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domingo, 12 de fevereiro de 2023

Como educar para uma cultura da vida e da acolhida?

Natalia Kirichenko | Shutterstock
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

A cultura da morte já está entre nós – e não é só uma questão de aborto ou de eutanásia! Entenda:

Quando comecei a pensar neste artigo, confesso que a primeira ideia de título que me veio foi “A cultura da morte já está entre nós – e não é só uma questão de aborto ou de eutanásia!”. Contudo, pareceu-me alarmista e deprimente demais – ainda que verdadeira. Assim, optei por uma alternativa oposta, pois não há denúncia eficiente sem a possibilidade de uma ação restaurativa ou, ao menos, uma possibilidade de reduzir os danos da realidade denunciada.

O tema surgiu em decorrência do artigo anterior, que se referia tanto à questão do aborto quanto à dos ianomâmis. As comunidades cristãs algumas vezes caem numa perigosa armadilha. Ao longo da Evangelium Vitae, São João Paulo II denunciou o aborto e a eutanásia como os gestos mais emblemáticos da “cultura da morte”, mas isso não quer dizer que sejam as únicas manifestações desse modo de ver o mundo.

Se restringimos a defesa da vida ao combate ao aborto e à eutanásia, frequentemente deixamos de ver outras ameaças (como nesse caso dos ianomâmis), além de não nos darmos conta da raiz desse fenômeno. Talvez até pior, podemos nos deixar instrumentalizar por pessoas que, no fundo, vivem segundo uma cultura da morte e que simplesmente se declaram contra o aborto e a eutanásia para que não vejamos seus outros malfeitos.

A raiz do problema

Francisco denominou essa cultura como aquela “do descarte”. O termo pode parecer menos impactante do que “cultura da morte”, mas permite perceber como o fenômeno é mais amplo (cf. Fratelli tutti, FT 18-21). Poucas pessoas estão dispostas a cometer um assassinato, mas muitas “descartam” a outras, direta ou indiretamente. E descartar uma pessoa pode significar condená-la à morte.

O que está por traz desse fenômeno? Como pessoas boas, bem-intencionadas, podem mergulhar nessa mentalidade? Como nós mesmos podemos mergulhar nessa mentalidade, pois muitas vezes a compartilhamos sem nem sequer nos darmos conta…

Paradoxalmente, a cultura da morte e do descarte nasce de uma idolatria à vida. Vivemos numa sociedade que valoriza o prazer de viver e o poder de quem está vivo acima de tudo. Todos temos como que uma obrigação de sermos felizes, de termos uma vida cheia de prazeres e de êxitos. As redes sociais são o registro mais evidente desta “ditadura do sucesso”: uma coletânea interminável de pessoas sorridentes, bem vestidas, em lugares paradisíacos, comendo pratos deliciosos e assim por diante. É até de “mau gosto” ou “politicamente incorreto” mostrar-se desamparado, num momento de dificuldade ou sofrimento.

Num reflexo evidente dessa postura, quaisquer ameaças ao prazer, quaisquer fontes de sofrimento, quaisquer relações que não são mais agradáveis devem ser eliminadas – mesmo que isso signifique descartar uma pessoa, matar uma criança por nascer, eliminar um doente ou um idoso. Vidas sem prazer, pessoas sem poder não têm a mesma dignidade e os mesmos direitos das demais.

Dito dessa forma, a declaração pode parecer chocante e poucos se identificariam imediatamente com ela. Mas é assim que vivemos frequentemente e nos valemos de mecanismos de invisibilização e justificação para não nos apercebemos da realidade em que estamos imersos.

Uma resposta positiva

O escândalo moral e a culpabilização das ideologias e dos ideólogos podem fazer com que nos sintamos melhor, mas não resolvem o problema. Como nos educarmos para uma cultura da vida e do respeito aos direitos do outro?

Bento XVI, numa entrevista na sua ida ao Brasil, falando sobre o aborto, deu uma primeira resposta essencial: é necessário educar para a beleza da vida e para a esperança. A vida é bela também em seus momentos de dor e de sofrimento. a esperança pode vencer as dificuldades, não ser uma ilusão enganosa, mas sim a força que nos permite construir uma vida melhor – para nós e para os demais.

Assim como a vida é o oposto da morte, a acolhida é o oposto do descarte. Todos sentimos necessidade de ser amados e acolhidos – é essa experiência que nos faz ter consciência da própria dignidade e até de termos esperança no futuro. Uma pessoa se coloca a favor da vida quando descobre a força do amor e da acolhida, quando percebe que os fracassos, o sofrimento e a dor não precisam dar a última palavra sobre a vida.

É uma coisa incrivelmente simples, mas nem sempre é fácil… Tanto é que a cultura da morte e do descarte entrou em nossa sociedade e, de certa forma, se trona cada vez mais hegemônica. Muitas vezes, diante das dificuldades, nós mesmos parecemos perder as esperanças, assumimos atitudes individualistas, nos escandalizamos e nos deixamos determinar por normas formais, até justas, mas desprovidas de Espírito.

A acolhida não elimina a correção, mas a precede. Primeiro acolhemos e depois corrigimos. A esperança e a solidariedade devem sempre complementar a denúncia. A verdade não será adequadamente comunicada sem a experiência da beleza.

Muitas vezes nós mesmos estamos carentes de amor, solidariedade, verdade e beleza, mas Deus nunca se fecha àqueles que O buscam. Viver e comunicar essa positividade cristã ainda é o melhor caminho para enfrentar a cultura da morte e construir a cultura da vida e da acolhida.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

A família ante a ideologia do gênero

A família | Presbíteros

A família ante a ideologia do gênero

CARDEAL ROBERT SARAH

Resumo

O Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, denunciou a ideologia do género e as suas repercussões sobretudo na família, numa conferência proferida na Universidade Católica de Ávila (Espanha), em 24 de Maio de 2016.

 Na impossibilidade de darmos o texto íntegro, apresentamos para os nossos leitores um resumo elaborado pelo Pe. Miguel Falcão.        

O Papa Francisco, durante a sua Viagem apostólica a Manila (Filipinas), não duvidou em denunciar uma “colonização ideológica contra a família” [1], que tenta destrui-la difundindo-se nas sociedades dos países em vias de desenvolvimento. Na sua Exortação apostólica Amoris laetitia, critica fortemente a ideologia do género, que “nega a diferença e a reciprocidade natural entre um homem e uma mulher. Ela antevê uma sociedade sem diferença de sexo e esvazia a base antropológica da família. Esta ideologia leva a projetos educativos e diretrizes legislativas que promovem uma identidade pessoal e uma intimidade afetiva radicalmente desvinculadas da diversidade biológica entre homem e mulher” [2].

O próprio Autor, no livro Deus ou nada [3], denunciou com vigor a teoria do género como um ataque frontal à família e a sua vontade de a destruir.

Génese da ideologia do género [4]

A teoria do gender (género) nasceu no ambiente das ciências humanas de inspiração freudiana.

Nos anos 1990, Judith Butler – que continua a ser a líder da revolução do «género» – declarou que os termos «sexo» e «género» já não são substantivos. Isso significa que o indivíduo, homem ou mulher, será o que queira ser.

Aqui pode ver-se “a mão do diabo”. Satanás é homicida desde o princípio [5]. Satanás quer matar a vida divina em nós, quer fazer de nós «zumbis», indivíduos sem alma e dotados de um corpo submetido a manipulações genéticas. Quer submeter-nos a ele, cortando o «cordão umbilical» que nos une a Deus e dando-nos a ilusão de que somos os nossos próprios deuses [6].

A pseudolibertação do homem inscreve-se na história dos três últimos séculos, sendo a ideologia do género o seu último avatar. A emancipação de Deus Pai produziu-se há muito tempo, quando as democracias ocidentais se formaram num contexto deísta. Os mestres do pensamento racionalista provocaram a Revolução Francesa, apresentada como a génese da libertação do homem em relação ao Deus dos cristãos e, em consequência, em relação à Igreja e ao seu Magistério. Para os racionalistas, Deus é o Arquiteto Supremo do Universo que se desinteressa totalmente das suas criaturas. O deísmo dos enciclopedistas matou a paternidade de Deus, cortou o «cordão umbilical».

Se Deus deixa de ser Pai, o homem deixa de ser filho, pessoa que recebe tudo do Pai. Passa a ser simplesmente indivíduo, entregue a si próprio, à sua liberdade e à sua razão.

Entregue à sua razão, o indivíduo perde pouco a pouco contacto com a Fonte, a paternidade de Deus. É certo que vários documentos internacionais – Cartas da Sociedade das Nações e das Nações Unidas, Declaração Universal dos Direitos Humanos, preâmbulos das Constituições – ainda refletem normas de direito natural, isto é, conformes à natureza humana criada por Deus; mas cada vez mais o direito que rege os Estados ocidentais se torna positivista, baseado exclusivamente na vontade da maioria dos cidadãos, sem nenhum limite natural. Assim, por exemplo, para poder legalizar o aborto, nega-se que o embrião humano seja uma pessoa desde a sua concepção ou diz-se que é apenas uma pessoa potencial.

Devido a este divórcio entre indivíduo e pessoa, o Ocidente – e com ele o mundo inteiro pelas conhecidas vias da colonização e depois da dominação econômico-financeira dos países em vias de desenvolvimento – caiu no individualismo e nas ideologias. Portanto, com a morte de Deus, o deísmo levou a civilização ocidental à morte do homem como pessoa, ao assassinato do pai, ao individualismo sem fraternidade, que culminou no movimento libertário de Maio de 1968 em França: a humanidade livre de normas.

Entretanto, foi-se preparando o assassinato da mãe, com o feminismo radical que opõe os direitos das mulheres, a sua liberdade e a sua igualdade, à identidade feminina no marco da complementaridade dos sexos e à maternidade. Margaret Sanger (1879-1966), figura emblemática do feminismo ocidental, queria o acesso livre e gratuito à contracepção para “libertar a mulher da escravidão da reprodução”. Assim, a partir de 1970, se sufocou o sentido da feminilidade e da maternidade na cultura ocidental.

No final do séc. XX, o pai, a mãe, os esposos, o filho e a filha, todos perderam o estatuto próprio na família. Atualmente, tornou-se um conceito abstrato e instável, sujeito a interpretações diversas e contraditórias, de modo a falar-se de “famílias”.

Este longo processo revolucionário, que vai da morte de Deus Pai no séc. XVIII à morte do homem convertido em simples indivíduo no final do séc. XX, conduz diretamente à ideologia do género. Com efeito, este indivíduo desenraizado torna-se apenas um consumidor com quem a Internet faz negócio a partir de estimativas estatísticas dos seus desejos. Este vazio permitiu a aceitação da revolução do género. 

A ideologia do género     

Para a ideologia do género não existem a masculinidade e a feminilidade com a complementaridade dos sexos, nem a paternidade e maternidade, nem o matrimónio entre um homem e uma mulher, nem portanto a família com a vocação educativa do pai e da mãe. Tudo isto seriam construções sociais elaboradas ao longo dos séculos, em particular sob a pressão das religiões, para impedir o acesso individual à liberdade e igualdade dos cidadãos. São estereótipos discriminatórios de que seria necessário libertar-se (daí o processo revolucionário) e para isso «desconstruir» e demolir por todos os meios (financeiros, políticos, culturais, educativos e legislativos) [7].

Isto significa que, se o indivíduo não recebe o seu género, mas ele está em permanente construção, a consequência é a indiferenciação dos sexos.

Um exemplo de «desconstrução» da linguagem devida à ideologia do género:

– em lugar de esposos ou de marido e mulher, fala-se de parceiros;

– em lugar de maternidadedireito da mulher de dispor livremente do seu corpo;

– em lugar de matrimónio estável entre um homem e uma mulher, amor livre hétero ou homossexual sem compromissos;

– em lugar de família, variedade de famílias;

– em lugar de procriaçãoreprodução.

A teoria do género entrou já no modo de viver atual e continua o seu caminho de «desconstrução», isto é, de destruição da família e da sociedade, perante uma indiferença quase geral. Era preciso tomar consciência urgentemente para poder resistir, qualquer que seja o preço a pagar: da troça à marginalização, do cárcere ao martírio. O veneno já está inoculado, quer ao nível das nações, quer ao nível das instância internacionais, das quais a mais influente são as Nações Unidas (ONU).

A difusão da ideologia do género

Ao nível dos Estados, a ideologia do género é promovida pela Organização Mundial da Saúde (ONU) e por numerosas organizações não-governamentais (ONG), em particular instituições educativas e sanitárias com sede em Estados ocidentais.

Qualquer país que rejeita unir-se à ideologia do género é geralmente sancionado, por exemplo em relação a ajudas para o desenvolvimento. Esta autêntica colonização afeta a todo o continente africano, em particular a África subsaariana, e também a Ásia e a América Latina. Os países africanos que tentam resistir à vaga homossexual, tendem a abrir as portas à perspectiva do género na sua acepção feminista, sem repararem que isso levará imediatamente à homossexualidade legalizada.

Nas instâncias internacionais que inspiram a legislação e o comportamento dos diversos Estados, a recepção da teoria do género representa uma ruptura com a linguagem dos instrumentos jurídicos vinculantes adoptados antes dos anos 90. Os documentos anteriores da ONU, por exemplo, ao abordar questões relativas à igualdade dos direitos, à família e à educação, referiam-se aos «homens e mulheres», aos «esposos» ou «marido e mulher», ao «matrimónio», à «família» (em singular).

A mudança começou a dar-se na altura da IV Conferência Mundial sobre a Mulher (Pequim, 4-15 de Setembro de 1995), marcada pela intervenção notável de uma feminista muito célebre, Hillary Clinton, então Primeira-dama dos EUA, que declarou surpreendentemente: «os direitos das mulheres são direitos do homem». Apesar da oposição de países como Estados Unidos e França, a Santa Sé afirmou alto e bom som os seus pontos de desacordo presentes no documento preparatório da Conferência. O «género» foi metido às escondidas na Plataforma de Ação de Pequim, mas não foi explicitamente definido.

Posteriormente, os organismos da ONU dedicaram-se a definir o «género». Estas definições difusas levaram tempo, permitindo interpretações cada vez mais comprometidas. A mais notável é a da ONU Mulheres: o «género» corresponde “aos atributos sociais e às oportunidades associadas ao facto de ser homem ou mulher e às relações entre mulheres e homens, assim como às relações entre mulheres e às relações entre homens”, acrescentando que “esses atributos, oportunidades e relações são específicas de certos contextos e épocas, e sujeitos a mudança”. ONU Mulheres faz pressão para que «a igualdade de género e os direitos das mulheres» se integrem nos tratados mundiais. E conclui: “O marco para o desenvolvimento depois de 2015 deve reconhecer que a falta de controle das mulheres e das adolescentes sobre o seu corpo e a sua sexualidade é constitui uma enorme violação dos seus direitos”.

A ditadura pela subversão ideológica

Para a ideologia do género, a família converteu-se num lugar onde se negoceia o poder; ela já não é a célula básica da sociedade, e muito menos um lugar de amor e de comunhão interpessoal. Sendo a família uma fonte de desigualdades, é preciso mudar as relações de poder entre homens e mulheres, entre rapazes e raparigas, desde a escola primária. Em muitos países ocidentais, estes objetivos já foram conseguidos. A teoria do género pretende abalar as “estruturas coercitivas” (políticas, culturais e religiosas) que atribuem papéis estereotipados às mulheres e aos homens, restringindo as suas opções de vida, e rejeitando as opções homossexuais. Encontramos aqui os dois afluentes envenenados do rio chamado «gender»: o feminismo e os grupos homossexuais.

A ideologia do género radica no relativismo, segundo o qual tudo é possível e aceitável. Bento XVI e agora o Papa Francisco disseram que as nossas sociedades caminham para uma ditadura do relativismo, que não reconhece senão o próprio ego e os seus desejos. Esta ideologia, que penetrou na sociedade, mete-se na Igreja por fora e por dentro. Há grupos de pressão («lobbies») que querem impor a ideologia do género e o relativismo moral. Se a família está em perigo, é a sociedade que está em perigo, e também a própria fé. Com efeito, os bispos (e os presbíteros, seus cooperadores) estão chamados a defender a santidade do matrimónio e da família. Se fracassam na sua missão, o futuro da humanidade está em grave perigo, porque a fé está sempre ameaçada de dois modos: ou pela vontade de mudar a doutrina imutável, ou dando mau exemplo.

O bom combate pela família

Nos nossos dias assistimos muito especialmente a um combate frontal e violento entre «o espírito do mundo» e «o Espírito Santo». Nos primeiros tempos da Igreja, por exemplo em Roma, o contexto cultural era bastante parecido ao que conhecemos hoje, com a banalização do adultério, da poligamia, da homossexualidade, do aborto… Os cristãos dessa época não aceitaram compromissos, mas permaneceram fiéis ao Evangelho, mesmo quando o seu testemunho ia contracorrente da cultura dominante. Graças ao seu exemplo, foram o fermento na massa pagã da época [8] e pouco a pouco viram a conversão de povos inteiros. Assim foi como a Europa se tornou cristã e viu florescer uma civilização marcada pelo cristianismo, onde o matrimónio, em particular a dignidade da mulher, e a família, com o respeito pelos filhos desde a sua concepção, foram evidenciados.

Ora, durante os dois recentes Sínodos sobre a família, de 2014 e 2015, num contexto social e cultural muito parecido ao da Roma antiga, pelo menos no Ocidente, a tentação do compromisso com o «espírito do mundo» surgiu como uma proposta teológico-pastoral errónea: adaptar o ensinamento da Igreja às realidades do mundo contemporâneo, ou se se prefere, adaptar a doutrina da Igreja aos casos particulares que caem na pastoral. O deslumbramento por este modelo, retransmitido pelos meios de comunicação complacentes, mesmo católicos, conquistou certo número de bispos, um dos quais chegou a qualificar este paradigma como «fonte de revelação»!

Conclusão

São João Paulo II disse muitas vezes que “o futuro da humanidade passa pela família” [9]. Se a batalha final entre Deus e o reino de Satanás se trava no matrimónio e na família, é preciso urgentemente empenharmo-nos nela, pois dela depende o futuro da sociedade humana, e sabemos que a família, fundada no matrimónio de amor, monógamo, livre, fiel e indissolúvel, é a sua célula básica.

Neste ano jubilar da Misericórdia, podemos encontrar refúgio, como Maria, Mãe do Redentor e Mãe Nossa, no Coração de Jesus, no seu Sagrado Coração traspassado por amor a nós.


[1] FRANCISCO, Encontro Mundial das Famílias em Manila, 16-I-2015.

[2] FRANCISCO, Exortação apostólica pós-sinodal “Amoris laetitia”, 19-III-2016, n. 56.

[3] CARD. ROBERT SARAH, Deus ou nada, recentemente editado em Portugal (2016).

[4] Cf. MARGUERITE A. PETEERS, La perspective du genre: origines idéologiques lointaines d’une norme prioritaire de la gouvernance mondiale, 24-V-2014.

[5] Cf. Jo 8, 44.

[6] Cf. Gen 3, 5: «Sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal”.

[7] Cf. MARGUERITE A. PETEERS, la définition des nouveaux concepts de base pour le mariage et la famille, 7-XI-2014.

[8] Cf. Mt 13, 33.

[9] Cf. S. JOÃO PAULO II, Familiaris consortio

Fonte: https://www.cliturgica.org/portal/artigo.php?id=2436

Reflexão para o 6º Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho de Domingo | Vatican News

No Evangelho vemos a proposta sobre a justiça do Reino dos Céus. Como vimos no domingo passado, somos chamados a sinalizar a aliança de sal, a perene, que não se corrompe. Essa aliança de Deus com cada um dos seres humanos é alimentada por todos nós batizados, que assumimos o projeto do Senhor.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Deus nos criou livres e depende de nós a escolha que nos fará felizes. O que dependia do Senhor já foi feito. Ele nos criou à sua imagem e semelhança, ou seja, livres, tendo no íntimo de nosso ser buscar o bem e evitar o mal. Somos feitos pelo Sumo Bem, evidentemente, só poderemos estar voltados para a prática do bem. Contudo o Senhor, exatamente porque nos criou à sua imagem e semelhança, nos fez livres. Como diz a leitura do Livro do Eclesiástico “Diante de ti, Ele colocou o fogo e a água; para o que quiseres, tu podes estender a mão. Diante do homem estão a vida e a morte, o bem e o mal; ele receberá aquilo que preferir”. Consequentemente, cada um de nós é sujeito de sua felicidade ou desgraça, à medida que tiver feito escolhas a favor da vida ou da morte.

Evidentemente, tendo herdado o pecado original, sabemos também que a nossa natural inclinação ao bem foi atingida, de modo que, muitas vezes, como nos diz São Paulo, “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero”.

No Evangelho vemos a proposta sobre a justiça do Reino dos Céus. Como vimos no domingo passado, somos chamados a sinalizar a aliança de sal, a perene, que não se corrompe. Essa aliança de Deus com cada um dos seres humanos é alimentada por todos nós batizados, que assumimos o projeto do Senhor. Também faz parte de nossa opção aceitarmos essa vocação dada por Jesus, de colaborarmos com Deus na construção da nova sociedade, do Reino de Justiça.

Por fim, a Primeira Carta aos Coríntios nos fala que a perfeição está na sabedoria, mas não na sabedoria deste mundo, muito menos na de seus poderosos, pois ela está voltada para a morte, para a destruição. A Sabedoria de Deus, ao contrário, seu plano de amor em benefício dos homens, está escondida e foi destinada para nossa glória, é o projeto de Deus, sua opção pelos simples, pelos marginalizados. Os poderosos não a conheceram porque, mantendo sua opção, condenaram Jesus à morte e o crucificaram. Contudo, “o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram nem os ouvidos ouviram nem coração algum jamais pressentiu” escreve São Paulo.

Concluindo, a liturgia deste domingo nos exorta a mantermos nossa missão, nossa vocação optando livremente pelo anúncio do projeto de Deus, de anunciar a construção de uma nova sociedade onde a sabedoria de Deus triunfará e os marginalizados deste mundo a conhecerão. Aliás, à medida em que optamos por fazer a vontade de Deus, já desfrutamos no próprio ato de fazer o bem, a alegria e a felicidade que almejamos.

Menina de 7 anos protege o irmão sob os escombros do terremoto na Síria

Facebook / Assyro-chaldéens, l'histoire continue
Mariam, 7 anos, e seu irmãozinho sob os escombros
Por Aleteia

As crianças permaneceram nesta posição por 17 horas, até a chegada do resgate.

Depois do terremoto que atingiu a Síria e a Turquia em 6 de fevereiro, alguns resgates são vislumbres de esperança em meio a mais de 16.000 mortos.

Uma bebê recém-nascida retirada dos escombros emocionou as redes sociais. Agora é a história de duas crianças resgatadas das ruínas de um prédio na Síria que está comovendo o mundo. A cidade onde ocorreu esse resgate é Harem, a cerca de 60 quilômetros de Aleppo. 

Uma garotinha de cerca de sete anos, chamada Mariam, ficou enterrada por várias horas sob os escombros com seu irmãozinho. Na foto, podemos ver as duas crianças pequenas presas entre enormes blocos de concreto. A menina posicionou o braço acima da cabeça do irmão mais novo para protegê-lo até que fossem resgatados.

Ambos foram socorridos com segurança. Mohamad Safa, líder de uma ONG que trabalha com a ONU, compartilhou esta foto no Twitter e fez o seguinte comentário: “A menina de 7 anos que manteve a mão na cabeça do irmãozinho para protegê-lo enquanto eles estavam sob os escombros por 17 horas conseguiu escapar com segurança. Não vejo ninguém compartilhando. Se ela estivesse morta, todos compartilhariam! Compartilhe positividade…”

Um terremoto mortal 

Embora o terremoto tenha ocorrido há 3 dias, as chances de sobrevivência para aqueles que ainda estão presos sob os escombros estão diminuindo. Os socorristas enviados ao local continuam as buscas e ainda conseguem evacuar os moradores. A par das equipas enviadas pela Turquia e pela Síria, vários países do mundo decidiram enviar reforços.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Dom Catelan: A herança litúrgica do Papa Bento XVI

Papa Bento XVI  (ANSA) 

A produção teológica de J. Ratzinger a respeito da liturgia é marcada principalmente por duas obras: A Festa da Fé (1981) e O Espírito da Liturgia: uma introdução (2000).

Dom Antonio Luiz Catelan Ferreira - bispo auxiliar do Rio de Janeiro

A liturgia é um dos temas mais caros ao Papa Bento XVI. Ele dedicou-lhe muita atenção e reflexão, tanto em sua produção teológica pessoal, como em seu Magistério Pontifício.

A produção teológica de J. Ratzinger a respeito da liturgia é marcada principalmente por duas obras: A Festa da Fé (1981) e O Espírito da Liturgia: uma introdução (2000). Na coleção que reúne sua produção teológica, o volume 11 recolhe diversos artigos, conferências, apresentações e homilias sobre o tema. Na língua original soma 757 páginas (Herder, 2008), na tradução brasileira (Ed. CNBB, 2ª edição revisada, 2019) soma 751).

O texto em que ele desenvolve seu pensamento de modo mais sistemático e completo é do ano 2000. O título da obra se assemelha muito ao do livro de um de seus autores favoritos, Romano Guardini, O Espírito da Liturgia, publicado em 1918. Com isso ele indica que pretende retomar aspectos de uma corrente do Movimento Litúrgico que não receberam a mesma atenção no caminho da liturgia ao longo do Século XX. A história da liturgia e de seus principais elementos é apresentada na perspectiva da continuidade fundamental e o que se assemelha a rupturas ele demonstra serem evoluções necessárias do fundamento posto por Deus desde o ato criador do cosmos. Essa perspectiva se manifesta já na relação entre o Antigo e o Novo Testamento.

Nesse libro, o estudo dos fundamentos bíblicos da liturgia recebe atenção primorosa. Dialoga com os autores das principais pesquisas e as passa em resenha para discutir as ideias principais ou mais difundidas. Dá grande atenção ao desenvolvimento da liturgia ao longo da história da Igreja, em perspectiva de crescimento orgânico, vital, sem rupturas bruscas. Destaca-se sua exposição sobre o significado da participação ativa de todos os fiéis nas celebrações: trata-se não simplesmente de fazer ou dizer coisas, mas de tomar parte na ação fundamental, que é realizada por Cristo através de sua Igreja. Os fiéis não são meros expectadores, tomam realmente parte no ato de culto, suas ações exteriores são extremamente importantes. Bastaria, para compreender a importância que J. Ratzinger atribui a elas, a leitura do capítulo quarto desse livro, a respeito da forma litúrgica, onde trata do significado espiritual do rito, do corpo com suas posições e gestos, da voz, da veste e da matéria que entra no ato de culto.

Em seu Magistério Pontifício, destacam-se duas exortações apostólicas e uma carta apostólica. Os textos maiores, as exortações apostólicas, são: Sacramentum Caritatis (2007) e Verbum Domini (2010). No primeiro, a opção por apresentar a Eucaristia a partir da fé, da celebração e da vida, assume a perspectiva mistagógica. Essa perspectiva caracteriza grande parte de suas homilias sobre temas litúrgicos. Destacam-se as proferidas por ocasião das celebrações anuais da Missa Crismal (manhã de Quinta-Feira Santa), dos Batismos celebrados na Festa do Batismo do Senhor e das Ordenações. Sua compreensão da mistagogia se encontra no magnífico número 64 dessa exortação. Ele considera que essa é a forma fundamental da formação liturgia, formar pela liturgia mais que para ela (embora valorize muito também essa modalidade). Não menos importante é a noção de culto espiritual que se encontra no número 70, que exprime como o mistério crido e celebrado se torna “princípio da vida nova” e “forma da existência cristã”.

A exortação apostólica Verbum Domini trata da Palavra de Deus de modo geral, mas dedica os números 52 a 71 à Palavra de Deus na liturgia. Entre a compreensão do significado teológico da Palavra de Deus, sua difusão pastoral e a atuação da Igreja no mundo consequente à fé, está, como a fazer conexão e transição, a Palavra na celebração. Aí se destaca a noção de sacramentalidade da Palavra (n. 56). Primeira vez que essa expressão ocorre em um documento pontifício, ocasionou muitos estudos e publicações. Em analogia (comparação que leva em conta semelhanças e diferenças) com a encarnação do Filho de Deus e com os sacramentos, ele expõe a eficácia da Palavra, que produz em nós o que significa. Destaca-se a analogia com a presença real de Cristo na Santíssima Eucaristia, pois em sua Palavra ele está realmente presente e se dirige a nós, o que tem consequências para a vida espiritual dos fiéis e para a vida pastoral da Igreja.

Por fim, a carta apostólica (motu próprioSummorum Pontificum (2007), trata do uso da liturgia romana anterior à reforma litúrgica de 1970. Levando em conta o impulso da liturgia para a vida espiritual, para o fortalecimento da religião e da piedade do povo cristão, dá continuidade a ações de seu predecessor, São João Paulo II, que permitiram cada vez mais ampla e facilmente o uso da edição do Missal de 1962. Na introdução aos 12 artigos, demonstra que a coexistência dos dois Missais e dos dois rituais (o da forma típica reformada e o anterior, compreendido como forma extraordinária) não fere a concordância que deve haver entre as Igrejas particulares e a Igreja universal quanto à doutrina da fé, aos sinais sacramentais e aos usos universalmente aceitos. Também não põe em risco a correspondência entre a regra da oração e a regra da fé na Igreja (Instrução Geral sobre o Missal Romano, 3ª ed. típica, n. 397). Isso porque na liturgia há crescimento e progresso, mas na continuidade, sem rupturas. Juntamente com a carta apostólica, escreve uma Carta aos Bispos no qual pede generosidade com relação aos grupos que solicitam celebrações na forma extraordinária como também prudência no acompanhamento, pois “não faltam exageros e algumas vezes aspectos sociais indevidamente vinculados à atitude dos fiéis ligados à antiga tradição latina” (Carta).

Talvez mais até do que o aspecto doutrinal do Magistério litúrgico de Bento XVI, sua forma de celebrar e de pregar durante as celebrações sejam o aspecto mais precioso de seu legado. Ele viveu o que ensinou: “a melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada” (Sacramentum Veritatis, 64).

Dom Antonio Luiz Catelan Ferreira

Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Membro da Comissão Teológica Internacional

Professor da PUC-Rio

Secretário da Sociedade Ratzinger Brasil

Caminhando para a Páscoa

Caminhando para a Páscoa | arquicascavel

CAMINHANDO PARA A PÁSCOA

Dom Adelar Baruffi
Arcebispo de Cascavel (PR)

Na Quarta-feira de Cinzas, com a celebração e imposição das cinzas na cabeça dos cristãos católicos, iniciamos a nossa preparação para a Páscoa. As festas mais importantes do cristianismo sempre trazem consigo a ideia de que temos que prepará-las, com um razoável tempo de antecipação. Recordemos que o Advento, do qual preparamos o Natal, é de quatro semanas. Nossa Quaresma tem a duração de quarenta dias, até a celebração da celebração do lava-pés, na Quinta-Feira da Semana Santa. O modo brasileiro de celebrar a Quaresma, nos convida a imitar a misericórdia do Pai repartindo o pão com os necessitados, fortificando nosso espírito fraterno, conforme nos diz a Campanha da Fraternidade.

Na Igreja católica, a Quaresma tem o significado de uma disposição, quase um caminhar para o encontro de Cristo que dá sua vida por nós. Quando chegarmos à semana santa, devemos estar bem preparados, com nossa confissão feita ou por fazer naqueles dias.  A Páscoa, a mais importante festa do calendário litúrgico cristão, celebra a Ressurreição de Jesus, a base principal da fé cristã. Neste tempo, os fiéis são convidados a fazerem um confronto especial entre suas vidas e a mensagem cristã expressa nos Evangelhos. Esse confronto deve levar o cristão a aprofundar sua compreensão da Palavra de Deus e a intensificar a prática dos princípios essenciais de sua fé.

Por volta do ano 350, a Igreja decidiu aumentar o tempo de preparação para a Páscoa, que era de três dias, que permaneceram como o Tríduo Sagrado da Semana Santa: Quinta feira Santa, Sexta-feira Santa (Paixão) e Sábado Santo. A preparação para a Páscoa passou, então, a ter 40 dias. Embora na quinta-feira santa, Sexta-Feira Santa e sábado santo são os três dias de muita espiritualidade, com o Cristo morto e, depois, vivo diante de nós. Não podemos faltar em nenhum destes dias em nossa celebração na comunidade.

O principal do tempo da Quaresma é a “conversão”. Sempre atual. Tempo de escuta da Palavra de Deus, de preparação e de memória do Batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recurso mais frequente à oração, o jejum e a esmola. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, “a oração, o jejum e a esmola… expressam a conversão em relação a si mesmo, a Deus e aos outros” (CIC 1434). Foi o próprio Jesus quem falou deles, qual sentimento básico para quem quer viver a fé na sua concretude, do dia a dia. Jesus fala da oração, do jejum e da caridade e do modo como devemos fazer e o que evitar (cf. Mt 6, 1-6.16-18). A Campanha da Fraternidade, com sua longa história, vem nos ajudar nisso. A nossa conversão deve ter um olhar mais radical, mais social, mais visível. Neste ano nos convida a refletir sobre a fome e a fraternidade.

Todos os cristãos batizados devem estar neste tempo nas celebrações. Especialmente este ano A, quando os evangelhos são escolhidos para nos conduzir (embora possam também ser tomados nos outros anos), devemos nos colocar no caminho de quem olha para Jerusalém e vê lá a nossa fé que se configura e molda. É para lá, para Jerusalém, que caminhamos como católicos.

O Papa: oremos por aqueles que arriscam suas vidas pelo Evangelho

Tantos oferecem suas vidas pelo Evangelho | Vatican News

É uma das intenções confiadas à rede mundial de oração. O Papa convida todos a rezar para que as testemunhas cristãs contagiem a Igreja com sua coragem.

Vatican News

O Papa Francisco disse isto muitas vezes: "Há mais mártires hoje do que nos primeiros tempos da Igreja. Tantos de nossos irmãos e irmãs que oferecem seu testemunho a Jesus e são perseguidos".

Foram publicadas este sábado, 11 de fevereiro, as intenções de oração do Papa confiadas à sua rede mundial de oração para o próximo ano. Uma intenção é dedicada precisamente aos mártires cristãos: "Oremos para que aqueles em várias partes do mundo que arriscam suas vidas pelo Evangelho contagiem a Igreja com sua coragem e impulso missionário".

O Papa convidou reiteradas vezes a pensar nos muitos cristãos que estavam detidos nas prisões dos nazistas e comunistas, "só porque eram cristãos", mas isto é o que acontece "ainda hoje". Há perseguição, afirma Francisco, "porque o mundo não tolera a divindade de Cristo, não tolera a proclamação do Evangelho". A resposta cristã ao mal é o amor. Francisco reiterou isto em fevereiro de 2020 em Bari, sul da Itália, por ocasião do encontro sobre o "Mediterrâneo fronteira da paz":

"Amai vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem. Esta é a novidade cristã. É a diferença cristã. Orar e amar: isto é o que devemos fazer; e não somente para aqueles que nos querem bem, não somente para nossos amigos, não somente para nosso povo. Porque o amor de Jesus não conhece fronteiras ou barreiras. O Senhor nos pede a coragem de um amor sem cálculos. Pois a medida de Jesus é amor sem medida. Quantas vezes negligenciamos seus pedidos, comportando-nos como todos os outros! No entanto, o mandamento do amor não é uma mera provocação, está no coração do Evangelho. No amor por todos, não aceitemos desculpas, não preguemos prudências cômodas. O Senhor não foi prudente, não compactuou, pediu-nos o extremismo da caridade. É o único extremismo cristão lícito: o extremismo do amor".

Nas intenções há também uma oração pelos líderes políticos, para que "eles possam estar a serviço de seu povo, trabalhando pelo desenvolvimento humano integral e pelo bem comum", dando prioridade especial aos mais pobres. O poder não é opressão ou exploração, afirma Francisco: o poder é serviço.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Eu pertenço ao amor

Renata Sedmakova | Shutterstock
Por Irmã Maris Stella, SV

Ao reconhecer a nossa absoluta necessidade de Deus como Salvador, somos libertados da autoconfiança arrogante.

“Pessoalmente, estou em perfeita calma, enfrentando com firmeza o que está por vir. Quando alguém realmente alcançou a entrega completa à vontade de Deus, há um maravilhoso sentimento de paz e uma sensação de segurança absoluta. Estou de bom humor e cheio de grande expectativa”.

Você pode imaginar essas palavras sendo ditas por alguém num lugar de plena serenidade – talvez no final de um retiro profundamente transformador.

No entanto, elas foram escritas por um homem trancafiado injustamente numa cela, pouco antes de ser executado pelos nazistas.

Ele havia perdido tudo: família, amigos, reputação, status e a própria vida. No entanto, dos abismos desta experiência de miséria, ele descobriu que, na verdade, possuía tudo o que era essencial. Estava completamente convencido do amor absoluto e incondicional de Deus, enquanto se aproximava o que ele próprio chamou de melhor momento da sua vida.

Pouco antes de ser executado, ele disse:

“Eu me alegro… porque tudo o que até agora fiz, lutei e conquistei foi dirigido, no fundo, a este único objetivo cuja barreira transporei hoje. ‘As coisas que o olho não viu e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam’ (cf. 1 Coríntios 2,9)”.

Este homem experimentou a profunda paz e alegria que vêm da confiança total em Deus e da vivência da verdade de que, quanto mais pobres nos tornamos, mais podemos experimentar o Seu amor.

Em última análise, a vida não consiste no que adquirimos ou possuímos, mas n’Aquele a quem pertencemos. A vida é deixar-se amar e pertencer ao próprio Amor: Jesus Cristo.

Ao reconhecer a nossa absoluta necessidade de Deus, de um Salvador, somos libertados da autoconfiança arrogante. Esta é a pobreza de espírito que Jesus chama de “bem-aventurada”. Jesus nos convida a entrar no seu próprio espírito de pobreza quando diz: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração (Mt 11,29)”.

Essa postura do coração nos permite lidar mais livremente com tudo nesta vida e nos apegar somente ao que é eterno.

Se rejeitamos a nossa necessidade de Deus, se fugimos do reconhecimento doloroso de viver num mundo caído ou se nos distraímos com vaidades, sucessos e posses, então nos privamos de ser amparados por Jesus em nossa fraqueza.

Como repetia com frequência o cardeal O’Connor, “tudo o que você possui, possui você”.

Podemos imaginar que experimentamos melhor o amor de Deus em nossas forças e talentos. Entretanto, o Seu amor é mais seguro e profundo em nosso vazio, quebrantamento e fraqueza. É ali que a Sua misericórdia transborda e o Seu poder e amor se mostram perfeitos.

Se nos deixamos amar por Deus, percebemos que fomos criados e que tudo o que temos nos foi dado. Deixando-nos pertencer a Ele, encontramos o amor e a plenitude para os quais os nossos corações foram feitos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Qual é a sua atitude diante do sofrimento alheio?

Sensibilidade ao sofrimento humano | amenteemaravilhosa

QUAL É A SUA ATITUDE DIANTE DO SOFRIMENTO ALHEIO?

Dom Antonio de Assis Ribeiro
Bispo auxiliar de Belém (PA)

A pandemia da COVID-19 ainda permanece entre nós promovendo centenas de milhares de mortes no Brasil e milhões no mundo; enquanto isso, novos dramas se abatem sobre a humanidade como a guerra na Ucrânia, conflitos sanguinários no Oriente médio, atentados terroristas, terremoto na Turquia e na Síria. No Brasil nos envergonharam o ataque violento ao patrimônio material dos três poderes em Brasília, sinal de radical negação do sentimento patriótico e de cidadania; e nos últimos dias veio à tona o drama vivido pelos índios Yanomami. Outra realidade de grave sofrimento que abalou a humanidade, pois informações e imagens dessa tragédia humanitária chegaram em todos os continentes.   

Tudo somado, temos um cenário mundial de sofrimento em todas as dimensões causando medo, gritos de dor, pavor, lamento, desespero e a morte de milhões de pessoas! De onde vem tudo isso? De um lado, temos o mistério da manifestação da “fúria” da natureza contra a humanidade (o coronavírus, os terremotos) e, do outro lado, a maldade do homem contra seus próprios irmãos. Certo é que entre violentados, mortos e feridos, estão culpados e inocentes. Também os violentos são vítimas fatais da própria irracionalidade.    

Toda essa realidade que, continuamente a humanidade está vivendo, deve nos chamar a atenção para a nossa postura diante dela. Uma pergunta de fundamental importância é esta: “O que sinto e qual é a minha atitude diante do sofrimento alheio?” Não importa onde esteja o epicentro da desgraça e do sofrimento, quem está na condição de sanidade mental recebe sempre um íntimo impacto com o gemido do outro e o sangue derramado.   

O filósofo judeu Emanuel Levinás (1906-1995) profundamente humanista, em uma de suas obras nos alerta dizendo que a morte do outro não nos deixa na indiferença; isso é um chamado à primazia da ética, da nossa natural responsabilidade pelo outro. Com a morte de cada ser humano, desaparece um universo mental, afetivo, social, espiritual…   

Por causa da significatividade deles, o sofrimento e a morte devem ser sempre objeto de reflexão da nossa parte porque são realidades enigmáticas que nos envolvem por inteiro, em todas as fases da vida, e sujeitos de todas as condições socioculturais, econômicas e religiosas. Ninguém escapa do sofrimento e nem da dor, por isso, afirmou o famoso escritor irlandês Clive Staples Lewis (1898-1963): “O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo ensurdecido”. Num mundo marcado pela indiferença o sofrimento nos choca, nos chama à atenção e nos provoca a sair do nosso egoísmo e da hibernação insensível.  

Afinal qual é a sua atitude diante do sofrimento alheio? Recordemos uma frase de Jó, personagem da Bíblia; estando doente, prostrado, sofrendo, lhe aparecem três amigos que, em vez de consolá-lo, o acusam buscando justificar seu sofrimento. Jó, indignado, responde-lhes: “Piedade, piedade de mim, meus amigos, pois a mão de Deus me feriu! Por que me perseguis como Deus, e não vos cansais de me torturar?” (Jó 19,21-22).  

O sofrimento é um grito divino nos convocando para a piedade, compaixão, cuidado, solidariedade, caridade, proteção, ternura! O sofrimento nos chama à atenção para a nossa condição de criaturas, marcada pela pequenez, fragilidade, vulnerabilidade, dependência, insuficiência, debilidade! E o que evitar? Evitar a indiferença, a dureza, a crueldade, a revolta, a perda da fé, o esvaziamento da esperança, o charlatanismo proselitista que explora o sofredor! Sempre nos fará bem orar, consolar, estimular a esperança, dar força, ser presença solidária, fazer silêncio, meditar, manter a firmeza de ânimo! Onde há sofrimento, temos a oportunidade do exercício da nossa bondade.

Agência católica lança campanha para combater a fome na Quaresma 2023

Família centro-americana recebendo a doação da CRS / CRS
Por Diego López Marina / ACI Prensa

WASHINGTON DC, 10 Fev. 23 / 12:03 pm (ACI).- A Catholic Relief Services (CRS), agência de ajuda humanitária da conferência dos bispos dos EUA, convidou os católicos a rezar, jejuar e doar através de seu programa anual de Quaresma “Prato de Arroz” para combater a fome no mundo.

Prato de Arroz da CRS é uma ótima maneira para que os católicos americanos mostrem aos nossos irmãos e irmãs nessas situações difíceis que eles não estão sozinhos e que continuaremos sendo solidários com eles”, diz em um comunicado a diretora de Formação e Mobilização da CRS, Beth Martin.

A campanha Prato de Arroz 2023 começará em 22 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, e vai ajudar mais de 190 milhões de pessoas em mais de 100 países.

Segundo Martin, “o ano passado foi difícil para muitas famílias em todo o mundo devido a múltiplos fatores”, incluindo guerras, desastres naturais e inflação generalizada.

Neste contexto, recordou que “como católicos, somos chamados a servir os necessitados”.

“Somos chamados a ser o bom samaritano e doar generosamente. Dar esmola através do Prato de Arroz CRS é uma forma de responder ao chamado de Deus e ajudar os outros, tanto os que estão no exterior quanto os que estão ao nosso redor”, disse.

Enquanto as doações de Prato de Arroz CRS vão principalmente para os programas da CRS dedicados a acabar com a fome e a pobreza em todo o mundo, 25% dos fundos permanecem na diocese onde são arrecadados.

“Ao fazer um pequeno sacrifício durante a Quaresma, os católicos e outros de boa vontade podem fazer parte de um movimento maior para combater a fome não apenas globalmente, mas também aqui nos EUA”, disse Martin.

Prato de Arroz CRS pode nos unir e, quando nos unimos para combater um problema, podemos alcançar objetivos ambiciosos e de longo alcance, como acabar com a fome no mundo”, concluiu.

Para fazer doações para o Prato de Arroz CRS, pode acessar Doe para Prato de Arroz de CRS | Catholic Relief Services.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF