sopra entre as linhas e as palavras e atravessa os capítulos. Felizes aqueles que seguem o Espírito para caminhar na luz: a eles é revelado o mistério de Cristo.

Publicação em ECCLESIA autorizada pelo Tradutor, Pe. José Artulino Besen.


Fonte: https://www.ecclesia.org.br/

Promulgado o novo Estatuto Canônico da CNBB

Novo Estatuto Canônico/CNBB

PROMULGADO O NOVO ESTATUTO CANÔNICO DA CNBB NA SOLENIDADE DA IMACULADA CONCEIÇÃO

Foi promulgado, no dia 8 de dezembro, o novo estatuto canônico da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O documento entrou em vigor com a assinatura do Decreto número 4 de 2022, pelo arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo.

A presidência da CNBB quis dar um tom solene à promulgação do novo estatuto canônico. Assim, a leitura do decreto foi feita durante a missa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, celebrada na sede da CNBB, em Brasília (DF), na manhã de ontem.

Missa na CNBB
Missa na CNBB/Apresentação do Decreto

De acordo com o bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado, mais do que fazer um rito burocrático de assinatura do documento, os membros da Presidência escolheram promulgá-lo no dia da Imaculada Conceição de Nossa Senhora e dentro da celebração de fim de ano da CNBB, que marcou o encerramento de comemorações dos 70 anos da entidade.

Um dos colaboradores com mais tempo de atuação na CNBB, João Batista de Souza foi o responsável por colocar o Estatuto aos pés da imagem de Nossa Senhora Aparecida

João Batista de Souza/Colaborador
Estatuto aos pés de Nossa Senhora Aparecida

O processo

A Presidência da CNBB propôs em 2020 a reflexão e o levantamento de propostas para a atualização do estatuto da entidade. A ideia que norteou a construção do documento foi a de refletir o rosto da Igreja no Brasil e favorecer uma atualização de entendimento da estrutura e do funcionamento para os dias de hoje, contemplando os critérios da sinodalidade e da missão, além dos eixos de formação integral, comunicação e diálogo estratégico com a sociedade.

Com a entrada em vigor da Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, do Papa Francisco, em junho deste ano, foram incorporados elementos do documento pontifício à redação do estatuto da CNBB.

No final de agosto, durante a etapa presencial da 59ª Assembleia Geral da CNBB, os bispos voltaram a debater sobre o texto e o aprovaram no dia 2 de setembro. O documento foi enviado para o Dicastério para os Bispos, que o aprovou com observações, por meio de decreto do dia 21 de novembro. Assim, a CNBB foi autorizada a promulgá-lo após a realização de alterações indicadas pelo dicastério. As indicações foram integralmente cumpridas.

Papa: o Advento é tempo de inversão de perspectivas

Papa Francisco no Ângelus | Vatican News

“O Advento é tempo de inversão de perspectivas, no qual nos deixarmos maravilhar pela grandeza da misericórdia de Deus”, são palavras do Papa Francisco no Angelus deste domingo, 11 de dezembro na Praça São Pedro.

Jane Nogara - Vatican News

No Angelus deste 3° Domingo do Advento (11/12), o Papa falou sobre as crises e dúvidas da nossa fé. Falando sobre o Evangelho de Mateus, recordou a “crise de João Batista” que enviou seus discípulos para perguntarem a Jesus: "És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?”. Francisco ressaltou que faz bem a todos nós determo-nos sobre esta crise de João Batista, porque pode dizer algo importante.

O túnel da dúvida

“Ficamos surpresos que isso aconteça justamente com João” disse o Pontífice, “que batizou Jesus no Jordão e o indicou a seus discípulos como o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1,29). Mas isto significa que mesmo o maior crente passa pelo túnel da dúvida.

“E isso não é algo ruim; pelo contrário, às vezes é essencial para o crescimento espiritual: nos ajuda a entender que Deus é sempre maior do que imaginamos.”

Tempo de inversão de perspectivas

Portanto disse ainda o Papa, “nunca devemos deixar de procurá-Lo e de nos convertermos à sua verdadeira face”. Explicando que também nós podemos nos encontrar na sua situação, em uma prisão interior, incapazes de reconhecer a novidade do Senhor, a quem talvez tenhamos em cativeiro na presunção de que já sabemos muito sobre Ele. Francisco recorda que muitas vezes “temos as nossas ideias, os nossos preconceitos, e rotulamos os outros - especialmente os que sentimos que são diferentes de nós – com rígidas etiquetas”. Exortando em seguida:

“O Advento é tempo de inversão de perspectivas, no qual nos deixarmos maravilhar pela grandeza da misericórdia de Deus”

“Um tempo em que”, concluiu o Papa, “preparando o presépio para o Menino Jesus, aprendemos de novo quem é o nosso Senhor; um tempo de sairmos de certos esquemas e preconceitos para com Deus e os irmãos; um tempo em que, em vez de pensarmos em presentes para nós, possamos doar palavras e gestos de consolo aos que estão feridos, como Jesus fez com os cegos, os surdos e os coxos”.

São Dâmaso I

S. Dâmaso I | You Tube
11 de dezembro
São Dâmaso I, papa

Origens

Sabe-se que Dâmaso nasceu na cidade de Guimarães, em Portugal e que teve uma irmã também canonizada: Santa Irene. Possuía cultura elevadíssima, instrução primorosa, era poeta, arquivista e amava a arqueologia. Esses seus dotes foram de grande importância para o futuro da Igreja. Não se sabe muito sobre sua trajetória até chegar a ser eleito Papa. Sabe-se, porém, que ele deixou um legado que assegurou na Igreja a fidelidade aos textos sagrados e a conservação dos originais pela pureza da fé.

Organizador da Doutrina

São Dâmaso foi o primeiro Papa a ordenar que se organizasse os arquivos da Igreja. Em seu ministério, procurou acuradamente conservar versões fiéis, originais e autênticas dos escritos dos pri­meiros Padres. Inclusive, ordenou a destruição de versões apócrifas e deturpa­das dessas obras, para que, nos tempos futuros elas não fos­sem usadas e manipuladas por hereges.

Única versão oficial da Bíblia

Com a mesma intenção de conservar a santa Doutrina, São Dâmaso percebeu que a Igreja precisava de uma única ver­são oficial das Sagradas escrituras. Por isso, incumbiu seu secretário, o extraordinário poliglota São Je­rônimo, de trabalhar numa tradução la­tina da Bíblia, usando como fonte os textos originais gregos ou hebraicos. Foi desse trabalho gigantesco de São Jerônimo que nasceu a famosa Bíblia em Latim conhecida como Vulgata. Esta assegurou aos católicos a certeza do acesso o mais direto possível aos textos sagrados originais durante vários séculos. Somente séculos mais tarde, surgiram outras versões.

Resgatando a História da Igreja

São Dâmaso ordenou que se fizessem esca­vações de estudo e obras para a conservação das catacumbas de Roma. Estas, tinham sido abandonadas desde que o imperador Constantino concedera liberdade à Igreja, no ano 312. São Dâmaso, pessoalmente, estudou e escreveu os epitáfios dos inúmeros mártires que iam sen­do descobertos nos corredores subter­râneos de Roma. Tais epitáfios foram escritos em forma de poesia.

Pontificado fecundo

O pontificado de São Dâmaso durou dezoito anos e foi um dos mais fecundos dos primórdios da Igreja. Ele deu grande apoio a Santo Atanásio na luta contra a heresia conhecida como arianismo. Combateu fortemente tanto esta heresia quanto outras diversas de sua época. Foi um dos primeiros Papas que definiu a autoridade do Papa sobre toda a Igreja como sendo uma au­toridade que lhe é dada diretamente por Jesus Cristo, e não através de delegação advinda dos bispos ou concílios. Sua influência era tanta que, por causa dele, retiraram a estátua da deusa Vitória do Senado Romano visando eliminar vestígios dos cultos pagãos oficiais.

Oração a São Dâmaso

“Senhor, por intercessão de São Dâmaso, concedei-me fidelidade aos Vossos ensinamentos. Livrai-me, Pai de Bondade, da preguiça espiritual e dai-me consciência de que, quanto mais eu Vos buscar em oração, maiores serão as bênçãos em minha vida. Amém.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF