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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

A Campanha da Fraternidade e a Fome

Catadores de lixos (AFP or licensors)

"A Campanha da Fraternidade objetiva ações para que a problemática da fome seja amenizada e todos tenham vida digna como o Senhor pede de todos os seus discípulos e as suas discípulas. Muitas ações estão sendo realizadas nas comunidades, paróquias, dioceses, organizações não governamentais, pessoas de boa vontade, entidades, governos. A caridade está sendo feita por muitas pessoas, mas é preciso realizar sempre mais."

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Nós estamos próximos ao tempo litúrgico da Quaresma, oportunidade propícia de conversão pessoal, comunitária e social. Ela nos aponta para a Páscoa, o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Este tempo também será de Campanha da Fraternidade 2023, que a CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, há mais de sessenta anos, coloca um tema para ser aprofundado, assumido nas comunidades, paróquias, dioceses e por todas as pessoas de boa vontade. Este ano terá como tema a Fraternidade e Fome e o Lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Será um tema muito importante para que as pessoas abracem a causa da fome para amenizá-la em milhares de pessoas no Brasil e no mundo.

A fome é uma palavra latina fames cujo significado é sensação do corpo estimulado pela necessidade do alimento, isto é a falta de alimento[1]. A fraternidade vem de fraternitas-atis cujo significado é afeto, acordo entre as pessoas, amor[2]. O Senhor pede a todos nós ações para que façamos o bem, e vivamos o compromisso de ajudar muitas pessoas que passam fome em nossa realidade.

A oração da Campanha da Fraternidade[3]

É muito importante compreender o sentido da oração que a CNBB propõe a todas as pessoas para ser rezada, meditada e vivida na quaresma como campanha da fraternidade nos diversos âmbitos da vida eclesial. É uma oração trinitária. Ela volta-se ao Pai, pois diante da multidão faminta Jesus se encheu de compaixão realizando o milagre da multiplicação dos pães, pela benção, partilha dos cinco pães, dois peixes, e o seu ensinamento é para que todos os seus discípulos e discípulas dêem de comer às pessoas necessitadas. A oração tem presente o Espírito Santo na qual as pessoas pedem a inspiração em vista do sonho por um mundo novo, fundamentado no diálogo, na justiça, na igualdade para que assim com a sua ajuda haja a promoção por uma sociedade mais solidária, sem fome, violência, guerra, na busca sempre por uma vida digna. A pessoa volta-se também para Maria para que interceda pelo povo para que todos acolham a Jesus Cristo em cada pessoa, e de uma forma especial nas abandonadas e famintas.

Os objetivos da Campanha da Fraternidade[4]

Ela busca a sensibilização da sociedade e da Igreja para que o flagelo da fome seja enfrentado, fator presente numa multidão de pessoas humanas, havendo o compromisso que transforme a realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo. A campanha da fraternidade realça como objetivos específicos a compreensão da realidade da fome à luz da fé em Jesus Cristo, visando o aprofundamento das causas da fome, fazendo a acolhida pelo imperativo da Palavra de Deus em vista da corresponsabilidade fraterna pelo reconhecimento de muitas iniciativas comunitárias e sociais em favor da superação da fome.

 A superação da fome

 Na Quaresma, a Campanha da Fraternidade 2023 e a Igreja não ficam em definições sobre a problemática da fome, mas ela estimula a todos para que busquem ações concretas e com políticas públicas para a superação da fome no Brasil. A realidade da fome atinge a milhões de brasileiros, porque estão na insegurança alimentar pelo fato de que se as pessoas têm uma refeição por dia, quando a tiverem, no entanto não sabem se o dia seguinte terá outra. O Brasil entrou novamente no elenco dos países onde a fome atinge a milhares de pessoas. São necessárias ações em favor das mais necessitadas.

A fome não é ocasional

O texto-base diz que a problemática da fome não é ocasional, mas é estrutural, porque ela é dada por mais tempo, visando à manutenção da miséria[5]. A estrutura vem de structura, de construir, é um complexo de elementos para serem analisados e aprofundados[6]. Uma das mais importantes causas da fome no Brasil faz referência à concentração de terras, ocasionando uma distribuição excludente e causadora de desigualdades socioeconômicas de modo que é fundamental uma justa redistribuição da terra[7]. A fome exige um enfrentamento por parte de toda a sociedade, seja de suas autoridades como também da classe política, religiosa, pessoas de boa vontade porque milhares de pessoas passam fome.

Não é a falta de alimentos

O Brasil é um grande exportador de produtos alimentícios de modo que a fome não se justifica pela falta de alimentos. O fato é que o País tem uma grande produção de grãos, mas para gerar o lucro para grandes empresas, interesses econômicos, exportando grandes quantidades de alimentos, mas na realidade interna não tem o suficiente para as pessoas viverem com dignidade de vida. No País não se produz para comer, mas produz-se para lucrar e exportar[8]. Está faltando uma maior atenção para a realidade interna para os alimentos nas quais as pessoas passam por dificuldade em sua subsistência.

 As palavras do Sumo Pontífice

O texto-base tem presentes duas expressões do Papa Francisco, muito importantes em relação à fome. Em primeiro lugar ele diz que não há democracia se existe fome[9]. A democracia é uma palavra grega demokratia, cujo significado é a forma de governo no qual o poder reside no povo, que exercita a sua soberania através dos instituídos políticos diversos pelo voto do povo[10]. O Papa afirmou a inexistência de democracia pela existência da fome, porque muitas pessoas passam necessidade na comida enquanto outras tem em abundância. A democracia, forma de governo do povo, é dada pela vida de todos. Outra expressão do Papa Francisco realça que a fome para a humanidade não é só uma tragédia, mas é uma vergonha[11]. A palavra vergonha vem do latim vericundia, cujo significado é retenção, ou mesmo medo de reprovação dos outros por um julgamento desfavorável, desonra, não tem pudor [12] . O mundo é chamado a ter consciência da fome para que os empenhos das autoridades, governantes sejam por esforços para amenizar a vergonha do mundo, que é a fome na expressão do Papa Francisco.

 A ordem de Jesus

O tema coloca como ponto iluminador: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16)[13]. Não é simplesmente um convite de Jesus, mas é uma ordem. O fato era que estava no entardecer, os discípulos pediram a Jesus para despedir a multidão para que esta fosse aos mercados tomar comida. Mas Jesus não quis que a multidão faminta fosse para casa, mas deu a ordem para que eles dessem de comer. Eles disseram que tinham cinco pães e dois peixes de modo que ele tomou os pães, os peixes, ergueu os olhos aos céus, os abençoou, partiu os pães e os deu aos discípulos e os discípulos à multidão. Esta ficou saciada e recolheram doze cestos cheios dos pedaços avançados. Foi uma ordem que exigiu a obediência dos discípulos. Ele deu a vida por aquelas pessoas.

A responsabilidade mútua, social

Jesus multiplicou os pães por ser o Messias, o enviado do Pai, mas também ele pediu aos discípulos se empenharem com os outros, com aquela multidão, que o texto fala de responsabilidade mútua, social[14]. Assim como Jesus fez o milagre diante da problemática da fome, o fiel é chamado a ter compaixão e também ação[15]. É preciso agir para o bem de todos. A problemática da fome exige ações concretas pelos discípulos, missionários, discípulas, missionárias de Jesus Cristo, da comunidade eclesial, das autoridades, pessoas de boa vontade. Não é possível permanecer indiferente ou omisso diante de alguém que passa fome. Para isso é preciso não somente dar o peixe, uma forma popular de dizer as coisas, mas também ensiná-lo a pescar. É preciso se engajar por realizações de políticas públicas para o bem de nossos irmãos e irmãs.

Ações em favor da vida

A Campanha da Fraternidade objetiva ações para que a problemática da fome seja amenizada e todos tenham vida digna como o Senhor pede de todos os seus discípulos e as suas discípulas. Muitas ações estão sendo realizadas nas comunidades, paróquias, dioceses, organizações não governamentais, pessoas de boa vontade, entidades, governos. A caridade está sendo feita por muitas pessoas, mas é preciso realizar sempre mais. Entre outras ações destacam-se a geração de rendas para as pessoas carentes, estimular a agricultura familiar, fazer um formulário para as famílias necessitadas em vista da ajuda e acompanhamento, estimular a criação da pastoral da solidariedade, estimular os jovens para o mercado de trabalho, sensibilizar a comunidade escolar para a realidade da fome, garantir alimentação saudável às comunidades e que tenha renda, estimular a geração de empregos, aprofundar o tema da Campanha da Fraternidade nas paróquias, nas comunidades e também junto às Câmeras de Vereadores, o poder público municipal, estimular as hortas comunitárias e hortas em elevação. É importante a realização de ações concretas porque seguindo os passos de Jesus é preciso ter compaixão e ação, uma vez que ele fez essas coisas diante da multidão faminta. Por isso ele nos convida à responsabilidade mútua, social de modo que todos são responsáveis pela vida do próximo. O Senhor dirá um dia que ele estava com fome e nós damos de comer, estava com sede e nós damos de beber, de modo que tudo foi feito para ele, o Senhor Jesus Cristo (Mt 25, 34-40). Nós somos chamados a assumir a CF 2023 e a vivência da Quaresma em vista da Páscoa do Senhor Jesus Cristo e de sua Igreja.

[1] Cfr. Fame. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 570.
[2] Cfr. Frataternità. In: Idem, pg. 623.
[3] Cfr. CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil / Campanha da Fraternidade 2023. Texto-Base. Brasília: Edições CNBB, 2022, pg. 10.
[4] Cfr. Idem, pg. 09.
[5] Cfr. Idem, pg. 24.
[6]Cfr. Struttura, In: Idem, pg. 1713.
[7] Cfr. CNBB. Texto-base, pgs. 30-31.
[8] Cfr. Idem, pg. 32.
[9] Cfr. Francisco. Mensagem ao diretório do Comitê Pan-Americano de Juízes pelos Direitos Socais e a Doutrina Franciscana, 2 de outubro de 2021. In: Texto-base, idem, pg. 06.
[10] Cfr. Democrazia. In: Il vocabolario, Idem, pg. 435.
[11] Cfr. Francisco. Mensagem para os 75 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), 16 de outubro de 2020. In: CNBB, Texto-base, pg.14.
[12] Cfr. Vergógna. In: Il vocabolarioIdem, pg. 1885.
[13] Cfr. CNBB, Texto-base, pgs. 18-23.
[14] Cfr. Idem, pg. 67.
[15] Cfr. Idem, pg. 68.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2023

Cardeal Scherer: Fome outra vez

Cardeal Odilo Pedro Scherer - arcebispo metropolitano de São
Paulo | Vatican News

A ONU reconhece que a alimentação adequada é um direito humano fundamental, a ser assegurado a todas as pessoas, uma vez que é indispensável à sobrevivência. No Brasil, esse direito também foi posto na Constituição e está garantido pela Emenda Constitucional n.º 64, de 4 de fevereiro de 2010.

Cardeal Odilo Pedro Scherer - arcebispo metropolitano de São Paulo 

Estudos sobre a segurança alimentar no Brasil dão conta de que, em 2022, cerca de 58% dos brasileiros enfrentavam alguma situação de insegurança alimentar e nutricional, o que significa alimento insuficiente e de baixa qualidade. Destes, 15,5% conviviam com a fome, o que corresponde a cerca de 33 milhões de pessoas. O problema é mais acentuado em 18,6% de domicílios rurais, que convivem diariamente com a fome. Quase a metade dessa população com fome vive nas Regiões Norte e Nordeste do Brasil.

A fome está diretamente relacionada com a questão do trabalho e do nível da renda. Como pode assegurar uma alimentação minimamente adequada a família ou o domicílio com renda inferior a um quarto de salário mínimo por pessoa? Os diversos benefícios sociais apenas conseguem mitigar essa situação, sem, contudo, resolvê-la. A pandemia de covid-19 agravou ainda mais este quadro preocupante. Mas, depois dela, a fome persiste e até se agravou. Mesmo se a fome não consta oficialmente como causa mortis de tantas pessoas, aquelas que dela padecem podem sofrer consequências graves, como a subnutrição crônica, danos ao desenvolvimento físico e intelectual e a fragilização da saúde, que marcam o resto de sua vida.

O problema não é somente brasileiro, mas mundial. Em alguns países da África e da Ásia, está relacionado com a baixa produção de alimentos, a desertificação, guerras e a grande concentração populacional. Mas não precisaria haver fome em nenhuma parte da Terra, que tem capacidade de produzir alimentos em quantidade abundante para nutrir toda a população mundial. Por quais motivos, então, existe o flagelo da fome? Em 2014, o papa Francisco lamentou, diante da 2.ª Conferência Internacional sobre Nutrição: “É doloroso constatar que a luta contra a fome e a subnutrição seja dificultada pelas prioridades do mercado e a primazia do lucro, que reduziram os alimentos a uma mercadoria qualquer, sujeita a especulações, até financeiras”.

A ONU reconhece que a alimentação adequada é um direito humano fundamental, a ser assegurado a todas as pessoas, uma vez que é indispensável à sobrevivência. No Brasil, esse direito também foi posto na Constituição e está garantido pela Emenda Constitucional n.º 64, de 4 de fevereiro de 2010. O problema está na efetivação desse direito humano fundamental. Nosso país voltou a figurar no mapa da fome, e isso não deveria deixar ninguém indiferente. Estamos muito longe de alcançar a meta da eliminação da fome no mundo até 2030, um dos objetivos do milênio.

Neste ano, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu novamente o tema da fome para a Campanha da Fraternidade. É pela terceira vez que o faz nos 60 anos da campanha: 1975, 1985 e 2023. A fome de nossos semelhantes interpela nossa consciência e a qualidade de nossas relações sociais e fraternas. Na comemoração dos 75 anos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o papa Francisco observou em seu discurso: “Para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha” (16 de outubro de 2020).

O lema escolhido para a campanha – “dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) – traz as palavras de Jesus aos apóstolos no final de uma jornada. Ele está cercado de muita gente cansada e faminta e os apóstolos pedem que ele despeça a multidão, para que as pessoas vão para casa e se alimentem. Mas Jesus surpreende os discípulos com esta ordem: “Não precisam ir. Dai-lhes vós mesmos de comer”. Alguém, então, lhe apresenta cinco pães e dois peixes, mas o que seria isso para tanta gente? Jesus manda distribuir o pão e o peixe à multidão. Todos se fartam e, no fim, sobra muito mais do que havia no início (cf Mt 14,13-21).

Milagres assim acabariam logo com a fome no mundo! Mas, para fazê-los, só mesmo Jesus. Com seu exemplo, no entanto, ele nos deixou preciosas indicações, capazes de ajudar a resolver o problema. Antes de tudo, não ficou indiferente diante da fome do povo nem o despediu para que se arranjasse sozinho, mas assumiu como próprios a preocupação e o sofrimento da multidão faminta. A indiferença diante do sofrimento alheio mata, antes mesmo que a fome. Ensinou, também, que a urgência da fome se resolve mediante a partilha. Sozinhos, não conseguiremos. E a partilha precisa ser promovida mediante políticas públicas e iniciativas generosas de cada cidadão, para proporcionar trabalho, geração de renda, produção de alimentos, acesso a eles e o socorro a quem padece de fome.

No final da narração da multiplicação dos pães e dos peixes, há um detalhe que poderia passar despercebido, mas é importante para o nosso tema: quando todos ficaram saciados, Jesus mandou recolher os restos que sobraram, para que nada se perdesse. E foram recolhidos bem 12 cestos cheios do precioso alimento (cf Mt 14,20). Com a eliminação do desperdício de alimentos, daria para saciar quase todos os que passam fome no Brasil. Quase uma terça parte do alimento produzido é desperdiçada. Que fazer para diminuir esse desperdício e, assim, também a multidão faminta?

Publicado originalmente no jornal O ESTADO DE S. PAULO em 11 de fevereiro de 2023 

Fonte: Arquidiocese de São Paulo

Viúvo de 70 anos é ordenado padre no México

Dom Víctor Sánchez e padre Carlo dei Lazzaretti /
Arquidiocese de Puebla

PUEBLA, 13 Fev. 23 / 02:25 pm (ACI).- Na sexta-feira (10) o arcebispo de Puebla, México, dom Víctor Sánchez Espinosa, celebrou a ordenação sacerdotal de um italiano membro do Caminho Neocatecumenal, pai de três filhos e avô de cinco netos.

Pouco antes da ordenação, o agora padre Carlo Dei Lazzaretti comentou que recebeu este “chamado, respondi sim, fui enviado ao México e estou aqui para fazer a vontade de Deus nesta terra tão bela e encantadora, que também seduziu meus filhos”.

Na homilia na missa de ordenação, dom Sánchez contou que “este nosso irmão Carlo fez todo um caminho pelo qual o Senhor o conduziu: a vida familiar, o caminho dos itinerantes, a iniciação cristã, o caminho vocacional, e hoje chega ao sacerdócio”.

“É um estilo de vida que ele mesmo escolhe, ninguém lhe impõe. Ninguém o obriga ou pressiona. Ele refletiu sobre isso diante de Deus, diante do sacrário, diante do Santíssimo Sacramento e decidiu viver este estilo de vida”, disse o arcebispo de Puebla.

“O próprio Cristo está presente na pessoa do sacerdote ordenado, apesar da nossa indignidade. É um dom, um dom que o Senhor nos dá”, disse Sánchez.

Na ordenação, os três filhos do novo padre vestiram as vestes litúrgicas do pai, que agora é vigário da paróquia da Sagrada Família, no município de Tres Cruces.

O padre Carlo dei Lazzaretti | ACI Digital
O padre Carlo dei Lazzaretti | ACI Digital

O padre Carlo dei Lazzaretti nasceu em Lecce, Itália, em 1953. Ali ingressou no Caminho Neocatecumenal.

Após a morte inesperada de sua esposa, ele viveu um longo período de rebelião contra Deus. Foi só aos 61 anos que começou a questionar a possibilidade de se tornar padre.

Depois de dois anos em um centro vocacional, participou de uma convivência. Em seguida, foi enviado ao seminário Redemptoris Mater de Puebla.

Após seis anos de estudos, foi ordenado diácono em 22 de agosto de 2022 e agora foi ordenado padre.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A oração é frutífera: ela nos coloca em contato com a realidade do jeito que ela é

sun ok | Shutterstock
Por Peter Cameron

A oração é um baluarte contra o assalto das aflições, é a supressão e a extinção da guerra, é a ação eterna…

Às vezes nos perguntamos por que a nossa vida nunca muda… por que continuamos a lutar cronicamente contra os mesmos velhos pecados… por que não aparece no horizonte nenhum vislumbre de crescimento ou aperfeiçoamento pessoal… Todos esses resultados desejáveis são fruto da oração.

Recorde o episódio evangélico em que Jesus expulsa um espírito imundo (Mc 9,28-29). Os discípulos frustrados perguntam a ele: “Por que nós não conseguimos expulsá-lo?”. Jesus responde: “Esse tipo só pode ser expulso por meio da oração”.

A oração nos coloca em contato com a realidade do jeito que ela é.

A oração reverte a esterilidade. “Nosso ser não é construído de fora, como um modelo de barro”, escreveu o padre dominicano Antonin Sertillanges. “Ele se desenvolve de dentro, como uma árvore que cresce e floresce nutrida pela seiva. Em nós, a seiva é o Espírito de Cristo. A oração estimula essa nutrição”.

São João Clímaco (+649) fala do fundo da alma quando nos diz:

A oração é a conservação do mundo, a nossa reconciliação com Deus, a mãe das lágrimas, a expiação dos pecados, a ponte sobre o fluxo das tentações, o baluarte contra o assalto das aflições, a supressão e a extinção da guerra, ação eterna, fonte das virtudes, procura da graça divina, progresso espiritual, alimento da alma, iluminação da mente, libertação do desespero, manifestação de esperança, consolo na tristeza, apaziguamento da ira, espelho do progresso religioso, índice da nossa estatura, declaração da nossa condição, sinal das coisas que hão de vir, indicação da glória futura.

São Tomás de Aquino, referência como teólogo, professor e homem da Igreja, foi, acima de tudo, um homem de oração. A fecundidade que ele almejava na vida lhe veio da graça. Ele orou:

Concedei-me, ó Senhor Deus, um coração vigilante, para que nenhuma especulação sutil jamais me afaste de Vós; nobreza, para que nenhuma afeição indigna possa afastar-me de Vós; retidão, para que nenhum propósito maligno possa afastar-me de Vós. Concedei-me tal firmeza que tribulação alguma possa romper; concedei-me tal liberdade que nenhum afeto violento possa derrubar. Dai-me, ó Senhor, meu Deus, uma mente para conhecer-Vos, diligência para ver-Vos, sabedoria para encontrar-Vos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Portugal, Proteção de Menores: Comissão Independente entrega relatório à CEP sobre abusos na Igreja

Entrega do Relatório - Foto CEP | Vatican News

Estudo, realizado a pedido da CEP, abrange últimos 70 anos e foi apresentado nesta segunda-feira.

Ecclesia – Lisboa

A Presidência da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) recebeu nesta segunda-feira (13/02) o relatório da Comissão Independente (CI) para o Estudo de Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica, elaborado a partir de testemunhos sobre casos ocorridos nos últimos 70 anos.

“Recebemos com profunda emoção e agradecimento o vosso relatório”, disse o presidente da CEP, D. José Ornelas, ao receber o documento, em formato digital, de Pedro Strecht, coordenador da CI.

A entrega decorreu numa sessão realizada na sede da Conferência Episcopal Portuguesa, com a presença da Presidência da CEP e dos membros da Comissão Independente.

D. José Ornelas, bispo de Leiria-Fátima, disse que o relatório vai ser lido “com toda a atenção” para “fazer jus aos dramas que foram revelados” e à “seriedade” do trabalho desenvolvido pelos membros da CI e pelos investigadores que consultaram os arquivos históricos.

“Este trabalho em comum, com a independência de papéis e de competência num caminho comum ficará certamente ligado à história de todos nós, como património para continuar o caminho iniciado”, afirmou o presidente da CEP.

O responsável católico valorizou o trabalho “focalizado naqueles que são mais frágeis” e “a necessidade de unir esforços diferenciados para obter bons resultados, na capacidade de ultrapassar preconceitos e dificuldades”, em ordem a “uma Igreja e uma sociedade mais justas e capaz de oferecer a todos o direito a que têm de dignidade, de defesa da sua integridade”.

O bispo de Leiria-Fátima referiu-se ainda à Assembleia Extraordinária da CEP marcada para o início de março, para “assumir” os dados do relatório hoje entregue e “refletir sobre o seu significado”.

Estes trabalhos, acrescentou, vão ajudar a “decidir o melhor seguimento para fazer justiça” ao trabalho da CI e “sobretudo, ao sofrimento das vítimas que foram o primeiro eixo motor de todo este processo.

“Isso é o que como CEP entendemos como a missão que recebemos de Deus na sua Igreja e para o qual dais, com este relatório, um grande contributo”, afirmou D. José Ornelas.

O responsável sublinhou a “unanimidade a CEP” em confiar o estudo de casos de abuso na Igreja a uma Comissão Independente, para conhecer para “estudar a fenomenologia desta realidade” que preocupa “profundamente pela dor de quem sofreu” e pela “contradição que significa” em relação à “missão como igreja”.

Pedro Strecht, presidente da CI, agradeceu à CEP a “confiança” que foi depositada na comissão e a disponibilização dos “meios para que o trabalho fosse executado e prosseguisse sempre em total isenção e independência”.

“Todos esperamos que este trabalho dê frutos e possa constituir uma nova etapa dentro daquilo que mais desejamos que é o bem-estar as crianças e o conhecimento da própria Igreja daquilo que aconteceu de errado no passado e a perspectiva positiva da construção de um novo futuro”, afirmou o pedopsiquiatra, agradecendo também a todos os membros da Comissão Independente e ao grupo de investigação histórica.

A Conferência Episcopal Portuguesa decidiu criar, na Assembleia Plenária de novembro de 2021, uma comissão para estudar os casos de abuso sexual na Igreja Católica.

A CI foi apresentada publicamente no dia 10 de janeiro de 2022 e revelou, dez meses depois, ter validado até então 424 testemunhos, apontando para um “número significativo” de abusadores entre 1950 e 2022.

Esta segunda-feira, a Comissão Independente apresenta publicamente o relatório final sobre os casos de abuso sexual na Igreja Católica entre 1950 e 2022, entre 09h30 às 12h30, no Auditório 2 da Fundação Calouste Gulbenkian.

No mesmo dia, partir das 16h00, o presidente e os membros do Conselho Permanente da CEP encontram-se com os jornalistas numa conferência de imprensa a realizar na Universidade Católica Portuguesa, no piso 1 do edifício da biblioteca da instituição académica, em Lisboa.

https://youtu.be/2f7_m7yYAow

Fonte: Ecclesia

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (1/16)

O cristianismo e as religiões | Politize!

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

NOTA PRELIMINAR

O estudo do tema O cristianismo e as religiões foi proposto pela grande maioria dos membros da Comissão Teológica Internacional. Para a preparação deste estudo, constituiu-se uma subcomissão composta de S. Exa. D. Norberto Strotmann, MSC, e dos Revmos. Pes. Barthélemy Adoukonou; Jean Corbon; Mário de França Miranda, SJ; Ivan Golub; Tadahiko Iwashima, SJ; Luís F. Ladaria, SJ (presidente); Hermann J. Pottmeyer e Andrzej Szostek, MIC. As discussões gerais sobre o tema desenvolveram-se em numerosos encontros da subcomissão e durante as sessões plenárias da própria Comissão Teológica Internacional, realizadas em Roma em 1993, 1994 e 1995. O presente texto foi aprovado em forma específica, com o voto da Comissão, no dia 30 de setembro de 1996 e submetido a seu presidente, o cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que aprovou a publicação.


INTRODUÇÃO

1. A questão das relações entre as religiões adquire cada dia maior importância, o que se deve a vários fatores. Antes de tudo, tem-se a crescente interdependência entre as diversas partes do mundo, que se manifesta em diversos planos: um número sempre maior de pessoas na maioria dos países tem acesso à informação; as migrações estão longe de ser lembrança do passado; a tecnologia e a indústria modernas provocaram intercâmbios até agora desconhecidos entre muitos países. É claro que esses fatores afetam de maneira diversa os diferentes continentes e nações; no entanto, em uma ou outra medida nenhuma parte do mundo está isenta de sua influência.

2. Tais fatores de comunicação e interdependência entre os diversos povos e culturas provocaram maior consciência da pluralidade das religiões do planeta, com os perigos e, ao mesmo tempo, as oportunidades que isso acarreta. Apesar da secularização, a religiosidade não desapareceu dos homens de nosso tempo. São conhecidos os diversos fenômenos nos quais essa religiosidade se manifesta, apesar da crise que em diversa medida afeta as grandes religiões. A importância do religioso na vida humana e os crescentes encontros entre os homens e as culturas tornam necessário o diálogo inter-religioso, em vista dos problemas e necessidades que afetam a humanidade, para o esclarecimento do sentido da vida e para uma ação comum em favor da paz e da justiça no mundo. O cristianismo, de fato, não fica nem pode ficar à margem desse encontro e consequente diálogo entre as religiões. Se, às vezes, estas foram e podem ainda ser fatores de divisão e conflito entre os povos, é de desejar que em nosso mundo apareçam ante os olhos de todos como elementos de paz e união. O cristianismo há de contribuir para que isso seja possível.

3. Para que esse diálogo possa ser frutífero, é preciso que o cristianismo, e concretamente a Igreja católica, procure esclarecer como avalia do ponto de vista teológico as religiões. Dessa valorização dependerá em grande medida a relação dos cristãos com as diversas religiões e seus adeptos, e o consequente diálogo estabelecido com elas. As reflexões que seguem têm como objeto principal a elaboração de alguns princípios teológicos que auxiliem essa valorização - propostos, porém, com a clara consciência de que existem muitas questões ainda abertas que requerem ulterior investigação e discussão. Antes de passar à exposição desses princípios, julgamos necessário traçar as linhas fundamentais do debate teológico atual. A partir dele poder-se-á entender melhor as propostas formuladas a seguir.

Fonte: https://www.vatican.va/

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

“Hoje Deus sorriu para mim”: o testemunho emocionante de um médico católico

Shutterstock
Por Ricardo Sanches

"Adorei Deus, feito de carne, osso e câncer", relata o médico que, com amor, humildade e muita fé, consegue enxergar Deus em seus pacientes.

O Dr. João Carlos Resende Trindade é um médico católico que atende pacientes com câncer. Nas redes sociais, ele mostra um pouco da sua rotina e como a fé o ajuda a enfrentar as dificuldades do dia a dia da profissão.

Em uma publicação recente, o médico afirma que, através de um frágil paciente, Deus sorriu para ele.

“Hoje Deus sorriu para mim. Avistando-me na porta, abriu o mais belo sorriso, enquanto virava os olhos para o céu, como sem acreditar. Era Deus, que de novo me dava importância na minha inútil visita. Ele tinha os lábios finos e ressecados pelos opioides. Agitou as mãos em meios aos fios dos eletrodos de monitorização e queria livrá-las das cobertas ocres de um leito de UTI. Ajudei folgando a barra que O cobria até o pescoço. Esperei um aperto firme, mas as mãos de um Deus poderoso blefavam numa fragilidade que sequer comprimiam minha pele. Eram mãos frias de um Deus com o Sagrado Coração quente. Tinha dedos finos, cujos nós lembravam as contas de um Rosário. Ali eu via a sacra poesia de novo juntando rimas ricas em versos e estrofes tão claros à minha frente. Olhei tudo com atenção. Não queria perder nenhum detalhe. Era poeta, sem acreditar que lhe voltara a poesia. Seus olhos não brilhavam tanto. A pele pálida anunciava gritando tamanha morbidez. Olhou profundamente para mim, mas logo pendeu a cabeça com uma sonolência intermitente.”

“Deus, pequeno fiapo de gente”

Com o amor ao próximo, a grandeza de valores e a profundidade de fé típicos de quem consegue enxergar que Deus está em todos, sobretudo nos mais fracos e necessitados, o médico continua:

“Fiquei contemplando Deus ali, pequeno fiapo de gente, que por vezes brechava os olhos para observar eu ali do lado dEle. Parei e rezei. Adorei Deus, feito de carne, osso e câncer. Após eternos poucos minutos, tive que ir. Deus precisava descansar como após o 6⁰ dia de Criação. Catei uma colher descartável e um copo com um pouco de água. Deitei duas colheradas d’água nos secos lábios entreabertos. Iniciei um Pai-Nosso, mas Ele apenas balbuciava poucas palavras, seguindo-me na cadência da oração. Despedi-me com um pequeno beijo que estalei no ar, mas que caiu oculto por trás de minha máscara. Juntos, os mesmos lábios, agora menos secos, retribuíram meu carinho. Larguei as mãos magrinhas, recobri a caquexia e parei no último instante. Olhando de novo em meus olhos, agradeceu-me a visita. Era Cristo de novo, ali, escondido e achado, diante de mim. E por último momento, depois de uma leve pausa, Deus sorriu para mim.”

Deus disfarçado de paciente

Esta não foi a primeira vez que o Dr. João Carlos consegue ver Deus em seus pacientes. E, por seus relatos, dá para ver que ele consegue tratá-los com o amor e o respeito com que o Senhor espera ser tratado.

Em 2017, em publicação semelhante à atual, o médico descreveu que Deus o visitou disfarçado de paciente. O texto foi publicado no Facebook e comoveu a internet pelos exemplos de humanidade, respeito e fé. Clique abaixo ou aqui para ler o texto na íntegra.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Padre Aquino Júnior: Fraternidade e fome

Pão - fome | Vatican News

Pela terceira vez a Companha da Fraternidade trata do problema da fome, chamando atenção para um dos pecados mais graves de nossa sociedade e convidando os cristãos e o conjunto da sociedade a se empenharem na superação dessa injustiça e desse crime que é um verdadeiro pecado que clama ao Céu.

Padre Francisco de Aquino Júnior - Diocese de Limoeiro do Norte – CE

Desde 1964 a Igreja do Brasil promove durante a quaresma uma Campanha da Fraternidade. A quaresma é um tempo marcado pelo chamado à conversão: mudança de vida (mentalidade, sentimento, atitude), volta ao Senhor, adesão ao seu Evangelho. Essa conversão é tanto pessoal (conversão do coração), quanto social (transformação da sociedade). Para ajudar na vivência do espírito quaresmal, a Igreja convida a intensificar a prática da oração, do jejum e da caridade. E para que a caridade não se reduza a uma ação meramente assistencial, a Igreja do Brasil, retomando a doutrina social da Igreja, promove uma Campanha da Fraternidade que trata de algum problema grave da sociedade que exige mudança e que compromete todas pessoas e instituições.

Pela terceira vez a Companha da Fraternidade trata do problema da fome, chamando atenção para um dos pecados mais graves de nossa sociedade e convidando os cristãos e o conjunto da sociedade a se empenharem na superação dessa injustiça e desse crime que é um verdadeiro pecado que clama ao Céu: “Repartir o pão” (1975); “Pão para quem tem fome” (1985); “Dai-lhes vós mesmos de comer” (2023).

A fome não é um dado natural. Não é fruto do acaso ou do destino. Não é mera consequência de preguiça ou comodismo pessoal. Nem muito menos é vontade ou castigo de Deus. Ela é um produto social. É resultado das tremendas injustiças e desigualdades que caracterizam nossa sociedade e fazem com que uns tenham tanto e outros tenham tão pouco ou quase nada. A situação atual do Povo Yanomami em Roraima é o exemplo mais vivo e dramático da injustiça e desigualdade de nossa sociedade: Fruto do egoísmo e da cobiça de garimpeiros, madeireiros e empresários; fruto de um modelo econômico que sacrifica vidas humanas e toda natureza no altar do deus-mercado/lucro; fruto da indiferença social, da cultura do consumismo e da busca de enriquecimento a qualquer preço; fruto da cumplicidade de políticos e governos genocidas que fecham os olhos diante desses crimes ou até mesmo estimulam essas práticas criminosas.

Mas a situação do povo Yanomami não é um fato isolado. O drama da fome está presente ao longo da história do Brasil. E é a expressão mais cruel e perversa do modelo capitalista de sociedade que se implantou aqui ao logo de mais de 500 anos. Uma série de políticas públicas desenvolvidas na primeira década do século reduziu bastante o drama da fome no Brasil, fazendo com que o país saísse do mapa da fome em 2014. Mas o desmonte progressivo dessas políticas a partir de 2016, agravado com a pandemia da Covid-19, fez com que o Brasil voltasse ao mapa da fome.

Os dados são alarmantes: 33 milhões de pessoas passando fome (15,5% de toda população ou o equivalente à população das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte e Manaus); mais de 125 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar (58,1% de toda população). Isso é bem mais grave nas regiões Nordeste (21%) e Norte (27%) e na zona rural (18,6%). E atinge sobretudo pessoas pretas ou pardas e famílias chefiadas por mulheres. Em março de 2020 estimava-se cerca de 222 mil pessoas em situação de rua e esse número cresceu assustadoramente na pandemia, como se pode ver em qualquer grande cidade.

Essa situação é muito mais escandalosa e criminosa se considerarmos que não falta alimento no Brasil. Aliás, o país bate recordes anuais na produção para exportação de milho, soja, trigo, carne etc. A fome no Brasil, vale repetir, é fruto da injustiça e da desigualdade social. É um pecado mortal que clama ao céu! E pode ser eliminada com a solidariedade de todos e com vontade e decisão políticas. Como tantas vezes repetiu o presidente Lula “é preciso colocar o rico no imposto de renda e o pobre no orçamento”. Precisamos lutar para que isso se torne realidade.

A ordem de Jesus aos discípulos diante da multidão “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14, 16) ecoa com muita força entre nós, sobretudo nesse tempo quaresmal em que somos chamados à conversão. Certamente, nenhuma pessoa ou comunidade pode resolver o problema. Mas cada um pode compartilhar um pouco do que tem e cada comunidade, grupo, pastoral ou movimento pode contribuir superar essa situação: doando cesta básica; ajudando pessoas a desenvolverem alguma atividade produtiva; promovendo feiras da agricultura familiar e economia solidária; exigindo dos governos a compra dos produtos da agricultura familiar; defendendo os programas de transferência de renda como “bolsa família” e “bolsa catador”, a reforma agrária e políticas públicas de saúde (SUS), educação, moradia...

Isso é questão de humanidade e justiça social!

Isso é questão de fé e critério de salvação ou de condenação!

Padre Francisco de Aquino Júnior  é presbítero da Diocese de Limoeiro do Norte – CE; professor de teologia da Faculdade Católica de Fortaleza (FCF) e da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP).

Santa Catarina de Ricci

Santa Catarina de Ricci | A12
13 de fevereiro
Santa Catarina de Ricci

Alexandra, da nobre família Ricci residente em Florença, Itália, nasceu em 1522, época em que se iniciava o transtorno herético de Lutero na Europa. Menina de sete anos, foi entregue à educação das irmãs beneditinas da cidade próxima de Prato, que nela despertaram o gosto pela vida monástica.

De fato, voltando para casa, manteve os costumes do mosteiro, mesmo no luxo, e, mais tarde, apesar do plano dos pais de casá-la com um distinto jovem de Florença, os convenceu a deixá-la abraçar a vida religiosa.

Entrou com muita alegria para o mosteiro dominicano de Pratos, onde, desejando imitar Santa Catarina de Sena, adotou-lhe o primeiro nome. Procurou logo crescer nas virtudes religiosas, cultivando a humildade nos trabalhos mais simples.

Com 25 anos, foi escolhida para mestra das noviças, e, posteriormente, superiora, cargo que ocupou quase ininterruptamente durante os demais 42 anos da sua vida. Nesta função, dirigia as irmãs pelo exemplo, sendo generosa, firme nas atitudes mas doce no trato, com equilíbrio e engenho.

Tomando como exemplo de vida espiritual Jesus Crucificado, desejava ardentemente partilhar os sofrimentos de Jesus no madeiro, sentindo-Lhe as dores da agonia. Recebeu assim dons místicos, de modo que, das quintas-feiras à tarde, quando começava a meditação da Paixão e Morte do Senhor, até as tardes do dia seguinte, entrava em êxtase e coparticipava das Suas dores.

A graça mística não a alienou dos compromissos da vida diária, nem a tornou vaidosa. Tornou-se conselheira espiritual de muitas pessoas, de todo o mundo, sendo consultada em assuntos teológicos e questões espirituais por sacerdotes, bispos e cardeais. Correspondeu-se também com vários Papas – Marcelo II, Clemente VIII, Leão XI, São Pio V –, São Carlos Borromeu e São Filipe Néri.

Escreveu muito sobre temas espirituais, e recomendava o domínio de si, a luta e mortificação dos sentidos para obter a paz e a alegria de espírito. Outras recomendações suas eram a devoção à sagrada Paixão e Morte de Cristo e a docilidade às inspirações de Deus, para que se pudesse então elevar a alma gradativamente, pelas provações, até o pleno abandono à vontade divina.

 Faleceu em 2 de fevereiro de 1590, e sua data litúrgica é o dia 13 deste mês.

Colaboração: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

Enquanto Lutero pregava o afastamento prático da Cruz, Deus nos dava o exemplo da felicidade em Santa Catarina de Ricci, abraçando-a. O Mistério de Cristo e da nossa salvação sempre inclui situações que parecem contraditórias: profunda alegria e grandes sofrimentos, sejam físicos e/ou morais e emocionais. A chave do paradoxo é que a Verdade, isto é, o amor a Deus e ao próximo, leva ao afastamento do que é realmente mau, o pecado, muitas vezes disfarçado nos prazeres mundanos; e une ao que é Bom – “só Deus é Bom” (cf. Mc 10,18) – ou seja, à pureza da alma e da consciência, o que nos dá a paz em Cristo. Santa Catarina de Ricci não morreu martirizada, mas ao longo da vida provou das dores de Jesus na Cruz… muito trabalhou, assumiu grandes responsabilidades, e permaneceu humilde, alegre e doce. Assumir os sofrimentos de Cristo, voluntariamente, implica em afastar os sofrimentos sem sentido e vazios deste mundo: os primeiros têm a recompensa da paz, e a garantia divina de que jamais serão superiores às nossas forças e limitações assistidas pelas graças de Deus, enquanto os segundos só trazem desespero e frustração e não têm limite quanto à desfiguração do próprio ser. O que Deus quer para nós jamais pode nos fazer mal.

Oração:

Ó Deus, que sois o único Bom e o nosso verdadeiro Bem, e que distribuis as vocações e as graças somente por amor e sabedoria infinitas, concedei-nos pela intercessão de Santa Catarina de Ricci a inteligência e a vivência de buscar apenas a Vossa vontade nesta vida, para que com ela e Convosco possamos ser infinitamente felizes na próxima, participando aqui da Cruz para podermos ter a glória da Ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que Convosco vive e reina para sempre, e Nossa Senhora, Rainha do Céu e da Terra. Amém.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF