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sábado, 11 de fevereiro de 2023

Paróquia, comunidade de comunidades

Sacerdote na Amazônia | Vatican News

A paróquia deve ser lugar de acolhida, de vivência dos sacramentos, de proximidade, de suporte para as pessoas, sem burocracia ou exclusões, afirma o Papa. As paróquias devem ser “escolas”.

Frei Darlei Zanon - Religioso Paulino

Comunidade significa “comunhão”, de pessoas e das pessoas com a Santíssima Trindade. Essa comunhão se realiza em primeiro lugar no Batismo, sacramento que nos introduz na nova família que é a Igreja e a comunidade paroquial, e se renova em cada Eucaristia, sacramento que nos alimenta na fé. Portanto “unir”, formar comunhão, e alimentar, ou acompanhar o crescimento, assinalam o sentido de ser da paróquia, tema central do vídeo do mês de fevereiro do Papa Francisco.

A paróquia deve ser lugar de acolhida, de vivência dos sacramentos, de proximidade, de suporte para as pessoas, sem burocracia ou exclusões, afirma o Papa. As paróquias devem ser “escolas”. Não só escola da fé, mas sobretudo escola de serviço e generosidade. De fato, como bem ilustra o Catecismo da Igreja, após sermos instruídos na fé, ou seja, depois de conhecermos as verdades fundamentais da fé cristã, devemos celebrar esta mesma fé através dos sacramentos, para depois viver os seus princípios e rezar em comunidade. Essas são as quatro partes fundamentais do Catecismo que nos fazem ver que a fé é uma questão pessoal, mas não pode existir sem a sua dimensão comunitária. A vida cristã só é genuína quando vem continuamente alimentada pela nossa comunhão eclesial, que pode acontecer de muitas maneiras, mas se concretiza de modo mais significativo e intenso na paróquia.

Quando mencionamos hoje a ideia de “comunidade de comunidades”, pretendemos exatamente recuperar o sentido da paróquia/comunidade como “casa”, ou domus ecclesiae, que os primeiros cristãos viveram de modo tão intenso. A paróquia deve ser a nossa “casa” alargada, onde encontramos a “família” de irmãos e irmãs em Cristo.

O Concílio Vaticano II expressou de modo brilhante o sentido da Igreja como comunhão de irmãos e irmãs que se concretiza no conceito de Povo de Deus, de Templo do Espírito e de Corpo de Cristo. Desde o Concílio a Igreja no Brasil vem refletindo sobre o sentido e a estruturação das paróquias. De modo especial, poderíamos recordar a 51ª Assembleia da CNBB, em 2013, centrada na “revitalização da comunidade paroquial”, dando origem ao documento de estudo “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”. Na seguinte Assembleia, em 2014, foi então aprovado o documento 100: “Comunidade de Comunidades: uma nova paróquia: a conversão pastoral da paróquia”. Por estar profundamente enraizado nas reflexões da Conferência de Aparecida, esse documento está em perfeita harmonia com o que espera o Papa Francisco da Igreja atual: a paróquia como “comunidade de comunidades”, cheia de desafios pastorais, convidada constantemente à conversão pastoral e missionária, pois a renovação paroquial depende de um renovado amor à pastoral.

Recuperar a imagem da casa significa garantir o referencial para o cristão peregrino encontrar-se no lar, ambiente de vida e de acolhimento. A Igreja visível na paróquia é, portanto, casa da Palavra, casa do pão, casa da caridade, casa do Pai. No centro está Cristo, como gerador da comunhão de tudo e entre todos. Cristo que se faz sempre mais visível e próximo através da Palavra e da Eucaristia.

A paróquia ideal não existe, pois está sempre marcada pelos limites humanos, mas o Papa nos exorta a repensar o estilo de nossas comunidades paroquiais para que sejam rede de comunidades de tal modo que seus membros vivam em comunhão como autênticos discípulos missionários de Cristo. Na conclusão do vídeo do mês, apresentando a intenção de oração para fevereiro, Francisco pede que rezemos “para que as paróquias, pondo no centro a comunhão, a comunhão das pessoas, a comunhão eclesial, sejam cada vez mais comunidades de fé, de fraternidade e de acolhimento aos mais necessitados.”

O Papa nos lança assim um grande desafio: não apenas rezar pelas paróquias, mas sobretudo refletir sobre nossa presença e participação na construção da “comunidade de comunidades”, que para o cristão se torna nova casa, cheia de desafios, mas também de belezas e alegrias.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Será que eu sou marxista?

Será que eu sou marxista? | Cléofas

Será que eu sou marxista?

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Existe um critério muito específico para descobrir se uma pessoa foi contaminada pelo pensamento marxista.

Como descobrir se alguém foi ou não contaminado pelo pensamento marxista? Esse critério é importante porque, das várias vertentes de marxismo que se desenvolveram na história – a de Lênin e a de Trotski, a que promove a luta armada e a que defende a revolução cultural etc. –, existe algo comum a todas elas, algo que as torna como que um movimento único e uniforme.

Esse algo nada mais é do que a questão da verdade. Se uma pessoa acredita na existência de verdades objetivas, às quais é preciso adequar-se de qualquer modo, pode saber que não é marxista. Ao contrário, se uma pessoa vê todas as verdades como construções ideológicas, criadas por interesses econômicos ou políticos e a partir de uma luta, então, ela foi seriamente comprometida pelo marxismo.

Na famosa instrução Libertatis nuntius, a Congregação para a Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger – hoje, Papa Bento XVI –, critica alguns aspectos relacionados à Teologia da Libertação. A sua tese de fundo é de que essa teologia, em sua vontade de ajudar os pobres e os oprimidos, é profundamente cristã e necessária. O problema é que existem princípios, dentro dessa mesma teologia, que não podem ser aceitos dentro do Cristianismo. Todo marxista, a fim de ter acesso à “verdade”, precisaria fazer uma análise crítica e desvendar a ideologia e os interesses classistas por trás de qualquer discurso. É essa luta que construiria a verdade, uma verdade “científica” e revolucionária.

Ao falar sobre a “subversão do senso da verdade”, o documento Libertatis nuntius afirma justamente isso. Para o marxista, “não existe verdade (…), a não ser na e pela praxis ‘partidarista'”. A verdade torna-se “a verdade de classe – não há verdade senão no combate da classe revolucionária” [1].

Por isso, quando um professor de teologia analisa todos os movimentos espirituais e teológicos da Igreja com má fé, buscando sempre um interesse mesquinho ou imperialista no pensamento dos santos, dos Papas e do Magistério, não resta dúvidas de que se trata de um legítimo representante da Teologia da Libertação marxista. De fato, o que faz com que as pessoas sejam marxistas é justamente a renúncia à verdade revelada por Deus, que é substituída por um constructo revolucionário.

Quem é verdadeiramente católico deve exorcizar de si esse tipo de pensamento. Como indica ainda a instrução da Congregação para a Doutrina da Fé, “o critério final e decisivo da verdade não pode ser, em última análise, senão um critério teológico” [2]. Ou seja, Jesus, vivo na Sua Igreja e nos Seus santos ao longo dos séculos, é a fonte da verdade (cf. Jo 14, 6). Uma teologia autenticamente libertadora e a serviço aos pobres deve tomar em consideração essa realidade, ainda que ela incomode ou cause desconforto, pois é apenas Cristo, a Verdade encarnada, quem pode redimir e libertar o homem (cf. Jo 8, 32).

Referências

1. Congregação para a Doutrina da Fé,Instrução Libertatis nuntius, sobre alguns aspectos da Teologia da Libertação, VIII, 4-5

2. Ibidem, VII, 10

http://www.aleteia.org/pt/politica/conteudo-agregado/sera-que-eu-sou-marxista-5346676361396224?utm_campaign=NL_pt&utm_source=daily_newsletter&utm_medium=mail&utm_content=NL_pt-30/06/2015

Fonte: https://cleofas.com.br/

Papa Francisco eleva Santuário São Francisco de Assis, em Brasília, a Basílica Menor

Basílica Menor São Francisco, localizada em Brasília (DF)
Vatican News

A Basílica Menor São Francisco é a primeira Igreja honrada com este título no Distrito Federal. O anúncio foi feito pelo cardeal Paulo Cezar, arcebispo de Brasília.

Vatican News

Algumas igrejas têm particular importância para a vida litúrgica e pastoral. Estas podem ser honradas pelo Sumo Pontífice com o título de Basílica Menor, significando assim o seu vínculo particular com a Igreja Romana e com o Sumo Pontífice.

A Basílica Menor São Francisco, localizada em Brasília (DF), é a primeira Igreja honrada com este título no Distrito Federal e no entorno. O anúncio do parecer favorável, pelo Vaticano, foi feito pelo cardeal Paulo Cezar, arcebispo de Brasília, na sexta-feira, dia 3 de fevereiro. Atualmente, a basílica atende cerca de 4 milhões de pessoas. No Brasil, existem cerca de 80 basílicas menores criadas.

A Santa Missa de instalação da Basílica Menor São Francisco será no dia 13 de maio, às 18h.

O processo

O pedido foi feito pelo próprio cardeal Cezar no dia 14 de setembro de 2022, com o apoio do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, e do Ministro Provincial.  No dia 6 de dezembro de 2022, o dicastério do Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos assinou o decreto, concedendo ao Santuário São Francisco de Assis o Título de Basílica Menor, conforme documento nº 551/22 assinado pelo prefeito, cardeal Arturo Roche, e pelo secretário Vitório Francisco Viola.

O Santuário

No dia 25 de maio de 2003, a arquidiocese de Brasília instituiu a Paróquia São Francisco de Assis, confiada aos cuidados dos Frades Menores Conventuais (OFMConv.) desde 1981, como Santuário São Francisco de Assis, com a missão de oferecer aos fiéis meios de salvação mais abundantes, anunciando com diligência a Palavra de Deus, incentivando adequadamente a vida litúrgica, principalmente com a Eucaristia e a Reconciliação, e cultivando as formas aprovadas de piedade popular, tornando-se lugar privilegiado de educação para os valores da ética, em particular a justiça, a solidariedade, a paz e a salvaguarda da criação, a fim de contribuir para o crescimento da qualidade da vida para todos.

O que é uma Basílica?

O Papa, através do Dicastério, pode dar o título de Basílica a uma igreja devido a sua importância espiritual e histórica. A basílica deve ser um lugar ligado a um santo que tenha devoção por parte dos fiéis, que seja igreja de celebração da liturgia (Eucaristia, confissões e Liturgia da Horas), que seja um templo onde a celebração seja cuidada com zelo e que tenha uma comunidade presbiteral capaz de prestar o necessário serviço sacerdotal.

O nome basílica provém do grego: basileus (rei) e oikos (casa), portanto, casa do rei. Quando termina o tempo da perseguição da Igreja por parte do Império Romano, com a conversão do imperador Constantino (313) e posteriormente a liberdade de culto em todo o Império (380), a Igreja necessitava de um lugar para a sua liturgia pública e solene, pois contaria com a participação do Imperador e da sua corte. Assim, a Igreja deveria sair de uma celebração feita na “domus” (casa) e ter uma grande “sala de culto”. Esta sala já existia, era chamada “basílica”, onde o rei recebia seus convidados. Daí a Igreja pegou o modelo do seu templo: uma grande sala, geralmente com duas naves laterais e uma central que na frente, em um piso elevado, tinha o trono do Imperador, onde ele recebia os cumprimentos. A Igreja pegou este projeto e colocou no lugar do trono o presbitério.

Basílicas Maiores: existem na Igreja 4 basílicas com este título, e estão todas em Roma: São João de Latrão, São Pedro, Santa Maria Maior e São Paulo fora dos Muros. Todas edificadas pelo imperador Constantino e depois reformadas e aumentadas pelos Papas, onde passaram a ser chamadas também de basílicas papais. Uma basílica maior tem um altar maior, onde apenas o Papa e seus delegados podem celebrar a Missa. Além disso, distingue-se porque tem uma Porta Santa que os fiéis podem cruzar durante um Ano Santo para ganhar uma indulgência plenária.

Basílicas papais fora de Roma: estão em Assis e são a de São Francisco e Santa Maria dos Anjos. São basílicas menores. Tem o altar maior, onde também somente o Papa ou seu delegado podem utilizar.

Deveres de uma Basílica

1. Instrução litúrgica dos fiéis.
2. Estudo e divulgação de documentos provenientes do Sumo Pontífice e da Santa Sé.
3. As celebrações do ano litúrgico sejam preparadas e realizadas com muito cuidado.
4. Durante a Quaresma, missas estacionais.
5. A palavra de Deus seja diligentemente proclamada nas homilias ou nos sermões especiais; celebrar a Liturgia das Horas.
6. Cuidar para que as reuniões dos fiéis sejam associadas ao canto das várias partes da Missa.
7. Numa basílica onde se reúnem frequentemente fiéis de diferentes nações ou línguas, é útil que saibam cantar juntos em latim a profissão de fé e o Pai Nosso.
8. Celebrar com particular solicitude:
a) a festa da Cátedra de São Pedro Apóstolo (22 de fevereiro);
b) a Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, Apóstolos (29 de junho);
c) o aniversário da eleição ou posse do Sumo Pontífice no supremo ministério.

Concessões ligadas à Basílica

Os fiéis podem lograr indulgência plenária nos seguintes dias:

a) no aniversário da dedicação da mesma basílica (29/11)
b) no dia da celebração litúrgica do título (04/10)
c) na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, Apóstolos (primeiro domingo depois de 29/06)
d) no aniversário da outorga do título de basílica (06/12)
e) uma vez por ano, em dia a ser determinado pelo Ordinário local (01/05)
f) uma vez por ano em dia livremente escolhido por cada um dos fiéis.

Etapas da criação da implantação de uma Basílica

1. Decreto do Dicastério
2. Solene Santa Missa presidida pelo arcebispo (13/05)

Insígnias da Basílica

1. Brasão do Vaticano
2. Tintinábulo
3. Umbrela
4. Virga Rubra
5. Vestes Próprias do clero

Com informações da arquidiocese de Brasília e da CNBB.

The Chosen supera Avatar nas bilheterias dos EUA

VidAngel Studios
Cena da terceira temporada de The Chosen
Por Aleteia

Dois episódios da terceira temporada da série que narra a vida de Jesus ficaram em primeiro lugar nas bilheterias dos cinemas americanos.

O grande sucesso da série sobre a vida de Jesus continua. Os dois últimos episódios da terceira temporada de The Chosen (“O Escolhido”) foram lançados nos cinemas americanos entre os dias 3 e 6 de fevereiro de 2023. Logo no primeiro dia de exibição, a produção atingiu o primeiro lugar nas bilheterias americanas. 

Segundo o site The Numbers, a série superou Knock at the Cabin (1,4 milhão de dólares arrecadados) e Avatar (1 milhão de dólares no período).

The Chosen conseguiu se manter na nona colocação do ranking dos mais assistidos ao final da semana, algo ainda mais notável já que os episódios eram exibidos apenas duas vezes ao dia em menos de 2.000 cinemas, contra 3.600 de Avatar.

“Estávamos empolgados em dar a vocês a chance de ver os episódios finais na tela grande, mas não esperávamos isso. Veja o que VOCÊS fizeram”, comentou a equipe do filme no Facebook.

Pela terceira vez, The Chosen foi lançada nos cinemas e o sucesso parece estar aí: o episódio lançado para o Natal de 2021 ocupou o primeiro lugar nas duas primeiras noites de seu lançamento nos Estados Unidos.  

Ainda não há previsão de quando a terceira temporada de The Chosen chegará aos cinemas do Brasil, mas as três temporadas estão disponíveis na NetflixGloboplay e no aplicativo The Chosen de forma gratuita.

https://youtu.be/N2KxpgSrCE8

O Papa: não podemos mais devorar os recursos naturais, aprendamos com os indígenas

O Papa com os participantes do 6º Encontro Mundial do Fórum dos Povos
Indígenas | Vatican News

Francisco recebeu, no Vaticano, os participantes do 6° Encontro Mundial do Fórum dos Povos Indígenas, promovido pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). "Devemos escutar mais os povos indígenas e aprender com seu modo de vida a fim de compreender adequadamente que não podemos continuar devorando avidamente os recursos naturais", disse o Papa.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (10/02), na Sala do Consistório, no Vaticano, os participantes do 6° Encontro Mundial do Fórum dos Povos Indígenas, promovido pelo Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA) em sua sede em Roma.

O tema deste ano "Liderança dos povos indígenas em questões climáticas: soluções baseadas nas comunidades para melhorar a resiliência e a biodiversidade" "é uma oportunidade para reconhecer o papel fundamental que os povos indígenas desempenham na proteção do meio ambiente e destacar sua sabedoria para encontrar soluções globais para os imensos desafios que as mudanças climáticas colocam diariamente à humanidade", ressalta Francisco.

Aprender com os povos indígenas

“Infelizmente, estamos presenciando uma crise social e ambiental sem precedentes. Se realmente queremos cuidar da nossa casa comum e melhorar o planeta em que vivemos, são imprescindíveis mudanças profundas nos estilos de vida, são imprescindíveis modelos de produção e consumo.”

Devemos escutar mais os povos indígenas e aprender com seu modo de vida a fim de compreender adequadamente que não podemos continuar devorando avidamente os recursos naturais, porque "a terra nos foi confiada para que seja mãe para nós, a mãe terra, capaz de dar o necessário a cada um para viver». Portanto, a contribuição dos povos indígenas é fundamental na luta contra as mudanças climáticas. E isso está comprovado cientificamente.

Ignorar as comunidades originárias é um erro

Segundo o Papa, "hoje, mais do que nunca, são muitos os que pedem um processo de reconversão das consolidadas estruturas de poder que regem a sociedade de cultura ocidental e, ao mesmo tempo, transformam as relações históricas marcadas pelo colonialismo, exclusão e discriminação, dando lugar a um diálogo renovado sobre a forma como estamos construindo o nosso futuro do planeta".

Precisamos urgentemente de ações conjuntas, fruto de uma colaboração leal e constante, porque o desafio ambiental que estamos vivendo e suas raízes humanas têm um impacto em cada um de nós. Um impacto não apenas físico, mas também psicológico e cultural.

“Por isso, peço aos governos que reconheçam os povos indígenas de todo o mundo, com suas culturas, línguas, tradições e espiritualidades, e que respeitem sua dignidade e seus direitos, conscientes de que a riqueza de nossa grande família humana consiste em sua diversidade.”

"Ignorar as comunidades originárias na salvaguarda da terra é um grave erro, é o funcionalismo extrativista, para não dizer uma grande injustiça", sublinhou Francisco. "Por outro lado, valorizar seu patrimônio cultural e suas técnicas ancestrais ajudará a trilhar caminhos para uma melhor gestão ambiental", destacou.

Nesse sentido, o Papa disse que é louvável o trabalho do FIDA "em ajudar as comunidades indígenas num processo de desenvolvimento autônomo, graças sobretudo ao Fundo de Apoio aos Povos Indígenas, mas esses esforços devem ser multiplicados e acompanhados de decisões firmes e claras, para uma transição justa".

Viver bem em harmonia

A seguir, o Papa falou a propósito do bem viver e do viver bem em harmonia.

"Viver bem não significa 'não fazer nada', a 'doce vida' da burguesia destilada, não, não. É viver em harmonia com a natureza, é saber buscar aquele equilíbrio, aquela a harmonia que é superior ao equilíbrio. O equilíbrio pode ser funcional, a harmonia nunca é funcional, é soberana em si mesma", disse ainda Francisco.

“Saber mover-se em harmonia é o que dá a sabedoria que chamamos de viver bem. A harmonia entre uma pessoa e sua comunidade, a harmonia entre uma pessoa e o ambiente, a harmonia entre uma pessoa e toda a criação. As feridas contra esta harmonia são as que estamos vendo evidentemente, que destroem os povos. O extrativismo, no caso da Amazônia, por exemplo, o desmatamento, ou o extrativismo de minério.”

"Portanto, procurar sempre a harmonia", reiterou o Papa, ressaltando que "quando os povos não respeitam o bem do solo, o bem do ambiente, o bem do tempo, o bem da vegetação ou o bem da fauna, o bem geral, quando não o respeitam, caem em posturas desumanas, porque perdem esse contato com a palavra, com a mãe terra. Não no sentido supersticioso, mas no sentido que a cultura e a harmonia nos dão".

"As culturas indígenas não devem ser convertidas numa cultura moderna, não. Elas devem ser respeitadas", sublinhou, reiterando a importância de "seguir seu caminho de desenvolvimento e escutar as mensagens de sabedoria que elas nos transmitem, pois não é uma sabedoria enciclopédica. É a sabedoria do ver, escutar e tocar da vida cotidiana".

Francisco concluiu, encorajou os participantes do 6° Encontro Mundial do Fórum dos Povos Indígenas a continuarem "lutando para proclamar essa harmonia que a política funcionalista, a política extrativista  estão destruindo. Que todos possamos aprender do bem viver no sentido harmonioso dos povos indígenas".

Santa Escolástica: Quando o amor vence a razão

Santa Escolástica | Guadium Press

Redação (10/02/2023 08:21, Gaudium Press) Quando Nosso Senhor veio ao mundo, trouxe-nos um mandamento novo: “Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13,34). Este amor levado às últimas consequências propiciou-nos a Redenção. E um relacionamento humano regrado e bem conduzido deve seguir o exemplo do Divino Mestre. O verdadeiro amor ao próximo é aquele que se nutre por outrem por amor a Deus e que tem o Criador como centro, visando a santidade daqueles que se amam. Já ensinava Santo Agostinho que só existem dois amores: ou se ama a si mesmo até o esquecimento de Deus, ou se ama a Deus até o esquecimento de si mesmo.

Assim foi Santa Escolástica, alma inocente e cheia de amor a Deus, de quem pouco se conhece, mas que, abrindo-se à sua graça, adquiriu excepcional força de alma e logrou chegar à honra dos altares. Sua história está intimamente ligada à aquele que por desígnios da Providência nasceu com ela para a vida, o grande São Bento, seu irmão gêmeo e pai do monacato ocidental, a quem amou com todo o seu coração.

Santa Escolástica e seu irmão São Bento

Nasceram Escolástica e Bento em Núrsia, na Úmbria, região da Itália situada ao pé dos montes Apeninos, no ano 480. Como seu irmão, teve uma educação primorosa. Com seus pais, muito católicos e tementes a Deus, constituíam uma das famílias mais distintas daquelas montanhas. Modelo de donzela cristã, Escolástica era piedosa, virtuosa, cultivava a oração e era inimiga do espírito do mundo e das vaidades.

Sempre caminhou em uníssono com seu irmão Bento, unidos já antes de nascer e irmãos gêmeos também de alma. Com a morte dos pais, Escolástica vivia mais recolhida no retiro de sua casa. Quando se inteirou que seu irmão deixara o deserto de Subiaco e fundara o célebre mosteiro de Monte Cassino, decidiu ela professar a mesma perfeição evangélica, distribuindo todos os seus haveres aos pobres e partindo com uma criada em busca do irmão.

Início da vida religiosa e origem da Ordem das Beneditinas

Encontrando-o, explicou-lhe suas intenções de passar o resto da vida numa solidão como a dele e suplicou-lhe que fosse seu pai espiritual, prescrevendo-lhe as regras que deveria seguir para o aperfeiçoamento de sua alma. São Bento, já conhecendo a vocação da irmã, aceitou-a e mandou construir para ela e a criada uma cela não muito longe do mosteiro, dando-lhe basicamente a mesma regra de seus monges.

A fama de santidade desta nova eremita foi crescendo e, pouco a pouco, se juntaram a ela muitas outras jovens que se sentiam chamadas para a vida monástica, colocando-se todas sob a sua direção, juntamente com a de São Bento, formando assim uma nova Ordem feminina, mais tarde conhecida como das Beneditinas, que chegou a ter 14.000 conventos espalhados por todo o Ocidente.

O último encontro de São Bento com Santa Escolástica

A cada ano, alguns dias antes da Quaresma, encontravam-se Bento e Escolástica a meio caminho entre os dois conventos, numa casinha que ali havia para este fim. Passavam o dia em colóquios espirituais, para depois tornarem a ver-se no ano seguinte. Um dos capítulos do livro “Diálogos”, de São Gregório Magno, ajudou a salvar do esquecimento o nome desta grande santa que tem lugar de predileção entre as virgens consagradas. O grande Papa santo narra com simplicidade o último encontro de São Bento e Santa Escolástica, em que a inocência e o amor venceram a própria razão.

Era a primeira quinta-feira da Quaresma de 547. São Bento foi estar com sua irmã na casinha de costume. Passaram todo o dia falando de Deus. Ao entardecer, levantou-se São Bento decidido a regressar a seu mosteiro, para voltar apenas no próximo ano. Pressentindo que sua morte viria logo, Santa Escolástica pediu ao irmão que passassem ali a noite e não interrompessem tão abençoado convívio. Ao que o irmão respondeu:

– Que dizes? Não sabes que não posso passar a noite fora da clausura do convento?

Oração de Santa Escolástica

Escolástica nada disse. Apenas abaixou a cabeça e, na inocência de seu coração, pediu a Deus que lhe concedesse a graça de estar um pouco mais com seu irmão e pai espiritual, a quem tanto amava. No mesmo instante o céu se toldou. Raios e trovões encheram o firmamento de luz. A chuva começou a cair torrencialmente. Era impossível subir o Monte Cassino naquelas condições. Escolástica apenas perguntou a seu irmão?

– Então, não vais sair? São Bento, percebendo o que se havia passado, perguntou-lhe:

– Que fizeste, minha irmã? Deus te perdoe por isso…

– Eu te pedi e não quiseste me atender. Pedi a Deus e Ele me ouviu – respondeu a cândida virgem.

A morte de Santa Escolástica

Passaram aquela noite em santo convívio, podendo o santo fundador regressar ao seu mosteiro apenas no outro dia pela manhã. De fato, confirmou-se o pressentimento de Escolástica. Entregou sua alma ao Criador três dias depois deste belo fato. São Bento viu, da janela de sua cela, a alma de Escolástica subir ao céu sob a forma de uma branca pomba, símbolo da inocência que ela sempre teve. Levou o corpo para seu mosteiro e aí o enterrou no túmulo que havia preparado para si próprio. Alguns meses mais tarde também faleceu São Bento. Ficaram assim unidos na morte aqueles dois irmãos que na vida terrena se haviam unido pela vocação.

Comentando este fato da vida dos dois grandes santos, São Gregório diz que o procedimento de Santa Escolástica foi correto, e Deus quis mostrar a força de alma de uma inocente, que colocou o amor a Ele acima até da própria razão ou regra. Segundo São João, “Deus é amor” (I Jo 4, 7) e não é de admirar que Santa Escolástica tenha sido mais poderosa que seu irmão, na força de sua oração cheia de amor. “Pôde mais quem amou mais”, ensina São Gregório. Aqui o amor venceu a razão, nesta singular contenda.

Por Irmã Juliane Campos, EP

Fonte: https://gaudiumpress.org/

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Os erros que você não deve cometer com seus amigos, segundo um monge medieval

NeonShot | Shutterstock
Por Lucia Graziano

Santo Elredo de Rievaulx, um monge cisterciense medieval, escreveu linda e brilhantemente sobre a amizade.

Elredo de Rievaulx, um monge cisterciense que morreu em 12 de janeiro de 1167, mantinha a amizade na mais alta estima. Ele dizia que os amigos eram “o maior consolo da alma humana” e “uma antecipação da bem-aventurança celestial” e dedicou um tratado inteiro à amizade.

Este era um assunto muito incomum para a época. Em plena Idade Média, era raro um autor religioso dedicar tanta atenção à amizade.

Felizmente para nós, isso não impediu Elredo de ilustrar as características que, em sua opinião, uma amizade deveria ter para ser considerada verdadeiramente cristã. Ele também alerta seus leitores sobre os erros que devem ser evitados por quem quer desfrutar das maravilhas da verdadeira amizade.

Existe alguma esperança de reconciliação depois de uma briga feia com um amigo?

Assim como às vezes acontece com grandes amores, as amizades também podem murchar e morrer. Elredo entendeu bem isso, e algumas passagens bíblicas pareciam confirmar sua ideia.

A premissa óbvia é que é sempre bom fazer todo o possível para revigorar uma amizade adormecida ou danificada pelo ressentimento. Referindo-se ao livro de Eclesiástico (22,21), o abade de Rievaulx observa: “Se você desembainhou sua espada contra um amigo, não se desespere: pode haver um retorno”. 

O que significa, concretamente, “desembainhar a espada contra um amigo?”

Elredo explica “Se o seu amigo disser palavras que o entristecem, se por um tempo ele não voltar a vê-lo, se ele preferir seguir seu próprio conselho em vez de seguir seu conselho, se ele não compartilhar de seus pontos de vista quando vocês debaterem – bem, isso também pode ser considerado à sua maneira um ato de guerra. Mas, neste caso, nem tudo está perdido: certamente a situação não é a ideal, mas isso não quer dizer que a amizade não possa ser salva.”

Eclesiástico (22,22) é firme:

“Ainda que tenhas dito contra ele palavras desagradáveis, não temas, porque a reconciliação é possível, exceto se se tratar de injúrias, afrontas, insolências, revelação do segredo e golpes de traição; em todos estes casos, o amigo fugirá de ti”.

Há feridas tão profundas que impedem qualquer esperança razoável de cura: e é sobre elas que Santo Elredo convida à reflexão, para garantir que nenhum de seus leitores jamais inflija tamanho sofrimento a seus amigos mais próximos.

Regra nº 1: Nunca insulte um amigo, especialmente em público

Descarregar a raiva em um amigo é algo que, segundo o santo, “arruína a reputação do outro e extingue nele a caridade”, principalmente se a injúria ocorrer publicamente. Afinal, nesse cenário, só há dois casos possíveis: ou um arruína a reputação do outro fazendo acusações verdadeiras e fundamentadas (que seria melhor expressar reservadamente com correção fraterna), ou macula o outro fazendo falsas afirmações preconceituosas, falsas ou exageradas sobre ele (que, no entanto, tenderão a ser tomadas como verdadeiras por quem presenciar a briga, justamente pelo vínculo dos dois envolvidos).”  

Regra nº 2: Nunca revele as confidências de um amigo

Elredo é firme neste ponto: “Não há nada mais vil e nada mais detestável, pois não deixa entre os amigos nem um pingo de amor, de graça, de suavidade e, ao contrário, enche tudo de amargura, borrifando-o com o fel do ressentimento, do ódio e da tristeza.”

E, novamente, ele cita Eclesiástico (27,21) para afirmar que “aquele que revelou segredos perdeu toda a esperança.”

Regra nº 3: Esteja sempre pronto para admitir seus erros

Ninguém é perfeito. Até mesmo os melhores e mais brilhantes podem cair em erro, talvez por causa de um julgamento precipitado ou de uma obstinada diferença de opinião. 

De fato, frequentemente acontece que a arrogância é a própria fonte de muitas brigas: por causa desse defeito de caráter, um amigo pode se tornar “impetuoso em ofender e cheio de si em corrigir”.

Certamente pode acontecer que surjam tensões, desacordos e sérias diferenças de opinião entre dois amigos, mas isso não seria, em si, um obstáculo insuperável se levasse a uma discussão calma em vez de um confronto aberto. 

Regra nº 4: Se você quer dizer coisas, diga-as na cara da pessoa

“A maldade final que dissolve a amizade é a difamação feita em segredo, ou seja, o golpe traiçoeiro por excelência”, escreve Elredo. Ele chama isso de uma verdadeira traição, “um ato agressivo e chocante como a mordida de uma cobra ou áspide”: raramente uma amizade pode se recuperar após uma afronta tão vil e chocante.

E o que você pode fazer se tiver um amigo que se comporta dessa maneira?

A exortação evangélica para “dar a outra face” não precisa ser sinônimo de “endossar tal comportamento”. No mínimo, deve haver um limite para nossa tolerância, para evitar que nosso amigo seja enganado na crença equivocada de que certas atitudes (pecaminosas) são realmente toleráveis ​​com um bufo e um encolher de ombros. Pelo menos, esta é a convicção do santo Elredo de Rievaulx, que aconselha com firmeza a seus leitores: “Você deve se afastar de qualquer pessoa que achar obstinada nesses vícios e não deve escolhê-lo como amigo”.

Mas o que fazer se a amizade já existe no momento em que esses vícios começam a se manifestar?

Nesse caso, se todas as tentativas de reconciliação falharam e não conseguimos levar nosso amigo a reconhecer o erro de seus caminhos, Elredo diz que é bom começar a nos distanciar educadamente. “Mas evitemos as injúrias”, acrescenta, “pois o próprio Deus cuidará das faltas do outro, (…) e evitemos também o ultraje”. Em termos modernos, alguns diriam: evitemos descer ao mesmo nível.

De fato, o santo de Rievaulx escreve: “Se aquele que você ama te ofende, não deixe de amá-lo. Se o comportamento dele é tal que você nega a ele sua amizade, nunca negue a ele amor.”

Pelo contrário, continue a se comportar com ele com a mesma caridade que você esperaria receber: “Leve a sério sua salvação o máximo que puder, preocupe-se com sua reputação e nunca revele os segredos que ele revelou a você quando era seu amigo, mesmo que ele tenha te traído.”

Esta é uma regra de ouro que não deve ser esquecida: “Um verdadeiro amigo ama até mesmo aqueles que não o amam mais; respeita aqueles que o desprezam e deseja o bem aos que o amaldiçoam”.

Há muita sabedoria nessas palavras.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A verdadeira lei é o amor!

A verdadeira lei é o amor! | coracaodemaria

A VERDADEIRA LEI É O AMOR!

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

Jesus nos convida a seguir o caminho dos seus mandamentos, pois ao nosso alcance estão o bem e o mal, a felicidade e a infelicidade. A liturgia do 6º Domingo do Tempo Comum garante-nos que Deus tem um projeto de salvação para que o homem possa chegar à vida plena e propõe-nos uma reflexão sobre a atitude que devemos assumir diante desse projeto. 

Na segunda leitura (1Cor 2,6-10), Paulo apresenta o projeto salvador de Deus (aquilo que ele chama “sabedoria de Deus” ou “o mistério”). É um projeto que Deus preparou desde sempre “para aqueles que o amam”, que esteve oculto aos olhos dos homens, mas que Jesus Cristo revelou com a sua pessoa, as suas palavras, os seus gestos e, sobretudo, com a sua morte na cruz (pois aí, no dom total da vida, revelou-se aos homens a medida do amor de Deus e mostrou-se ao homem o caminho que leva à realização plena). São Paulo afirma que o Evangelho é sabedoria revelada aos “perfeitos”, isto é, às pessoas dóceis ao Espírito. As contendas da comunidade do Corinto podem impedir a compreensão da sabedoria de Deus. Os poderosos deste mundo são incapazes de compreender essa sabedoria, pois se a tivessem compreendido, não teriam crucificado o autor dela. 

A primeira leitura (Eclo 15,16-21) recorda, no entanto, que o homem é livre para escolher entre a proposta de Deus (que conduz à vida e à felicidade) e a autossuficiência do próprio homem (que conduz, quase sempre, à morte e à desgraça). Para ajudar o homem que escolhe a vida, Deus propõe “mandamentos”: são os “sinais” com que Deus delimita o caminho que conduz à salvação. Conforme a primeira leitura, Deus, em sua sabedoria, não mandou ninguém agir com impiedade nem deu licença para pecar. No entanto, deixou o homem livre. Como diante da água e do fogo, a pessoa pode escolher onde pousar a mão, assim pode preferir a morte ou a vida, o bem ou o mal. A vida consiste em confiar em Deus e observar seus mandamentos para ser guardados/preservados. 

O Evangelho (Mt 5,17-37) completa a reflexão, propondo a atitude de base com que o homem deve abordar esse caminho balizado pelos “mandamentos”: não se trata apenas de cumprir regras externas, no respeito estrito pela letra da lei, mas trata-se de assumir uma verdadeira atitude interior de adesão a Deus e às suas propostas, que tenha, depois, correspondência em todos os passos da vida. Contemplamos, hoje, as quatro primeiras antíteses do Sermão da Montanha. Jesus ensina a superar a justiça farisaica. Esta consistia em se prender nos mínimos detalhes à Lei mosaica e às tradições humanas transmitidas pelos antepassados. Jesus ensina e exorta a uma justiça maior. Fazer e observar a vontade de Deus – justiça – é não matar fisicamente, mas também não matar pela ira. A vontade de Deus é a paz e a reconciliação constante entre os irmãos. Fazer e observar a vontade de Deus é não cometer adultério, nem no sentido estrito e próprio da palavra, nem no coração com desejos maliciosos. Para isso, o discípulo fiel evita toda circunstância e motivo de pecado: arranca a mão e o olho, isto é, tira do alcance do coração, toda ocasião de pecado e perdição. Jesus ensina, ainda, sobre o divórcio, que pode levar ao adultério e, por fim, exorta à sinceridade. “Seja o vosso ‘sim’: ‘Sim”, e o vosso ‘não”: ‘Não”. Tudo o que for além disso vem do Maligno! 

A insistência de Jesus na defesa da vivência das Escrituras (Mt 5,17-37), ou seja, da Lei, exprime que, em vez da obsessão por “mandamento”, a verdadeira religião se pauta na felicidade (bem-aventuranças), toca a existência e não se fecha em um emaranhado de regras e imposições, distantes da relação com a vida. A verdadeira religião humaniza e santifica. 

Jesus não relativiza a Lei, mas a aperfeiçoa no mais alto grau, fazendo o bem, compadecendo-se, restituindo a dignidade dos fragilizados e caídos à beira do caminho. Ele ofereceu o sabor do céu aos que, neste mundo, são obrigados a experimentar o amargor do inferno. Jesus combateu todo tipo de escravidão e sujeição. Jesus cumpriu a Lei de maneira radical. Quando ele fala aos discípulos o “amai-vos” (Jo 13,34), esse ensinamento tem autoridade, porque Jesus é o próprio amor. 

Para o Mestre Jesus, uma fé autêntica não compactua com uma religião de fachada. A verdadeira espiritualidade evita e combate a cultura do ódio, os discursos e práticas ofensivos, o preconceito, superando assim a justiça dos fariseus de nosso tempo! A verdadeira lei é o amor: amar a Deus e ao próximo como a si mesmo!

Irmã Mary: a vida entre os Yanomami

Ir. Mary Agnes Njeri Mwangi com os Yanomami | Vatican News

Ir. Mary Agnes Njeri Mwangi: "com os yanomami aprendi a ser uma mulher de esperança e resiliência, a sempre recomeçar”.

Padre Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

O sangue dos povos indígenas, o sangue dos yanomami corre nas veias da irmã Mary Agnes Njeri Mwangi. Bem é verdade que a missionária da Consolata nasceu no Quênia, mas desde que no ano 2000 chegou ao Brasil, ela sempre permaneceu na missão Catrimani, lugar de presença dos missionários e missionárias da Consolata no meio de um dos povos mais atacados ao longo do último século no Brasil.

Uma missão que a religiosa vê como “uma presença de consolação, uma presença de defesa da vida, de promoção da vida”. Segundo ela, “tem sido também uma presença de ser mulher entre as mulheres”, algo que tem se concretizado no trabalho com as mulheres, nos encontros em diferentes regiões no território Yanomami.

Irma Mary: a vida entre os yanomami | Vatican News

Neste tempo de convivência a irmã Mary Agnes, que foi auditora na Assembleia Sinodal do Sínodo para a Amazônia, diz ter aprendido “a ser uma mulher de esperança e resiliência, a sempre recomeçar, porque a vida é muito atropelada aqui, em alguns momentos há surtos de epidemiologia, invasão do território”. A religiosa insiste em que “aprendi a sempre a recomeçar, quando a vida parece que não existe, sempre tem a mão de Deus que vem ao encontro e recomeçamos. Aprendi muito esse modo de sempre estar disposta a recomeçar, construir, a fazer algo novo, a superar, a estar calma, a constância e o amor na convivência”.

Momentos difíceis

Isso numa região que tem passado momentos muito difíceis e onde se vive o momento atual com preocupação. Na missão Catrimani muitos indígenas não estão conscientes do que está acontecendo em outras regiões do território. Lá não chegam meios de comunicação, o povo não tem acesso para ver as imagens, só se informam com que o que falam na radiofonia, relata a missionária da Consolata.

Diante da situação que o Povo Yanomami vive, a irmã Mary Agnes insiste em que “falta realmente presença, presença em muitas regiões yanomami, de pessoas que podem estar com eles, conversar, compartilhar, isso faz falta, essa presença de pessoas inseridas, que podem também dialogar com o povo neste momento, que podem escutar qual é o problema e acompanhar o povo no dia a dia. O povo está vivendo nesse momento essa situação de desamparo, de estar só”.

Irma Mary: a vida entre os yanomami | Vatican News

As missionárias da Consolata estão acompanhando algumas comunidades, mas como acontece em muitas regiões da Amazônia, essa é uma região de difícil acesso, “são viagens longas, a pé, de barco”, relata a religiosa. Os problemas maiores, aqueles que estão aparecendo na mídia, acontecem em regiões distantes da missão Catrimani, onde elas não conseguem chegar. “E mesmo se nós conseguíssemos chegar seria destampar um buraco aqui para ir tampar outro buraco em uma outra realidade”, afirma a religiosa. Diante disso, a irmã Mary Agnes lança um grito de socorro, “o povo vive nessa ausência de pessoas que possam realmente doar a vida e estar junto com eles. Estar tempo, não é só ir e voltar, mas ficar na região como presença”.

“O Senhor está animando a minha vocação"

Um tempo de dor do povo que a missionária diz estar vivendo como uma experiência em que “o Senhor está animando a minha vocação e também essa opção das missionárias da Consolata, ficar junto ao povo, as missionárias e os missionários”. Ela insiste na importância de “estar sempre presente, junto ao povo e colaborar naquilo que podemos”.

À Igreja a religiosa faz um apelo para poder ter uma presença maior. Ela lembra da missão do Xirei, uma das regiões mais atingidas atualmente, onde havia uma comunidade religiosa até 2006, e essa comunidade deixou por falta de pessoas que podiam dar continuidade. Uma experiência que começou nos anos 90, quando havia outra situação grave quanto está hoje.

Irma Mary: a vida entre os yanomami | Vatican News

A religiosa disse que “hoje está pior, mas agora não tem essa presença, eu sinto que o Senhor me pede, oxalá seja verdade, que a Igreja procure outras religiosas e religiosos que possam atuar em outros frentes na área yanomami, porque aqui é a única presença da Diocese. Eu sinto esse chamado do Senhor, primeiro a afirmação da minha opção, da nossa opção como Consolata, missionários e missionárias de continuar aqui, mas também esse apelo à Igreja do Brasil e do mundo para tentar abrir outras frentes nessas realidades”.

Diante de tanta dor e sofrimento afirma que “vamos continuar lutando e somando forças com esse novo governo que está procurando articular e ajudar e com outras organizações civis”, insistindo em que “como Igreja chamados a somar forças com pessoas do bem”. Uma esperança não só para a irmã Mary Agnes, mas para um povo que luta pela vida tão duramente castigada.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF