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domingo, 1 de janeiro de 2023

Sobre a Vida dos Primeiros Cristãos

Santo Inácio de Antioquia | Cléofas

Sobre a Vida dos Primeiros Cristãos

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Aristides de Atenas (+ 130) ao imperador Adriano:

“Os cristãos ó rei, vagando e buscando, acharam a verdade conforme pudemos achar em seus livros, estão mais próximos que os outros povos da verdade e do conhecimento certo, pois creem no Deus criador do céu e da terra, naquele em quem tudo é e de quem tudo procede, que não tem outro Deus por companheiro e do qual eles mesmos receberam os preceitos que guardam no coração, com a esperança e expectativa do século futuro. Por isso, não cometem adultério, não praticam a fornicação, não levantam falso testemunho, não recusam devolver um depósito, não se apropriam do que não lhes pertence. Honram pai e mãe, fazem bem ao próximo e, quando em juízo, julgam com equidade. Não adoram os ídolos – semelhantes aos homens. O que não desejam lhes façam os outros não o fazem também; não comem alimentos de sacrifícios idolátricos, pois são puros. Exortam os que os afligem, a fim de fazê-los amigos. Suas mulheres, ó rei, são puras como virgens, suas filhas são modestas. Seus homens se abstém de toda união ilegítima e da impureza, esperando a retribuição que terão no outro mundo. Aos escravos e escravas, bem como a seus filhos – se os têm – persuadem a tornar-se cristãos, em razão do amor que lhes dedicam, e quando se tornam, chamam-nos indistintamente irmãos. Não adoram a deuses estranhos e vivem com humildade e mansidão, sem qualquer mentira entre eles. Amam-se uns aos outros, não desprezam as viúvas. Protegem o órfão dos que os tratam com violência. Possuindo bens, dão sem inveja aos que nada possuem. Avistando o forasteiro, introduzem-no na própria casa e se alegram por ele, como se fora verdadeiro irmão: pois se dão o apelativo de irmãos, não segundo o corpo, mas segundo o espírito e em Deus. Se algum pobre passa deste mundo, alguém sabendo, encarrega-se – na medida de suas forças – de dar-lhe sepultura. Se conhecem um encarcerado ou oprimido por causa do nome do seu Cristo, ficam solícitos a seu respeito e se possível libertam-no.

Quando um pobre ou necessitado surge entre eles e não possuem abundância de recursos para ajudá-lo, jejuam dois ou três dias para obter o necessário para o seu sustento. Guardam com diligência os preceitos do seu Cristo, vivem reta e modestamente – conforme lhes ordenou o Senhor Deus. Todas as manhãs e horas louvam e glorificam a Deus pelos benefícios recebidos, dando graças por seu alimento e bebida. Mesmo se acontece que um justo – entre eles – passa deste mundo, alegram-se e dão graças a Deus, ao acompanharem o cadáver, como se emigrasse de um lugar para outro. E assim como quando nasce um filho louvam a Deus, também se ele morre na infância glorificam a Deus, por quem atravessou o mundo sem pecados. Mas vendo alguém morrer na malícia e nos pecados, choram amargamente e gemem por ele, supondo-o ir ao castigo. Tal é, ó rei, a constituição da lei dos cristãos e tal a sua conduta” (Apologia).

Da Carta a Diogneto:

Esta Carta é um dos mais antigos documentos que conta a vida dos primeiros cristãos; é de um autor desconhecido, que escreveu a Diogneto; é do século II.

Em seguida, temos um trecho da Carta: “Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto a quem é devido; a taxa a quem é devida; a reverência a quem é devida; a honra a quem é devida [Rom 13,7]. Os cristãos residem em sua própria pátria, mas como residentes estrangeiros. Cumprem todos os seus deveres de cidadãos e suportam todas as suas obrigações, mas de tudo desprendidos, como estrangeiros… Obedecem as leis estabelecidas, e sua maneira de viver vai muito além das leis… Tão nobre é o posto que lhes foi por Deus outorgado, que não lhes é permitido desertar (5,5; 5,10;6,10). Os cristãos não diferem dos demais homens pela terra, pela língua, ou pelos costumes. Não habitam cidades próprias, não se distinguem por idiomas estranhos, não levam vida extraordinária. Além disso, sua doutrina não encontraram em pensamento ou cogitação de homens desorientados. Também não patrocinam, como fazem alguns, dogmas humanos… Qualquer terra estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha. Tem a mesa em comum, não o leito. Vivendo na carne, não vivem segundo a carne. Na terra vivem, participando da cidadania do céu. Obedecem às leis, mas as ultrapassam em sua vida. Amam a todos, sendo por todos perseguidos (…). E quando entregues à morte, recebem a vida. Na pobreza, enriquecem a muitos; desprovido de tudo, sobram-lhes os bens. São desprezados, mas no meio das desonras, sentem-se glorificados. Difamados, mas justo; ultrajados, mas benditos, injuriados prestam honra. Fazendo o bem são punidos como malfeitores; castigados, rejubilam-se como revificados. Os judeus hostilizam-nos como alienígenas; os gregos os perseguem, mas nenhum de seus inimigos pode dizer a causa de seu ódio. Para resumir, numa palavra, o que é a alma no corpo, são os cristãos no mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma, assim os cristãos, por todas as cidades do universo (…)”.

Sobre o Martírio dos cristãos

Santo Inácio de Antioquia (+107):

“De viagem da Síria para Roma estou lutando com feras, por terra e por mar, de noite e de dia. Acorrentado a dez leopardos, os milicianos da minha escolta militar… Espero poder enfrentar com alegria as feras que estão preparando para mim, e peço a Deus que eu possa encontrá-las prontas a lançarem-se sobre mim. Se não quiserem, eu mesmo as instigarei para que me devorem num instante (…). Vocês tenham compaixão de mim. Eu sei muito bem o que é útil para mim. Somente agora começo a ser discípulo. Não me deixo impressionar por coisa alguma, visível ou invisível, para poder unir-me a Cristo Jesus. Fogo, cruzes, feras, lacerações, desconjuntura dos ossos, o corpo reduzido a pedaços, as piores torturas caiam sobre mim: importante é unir-me a Jesus Cristo. Que proveito poderão dar-me os prazeres do mundo ou os reinos da terra? Nenhum. Para mim é melhor morrer por Jesus Cristo, do que reinar sobre toda a terra. A minha vida é busca contínua daquele que morreu por nós: quero aquele que por nós ressuscitou. Vejam, meu nascimento se aproxima. Nada melhor podeis fazer por mim, do que deixar que eu seja sacrificado a Deus… Rogo-vos, não tenhais para comigo uma benevolência inoportuna! Deixem-me ser pasto das feras, pelas quais chegarei a Deus. Sou o trigo de Deus, moído pelos dentes das feras para tornar-me o pão duro de Cristo… Quando o mundo não puder mais ver o meu corpo, serei verdadeiramente discípulo de Cristo” (Carta aos Romanos).

São Policarpo (+156):

Diante do martírio no anfiteatro de Esmirna “Eu te bendigo [Senhor] por me terdes julgado digno deste dia e dessa hora, digno de ser contado no número dos vossos mártires… guardastes vossa promessa, Deus da felicidade e da verdade. Por essa graça e por todas as coisas, eu vos louvo, vos bendigo e vos glorifico pelo eterno e celeste sacerdote, Jesus Cristo, vosso Filho bem amado. Por Ele, que está conosco e com o Espírito, vos seja dada a glória, agora e por todos os séculos. Amém” (Martírio 14,2-3).

Martírio dos primeiros cristãos de Roma

Na primeira perseguição contra a Igreja, desencadeada pelo imperador Nero, depois do incêndio da cidade de Roma no ano 64, muitos cristãos foram martirizados com atrozes tormentos. Este fato é testemunhado pelo escritor pagão Tácito (annales 15,44) e por São Clemente, bispo de Roma, papa, na sua Carta ao Coríntios (cap. 5-6), do ano 96: “Deixemos de lado os exemplos dos antigos e falemos dos nossos atletas mais recentes. Apresentemos os generosos de nosso tempo. Vítimas do fanatismo e da inveja, sofreram perseguição e lutaram até à morte. Tenhamos diante dos olhos os bons apóstolos. Por causa de um fanatismo iníquo, Pedro teve de suportar duros tormentos, não uma ou duas vezes, mas muitas; e depois de sofrer o martírio, passou para o lugar que merecia na glória. Por invejas e rivalidades, Paulo obteve o prêmio da paciência: sete vezes foi lançado na prisão, foi exilado e apedrejado, tornou-se pregoeiro da Palavra no Oriente e no Ocidente, alcançando assim uma notável reputação por causa da sua fé. Depois de ensinar ao mundo inteiro o caminho da justiça e de chegar até os confins do ocidente, sofreu o martírio que lhe infligiram as autoridades. Partiu, pois, deste mundo para o lugar santo, deixando-nos um perfeito exemplo de paciência.

A estes homens, mestres de vida santa, juntou-se uma grande multidão de eleitos que, vítimas de um ódio iníquo sofreram muitos suplícios e tormentos, tornando-se, desta forma, para nós um magnífico exemplo de fidelidade. Vítimas do mesmo ódio, mulheres foram perseguidas, como Danaides e Dircéia. Suportando graves e terríveis torturas, correram até o fim a difícil corrida da fé e mesmo sendo fracas de corpo, receberam o nobre prêmio da vitória. O fanatismo dos perseguidores separou as esposas dos maridos, alterando o que disse nosso pai Adão: É osso dos meus ossos e carne de minha carne (cf. Gn 2,23). Rivalidades e rixas destruíram grandes cidades e fizeram desaparecer povos numerosos. Escrevemos isto, não apenas para vos recordar os deveres que tendes, mas também para nos alertarmos a nós próprios. Pois nos encontramos na mesma arena e combatemos o mesmo combate. Deixemos as preocupações inúteis e os vãos cuidados, e voltemo-nos para a gloriosa e venerável regra da nossa tradição.

Consideramos o que é belo, o que é bom, o que é agradável ao nosso Criador. Fixemos atentamente o olhar no sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus seu Pai esse sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência”.

Martírio de São Policarpo (+156)

Carta Circular da Igreja de Esmirna

“A Igreja de Deus, estabelecida em Esmirna, à Igreja de Deus estabelecida em Filomélia e a todas as comunidades da Igreja santa e universal, onde quer que esteja: a misericórdia, a paz e a caridade de Deus Pai, de Jesus Cristo nosso Senhor, superabundem em vós. Escrevemos-vos, irmãos, a respeito dos mártires e do bem-aventurado Policarpo, cujo martírio foi, por assim dizer, o selo final, que pôs termo à perseguição. Na verdade, quase todos os acontecimentos anteriores se efetuaram para que o Senhor nos mostrasse do céu o martírio narrado no Evangelho. Policarpo esperou tranquilamente ser entregue, como o Senhor, para que aprendêssemos, com seu exemplo, a não ter em mira somente o que nos concerne, mas também os interesses do próximo” (Fl 2,4).

Realmente, a caridade verdadeira e firme consiste em não desejar apenas a própria salvação, mas a dos irmãos. Felizes, pois, e generosos todos estes martírios que se deram conforme a vontade de Deus. Pois é dever da nossa piedade tudo atribuir ao poder de Deus. Deveras, quem não admiraria a generosidade desses mártires, a sua paciência, e amor ao Mestre? Dilacerados pelos açoites a ponto de se tornar visível a estrutura íntima da carne, das veias e das artérias, suportaram tudo com tal firmeza que os circunstantes se compadeciam e choravam. Eles, porém, chegaram a tanto heroísmo, que de nenhum se ouviu grito ou se viu lágrima. Assim, esses generosos mártires de Cristo mostraram que naquela hora em que sofriam não estavam mais no corpo; mais ainda que o próprio Cristo, presente, se entretinha com eles. Confiando unicamente na graça de Cristo, desprezavam os sofrimentos do mundo e, por uma hora de tormento, se resgatavam do castigo eterno. O fogo dos algozes cruéis parecia-lhes frio; querendo fugir do fogo que não se apaga eternamente, fitavam com os olhos do coração os bens reservados aos que perseveram até o fim – “bens que o ouvido não ouviu, os olhos não viram, nem subiram ao coração do homem” (1Cor 2,9), mas que o Senhor lhes mostrava porque já não eram homens e sim anjos. Com a mesma coragem, outros enfrentaram sofrimentos horríveis; lançados às feras, estirados sobre conchas marinhas, torturados por toda sorte de suplícios, que o tirano prolongava para ver se seria possível induzi-los a renegar. Mas apesar de Satanás ter maquinado muitas coisas contra eles, graças a Deus nada alcançou.

Pois Germânico fortaleceu pela heroica resistência, no seu maravilhoso combate com as feras, a pusilanimidade de outros.

Querendo o cônsul persuadi-lo a ter compaixão da sua juventude, Germânico, ao contrário, com pancadas excitou a fera contra si, na ânsia de livrar-se quanto antes da convivência daquela gente iníqua e criminosa. Por isso o povo, espantado diante do heroísmo dos cristãos, dessa raça que ama a Deus e é amada por ele, gritou: “Abaixo os ateus! (Ateus aqui seriam os cristãos). Tragam Policarpo!” Um apenas, chamado Quinto, frígio e recentemente chegado da Frígia, ao ver as feras, acovardou-se. Esse, justamente, tinha desafiado espontaneamente o poder público e incitado outros a fazerem o mesmo. Mas não resistiu às instâncias repetidas do procônsul, fez juramento e ofereceu. Eis por que, irmãos, não louvamos os que se entregam espontaneamente a si mesmo; de mais a mais não é isso que ensina o Evangelho. Policarpo, o mais admirável longe de se perturbar ao receber esta notícia, quis permanecer na cidade. Muitos, entretanto, o persuadiram a retirar-se. E ele se retirou para uma pequena casa de campo, a pouca distância, onde permaneceu, com poucos amigos, nada fazendo senão rezar dia e noite por todos e por todas as igrejas conforme o seu hábito. E quando rezava teve uma visão, três dias antes de ser preso. Viu seu travesseiro pegando fogo.

Voltando-se para os que estavam com ele, disse-lhes: “Devo ser queimado vivo”. Como prosseguissem em buscá-lo, transferiu-se Policarpo para outra casa de campo. Logo depois chegaram seus perseguidores, e como não o achassem, prenderam dois jovens escravos, um dos quais, vencido pela tortura, lhes deu a indicação. Já então não lhe era mais possível escapar, uma vez que os traidores eram de sua própria casa. O chefe de polícia, que com razão tinha o nome de Herodes, apressou-se em conduzir Policarpo para o estádio. Assim devia ele obter sua parte na herança do Cristo a quem aderira; ao passo que os traidores, parte no castigo de Judas. Numa Sexta-feira, mais ou menos pela hora da ceia, partiram os perseguidores com um destacamento de cavalaria, armado na forma habitual, “como se procurassem um ladrão” (Mt 26,55). Servia-lhes de guia um escravo. Chegando alta noite foram encontrar Policarpo no primeiro andar da pequena casa. Teria tido tempo de buscar outro refúgio; mas não o quis, dizendo: “Seja feita a vontade de Deus”. Informado da presença dos soldados, desceu e conversou com eles, que ficaram pasmos vendo sua idade e sua calma, e perguntaram entre si por que capturar com tanto empenho um ancião como aquele.

Policarpo, entretanto, mandou servir-lhes comida e bebida à vontade e pediu-lhes apenas o prazo de uma hora para rezar livremente. Tendo eles consentido, Policarpo começou de pé a sua oração; a graça divina transbordava nele de tal maneira que pelo espaço de duas horas não pôde interrompê-la. Todos os que ouviram se encheram de espanto e muitos se arrependeram de perseguir a um ancião tão cheio do amor de Deus. Concluindo a oração, na qual se lembrara de todos que havia conhecido, grandes e pequenos, nobres e humildes e da Igreja católica de toda parte do mundo, chegou o momento da partida. Montando um jumento foi conduzido para a cidade, já na manhã do grande Sábado. Vieram a seu encontro Herodes, o chefe de polícia, e Niceto, seu pai, os quais o fizeram sentar-se consigo no carro e tentaram persuadi-lo: “Que mal pode haver em dizer: César é Senhor, oferecer o sacrifício, e dizer as coisas que o seguem, para salvar-se?” A princípio não respondeu, mas como insistissem, disse-lhes Policarpo: “Não teria o que me aconselhais!” Perdida assim, a esperança de seduzi-lo, insultaram-no com palavras ameaçadora e jogaram-no do carro com tanta precipitação que feriu na queda a parte anterior da perna. Policarpo nem sequer voltou-se, mas prosseguiu alegremente o caminho para o estádio, depressa como se nada houvesse sofrido. Aí, reinava tal tumulto que ninguém podia fazer-se ouvir. Quando ele entrou, foi ouvida uma voz do céu, dizendo: “Coragem, Policarpo, seja homem!” Ninguém viu quem falou, mas a voz foi ouvida pelos irmãos presentes.

No momento em que Policarpo chegou e a multidão soube que estava preso, aumentou o barulho. Foi levado à presença do procônsul, que iniciou o interrogatório, perguntando se de fato era Policarpo. Recebida a resposta afirmativa tentou persuadi-lo a renegar a fé: “Respeita a tua velhice”. E seguiram-se os argumentos usuais, em tais circunstâncias. “Jura pela sorte de César, renega as tuas ideias e dizer: Morte aos ateus!” Policarpo então, voltando-se para a multidão do estádio, fixando firmemente com um olhar severo aquela ralé criminosa, elevou a mão contra ela e disse, com os olhos voltados para o céu: “Morte aos ateus”. Insistiu ainda o procônsul: “Fazer o juramento e eu te libertarei. Insulta ao Cristo”. Respondeu Policarpo: “Há oitenta e seis anos que o sirvo e nunca me fez mal algum. Como poderia blasfemar meu Rei e Salvador?” Como de novo insistisse, dizendo: “Jura pela sorte de César”, replicou Policarpo: “Se esperas, em vão, que vá jurar pela sorte de César, simulando ignorares quem sou, ouve o que te digo com franqueza: sou cristão! Se, por acaso, quiseres aprender a doutrina do cristianismo, concede-me o prazo de um dia e presta atenção!” Disse-lhe o procônsul: “Experimenta persuadir o povo”. Respondeu-lhe Policarpo: “Julgo que diante de ti devo explicar-me, pois aprendemos a honrar devidamente os princípios e as autoridades estabelecidas por Deus quando não são nocivas à nossa fé. Quanto àquela gente, porém, não a julgo digna de ouvir a minha justificação”. Nem com isso desistiu o procônsul: “Tenho feras”, disse, “às quais te lançarei, se não te converteres”.

“Faze-as vir”, respondeu Policarpo; “impossível para nós uma conversão do melhor ao pior; o bem é poder passar dos males à justiça”. De novo, o procônsul: “Se não te convertes, se desprezas as feras, eu te farei consumir pelo fogo”. Policarpo: “Ameaças com o fogo que arde um momento e logo se apaga. Não conheces o fogo do juízo que há de vir e da pena eterna onde serão queimados os inimigos de Deus. Mas, que esperas ainda? Dá a sentença que te apraz!” Proferindo estas e outras palavras, transbordaram nele a generosidade e a alegria e no seu rosto resplandeceu a graça. Não somente o interrogatório não o perturbou, mas foi o procônsul quem perdeu a calma. Este mandou então o arauto proclamar por três vezes no estádio: “Policarpo acaba de confessar-se cristão”. Mal tinha anunciado, a multidão de gentios e judeus de Esmirna prorrompeu em gritos furiosos e desenfreados: “Eis o mestre da Ásia, o pai dos cristão, o blasfemador dos nossos deuses, o que induz tantos outros a não mais honrá-los com sacrifício e orações”. E assim gritando, exigiram do asiarca Filipe que lançasse um leão sobre Policarpo. Ele recusou-se, observando que isso era impossível, pois os combates de feras haviam sido proibidos. Ocorreu imediatamente outra idéia à multidão gritando, a uma só voz: “Que Policarpo seja queimado vivo!” Com efeito, era preciso que se cumprisse a visão do travesseiro. Tinha visto em chamas, quando estava em oração e voltando-se para os fiéis que o rodeavam dissera em tom profético: “Devo ser queimado vivo”. E isso foi feito mais rapidamente do que falado. O povo saiu à busca de lenha nos armazéns e nos banhos, e, como sempre nestas ocasiões, os judeus eram os mais ardorosos. Armada a fogueira, Policarpo despiu as suas vestes, desatou o cinto, tentou desamarrar as sandálias, o que já não fazia, pois os fiéis sempre se apressavam em ajudá-lo, no desejo de tocar-lhe o corpo, no qual muito antes do martírio já brilhava o esplender da santidade de sua vida.

Rapidamente cercaram-no com as coisas trazidas para o fogo. Quando os algozes quiseram amarrá-lo, disse-lhes: “Deixa-me livre. Quem me dá forças para suportar o fogo, dar-me-á igualmente a de ficar nele imóvel sem necessitar deste vosso cuidado”. Não o fixaram, amarram-lhe apenas as mãos. Policarpo, de mãos ligadas às costas, cordeiro de escolha tomado de um grande rebanho para o sacrifício, holocausto agradável preparado ao Senhor, olhando o céu disse: “Senhor, Deus onipotente, Pai de Jesus Cristo, teu Filho amado e bendito, pelo qual te conhecemos: Deus de toda a família dos justos que vive na tua presença – eu te bendigo por me haveres julgado digno deste dia e desta hora, digno de participar no número dos mártires, do cálice do teu Cristo para a ressurreição da vida eterna do corpo e da alma, na incorruptibilidade do Espírito Santo! Recebe-me, hoje, com eles, na tua presença como sacrifício agradável e perfeito e o que me havias preparado e revelado realiza-o agora, Deus da verdade.

Por isto e por tudo eu te louvo, te bendigo, te glorifico por teu Filho, Jesus Cristo, nosso eterno Sumo Sacerdote no céu. Por ele, com ele e o Espírito Santo, glória seja dada a ti, agora e nos séculos futuros. Amém”. Pronunciado este amém e completa a oração, os algozes atearam o fogo e levantou-se uma grande chama. Nós – a quem foi dado ver – vimos um prodígio (e para anunciá-lo aos outros fomos poupados), o fogo tomou uma forma de cúpula, como a vela de um barco batido pelo vento e envolveu o corpo do mártir por todos os lados. Ele estava no meio, não como carne queimada, mas como um pão que se assa ou como ouro ou para candentes, na fornalha. Sentimos então um odor suave como o do incenso ou de outra essência preciosa. Vendo, afinal que o fogo não conseguia consumir o corpo, os ímpios mandaram o executor transpassá-lo com o punhal. E quando isto foi feito, saiu da ferida tal quantidade de sangue que apagou o fogo. E toda a multidão ficou pasma ao verificar tão grande diferença entre os infiéis e os eleitos. Um destes era certamente Policarpo, o admirável mártir bispo da Igreja católica de Esmirna, que, em nossos dias foi verdadeiramente apóstolo e profeta, pela doutrina, pois toda a palavra saída da sua boca já foi ou será realizada.

Mas o espírito maligno, invejoso, perverso adversário do povo dos justos, conhecendo a vida de Policarpo, imaculada desde o começo, e vendo que agora, depois do seu admirável martírio, recebera a coroa da imortalidade e entrara na posse da recompensa eterna, que ninguém poderia mais disputar ou roubar, fez tudo que pôde para impedir que seu corpo fosse levado por nós, embora muitos desejassem possuir seus santos despojos, Satanás sugeriu a Nicete, pai de Herodes e irmão de Alceu, que fosse ter com o governador para pedir-lhe que não entregasse o corpo. “Seriam capazes”, disse Niceto, “de abandonar o crucificado, para adorar a Policarpo”! Isso tudo isso instigado e apoiado pelos judeus, que nos espiavam quando queríamos tirar o corpo do fogo. Ignoravam que nunca poderemos abandonar o Cristo que sofreu para a salvação dos que se salvam no mundo inteiro, inocente pelos pecadores. Como havíamos de adorar a outro? Ao Cristo adoramos como Filho de Deus, aos mártires amamos como discípulos e imitadores do Senhor, dignos da nossa veneração pela fidelidade inquebrantável ao seu Rei e Mestre.

Oxalá pudéssemos unir-nos a eles e tornar-nos seus condiscípulos! Vendo o centurião a oposição dos judeus, fez queimar publicamente o corpo, conforme o costume pagão. Deste modo pudemos mais tarde recolher seus restos, mais preciosos do que pedras raras e mais valiosos do que ouro, para depositá-los em lugar conveniente, onde todos, quando possível, nos reunimos com a ajuda do Senhor, para celebrar com alegria e júbilo o dia do seu nascimento pelo martírio, em memória dos que combateram antes de nós, preparando-nos e fortificando-nos para as lutas futuras. Eis a história do bem-aventurado Policarpo. Com os outros cristão de Filadélfia foi o duodécimo martirizado em Esmirna. Mas dele principalmente se conservou a memória, e até os pagãos falam em toda parte. Não foi somente mestre pela doutrina, foi mártir extraordinário, cujo martírio conforme o Evangelho de Cristo todos desejam imitar.

Triunfou sobre o governador iníquo por sua paciência e conquistou assim a coroa da incorruptibilidade. Por isso participa da alegria dos apóstolos e dos justos, glorifica a Deus, Pai todo-poderoso, e bendiz a nosso Senhor Jesus Cristo, Salvador das nossas almas e guia dos nossos corpos, Pastor da Igreja católica espalhada pela terra. Pedistes uma narração pormenorizada dos acontecimentos. Mas por enquanto fizemos redigir, por nosso irmão Marcião, somente um resumo. Lida esta carta mandai-a aos irmãos que moram mais longe para que também louvem ao Senhor pelas escolhas que faz entre os seus servos. A Deus, que na sua graça e liberalidade pode fazer entrar no seu reino eterno a todos nós por Jesus Cristo, seu Filho unigênito – glória, honra, poder e majestade pelos séculos! Saudai todos os santos. Saudações dos nossos e de Evaristo, que escreve esta carta, e de toda a sua casa.

O santo Policarpo sofreu o martírio no dia dois do mês Xanthicos (22 de fevereiro), sétimo dia antes das calendas de Março, num Sábado, à hora oitava (2 horas da tarde). Quem o prendeu foi Herodes, sob o pontificado de Filipe de Trales, sendo procônsul Estácio Quadrado, no reinado eterno de nosso Senhor Jesus Cristo, a quem sejam glória, honra, majestade e o trono de geração em geração. Amém” (Patrologia Grega 5, 1029-1045).

Especialista cita três ideias importantes do pensamento teológico de Bento XVI

Papa Bento XVI / Vatican Media
Por Nicolás de Cárdenas | ACI Prensa

Vaticano, 31 Dez. 22 / 01:11 pm (ACI).- Um especialista no pensamento do papa emérito Bento XVI diz que entre suas principais contribuições estão a compreensão da Igreja como caminho para Deus, a busca da verdade superando preconceitos e a defesa da racionalidade da fé.

Falando à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, Marcelo López Cambronero, professor de Humanidades da Universidade Francisco de Vitória e coordenador de pesquisas do Instituto Razón Abierta, listou importantes contribuições do pensamento do papa Bento XVI, que morreu hoje (31).

1. A Igreja como caminho para Deus e lugar de encontro com Cristo

O professor López Cambronero diz que Bento XVI “sempre quis uma Igreja que não buscasse a sua autorrealização”.

O papa entendeu a Igreja como “caminho para Deus e lugar de encontro com Cristo”, diz.

A Igreja idealizada pelo papa emérito “não apenas guarda o tesouro da fé, mas também busca a melhor maneira de expressá-la no mundo”.

Bento XVI considerou que “cada geração deve encontrar o Evangelho e nele encontrar coisas novas”.

Para López Cambronero, "o centro de todo o pensamento de Bento XVI" se baseia nos pilares do Evangelho, dos Santos Padres e da liturgia, e pretende "resistir à visão mundana da Igreja" postulada por correntes de pensamento iluminadas a partir de 1968.

2. Cooperador da Verdade com a "razão aberta"

Seu lema papal "Cooperador da Verdade" é, na opinião do professor López Cambronero, "um de seus grandes temas". Bento XVI teve o impulso permanente de “buscar a verdade juntos” através do conceito de “razão aberta”, diz.

Isso implica “superar os preconceitos ideológicos, abrindo-nos à realidade em todos os seus fatores”. Para isso, disse, o saudoso papa defendeu que “precisamos dos outros”.

Bento XVI afirmou sem dúvida que "a verdade existe", porque "se tudo fosse relativo, haveria apenas uma luta pelo poder", diz o especialista.

3. A fé é razoável

Para Bento XVI é possível explicar as partes do mistério da fé a partir da razão e assim contribuir para o debate público. Em seu pensamento, “o encontro com a presença real de Cristo pode ser testemunhado, pode ser explicado”.

O professor López Cambronero acrescenta neste sentido que “a maioria das pessoas são crentes porque a razão as acompanha”, além das sensações.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Bento XVI em 30 datas fundamentais

Alessia Pierdomenico | Shutterstock
Por I. Media

A trajetória do Papa Bento XVI em suas datas mais importantes.

Desde seu nascimento em abril de 1927 até sua morte hoje, Joseph Ratzinger serviu à Igreja Católica até o fim. Aqui está uma retrospectiva da carreira do 265º sucessor de Pedro.

O artigo é estruturado da seguinte forma:

10 datas: desde seu nascimento até a véspera de sua eleição para o trono de Pedro
10 datas: desde sua eleição até a véspera de sua renúncia
10 datas: desde sua renúncia até sua morte


16 de abril de 1927: Joseph Ratzinger nasceu no Sábado Santo em Marktl-am-Inn, na diocese bávara de Passau. Ele foi batizado no mesmo dia. Seu pai, um oficial da gendarmaria, veio de uma antiga família de agricultores do sul da Baviera com circunstâncias econômicas muito modestas. Sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no Lago Chiem.

1941: Aos 14 anos de idade, Joseph Ratzinger é integrado à Juventude Hitleriana contra sua vontade. Em 1944, ele se recusa a aderir à Waffen-SS, argumentando que quer se tornar um padre.

29 de junho de 1951: Joseph Ratzinger é ordenado sacerdote junto com seu irmão Georg na Catedral de Freising pelo Cardeal Michael von Faulhaber. No ano seguinte, ele começa a lecionar na Universidade de Ciências Aplicadas Freising. Ele estudou filosofia e teologia na Universidade de Munique e mais tarde na Universidade Livre de Ciências Aplicadas, especializando-se no estudo da Bíblia e da liturgia. Em 1953 ele recebeu seu doutorado em teologia com uma tese sobre O Povo e a Casa de Deus na Doutrina da Igreja de Santo Agostinho. Em 1957, ele defendeu sua tese para sua qualificação como professor, intitulada La Théologie de l’histoire chez saint Bonaventure.

11 de outubro de 1962: Abertura do Concílio Vaticano II, durante o qual Joseph Ratzinger atua como especialista. Ele assiste o Cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colônia, como conselheiro teológico. Sua intensa atividade científica o levou a assumir importantes responsabilidades dentro da Conferência Episcopal Alemã e da Comissão Teológica Internacional.

24 de março de 1977: Nomeação para a Arquidiocese de Munique e Freising pelo Papa Paulo VI. Ele escolheu como seu lema episcopal: “Cooperatores Veritatis” – colaborador da Verdade. Em junho do mesmo ano, Paulo VI o criou Cardeal-Priesto de Santa Maria Consolatrice al Tiburtino. No ano seguinte, ele conheceu Karol Wojtyla pela primeira vez, embora ele tivesse trocado livros com ele por vários anos.

25 de novembro de 1981: João Paulo II o nomeia Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional. Durante 23 anos, ele se reuniu com João Paulo II todas as sextas-feiras à noite para rever o trabalho da Congregação para a Doutrina da Fé.

Em 11 de outubro de 1992, ele promulgou o Catecismo da Igreja Católica. O Cardeal Ratzinger é presidente da comissão que trabalha desde 1986 nesta obra que resume a fé, o ensino e a moral da Igreja Católica. Em 1983, ele havia questionado o Catecismo Pedras Vivas, elaborado pela Conferência Episcopal Francesa, e denunciado “a grande miséria da nova catequese”.

6 de agosto de 2000: Publicação pela CDF da declaração Dominus Iesus, sobre a singularidade e a universalidade salvífica de Jesus e da Igreja. Esta declaração, escrita pelo Cardeal Ratzinger e seu secretário Tarcisio Bertone, reafirma que a Igreja Católica é a única fonte de salvação para a humanidade. Este texto visa eliminar certas ambiguidades relativas ao diálogo com outras religiões e tranquilizar aqueles que temiam que a reunião de Assis de 1986 promovesse o relativismo, uma forma de tolerância na qual todas as religiões são iguais.

25 de março de 2005: Uma semana antes da morte de João Paulo II, o Cardeal Ratzinger pinta um quadro sombrio da Igreja durante suas meditações e orações nas Estações da Cruz no Coliseu de Roma. O Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé até compara a Igreja a um “navio afundando”.


19 de abril de 2005: Após um conclave que durou pouco mais de 24 horas, uma fumaça branca apareceu no teto da Capela Sistina, e o tradicional “Habemus Papam” anunciou aos fiéis que o Cardeal Joseph Ratzinger havia sucedido João Paulo II na Cátedra de Pedro, sob o nome de Bento XVI. Ele se torna o 265º Papa da Igreja Católica e mantém seu lema: “Ut cooperatores simus Veritatis” (“Que possamos cooperar na publicação da Verdade”).

13 de maio de 2005: Sem esperar o habitual período de 5 anos, Bento XVI lança a abertura da causa de beatificação e canonização de João Paulo II. Ele proclamou as virtudes heróicas de seu predecessor em 19 de dezembro de 2009 e o proclamou Beato em 1 de maio de 2011, diante de várias centenas de milhares de fiéis. O papa polonês foi beatificado em tempo recorde: 6 anos e 1 mês após sua morte. Bento XVI estará presente na Praça de São Pedro durante a canonização de João Paulo II pelo Papa Francisco em 7 de maio de 2014.

16 de agosto de 2005: Bento XVI preside a Jornada Mundial da Juventude, lançada por seu predecessor, que reúne 1 milhão de jovens de 193 países em Colônia, Alemanha. Ele celebrará a missa de encerramento da JMJ em Sydney em julho de 2008, assim como a de Madri em agosto de 2011.

25 de janeiro de 2006: Publicação da primeira encíclica de Bento XVI, Deus Caritas Est, na qual ele fala do “amor com o qual Deus nos enche e que devemos comunicar aos outros”. O segundo, Spe Salvi, sobre “esperança cristã”, foi publicado em 30 de novembro do ano seguinte. Finalmente, a terceira e última encíclica do Papa alemão, Caritas in Veritate, sobre o desenvolvimento integral do homem na caridade e na verdade, foi publicada em 7 de julho de 2009.

19 de maio de 2006: Após a investigação da Congregação para a Doutrina da Fé sobre acusações de abuso sexual contra o fundador dos Legionários de Cristo, Bento XVI pede ao Padre Marcial Maciel que renuncie “a todo ministério público” e que viva “uma vida reservada de oração e penitência”. Após um exame minucioso dos resultados de sua investigação canônica e por causa da “idade avançada e saúde precária” do acusado, a Congregação para a Doutrina da Fé decidiu renunciar a um julgamento canônico.

12 de setembro de 2006: Na Universidade de Regensburg, Bento XVI faz um discurso, e uma das suas sentenças, sobre a violência do Islã, provoca um debate acalorado no mundo muçulmano. Dois meses depois, por ocasião de sua viagem apostólica à Turquia, o pontífice se reuniu com o Grande Mufti Cagrici na Mesquita Azul, em Istambul.

7 de julho de 2007: Bento XVI publica o Motu proprio Summorum Pontificum, com o objetivo de liberalizar a celebração da missa de acordo com o missal promulgado por São Pio V e reeditado por João XXIII. Desse modo, ele deseja restaurar o lugar da liturgia latina da Igreja que, “em suas diversas formas, no decorrer de todos os séculos da era cristã, estimulou a vida espiritual de inúmeros santos” e “fortaleceu muitos povos na virtude da religião e fertilizou sua piedade”.

24 de janeiro de 2009: Bento XVI levantou a excomunhão dos quatro bispos da Fraternidade Sacerdotal de São Pio X ordenados pelo Arcebispo Lefebvre em 1988. Com este ato, que responde ao segundo pré-requisito estabelecido pela Sociedade para iniciar um diálogo doutrinário com Roma (sendo o primeiro a liberalização da Missa de São Pio V), o Papa alemão “deseja consolidar as relações de confiança recíprocas, e intensificar e estabilizar as relações da Sociedade de São Pio X com a Sé Apostólica”.

17 de março de 2009: Em seu avião para Camarões, ao iniciar sua primeira viagem apostólica à África, o Papa, durante sua coletiva de imprensa, afirma que a distribuição de preservativos na África para lutar contra a AIDS não resolverá o problema, mas poderá, ao contrário, piorá-lo. Estas observações provocaram uma controvérsia. Um ano depois, em seu livro Lumière du Monde, o papa alemão disse que “em certos casos”, como o dos homens que se prostituem, seria permitido o uso de preservativos, “para reduzir os riscos de contaminação”.

19 de setembro de 2010: Em seu último dia no Reino Unido, o pontífice alemão beatifica o Cardeal John Henry Newman, um anglicano que se converteu à fé católica em 1845. Em 4 de novembro de 2009, Bento XVI assinou a Constituição Apostólica Anglicanorum Caetibus, que organiza uma estrutura canônica para acolher os anglicanos na Igreja Católica Romana, permitindo-lhes ao mesmo tempo manter suas tradições litúrgicas, espirituais e pastorais.

22 de dezembro de 2012: O Papa perdoa Paolo Gabriele, seu antigo mordomo, após quatro meses de detenção no caso Vatileaks. Gabriele havia sido condenado em 6 de outubro a 18 meses de prisão após ser considerado culpado do roubo agravado de documentos confidenciais dos apartamentos papais.


11 de fevereiro de 2013: Bento XVI anuncia a sua renúncia em 28 de fevereiro, citando sua “incapacidade de administrar adequadamente o ministério que lhe foi confiado”. Algumas horas antes do final de seu pontificado, da varanda do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, o Papa alemão declara que ele é “simplesmente um peregrino que inicia a última etapa de sua peregrinação nesta terra”. No seu retorno ao Vaticano, ele disse que continuaria a servir a Igreja, “principalmente através da oração”. Em 5 de julho do mesmo ano, Bento XVI juntou-se ao Papa Francisco na inauguração de uma estátua de São Miguel nos jardins do Vaticano. No mesmo dia, o Papa Francisco publicou sua primeira encíclica, Lumen Fidei. A encíclica, escrita em grande parte pelo Papa Emérito, contém “algumas contribuições posteriores” do novo pontífice.

22 de fevereiro de 2014: O Papa Bento XVI faz sua segunda aparição pública após sua renúncia, e sua primeira participação em uma cerimônia oficial presidida por seu sucessor, encontrando-se com o Papa Francisco na Basílica de São Pedro por ocasião de um consistório para a criação dos cardeais. Em 14 de fevereiro do ano seguinte, o papa alemão estará novamente presente na Basílica do Vaticano para o segundo consistório do papa argentino para a criação dos cardeais.

8 de dezembro de 2015: Bento XVI está presente quando o Papa Francisco abre solenemente a Porta Santa da Basílica de São Pedro, para marcar a abertura do Jubileu da Misericórdia. É a última aparição do papa alemão verdadeiramente pública. Em 28 de junho de 2016, Bento XVI aparece ao lado do Papa Francisco, diante de uma pequena audiência de sacerdotes e cardeais, por ocasião do 65º aniversário de sacerdócio do Papa Emérito, celebrado na Sala Clementina do Vaticano.

9 de setembro de 2016: Publicação da entrevista-livro intitulada Últimas Conversas, na qual o Papa emérito discute com o jornalista alemão Peter Seewald as razões de sua renúncia, os destaques de seu pontificado, a personalidade de seu sucessor, mas também muitos temas polêmicos, como o escândalo de Vatileaks, a reforma da Cúria, etc… Nela, ele nos assegura, em particular, que o Papa Francisco é “o homem da reforma prática”.

3 de outubro de 2017: O Papa Emérito prefacia a edição russa do volume de sua Opera Omnia dedicada à liturgia. A verdadeira causa da crise da Igreja, escreve ele, “está no obscurecimento da prioridade de Deus” na liturgia. O papa alemão deplora a “incompreensão da reforma litúrgica” que se seguiu ao Concílio Vaticano II, e por causa da qual a “atividade e criatividade” humana foi apresentada, fazendo as pessoas “esquecerem a presença de Deus”.

27 de dezembro de 2017: Em prefácio a um livro publicado para o 40º aniversário do sacerdócio do Cardeal Gerhard Ludwig Müller, prefeito emérito da Congregação para a Doutrina da Fé, Bento XVI diz que o alto prelado defendeu as “claras tradições da fé, no espírito do Papa Francisco”. Como o Papa Francisco, explica o ex-pontífice, o Cardeal Müller também “procurou entender como eles podem ser vividos hoje”.

7 de fevereiro de 2018: Em uma carta ao jornal italiano Corriere della Sera, o pontífice emérito diz: “No lento declínio da força física, estou interiormente em peregrinação ao Lar. É uma grande graça para mim estar cercado por este último trecho de estrada, às vezes um pouco cansativo, por um amor e uma bondade que eu nunca poderia imaginar”.

12 de março de 2018: O Vaticano divulga um trecho de uma carta de Bento XVI observando a “continuidade interior” entre seu pontificado e o de seu sucessor. Entretanto, a publicação truncada desta carta causa uma controvérsia que culmina em 21 de março com a renúncia do Arcebispo Dario Edoardo Viganò ao cargo de Prefeito da Secretaria de Comunicação.

15 de janeiro de 2020 Em uma contribuição ao livro do Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino, Des profondeurs de notre cour (Fayard), o Papa emérito faz um apelo a favor da manutenção do celibato dos padres na Igreja Católica. Publicado apenas alguns dias antes da exortação pós-sinodal sobre a Amazônia, este texto é percebido por alguns como uma interferência no pontificado do Papa Francisco. No final, ele não dirá nada sobre a ordenação do viri probati em sua exortação.

23 de janeiro de 2022: A Arquidiocese de Município-Freising publica um relatório sobre a responsabilidade dos líderes na gestão de casos de abusos cometidos por padres na arquidiocese entre 1945 e 2019, especialmente durante a época em que o então Cardeal Ratzinger era seu arcebispo (1977-1982). O pontífice emérito estaria implicado em quatro casos, mas nega ter qualquer conhecimento dos abusos em questão. Sua defesa, fortemente criticada na Alemanha, é apoiada pelo Vaticano.

31 de dezembro de 2022: Papa Bento XVI morre.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O legado teológico de J. Ratzinger / Bento XVI

Papa emérito Bento XVI | Vatican News

A confissão da fé batismal como regra e critério da Teologia.

Dom Antonio Luiz Catelan – bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro

Joseph Ratzinger / Bento XVI, um dos maiores teólogos cristãos, deixa um legado teológico e magisterial de referência para a teologia católica. Sua obra teológica, que, reunida na edição oficial, soma vinte e um grossos tomos, o qualifica entre os maiores teólogos da Igreja de todos os tempos. Seu rico Magistério se destaca pela clareza, profundidade e sensibilidade espiritual. A relação com a confissão batismal da fé confere à sua teologia a característica principal. Primeira e fundamental referência de sua ampla produção teológica e de seu profundo magistério, a profissão batismal oferece contexto, forma e conteúdo a seu ensinamento.

A “graça de Cristo”, comunicada no batismo, segundo o Teólogo Papa, modelam a vida e o pensamento do cristão. A referência à pessoa Jesus Cristo é o núcleo do pensamento teológico de Joseph Ratzinger e de seu trabalho pastoral, como o é também de seu pontificado e de toda a sua vida. O encontro com Cristo, a conversão, o discipulado e a relação de amizade com Ele vêm antes de tudo e a tudo conferem a marca específica. Nada antepor a Seu amor, segundo a Regra beneditina, pode ser considerado uma divisa da vida e da missão de Joseph Ratzinger / Bento XVI. Segundo seu constante ensino, isso é o que está no início do cristianismo e é isso sua essência. Continuamente, J. Ratzinger insiste que ser cristão é aderir a Cristo e dele viver; estar a serviço dele, permanentemente, e a Ele consagrar toda a existência. Em sua primeira audiência geral, pedia a Deus “manter firme a centralidade de Cristo na nossa existência. Que ele esteja sempre no primeiro lugar nos nossos pensamentos e em cada uma das nossas atividades!” (27 de abril de 2005).

Participando do Mistério Pascal de Cristo, no qual é mergulhado espiritualmente, na medida em quem seu corpo é sepultado no lavacro batismal, o cristão, com Cristo, participa da comunhão da Trindade. A busca da face de Deus e da comunhão com Ele passa a ser a dinâmica fundamental de sua vida. A noção teológica de comunhão caracteriza também a teologia e o magistério de Bento XVI de modo central. O conjunto de sua obra teológica pode justamente ser caracterizado como uma teologia sacramental da comunhão. Suas meditações teológicas sobre a cristologia e sobre o Sábado Santo, em grande medida, põem as bases para os desenvolvimentos teológicos a respeito de temas atuais e candentes na Igreja e no mundo. Em Cristo se dá o encontro com Deus. Ele é, em pessoa, o sacramento originário da comunhão.

O encontro batismal com Cristo se dá na Igreja. Nela Cristo está presente e vivo, nela se deixa encontrar e acolhe a todos, insere em seu mistério e confere à vida novos e insuspeitados horizontes. A Igreja, corpo de Cristo, é sujeito vivo, que cresce e se desenvolve na história. Nela o conhecimento de Jesus Cristo não é simples exercício de estudo a respeito de um personagem. Nela se dá o encontro, ao mesmo tempo pessoal e comunitário, com aquele que nela está presente e atuante. Como no Batismo, a Igreja é que acolhe o catecúmeno, interroga-lhe, marca seu corpo e sua alma com o sinal da Cruz, unge-o e o marca com o selo do Espírito, mergulha-o no Mistério Pascal de Cristo, transmite-lhe sua fé e o nutre com o Corpo de seu Esposo e Senhor. A marca eclesial é característica igualmente central na teologia de Joseph Ratzinger e no magistério de Bento XVI.

O Batismo se dá em contexto dialógico. São três interrogações que levam o catecúmeno à consciência do mal e do que lhe poderia vir a descaracterizar como cristão e outras três lhe levam a professar a fé recebida. Assim também, o pensar a fé e o transmiti-la se dá, para Joseph Ratzinger, em contexto dialógico. Fazer teologia em companhia com os grandes teólogos da história e em diálogo com o seu tempo, é o estilo do teólogo bávaro. S. Agostinho e S. Boaventura são duas referências maiores. Mas um simples olhar no índice de autores citados em seus escritos revelam com quanto respeito e liberdade ele se posiciona entre os teólogos e teólogas e com eles dialoga. Às vezes discordando com franqueza, outras, assumindo com respeito sua contribuição. Não só com teólogos ele dialogou. São célebres seus debates com J. Habermas e com P. F. d’Arcais. Já como emérito, seu carteio com P. Odifreddi mostra que mesmo no recolhimento monástico que escolheu, o diálogo com nosso tempo não cessou. A Ladainha batismal de todos os santos pode ser tomada como um ícone de seu modo de fazer teologia.

O contexto e o rigor acadêmico não limitam sua teologia, embora a caracterizem cientificamente. Fundamentalmente, a teologia, para J. Ratzinger, é parte da missão eclesial de transmitir a fé e de ensinar a vive-la coerentemente. Para ele, pensar a fé com rigor é exigência teologal e antropológica. Teologal, porque Deus quer uma relação humana livre conosco. Antropológica, porque a racionalidade é parte integrante de um ato humanamente integral. A irracionalidade não faz parte do ato de fé, e não é digna nem de Deus e nem do homem, como Bento XVI recordou no célebre discurso universitário em Regensburg. A missão da Igreja é transmitir a fé em todos os contextos e em todos os tempos. A essa missão a teologia serve humilde, mas indispensavelmente. A palavra de que a Igreja necessita para evangelizar, nasce de uma relação vital com a fé e se expressa numa forma renovada que brota dessa relação. Assim, a fé recebida da Igreja, continha sendo a “razão de nossa alegria, em Cristo Jesus, Nosso Senhor”. A teologia de J. Ratzinger é, a pleno título, uma teologia missionária.

Menção especial merece a carta apostólica Porta Fidei. Texto breve mas de altíssima densidade, com o qual, proclamando um Ano da Fé, Bento XVI quis ajudar a Igreja a confessar a fé plenamente e com renovada convicção. E isso para ajudar os contemporâneos a, como a Samaritana, encontrar-se com Cristo e a beber de sua fonte, pela fé. Em continuidade com essa intenção, em sua última audiência geral, quase que a modo de testamento, deixa como palavras finais: “Queridos amigos! Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé, que é a única visão verdadeira do caminho da Igreja e do mundo. No nosso coração, no coração de cada um de vós, habite sempre a jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor (27 de fevereiro de 2013).

As três encíclicas queridas por Bento XVI respondem às encíclicas trinitárias de S. João Paulo II. O pontífice polonês dedicara uma trilogia ao mistério de Deus: Redemptor hominis, Dives in misericórdia, Dominum et vivificantem. Bento XVI, “simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor”, quis dedicar os textos pontifícios mais solenes à relação com Deus: Deus caritas est, Spe salvi e, projeto inacabado: Lumen Fidei. Desse modo, seu Magistério é solenemente marcado pela continuidade com os pontificados de seu predecessor e de seu sucessor, Papa Francisco, que herdou o projeto e o levou a brilhante termo.

Entre os mais brilhantes teólogos a servir na cátedra de Pedro, Bento XVI recorda, por seu estilo, os Padres da Igreja, bem como, pela amplitude e pela profundidade, os seus Doutores.

Divina Maternidade de Maria

Maternidade humana e divina | saosebastiaofabriciano
01 de janeiro

Maria, Mãe de Deus

Nossa Senhora, Mãe de Jesus, foi especialmente escolhida por Deus, desde a Eternidade, para tornar realidade a Encarnação de Cristo, segundo o plano de salvação da Humanidade que o Pai determinou, após o Pecado Original. Para assumir esta divina maternidade, Maria foi concebida sem pecado, pelo adiantamento dos méritos salvíficos da Paixão, Morte e Ascensão de Jesus.

Maria deveria conceber a pessoa humana do Cristo, mas ao mesmo tempo permanecer virgem, pois, como é óbvio, nenhum homem poderia, com Ela, gerar “naturalmente” Deus Encarnado: o ser humano não pode “criar” Deus, ao contrário, é criado por Ele, à Sua imagem e semelhança, e destinado a compartilhar infinitamente a vida íntima da Santíssima Trindade no Paraíso Celeste, algo que Deus não ofereceu nem aos anjos (e é exatamente por isso que a dignidade do ser humano é superior, sim, a de todas as outras criaturas). É portanto milagrosa, através da ação do Espírito Santo, a maternidade de Maria, que permaneceu sempre virgem, antes, durante e depois do parto.

Esta Sua virgindade também é necessária, na ordem da Graça, para que a Mãe de Jesus conservasse a pureza plena, igual à de Deus, de corpo e de alma (embora, na ordem natural, o sexo, no âmbito do legítimo matrimônio natural e católico, não seja, de forma alguma, um “erro” ou “pecado”, ao contrário!, a união entre homem e mulher, como explica São Paulo, é um grande e sublime mistério, comparável à plena união de Cristo à Sua Igreja – cf. Ef 5,32).

São Lucas, no início do seu Evangelho, relata a Anunciação feita à Maria, isto é, a aparição do arcanjo São Gabriel a Ela, fazendo-Lhe a proposta de ser Mãe do Senhor. Este aspecto é fundamental: Deus não forçou Maria, mas ofereceu-Lhe participar do Seu plano por meio da maternidade divina. E Ela, livremente, disse o Seu sim: “Fiat”, faça-se, “Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em Mim segundo a Sua palavra” (Lc 1,38).

Neste instante, Maria concebeu Jesus no Seu ventre, tornando-Se deste modo o primeiro sacrário da História. (Todos os batizados, comungando em estado de graça, também somos igualmente sacrários vivos do Senhor… porém Nossa Senhora jamais deixou de tê-Lo na sua alma e corpo, enquanto nós, pelo pecado, muitas vezes perdemos a graça deste estado de união plena com Deus, ao qual devemos voltar pela Confissão).

Jesus veio a nós por Maria, e desta maneira Deus pôde realizar a obra da nossa salvação. Também por Ela, como afirma a Igreja, devemos ir a Cristo; como explica São Luís Maria Grignon de Montfot (“Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria”, livro obrigatório para quem quer de fato conhecer e crescer na Fé católica), é só por Ela, e com toda a lógica, que podemos chegar a Deus, uma vez que Ela é o caminho escolhido para intermediar a materialização entre Deus e o Homem. A devoção sincera a Maria é sinal de predestinação à salvação, como afirmam vários santos; não deixemos de amar e cultivar uma cada vez maior proximidade com a nossa Mãe, pois todas as graças que Deus nos quer dar passam, obrigatoriamente, pelas Suas mãos.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A infinita sabedoria e doçura de Deus, que providencia com perfeição mesmo os menores detalhes, nos trazem este caminho que é Maria na obra da salvação, tanto sob o aspecto sobrenatural, com a Encarnação de Jesus por obra do Espírito Santo numa virgem, como sob o aspecto natural, pois os filhos têm necessariamente pai e mãe. Ora, Deus Pai é perfeito e infinitamente bom, mas também é temível em Sua majestade divina: devemos a Ele amor mas também temor e reverência. Já a figura da mãe é essencialmente afeto, e por isso, normalmente, qualquer criança sabe que, para conseguir algo do pai, pede por intercessão da mãe, que dele tudo consegue com paz e harmonia, incluindo o perdão e as necessidades… Deus quis que tivéssemos também este especial carinho materno e insuperável intercessão. Ele mesmo quer ser “vencido” pelos rogos de Maria, Sua Filha predileta, Sua esposa, e Sua Mãe… como Filho, em Jesus, não pode negar a Ela nenhum pedido legítimo, e em particular o perdão de qualquer pecado, por mais horrendo que seja. Nunca deixemos de recorrer ao amor e carinho de nossa divina Mãe!

Oração:

Ó Deus de infinito amor, concedei-nos, pela intercessão de Maria, Vossa e nossa Mãe, ser atendidos em todas as nossas necessidades materiais e espirituais, mas especialmente a salvação, pois não podeis negar a tão divina intercessora, que Vós mesmo quisestes obedecer, o bem maior dos Vossos Filhos. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

Papa: Maria acompanhe Bento XVI em sua passagem deste mundo a Deus

Missa celebrada na Basílica de São Pedro na Solenidade de
Maria Santíssima Mãe de Deus | Vatican News

Na homilia da Missa celebrada na Basílica de São Pedro na Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, Francisco confiou Bento XVI aos divinos cuidados maternos, assim como todas as pessoas que sofrem. "No início deste ano, precisamos de esperança!"

https://youtu.be/HRvQb5dutpU

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Santa Mãe de Deus! Esta aclamação ressoou várias vezes na homilia do Papa Francisco na missa celebrada na Basílica de São Pedro neste primeiro dia do ano de 2023, Solenidade de Maria Santíssima.

Além de um dado essencial da fé, esta aclamação é sobretudo uma notícia maravilhosa: Deus tem uma Mãe e, por conseguinte, está ligado para sempre à nossa humanidade. E nos ama não só com palavras, mas com fatos, porque em Maria o Verbo se fez carne.

Esta aclamação ainda entrou no coração dos fieis principalmente através da oração da Ave-Maria. Toda vez que dizemos “Mãe de Deusrogai por nós, pecadores –, a Mãe de Deus sempre responde!”

Ela escuta os nossos pedidos, abençoa-nos com o seu Filho nos braços. Numa palavra, disse o Papa, nos dá esperança.

“E, no início deste ano, precisamos de esperança, como a terra precisa de chuva. O ano, que se abre sob o signo da Mãe de Deus e nossa, diz-nos que a chave da esperança é Maria, e a antífona da esperança é a invocação Santa Mãe de Deus.”

“E, hoje, confiemos à Mãe Santíssima o amado Papa emérito Bento XVI, para que o acompanhe na sua passagem deste mundo a Deus.”

Francisco confia ainda a Maria os filhos que sofrem e já não têm a força de rezar, os irmãos e irmãs atingidos pela guerra em muitas partes do mundo, que vivem estes dias de festa na escuridão e ao frio, na miséria e no medo, submersos na violência e na indiferença.

“Por quantos não têm paz, aclamemos Maria, a mulher que trouxe ao mundo o Príncipe da paz.”

Eu, neste ano, aonde quero ir?

Para que possamos acolher este dom, o Papa sugere deixar-nos inspirar pelos protagonistas do Evangelho de hoje, os pastores de Belém, destacando dois verbos: ir e ver.

Os pastores foram apressadamente, não ficaram parados, e assim devemos fazer também nós.

Hoje, no início do ano, em vez de ficarmos pensando e esperando que as coisas mudem, será bom interrogar-nos: «Eu, neste ano, aonde quero ir? A quem vou fazer bem?»

“Muitos, na Igreja e na sociedade, esperam o bem que você, e só você, pode proporcionar, o seu serviço. E hoje, face à preguiça que anestesia e à indiferença que paralisa, frente ao risco de nos limitarmos a ficar sentados diante de uma tela com as mãos no teclado, os pastores desafiam-nos a ir, a comover-nos com o que acontece no mundo, a sujar as mãos na realização do bem.”

Deus e os outros

E quando chegaram, os pastores viram o menino. “É importante ver, abraçar com o olhar, permanecer ali, como os pastores, diante do Menino nos braços da Mãe.”

“No início do ano, entre tantas novidades que quereríamos experimentar e as inúmeras coisas que quereríamos fazer, incluamos a de dedicar tempo a ver, ou seja, a abrir os olhos e mantê-los abertos diante daquilo que conta: Deus e os outros.”

Para Francisco, um bom exercício neste início de ano é dedicar tempo para ver e escutar quem está ao nosso lado, começando pela esposa, o marido e os filhos, perguntar como se sentem dentro e não só sobre as tarefas do dia a dia.

“Ir e ver. Hoje o Senhor veio para o meio de nós e a Santa Mãe de Deus coloca-O diante dos nossos olhos. Redescubramos, no ímpeto de ir e na maravilha de ver, os segredos para fazer verdadeiramente novo este ano.”

O Papa concluiu convidando a assembleia a repetir com ele por três vezes a invocação "Santa Mãe de Deus".

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF