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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

A Quaresma

Quaresma | rumoasantidade

A Santa Quaresma

É chegado o grande período de reflexão e profundo recolhimento para nós católicos: a Quaresma! E para ajudar a todos os leitores do Apostolado Rumo à Santidade, criamos este grande guia sobre a Quaresma, a fim de contribuir na formação e melhor aproveitamento deste tempo precioso para nós.

O que é a Quaresma e quando ela começa?

A Quaresma é um período de 40 dias de penitência e de combate espiritual. A característica fundamental e indispensável da Quaresma é a renúncia de alimentos e o jejum!

Inicia-se na Quarta-feira de Cinzas, prolongando-se até a Quinta-feira Santa, antes da Missa na Ceia do Senhor. A penitência prolonga-se até o Sábado Santo, perfazendo exatos 40 dias penitenciais, excetuados os domingos. Trata-se de um tempo privilegiado de conversão, combate espiritual, jejum e escuta da Palavra de Deus.

Por que 40 Dias de Quaresma?

O número de quarenta dias é importante, pois tem toda uma significação bíblica: a preparação para o encontro com Deus:

  • Os quarenta dias do Dilúvio,
  • Os quarenta dias de Moisés no Monte Sinai,
  • Os quarenta anos de Israel no deserto,
  • Os quarenta dias do caminho de Elias até o Horeb/Sinai
  • E, sobretudo, os quarenta dias do Senhor Jesus no deserto, preparando Sua vida pública.

É digno de nota que o mesmo Jesus que entrou na penitência dos quarenta dias aparece transfigurado com dois outros penitentes: Moisés e Elias!

Por isso mesmo, o cuidado da Igreja de reservar exatos quarenta dias para a penitência! É tão antigo que tem suas raízes na própria prática da Igreja apostólica.

Na Igreja Antiga, este era o tempo no qual os catecúmenos (adultos que se preparavam para o Batismo) recebiam os últimos retoques em sua formação para a vida cristã. Assim, surgiu a Quaresma: tempo no qual os não batizados completavam seu catecumenato pela oração a penitência e os ritos próprios, chamados escrutínios, e os cristãos, já batizados, pela purificação e a oração, buscavam renovar sua conversão batismal para celebrarem na alegria espiritual a Santa Vigília de Páscoa, na madrugada do Domingo da Ressurreição, renovando suas promessas batismais.

Qual o Sentido da Quaresma?

A finalidade da penitência e do combate quaresmais é conformar-se ao Cristo ressuscitado! A Quaresma tem, portanto, uma finalidade pascal:

“Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos! Fiel é esta palavra: Se com Ele morremos, com Ele viveremos, Se com Ele sofremos, com Ele reinaremos!” (2Tm 2,8ss)

Dom Henrique Soares, Bispo de Palmares, nos explica de forma bem simples como podemos viver melhor este período e ainda nos fornece algumas dicas!

O que devemos fazer na Quaresma? Quais são as práticas Quaresmais?

A Oração

Neste tempo os cristãos se dedicam mais à oração. Uma boa prática é rezar diariamente um salmo ou, para os mais generosos, rezar todo o saltério no decorrer dos quarenta dias. Pode-se, também, rezar a Via Sacra às sextas-feiras! Ainda é possível, além do terço costumeiro, rezar-se mais um terço, com os mistérios dolorosos.

A Penitência

Os dias quaresmais (exceto os domingos!) são dias de penitência. Aliás, esta é a prática que melhor caracteriza a Quaresma! Sem renúncia ao alimento, não há observância quaresmal.

Cada um deve escolher uma pequena prática penitencial para este tempo. Por exemplo: renunciar a um lanche diariamente, ou a uma sobremesa, não comer carne às quartas e sextas-feiras, etc…

Na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa os cristãos jejuam: o jejum nos faz recordar que somos frágeis e que a vida que temos é um dom de Deus, que deve ser vivida em união com Ele; também nos ensina a domar nossos instintos. Os mais generosos podem jejuar todas as sextas-feiras da Quaresma. Farão muitíssimo bem!

Recordemo-nos que às sextas-feiras os católicos não devem comer carne; e isto vale para o ano todo!

O Jejum consiste numa só refeição completa; as outras duas não devem, juntas, chegar a uma refeição.

A Abstinência de carne consiste em não comer carne de animais de sangue quente: mamíferos ou aves, de modo geral.

A Esmola

Trata-se da caridade fraterna. Este tempo santo deve abrir nosso coração para os irmãos: esmola, capacidade de ajudar, visitar os doentes, aprender a escutar os outros, reconciliar-se com alguém de quem estamos afastados – eis algumas das coisas que se pode fazer neste sentido!

“O que a oração pede, o jejum alcança e a esmola recebe. O jejum é a alma da oração, e a esmola é a vida do jejum. Ninguém tente dividi-las porque são inseparáveis. Portanto, quem ora, jejue; e quem jejua, pratique a esmola” (São Pedro Crisólogo – século IV)

A Meditação da Palavra de Deus

Este é um tempo de escuta mais atenta da Palavra: o homem não vive somente de pão, mas de toda Palavra saída da boca de Deus. Seria muitíssimo recomendável ler durante este tempo o Livro do Êxodo ou o Profeta Jeremias ou Oséias ou, ainda, um dos Evangelhos ou a Epístola aos Romanos.

A Conversão

“Eis o tempo da conversão!”, diz-nos São Paulo. Que cada um veja um vício, um ponto fraco, que o afasta de Cristo, e procure lutar, combatê-lo nesta Quaresma! É o que a Tradição ascética de Igreja chama de “combate espiritual” e “luta contra os demônios”. Nossos demônios são nossos vícios, nossas más tendências, que precisam ser combatidas.

Os antigos davam o nome de sete demônios principais (sete vícios capitais): a soberba, a avareza, a inveja, a preguiça, a ira, a gula, a luxúria. Estes demônios geram outros.

Na Quaresma, é necessário identificar aqueles que são mais fortes em nós e combatê-los!

Como é a Liturgia durante a Quaresma?

Este tempo sagrado é marcado por alguns sinais especiais nas celebrações da Igreja:

  • A cor da liturgia é o roxo – sinal de sobriedade, penitência e conversão;
  • Não se canta o Glória nas missas (exceto nas solenidades, quando houver);
  • Não se canta o aleluia que, sinal de alegria e júbilo, somente será cantado outra vez na Páscoa da Ressurreição (isto vale mesmo para as festas e solenidades);
  • Os cantos da Missa devem ter uma melodia simples e tratarem dos temas quaresmais; não é permitido que se toque nenhum instrumento musical, a não ser para sustentar o canto, em sinal de jejum dos nossos ouvidos, que devem ser mais atentos à Palavra de Deus; um bom costume é que o Credo, o Santo, o Pai-nosso e o Cordeiro e as respostas da Oração Eucarística sejam recitados, não cantados
  • Não é permitido usar flores nos altares, em sinal de despojamento e penitência (nos casamentos e outras festas as igrejas, devem ser enfeitadas com muita sobriedade!);
  • A partir da quinta semana da Quaresma podem-se cobrir de roxo ou branco as imagens, em sinal de jejum dos sentido, sobretudo dos olhos. Onde o costume for já cobri-las na Quarta-feira de Cinzas, é ótimo que se conserve assim!

O importante é que todas estas práticas nos levem a uma preparação séria e empenhada para o essencial: a Páscoa!
As observâncias quaresmais não são atos folclóricos, mas instrumentos para nos fazer crescer no processo de conversão que nos leva ao conhecimento espiritual e ao amor de Cristo. Tenhamos em vista que o ponto alto do caminho quaresmal é a renovação das promessas batismais na Santa Vigília pascal e a celebração da Eucaristia de Páscoa nesta mesma Noite Santa, virada do sábado para o Domingo da Ressurreição.

Empenhemo-nos sincera e devidamente nas práticas quaresmais. Elas não são essenciais, mas são sinal concreto de que entramos de corpo e alma no caminho da conversão. Uma vida religiosa sem práticas concretas em comunidade, reguladas pela Igreja, é como um corpo sem vértebras: não se sustentará de pé e terminará por negar praticamente a realidade da Encarnação. O Verbo fez-Se carne, fez-Se matéria, “concretizou-Se”. O cristianismo é uma religião da alma e do corpo, das intenções e das práticas!

Dicas e Sugestões de Penitências para a Quaresma

Neste tempo de reflexão e preparação para a Páscoa, muitos católicos ficam com dúvidas em relação às Penitências. Desta forma, apresento-lhe algumas sugestões feitas pelo Pe. José Eduardo para vivermos uma Santa Quaresma:

1) Penitências gastronômicas

– Trocar a carne por peixe, ovos ou queijo (ou mesmo comer puro)
– Comer menos arroz, feijão, pão, macarrão, para sair da mesa com um pouco de apetite
– Eliminar todos doces, refrigerantes, chocolate e demais guloseimas
– Nas refeições, acrescentar algo que seja desagradável, como diminuir a quantidade de sal ou colocar um condimento que quebre um pouco o sabor
– Comer algum legume ou verdura que não se goste muito
– Diminuir ou mesmo tirar as refeições intermediárias (como o lanche da tarde).
– Tomar café sem açúcar, ou água numa temperatura menos agradável
– Reservar algum dia para o jejum total ou parcial

2) Penitências corporais

Apenas para ajudarem a não perdermos o sentido do sacrifício ao longo do dia, a não sermos relaxados, devendo ser pequenas e discretas.

– Dormir sem travesseiro
– Sentar-se apenas em cadeiras duras
– Rezar alguma oração mais prolongada de joelhos
– Não usar elevadores ou escadas rolantes
– Trabalhar sem se encostar na cadeira
– Cuidar da postura corporal
– Descer um ponto antes do ônibus e fazer uma parte do caminho à pé
– Deixar de usar o carro e pegar um transporte coletivo

3) Penitências Morais

São as mais importantes

– Não reclamar das contrariedades do dia, mas agradecer e louvar a Deus
– Sorrir sempre, mesmo quando haja um nervoso
– Moderar a frequência às redes sociais, celular e computador (reduzir a poucas vezes ao dia)
– Desligar as notificações do celular
– Fazer os serviços mais incômodos na casa e no trabalho, ajudando os outros
– Acordar mais cedo para fazer oração
– Não ouvir música no carro
– Não assistir TV, mas dedicar este tempo à leitura
– Não usar jogos eletrônicos, caso seja viciado
– Fazer algum trabalho voluntário
– Rezar mais pelos outros, do que por si mesmo
– Reservar dinheiro para dar esmolas, mas sobretudo atenção aos mendigos
– Falar bem das pessoas que se gostaria de criticar
– Ouvir as pessoas incômodas sem as interromper
– Dormir no horário, mesmo sem vontade

Que todos possam ter uma intensa vivência quaresmal, para celebrarmos na alegria espiritual a santa Páscoa do Senhor!

(Texto compilados e escritos por Dom Henrique Soares da Costa, Bispo de Palmares e Pe. José Eduardo. Coletados no Facebook de ambos)

Fonte: https://rumoasantidade.com.br/

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Desejar Deus, o único caminho da verdadeira felicidade

Pheelings media / Shutterstock
Por Marzena Devoud

Ter apenas um desejo na vida, o de estar em constante comunhão com Deus, não é uma loucura reservada aos místicos? No entanto, cada pessoa sente dentro de si o desejo do infinito. Às vezes, sem saber como nomeá-lo, às vezes mantendo-o em silêncio, este desejo de Deus é o único caminho para a verdadeira felicidade. Entenda:

Um jantar como qualquer outro. As conversas são sobre trabalho, estudos ou escola para as crianças, viagens futuras. Cada convidado se lança em uma história que destaca, consciente ou inconscientemente, seu reinado sobre sua própria vida. Esta é a regra do jogo, todos a conhecem: você tem que mostrar que consegue, que decide, que controla sua vida com eficiência e sucesso. Caso contrário, você corre o risco de ser visto como um fracassado, uma pessoa irresponsável, ou pelo menos como alguém que tem a cabeça nas nuvens… Claro que nem sempre acontece assim, mas muitas vezes é difícil desistir da ideia deste reinado sobre a própria vida.

Desejar a Deus é deixá-Lo reinar em você

É um sinal dos tempos, de acordo com Denis Marquet, autor do livro “La prière ou l’art de recevoir” (Editora Flammarion). Ele explica que estamos vivendo em uma época que estabeleceu o reino do eu: “Toda nossa vida é uma luta pelo reinado do eu. De agora em diante, o ser humano quer ser o autor de sua própria história, ele se recusa a deixar alguém reinar sobre sua vida: ele quer reinar a si mesmo”, escreve ele. Uma concepção da felicidade que consiste em dizer a si mesmo: eu sou feliz quando tudo acontece como eu quero”. Mas este reinado do eu impede o reinado de Deus”. Enquanto que, continua o autor, “desejar a Deus é deixá-lo reinar em você”. É saber, com este desejo por Deus, o único caminho para a verdadeira felicidade”.

Reino do eu ou reino de Deus?

Quando os fariseus perguntam a Jesus quando viria o Reino de Deus, ele respondeu-lhes: “O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo” (Lc 17, 20-21). “Não se trata de esperar pelo Reino, mas de permitir que ele venha, isto é, que se manifeste, agora”. Como podemos fazer isso? Conectando-nos com nosso eu interior”, enfatiza Denis Marquet em seu livro.

Há apenas uma coisa que pode impedir a manifestação do Reino de Deus: permitir que outra autoridade que não Deus reine dentro de nós

A chave, portanto, é afastar-se do mundo externo, aquele que cria nossas necessidades e projeções, e voltar-se para dentro. É ali, no coração do íntimo, que está o reino de Deus, onde reina o amor infinito. “Por esta razão, só há uma coisa que pode impedir a manifestação do Reino de Deus: permitir que outra instância que não Deus reine dentro de si mesmo”, continua o autor.

São Bernardo escreveu em seu Tratado sobre o Amor de Deus: “Deus fez de você um ser de desejo, e seu desejo é ele, Deus”. Ele foi inspirado por Agostinho, que definiu o desejo como “o profundo do coração”. Ao desejarmos a Deus, tornamo-nos capazes de ser realizados por ele. Deixar Deus reinar em um só leva à plenitude, à verdadeira felicidade.

Desejar Deus significa deixar de lado outros desejos?

É fascinante pensar que o desejo de Deus está inscrito em cada pessoa. O Catecismo da Igreja Católica abre com esta consideração:

O desejo de Deus é um sentimento inscrito no coração do homem, porque o homem foi criado por Deus e para Deus. Deus não cessa de atrair o homem para Si e só em Deus é que o homem encontra a verdade e a felicidade que procura sem descanso.

CIC, n. 27

Mas será que desejar a Deus significa deixar de lado outros desejos? Como não ter medo de deixar-se levar pelo desejo absoluto de Deus e, nesse processo, renunciar às outras coisas da vida, que também são desejáveis? Se o homem é “constantemente atravessado por múltiplos desejos, seu grande desejo fundamental é a sede de uma plenitude sem fim, mesmo que não saiba nomear esta atração irresistível”, Bento XVI respondeu à sua maneira durante a audiência geral de 7 de novembro de 2012, por ocasião do Ano da Fé.

Portanto, não é uma questão de renunciar aos desejos, mas de compreender e agir para que em cada desejo exista na realidade o desejo de Deus. “Buscai primeiro o Reino de Deus, e todo o resto vos será acrescentado” (Mt 6, 33). Desejar Deus é acessar a abundância e a graça. É receber seu amor infinito.

“Venha a nós Vosso Reino”, uma escola do desejo

A passagem “Venha a nós o Vosso Reino” no Pai Nosso é uma afirmação do desejo de Deus e de seu reino dentro de nós mesmos, com exclusão de qualquer outro poder. “Desejar o Reino de Deus é renunciar a todas as formas de poder que não sejam as de Deus”, diz Denis Marquet. Desejar Deus é então estar sempre pronto para um coração cada vez mais profundo com Ele”. Santo Agostinho descreve isso de forma admirável:

“Deus, ao fazer-nos esperar, amplia o nosso desejo; ao fazer-nos desejar, amplia a nossa alma; ao ampliá-la, Ele aumenta sua capacidade de receber”. Suponha que Deus queira enchê-lo de mel: se você estiver cheio de vinagre, onde Ele colocará o mel? O conteúdo do recipiente deve ser despejado, o recipiente em si deve ser limpo, deve ser limpo por meio de trabalho, por meio de fricção, para que seja capaz de receber algo mais. Deus fez de você um ser de desejo, e seu desejo é ele, Deus.

Assim, o desejo de Deus, este repouso em Deus, permite uma plenitude, a das duas radiações essenciais: a graça e o amor.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Arquidiocese de São Paulo: ajude as vítimas das chuvas!

Campanha arquidiocese de São Paulo | arquisp

A Arquidiocese e a CASP, imbuídas de sua missão de ajudar as pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, pedem o seu apoio nesta campanha para auxiliar a quem tanto precisa de nós neste momento.

Vatican News

A Arquidiocese de São Paulo, por meio da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP), está fazendo uma campanha de arrecadação de fundos para ajudar as vítimas das fortes chuvas que caíram no Litoral Norte de São Paulo, principalmente na cidade de São Sebastião.

Até a manhã desta terça-feira (21), 44 mortes foram confirmadas naquela que é considerada a pior chuva da história do país. Para se ter uma ideia, em apenas 24 horas choveu 686 milímetros na cidade de Bertioga e 627 milímetros em São Sebastião, sendo esta última a cidade mais castigada. Isso significa que mais do que a chuva esperada para todo o mês caiu em apenas um dia.

Ainda não se sabe o número de desaparecidos nessa grande tragédia, mais de 2 mil estão desabrigadas e não têm para aonde ir. Muitas delas estão sem documentos, roupas, alimentação e itens de necessidades básicas.

Por essa razão, a Arquidiocese e a CASP, imbuídas de sua missão de ajudar as pessoas em situação de extrema vulnerabilidade, pedem o seu apoio nesta campanha para auxiliar a quem tanto precisa de nós neste momento.

Você pode ajudar transferindo ou depositando qualquer quantia para:

Caritas Arquidiocesana de São Paulo

Banco Bradesco (237)

Agência 99

Conta poupança: 1.000.154-4

CNPJ: 62.021.308/0001-70.

Fonte: Arquidiocese de São Paulo

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (6/16)

O cristianismo e as religiões | Vecteezy

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

II. PRESSUPOSTOS TEOLÓGICOS FUNDAMENTAIS

27. O precedente status quaestionis mostrou como as diferentes aproximações à teologia das religiões e ao valor salvífico dessas religiões dependem em grande medida do que se pense sobre a vontade salvífica universal de Deus Pai, a quem o Novo Testamento atribui a iniciativa da salvação, a única mediação de Cristo, a universalidade da ação do Espírito Santo e sua relação com Jesus, a função da Igreja como sacramento universal de salvação. A resposta às perguntas levantadas requer uma breve reflexão sobre essas questões teológicas fundamentais.

II. 1A iniciativa do Pai na salvação

28. Somente à luz do desígnio divino de salvação dos homens, que não conhece fronteiras de povos nem raças, tem sentido tratar o problema da teologia das religiões. O Deus que quer salvar a todos é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. O desígnio de salvação em Cristo precede à criação do mundo (cf. Ef 1,3-10) e realiza-se com o envio do Filho ao mundo, prova do amor infinito e da ternura que o Pai tem pela humanidade (cf. Jo 3,16-17; l Jo 4,9-10 etc). Esse amor de Deus chega até a "entrega" de Cristo à morte pela salvação dos homens e para a reconciliação do mundo (cf. Rm 5,8-11; 8,3.32; 2 Cor 5,18-19 etc). A paternidade de Deus, que em geral no Novo Testamento se relaciona com a fé em Jesus, abre-se a perspectivas mais amplas em algumas passagens (cf. Ef 3,14-15; 4,6). Deus o é dos judeus e dos gentios (cf. Rm 3,29). A salvação de Deus, que é Jesus, se apresenta a todas as nações (cf. Lc 2,30; 3,6; At 28,28).

29. A iniciativa do Pai na salvação é afirmada em 1 João 4,14: "O Pai enviou seu Filho como salvador do mundo". Deus, "o Pai, de quem tudo procede" (1 Cor 8,6), é a origem da obra de salvarão realizada por Cristo. O título de "Salvador", com o qual Cristo é freqüentemente nomeado (cf. Lc 2,11; Jo 4,42; At 5,31 etc), é dado com prioridade a Deus em alguns escritos do Novo Testamento (cf. 1 Tm 1,1; 2,3; 4,10; Tt 1,3; 2,10; 3,4; Jd 25), sem que por isso se o exclua de Cristo (cf. Tt 1,4; 2,13; 3,6). Segundo 1 Timóteo 2,3-4, "Deus, nosso Salvador (...), quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade". A vontade salvífica não conhece restrições, mas vai unida ao desejo de que os homens conheçam a verdade, ou seja, adiram à fé (cf. 1 Tm 4,10, Deus é "Salvador de todos os homens, mormente dos crentes"). Essa vontade de salvação tem portanto, como conseqüência, a necessidade do anúncio. Ademais, está ligada à única mediação de Cristo (cf. L Tm 2,5-6), à qual nos referiremos a seguir.

30. Deus Pai é ao mesmo tempo o termo para o qual tudo caminha. O fim último da ação criadora e salvadora se realizará quando todas as coisas tiverem sido submetidas ao Filho; "então o próprio Filho será submetido Aquele que tudo lhe submeteu, para que Deus seja tudo em todos" (1 Cor 15,28).

31. O Antigo Testamento já conhece alguma prefiguração dessa universalidade que só em Cristo se revelará plenamente. Todos os homens, sem exceção, foram criados à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn l,26s; 9,6); dado que no Novo Testamento a imagem de Deus é Cristo (2Cor 4,4; Cl 1,15), pode-se pensar em uma determinação de todos os homens rumo a Cristo. A aliança de Deus com Noé abraça todos os seres vivos da terra (cf. Gn 9,9.12.l7s). Em Abraão "serão abençoadas todas as famílias da terra" (Gn 12,3; cf. 18,18); essa bênção para todos vem também pelos descendentes de Abraão, por causa da obediência deste (cf. Gn 22,17-18; 26,4-5; 28,14). O Deus de Israel foi reconhecido como tal por alguns estrangeiros (cf. Js 2; l Rs 10,1-13; 17,17-24; 2Rs 5,1-27). No Dêutero e Trito-Isaías encontram-se também textos que fazem referência à salvação do povo de Israel (cf. Is 42,1-4; 49,6-8; 66,18-21 etc, as oferendas dos povos serão aceitas por Deus como as oferendas dos israelitas; também SI 86; 47,10, "os príncipes dos povos reuniram-se: é o povo do Deus de Abraão"). Trata-se de uma universalidade que tem Israel como centro. Também a Sabedoria dirige-se a todos sem distinção de povos e raças (cf. Pr 1,20-23; 8,2-11; Sb 6,1-10.21 etc).

Fonte: https://www.vatican.va/

Rescrito do Papa esclarece dois pontos do motu proprio "Traditionis custodes"

Papa Francisco  (© Servizio Fotografico L'Osservatore Romano)

Francisco reitera de modo inequivocável o que foi estabelecido no documento, ou seja, que o uso das igrejas paroquiais para grupos que celebram com o rito pré-conciliar, bem como o uso do antigo missal por sacerdotes ordenados depois de 16 de julho de 2021, só pode ser concedido pelo bispo após receber autorização da Santa Sé.

VATICAN NEWS

O Papa Francisco reiterou de modo inequivocável dois pontos precisos do motu próprio “Traditionis custodes”, o documento que em julho de 2021 havia reordenado as normas sobre o uso do antigo missal, restituindo aos bispos a autoridade sobre estas celebrações. O Papa o fez com um rescrito ligado à audiência concedida na segunda-feira, 20 de fevereiro, ao Prefeito do Dicastério para o Culto Divino, Cardeal Arthur Roche. Os dois pontos, que foram objeto de diferentes interpretações e discussões recentes, inclusive na mídia, são: o uso das igrejas paroquiais e a eventual instituição de paróquias pessoais para grupos que celebram segundo o missal de 1962, promulgado por João XXIII antes do Concílio Ecumênico Vaticano II; o uso deste missal por sacerdotes ordenados depois de 16 de julho de 2021, ou seja, depois da publicação do motu próprio.

Na realidade, o texto de "Traditionis custodes" já era suficientemente claro: trata-se de dois casos circunscritos para os quais o bispo, antes de decidir, deve solicitar a autorização do Dicastério para o Culto Divino, que segundo o motu próprio exerce a autoridade da Santa Sé nesta matéria. Portanto, será o Dicastério, dependendo das circunstâncias, que dará a possível aprovação ao ordinário diocesano.

Após reafirmar, sem qualquer remota possibilidade de equívoco, que os dois casos em questão são "dispensas reservadas de maneira especial à Sé Apostólica" e, portanto, os bispos são obrigados a buscar a autorização da Santa Sé, o rescrito do Papa Francisco afirma: "Se um bispo diocesano tiver concedido dispensas nos dois casos acima mencionados, é obrigado a informar o Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, que avaliará os casos individualmente".

Portanto, na presença de concessões de igrejas paroquiais, da instituição de paróquias pessoais e do nihil obstat pelo uso do antigo missal pelos sacerdotes ordenados depois de julho de 2021, que tenham sido estabelecidos pela autoridade diocesana sem o consentimento de Roma, o bispo deve obrigatoriamente dar o passo que não deu antes, cumprindo a resposta do Dicastério. Por fim, com o novo rescrito papal, Francisco "confirma o que foi estabelecido" nas respostas aos dubia que surgiram após a publicação de "Traditionis custodes", respostas publicadas juntamente com algumas notas explicativas em 4 de dezembro de 2021.

São Pedro Damião

São Pedro Damião | diocesepresidenteprudente
21 de fevereiro
São Pedro Damião, Bispo e Doutor da Igreja

Origens

Pedro nasceu na cidade de Ravena, Itália, no ano 1007. Sua origem foi bastante modesta e sofrida. Ele chegou a ser guar­dador de porcos na infância. Conheceu a orfandade muito cedo. Foi criado de maneira improvisada por seus irmãos, que eram numerosos. Seu irmão mais velho, chamado Damião, acabou sendo o responsável por seus estudos.

Estudos e vocação

Pedro estudou nas cidades de Ravena, Pádua e Faenza. Depois, ensinou na cidade de Parma. Então, decidiu ingressar no convento camaldulense de Fonte Avelana, na região da Úmbria. Este local tornou-se o centro de várias atividades reformadoras iniciadas por ele. Em retribuição a seu irmão mais velho, Pedro assumiu o nome “Damião” ao receber a ordenação  sacerdotal.

As reformas começam

Aos vinte e um anos, Pedro Damião foi eleito superior da Ordem Camaldulense. As regras de vida da Ordem já eram severas. São Pedro Damião, porém, tornou-as mais duras ainda. Começou a criticar com severidade severamente os conventos que abandonavam a pobreza. A influência de São Pedro Damião se estendeu por vários mosteiros da Europa, entre eles Montecassino na Itália e Cluny na França. Estes, especialmente, passaram a seguir os conceitos de Pedro Damião. Ele lutou incansavelmente para fazer com que a vida religiosa voltasse a seu sentido inicial de consagração total a Deus, na austeridade e na penitência.

Austeridade e simplicidade

Pedro Damião era um padre de vocação contemplativa, simples, amante da vida monástica. Por isso, criticava duramente o luxo de autoridades eclesiásticas. Para isso, mencionava os apóstolos Pedro e Paulo, que percorreram vários países evangelizando, levando vida austera, e caminhando descalços. Inspirado nos conselhos de Jesus, insistia que, para anunciar a Palavra de Deus, era essencial despojar-se de apegos materiais. Assim, ele solidificou a austeridade na vida religiosa e deu este exemplo em toda sua vida.

Contra a venda de cargos

Na época, era comum dentro da Igreja a venda de títulos, cargos e funções, como era feito com títulos feudais. Por isso, vários postos na Igreja acabavam sendo ocupados por gente totalmente despreparada. Estes, não raro, vinham a causar escândalos e se tornavam rebeldes diante de várias disciplinas eclesiásticas, como, por exemplo, o celibato. Por isso, o padre Pedro Damião chamado a Roma para ajudar nesses combates. Atuou junto de seis papas como embaixador da paz. Ajudou especialmente o cardeal Hildebrando, outro grande reformador que veio a se tornar o Papa Gregório VII.

Cardeal

São Pedro Damião realizou várias peregrinações a Milão, à Alemanha e à França. Depois disso, foi nomeado cardeal e enviado à diocese de Óstia. Lá realizou um fecundo apostolado e escreveu bastante. Após sua morte, seus escritos continuaram influenciando religiosos importantes. Graças à sua ajuda a Igreja foi melhorando de situação. Já idoso, foi enviado a cidade de Ravena para solucionar uma questão sobre um anti-papa.

Morte

São Pedro Damião faleceu em 1072, em Faenza, quando retornava de uma missão de paz. E ele passou a ser venerado como santo. No ano 1828 ele foi canonizado pelo papa Leão XII. Na ocasião, o Papa declarou São Pedro Damião doutor da Igreja, por causa de seus inúmeros  escritos de teologia e pela incansável e eficaz atuação em favor da unidade da Igreja Católica.

Oração a São Pedro Damião

“Ó Deus, nós Te suplicamos, que todos os homens possam encontrar-Te pessoalmente e responder-Te com a mesma fé de Abraão, dos apóstolos e dos santos. Amém. São Pedro Damião, rogai por nós.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Tratado sobre amor de Deus, de São Bernardo de Claraval

Renata Sedmakova | Shutterstock
Por Vitor Roberto Pugliesi Marques

Entenda o que são "os quatro graus do Amor", segundo este grande santo.

Este artigo analisa, de modo assaz conciso, o Tratado sobre o amor de Deus (São Paulo: Paulus, 2015), escrito pelo grande São Bernardo de Claraval (1090-1153), abade cisterciense e doutor da Igreja.

O prefácio da obra já nos traz o motivo pelo qual ela foi escrita. Trata-se de uma resposta a questionamentos feitos a São Bernardo por um senhor chamado Henrique, cardeal e chanceler da Igreja romana. Ao que parece (não é colocado no texto que chega até nós as perguntas objetivamente feitas), esse clérigo deve tê-lo interpelado sobre como o Amor de Deus se manifesta e, inferimos, pela teor do texto escrito, que deveria o senhor Henrique ter ainda indagado o como e o porquê corresponder a esse Amor. Ora, se todo ser humano, mesmo sem fé, deve amar a Deus, muito mais há de fazê-lo o cristão que tem, diante de si, na pessoa de Cristo, a imensa prova do grande amor do Pai por nós. Ele nos enviou – para sofrer e morrer na cruz – o seu próprio Filho quando ainda éramos pecadores (cf. Rm 5,8). Há maior prova de amor do que esta?

Isso posto, tratemos, agora, sobre os quatro graus do Amor. primeiro grau consiste no amor do homem a si próprio. Seria natural e justo que antes de tudo amássemos o Autor de tudo. Todavia, explica-nos São Bernardo, que “a natureza é muito frágil e muito fraca para seguir tal recomendação. Ela começa por amar a si mesma” (p. 55). Desde que exercido dentro da devida moderação e justiça, não há nada de errado nesse amor. Contudo, se ele dita-se em excesso, torna-se egoísta e não compatível com o que Deus deseja de nós. Em se tratando de amor próprio, caso extrapole os limites, deve-se lembrar do preceito que ordena: amarás o teu próximo como a ti mesmo (cf. Mt 22,38). No ato de amar a si com a devida moderação, ou seja, abrindo-se também ao próximo, está o exercício correto do primeiro grau do amor. Entretanto, não é possível amar perfeitamente o próximo se não for em Deus. Vai nos dizer, pois, o Tratado que “devemos então começar por amar a Deus, se se quer amar o próximo nele, de sorte que Deus, que é o autor de todos os outros bens, o é também de nosso amor por ele” (p. 58).

segundo grau consiste no amor do homem a Deus, mas com finalidade em si mesmo, buscando o seu próprio benefício. Podemos perceber muita fragilidade nesse amor, todavia, nos diz São Bernardo, que “há alguma sabedoria nele [nesse amor] por saber [o homem] do que é capaz por si mesmo e o que não pode fazer sem a ajuda de Deus, e por se tentar manter irrepreensível aos olhos daquele que lhe conserva as forças” (p. 61). Ou seja, nesse grau de amor, o homem já reconhece que não é autossuficiente, e que precisa de Deus para as empreitadas da vida. É obrigado, assim, a recorrer, e com frequência, a Deus. 

terceiro grau consiste no amor do homem a Deus com a finalidade de unir-se a Ele, mas ainda não de forma plena ou total. Com o progresso na vida de oração, vai se reconhecendo o quanto Deus é bom, disso chega-se a um ponto que se torna fácil amar o próximo, pois o amamos em Deus. “Quem ama com esse amor, ama tanto quanto é amado, e não busca, por sua vez, senão os interesses de Jesus Cristo, não mais os seus próprios” (p. 63). 

quarto grau consiste no amor em sua plenitude com Deus. Nesse ponto da caminhada, o homem não ama a si mesmo senão por Deus. “Chegar a esse ponto é ser deificado. Igual a uma pequena gota d’água que, misturada a uma grande quantidade de vinho, parece desaparecer, impregnando-se do gosto e da cor desse líquido” (p. 67). 

Para enquadrarmos os quatro graus do amor descrito por São Bernardo no modelo clássico das vias da santificação, podemos dizer que a via purgativa está nos primeiros dois graus do amor; a iluminativa no terceiro grau e a unitiva no quarto grau do amor. 

Leitura sapiencial a cada ser humano que, com a graça de Deus, luta para ser santo como o Pai celeste é santo (Mt 5,48).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Preparação para o Sacramento do Matrimônio (1/6)

Sacramento do Matrimônio | Presbíteros

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA

PREPARAÇÃO PARA O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

PREMISSA

1. A preparação para o matrimônio, para a vida conjugal e familiar, é de importância relevante para o bem da Igreja. De fato, o Sacramento do Matrimônio tem um grande valor para toda a comunidade cristã e, em primeiro lugar, para os esposos, cuja decisão é tal que não poderia ser sujeita à improvisação ou a escolhas apressadas. Em outras épocas, tal preparação podia contar com o apoio da sociedade, a qual reconhecia os valores e os benefícios do matrimônio. A Igreja, sem obstáculos ou dúvidas, tutelava a sua santidade, sabedora do fato que o Sacramento do Matrimônio representava uma garantia eclesial, qual célula vital do Povo de Deus. O apoio eclesial era, pelo menos nas comunidades realmente evangelizadas, firme, unitário, compacto. Eram raras, em geral, as separações e falências dos matrimônios, e o divórcio era considerado uma “chaga” social (cf. Gaudium et Spes = GS 47).

Hoje, ao contrário, em não poucos casos, assiste-se a um acentuado deterioramento da família e a uma certa corrupção dos valores do matrimônio. Em numerosas nações, sobretudo economicamente desenvolvidas, o índice de casamentos é reduzido. Costuma-se contrair matrimônio numa idade mais avançada e aumenta o número dos divórcios e das separações, até mesmo nos primeiros anos de vida conjugal. Tudo isto leva inevitavelmente a uma inquietação pastoral, mil vezes reforçada: Quem contrai matrimônio está realmente preparado para isso? O problema da preparação para o Sacramento do Matrimónio, e para a vida que se lhe segue, emerge como uma grande necessidade pastoral antes de mais para o bem dos esposos, para toda a comunidade cristã e para a sociedade. Por isso crescem em toda a parte o interesse e as iniciativas para fornecer respostas adequadas e oportunas à preparação para o Sacramento do Matrimônio.

2. O Conselho Pontifício para a Família, mantendo um contacto permanente com as Conferências Episcopais e os Bispos, por ocasião de vários encontros, reuniões e sobretudo das visitas « ad limina », tem seguido com atenção a preocupação pastoral no que se refere à preparação e celebração do Sacramento do Matrimônio e à vida que se lhe segue, e foi repetidamente convidado a propor um instrumento para a preparação dos noivos cristãos, o qual é o presente subsídio. Beneficiou ainda com a contribuição de muitos Movimentos Apostólicos, Grupos e Associações que colaboram na pastoral familiar e que deram o seu apoio, os seus conselhos e experiência para a elaboração deste documento de orientação.

A preparação para o matrimônio constitui um momento providencial e privilegiado para aqueles que se orientam para este sacramento cristão, e um Kayrós, isto é, um tempo no qual Deus interpela os noivos e suscita neles o discernimento da vocação matrimonial e da vida na qual introduz. O noivado inscreve-se no contexto de um denso processo de evangelização. De fato, vêm confluir na vida dos noivos, futuros esposos, questões que incidem sobre a família. Eles são, por isso, convidados a compreender o que significa o amor responsável e maduro da comunidade de vida e de amor que será a sua família, verdadeira igreja doméstica, que contribuirá para enriquecer toda a Igreja.

A importância da preparação implica um processo de evangelização que é maturação e aprofundamento na fé. Se a fé está debilitada e quase inexistente (cf. Familiaris Consortio = FC 68), é necessário reavivá-la e não se pode excluir uma exigente e paciente instrução que suscite e alimente o ardor de uma fé viva. Sobretudo onde o ambiente se paganizou, será particularmente aconselhável um « itinerário que recalque dinamismos do catecumenado » (FC 66) e uma apresentação das verdades cristãs fundamentais que ajudem a adquirir ou a reforçar a maturidade da fé dos contraentes. É desejável que o momento privilegiado da preparação para o matrimônio se transforme, como sinal de esperança, numa Nova Evangelização para as futuras famílias.

3. Põe em evidência tal peculiar atenção os ensinamentos dos Concílio Vaticano II (GS 52), as orientações do Magistério Pontifício (FC 66), a própria legislação eclesial (Codex Iuris Canonici = CIC, can.1063; Codex Canonum Ecclesiarum Orientalium = CCEO, can. 783), o Catecismo da Igreja Católica (n. 1632) e outros documentos do Magistério, entre os quais a Carta dos Direitos da Família. Os dois mais recentes documentos do Magistério Pontifício a Carta às Famílias Gratissimam Sane e a Encíclica Evangelium Vitae (= EV) – constituem uma notável ajuda para a nossa tarefa.

O Conselho Pontifício para a Família, atento, como foi dito, a repetidas solicitações, iniciou uma reflexão sobre este tema, concentrando-se principalmente sobre « cursos de preparação », em linha com a própria Exortação Apostólica Familiaris Consortio e, para isso, percorreu um itinerário de redacção do tipo seguinte. No ano de 1991, o Conselho dedicou a sua Assembleia Plenária (30 de Setembro – 5 de Outubro) ao tema da preparação para o Matrimônio, para o qual a Comissão de Presidência do Conselho Pontifício para a Família e os casais de cônjuges que dele fazem parte ofereceram abundante material para a elaboração de um primeiro esboço. Portanto, com data de 8-13 de Julho de 1992, foi convocado um grupo de trabalho composto de pastores, consultores e peritos, os quais reelaboraram um segundo esboço que foi enviado às Conferências Episcopais para obter contributos e sugestões complementares. As respostas, que chegaram em grande número, com oportunas sugestões, foram estudadas e inseridas no esboço sucessivo por um grupo de trabalho, em 1995. Este conselho apresenta agora o documento-guia que é proposto como base do trabalho pastoral relativo à preparação para o Sacramento do Matrimônio. Será especialmente útil às Conferências Episcopais na elaboração do seu Diretório, e também para um maior empenho pastoral nas dioceses, nas paróquias e nos movimentos apostólicos (cf. FC 66).

4. A « magna carta » para as famílias, qual é a citada Exortação Apostólica Familiaris Consortio, tinha já posto em relevo que « As mudanças verificadas no seio de quase todas as sociedades modernas exigem que não só a família, mas também a sociedade e a Igreja se empenhem no esforço de preparar adequadamente os jovens para as responsabilidades do seu futuro (…) Por isso a Igreja deve promover melhores e mais intensos programas de preparação para o matrimônio, a fim de eliminar, o mais possível, as dificuldades com que se debatem tantos casais, e sobretudo para favorecer positivamente o aparecimento e o amadurecimento de matrimônios com êxito » (FC 66).

O Código de Direito Canónico estabelece que se faça « a preparação pessoal para a celebração do matrimônio, pela qual os esposos se disponham para a santidade e os deveres do seu novo estado » (CIC can. 1063, 2, CCEO can. 783, § 1), disposição também presente no Ordo Celebrandi Matrimonium OCM 12.

E no discurso do Santo Padre à Assembleia Plenária do Conselho para a Família (4 de Outubro de 1991) acrescentava: « Quanto maiores forem as dificuldades ambientais para conhecer a verdade do sacramento cristão e da própria instituição matrimonial, tanto maiores devem ser os esforços de preparar adequadamente os esposos para as suas responsabilidades ». E continuava, ainda com observações mais concretas referentes aos cursos propriamente ditos: « Tendes podido observar que, dada a necessidade de realizar tais cursos nas paróquias, considerando os resultados positivos dos vários métodos usados, parece conveniente que se proceda a uma determinação exata dos critérios a adoptar, sob a forma de Guia ou de Diretório, para oferecer uma ajuda válida às Igrejas particulares ». Tanto mais que no interior das Igrejas particulares, por parte « do povo da vida e pela vida », resulta decisiva a responsabilidade da família: é uma responsabilidade que brota da própria natureza dela – uma comunidade de vida e de amor, fundada sobre o matrimônio e da sua missão que é « guardar, revelar e comunicar o amor » (EV 92 e cf. FC 17).

5. Para tal fim, o Conselho Pontifício para a Família oferece este documento que tem por objetivo a preparação para o sacramento do Matrimônio e a sua celebração.

As linhas que emergem constituem um itinerário para a preparação remota, próxima e imediata para o Sacramento do Matrimônio (cf. FC 66). O material aqui fornecido é destinado em primeiro lugar às Conferências Episcopais, aos Bispos e seus colaboradores para a pastoral da preparação para o matrimônio, mas – e não poderia ser de outra maneira – os próprios noivos estão envolvidos e são objeto da preocupação pastoral da Igreja.

6. Deverá reservar-se particular atenção pastoral ao confronto com noivos que se encontram em situações especiais, previstas pelo CIC, can. 1071, 1072, e 1125, do CCEO, can. 789 e 814, para os quais as linhas que serão traçadas no documento, mesmo quando não possam ser totalmente aplicadas, podem apesar disso ser úteis para uma reta orientação e um devido acompanhamento dos noivos.

A Igreja, fiel à vontade e aos ensinamentos de Cristo, com a sua legislação, exprime a sua caridade pastoral no cuidado de cada situação dos fiéis. Os critérios propostos são instrumentos de auxílio positivo, e não devem ser tomados como ulteriores exigências constritivas.

7. A motivação doutrinal de fundo que inspira o documento-guia nasce da convicção de que o Sacramento do matrimônio é um bem que tem a sua origem na Criação e que, por isso, afunda as suas raízes na natureza humana. « Não lestes como o Criador, no princípio, os fez homem e mulher? E disse: Por isso o homem deixará pai e mãe e se unirá com a sua mulher, e os dois serão uma só carne » (Mt 19, 4-5). Portanto, aquilo que a Igreja realiza em favor da família e do matrimônio contribui certamente par a o bem da sociedade, enquanto tal, e de todas as pessoas, porque o matrimônio cristão, mesmo na sua expressão de novidade de vida, realizada pelo Cristo Ressuscitado, exprime sempre a verdade do amor conjugal e é como uma profecia que anuncia, claramente, a verdadeira exigência do ser humano: homem e mulher, chamados, desde a sua origem, a viver na comunhão de vida e de amor e na complementaridade que levam a conseguir a promoção da dignidade humana dos cônjuges, o bem dos filhos e o bem da própria sociedade, com « a defesa e a promoção da vida… tarefa e responsabilidade de todos » (EV 91).

8. Por isso, o presente documento contempla quer as realidades humanas naturais próprias da instituição divina, quer as realidades específicas do sacramento instituído por Cristo, e articula-se, em concreto, em três partes:

1) A importância da preparação para o matrimônio cristão;

2) As etapas ou momentos da preparação;

3) A celebração do matrimônio.

Alfonso Card. López Trujillo
Presidente do Conselho Pontifício
para a Família

+ S.E.R. Mons. Francisco Gil Hellín
Secretário

Fonte: https://presbiteros.org.br/

Formar rede, tornar-se guias ecológicas: o projeto das religiosas para a Casa comum

Religiosas da UISG juntas pelo planeta | Vatican News

"Semear esperança para o planeta" é uma iniciativa promovida pela União Internacional das Superioras Gerais (UISG) e instituições afins para atualizar a Laudato si': partilha de ideias, formação, ações sinérgicas destinadas a cuidar de um planeta doente.

Matthew Saganski

Observando todos os eventos que estão se manifestando num planeta "superaquecido" e asfixiado, tais como mudanças bruscas no clima, ondas de calor recorde mesmo nos meses de inverno, secas, enchentes, desastres naturais, perda de biodiversidade com consequências como fome e, portanto, refugiados e deslocados, insegurança econômica e alimentar em todo o mundo, a irmã Sheila Kinsey FCJM, coordenadora do projeto "Semear esperança para o planeta" (SHFP), chegou a uma conclusão vinculativa: "O momento de agir é agora".

Nascido em 2018, o objetivo do projeto não é simplesmente recolher informações e tentar apaziguar uma inquietação constante que se sente nos habitantes da Terra em todas as latitudes, "mas tomar dolorosa consciência, ousar transformar em sofrimento pessoal aquilo que acontece ao mundo e, assim, reconhecer a contribuição que cada um lhe pode dar". (LS 19).

Como coordenadora do SHFP, a irmã Kinsey está engajada em concentrar atenção urgente nas necessidades críticas do planeta e em animar as religiosas e todas as redes de pessoas conectadas a elas em vários ramos para dar uma resposta ativa e concreta ao apelo do Papa Francisco para a proteção do meio ambiente. “Percebemos a urgência da crise global que envolve nossa casa comum e ouvimos que as religiosas são chamadas a se tornarem as primeiras guias no processo de cura. Devemos explorar todas as áreas em que podemos contribuir para fazer a diferença", diz a irmã Kinsey, que acrescenta: "Tenho trabalhado para fortalecer estratégias de rede usando ferramentas de ensino a distância e on-line para laboratórios interativos. Desta forma, as religiosas são recompensadas pelo seu compromisso e recebem novos estímulos e novos desafios, e são também encorajadas a fazer melhor e mais no espírito da Laudato si'."

Aumentar a liderança envolvendo os membros

A irmã Kinsey continua investigando todas as maneiras nas quais as religiosas e suas conexões podem ajudar a fazer a diferença. O seu trabalho e sua paixão estão enraizados na orientação do Papa Francisco, que em sua Encíclica Laudato si' trouxe uma rica espiritualidade ecológica que a irmã Kinsey define como "clara, formativa, inspiradora e prática" e que, além disso, abrange todos os temas de justiça social e ambiental integradas e interligadas. “Como religiosas – comenta – antes de arregaçarmos as mangas, olhamos para dentro de nós e percebemos que devemos testemunhar o valor da nossa missão. Temos que trabalhar juntas como uma comunidade, porque essa será a nossa força. Por isso, procuro facilitar a interação das comunidades destacando as boas práticas entre as congregações, ajudando a orientar o desenvolvimento dos recursos necessários e colocando em evidência o trabalho que já foi feito”.

Para ajudar a ampliar esse testemunho público do trabalho que religiosos e religiosas já estão fazendo em suas respectivas áreas de competência, a irmã Kinsey utilizou os recursos da Plataforma de Iniciativas Laudato si' com o objetivo de unir comunidades e congregações de todo o mundo. “A Plataforma de Iniciativas Laudato si' é uma estrutura formidável e uma maneira maravilhosa de facilitar a interconexão entre todos aqueles que são sensíveis às necessidades da terra e aos direitos dos pobres”, explica a irmã Kinsey. “Ajudou-nos a fazer um planejamento sistemático, de forma sistemática. Estamos organizando um movimento vivo e dinâmico com uma mensagem clara e colaborativa que evolui à medida em que escutamos profundamente o grito da terra e dos pobres e encontramos formas sempre diferentes ​​para integrar nossas respostas”.

Atualizar a Laudato si'

No espírito da sinodalidade e solidariedade, o SHFP está comprometido em ligar as necessidades de base aos níveis nacional e internacional: criando instrumentos de pesquisa e mapas interativos para estudar campanhas de conscientização e ação direta em relação aos sete objetivos da Laudato si'; envolvendo os membros a fim de que compartilhem suas experiências e respostas ao grito da terra e ao grito dos pobres no site do projeto SHFP; desenvolvendo webinars para partilhar experiências e criar redes entre os membros, e usando a conversa e o diálogo para programas específicos de formação em advocacy; e compartilhando seus conhecimentos combinados e os recursos na Plataforma de Iniciativas Laudato si'.

“Há uma motivação clara para a mudança, mas a janela que temos à disposição é realmente pequena”, prossegue a coordenadora do projeto. As nossas congregações internacionais estão cientes do que está acontecendo aos nossos irmãos e irmãs no mundo e nós não queremos excluir ninguém, mas é preciso conhecer bem o lugar, a cultura, a população e as necessidades específicas antes de entender quais são as prioridades. Ao fazer isso, damos uma resposta que vem de dentro de nós mesmas como pessoas que compartilham um destino comum, 'estamos todos no mesmo barco, ninguém se salva sozinho', repete o Papa, mas também em termos de esperança e instrumentos da presença de Deus. Com a ajuda do Pontífice e com todas as estradas que temos para nos conectar com os outros, é possível desenvolver um projeto que integre a espiritualidade com a prática, a fim de concretizar e atualizar a Laudato si'. Nela estão já todas as respostas, está o caminho traçado para reverter a rota e salvar o planeta”.

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF