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domingo, 12 de março de 2023

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES (15/16)

O cristianismo e as religiões | Lausanne Movement

COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL

O CRISTIANISMO E AS RELIGIÕES

(1997)

III.4. Diálogo inter-religioso e mistério de salvação

105. A partir do Vaticano II, a Igreja católica se comprometeu de modo decidido no diálogo inter-religioso (3); esse documento foi elaborado com o olhar posto nesse diálogo, embora não seja esse seu tema fundamental. O estado da questão a respeito do cristianismo e sua relação com as religiões, os pressupostos teológicos e as conseqüências que deles se deduzem sobre o valor salvífico das religiões, a revelação divina, são reflexões destinadas a iluminar os cristãos em seus diálogos com os fiéis de outras religiões.

106. Que esses diálogos se realizem entre especialistas, ou se deem na vida cotidiana, compromete com as palavras ou os comportamentos não só as pessoas que dialogam, mas também, e em primeiro lugar, o Deus que professam. O diálogo inter-religioso como tal comporta três participantes. Por isso, o cristão é interpelado nele por duas questões fundamentais, das quais depende o sentido do próprio diálogo: o sentido de Deus e o sentido do homem.

a. O sentido de Deus

107. No diálogo inter-religioso, cada um dos participantes se expressa de fato segundo determinado sentido de Deus; de maneira implícita levanta ao outro a pergunta: qual é seu Deus? O cristão não pode ouvir e compreender o outro sem fazer a si mesmo essa pergunta. A teologia cristã é mais que um discurso sobre Deus: trata de falar de Deus em linguagem humana como o Logos encarnado o dá a conhecer (cf. Jo 1,18; 17,3). Daí a necessidade de alguns discernimentos no diálogo:

108. a) Se se fala da divindade como valor transcendente e absoluto, trata-se de uma Realidade impessoal, ou de um Ser pessoal? b) A transcendência de Deus significa que ele é um mito intemporal, ou essa transcendência é compatível com a ação divina na história com os homens? c) Conhece-se a Deus só pela razão, ou se o conhece também por meio da fé pela qual ele se revela aos homens? d) Visto que uma "religião" é certa relação entre Deus e o homem, expressa um Deus à imagem do homem ou implica que o homem é à imagem de Deus? e) Se se admite que Deus é único como exigência da razão, que significa professar que é Uno? Um Deus monopessoal é aceitável pela razão, porém somente em sua autorrevelação em Cristo o mistério de Deus pode ser acolhido pela fé como Uni-Trindade consubstancial e indivisível. Esse discernimento é capital em razão das conseqüências que daí se desprendem para a antropologia e a sociologia inerentes a cada religião, f) As religiões reconhecem à divindade atributos essenciais, como a onipotência, a onisciência, a bondade, a justiça. No entanto, para compreender a coerência doutrinal de cada religião e superar as ambiguidades de uma linguagem aparentemente comum, é preciso compreender o eixo em torno do qual se articulam esses nomes divinos. Esse discernimento concerne especialmente ao vocabulário bíblico, cujo eixo é a aliança entre Deus e o homem, tal como se cumpriu em Cristo, g) Faz-se necessário outro discernimento sobre o vocabulário especificamente teológico, na medida em que é tributário da cultura de cada participante no diálogo e de sua filosofia implícita. É necessário, portanto, prestar atenção na peculiaridade cultural das duas partes, inclusive se ambas participam da mesma cultura original, h) O mundo contemporâneo parece preocupar-se, ao menos em teoria, com os direitos do homem. Alguns integrismos, inclusive entre os cristãos, opõem a eles os direitos de Deus. Contudo, nessa oposição, de que Deus se trata? E, em última análise, de que homem?

b. O sentido do homem

109. O diálogo inter-religioso implica ainda uma antropologia implícita, e isso por duas razões principais. De um lado, o diálogo põe em comunicação duas pessoas, e cada uma delas é o sujeito de sua palavra e de seu comportamento. Por outro lado, quando dialogam fiéis de religiões diferentes, tem lugar um acontecimento muito mais profundo que sua comunicação verbal: um encontro entre seres humanos, para o qual cada um se encaminha levando o peso de sua condição humana.

110. Num diálogo inter-religioso, têm as partes a mesma concepção da pessoa? A questão não é teórica, mas interpela a uns e a outros. A parte cristã sabe sem dúvida que a pessoa humana foi criada "à imagem de Deus", isto é, num apelo constante de Deus essencialmente relacional e capaz da abertura "ao outro". Porém, todos os participantes são conscientes do mistério da pessoa humana e do de Deus "mais além de tudo" (4)? Também o cristão é induzido a perguntar-se: de onde fala, quando dialoga? Do cenário de sua personagem social ou religiosa? Do alto de seu "superego" ou de sua imagem ideal? Visto que ele deve dar testemunho de seu Senhor e Salvador, em que "morada" de sua alma este se encontra? No diálogo inter-religioso, mais que em toda relação interpessoal, está implicada a relação de cada pessoa com o Deus vivente.

111. Aqui se mostra a importância da oração no diálogo inter-religioso: "O homem está à procura de Deus (...). Todas as religiões testemunham essa procura essencial dos homens" (3). Ora, a oração, como relação vivente e pessoal com Deus, é o próprio ato da virtude da religião e encontra expressão em todas as religiões. O cristão sabe que Deus "chama incessantemente cada pessoa ao encontro misterioso da oração" (6). Se Deus não pode ser conhecido senão se ele mesmo toma a iniciativa de revelar-se, a oração se mostra como absolutamente necessária porque põe o homem em disposição de receber a graça da revelação. Assim, na procura comum dá verdade que deve motivar o diálogo inter-religioso, "se dá uma sinergia entre a oração e o diálogo (...).. A oração é a condição do diálogo e transforma-se no fruto dele" (7). Na medida em que o cristão vive o diálogo em estado de oração, é dócil à moção do Espírito que atua no coração dos dois interlocutores. Então, o diálogo se faz mais que um intercâmbio: faz-se encontro.

112. Mais profundamente, em nível do não-dito, o diálogo inter-religioso é, com efeito, um encontro entre seres criados "à imagem de Deus", embora essa imagem se encontre neles um tanto obscurecida pelo pecado e pela morte. Dito de outro modo, os cristãos e os que não o são estão todos a espera de ser salvos. Por essa razão, cada uma de suas religiões se apresenta como uma procura de salvação e propõe caminhos para chegar a ela. Esse encontro na comum condição humana põe as partes em plano de igualdade e é muito mais verdadeiro que seu discurso religioso meramente humano. Tal discurso já é uma interpretação da experiência e passa pelo filtro das mentalidades confessionais. Pelo contrário, os problemas do amadurecimento pessoal, a experiência da comunidade humana (homem e mulher, família, educação etc.) e todas as questões que gravitam em torno do trabalho para "ganhar a vida", longe de ser temas de distração do diálogo religioso, constituem o terreno "a descoberto" para esse diálogo. Então, nesse encontro se dá conta de que o "lugar" de Deus é o homem.

113. Ora, a constante subjacente a todos os demais problemas da condição humana comum não é senão a morte. Sofrimento, pecado, fracasso, decepção, incomunicação, conflitos, injustiças... a morte está presente em todas as partes e em cada momento como a trama opaca da condição humana. Por certo, o homem, incapaz de exorcizá-la, faz todo o possível para não pensar nela. E não obstante é nela que ressoa com mais intensidade o chamado do Deus vivente. A morte é o sinal permanente da alteridade divina, pois só o que chama do nada o ser pode dar vida aos mortos. Ninguém pode ver a Deus sem passar pela morte, esse lugar ardente no qual o Transcendente atinge o abismo da condição humana.

A única pergunta séria, porque existencial e iniludível, sem a qual os discursos religiosos são "álibis", é esta: o Deus vivente assume ou não a morte do homem? Não faltam as respostas teóricas, mas estas não podem esquivar o escândalo que permanece: como Deus pode permanecer oculto e silencioso diante do inocente ferido e do justo oprimido? E o grito de Jó e de toda a humanidade. A resposta é "crucial", além de todas as palavras: na Cruzo Verbo é silêncio. Pendente de seu Pai, entrega-lhe seu espírito. E não obstante aí está o encontro de todos os humanos: o homem está em sua morte, e Deus se une a ele nela. Só o Deus amor é o vencedor da morte, e só pela fé nele o homem é libertado da escravidão da morte. A Sarça ardente da Cruz é assim o lugar oculto do encontro. O cristão contempla nela "aquele que traspassaram", e dela recebe "um espírito de benevolência e de súplica" (Jo 19,37; Zc 12,10). O testemunho de sua nova experiência será o de Cristo ressuscitado, vencedor da morte pela morte. O diálogo inter-religioso recebe então seu sentido na economia da salvação: faz mais que dar continuidade à mensagem dos profetas e à missão do Precursor; apoia-se no acontecimento da salvação consumada por Cristo e tende para o segundo Advento do Senhor. O diálogo inter-religioso se dá na Igreja em situação escatológica.

CAPÍTULO III:

1. Diálogo e Anúncio, 29: “Por meio da prática do que é bom em suas tradições religiosas e seguindo os ditames de sua consciência, os membros das outras religiões respondem positivamente ao convite de Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo, ainda que não o reconheçam como seu salvador”.

2. Temas selectos de eclesiologia (1985), esp. Cap. 4; cf. Comisión Teológica Internacional, Documentos 1980-1985, Toledo, s.d., pp. 286-290; e especialmente Fides et inculturatio (1988): Greg 70 (1989), pp. 625-646.

3. Entre os documentos de João Paulo II, cf. RM 55-57; TMA 52-53; cf. Também o documento do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso e a Congregação para a Evangelização dos Povos Diálogo e Anúncio, aqui citado repetidas vezes.

4. Gregório Nazianzeno, Carminum liber I, sectio I, 29 (PG 37, 507). 56

5. Catecismo da Igreja Católica, 2566.

6. Ibid., 2567.

7. João Paulo II, Ut unum sint, 33.

Fonte: https://www.vatican.va/

Por que a água do mar é salgado enquanto que a dos rios e lagos é doce?

Gota d'água no mar | Mega curioso
Por Maria Luciana Rincon
Por que a água do mar é salgado enquanto que a dos rios e lagos é doce?

Mesmo que você nunca tenha levado um belo de um caldo na praia ou se engasgado com um golão enquanto brincava com os amigos em um rio, você já deve ter ouvido mil vezes que a água do mar é salgada, enquanto que a de rios e lagos é doce, não é mesmo? Mas você sabe dizer por que é que existe essa diferença? A salinidade dos mares é resultado, em realidade, de diversos processos naturais, incluindo, entre eles, a chegada da água dos rios no oceano.

A água doce tem sua origem na chuva que cai sobre a superfície do planeta, abastecendo os rios, lagos e aquíferos que servem para “matar a sede” de humanos, animais e plantas. Esse ciclo ocorre de forma contínua e, cada vez que a água evapora e vai para a atmosfera na forma de vapor, quando ocorre a sua precipitação e ela volta a cair sobre a Terra, a chuva essencialmente não contém muitos sais em sua composição.

Chove chuva

Água do mar | Mega curioso

Mas, além de suprir esses corpos hídricos que mencionamos acima, a chuva também cai sobre rochas e sedimentos e, conforme essa água percorre a superfície do planeta, ela vai coletando minerais, nutrientes e outros elementos.

No caso da água de rios e lagos, a chuva reabastece esses corpos hídricos constantemente, não permitindo que eles se tornem salgados, embora eles também não sejam completamente desprovidos de minerais e sais. Por outro lado, a água dos mares coletam todos os minerais e sais transportados pelos rios que desembocam no oceano.

Era uma vez...

Água do mar | Mega curioso

Nos primórdios da Terra, quando os mares ainda eram “jovenzinhos”, suas águas eram apenas levemente salgadas. Contudo, com o passar do tempo, ou seja, ao longo de 4,5 bilhões de anos, conforme a chuva foi caindo sobre o planeta e percorrendo sua superfície — provocando a erosão de rochas —, essa água toda acabou transportando um bocado de sais e minerais até o oceano, tornando-o progressivamente mais salgado.

Além disso, assim como ocorre a evaporação de rios e lagos, esse processo também ocorre com o mar, provocando um aumento em sua concentração de sais e minerais. Isso sem falar em vulcões e outras estruturas que existem no fundo do oceano e que contribuem liberando mais sais e minerais nas águas. Aliás, dentro de alguns bilhões de anos, com todos esses processos acontecendo, pode ter certeza de que a composição do oceano será bem diferente da atual!

O Papa: os oceanos são fatores de conexão, não lugares de tragédia

A água é um fator de conexão e “o oceano não tem fronteiras
políticas nem culturais” | Vatican News

Numa mensagem à conferência Our Ocean, assinada pelo cardeal Parolin, encerrada na última sexta-feira, na Cidade do Panamá, Francisco reitera a importância do oceano como vetor de conexão do qual dependem todos os seres humanos: "Adotar uma visão integral de desenvolvimento e ecologia".

Francesca Sabatinelli – Vatican News

O oceano "pode ser um importante fator de união, um vetor de ligação, uma causa comum". Para viver esta conexão, é preciso escutar "o grito dos pobres e o grito da Terra" e rever "estratégias de crescimento baseadas no desperdício e no consumismo, em modelos injustos e insustentáveis ​​de produção, transporte, distribuição e consumo". É o afirma o Papa na mensagem assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, enviada aos participantes da oitava edição da conferência Our Ocean (Nosso Oceano), realizada na Cidade do Panamá de 2 a 3 de março, dedicada este ano ao tema "Nosso oceano, nossa conexão".

Necessidade de unir-se

O texto sublinha outros dois pontos fundamentais para poder viver "esta Conexão com todas as realidades envolvidas", das administrações ao setor privado, do mundo da pesquisa ao da política e da cultura, das organizações religiosas e juvenis à Comunidade internacional. Um desses pontos é representado pela necessidade de unir-se para "proteger e restaurar os ecossistemas marinhos, costeiros e fluviais", o outro é marcado pela importância de facilitar "uma administração eficaz e uma coordenação institucional proporcional ao tamanho e complexidade do bem a ser protegido, o oceano".

Oceanos saudáveis ​​para as gerações futuras

A mensagem recorda como todos os seres humanos dependem dos oceanos, recebidos como dádiva do Criador, e como se espera que a sua utilização seja “justa e sustentável” para ser transmitida “às gerações futuras em boas condições”. Toda a família humana é, portanto, chamada, como indica a Laudato si', a adotar "uma visão integral do desenvolvimento" e uma "visão integral da ecologia". Infelizmente, porém, continuam presentes os fenômenos alarmantes de "poluição dos oceanos, acidificação, pesca ilegal e pesca excessiva", junto com a grande preocupação com "o desenvolvimento da indústria extrativista no fundo do mar" e com as "tragédias de migrantes em perigo no alto mar, o tráfico de seres humanos que ocorre no mar, as duras e por vezes ilegais condições de trabalho dos marítimos e as tensões geopolíticas em áreas marinhas consideradas importantes".

Água, fator de conexão

A água é um fator de conexão e “o oceano não tem fronteiras políticas nem culturais”, pois são as suas correntes, atravessando o planeta, que evidenciam “a interconexão e a interdependência entre comunidades e países”. “Somos uma só família, partilhamos a mesma inalienável dignidade humana, vivemos numa casa comum da qual somos chamados a cuidar”, conclui o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O desafio que nos vem da Nicarágua

ACN | Aid to the Church in Need
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

As perseguições religiosas quase sempre são assim: parecem ter uma causa confessional, mas são motivadas por interesses econômicos e políticos.

Oleitor de Aleteia já deve ter lido vários artigos sobre a situação política da Nicarágua de Daniel Ortega e da perseguição da qual estão sendo vítimas os cristãos daquele país. Trata-se de uma perseguição de natureza político-partidária: os cristãos são perseguidos não porque seu Deus seja outro que o de Ortega (ao menos oficialmente…), mas sim porque não se dobraram a uma vontade tirânica. As perseguições religiosas quase sempre são assim: parecem ter uma causa confessional, mas são motivadas por interesses econômicos e políticos. A diferença é que em alguns casos – como neste da Nicarágua – isso é evidente, em outros não.

O caso nicaraguense, além de demandar orações e solidariedade, nos dá muito o que pensar…

Lembrando Ernesto Cardenal

Em primeiro lugar, para os mais velhos, é impossível não lembrar do episódio constrangedor envolvendo São João Paulo II e Ernesto Cardenal, poeta e sacerdote nicaraguense. Diante do triste quadro fornecido pela ditadura somozista, de direita, que dominava a Nicarágua, padre Cardenal aderiu ao marxismo e chegou a integrar a Frente Sandinista de Libertação, liderada por Daniel Ortega. Com a vitória do sandinismo, em 1979, integrou a Junta de Governo, como Ministro da Cultura. Numa viagem à Nicarágua, em 1983, São João Paulo II o censurou publicamente, num dos gestos mais polêmicos de seu pontificado. Dois anos depois, Cardenal foi suspenso de suas atividades sacerdotais pelo Vaticano, que as considerou incompatíveis com seu cargo político. Em 1994, contudo, o próprio Cardenal, desiludido, rompeu com o sandinismo – posição que manteve até sua morte, em 2020.

Independentemente da validade maior ou menor da insurreição sandinista contra o regime somozista, que foi um dos mais cruéis e desumanos da América Central, da maior ou menor descortesia de São João Paulo II, existe uma lição na história de Cardenal, um homem brilhante e, sem dúvida, um idealista que procurava o melhor para seu povo. A Igreja não pode se omitir de um juízo ético sobre os malfeitos humanos na política, mas deve manter uma justa distância, que lhe permita exercer com liberdade sua função tanto crítica quanto educativa. Além disso, o exercício do poder tem sempre a capacidade de corromper mesmo os supostamente justos. Não é conveniente que a Igreja se confie ao poder político e/ou permita uma confusa identificação entre mando temporal e autoridade espiritual. Isso vale, não custa frisar, tanto para os que se consideram de esquerda quanto para os que se consideram de direita – e até mesmo para os “de centro” (as comunidades cristãs já sofreram muitas desilusões também com políticos ditos “moderados” que se apresentaram como defensores da fé e representantes do cristianismo junto ao poder).

O Brasil não é a Nicarágua

Nos últimos tempos, muitos apontam o perigo do Brasil se tornar uma nova Venezuela, ou uma nova Nicarágua, em função da vitória eleitoral de Lula. Analisando friamente a situação, temos que reconhecer que a possibilidade disto ocorrer é muito pequena. A história política, a solidez das instituições, por mais precárias que pareçam a nossos olhos, a enorme extensão territorial e a pluralidade das forças sociais e econômicas existentes fazem o Brasil muito diferentes destes outros países.

Para que um golpe autoritário dê certo, um país não pode ter um real equilíbrio entre os Poderes, com um Executivo muito mais forte que os demais; estrutura e a pluralidade social não podem ser grandes, pois quanto mais complexa e diversa for a sociedade, mas difícil congregar forças capazes de darem um golpe; as Forças Armadas devem ter pouco apreço pela democracia, de modo a serem facilmente cooptadas pelos golpistas. São todas condições que não são encontradas em nosso país na atualidade, como os últimos acontecimentos mostraram.

O Brasil com Lula não é como a Venezuela com Chavez e Maduro, ou como a Nicarágua com Ortega. Assim como o Brasil com Bolsonaro não era o Peru de Fujimori, considerado por muitos o mais autoritário governante de direta da América do Sul no período recente. Não é que não estejamos sujeitos a ameaças a nossa democracia. Ela, como todas as demais, em algum grau, só pode se manter com a permanente vigilância e consenso de toda a sociedade. Sem dúvida, contudo, tem hoje em dia robustez interna que lhe dá sustentabilidade ao longo do tempo, mesmo com todos os seus problemas e limites (que precisam ser sanados, evidentemente).

Não estamos livres de ameaças trazidas por partidos e posicionamentos ideológicos autoritários. Mas nossos problemas, à esquerda e à direita, se aproximam mais daqueles de outros países latino-americanos, como a Argentina, imersa numa crise socioeconômica que dura décadas e parece infindável, ou o Chile, que era considerado um modelo de sucesso no continente até a recente crise de 2019. Entender as diferenças de contexto político, social e econômico são importantes para enfrentar os problemas de forma realista e adequada…

Um diálogo e uma solidariedade que superem as ideologias

O grande desafio que a crise nicaraguense nos apresenta é conseguirmos ser solidários com um povo e uma Igreja que sofrem perseguição de um regime de esquerda, sendo que nosso governo também é de esquerda.  O posicionamento, no mínimo ambíguo, do PT em relação aos regimes autoritários de esquerda na América Latina é um fato. Pesam, nesse posicionamento, uma história colaborativa, no passado, e o esforço de criar, no presente, uma aliança regional de esquerdas.

Oposições gritando têm o seu impacto, mas – nesse caso – o mais importante é o protesto daqueles que votaram no PT no segundo turno das eleições. Um partido vitorioso não precisa se incomodar tanto com seus opositores, mas deve satisfazer seus simpatizantes. Por isso, é particularmente importante que os eleitores de esquerda reconheçam os desmandos do governo nicaraguense e peçam que o governo brasileiro se solidarize com os perseguidos políticos e com a Igreja do país.

A direita também tem seu papel nesse processo. Mais do que a denúncia partidária, da repetição exaustiva de que o outro é autoritário, esse é o momento de uma “comunicação empática”, para usar o tema de um artigo recente de Aleteia, que busque entender o outro e procurar ajudá-lo a ver as falhas de seus correligionários. Não é hora de querer se impor ou “provar que o outro está errado”, mas sim de ajudá-lo a perceber “como pode ser melhor”.

Não só porque nossos irmãos católicos estão sendo perseguidos, mas pelo bem de toda a população nicaraguense e de nós mesmos, a situação da Nicarágua nos desafia a sermos mais cristãos, de abandonarmos nossas posições partidárias – contrárias ou favoráveis ao regime atual – para um diálogo que nos ajude a ser sempre menos ideológicos e mais fiéis ao amor e à solidariedade.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Dom Paulo Cezar: Papa Francisco deu voz as periferias

Papa Francisco e dom Paulo Cezar Costa | Vatican News

Depoimento de Dom Paulo Cezar sobre o Papa Francisco, por ocasião dos 10 anos de seu pontificado.

Dom Paulo Cezar da Costa, cardeal arcebispo de Brasília, em sua mensagem sobre os 10 anos do pontificado do Papa Francisco destacou que ele “colocou a evangelização no centro, a missão no centro” e trouxe uma grande novidade no campo moral “onde a moral ficava muito no ‘pode, não pode’, o Papa propôs à Igreja criar processos. Tantas situações que a resposta era sim ou não, ele propôs acolher, acompanhar, integrar.” Segundo dom Paulo “Papa Francisco veio das periferias e aponta para as periferias (...) e dá voz para as periferias, trazendo as periferias para o centro.” Confira a declaração completa de Dom Paulo assistindo ao vídeo.

A Questão da Relação Corpo e Alma em Gregório de Nissa

São Gregório de Nissa | FASBAM

A Questão da Relação Corpo e Alma em Gregório de Nissa


A filosofia grega, de maneira geral, foi caracterizada por um desprezo com relação ao corpo e, inversamente, por uma valorização da alma. Este chamado “dualismo” entre o corpo e a alma se encontra marcado, sobretudo, em Platão que concebe o corpo como a prisão da alma. Na verdade, para Platão, o corpo nada mais é do que uma morada da alma por um determinado tempo até́ ela transmigrar para outros corpos e, finalmente, chegar ao Hades. Todavia, a alma se apresenta também como a faculdade por excelência do conhecimento, tanto intelectual quanto moral. Neste sentido, e ao que tudo indica, Platão foi, o primeiro a desenvolver, de maneira racional e sustentada ao longo de seus diálogos, a questão da imortalidade da alma. Nele se encontra também a divisão tripartite da alma. Deve- se, no entanto, notar que, embora Platão o faça de maneira racional, ele está́ constantemente fazendo apelo ao mito para demonstrar a imortalidade da alma. Assim, o que nos chama mais a atenção na filosofia de Platão é a problemática da imortalidade da alma, a sua tripartição e valorização com relação ao corpo. São estas as principais teorias platônicas de que Gregório de Nissa se utilizou para explicar a relação entre o corpo e a alma.

Porém, a filosofia platônica é apenas uma base para o desenvolvimento do pensamento de Gregório de Nissa que culmina, justamente, nas Sagradas Escrituras, sobretudo em São Paulo, no que diz respeito à concepção do corpo, da alma e de suas relações fundamentais. Evidentemente, Gregório inclui também, nas suas análises da alma e do corpo, a doutrina paulina da ressurreição. Trata-se, portanto, de um corpo glorioso, ou de luz.

Além de Platão, nós analisamos, embora de maneira breve, o pensamento de Aristóteles. Com efeito, Gregório de Nissa não foi tão influenciado pelo Estagirita como o fora por Platão. Na esteira de Platão, destacamos também o pensamento de Plotino naquilo que diz respeito à valorização da alma e do espírito com relação ao corpo. No tocante ao estoicismo, a influência deste movimento sobre o Nisseno foi principalmente moral e também, do ponto de vista ontológico, destacamos a questão do macrocosmo e do microcosmo. Isto quer dizer que o homem é uma miniatura, ou um resumo, do grande cosmos. No que se refere ao pensamento cristão, Gregório de Nissa foi, além das Escrituras, diretamente influenciado por Origenes. Na verdade, os seus contatos com o grande mestre alexandrino remontam à sua infância.

A partir destas considerações, em Gregório de Nissa, o ser humano é um composto de corpo, alma e espírito e que ele forma uma unidade indissociável, essencial, substancial. Isso nos remete tanto às ideias de Origenes quanto, mais diretamente, às do apóstolo Paulo. Em Paulo, com efeito, o ser humano se apresenta como uma unidade completa – corpo, alma e espírito – que deve estar sempre em referência a Deus, como criador, e a Jesus Cristo como salvador. Desta composição essencial do homem, e de sua referência a Deus, decorrem as outras doutrinas paulinas relativas à liberdade, ao mal, ao pecado, à carne, à morte e à ressureição.

São, pois, estas questões que irão influenciar fundamentalmente o pensamento de Gregório de Nissa que, conforme já dissemos, é tributário da filosofia grega (Platão), das Escrituras e do pensamento cristão: Origenes, sua avó, sua irmã̃ Macrina e seu irmão Basilio Magno. O pensamento do Nisseno não é exclusivamente platônico, origeneano ou paulino. Ele é, na verdade, imbuído destas três fontes, ao mesmo tempo em que elabora e cria o seu próprio pensamento, mas em referência à tradição que o precedera.

O pensamento do Nisseno, principalmente na obra A criação do homem, gira em torno da doutrina da participação, com base no dito de Gn 1,26: Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Com esta afirmação, o Nisseno lança-se na questão da criação do mundo e, consequentemente, do homem. O homem se apresenta no seu universo numa escala gradativa, ou seja, desde as coisas mais ínfimas até́ os seres mais perfeitos. Ele está́, pois, colocado num entre-dois, isto é, entre o mundo dos brutos e o mundo das criaturas espirituais, que são os anjos. No homem, com efeito, se encontra não somente a sensibilidade – como nas criaturas irracionais – mas também a inteligência, o nous. É pelo nous que o homem manifesta a sua semelhança com o Criador. Na perspectiva de Gregório de Nissa, ele é um ser unitário, composto de corpo, alma e nous.

Autor: Juliano Slominski, licenciado em Filosofia pela FASBAM – Faculdade São Basílio Magno.

Reflexão para o III Domingo da Quaresma (A)

Evangelho do domingo | Vatican News

No Evangelho, a samaritana vai atrás da água para matar sua sede. Jesus, também. É meio-dia! Lembremo-nos que alguns meses mais adiante, nessa mesma hora, Jesus dirá que tem sede. Será do alto da cruz.

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

Em nossa vida, quando tudo vai de acordo com os nossos desejos, ficamos alegres, contentes e cordatos. Mas basta acontecer algo que não estava planejado, ou melhor, faltar algo com que contávamos, para que nossa alegria desapareça e comecemos a duvidar de tudo, inclusive daquela pessoa que proporcionou e continua nos proporcionando esses bens. Assim aconteceu com o povo judeu após a libertação do Egito.

Enquanto caminhavam rumo à terra prometida, a água veio a faltar. A reação foi tamanha que esqueceram as maravilhas que o Senhor havia operado em favor deles e até chegaram a desconfiar da fidelidade de Deus. Apesar dessa atitude, o Senhor continuou fazendo o bem ao povo e providenciou a água.

Podemos neste momento, fazer um exame de consciência de nossa vida. O Senhor nos deu a vida, nos alimenta, nos deu família, saúde e uma infinidade de bens, sejam espirituais ou materiais. Qual o nosso comportamento quando algo nos falta? Continuamos a nos sentir o centro do amor de Deus, ou nos esquecemos tudo o que Ele nos presenteou e só estamos atentos àquilo que nos falta?

No Evangelho, a samaritana vai atrás da água para matar sua sede. Jesus, também. É meio-dia!

Lembremo-nos que alguns meses mais adiante, nessa mesma hora, Jesus dirá que tem sede. Será do alto da cruz.

A samaritana escutando Jesus, diz desejar da água que ele lhe oferece, para que todas as suas necessidades sejam saciadas e ela não precise mais vir ao poço. Jesus continua a conversa e a samaritana, entendendo sua proposta, dá um salto qualitativo e deseja a água viva, aquela que irá aplacar não seus desejos limitados, mas a que irá saciar seus desejos de eternidade. Ele fala da nova vida que nos dará através de sua morte e ressurreição, assumida por nós nas águas batismais.

São Paulo, em sua carta aos Romanos, nos diz que a saciedade que ansiamos é um dom de Deus, já usufruído aqui nesta vida, é o dom do Espírito Santo, o Amor de Deus derramado em nossos corações. Essa é a água que nos sacia, sem a qual não poderemos viver.

sábado, 11 de março de 2023

Deus se revela na Evolução

Evolução humana | Significados

Deus se revela na Evolução

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Há algum tempo escrevi seis artigos sobre o papel da evolução na Ciência moderna, mostrando como as principais ideias científicas de hoje estão relacionadas ao conceito de conservação. As regras da conservação estabelecem quando e como a mudança pode acontecer, estabelecendo assim o que chamamos de evolução. Estudando as quantidades que se conservam em um sistema, e as condições em que isso é válido, fomos capazes de formular leis que descrevem o comportamento de quarks, moléculas, bactérias, ecossistemas, planetas, galáxias e do próprio universo!

No entanto, apesar do conceito de evolução estar tão bem posto na Ciência, ainda parece gerar desconforto em alguns meios cristãos. As razões para a desconfiança parecem ser múltiplas, vou citar as três mais comuns. Em primeiro lugar uma confusão entre “criação” e “evolução”. Depois, uma dogmatização imprópria do que os cristãos do passado pensavam sobre o universo. E, por fim, uma análise precipitada da onipotência divina.

Criação e Evolução são conceitos diferentes e complementares, evolui-se a partir de algo pré-existente. Assim, é perfeitamente conciliável com a doutrina cristã expressa no livro do Gênesis dizer que Deus criou todo o universo a partir do nada e que lhe deu capacidade de evoluir ao seu fim específico (entra aí o importante conceito filosófico de “finalidade”) por meio das leis da natureza que impôs à sua criação. Esse quadro em nada se opõe ao que a Ciência moderna nos revelou. Apesar da expectativa dos cientificistas, ela é incapaz de revelar a origem do universo e das suas leis. É uma incapacidade do seu próprio método empirista, não uma limitação que poderia ser superada com tempo e inteligência. Simplesmente está fora das suas próprias capacidades.

Com todo respeito e devoção que por justiça devemos aos nossos antepassados, especialmente àqueles santos doutores que deixaram sua sabedoria como tesouro para a Igreja, não é necessário que o sigamos no que pensavam em relação ao mundo natural. Se o que ensinaram sobre a fé é certo, não há porque supor que seus conhecimentos tão limitados sobre a natureza deveriam ser respeitados como infalíveis. Pretender impor a Filosofia antiga como chave de interpretação da Ciência moderna é, além de anacrônico, sinal de falta de capacidade de diálogo com o conhecimento, que também evolui.

Não obstante, alguns cristãos alegam que Deus poderia ter criado o universo há alguns mil segundos atrás e nós não seríamos capazes de provar o contrário. De fato, poderia, mas penso que seria algo muito aquém do poder de Deus. Teria mais glória um Deus capaz de criar um universo extremamente complexo, permitindo sua evolução, ou um Deus “piadista”, que nos colocou num lugar cheio de evidências de evolução e complexidades e nos deu razão para perscrutá-las, só para nos ver como tontos criando teorias?

Fazendo uma conexão com a Relatividade Especial, que uniu o espaço ao tempo, gosto de pensar na evolução como uma outra forma de ver a complexidade da criação, uma complexidade no tempo. Assim, podemos falar em complexidade de formas, de ações e de como tudo isso muda ao longo da história do universo. É possível fazer uma analogia com um quebra-cabeças. O universo tem uma finalidade, seria a imagem que se quer montar com o quebra-cabeças. Mas para montar essa imagem, precisamos seguir o desenho correto das peças e colocá-las no lugar previsto para cada uma. As leis físicas seriam esse desenho e posição de cada peça. Só um Deus onipotente seria capaz de criar um universo assim como o nosso, onde tudo se encaixa perfeitamente para montar um quadro final tão majestoso.

Imagine, no entanto, que para tornar o quebra-cabeças ainda mais desafiador, e assim exaltar mais a glória de quem o fez, que sua imagem mudasse com o tempo. Assim, como uma televisão quebra-cabeças. Seria muito mais difícil montá-lo, mas no final as imagens seriam espetaculares! A mudança com o tempo é o que eu chamo de reconhecer o tempo como parte dessa complexidade, que geralmente admiramos somente como algo estático.

No entanto, bem sabemos que para a Ciência moderna a aleatoriedade é um fator muito importante. Aleatoriedade não é acaso. Acaso é aquilo que não tem propósito, enquanto a aleatoriedade é a incapacidade de dizer quando ou como um fenômeno irá ocorrer. Essa incapacidade pode ser por falta de conhecimento nosso, como na Teoria do Caos, ou por uma indeterminação própria da natureza, como na Física Quântica ou nas mutações genéticas. Um decaimento radiativo é aleatório porque o instante em que vai acontecer não poder ser previsto, mas ele não acontece por acaso, tem uma finalidade: estabilizar o núcleo atômico.

Os fenômenos naturais aleatórios tornam nosso quebra-cabeças ainda mais fantástico! As peças mudam de formato, de imagem e de posição de encaixe sem podermos prever! Nosso objetivo é formar uma imagem composta de infinitas outras imagens a todo instante e alcançar um fim específico. Pense que além disso o livre arbítrio do homem torna tudo ainda mais difícil. Deus respeita nosso livre arbítrio nesse jogo e o usa para que toda a criação atinja seu objetivo.

Um Deus que consegue fazer tudo isso pode ser chamado verdadeiramente de onipotente. O universo existe no tempo, não há razões para excluí-lo da criação. Evolução é a criação acontecendo no tempo. Na Física chamamos isso de lei mais geral. Podemos descrever separadamente os campos Elétrico e Magnético, mas somente uma Teoria Eletromagnética (que une os dois campos) é capaz de explicar toda a variedade de fenômenos e toda a riqueza da realidade. Digo o mesmo do binômio criação-evolução. Podem ser compreendidos separadamente, mas é vendo-os como uma faceta da complexidade do universo no espaço e no tempo que somos capazes de compreender melhor toda a grandeza de Deus!

Alexandre Zabot
Físico e doutor em Astrofísica – Professor da UFSC
www.alexandrezabot.blogspot.com.br

Fonte: https://cleofas.com.br/

Preparação para o Sacramento do Matrimônio (6/6)

O Sacramento do Matrimônio | Presbíteros

CONSELHO PONTIFÍCIO PARA A FAMÍLIA

PREPARAÇÃO PARA O SACRAMENTO DO MATRIMÔNIO

III

A CELEBRAÇÃO DO MATRIMÔNIO

60. A preparação para o matrimônio introduz na vida conjugal, através da celebração do sacramento. Ela é o cume do caminho de preparação percorrido pelos noivos e é fonte e origem da vida conjugal. Para isso, a celebração não pode ser reduzida a uma cerimônia, fruto da cultura e dos condicionamentos sociológicos. Todavia, louváveis costumes próprios dos diversos povos ou etnias podem ser assumidos na celebração (cf. Sacrosanctum Concilium, 77; FC 67), com a condição de que eles exprimam, antes de mais, o reunir-se da assembleia eclesial como sinal da fé da Igreja, que reconhece no sacramento a presença do Senhor Ressuscitado que une os esposos ao Amor Trinitário.

61. Compete aos Bispos, através das Comissões litúrgicas diocesanas, dar disposições precisas e vigiar sobre a atuação prática, para que na celebração do matrimónio se cumpra a indicação dada no artigo 32 da Constituição sobre a Liturgia, de modo que apareça, mesmo externamente, a igualdade dos fiéis e também seja evitada toda a aparência de luxo. Favoreça-se em tudo os modos de participação ativa das pessoas presentes na celebração nupcial. Deem-se subsídios idóneos para captar e saborear a riqueza do rito.

62. Lembrando-se de que onde dois ou três estão reunidos em nome de Cristo (cf. Mt 18, 20), Ele está aí presente, a celebração em estilo sóbrio (estilo que deve continuar também nos festejos) não só deve ser expressão da comunidade de fé, mas deve ser motivo de louvor ao Senhor. Celebrar o casamento no Senhor e diante da Igreja significa professar que o dom de graça dado aos cônjuges, da presença e do amor de Cristo e do Seu Espírito, exige uma resposta ativa, com uma vida de culto em espírito e verdade, na família cristã, « Igreja doméstica ». Até para que a celebração seja compreendida não só como ato legal, mas também como momento de história da salvação nos cônjuges, e através do seu sacerdócio comum, para o bem da Igreja e da sociedade, será oportuno que todos os presentes sejam ajudados a participar ativamente na própria celebração.

63. Será, por isso, preocupação de quem preside recorrer às possibilidades que o próprio ritual oferece, especialmente na sua segunda edição típica promulgada em 1991 pela Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para pôr em evidência o papel dos ministros do sacramento do Matrimônio que, para os cristãos de Rito latino, são os próprios esposos, e o valor sacramental da celebração comunitária. Os esposos, com a fórmula da troca de consentimento, poderão sempre recordar o aspecto pessoal, eclesial e social que dela derivam para toda a sua vida, como dom de um ao outro até à morte.(4)

O Rito oriental reserva para o sacerdote assistente o papel de ministro do matrimônio. Em qualquer caso, a presença do sacerdote ou do ministro para isso delegado é necessária, segundo a lei da Igreja, para a validade da união matrimonial, e manifesta claramente o sentido público e social da aliança esponsal tanto para a Igreja como para toda a sociedade.

64. Visto que o matrimónio, ordinariamente, se celebra durante a Missa (cf. Sacrosancto Concilium, 78; FC 57), quando se trate de um matrimônio entre parte católica e parte batizada não católica, a celebração desenvolver-se-á segundo as especiais disposições litúrgico-canónicas (cf. OCM 79-117).

65. A celebração resultará mais ativamente participada se se fizer uso de monições particulares que introduzem no sentido dos textos litúrgicos e no conteúdo das orações. A sobriedade das próprias monições deverá favorecer o recolhimento e a compreensão da importância da celebração (cf. OCM 52, 59, 65, 87, 93, 99), evitando que a celebração se torne um momento didático.

66. O celebrante que preside (5) e que torna manifesto à assembleia o sentido eclesial daquele compromisso conjugal, procurará envolver ativamente os nubentes, juntamente com os parentes e as testemunhas, na compreensão da estrutura do rito, especialmente daquelas partes que o caracterizam, como: a palavra de Deus, o consentimento dado e ratificado, a bênção dos sinais que recordam o matrimônio (anéis, etc.), a solene bênção dos esposos, a lembrança dos esposos no coração da Oração Eucarística. « As diversas Liturgias são ricas em orações de bênção e em epicleses que pedem a Deus a sua graça e a bênção do novo casal, especialmente da esposa » (Catecismo da Igreja Católica, n. 1624). Além disso será necessário explicar o gesto da imposição das mãos sobre os « sujeitos-ministros » do sacramento. Chamar-se-á a atenção de todos os presentes, a propósito, para o estar de pé, o gesto da paz ou outros ritos determinados pelas autoridades competentes, etc.

67. Quem preside, para chegar a um estilo celebrativo ao mesmo tempo sóbrio e nobre, deverá ser ajudado pela presença de ministrantes, de pessoas que animem e ajudem o canto da parte dos fiéis, orientem as respostas e façam a proclamação da Palavra de Deus. Com uma particular e concreta atenção aos nubentes e à sua situação, o celebrante, evitando de modo absoluto as preferências de pessoa, deverá, ele mesmo, interrogar-se sobre a verdade dos símbolos que a ação litúrgica usa. Assim, ao acolher e saudar os nubentes, os seus pais, se presentes, as testemunhas e a assembleia, será o intérprete vivo da comunidade que acolhe os nubentes.

68. A proclamação da Palavra de Deus seja feita por leitores idôneos e preparados. Podem mesmo ser escolhidos entre os presentes, especialmente entre as testemunhas, os familiares, os amigos, porém não parece oportuno que sejam os próprios nubentes: eles são de facto os primeiros destinatários da Palavra de Deus proclamada. Mas a escolha das leituras pode ser feita de acordo com os noivos, na fase da preparação imediata. Desse modo guardarão mais facilmente a Palavra de Deus para a traduzir na prática.

69. A homilia, que se deve sempre fazer, terá o seu centro na apresentação do « grande mistério » que se está a celebrar diante de Deus, da Igreja e da sociedade. « São Paulo sintetiza o tema da vida familiar com a palavra: “grande mistério” (cf. Ef 5, 32; Gratissimam Sane, 19). Partindo dos textos proclamados pela Palavra de Deus e ou das orações litúrgicas, dever-se-á iluminar o sacramento e, portanto, ilustrar as suas consequências na vida dos esposos e nas famílias. Evitem-se referências supérfluas à pessoa dos esposos.

70. As ofertas podem ser levadas pelos próprios esposos ao altar, se o rito se desenrola com a celebração da Missa. Em qualquer caso, a oração dos fiéis, convenientemente preparada, não seja nem prolixa, nem pouco concreta. A Sagrada Comunhão, segundo a oportunidade pastoral, poderá fazer-se sob as duas espécies.

71. Cuidar-se-á de que os particulares da celebração matrimonial sejam caracterizados por um estilo de sobriedade, de simplicidade, de autenticidade. O tom de festa não deverá, de facto, ser prejudicado por excesso de pompa.

72. A bênção solene dos esposos vem recordar que, no sacramento do Matrimónio, é também invocado o dom do Espírito, por meio do qual os cônjuges se tornam mais constantes na mútuo concórdia e espiritualmente sustentados no cumprimento da sua missão e também nas dificuldades da vida futura. Será certamente conveniente, no quadro desta celebração, apresentar como modelo de vida para os esposos cristãos o modelo da Sagrada Família de Nazaré.

73. Enquanto que, pelo que se refere aos períodos de preparação remota, próxima e imediata é bom recolher as experiências em ato, a fim de se chegar a uma forte mudança de mentalidade e de práxis, sobre a celebração, o cuidado dos agentes de pastoral deverá ser posto em seguir e fazer compreender aquilo que já está fixado e estabelecido pelo ritual litúrgico. É óbvio que tal compreensão dependerá de todo o processo da preparação e do nível de maturidade cristã da comunidade.

* * *

Qualquer pessoa se pode dar conta que aqui estão propostos alguns elementos para uma preparação orgânica dos fiéis chamados ao sacramento do Matrimônio. É desejável que os jovens casais sejam oportunamente acompanhados, especialmente nos primeiros cinco anos de vida conjugal, por cursos pós-matrimoniais, que se desenvolvam nas paróquias ou vigararias forâneas, conforme o Diretório para a Pastoral das Famílias ao qual nos referimos acima, nos números 14, 15, relacionando-se com a Exortação Apostólica Familiaris Consortio, 66.

O Conselho Pontifício para a Família confia às Conferências Episcopais as presentes linhas de orientação para os seus próprios diretórios.

A solicitude das Conferências Episcopais e dos Bispos fará com que se tornem operativas nas comunidades eclesiais. Assim, cada fiel terá mais presente que o sacramento do Matrimónio, grande mistério (Ef 5, 21ss), é vocação para muitos no Povo de Deus.

Cidade do Vaticano, 13 de Maio de 1996.

Alfonso Card. López Trujillo
Presidente do Conselho Pontifício
para a Família

+ S.E.R. Mons. Francisco Gil Hellín
Secretário

Fonte: https://presbiteros.org.br/

São Constantino

São Constantino | arquisp
11 de março

São Constantino

Constantino faz parte da heróica história do cristianismo na Escócia. Ele era rei da Cornualha, pequena região da Inglaterra e se casou com a filha do rei da Bretanha. Depois se tornou o maior evangelizador de sua pátria e o responsável pela conversão do país.

O rei Constantino não foi um governante justo, até sua conversão. No início da vida cometeu sacrilégios e até assassinatos, em sua terra natal. Para ficar livre de cobranças na vida particular, divorciou-se da esposa. Foram muitos anos de vida mundana, envolvido em crimes e pecados. Mas quando soube da morte de sua ex-esposa, foi tocado pela graça tão profundamente que decidiu transformar sua vida. Primeiro abriu mão do trono em favor de seu filho, depois se converteu, recebendo o batismo. Em seguida se isolou no mosteiro de São Mócuda, na Irlanda, onde trabalhou por sete anos, executando as tarefas mais difíceis, no mais absoluto silêncio.

Os ensinamentos de Columbano, que também é celebrado pela Igreja, e que nesse período estava na região em missão apostólica, o levaram a se ordenar sacerdote. Assim, partiu para evangelizar junto com Columbano, e empregou a coragem que possuía, desde a época em que era rei, para a conversão do seu povo. As atitudes de Constantino passaram a significar um pouco de luz no período obscuro da Idade Média.

A Inglaterra e a Irlanda, naquela época, viviam já seus dias de conversão, graças ao trabalho missionário de Patrício, que se tornou mártir e santo pela Igreja, e outros religiosos. Constantino que recebera orientação espiritual de Columbano não usava os mantos ricos dos reis e sim o hábito simples e humilde dos padres. Lutou bravamente pelo cristianismo, pregou, converteu, fundou vários conventos, construiu igrejas e, assim, seu trabalho deu muitos frutos. Sua terra, antes conhecida como "o país dos Pitti", assumiu o nome de Escócia, que até então pertencia a Irlanda.

Porém, antes de se tornar um estado católico, a Escócia viu Constantino ser martirizado. Foi justamente lá que, quando pregava em uma praça pública, um pagão o atacou brutalmente, amputando-lhe o braço direito, o que causou uma hemorragia tão profunda que o sacerdote esvaiu-se em sangue até morrer, não sem antes abraçar e abençoar a cada um de seus seguidores. Morreu no dia 11 de março de 598, e se tornou o primeiro mártir escocês.

O seu culto correu rápido entre os cristãos de língua anglo-saxônica, atingiu a Europa e se propagou por todo o mundo cristão, ocidental e oriental. Sua veneração litúrgica foi marcada para o dia de seu martírio.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF